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Convivendo com as vozes: uma estratégia de cuidado WANDERSON RICARDO NEPOMUCENO DANIELLE CRISTINA FERREIRA DA SILVA ROSANE ALBUQUERQUE DA COSTA 1 Sumário Introdução: .............................................................................................................................................. 3 Capítulo I – Do abandono ao tratamento, a relação da psiquiatria com a psicose. ............................... 5 Referências bibliográficas: ............................................................................................................. 10 Capítulo II – alucinações auditivas para além da psicose ..................................................................... 11 A psicose na psicanálise .................................................................................................................. 11 O Inconsciente Freudiano ........................................................................................................... 13 Recalcamento e sintomas ............................................................................................................ 14 Lacan e o Caso Aimée ..................................................................................................................... 20 Referências ....................................................................................................................................... 24 Capítulo IV: Psicose de acordo com o CID-10 e o DSM-V. .................................................................... 27 Normal e patológico ........................................................................................................................ 27 Necessidade dos manuais ................................................................................................................ 28 Síndrome e transtornos ................................................................................................................... 28 Síndromes psicóticas ....................................................................................................................... 29 Síndromes positivas ......................................................................................................................... 32 Síndrome psicótica desorganizada ................................................................................................. 34 Espectro da esquizofrenia ............................................................................................................... 34 Transtorno psicótico breve ............................................................................................................. 36 Critérios diagnósticos .................................................................................................................. 36 Curso do transtorno .................................................................................................................... 37 Transtorno delirante ....................................................................................................................... 37 Critérios diagnósticos .................................................................................................................. 38 Subtipos ........................................................................................................................................ 38 Curso do transtorno .................................................................................................................... 40 Esquizofrenia ................................................................................................................................... 40 Critérios diagnósticos .................................................................................................................. 41 Curso ............................................................................................................................................ 43 Transtorno esquizoafetivo .............................................................................................................. 43 Critérios diagnósticos ................................................................................................................... 44 Curso ............................................................................................................................................ 45 Referências: ..................................................................................................................................... 45 Capítulo IV – Grupo de ouvidores de vozes .......................................................................................... 47 Grupo de ouvidores de vozes conceito e origem histórica. .......................................................... 47 2 A História dos grupos de ouvidores de vozes, como tudo começou. ....................................... 48 E o que são os Grupos de Ouvidores de vozes? ............................................................................ 50 Como atuam os grupos: .............................................................................................................. 51 Pesquisa elaborada com o grupo de ouvidores de vozes pacientes/usuários de um hospital psiquiátrico do rio de janeiro ......................................................................................................... 52 O funcionamento e os resultados da experiência realizada com grupo de psicóticos ouvidores de vozes. ...................................................................................................................... 52 F20 Esquizofrenia ........................................................................................................................ 53 Características do grupo de ouvidores de vozes. ...................................................................... 54 Objetivos: ..................................................................................................................................... 54 Metodologia de Trabalho ............................................................................................................ 54 Dinâmica e resultados ................................................................................................................. 55 Resultados: ................................................................................................................................... 55 Referências ....................................................................................................................................... 