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Convivendo com as vozes: uma estratégia de cuidado

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Convivendo com as vozes: uma estratégia de cuidado 
 
 
 
 
WANDERSON RICARDO NEPOMUCENO 
DANIELLE CRISTINA FERREIRA DA SILVA 
ROSANE ALBUQUERQUE DA COSTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
Introdução: .............................................................................................................................................. 3 
Capítulo I – Do abandono ao tratamento, a relação da psiquiatria com a psicose. ............................... 5 
Referências bibliográficas: ............................................................................................................. 10 
Capítulo II – alucinações auditivas para além da psicose ..................................................................... 11 
A psicose na psicanálise .................................................................................................................. 11 
O Inconsciente Freudiano ........................................................................................................... 13 
Recalcamento e sintomas ............................................................................................................ 14 
Lacan e o Caso Aimée ..................................................................................................................... 20 
Referências ....................................................................................................................................... 24 
Capítulo IV: Psicose de acordo com o CID-10 e o DSM-V. .................................................................... 27 
Normal e patológico ........................................................................................................................ 27 
Necessidade dos manuais ................................................................................................................ 28 
Síndrome e transtornos ................................................................................................................... 28 
Síndromes psicóticas ....................................................................................................................... 29 
Síndromes positivas ......................................................................................................................... 32 
Síndrome psicótica desorganizada ................................................................................................. 34 
Espectro da esquizofrenia ............................................................................................................... 34 
Transtorno psicótico breve ............................................................................................................. 36 
Critérios diagnósticos .................................................................................................................. 36 
Curso do transtorno .................................................................................................................... 37 
Transtorno delirante ....................................................................................................................... 37 
Critérios diagnósticos .................................................................................................................. 38 
Subtipos ........................................................................................................................................ 38 
Curso do transtorno .................................................................................................................... 40 
Esquizofrenia ................................................................................................................................... 40 
Critérios diagnósticos .................................................................................................................. 41 
Curso ............................................................................................................................................ 43 
Transtorno esquizoafetivo .............................................................................................................. 43 
Critérios diagnósticos ................................................................................................................... 44 
Curso ............................................................................................................................................ 45 
Referências: ..................................................................................................................................... 45 
Capítulo IV – Grupo de ouvidores de vozes .......................................................................................... 47 
Grupo de ouvidores de vozes conceito e origem histórica. .......................................................... 47 
2 
 
A História dos grupos de ouvidores de vozes, como tudo começou. ....................................... 48 
E o que são os Grupos de Ouvidores de vozes? ............................................................................ 50 
Como atuam os grupos: .............................................................................................................. 51 
Pesquisa elaborada com o grupo de ouvidores de vozes pacientes/usuários de um hospital 
psiquiátrico do rio de janeiro ......................................................................................................... 52 
O funcionamento e os resultados da experiência realizada com grupo de psicóticos 
ouvidores de vozes. ...................................................................................................................... 52 
F20 Esquizofrenia ........................................................................................................................ 53 
Características do grupo de ouvidores de vozes. ...................................................................... 54 
Objetivos: ..................................................................................................................................... 54 
Metodologia de Trabalho ............................................................................................................ 54 
Dinâmica e resultados ................................................................................................................. 55 
Resultados: ................................................................................................................................... 55 
Referências ....................................................................................................................................... 56 
Capítulo V – Ouvidores de vozes: estratégias, angústias, saídas e soluções. ....................................... 57 
Resultados: ....................................................................................................................................... 59 
Discussão .......................................................................................................................................... 63 
Conclusão: ........................................................................................................................................ 68 
Referências bibliográficas: ............................................................................................................. 68 
Capítulo V – “quem manda sou eu”: estudo de caso de Fabiano ......................................................... 68 
Estudo de caso de S. 2 anos, professor de Biologia. ...................................................................... 69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Introdução: 
Este livro trará duas experiências bastante singulares, de um lado, pessoas que são 
psicóticas e que conseguiram com uma tecnologia mais humana e muito menos 
invasiva diminuir ou até restringir a 
audição de vozes. E de outro, pessoas 
que ouvemvozes, mas que, no 
entanto, não tem diagnóstico 
psicótico. 
No primeiro capítulo será 
apresentado um panorama com a 
história da psiquiatria chamando a 
atenção para a forma como a 
medicina tratava as pessoas 
consideradas fora da “norma”, ou 
seja, os psicóticos. 
O segundo capítulo trará conceitos 
basais sobre a psicanálise e a psicose 
e abordará o caso Aimée, conduzido 
por Lacan, um caso sobre psicose. 
No terceiro capítulo, a psicose será abordada à luz dos manuais estatísticos de 
transtornos mentais, o DSM-V e o CID-10 por fim, como os manuais estatísticos 
de transtornos mentais abordam a psicose. 
O quarto capítulo será apresentada a História dos Grupos de Ouvidores de vozes 
e o funcionamento e os resultados da experiência realizada com grupo de 
psicóticos ouvidores de vozes. Esse grupo foi criado com pacientes/usuários 
frequentadores do centro psiquiátrico Rio de Janeiro que durante anos fizeram uso 
de medicações antipsicóticas e que, no entanto, não obtiveram pleno sucesso na 
4 
 
cessação de audição das vozes. Muitos desses pacientes têm histórico de longas 
internações psiquiátricas, de tratamentos violentos invasivos. Na experiência do 
grupo, pode se notar uma melhora significativa as audições. 
No quinto capítulo serão apresentados os resultados de uma pesquisa realizada 
com ouvidores de diagnóstico de psicose. A pesquisa foi realizada no ano de 2016 
numa das regiões mais pobres do Rio de Janeiro, a Baixada Fluminense. Foram 
entrevistadas seis pessoas e caracterizamos com um estudo de caso. Nesse 
trabalho convidamos o leitor a conhecer mais de perto uma nova tecnologia de 
tratamento mais humana, menos invasiva e que permite que os próprios 
pacientes/usuários se beneficiem do tratamento no sentido de eles próprios se 
tornarem protagonistas de sua história e do cuidado sobre si. 
Ainda na temática de ouvidores de vozes não psicóticos optou-se no sexto capítulo 
por um detalhamento, por isso, um estudo de caso, de um sujeito que se dispôs a 
falar livremente sobre suas experiências com a audição de vozes. Considera-se 
este caso bastante rico, pois o sujeito expôs de maneira quase didática sua história 
e relação com as vozes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Capítulo I – Do abandono ao tratamento, a relação da psiquiatria 
com a psicose. 
 
Tradicionalmente, considera-se a esquizofrenia, um rompimento com a realidade 
e o comprometimento do funcionamento psíquico, expresso através de delírios, 
alucinações (principalmente auditivas, ou seja, audição de vozes de comando), 
confusão mental, comprometimento da memória, da volição, da afetividade e do 
humor. Um dos critérios para o diagnóstico da psicose é um comprometimento 
importante do funcionamento familiar, pessoal e no trabalho. Um dos sintomas 
que traz mais desconforto aos pacientes esquizofrênicos é a alucinação auditiva 
(vozes de comando). De acordo com DALGALARONDO, (2008 apud Costa, 
2017, p.32). As alucinações são definidas como: 
“Alucinações auditivas características – São vozes que 
comentam e ou comandam a ação do paciente. Exemplo: 
Luciana ouve vozes que lhe dizem para que ela tome banho, 
que fique acordada e para que pule na linha do trem e morra.” 
 
Nos esquizofrênicos, as audições de vozes produzem intenso desconforto e 
sofrimento para os sujeitos acometidos, são vozes imperativas e recorrentes. Para 
os sujeitos esquizofrênicos, lidar com as vozes é extremamente difícil sem o 
recurso das medicações. No entanto, de acordo com pesquisas realizadas em 1991, 
com uma amostra de 18, 572 pessoas, entre 10 e 15% dos sujeitos já haviam tido 
alguma experiência alucinatória, dos quais, 2,3 % ouviram vozes (BARROS; 
SERPA, 2014). 
A alucinação auditiva é um fenômeno relativamente comum, que em primeiro 
momento e de acordo com o saber médico tradicional, compromete a vida do 
indivíduo que a experiencia, de modo que se faz necessária uma intervenção 
6 
 
medicamentosa para que o sujeito possa ter uma vida não comprometida, através 
da supressão das vozes ouvidas. Todavia, há uma quantidade considerável de 
pessoas que apesar de ouvir vozes, possuem vidas relativamente normais, ou seja, 
trabalham, estudam, tem amigos próximos, e em muitos casos cônjuges 
Dentre os tratamentos mais conhecidos historicamente, destacam-se: o tratamento 
moral, a malarioterapia, a insulinaterapia, o choque cardiazólico, a 
eletroconvulsoterapia e a lobotomia. 
De acordo com (ZACARIAS, 2017) o tratamento moral foi um tratamento 
utilizado desde civilizações antigas como Grécia em que se lançava as pessoas em 
um penhasco na tentativa de fazê-las recobrar a lucidez. Ainda em sua pesquisa, 
mostra que (PEREIRA, 2002) explica que a alienação pode ser derivada da 
eclosão de uma tara que até então permanecera oculta, ou por surgimento de um 
problema orgânico, ou um danoso caldo de cultura e dos costumes viciosos, 
produzidos pela aglomeração urbana, sendo assim o fundamento do tratamento 
moral que (ZACARIAS, 2017) apresenta é que o paciente precisaria de uma 
ambiente socialmente saneado utilizava técnicas mais especificas como atividades 
físicas ao ar livre, a laborterapia (realização de trabalho como forma de 
tratamento, com a finalidade de ocupar a mente enferma com uma atividade digna 
e saudável) dando assim a possibilidade de usufruir algumas regalias, a repressão 
sexual, bons sentimentos e bons hábitos; ressaltando-se ainda a importância da 
firmeza serena do alienista e dos cuidados benevolentes dos enfermeiros. Também 
é usado como ferramenta no tratamento moral, o banho frio frontal, para 
diminuição do estado congestivo do cérebro. 
De acordo com (ZACARIAS, 2017), apesar de todo o empenho para que este 
tratamento obtivesse êxito, a história mostrou que os asilos que deveriam servir 
para o tratamento, ao longo do tempo transformaram-se em verdadeiros depósitos 
de loucos. 
 