56 Capítulo V – Ouvidores de vozes: estratégias, angústias, saídas e soluções. ....................................... 57 Resultados: ....................................................................................................................................... 59 Discussão .......................................................................................................................................... 63 Conclusão: ........................................................................................................................................ 68 Referências bibliográficas: ............................................................................................................. 68 Capítulo V – “quem manda sou eu”: estudo de caso de Fabiano ......................................................... 68 Estudo de caso de S. 2 anos, professor de Biologia. ...................................................................... 69 3 Introdução: Este livro trará duas experiências bastante singulares, de um lado, pessoas que são psicóticas e que conseguiram com uma tecnologia mais humana e muito menos invasiva diminuir ou até restringir a audição de vozes. E de outro, pessoas que ouvemvozes, mas que, no entanto, não tem diagnóstico psicótico. No primeiro capítulo será apresentado um panorama com a história da psiquiatria chamando a atenção para a forma como a medicina tratava as pessoas consideradas fora da “norma”, ou seja, os psicóticos. O segundo capítulo trará conceitos basais sobre a psicanálise e a psicose e abordará o caso Aimée, conduzido por Lacan, um caso sobre psicose. No terceiro capítulo, a psicose será abordada à luz dos manuais estatísticos de transtornos mentais, o DSM-V e o CID-10 por fim, como os manuais estatísticos de transtornos mentais abordam a psicose. O quarto capítulo será apresentada a História dos Grupos de Ouvidores de vozes e o funcionamento e os resultados da experiência realizada com grupo de psicóticos ouvidores de vozes. Esse grupo foi criado com pacientes/usuários frequentadores do centro psiquiátrico Rio de Janeiro que durante anos fizeram uso de medicações antipsicóticas e que, no entanto, não obtiveram pleno sucesso na 4 cessação de audição das vozes. Muitos desses pacientes têm histórico de longas internações psiquiátricas, de tratamentos violentos invasivos. Na experiência do grupo, pode se notar uma melhora significativa as audições. No quinto capítulo serão apresentados os resultados de uma pesquisa realizada com ouvidores de diagnóstico de psicose. A pesquisa foi realizada no ano de 2016 numa das regiões mais pobres do Rio de Janeiro, a Baixada Fluminense. Foram entrevistadas seis pessoas e caracterizamos com um estudo de caso. Nesse trabalho convidamos o leitor a conhecer mais de perto uma nova tecnologia de tratamento mais humana, menos invasiva e que permite que os próprios pacientes/usuários se beneficiem do tratamento no sentido de eles próprios se tornarem protagonistas de sua história e do cuidado sobre si. Ainda na temática de ouvidores de vozes não psicóticos optou-se no sexto capítulo por um detalhamento, por isso, um estudo de caso, de um sujeito que se dispôs a falar livremente sobre suas experiências com a audição de vozes. Considera-se este caso bastante rico, pois o sujeito expôs de maneira quase didática sua história e relação com as vozes. 5 Capítulo I – Do abandono ao tratamento, a relação da psiquiatria com a psicose. Tradicionalmente, considera-se a esquizofrenia, um rompimento com a realidade e o comprometimento do funcionamento psíquico, expresso através de delírios, alucinações (principalmente auditivas, ou seja, audição de vozes de comando), confusão mental, comprometimento da memória, da volição, da afetividade e do humor. Um dos critérios para o diagnóstico da psicose é um comprometimento importante do funcionamento familiar, pessoal e no trabalho. Um dos sintomas que traz mais desconforto aos pacientes esquizofrênicos é a alucinação auditiva (vozes de comando). De acordo com DALGALARONDO, (2008 apud Costa, 2017, p.32). As alucinações são definidas como: “Alucinações auditivas características – São vozes que comentam e ou comandam a ação do paciente. Exemplo: Luciana ouve vozes que lhe dizem para que ela tome banho, que fique acordada e para que pule na linha do trem e morra.” Nos esquizofrênicos, as audições de vozes produzem intenso desconforto e sofrimento para os sujeitos acometidos, são vozes imperativas e recorrentes. Para os sujeitos esquizofrênicos, lidar com as vozes é extremamente difícil sem o recurso das medicações. No entanto, de acordo com pesquisas realizadas em 1991, com uma amostra de 18, 572 pessoas, entre 10 e 15% dos sujeitos já haviam tido alguma experiência alucinatória, dos quais, 2,3 % ouviram vozes (BARROS; SERPA, 2014). A alucinação auditiva é um fenômeno relativamente comum, que em primeiro momento e de acordo com o saber médico tradicional, compromete a vida do indivíduo que a experiencia, de modo que se faz necessária uma intervenção 6 medicamentosa para que o sujeito possa ter uma vida não comprometida, através da supressão das vozes ouvidas. Todavia, há uma quantidade considerável de pessoas que apesar de ouvir vozes, possuem vidas relativamente normais, ou seja, trabalham, estudam, tem amigos próximos, e em muitos casos cônjuges Dentre os tratamentos mais conhecidos historicamente, destacam-se: o tratamento moral, a malarioterapia, a insulinaterapia, o choque cardiazólico, a eletroconvulsoterapia e a lobotomia. De acordo com (ZACARIAS, 2017) o tratamento moral foi um tratamento utilizado desde civilizações antigas como Grécia em que se lançava as pessoas em um penhasco na tentativa de fazê-las recobrar a lucidez. Ainda em sua pesquisa, mostra que (PEREIRA, 2002) explica que a alienação pode ser derivada da eclosão de uma tara que até então permanecera oculta, ou por surgimento de um problema orgânico, ou um danoso caldo de cultura e dos costumes viciosos, produzidos pela aglomeração urbana, sendo assim o fundamento do tratamento moral que (ZACARIAS, 2017) apresenta é que o paciente precisaria de uma ambiente socialmente saneado utilizava técnicas mais especificas como atividades físicas ao ar livre, a laborterapia (realização de trabalho como forma de tratamento, com a finalidade de ocupar a mente enferma com uma atividade digna e saudável) dando assim a possibilidade de usufruir algumas regalias, a repressão sexual, bons sentimentos e bons hábitos; ressaltando-se ainda a importância da firmeza serena do alienista e dos cuidados benevolentes dos enfermeiros. Também é usado como ferramenta no tratamento moral, o banho frio frontal, para diminuição do estado congestivo do cérebro. De acordo com (ZACARIAS, 2017), apesar de todo o empenho para que este tratamento obtivesse êxito, a história mostrou que os asilos que deveriam servir para o tratamento, ao longo do tempo transformaram-se em verdadeiros depósitos de loucos. 7 PEREIRA; RIGONATTI (2005; 2005, apud ZACARIAS, 2017), apontam que a malarioterapia foi um tratamento muito usado nos anos 30 do século XX. Este tratamento consistia na inoculação, usualmente intramuscular, da injeção de sangue contendo o plasmodiumvivax. Como os acessos febris se iniciam no décimo dia após a inoculação, as sessões eram feitas no intervalo de oito dias. Os picos febris não costumavam passar de 39º C, as intercorrências, mais graves desse tipo de tratamento são a instalação de um quadro maligno da malária, levando ao um processo de atrofia de nervo óptico que pode chegar à cegueira e ao aparecimento de uma psicose pós-malárica de difícil regressão, em virtude disto, AMARANTE (1994, apud ZACARIAS, 2017) mostra que após os primeiros 30 anos de psiquiatria no Brasil, esta forma de tratamento deu lugar a outros considerados mais eficazes, tais como o choque insulínico, o choque cardiazólico, eletroconvulsoterapia e lobotomias. A insulinoterapia foi bastante usada no Brasil, antes da reforma psiquiátrica. ZACARIAS, 2017, apoiando-se em PEREIRA, 2001, descreve a insulinoterapia como uma técnica que consistia na administração de doses crescentes de insulina, que objetivavam a diminuição do tônus muscular e posteriormente com o aumento das doses, conduzia os pacientes ao coma. Outra forma de tratamento que ZACARIAS, 2017, apresenta, é o choque cardiozólico, que assim como a insulinoterapia, também por objetivo no tratamento a diminuição das crises de esquizofrenia, mas que se conseguia em sua grande maioria era a indução de coma provocado pelo uso da medicação. PEREIRA (2001, apud ZACARIAS, 2017) “Dois anos após a utilização do choque cardiazólico no Hospital Central do Juqueri, em São Paulo, foram registrados um total de 2.000 comas provocados”. Em seguida, ZACARIAS, 2017, menciona a lobotomia, considerada nos meios psiquiátricos e psicológicos, como uma das formas de tratamento mais agressivos. Baseando-se em MASIERO (2003), ZACARIAS, 2017, afirma que a lobotomia8 consistia no desligamento dos lobos frontais direito e esquerdo do restante do encéfalo na tentativa de mudar o comportamento ou curar a equizofrenia. Esta forma de tratamento foi utilizada durante muitos anos, basicamente para o tratamento de esquizofrênicos. Atualmente, ela é utilizada, para tratamento de pacientes epiléticos de uma forma mais segura, científica e humana. Em 1935 foi usada pela primeira vez, a técnica criada pelo neurologista, Antônio Egas Moniz. A leucotomia foi a primeira técnica de psicocirurgia, ou seja, a utilização de manipulações orgânicas do cérebro para curar ou melhorar sintomas de uma patologia psiquiátrica (em contrapartida à neurocirurgia que se ocupa de doentes com patologia orgânica direta ou neurológica). Inicialmente foi usada para tratar depressão severa. Esta técnica foi desenvolvida para uso apenas em casos em que a paciente representasse um perigo para si ou para outras pessoas. Todavia, seu uso logo, se popularizou, chegando ao ponto de que em alguns países como EUA fosse usado de forma indiscriminada, o que levou diversos pacientes a danos neurológicos severos que comprometeram funções executivas, cognitivas, afetivas e sociais. A cirurgia consistia em perfurar o crânio do paciente com um objeto cirúrgico – o bisturi, com a intenção de atingir partes do cérebro responsáveis pelo que se considerava na época como uma alteração, fosse ela cognitiva, afetiva ou social. O primeiro psicofármaco neuroléptico utilizado foi o clorpromazina, no ano de 1952. A chegada deste medicamento e posteriormente de outros, fez com que progressivamente, ambulatórios e centros de cuidados mais humanos fossem ganhando espaço frente aos tradicionais abrigos e hospícios. Através do uso de medicamentos, pacientes psiquiátricos, principalmente os esquizofrênicos, passaram a ter uma alternativa à forma de tratamento ofertado em instituições totais, deste modo, muitos puderam retomar suas vidas, reaproximando-se do 9 convívio social, reafirmando laços com a comunidade e ocupando papeis sociais não marcados pelo estigma da loucura como outrora. Contudo, efeitos colaterais de natureza neuroendocrinológica e neuromotora, seja a priori ou posteriori começaram a se tornarem evidentes em alguns pacientes, a medida que o consumo se tornava mais difundido e acessíveis às pessoas, dada a comercialização de antidepressivos, ansiolíticos, hipnoindutores, estabilizadores do humor e novíssimos medicamentos utilizados nas Demências, em Transtornos Alimentares, Transtornos de Déficit de Atenção, etc. Assim, sendo, a indústria farmacêutica precisou aprimorar-se por meio de pesquisas, visando reduzir os efeitos indesejáveis e maximizar os efeitos esperados, como também em tecnologia de produção. A partir da década de 1980, surgiram novos fármacos sob esta lógica, tais como a a risperidona, amissulprida, olanzapina, quetiapina, ziprasidona e o aripiprazol, os chamados “atípicos de segunda geração”. Outra prática médica aplicada a pacientes esquizofrênicos foi a eletroconvulsoterapia, técnica definida por (SPOERRI, 2000, p. 127 apud ZACARIAS, 2017) como a aplicação de uma carga elétrica, com a finalidade de induzir artificialmente um ataque epiléptico. Em 2002, na III conferência de saúde mental, os participantes votaram pela extinção da eletroconvusoterapia no Brasil, devido as diversas mortes provocadas por este tratamento em associação com neurolépticos como destaca ZACARIAS, 2017, baseando-se em Sonenreich, 1999. Atualmente verifica-se nos grandes centros, Rio de Janeiro e São Paulo, o retorno da prática da eletroconvulsoterapia. Evidentemente, sob a luz de novos cuidados éticos e técnicos. Ao longo deste texto, verificou-se, diversas formas de tentativa 10 de controle e tratamento de transtornos mentais, agressivos e outros claramente violentos. A partir da década de 80 do século passado - XX, iniciou-se na Holanda uma forma de pensar o tratamento de pessoas que sofrem de alucinações auditivas de uma forma mais humana, e que implicasse na diminuição de meio mais invasivos como os já citados ou uso de medicamentos. Criou-se então o movimento dos grupos de ouvidores de vozes. Referências bibliográficas: BARROS, O. C.; SERPA JÚNIOR, O. D. de. Ouvir vozes: um estudo sobre a troca de experiências em ambiente virtual. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 18(50), 557-569, 2014. COSTA, R. A. Psicopatologia I. Rio de Janeiro: SESES – Estácio, 2017. ZACARIAS, Débora Monteiro. Esquizofrenia: história e tratamento. [38] f. Monografia (Especialização em Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas)- Brasília: Universidade de Brasília, 2015. 