7 
 
PEREIRA; RIGONATTI (2005; 2005, apud ZACARIAS, 2017), apontam que a 
malarioterapia foi um tratamento muito usado nos anos 30 do século XX. Este 
tratamento consistia na inoculação, usualmente intramuscular, da injeção de 
sangue contendo o plasmodiumvivax. Como os acessos febris se iniciam no 
décimo dia após a inoculação, as sessões eram feitas no intervalo de oito dias. Os 
picos febris não costumavam passar de 39º C, as intercorrências, mais graves 
desse tipo de tratamento são a instalação de um quadro maligno da malária, 
levando ao um processo de atrofia de nervo óptico que pode chegar à cegueira e 
ao aparecimento de uma psicose pós-malárica de difícil regressão, em virtude 
disto, AMARANTE (1994, apud ZACARIAS, 2017) mostra que após os 
primeiros 30 anos de psiquiatria no Brasil, esta forma de tratamento deu lugar a 
outros considerados mais eficazes, tais como o choque insulínico, o choque 
cardiazólico, eletroconvulsoterapia e lobotomias. 
A insulinoterapia foi bastante usada no Brasil, antes da reforma psiquiátrica. 
ZACARIAS, 2017, apoiando-se em PEREIRA, 2001, descreve a insulinoterapia 
como uma técnica que consistia na administração de doses crescentes de insulina, 
que objetivavam a diminuição do tônus muscular e posteriormente com o aumento 
das doses, conduzia os pacientes ao coma. 
 
Outra forma de tratamento que ZACARIAS, 2017, apresenta, é o choque 
cardiozólico, que assim como a insulinoterapia, também por objetivo no 
tratamento a diminuição das crises de esquizofrenia, mas que se conseguia em sua 
grande maioria era a indução de coma provocado pelo uso da medicação. 
PEREIRA (2001, apud ZACARIAS, 2017) “Dois anos após a utilização do 
choque cardiazólico no Hospital Central do Juqueri, em São Paulo, foram 
registrados um total de 2.000 comas provocados”. 
Em seguida, ZACARIAS, 2017, menciona a lobotomia, considerada nos meios 
psiquiátricos e psicológicos, como uma das formas de tratamento mais agressivos. 
Baseando-se em MASIERO (2003), ZACARIAS, 2017, afirma que a lobotomia8 
 
consistia no desligamento dos lobos frontais direito e esquerdo do restante do 
encéfalo na tentativa de mudar o comportamento ou curar a equizofrenia. Esta 
forma de tratamento foi utilizada durante muitos anos, basicamente para o 
tratamento de esquizofrênicos. Atualmente, ela é utilizada, para tratamento de 
pacientes epiléticos de uma forma mais segura, científica e humana. 
Em 1935 foi usada pela primeira vez, a técnica criada pelo neurologista, Antônio Egas Moniz. 
A leucotomia foi a primeira técnica de psicocirurgia, ou seja, a utilização de 
manipulações orgânicas do cérebro para curar ou melhorar sintomas de uma 
patologia psiquiátrica (em contrapartida à neurocirurgia que se ocupa de doentes 
com patologia orgânica direta ou neurológica). 
Inicialmente foi usada para tratar depressão severa. Esta técnica foi desenvolvida 
para uso apenas em casos em que a paciente representasse um perigo para si ou 
para outras pessoas. Todavia, seu uso logo, se popularizou, chegando ao ponto de 
que em alguns países como EUA fosse usado de forma indiscriminada, o que 
levou diversos pacientes a danos neurológicos severos que comprometeram 
funções executivas, cognitivas, afetivas e sociais. A cirurgia consistia em perfurar 
o crânio do paciente com um objeto cirúrgico – o bisturi, com a intenção de atingir 
partes do cérebro responsáveis pelo que se considerava na época como uma 
alteração, fosse ela cognitiva, afetiva ou social. 
 
O primeiro psicofármaco neuroléptico utilizado foi o clorpromazina, no ano de 
1952. A chegada deste medicamento e posteriormente de outros, fez com que 
progressivamente, ambulatórios e centros de cuidados mais humanos fossem 
ganhando espaço frente aos tradicionais abrigos e hospícios. Através do uso de 
medicamentos, pacientes psiquiátricos, principalmente os esquizofrênicos, 
passaram a ter uma alternativa à forma de tratamento ofertado em instituições 
totais, deste modo, muitos puderam retomar suas vidas, reaproximando-se do 
9 
 
convívio social, reafirmando laços com a comunidade e ocupando papeis sociais 
não marcados pelo estigma da loucura como outrora. 
 
Contudo, efeitos colaterais de natureza neuroendocrinológica e neuromotora, seja 
a priori ou posteriori começaram a se tornarem evidentes em alguns pacientes, a 
medida que o consumo se tornava mais difundido e acessíveis às pessoas, dada a 
comercialização de antidepressivos, ansiolíticos, hipnoindutores, estabilizadores 
do humor e novíssimos medicamentos utilizados nas Demências, em Transtornos 
Alimentares, Transtornos de Déficit de Atenção, etc. Assim, sendo, a indústria 
farmacêutica precisou aprimorar-se por meio de pesquisas, visando reduzir os 
efeitos indesejáveis e maximizar os efeitos esperados, como também em 
tecnologia de produção. 
 
A partir da década de 1980, surgiram novos fármacos sob esta lógica, tais como a 
a risperidona, amissulprida, olanzapina, quetiapina, ziprasidona e o aripiprazol, 
os chamados “atípicos de segunda geração”. 
 
Outra prática médica aplicada a pacientes esquizofrênicos foi a 
eletroconvulsoterapia, técnica definida por (SPOERRI, 2000, p. 127 apud 
ZACARIAS, 2017) como a aplicação de uma carga elétrica, com a finalidade de 
induzir artificialmente um ataque epiléptico. Em 2002, na III conferência de saúde 
mental, os participantes votaram pela extinção da eletroconvusoterapia no Brasil, 
devido as diversas mortes provocadas por este tratamento em associação com 
neurolépticos como destaca ZACARIAS, 2017, baseando-se em Sonenreich, 
1999. 
Atualmente verifica-se nos grandes centros, Rio de Janeiro e São Paulo, o retorno 
da prática da eletroconvulsoterapia. Evidentemente, sob a luz de novos cuidados 
éticos e técnicos. Ao longo deste texto, verificou-se, diversas formas de tentativa 
10 
 
de controle e tratamento de transtornos mentais, agressivos e outros claramente 
violentos. 
A partir da década de 80 do século passado - 
XX, iniciou-se na Holanda uma forma de 
pensar o tratamento de pessoas que sofrem de 
alucinações auditivas de uma forma mais 
humana, e que implicasse na diminuição de 
meio mais invasivos como os já citados ou uso 
de medicamentos. 
 
Criou-se então o movimento dos grupos de ouvidores de vozes. 
 
Referências bibliográficas: 
BARROS, O. C.; SERPA JÚNIOR, O. D. de. Ouvir vozes: um estudo sobre a 
troca de experiências em ambiente virtual. Interface - Comunicação, Saúde, 
Educação, 18(50), 557-569, 2014. 
 
COSTA, R. A. Psicopatologia I. Rio de Janeiro: SESES – Estácio, 2017. 
 
ZACARIAS, Débora Monteiro. Esquizofrenia: história e tratamento. [38] f. 
Monografia (Especialização em Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas)- 
Brasília: Universidade de Brasília, 2015. 
 
 
 
 
11 
 
Capítulo II – alucinações auditivas para além da psicose 
 
A experiência de trabalhar com pessoas que ouvem vozes e que não são psicóticas, 
inicia-se com um grupo na Holanda que perceberam que ouvir vozes é muito mais 
comum e abrange uma população muito maior do que apenas os psicóticos. No 
Brasil esse trabalho ainda é muito insipiente, temos poucos grupos e trabalhos que 
tratam de ouvidores de vozes não psicóticos. Agora precisamos definir o que é a 
psicose. 
 
A psicose na psicanálise 
O termo Psicose é atualmente utilizado por diversos profissionais do campo da 
saúde e mesmo pelo senso comum (LINS, 2007). Muito embora este segundo, 
como é de se supor, muitas vezes aproprie-se do vocábulo para realizar 
associações nem sempre condizentes com os postulados dos campos PSI – 
Psiquiatria, Psicologia ou Psicanálise, e não raramente apresentam definições ou 
retratam aqueles acometidos por Psicose de maneira bastante equivocada, o que 
tende a criar representações sociais deveras díspares, para não dizer, equivocadas 
a cerca deste conceito. 
Embora seja um termo corrente em diversos meios, são os psicanalistas que o 
utilizam com maior regularidade (LINS, 2007), dado o fato de ser um dos 
postulados basais deste campo de conhecimento. 
O médico neurofisiologia a Austríaco, Sigmund Freud (1856 – 1939), considerado 
o ‘pai’ da Psicanálise, dedicou boa parte de sua vida a compreensão das 
motivações e do desenvolvimento humano. De acordo com ele, as ações humanas 
no mundo estão longe de ser puramente determinadas por uma volição consciente. 
12 
 
Para ilustrar o funcionamento da mente humana, Freud desenvolveu o que 
chamou de ‘1ª tópica’ da que veio a ser chamada de teoria topográfica. Como era 
médico, denominou a composição funcional da mente humana de ‘aparelho 
psíquico’, assim sendo, se equipararia ao esquema de funcionamento dos demais 
aparelhos do corpo humano – aparelho reprodutor, aparelho respiratório, 
circulatório, etc. Como aparelho, a psiquê era composta por estruturas ou 
instâncias, que ocupavam certo lugar na mente (LIMA, 2010). Estas instâncias 
foram denominadas: consciente, o pré-consciente e o inconsciente. 
A primeira delas – o consciente, diz respeito a consciência de tudo o que está 
imediato aos sentidos, ou seja, ao que está sendo apreendido pela atenção - 
voluntariamente ou captação sensorial – involuntariamente, em um presente 
momento. Em outras palavras, e a ligação que o mundo interno faz com o mundo 
externo. Dentre as três estruturas/ instâncias, está é a menor. 
A segunda estrutura – o pré-consciente, refere-se àquilo que embora não esteja 
‘presente’ no dado momento, voluntária ou involuntariamente pelos receptores 
sensoriais, pode ser trazido à nível consciente através de esforço psíquico, como 
quando por exemplo, se quer recordar uma parte de alguma disciplina escolar, o 
rosto ou a voz de alguém. O pré-consciente, é também uma parte do inconsciente 
– que trataremos a seguir com maiores detalhes. 
Já a terceira estrutura, o Inconsciente, estrutura que Freud afirmou ser a maior e 
mais importante parte do aparelho psíquico. Ilustrativamente, se a mente humana 
é fosse um iceberg,o consciente seria a parte superior, ou seja, a parte visível, já 
o inconsciente, corresponderia a maior parte - a submersa (FREUD, 1987). 
É nesta terceira estrutura que assim como para Freud rendeu maior parte de sua 
atenção, que também será concentrada maior atenção neste capítulo, dada a 
relação íntima que possui com a Psicose. 
 
13 
 
O Inconsciente Freudiano 
 
De acordo com FREUD (1987 apud LIMA, 2007): 
“O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do 
aparelho psíquico. Segundo Freud, por herança genética, 
existem elementos instintivos ou pulsões, acrescidos das 
respectivas energias. No inconsciente estariam os elementos 
instintivos não acessíveis à consciência. Além disso, há 
também material que foi excluído da consciência pelos 
processos psíquicos de censura e repressão. Esse conteúdo 
“censurado” não é permitido ser lembrado, mas não é 
perdido, permanecendo no inconsciente. Para Freud, a maior 
parte do aparelho psíquico é inconsciente. Ali estão os 
principais determinantes da personalidade, as fontes da 
energia psíquica e as pulsões ou instintos1. Cabe aqui uma 
explicação sobre o que Freud denomina pulsões ou instintos. 
A pulsão consistiria numa espécie de energia psíquica que 
tende a levar o indivíduo à ação, para aliviar a tensão 
resultante do acúmulo de energia pulsional. Trata-se de um 
conceito fronteiriço entre o somático e o psíquico. Freud 
descreveu duas forças pulsionais opostas: a sexual (erótica ou 
fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Suas 
descrições encararam essas forças antagônicas, ou como 
mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte, 
respectivamente. Tal antagonismo não costuma ser visível ou 
consciente, e a maioria de nossos pensamentos e ações é 
evocada por essas duas forças instintivas em combinação. ” 
 
14 
 
Recalcamento e sintomas 
 
Freud teve um interesse especial em casos histeria – normalmente mulheres que 
apresentavam graves sintomas somáticos sem explicação orgânica, tais como 
paralisia, mudez, frigidez, etc. Alguns médicos contemporâneos a ele, dada a 
ausência de correspondentes orgânicos para os sintomas, afirmavam que estas 
mulheres, na verdade, poderiam fingir ter os sintomas que relatavam, a fim de ter 
alguma espécie de ganho secundário, tal como fugir as responsabilidades da vida, 
assim sendo, tratava-se de um problema de ordem moral, não orgânica (Fulgencio, 
L., 2002). 
Todavia, outros, como o Dr. Charcot, médico de origem francesa, utilizavam a 
hipnose nestas pacientes. Através da sugestão hipnótica, os sintomas eram 
suprimidos, levando-as deixar de sentir os efeitos das moléstias (FREUD, 1893). 
Interessado pela cura por sugestão hipnótica, Freud, juntamente com seu amigo e 
parceiro de pesquisas, o também médico Breuer, começou a empregar a hipnose 
em pacientes histéricas e com o tempo perceberam que durante o estado hipnótico, 
estas pacientes costumavam balbuciar palavras e frases carregadas de afeto, das 
quais não se lembravam quando fora do estado de transe. Logo após esta descarga 
afetiva, se tornavam livres dos sintomas. Juntos, começaram a especular que os 
sintomas histéricos poderiam ter relação com o conteúdo do que era dito, que 
supostamente, tratavam-se de experiências anteriores muito traumáticas, que por 
alguma razão eram afastadas da consciência, tornando-se desconhecidas pela 
pessoa, dado esse afastamento, que, todavia, eram responsáveis pelos sintomas 
histéricos (BREUER & FREUD, 1969). 
Diante desta prerrogativa, os dois médicos concluíram que por meio da hipnose, 
seria possível que o sujeito entrasse em contato novamente com o conteúdo 
traumático das experiências para que pudesse dar um novo sentido a representação 
15 
 
do trauma, reduzindo com isso a carga afetiva concentrada no corpo, para que 
então se visse livre dos sintomas histéricos (BREUER & FREUD, 1969). 
Apesar das experiências terem sido suprimidas da consciência, ocorre uma 
pressão interna para o retorno do afeto afastado. É como se o conteúdo retirado 
da consciência fosse amontoado com uma grande quantidade de força para caber 
em um espaço pequeno. Quando este conteúdo se encontra na profundidade que 
o mecanismo que exerce essa força, julga suficiente, a pujança inicial não é mais 
requerida, lentamente, então, uma parte do que foi prensado para caber, acaba 
retornando. Nesta analogia, o que retorna, não é o conteúdo completo, mas o afeto, 
ou seja, a carga emocional associada àquela vivência, que após a cisão do 
conteúdo, pode se deslocar para o corpo, resultando em sintomas histéricos; para 
uma ideia, formando as neuroses obsessivas; ou ficar ‘solta’, gerando as angústias 
(FREUD, 1915). 
Segunda tópica Freudiana 
 
Para melhor compreensão da Psicose na visão psicanalítica é necessário conhecer 
as três instâncias que compõem a segunda tópica Freudiana (Teoria Estrutural ou 
Dinâmica) - Id, ego e superego, bem como o complexo de castração e o complexo 
de Édipo. 
O Id, é a primeira instância psíquica a se formar no sujeito. É regido pelo princípio 
de prazer, assim sendo, busca conduzir o ego a satisfazer todo e qualquer desejo, 
inconsciente. 
“Contém tudo o que é herdado, que se acha presente no 
nascimento, acima de tudo os elementos instintivos que se 
originam da organização somática. Do ponto de vista 
“topográfico”, o inconsciente, como instância psíquica, 
virtualmente coincide com o id. Portanto, os conteúdos do id, 
16 
 
expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um 
lado hereditários e inatos e, por outro lado, adquiridos e 
recalcados”. 
FREUD (1976 apud LIMA, A.P. 2010). 
 
O Ego é regido pelo princípio de realidade, é a segunda instância psíquica a ser 
formada na psiquê humana. Ele é responsável por adequar a necessidade do Id em 
obter prazer às possibilidades ambientais. Enquanto o Id ‘diz’, “eu quero”, o Ego 
buscará verificar se é possível realizar isto dentro das condições que o ambiente 
oferece, ou seja, o Ego: 
“desempenha a função de obter controle sobre as exigências 
das pulsões, decidindo se elas devem ou não ser satisfeitas, 
adiando essa satisfação para ocasiões e circunstâncias mais 
favoráveis ou reprimindo parcial ou inteiramente as 
excitações pulsionais [...] Assim, o ego atua como mediador 
entre o id e o mundo exterior. Como é parte consciente e 
inconsciente, cabe ao Ego também, a função de fazer a 
mediação entre o Id e o Superego – instância que será 
precedida por um discorrer de outros tópicos que facilitarão 
a elucidação do mesmo.” 
FREUD (1976 apud LIMA, A.P. 2010). 
 