11 Capítulo II – alucinações auditivas para além da psicose A experiência de trabalhar com pessoas que ouvem vozes e que não são psicóticas, inicia-se com um grupo na Holanda que perceberam que ouvir vozes é muito mais comum e abrange uma população muito maior do que apenas os psicóticos. No Brasil esse trabalho ainda é muito insipiente, temos poucos grupos e trabalhos que tratam de ouvidores de vozes não psicóticos. Agora precisamos definir o que é a psicose. A psicose na psicanálise O termo Psicose é atualmente utilizado por diversos profissionais do campo da saúde e mesmo pelo senso comum (LINS, 2007). Muito embora este segundo, como é de se supor, muitas vezes aproprie-se do vocábulo para realizar associações nem sempre condizentes com os postulados dos campos PSI – Psiquiatria, Psicologia ou Psicanálise, e não raramente apresentam definições ou retratam aqueles acometidos por Psicose de maneira bastante equivocada, o que tende a criar representações sociais deveras díspares, para não dizer, equivocadas a cerca deste conceito. Embora seja um termo corrente em diversos meios, são os psicanalistas que o utilizam com maior regularidade (LINS, 2007), dado o fato de ser um dos postulados basais deste campo de conhecimento. O médico neurofisiologia a Austríaco, Sigmund Freud (1856 – 1939), considerado o ‘pai’ da Psicanálise, dedicou boa parte de sua vida a compreensão das motivações e do desenvolvimento humano. De acordo com ele, as ações humanas no mundo estão longe de ser puramente determinadas por uma volição consciente. 12 Para ilustrar o funcionamento da mente humana, Freud desenvolveu o que chamou de ‘1ª tópica’ da que veio a ser chamada de teoria topográfica. Como era médico, denominou a composição funcional da mente humana de ‘aparelho psíquico’, assim sendo, se equipararia ao esquema de funcionamento dos demais aparelhos do corpo humano – aparelho reprodutor, aparelho respiratório, circulatório, etc. Como aparelho, a psiquê era composta por estruturas ou instâncias, que ocupavam certo lugar na mente (LIMA, 2010). Estas instâncias foram denominadas: consciente, o pré-consciente e o inconsciente. A primeira delas – o consciente, diz respeito a consciência de tudo o que está imediato aos sentidos, ou seja, ao que está sendo apreendido pela atenção - voluntariamente ou captação sensorial – involuntariamente, em um presente momento. Em outras palavras, e a ligação que o mundo interno faz com o mundo externo. Dentre as três estruturas/ instâncias, está é a menor. A segunda estrutura – o pré-consciente, refere-se àquilo que embora não esteja ‘presente’ no dado momento, voluntária ou involuntariamente pelos receptores sensoriais, pode ser trazido à nível consciente através de esforço psíquico, como quando por exemplo, se quer recordar uma parte de alguma disciplina escolar, o rosto ou a voz de alguém. O pré-consciente, é também uma parte do inconsciente – que trataremos a seguir com maiores detalhes. Já a terceira estrutura, o Inconsciente, estrutura que Freud afirmou ser a maior e mais importante parte do aparelho psíquico. Ilustrativamente, se a mente humana é fosse um iceberg,o consciente seria a parte superior, ou seja, a parte visível, já o inconsciente, corresponderia a maior parte - a submersa (FREUD, 1987). É nesta terceira estrutura que assim como para Freud rendeu maior parte de sua atenção, que também será concentrada maior atenção neste capítulo, dada a relação íntima que possui com a Psicose. 13 O Inconsciente Freudiano De acordo com FREUD (1987 apud LIMA, 2007): “O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico. Segundo Freud, por herança genética, existem elementos instintivos ou pulsões, acrescidos das respectivas energias. No inconsciente estariam os elementos instintivos não acessíveis à consciência. Além disso, há também material que foi excluído da consciência pelos processos psíquicos de censura e repressão. Esse conteúdo “censurado” não é permitido ser lembrado, mas não é perdido, permanecendo no inconsciente. Para Freud, a maior parte do aparelho psíquico é inconsciente. Ali estão os principais determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica e as pulsões ou instintos1. Cabe aqui uma explicação sobre o que Freud denomina pulsões ou instintos. A pulsão consistiria numa espécie de energia psíquica que tende a levar o indivíduo à ação, para aliviar a tensão resultante do acúmulo de energia pulsional. Trata-se de um conceito fronteiriço entre o somático e o psíquico. Freud descreveu duas forças pulsionais opostas: a sexual (erótica ou fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Suas descrições encararam essas forças antagônicas, ou como mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte, respectivamente. Tal antagonismo não costuma ser visível ou consciente, e a maioria de nossos pensamentos e ações é evocada por essas duas forças instintivas em combinação. ” 14 Recalcamento e sintomas Freud teve um interesse especial em casos histeria – normalmente mulheres que apresentavam graves sintomas somáticos sem explicação orgânica, tais como paralisia, mudez, frigidez, etc. Alguns médicos contemporâneos a ele, dada a ausência de correspondentes orgânicos para os sintomas, afirmavam que estas mulheres, na verdade, poderiam fingir ter os sintomas que relatavam, a fim de ter alguma espécie de ganho secundário, tal como fugir as responsabilidades da vida, assim sendo, tratava-se de um problema de ordem moral, não orgânica (Fulgencio, L., 2002). Todavia, outros, como o Dr. Charcot, médico de origem francesa, utilizavam a hipnose nestas pacientes. Através da sugestão hipnótica, os sintomas eram suprimidos, levando-as deixar de sentir os efeitos das moléstias (FREUD, 1893). Interessado pela cura por sugestão hipnótica, Freud, juntamente com seu amigo e parceiro de pesquisas, o também médico Breuer, começou a empregar a hipnose em pacientes histéricas e com o tempo perceberam que durante o estado hipnótico, estas pacientes costumavam balbuciar palavras e frases carregadas de afeto, das quais não se lembravam quando fora do estado de transe. Logo após esta descarga afetiva, se tornavam livres dos sintomas. Juntos, começaram a especular que os sintomas histéricos poderiam ter relação com o conteúdo do que era dito, que supostamente, tratavam-se de experiências anteriores muito traumáticas, que por alguma razão eram afastadas da consciência, tornando-se desconhecidas pela pessoa, dado esse afastamento, que, todavia, eram responsáveis pelos sintomas histéricos (BREUER & FREUD, 1969). Diante desta