Complexo de Édipo e neurose 
De acordo com a Psicanálise, a psicose está intimamente ligada resolução de uma 
etapa crucial, do desenvolvimento humano, a saber, a fase fálica. Este momento 
do desenvolvimento humano, ao qual Freud chamou de desenvolvimento 
17 
 
Psicossexual, é marcado pela concentração da libido nos órgãos genitais. É 
também nesta fase que a criança se dá conta das diferenças anatômicas entre os 
sexos: os percebem que as meninas não possuem pênis, e as meninas, por sua vez, 
que os meninos possuem pênis (FREUD, S., 1924). 
Ao longo dos aproximados 3 anos de duração desta fase, o menino, nutrirá um 
desejo sexual por sua mãe, enquanto a menina (por fim) por seu pai. Entretanto, 
além das diferenças anatômicas, meninos e meninas vivenciarão o complexo de 
Édipo de maneiras diferentes: o menino desejando sua mãe, rivalizará com o pai, 
por ela. Contudo, temendo ser castrado, ou seja, perder seu pênis (assim como 
acredita ter acontecido com todas as meninas, já que elas não possuem o órgão 
genital), ele aceita a autoridade da figura paterna, recalcando assim o desejo pela 
mãe (FREUD, S., 1924). 
É através da dissolução do complexo de Édipo que será formado o superego, 
sendo a figura do pai, o núcleo deste superego. Deste modo, seguindo para o 
próximo momento – o período de latência. 
Para asmeninas, o percurso ao período de latência geralmente ocorre da seguinte 
maneira: durante a estimulação imatura do clítoris, a infante direciona seu desejo 
sexual à figura materna, porém, ao se dar conta das diferenças sexuais, assim, 
percebe que sua mãe não poderá dar-lhe um pênis, pois ela também não possui, 
então, ela passa a nutrir hostilidade pela mãe, por tê-la feito sem um falo, então, 
dirige seu desejo sexual a seu pai, na esperança de comportar em seu canal genital, 
o tão desejado falo. Todavia, assim como ocorre com os meninos, a figura paterna 
se impõe, e a menina recalca o desejo sexual por seu pai, substituindo o desejo de 
ter um falo pelo desejo de ter um filho. Percebe-se que, os meninos ‘findam’ o 
complexo de Édipo pelo medo da castração, enquanto as meninas o iniciam após 
perceberem que são castradas (FREUD, S., 1932). 
18 
 
Se o superego se forma pela internalização da primeira regra centrada na figura 
do pai, é de se supor que o superego – última das três instâncias psíquicas, seja 
associado as normas, as tradições, e a ética. 
“O superego desenvolve-se a partir do ego, em um período 
que Freud designa como período de latência, situado entre a 
infância e o início da adolescência. Nesse período, forma-se 
nossa personalidade moral e social. O superego atua como 
um juiz ou um censor relativamente ao ego. Freud vê na 
consciência moral, na auto-observação, na formação de 
ideais, funções do superego. Classicamente, o superego 
constitui-se por interiorização das exigências e das 
interdições parentais. Num primeiro momento, o superego é 
representado pela autoridade parental que molda o 
desenvolvimento infantil, alternando as provas de amor com 
as punições, geradoras de angústia. Num segundo tempo, 
quando a criança renuncia à satisfação edipiana, as proibições 
externas são internalizadas. Esse é o momento em que o 
superego vem substituir a instância parental por intermédio 
de uma identificação da criança com os pais. Freud salientou 
que o superego não se constrói segundo o modelo dos pais, 
mas segundo o que é constituído pelo superego deles. O 
superego estabelece a censura dos impulsos que a sociedade 
e a cultura proíbem ao id, impedindo o indivíduo de satisfazer 
plenamente seus instintos e desejos. É o órgão psíquico da 
repressão, particularmente a repressão sexual.” 
FREUD (1976 apud LIMA, A.P. 2010). 
 
19 
 
Uma vez que o processo siga o curso do que foi descrito nos parágrafos anteriores, 
a composição psíquica do sujeito será predominantemente neurótica. Todavia, 
além da neurose, há também a perversão e a psicose. Cabe agora adentrarmos na 
compreensão de como se forma o predomínio da psicótica na visão psicanalítica 
de Freud. 
 
Neurose e Psicose: 
Enquanto no modelo de neurose, o Id tentará formas de encontrar satisfação 
através da ‘negociação’ com o Ego, ou seja, buscando maneiras socialmente 
aceitáveis para obter prazer, na psicose, o Id domina o Ego, então, ambiente 
interno e externo não possuem uma diferenciação muito clara, como destaca 
Hegenberg (2001 apud LINS, 2007) ao falar sobre pessoas psicóticas: 
“Profundas, centradas nelas mesmas, estabelecendo uma 
delicada relação com o ambiente porque esse ambiente pode 
ser fator de desorganização pessoal [...] têm um mundo 
interno rico, em função do id como instância dominante. A 
criatividade do tipo P é grande em função desse contato 
profundo com seu mundo interno, sendo que suas ideias 
próprias, que não precisam respeitar regras ou opiniões 
alheias, também se dão em função dessa riqueza do mundo 
interior. 
 
Enquanto o que caracteriza a neurose são os sintomas que advém dos afetos das 
representações recalcadas para o inconsciente, na Psicose, ocorre um conflito 
entre o Ego e o mundo externo, o sujeito cria uma nova realidade e ela é construída 
de acordo com os desejos do Id. (Laender, 2009). 
20 
 
Tanto na neurose quanto na Psicose, há uma relação de perda com a realidade, a 
diferença é que na neurose, uma parte dessa realidade é evitado por fuga – 
recalcamento. (Laender, 2009). Enquanto que na psicose: 
“o ego se afasta de um fragmento da realidade e tenta 
reconstruir uma nova realidade via delírio ou alucinação. O 
mecanismo de defesa utiliza a regressão narcísica, que 
desinveste o mundo externo e introjeta no ego uma parte da 
realidade que foi abandonada, e cujo retorno acontece no real. 
A nova realidade se adapta aos desejos do Id, mas o preço 
pago pelo ego é a perda da realidade atestada de maneira 
exemplar nos fenômenos delirantes e alucinatórios”. 
(LAENDER, 2009). 
 
Lacan e o Caso Aimée 
 
Jacques Marie Émile Lacan (1901- 1981), foi um psiquiatra e psicanalista francês 
que nasceu e cresceu na cidade de Paris, na França. Tornou-se conhecido por ter 
no primeiro momento buscado reconduzir a Psicanálise às origens freudianas e 
depois por ter avançado neste campo sem perder-se da base - caminho oposto ao 
que estava sendo seguindo por outros psicanalistas à época em que propôs o 
‘retorno a Freud’ (PSICANALISELACANIANA, 2008). 
Considerando que Lacan viveu em um período de pelo menos cinco décadas após 
Freud lançar os postulados psicanalíticos, importantes avanços científico-
filosóficos e técnicos – na lógica matemática e na própria linguística foram 
alcançados. Alicerçado por estes saberes que Freud não tinha disponíveis à sua 
época, Lacan buscou adequar a psicanálise à luz do Zeitgeist ao qual era 
contemporâneo, vigilante quanto a manutenção dos princípios basais freudianos 
(PSICANALISELACANIANA, 2008). 
21 
 
Em seu mestrado, Lacan debruçou-se sobre o estudo da Psicose, sua dissertação 
recebeu o título de: ‘da psicose paranoica’. Fica patente que Lacan tinha além do 
interesse a priori pela retomada da estrutura epistemológica psicanalítica e a 
posteriori da ‘evolução’ da mesma, uma especial curiosidade quanto a psicose. 
Embora tenha estudado diversos casos relacionados, um dos casos mais 
emblemático e selecionados para melhor compreender a psicose foi o estudo que 
realizou do caso da paciente “Aimée”. 
Aimée, é o nome fictício que Lacan fazia uso para se referir ao caso da paciente 
que atendeu, tratava-se de uma mulher que apresentava sintomas paranoides com 
manias de perseguição, sintomas depressivos e agressividade. Lacan acompanhou 
e estudou o caso durante um ano e meio. E é com base neste trabalho que Lacan 
constrói a tese segundo a qual a natureza da cura demonstraria a natureza da 
doença. Deve-se pontuar que o termo "cura" é utilizado no seu valor clínico de 
redução de todos os sintomas mórbidos. Dessa forma, o fato de a paciente, cerca 
de vinte dias após ter cometido um atentado contra a atriz Huguette ex-Duflos, 
não apresentar nenhum delírio focaliza a problemática do estudo. A agressão 
deferida por Aimée provoca um ferimento na mão da atriz e Aimée não demonstra 
nenhuma satisfação pela melhora da sua vítima. (FERNANDES, 2001) 
O atentado ocorreu quando, em uma noite, Marguerite Pantaine (seu verdadeiro 
nome), decide ir ao Teatro onde havia se apresentado a atriz muito famosa dos 
anos trinta, e então, Aimée fere Huguette ex-Duflos com uma navalha. Deste 
modo, Aimée foi presa durante um período e depois encaminhada para a 
internação do Hospital Saint-Annee onde Lacan, ainda um jovem médico 
psiquiatra fez seu estágio. 
Lacan então, utilizou esse estudo para sua tese de doutorado em psiquiatria, cujo 
tema foi “Da Psicose Paranóica em suas Relações com a Personalidade”. Nesse 
momento, influenciado pelo surrealismo, Lacan recusa o organicismo vigente na 
época para a compreensão da loucura. (CALEGARI,2017) 
22 
 