prerrogativa, os dois médicos concluíram que por meio da hipnose, seria possível que o sujeito entrasse em contato novamente com o conteúdo traumático das experiências para que pudesse dar um novo sentido a representação 15 do trauma, reduzindo com isso a carga afetiva concentrada no corpo, para que então se visse livre dos sintomas histéricos (BREUER & FREUD, 1969). Apesar das experiências terem sido suprimidas da consciência, ocorre uma pressão interna para o retorno do afeto afastado. É como se o conteúdo retirado da consciência fosse amontoado com uma grande quantidade de força para caber em um espaço pequeno. Quando este conteúdo se encontra na profundidade que o mecanismo que exerce essa força, julga suficiente, a pujança inicial não é mais requerida, lentamente, então, uma parte do que foi prensado para caber, acaba retornando. Nesta analogia, o que retorna, não é o conteúdo completo, mas o afeto, ou seja, a carga emocional associada àquela vivência, que após a cisão do conteúdo, pode se deslocar para o corpo, resultando em sintomas histéricos; para uma ideia, formando as neuroses obsessivas; ou ficar ‘solta’, gerando as angústias (FREUD, 1915). Segunda tópica Freudiana Para melhor compreensão da Psicose na visão psicanalítica é necessário conhecer as três instâncias que compõem a segunda tópica Freudiana (Teoria Estrutural ou Dinâmica) - Id, ego e superego, bem como o complexo de castração e o complexo de Édipo. O Id, é a primeira instância psíquica a se formar no sujeito. É regido pelo princípio de prazer, assim sendo, busca conduzir o ego a satisfazer todo e qualquer desejo, inconsciente. “Contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento, acima de tudo os elementos instintivos que se originam da organização somática. Do ponto de vista “topográfico”, o inconsciente, como instância psíquica, virtualmente coincide com o id. Portanto, os conteúdos do id, 16 expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e inatos e, por outro lado, adquiridos e recalcados”. FREUD (1976 apud LIMA, A.P. 2010). O Ego é regido pelo princípio de realidade, é a segunda instância psíquica a ser formada na psiquê humana. Ele é responsável por adequar a necessidade do Id em obter prazer às possibilidades ambientais. Enquanto o Id ‘diz’, “eu quero”, o Ego buscará verificar se é possível realizar isto dentro das condições que o ambiente oferece, ou seja, o Ego: “desempenha a função de obter controle sobre as exigências das pulsões, decidindo se elas devem ou não ser satisfeitas, adiando essa satisfação para ocasiões e circunstâncias mais favoráveis ou reprimindo parcial ou inteiramente as excitações pulsionais [...] Assim, o ego atua como mediador entre o id e o mundo exterior. Como é parte consciente e inconsciente, cabe ao Ego também, a função de fazer a mediação entre o Id e o Superego – instância que será precedida por um discorrer de outros tópicos que facilitarão a elucidação do mesmo.” FREUD (1976 apud LIMA, A.P. 2010). Complexo de Édipo e neurose De acordo com a Psicanálise, a psicose está intimamente ligada resolução de uma etapa crucial, do desenvolvimento humano, a saber, a fase fálica. Este momento do desenvolvimento humano, ao qual Freud chamou de desenvolvimento 17 Psicossexual, é marcado pela concentração da libido nos órgãos genitais. É também nesta fase que a criança se dá conta das diferenças anatômicas entre os sexos: os percebem que as meninas não possuem pênis, e as meninas, por sua vez, que os meninos possuem pênis (FREUD, S., 1924). Ao longo dos aproximados 3 anos de duração desta fase, o menino, nutrirá um desejo sexual por sua mãe, enquanto a menina (por fim) por seu pai. Entretanto, além das diferenças anatômicas, meninos e meninas vivenciarão o complexo de Édipo de maneiras diferentes: o menino desejando sua mãe, rivalizará com o pai, por ela. Contudo, temendo ser castrado, ou seja, perder seu pênis (assim como acredita ter acontecido com todas as meninas, já que elas não possuem o órgão genital), ele aceita a autoridade da figura paterna, recalcando assim o desejo pela mãe (FREUD, S., 1924). É através da dissolução do complexo de Édipo que será formado o superego, sendo a figura do pai, o núcleo deste superego. Deste modo, seguindo para o próximo momento – o período de latência. Para asmeninas, o percurso ao período de latência geralmente ocorre da seguinte maneira: durante a estimulação imatura do clítoris, a infante direciona seu desejo sexual à figura materna, porém, ao se dar conta das diferenças sexuais, assim, percebe que sua mãe não poderá dar-lhe um pênis, pois ela também não possui, então, ela passa a nutrir hostilidade pela mãe, por tê-la feito sem um falo, então, dirige seu desejo sexual a seu pai, na esperança de comportar em seu canal genital, o tão desejado falo. Todavia, assim como ocorre com os meninos, a figura paterna se impõe, e a menina recalca o desejo sexual por seu pai, substituindo o desejo de ter um falo pelo desejo de ter um filho. Percebe-se que, os meninos ‘findam’ o complexo de Édipo pelo medo da castração, enquanto as meninas o iniciam após perceberem que são castradas (FREUD, S., 1932). 18 Se o superego se forma pela internalização da primeira regra centrada na figura do pai, é de se supor que o superego – última das três instâncias psíquicas, seja associado as normas, as tradições, e a ética. “O superego desenvolve-se a partir do ego, em um período que Freud designa como período de latência, situado entre a infância e o início da adolescência. Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social. O superego atua como um juiz ou um censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de ideais, funções do superego. Classicamente, o superego constitui-se por interiorização das exigências e das interdições parentais. Num primeiro momento, o superego é representado pela autoridade parental que molda o desenvolvimento infantil, alternando as provas de amor com as punições, geradoras de angústia. Num segundo tempo, quando a criança renuncia à satisfação edipiana, as proibições externas são internalizadas. Esse é o momento em que o superego vem substituir a instância parental por intermédio de uma identificação da criança com os pais. Freud salientou que o superego não se constrói segundo o modelo dos pais, mas segundo o que é constituído pelo superego deles. O superego estabelece a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. É o órgão psíquico da repressão, particularmente a repressão sexual.” FREUD (1976 apud LIMA, A.P. 2010). 19 Uma vez que o processo siga o curso do que foi descrito nos parágrafos anteriores, a composição psíquica do sujeito será predominantemente neurótica. Todavia, além da neurose, há também a perversão e a psicose. Cabe agora adentrarmos na compreensão de como se forma o predomínio da psicótica na visão psicanalítica de Freud. Neurose e Psicose: Enquanto no modelo de neurose, o Id tentará formas de encontrar satisfação através da ‘negociação’ com o Ego, ou seja, buscando maneiras socialmente aceitáveis para obter prazer, na psicose, o Id domina o Ego, então, ambiente interno e externo não possuem uma diferenciação muito clara, como destaca Hegenberg (2001 apud LINS, 2007) ao falar sobre pessoas psicóticas: “Profundas, centradas nelas mesmas, estabelecendo uma delicada relação com o ambiente porque esse ambiente pode ser fator de desorganização pessoal [...] têm um mundo interno rico, em função do id como instância dominante. A criatividade do tipo P é grande em função desse contato profundo com seu mundo interno, sendo que suas ideias próprias, que não precisam respeitar regras ou opiniões alheias, também se dão em função dessa riqueza do mundo interior. Enquanto o que caracteriza a neurose são os sintomas que advém dos afetos das representações recalcadas para o inconsciente, na Psicose, ocorre um conflito entre o Ego e o mundo externo, o sujeito cria uma nova realidade e ela é construída de acordo com os desejos do Id. (Laender, 2009). 20 Tanto na neurose quanto na Psicose, há uma relação de perda com a realidade, a diferença é que na neurose, uma parte dessa realidade é evitado por fuga – recalcamento. (Laender, 2009). Enquanto que na psicose: “o ego se afasta de um fragmento da realidade e tenta reconstruir uma nova realidade via delírio ou alucinação. O mecanismo de defesa utiliza a regressão narcísica, que desinveste o mundo externo e introjeta no ego uma parte da realidade que foi abandonada, e cujo retorno acontece no real. A nova realidade se adapta aos desejos do Id, mas o preço pago pelo ego é a perda da realidade atestada de maneira exemplar nos fenômenos delirantes e alucinatórios”. (LAENDER, 2009). Lacan e o Caso Aimée Jacques Marie Émile Lacan (1901- 1981), foi um psiquiatra e psicanalista francês que nasceu e cresceu na cidade de Paris, na França. Tornou-se conhecido por ter no primeiro momento buscado reconduzir a Psicanálise às origens freudianas e depois por ter avançado neste campo sem perder-se da base - caminho oposto ao que estava sendo seguindo por outros psicanalistas à época em que propôs o ‘retorno a Freud’ (PSICANALISELACANIANA, 2008). Considerando que Lacan viveu em um período de pelo menos cinco décadas após Freud lançar os postulados psicanalíticos, importantes avanços científico- filosóficos e técnicos – na lógica matemática e na própria linguística foram alcançados. Alicerçado por estes saberes que Freud não tinha disponíveis à sua época, Lacan buscou adequar a psicanálise à luz do Zeitgeist ao qual era contemporâneo, vigilante quanto a manutenção dos princípios basais freudianos (PSICANALISELACANIANA, 2008). 21 Em seu mestrado, Lacan debruçou-se sobre o estudo da Psicose, sua dissertação recebeu o título de: ‘da psicose paranoica’. Fica patente que Lacan tinha além do interesse a priori pela retomada da estrutura epistemológica psicanalítica e a posteriori da ‘evolução’ da mesma, uma especial curiosidade quanto a psicose. Embora tenha estudado diversos casos relacionados, um dos casos mais emblemático e selecionados para melhor compreender a psicose foi o estudo que realizou do caso da paciente “Aimée”. Aimée, é o nome fictício que Lacan fazia uso para se referir ao caso da paciente que atendeu, tratava-se de uma mulher que apresentava sintomas paranoides com manias de perseguição, sintomas depressivos e agressividade. Lacan acompanhou e estudou o caso durante um ano e meio. E é com base neste trabalho que Lacan constrói a tese segundo a qual a natureza da cura demonstraria a natureza da doença. Deve-se pontuar que o termo "cura" é utilizado no seu valor clínico de redução de todos os sintomas mórbidos. Dessa forma, o fato de a paciente, cerca de vinte dias após ter cometido um atentado contra a atriz Huguette ex-Duflos, não apresentar nenhum delírio focaliza a problemática do estudo. A agressão deferida por Aimée provoca um ferimento na mão da atriz e Aimée não demonstra nenhuma satisfação pela melhora da sua vítima. (FERNANDES, 2001) O atentado ocorreu quando, em uma noite, Marguerite Pantaine (seu verdadeiro nome), decide ir ao Teatro onde havia se apresentado a atriz muito famosa dos anos trinta, e então, Aimée fere Huguette ex-Duflos com uma navalha. Deste modo, Aimée foi presa durante um período e depois encaminhada para a internação do Hospital Saint-Annee onde Lacan, ainda um jovem médico psiquiatra fez seu estágio. Lacan então, utilizou esse estudo para sua tese de doutorado em psiquiatria, cujo tema foi “Da Psicose Paranóica em suas Relações com a Personalidade”. Nesse momento, influenciado pelo surrealismo, Lacan recusa o organicismo vigente na época para a compreensão da loucura. (CALEGARI,2017) 22 Aimée, casada com René Anzieu, funcionária pública, em 1921, dá a luz uma menina que nasce morta. Com muitos delírios de perseguição, Aimée acredita que uma amiga foi a grande culpada pela morte de sua filha. Esta amiga, depois de um longo período sem dar notícias, sabendoque Aimée teve criança, telefona buscando retomar o contato. Logo, é em torno desta amiga que um primeiro perseguidor solidifica. O ódio contra a Senhorita C. de la N. acontece, de acordo com Lacan, quando Aimée fracassa no seu desejo de ser mãe. Para ele, neste momento, Aimée perde por completo suas esperanças de realizar seu "destino de mulher", uma vez que ela já havia demonstrado dificuldades para as atividades domésticas e agora não poderia ser mãe. Pouco tempo depois, Aimée fica novamente grávida, mas desta vez de um menino, ela permanece com os mesmos sintomas, apresentando um quadro depressivo e melancólico que, segundo Aimée era censurado por seu marido. Desta vez, ela dedica-se ao menino durante os primeiros cinco meses, pois acredita que todos ameaçam seu filho. (FERNANDES, 2001) Como desde muito cedo sonhava em ser uma escritora e romancista, tendo inclusive produzido alguns textos os quais nunca conseguiu publicá-los. (CALEGARI,2017) Aimée entrega seu filho aos cuidados de sua irmã mais velha, que é viúva. Esta vem morar na casa de Aimée para auxiliá-la nas atividades domésticas, que ela executa com dificuldade (FERNANDES, 2001). A partir daí, Lacan formula uma descrição das perseguidoras como explica a seguinte: "Não é, com efeito, dos elogios e da autoridade que lhe são conferidos pelos que a cercam que sua irmã vai tirar sua principal força contra Aimée, é da própria consciência de Aimée. Aimée reconhecia por seu valor as qualidades, as virtudes, os