Aimée, casada com René Anzieu, funcionária pública, em 1921, dá a luz uma 
menina que nasce morta. Com muitos delírios de perseguição, Aimée acredita que 
uma amiga foi a grande culpada pela morte de sua filha. Esta amiga, depois de um 
longo período sem dar notícias, sabendoque Aimée teve criança, telefona 
buscando retomar o contato. Logo, é em torno desta amiga que um primeiro 
perseguidor solidifica. O ódio contra a Senhorita C. de la N. acontece, de acordo 
com Lacan, quando Aimée fracassa no seu desejo de ser mãe. Para ele, neste 
momento, Aimée perde por completo suas esperanças de realizar seu "destino de 
mulher", uma vez que ela já havia demonstrado dificuldades para as atividades 
domésticas e agora não poderia ser mãe. 
Pouco tempo depois, Aimée fica novamente grávida, mas desta vez de um 
menino, ela permanece com os mesmos sintomas, apresentando um quadro 
depressivo e melancólico que, segundo Aimée era censurado por seu marido. 
Desta vez, ela dedica-se ao menino durante os primeiros cinco meses, pois 
acredita que todos ameaçam seu filho. (FERNANDES, 2001) 
Como desde muito cedo sonhava em ser uma escritora e romancista, tendo 
inclusive produzido alguns textos os quais nunca conseguiu publicá-los. 
(CALEGARI,2017) 
 Aimée entrega seu filho aos cuidados de sua irmã mais velha, que é viúva. Esta 
vem morar na casa de Aimée para auxiliá-la nas atividades domésticas, que ela 
executa com dificuldade (FERNANDES, 2001). A partir daí, Lacan formula uma 
descrição das perseguidoras como explica a seguinte: 
"Não é, com efeito, dos elogios e da autoridade que lhe são conferidos pelos que 
a cercam que sua irmã vai tirar sua principal força contra Aimée, é da própria 
consciência de Aimée. Aimée reconhecia por seu valor as qualidades, as virtudes, 
os esforços de sua irmã. Ela é dominada por ela, que lhe representa sob um certo 
23 
 
ângulo a imagem mesma do ser que ela é impotente para realizar." (LACAN, 
1932/1987, p. 231) 
Apresentada a frustração de seus textos nunca serem aceitos para a publicação, 
surge aí a erotomania que é um dos sintomas da paranoia, e se caracteriza pelo 
seguinte traço: o sujeito acredita que alguém (em geral famoso, ou muito 
conhecido) o ama, ainda que não conheça de fato essa pessoa. Aimée apresenta, 
assim, um amor platônico pelo príncipe de Gales. Ao aproximar-se o momento do 
ataque de Aimée à atriz Huguette ex-Duflos, fica mais evidente o tema da 
erotomania por ela apresentado. Este teria por objeto o príncipe e, referente a ele, 
seus delírios seriam muito mais precisos. (DICKEL, 2011) Um poema dirigido ao 
príncipe de Gales foi retirado de um caderno no qual Aimée escrevia todo dia. 
Um de seus trechos: 
 
“Que su Alteza me permita 
Decirle cuanto le digo 
Me preocupa lo indecible 
La perfidia de esas bestias 
Cuando las águilas vuelen 
Por sobre la Cordillera 
Los Windsor se medirán 
Con los Grandes de la Tierra.” 
 LACAN, J. 1932, p.153 
 
Posto isto, Aimée estando internada sob cuidados do jovem psiquiatra, conta as 
suas histórias através de várias entrevistas confiando a Lacan, suas cartas e 
escritos. Assim, em 1932 Lacan publica sua tese de psiquiatria, o famoso caso 
24 
 
Aimée, caso sobre paranóia feminina, nesse estudo buscando explicação para o 
caso, não na Psiquiatria e sim nos conceitos Freudianos, também cria o conceito 
de “paranoia de autopunição”. 
 Constata-se assim que, apesar de não realizar uma psicanálise neste caso, Lacan 
através da sua escuta pôde demarcar escansões na fala de Aimée que lhe revelaram 
o tema central do delírio. De fato, a escuta de Lacan, neste caso, aponta para a 
necessidade de respeitar o preceito freudiano de que no inconsciente não há 
contradição ou negação (FREUD, 1915b/1969). 
 
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27 
 
Capítulo IV: Psicose de acordo com o CID-10 e o DSM-V. 
 
Normal e patológico 
 
Delimitar o que é normal e o que é patológico está longe de ser uma tarefa simples. 
Debates a cerca de uma possível fronteira parecem evidenciar a ausência de uma 
conclusão axiomática acerca do tema. Para alguns autores, como CANGUILHEM 
(P. 65, 2010), afirmam que dizer o que é normal ou o que não é normal em termos 
quantitativos, pode ser apenas uma forma de legitimar determinadas maneiras de 
ser e existir como sendo melhores que outras, deixando-se de levar em conta as 
diversas maneiras de sê-lo. 
Mas o que é a saúde então? Saúde é mais que não estar doente, ser saudável é 
estar adaptado as exigênciase demandas do meio em que se faz parte. Neste 
sentido, pode-se pensar que na verdade, o processo de saúde e doença está muito 
vinculado a como a sociedade da qual o sujeito faz parte. Já que a adaptação é 
facilitada ou dificultada de acordo com a maneira como ela encontra-se aberta a 
lidar, tolerar ou criar dispositivos para facilitar a vida daquele que é diferente de 
uma maioria (CANGUILHEM, P.188, 2010). 
Assim posto, CANGUILHEM (P. 189, 2010), estabelece critérios para diferenciar 
o que é normal e o que é patológico: 
1. Normalidade como ausência de doença: a ausência de sintomas, sinais ou de 
doenças é sinônimo de saúde. 
2. Normalidade ideal: estabelece-se uma norma ideal do que, supostamente, é um 
sujeito sadio. 
3. Normalidade estatística: o normal é aquilo que se observa com mais frequência. 
4. Normalidade como bem-estar. 
28 
 
5. Normalidade subjetiva: o que prevalece aqui é como o sujeito se percebe em 
relação ao seu estado de saúde. 
Já de acordo com a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, o conceito de 
saúde, desde 1946, vai além da patologia. Neste viés, ser saudável é encontrar-se 
em estado de bem-estar biopsicossocial. 
 
Necessidade dos manuais 
 
A fim facilitar a vida dos profissionais de saúde por meio de uma nomenclatura 
comum aos transtornos, foram criados os manuais, tais como o CID - 
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com 
a Saúde e o DMS - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 
Atualmente o CID encontra-se em sua décima edição enquanto o DSM na quinta, 
sendo respectivamente chamados: CID-10 e DSM-V. 
 
Síndrome e transtornos 
 
As síndromes são definidas (DALGALARRONDO, 2008), como um conjunto de 
sinais e sintomas que acometem as pessoas em algum momento da vida. Além 
disto, este mesmo autor afirma que há um conjunto de sinais, sintomas e mesmo 
síndromes comuns em diversos transtornos. DALGALARRONDO (2008, p. 304-
389). 
Já o transtorno mental é entendido como: 
“[...] uma Síndrome caracterizada por perturbação 
clinicamente significativa na cognição, na regulação 
emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete 
uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de 
desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. 
29 
 
Transtornos Mentais estão frequentemente associados a 
sofrimento ou incapacidade significativos que afetam 
atividades sociais, profissionais ou outras atividades 
importantes. Uma resposta esperada ou aprovada 
culturalmente a um estressor ou perda comum, como a morte 
de um ente querido, não constitui transtorno mental. Desvios 
sociais de comportamento (por exemplo, de natureza política, 
religiosa ou sexual) e conflitos que são basicamente 
referentes ao indivíduo e à sociedade não são transtornos 
mentais a menos que o desvio ou conflito seja o resultado de 
uma disfunção no indivíduo, conforme descrito” 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p.20) 
 
 
Conclui-se que o que diferencia um transtorno de síndrome é o sofrimento 
psíquico significativo para a pessoa, assim como a incapacitação que aquela 
síndrome gera nas atividades diárias das pessoas, o que inclui relacionamentos 
com amigos, parentes, familiares, desempenho no trabalho, nos estudos, etc. 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013) 
 
Síndromes psicóticas 
 
De acordo com (DALGALARRONDO, 2008, apud Costa, 2017, p.144) As 
síndromes psicóticas são definidas como: 
1. Percepção delirante – Uma percepção absolutamente 
normal recebe uma significação delirante, que ocorre de 
modo simultâneo ao ato perceptivo. Exemplo: a turma da 
professora Anna resolve oferecer uma festinha de aniversário 
para ela. Organizam a “mesa do parabéns” colocando 
30 
 
guardanapos, copos para os refrigerantes e a faca para cortar 
o bolo. Quando a professora entra na sala, onde está sendo 
preparada a festa, ela subitamente tem uma espécie de 
revelação e passa a acreditar 
que a faca está ali para feri-la, para matá-la. 
2. Alucinações auditivas características – São vozes que 
comentam e ou comandam a ação do paciente. Exemplo: 
Luciana ouve vozes que lhe dizem para que ela tome banho, 
que fique acordada e para que pule na linha do trem e morra. 
3. Eco do pensamento ou sonorização do pensamento – O 
paciente escuta seus pensamentos ao pensá-los. Exemplo: 
Jorge reclama que antes de pensar ouve os seus pensamentos. 
4. Roubo do pensamento – O paciente tem certeza de que seu 
pensamento foi inexplicavelmente roubado. Exemplo: Jorge, 
durante a entrevista inicial, começa contando sua história, 
mas para inesperadamente. Quando indagado por que parou 
de relatá-la, ele conta que o seu pensamento foi roubado, 
ficando sem poder continuar a história. 
5. Vivências de influência corporal ou ideativa 
a) vivências de influência: são experiências onde o paciente 
sente que uma força externa age sobre o seu corpo ou seus 
órgãos, emitindo raios, influenciando suas funções corporais. 
Exemplo: Jorge acredita que existem raios emanados das 
torres celulares que controlam seu intestino impedindo que 
ele consiga evacuar com a frequência necessária. 
 b) vivências de influência sobre o pensamento: refere-se à 
experiência de que algo influencie seus pensamentos. O 
paciente recebe pensamentos impostos de fora, pensamentos 
postos em seus cérebros. Exemplo: Tiago acredita que não 
31 
 
consegue pensar mais nada. Tudo o que aparece em sua 
mente é mandado de fora. Acredita que sua mãe vendeu sua 
alma e agora tudo o que ele pensa vem da parte da pessoa que 
comprou sua alma. 
 
Ainda de acordo com DALGALARRONDO (p. 328, 2008) os sintomas que 
compõem a síndrome psicótica, se dividem em: sintomas de primeira ordem, e 
sintomas de segunda ordem. 
Os de primeira ordem são mais graves, e dizem respeito a ‘inundação’ do mundo 
externo ao interno. O sujeito não consegue dissociar o mundo externo do mundo 
interno. Por exemplo: O sujeito o sujeito atribui a outras pessoas, ‘forças’ ou 
objetos pensamentos seus e vice-versa. Já os sintomas de segunda ordem, embora 
menos importantes no diagnóstico da esquizofrenia, geram sofrimento ao sujeito 
e incluem: “perplexidade, alterações da sensopercepção (excluindo aqueles de 
primeira ordem), vivências de influência no campo dos sentimentos, impulsos ou 
vontade, empobrecimento afetivo, intuição delirante e alterações do ânimo de 
colorido depressivo maniatiforme.” (COSTA, P.144, 2017). 
 
As psicopatologias também apresentam sintomas positivos e negativos que 
formam síndromes positivas ou negativas, as formas de psicose, são diferentes. 
Síndromes negativas, trazem ao sujeito psicótico, prejuízos em seu 
funcionamento social, há suas capacidades cognitivas, a seu pensamento, 
linguagem, volição e afetivamente (DALGALARRONDO, P. 328, 2008). Estes 
sintomas/ síndromes podem se manifestar das seguintes maneiras: 
 
1: Distanciamento social: O sujeito perde a vontade de interagir afetivamente com 
as pessoas. Este, assim como os demais comprometimentos, manifesta-se em 
maior ou menor quantidade, podendo crescer ou diminuir com o tempo/ 
tratamento. 
32 
 
 
2: Retração social: significa a pouca vontade/ disposição do sujeito para socializar 
com as demais pessoas. Há que se levar em conta a disposição do sujeito antes 
das características psicóticas os afetarem. Pode-se dizer que a retração social 
ocorre quando o sujeito por causa da patologia tem estreitada sua vontade de 
interagir com as demais pessoas. 
 
3: Empobrecimento da linguagem e do pensamento, e diminuição da fluência 
verbal: A pessoa tende a falar menos e com menor qualidade, já que seu 
pensamento se torna empobrecido, então, a construção de frases, bem como a 
articulação delas de modo fluído se tornam degradadas também. 
 
4: Diminuição da vontade (volição reduzida) e hipopragmatismo: Ocorre uma 
redução da vontade de iniciar atividades que outrora o sujeitocostumava fazer 
com certo grau de entusiasmo. Além disso, tende a ocorrer uma demora para 
finalizar tarefas cotidianas. 
 
5: Negligência quanto a si mesmo: O sujeito demonstra pouca preocupação 
consigo mesmo, podendo deixar de realizar práticas de higiene, alimentação, 
estética, etc. Em alguns casos estes cuidados ocorrem apenas com intervenção de 
terceiros. 
 
6: Lentifcação e empobrecimento psicomotor: a pessoa passa a ter não apenas os 
movimentos menos finos e coordenados como também, perde-se uma agilidade 
para responder as demandas externas que exigem dele prontidão. 
 
Síndromes positivas 
 
33 
 
Dizem respeito a novas manifestações, ao contrário dos sintomas e síndromes 
negativas que reduzem capacidades anteriores, neste tipo de sintoma/ síndrome, 
ocorrem adições produtivas no sujeito, tais como: 
 
1: Alucinações: tratam-se de percepções ilusórias ou pseudoilusórias de natureza 
visual ou auditiva (mais prevalentes). Por exemplo: o sujeito ouve vozes da porta 
de sua casa. 
 
2: Ideias delirantes: sujeitos que possuam ideias delirantes acreditam piamente 
que as coisas ao seu redor parecem ocorrer centradas nele, geralmente vinculado 
a conspirações de pessoas, entidades ou organizações contra ele, embora o 
conteúdo possa variar enormemente, baseado na história de vida do sujeito. 
 
3: Comportamentos bizarros: pessoas que passem a apresentar estes 
comportamentos executam ações muito atípicas para seu meio social, por 
exemplo, usar a copa de abajur em sua cabeça como um chapéu. 
 
4: Agitação Psicomotora: trata-se da realização de movimentos bruscos, ou da fala 
contínua, prolixa ou exageradamente rápida apresentada pelas pessoas. Esta 
agitação pode levar as pessoas a andar demasiadamente mesmo que de um lugar 
para outras repetidas vezes sem aparente sentido para seu grupo social. 
 
5: Ideias bizarras: são ideias nas quais o sujeito acredita firmemente – não 
necessariamente delirantes. Por exemplo, acreditar que ao mastigar lentamente 
uma maçã, faz com que as pessoas ao redor se tornem mais felizes. 
 
6: Neologismos: pessoas com esse sintoma positivo, costumam criar novas 
palavras e em diversos momentos surpreender-se que a pessoa com quem fala não 
conheça o termo em questão. Exemplo: “provacível”, “equitaforostice”, 
34 
 
“bartracizarquizar” – palavras inexistentes em dicionários ou conhecidas por 
outros falantes do idioma no qual o sujeito se expressa. 
 
Síndrome psicótica desorganizada 
 
Também conhecida como esquizofrenia hebefrênica, DALGARRONDO (2008, 
p331): 
1: Pensamento que ruma para uma desorganização cada vez mais acentuada, 
partindo de falhas leves de associação até pensamento não compreensíveis; 
 
2: Comportamentos desorganizados: Marcados por inadequação de 
comportamentos sexuais e sociais. Uso de roupas bizarras que ornam com uma 
aparência bizarra, além disso, há também agitação psicomotora. 
 
3: Afeto inadequado: caracterizado por um desalinhamento entre os afetos, ideias 
e vontade. 
4: Afeto pueril: os afetos se dão de maneira que destoa com a maneira como os 
adultos os expressam. 
 
Espectro da esquizofrenia 
 
Por espectro pode-se compreender as diversas formas de manifestação do mesmo 
transtorno, podendo compor um gradiente quantitativo de comprometimento ou 
qualitativo, como ocorre no espectro autista por exemplo. Estão inclusos no 
espectro da esquizofrenia, a própria esquizofrenia, transtornos psicóticos, assim 
como transtorno de personalidade esquizotípica (AMERICAN PSYCHIATRIC 
ASSOCIATION, 2013, p.87). Os domínios prejudicados, ou seja, com 
funcionamento anormal neste domínio incluem: alucinações, comportamento 
motor desorganizado, sintomas negativos, delírios e pensamento desorganizado. 
35 
 
 
A despeito de evidências que se chocam com a crença do sujeito delirante, estas 
são irrevogáveis para aquele que delira, e podem mesmo enrijecer a crença no 
próprio delírio. A maneira como os delírios podem se manifestar não é única, 
dentre os delírios mais comuns incluem-se: 
 
1: Delírios somáticos: quando o sujeito acredita que há algo de errado com seus 
corpos, tais como doenças, organismos alienígenas, etc. 
 