esforços de sua irmã. Ela é dominada por ela, que lhe representa sob um certo 23 ângulo a imagem mesma do ser que ela é impotente para realizar." (LACAN, 1932/1987, p. 231) Apresentada a frustração de seus textos nunca serem aceitos para a publicação, surge aí a erotomania que é um dos sintomas da paranoia, e se caracteriza pelo seguinte traço: o sujeito acredita que alguém (em geral famoso, ou muito conhecido) o ama, ainda que não conheça de fato essa pessoa. Aimée apresenta, assim, um amor platônico pelo príncipe de Gales. Ao aproximar-se o momento do ataque de Aimée à atriz Huguette ex-Duflos, fica mais evidente o tema da erotomania por ela apresentado. Este teria por objeto o príncipe e, referente a ele, seus delírios seriam muito mais precisos. (DICKEL, 2011) Um poema dirigido ao príncipe de Gales foi retirado de um caderno no qual Aimée escrevia todo dia. Um de seus trechos: “Que su Alteza me permita Decirle cuanto le digo Me preocupa lo indecible La perfidia de esas bestias Cuando las águilas vuelen Por sobre la Cordillera Los Windsor se medirán Con los Grandes de la Tierra.” LACAN, J. 1932, p.153 Posto isto, Aimée estando internada sob cuidados do jovem psiquiatra, conta as suas histórias através de várias entrevistas confiando a Lacan, suas cartas e escritos. Assim, em 1932 Lacan publica sua tese de psiquiatria, o famoso caso 24 Aimée, caso sobre paranóia feminina, nesse estudo buscando explicação para o caso, não na Psiquiatria e sim nos conceitos Freudianos, também cria o conceito de “paranoia de autopunição”. Constata-se assim que, apesar de não realizar uma psicanálise neste caso, Lacan através da sua escuta pôde demarcar escansões na fala de Aimée que lhe revelaram o tema central do delírio. De fato, a escuta de Lacan, neste caso, aponta para a necessidade de respeitar o preceito freudiano de que no inconsciente não há contradição ou negação (FREUD, 1915b/1969). Referências CALEGARI, M. LACAN e o caso Aimée. 2017. Recuperado em 11 de março de 2018, de http://blogdamariCALEGARI.com.br/2017/02/02/lacan-e-o-caso- aimee/ CAMILA, M. [Maria Camila]. Caso Aimée. Youtube. 25 Out. 2016. Disponível https://www.youtube.com/watch?v=ZoW7NjKu_2A. Acesso em: 22 mar. 2018 DICKEL, D. C. A Paranóia em um caso clínico: O caso Aimée. 2011. Recuperado em 11 de março de 2018, de https://www.ufrgs.br/psicopatologia/wiki/index.php?title=A_paran%C3%B3ia_ em_um_caso_cl%C3%ADnico:_O_caso_Aim%C3%A9e FERNANDES, A. H. O caso Aimée e a causalidade psíquica. 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Debates a cerca de uma possível fronteira parecem evidenciar a ausência de uma conclusão axiomática acerca do tema. Para alguns autores, como CANGUILHEM (P. 65, 2010), afirmam que dizer o que é normal ou o que não é normal em termos quantitativos, pode ser apenas uma forma de legitimar determinadas maneiras de ser e existir como sendo melhores que outras, deixando-se de levar em conta as diversas maneiras de sê-lo. Mas o que é a saúde então? Saúde é mais que não estar doente, ser saudável é estar adaptado as exigênciase demandas do meio em que se faz parte. Neste sentido, pode-se pensar que na verdade, o processo de saúde e doença está muito vinculado a como a sociedade da qual o sujeito faz parte. Já que a adaptação é facilitada ou dificultada de acordo com a maneira como ela encontra-se aberta a lidar, tolerar ou criar dispositivos para facilitar a vida daquele que é diferente de uma maioria (CANGUILHEM, P.188, 2010). Assim posto, CANGUILHEM (P. 189, 2010), estabelece critérios para diferenciar o que é normal e o que é patológico: 1. Normalidade como ausência de doença: a ausência de sintomas, sinais ou de doenças é sinônimo de saúde. 2. Normalidade ideal: estabelece-se uma norma ideal do que, supostamente, é um sujeito sadio. 3. Normalidade estatística: o normal é aquilo que se observa com mais frequência. 4. Normalidade como bem-estar. 28 5. Normalidade subjetiva: o que prevalece aqui é como o sujeito se percebe em relação ao seu estado de saúde. Já de acordo com a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, o conceito de saúde, desde 1946, vai além da patologia. Neste viés, ser saudável é encontrar-se em estado de bem-estar biopsicossocial. Necessidade dos manuais A fim facilitar a vida dos profissionais de saúde por meio de uma nomenclatura comum aos transtornos, foram criados os manuais, tais como o CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde e o DMS - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Atualmente o CID encontra-se em sua décima edição enquanto o DSM na quinta, sendo respectivamente chamados: CID-10 e DSM-V. Síndrome e transtornos As síndromes são definidas (DALGALARRONDO, 2008), como um conjunto de sinais e sintomas que acometem as pessoas em algum momento da vida. Além disto, este mesmo autor afirma que há um conjunto de sinais, sintomas e mesmo síndromes comuns em diversos transtornos. DALGALARRONDO (2008, p. 304- 389). Já o transtorno mental é entendido como: “[...] uma Síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. 29 Transtornos Mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes. Uma resposta esperada ou aprovada culturalmente a um estressor ou perda comum, como a morte de um ente querido, não constitui transtorno mental. Desvios sociais de comportamento (por exemplo, de natureza política, religiosa ou sexual) e conflitos que são basicamente referentes ao indivíduo e à sociedade não são transtornos mentais a menos que o desvio ou conflito seja o resultado de uma disfunção no indivíduo, conforme descrito” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p.20) Conclui-se que o que diferencia um transtorno de síndrome é o sofrimento psíquico significativo para a pessoa, assim como a incapacitação que aquela síndrome gera nas atividades diárias das pessoas, o que inclui relacionamentos com amigos, parentes, familiares, desempenho no trabalho, nos estudos, etc. (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013) Síndromes psicóticas De acordo com (DALGALARRONDO, 2008, apud Costa, 2017, p.144) As síndromes psicóticas são definidas como: 1. Percepção delirante – Uma percepção absolutamente normal recebe uma significação delirante, que ocorre de modo simultâneo ao ato perceptivo. Exemplo: a turma da professora Anna resolve oferecer uma festinha de aniversário para ela. Organizam a “mesa do parabéns” colocando 30 guardanapos, copos para os refrigerantes e a faca para cortar o bolo. Quando a professora entra na sala, onde está sendo preparada a festa, ela subitamente tem uma espécie de revelação e passa a acreditar que a faca está ali para feri-la, para matá-la. 2. Alucinações auditivas características – São vozes que comentam e ou comandam a ação do paciente. Exemplo: Luciana ouve vozes que lhe dizem para que ela tome banho, que fique acordada e para que pule na linha do trem e morra. 