2: Delírios de referência: quando para o sujeito eventos ambientais parecem 
endereçar-se à ele (apesar de não fazer sentido para os demais, dada a ausência de 
evidência); 
 
3: Delírios persecutórios: os sujeitos afligidos por este tipo de delírio acreditam 
que pessoas, organizações, objetos ou outros seres estão tramando contra sua 
integridade física, deste modo, o mundo parece um lugar mais perigoso que de 
fato é. 
 
4: Delírios de grandeza: delírios desta natureza são caracterizados pela crença do 
sujeito de que ele possui características, status, dinheiro, etc. Que o tornam 
superior aos demais seres humanos. Podendo leva-la a acreditar, por exemplo, a 
crer que é um deus, ou que tem superpoderes. 
 
5: delírio erotomaníaco: quando o sujeito crê que uma outra pessoa está 
apaixonada por ele, chegando até mesmo a crer que ocorre um romance entre eles. 
Delírios desta natureza podem levar a pessoa delirante a espionar, enviar flores, 
tentar destruir (literalmente ou não) pessoas que se interponham no caminho de 
seu relacionamento ilusório. 
6: delírios niilistas: quando o sujeito acredita que uma catástrofe ocorrerá. 
36 
 
 
Delírios podem ser relativamente lógicos, aos quais se denomina delírios não-
bizarros, e delírios absurdos – denominados delírios bizarros. Acreditar que ao 
cair de uma escada e se desenvolveu um câncer que irá mata-lo em poucos meses 
é uma forma de delírio não-bizarro, mas crer que este mesmo tombo ocorreu 
porque seres invisíveis psicocinéticos lhe empurraram da escada apenas para que 
a queda pudesse despertar nele uma doença contagiosa que mataria os pecadores, 
é uma forma de delírio bizarro. 
 
De acordo com o DSM-V e o CID-10, há diversos tipos de transtornos 
esquizofrênicos, a seguir exploremos alguns deles, à luz destes dois manuais: 
 
 
Transtorno psicótico breve: 298.8 (AMERICAN PSYCHIATRIC 
ASSOCIATION, 2013); ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (1993, p.97) 
F23. 
 
Este tipo de transtorno é caracterizado pela volatilidade de afetos e pelas 
confusões experienciadas pelos sujeitos em um relativamente curto período. Há 
que se levar em consideração que, apesar da curta duração temporal, os danos 
gerados por este transtorno podem causar prejuízos e sofrimento intenso. Pode-se 
perder a autonomia, para alimentar-se, vestir-se, ter cuidados com a higiene 
pessoal e saúde ou mesmo levar a pessoa a suicidar-se. Em muitos casos o 
desempenho das atividades diárias básicas demanda o auxílio de terceiros 
enquanto este transtorno está em curso. 
 
Critérios diagnósticos: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, 
p.94) 
 
37 
 
Para que seja considerado acometido por este transtorno é necessário que o sujeito 
apresente um dos seguintes sintomas psicóticos positivos: comportamento 
psicomotor muito anormal, delírios, discurso desorganizado e alucinações. 
O aparecimento deste transtorno é súbito e ocorrem normalmente sem a presença 
de prelúdio que anunciasse sua chegada, em duas semanas. Duram entre um dia e 
menos de um mês. Findado o tempo do transtorno, a pessoa retorna ao estado 
anterior ao quadro psicótico. 
 
Curso do transtorno: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, 
p.94). 
 
Embora este transtorno possa ocorrer em qualquer fase da vida, geralmente ocorre 
na adolescência ou em adultos jovens. Sendo os trinta anos de idade a média na 
qual o transtorno costuma ocorrer. 
Como é um transtorno de curta duração, para um diagnóstico correto ou 
diferencial, é necessário que os sintomas psicóticos estejam completamente 
remissos por pelo menos um mês. 
 
Transtorno delirante: 297 .1 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 
2013, p.90); F.22 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993, p.95). 
 
Os comprometimentos trazidospor este transtorno ocorrem nas esferas: social, 
conjugal ou profissionais. Humor irritável ou mesmo disfórico podem se 
apresentar em reação às crenças delirantes do sujeito. Comportamentos violentos 
ou raivosos podem ocorrer em delírios do tipo erotomaníaco, ciumento e 
persecutório. Tais comportamentos podem levar o sujeito a ter problemas com a 
lei. 
 
38 
 
Critérios diagnósticos: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, 
p.90) 
Caracteriza-se por pelo menos um mês de delírios, ainda que nenhum outro 
sintoma psicótico esteja presente. 
 
A. A presença de um delírio (ou mais) com duração de um mês ou mais. 
B. O Critério A para esquizofrenia jamais foi atendido. 
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de seus desdobramentos, o 
funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é 
claramente bizarro ou esquisito. 
D. Se episódios maníacos ou depressivos ocorreram, eles foram breves em 
comparação com a duração dos períodos delirantes. 
E. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a 
alguma outra condição médica, não sendo mais bem explicada por outro 
transtorno mental, como transtorno dismórfico corporal ou transtorno obsessivo-
compulsivo. 
 
Subtipos 
 
Tipo grandioso: aplica-se quando o tema central do delírio é a convicção 
de ter algum grande talento (embora não reconhecido), um insight ou feito uma 
descoberta importante. Menos comum, a pessoa pode ter o delírio de manter uma 
relação especial com alguém renomado ou de ser uma pessoa famosa (caso em 
que 
o indivíduo verdadeiro pode ser visto como impostor). Delírios grandiosos podem 
ter conteúdo religioso. 
 
Tipo ciumento: aplica-se quando o tema central do delírio do indivíduo é o 
de que o cônjuge ou parceiro é infiel. Essa crença é injustificada e se baseia em 
39 
 
inferências incorretas apoiadas por pequenas "evidências" (ex.: acreditar que o 
fato do cônjuge estar com cabelos despenteados, é evidência de que pouco antes, 
o mesmo estava fazendo sexo com outra pessoa); A pessoa com o delírio costuma 
confrontar o cônjuge ou o parceiro e tenta intervir na infidelidade imaginada. 
 
Tipo persecutório: aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de 
que o próprio indivíduo está sendo vítima de conspiração, enganado, espionado, 
perseguido, envenenado ou drogado, difamado maliciosamente, assediado ou 
obstruído na busca de objetivos de longo prazo. Pequenas descortesias podem ser 
exageradas, tornando-se foco de um sistema delirante. O indivíduo afetado pode 
se envolver em tentativas repetidas de conseguir satisfação por alguma ação legal 
ou legislativa. Pessoas com delírios persecutórios costumam ser ressentidas e 
enraivecidas, podendo até recorrer à violência contra aqueles que, em sua opinião, 
lhe causam danos. 
 
Tipo somático: aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou 
sensações corporais. Podem ocorrer delírios somáticos de várias formas. Mais 
comum é a crença de que a pessoa emite odor desagradável, de existir uma 
infestação 
de insetos na pele ou sob ela, de haver um parasita interno, de que certas partes 
do corpo estão deformadas ou feias ou de que essas partes não estão funcionando. 
 
Tipo misto: aplica-se quando não há um tema delirante predominante. 
 
Tipo não especificado: aplica-se quando a crença delirante dominante não 
pode ser determinada com clareza ou não está descrita nos tipos específicos (p. 
ex.: 
delírios referenciais sem um componente persecutório ou grandioso 
proeminente). 
40 
 
Pode apresentar conteúdo bizarro, isto é, quando os delírios são claramente 
implausíveis, incompreensíveis e não originados de experiências comuns da vida 
(ex.: o sujeito pode acreditar que seus olhos foram trocados pelos olhos de outra 
pessoa, sem que ele percebesse, pois estava dormindo). 
 
Curso do transtorno (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, 
p.91). 
 
Este transtorno tem início na vida adulta, e uma parte não desprezível das pessoas 
acaba evoluindo o quadro para esquizofrenia. 
 
Esquizofrenia: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p. 99, 2013); 
F.20.0 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, p. 88, 1993). 
A exibição de afetos em pessoas com esquizofrenia pode se manifestar de formas 
inadequadas, de modo que diante de ausência de qualquer estímulo ou diante de 
estímulos até mesmo destoantes, poderia por exemplo chorar, rir, etc.; podem 
apresentar padrões de sono alterados; humor disfórico; avolia para alimentar-se 
ou mesmo recusar comida mesmo que auxiliado por outra pessoa. 
Despersonalização, desrealização e preocupações somáticas podem ocorrer e 
por vezes atingem proporções delirantes. Ansiedade e fobias são comuns. Déficits 
cognitivos na esquizofrenia são comuns e fortemente associados a prejuízos 
profissionais e funcionais. Esses déficits podem incluir diminuições na memória 
declarativa, na memória de trabalho, na função da linguagem e em outras funções 
executivas, bem como velocidade de processamento mais lenta. 
Anormalidades no processamento sensorial e na capacidade inibitória, bem como 
redução na atenção, são também encontradas. Alguns indivíduos com 
esquizofrenia mostram déficits na cognição social, incluindo déficits na 
capacidade de inferir as intenções dos outros (teoria da mente), podendo atender 
41 
 
a eventos ou estímulos irrelevantes e depois interpretá-los como significativos, 
talvez levando à geração de delírios explanatórios. Esses prejuízos costumam 
persistir durante a remissão dos sintomas. Alguns indivíduos com psicose podem 
carecer de insight ou consciência de seu transtorno. Isso inclui não perceber os 
sintomas de esquizofrenia, podendo estar presente em todo o curso da doença. 
Não perceber a doença costuma ser um sintoma da própria esquizofrenia em vez 
de uma estratégia de enfrentamento. É comparável à falta de percepção de déficits 
neurológicos após dano cerebral, chamada de anosognosia. Esse sintoma é o mais 
comum preditor de não adesão ao tratamento e prevê elevadas taxas de recaída, 
aumento no número de tratamentos involuntários, funcionamento psicossocial 
mais pobre, agressão e um curso mais pobre da doença. 
Hostilidade e agressão podem estar associadas à esquizofrenia, embora agressão 
espontânea ou aleatória não seja comum. A agressão é mais frequente em 
indivíduos do sexo masculino, nos mais jovens e em pessoas com histórico de 
violência, não adesão ao tratamento, abuso de substâncias e impulsividade. Deve-
se observar que a grande maioria das pessoas com esquizofrenia não é agressiva, 
sendo, com mais frequência, mais vitimada que aquelas na população em geral. 
Atualmente, não há exames laboratoriais, radiológicos ou testes psicométricos 
para o transtorno. 
 
Critérios diagnósticos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p.99 
2013). 
 
Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade 
significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com 
sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3): 
42 
 
 
1. Delírios; 
2. Alucinações; 
3. Discurso desorganizado; 
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico; 
5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia). 
 
Por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, o 
nível de funcionamento em uma ou mais áreas importantes do funcionamento, 
como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente 
abaixo do nível alcançado antes do início (ou quando o início se dá na infância ou 
na 
adolescência, incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento 
interpessoal, acadêmico ou profissional). 
Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. 
Esse período deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados 
com sucesso) que precisam satisfazer o Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e 
podeincluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses 
períodos prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser 
manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados 
no Critério A presentes em uma forma atenuada (p. ex.: crenças esquisitas, 
experiências perceptivas incomuns). 
Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com 
características psicóticas são descartados porque: 1) não ocorreram episódios 
depressivos maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas da fase 
ativa, ou 2) se episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, 
com duração total breve em relação aos períodos ativo e residual da doença. 
43 
 
A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p.ex.: 
droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. Se há história de 
transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na 
infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios 
ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de 
esquizofrenia, estão também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se 
tratados com sucesso). 
Os sintomas característicos da esquizofrenia envolvem uma gama de disfunções 
cognitivas, comportamentais e emocionais, mas nenhum sintoma é 
patognomônico do transtorno. O diagnóstico envolve o reconhecimento de um 
conjunto de sinais e sintomas associados a um funcionamento profissional ou 
social prejudicado. Indivíduos com o transtorno apresentarão variações 
substanciais na maior parte das características, uma vez que a esquizofrenia é uma 
síndrome clínica heterogênea. 
 
Curso (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p. 102) 
As características psicóticas da esquizofrenia costumam surgir entre o fim da 
adolescência e meados dos 30 anos; início antes da adolescência é raro. A idade 
de pico do início do primeiro episódio psicótico se dá entre o início e a metade 
da faixa dos 20 anos para o sexo masculino e fim dos 20 anos para o feminino. 
O início pode ser abrupto ou insidioso, mas a maioria dos indivíduos manifesta 
um desenvolvimento lento e gradativo de uma variedade de sinais e sintomas 
clinicamente importantes. 
 
Transtorno esquizoafetivo: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p. 
104, 2013); F.25 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, p. 104, 1993). 
 
44 
 
Caracterizado por ter sintomas que afetam o humor, assim sendo, deve haver 
simultaneamente sintomas psicóticos e sintomas referentes ao humor. Caso os 
sintomas indiquem transtorno esquizoafetivo, mas o sujeito apresente apenas 
sintomas psicóticos residuais, o diagnóstico pode ser alterado para esquizofrenia, 
dada a maior ênfase manifesta dos sintomas psicóticos, que é característica mais 
marcante desta, no lugar do transtorno esquizoafetivo. 
O transtorno esquizoafetivo pode ser bipolar (mais comum em adultos mais 
jovens) ou depressivo (mais comum em adultos mais velhos). 
Diferentemente da esquizofrenia, este transtorno pode prejudicar o desempenho 
profissional, todavia não é regra definidora. Prejuízos sociais, de autocuidados e 
de higiene estão associados, ao transtorno, todavia, se comparados aos danos nas 
mesmas esferas, produzidos pela esquizofrenia, são geralmente menores, assim 
como os prejuízos na capacidade de insights. 
Além dos comprometimentos do transtorno em si, ele tende a aumentar o risco 
dos sujeitos por ele acometidos a desenvolver transtorno afetivo bipolar ou 
transtorno depressivo maior caso os sintomas de humor permanecerem após o 
período de remissão dos sintomas do critério A para esquizofrenia. Pode haver 
transtornos associados ao álcool ou relacionados a outras substâncias. 
Trata-se de um transtorno de difícil diagnóstico, dada a ausência de testes ou 
medidas de cunho biológico para auxiliar neste diagnóstico. Além disto, se 
comparado a esquizofrenia, não há clareza se há diferença nas estruturas cerebrais 
comprometidas, comprometimentos funcionais, fatores de risco genético ou se há 
déficit cognitivo. 
 
Critérios diagnósticos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p. 105, 
2013) 
O diagnóstico de transtorno esquizoafetivo baseia-se em uma avaliação de 
um período ininterrupto da doença durante o qual o indivíduo continua a exibir 
45 
 
sintomas ativos ou residuais da doença psicótica. Embora não necessariamente, o 
diagnóstico costuma ser feito durante o período da doença psicótica. 
A. Um período ininterrupto de doença durante o qual há um episódio depressivo 
maior ou maníaco concomitante com o Critério A da esquizofrenia. 
B. Delírios ou alucinações por duas semanas ou mais na ausência de episódio 
depressivo maior ou maníaco durante a duração da doença ao longo da vida. 
C. Os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão 
presentes na maior parte da duração total das fases ativa e residual da doença. 
 
Curso (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p.106, 2013). 
A idade habitual de início do transtorno esquizoafetivo é o começo da fase adulta, 
embora possa ocorrer a qualquer momento da adolescência até mais adiante na 
vida. Uma quantidade significativa de sujeitos diagnosticados com outra doença 
psicótica inicialmente receberá diagnóstico de transtorno esquizoafetivo mais 
tarde, quando o padrão dos episódios de humor tornar-se mais aparente. Com a 
presença atual do Critério diagnóstico C, espera-se que o diagnóstico para alguns 
indivíduos se converta de transtorno esquizoafetivo em outro transtorno, 
conforme os sintomas de humor também se tornem menos proeminentes. O 
prognóstico para transtorno esquizoafetivo é um pouco melhor do que para 
esquizofrenia, porém pior que aquele para transtornos do humor. 
 
 
Referências: 
 
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION: Diagnostic and Statistical 
Manual of Mental Disorders, Fifth Edition. Arlington, VA, AMERICAN 
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013. 
46 
 
 
BREUER, J.; FREUD, S. Estudos sobre a histeria. In Obras Completas (vol. II), 
Rio de Janeiro: Imago, 1969. 
 
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico (6a ed.). Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 2010. 
 
COSTA; R. A. Psicopatologia I. Rio de Janeiro: SESES – Estácio, 2017. 
 
DALGALARRONDO, P. (2008). Psicopatologia e semiologia dos transtornos 
mentais (2a ed.) Porto Alegre: Artmed, 2008. 
 
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (ORG.). (1993). Classificação de 
Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e 
Diretrizes Diagnósticas. Tradução de Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes 
Médicas. 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
Capítulo IV – Grupo de ouvidores de vozes 
 
Grupo de ouvidores de vozes conceito e origem histórica. 
 
Seria possível que pessoas ouçam os mais variados tipos de vozes quando estão 
sozinhas e ainda estabeleçam um diálogo entre estas? Sim, é perfeitamente 
comum esse tipo de comportamento, onde pessoas tem o hábito de se 
relacionarem com vozes. 
A audição de vozes não é encarada como a expressão natural de um processo de 
adoecimento, mas na pluralidade de formas e modo como se manifesta. É 
necessário levar em conta as características particulares do ouvinte, ratificando 
que o fenômeno de ouvir vozes está, muitas vezes, ligado a questões religiosas, 
influência de outras pessoas, etc. Há que se ressaltar também a intensidade dessas 
vozes: forte, média, fraca ou insignificante, bem como a frequência em que se 
ouvem tais vozes. Ao não se restringir ao quadro referencial de classificação 
sindrômica de um indivíduo, tido como expressão de doenças mentais, toma-se a 
audição de vozes dentro do contexto mais amplo da vida das pessoas, inserindo-a 
na vasta gama das experiências subjetivas humanas (VASCONCELOS, 2003). 
Embora não seja considerada comum a alucinação auditiva, ela está presente em 
algumas pessoas. Contudo, para considerar transtorno e causar danos, é necessário 
levar em conta

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