3. Eco do pensamento ou sonorização do pensamento – O paciente escuta seus pensamentos ao pensá-los. Exemplo: Jorge reclama que antes de pensar ouve os seus pensamentos. 4. Roubo do pensamento – O paciente tem certeza de que seu pensamento foi inexplicavelmente roubado. Exemplo: Jorge, durante a entrevista inicial, começa contando sua história, mas para inesperadamente. Quando indagado por que parou de relatá-la, ele conta que o seu pensamento foi roubado, ficando sem poder continuar a história. 5. Vivências de influência corporal ou ideativa a) vivências de influência: são experiências onde o paciente sente que uma força externa age sobre o seu corpo ou seus órgãos, emitindo raios, influenciando suas funções corporais. Exemplo: Jorge acredita que existem raios emanados das torres celulares que controlam seu intestino impedindo que ele consiga evacuar com a frequência necessária. b) vivências de influência sobre o pensamento: refere-se à experiência de que algo influencie seus pensamentos. O paciente recebe pensamentos impostos de fora, pensamentos postos em seus cérebros. Exemplo: Tiago acredita que não 31 consegue pensar mais nada. Tudo o que aparece em sua mente é mandado de fora. Acredita que sua mãe vendeu sua alma e agora tudo o que ele pensa vem da parte da pessoa que comprou sua alma. Ainda de acordo com DALGALARRONDO (p. 328, 2008) os sintomas que compõem a síndrome psicótica, se dividem em: sintomas de primeira ordem, e sintomas de segunda ordem. Os de primeira ordem são mais graves, e dizem respeito a ‘inundação’ do mundo externo ao interno. O sujeito não consegue dissociar o mundo externo do mundo interno. Por exemplo: O sujeito o sujeito atribui a outras pessoas, ‘forças’ ou objetos pensamentos seus e vice-versa. Já os sintomas de segunda ordem, embora menos importantes no diagnóstico da esquizofrenia, geram sofrimento ao sujeito e incluem: “perplexidade, alterações da sensopercepção (excluindo aqueles de primeira ordem), vivências de influência no campo dos sentimentos, impulsos ou vontade, empobrecimento afetivo, intuição delirante e alterações do ânimo de colorido depressivo maniatiforme.” (COSTA, P.144, 2017). As psicopatologias também apresentam sintomas positivos e negativos que formam síndromes positivas ou negativas, as formas de psicose, são diferentes. Síndromes negativas, trazem ao sujeito psicótico, prejuízos em seu funcionamento social, há suas capacidades cognitivas, a seu pensamento, linguagem, volição e afetivamente (DALGALARRONDO, P. 328, 2008). Estes sintomas/ síndromes podem se manifestar das seguintes maneiras: 1: Distanciamento social: O sujeito perde a vontade de interagir afetivamente com as pessoas. Este, assim como os demais comprometimentos, manifesta-se em maior ou menor quantidade, podendo crescer ou diminuir com o tempo/ tratamento. 32 2: Retração social: significa a pouca vontade/ disposição do sujeito para socializar com as demais pessoas. Há que se levar em conta a disposição do sujeito antes das características psicóticas os afetarem. Pode-se dizer que a retração social ocorre quando o sujeito por causa da patologia tem estreitada sua vontade de interagir com as demais pessoas. 3: Empobrecimento da linguagem e do pensamento, e diminuição da fluência verbal: A pessoa tende a falar menos e com menor qualidade, já que seu pensamento se torna empobrecido, então, a construção de frases, bem como a articulação delas de modo fluído se tornam degradadas também. 4: Diminuição da vontade (volição reduzida) e hipopragmatismo: Ocorre uma redução da vontade de iniciar atividades que outrora o sujeitocostumava fazer com certo grau de entusiasmo. Além disso, tende a ocorrer uma demora para finalizar tarefas cotidianas. 5: Negligência quanto a si mesmo: O sujeito demonstra pouca preocupação consigo mesmo, podendo deixar de realizar práticas de higiene, alimentação, estética, etc. Em alguns casos estes cuidados ocorrem apenas com intervenção de terceiros. 6: Lentifcação e empobrecimento psicomotor: a pessoa passa a ter não apenas os movimentos menos finos e coordenados como também, perde-se uma agilidade para responder as demandas externas que exigem dele prontidão. Síndromes positivas 33 Dizem respeito a novas manifestações, ao contrário dos sintomas e síndromes negativas que reduzem capacidades anteriores, neste tipo de sintoma/ síndrome, ocorrem adições produtivas no sujeito, tais como: 1: Alucinações: tratam-se de percepções ilusórias ou pseudoilusórias de natureza visual ou auditiva (mais prevalentes). Por exemplo: o sujeito ouve vozes da porta de sua casa. 2: Ideias delirantes: sujeitos que possuam ideias delirantes acreditam piamente que as coisas ao seu redor parecem ocorrer centradas nele, geralmente vinculado a conspirações de pessoas, entidades ou organizações contra ele, embora o conteúdo possa variar enormemente, baseado na história de vida do sujeito. 3: Comportamentos bizarros: pessoas que passem a apresentar estes comportamentos executam ações muito atípicas para seu meio social, por exemplo, usar a copa de abajur em sua cabeça como um chapéu. 4: Agitação Psicomotora: trata-se da realização de movimentos bruscos, ou da fala contínua, prolixa ou exageradamente rápida apresentada pelas pessoas. Esta agitação pode levar as pessoas a andar demasiadamente mesmo que de um lugar para outras repetidas vezes sem aparente sentido para seu grupo social. 5: Ideias bizarras: são ideias nas quais o sujeito acredita firmemente – não necessariamente delirantes. Por exemplo, acreditar que ao mastigar lentamente uma maçã, faz com que as pessoas ao redor se tornem mais felizes. 6: Neologismos: pessoas com esse sintoma positivo, costumam criar novas palavras e em diversos momentos surpreender-se que a pessoa com quem fala não conheça o termo em questão. Exemplo: “provacível”, “equitaforostice”, 34 “bartracizarquizar” – palavras inexistentes em dicionários ou conhecidas por outros falantes do idioma no qual o sujeito se expressa. Síndrome psicótica desorganizada Também conhecida como esquizofrenia hebefrênica, DALGARRONDO (2008, p331): 1: Pensamento que ruma para uma desorganização cada vez mais acentuada, partindo de falhas leves de associação até pensamento não compreensíveis; 2: Comportamentos desorganizados: Marcados por inadequação de comportamentos sexuais e sociais. Uso de roupas bizarras que ornam com uma aparência bizarra, além disso, há também agitação psicomotora. 3: Afeto inadequado: caracterizado por um desalinhamento entre os afetos, ideias e vontade. 4: Afeto pueril: os afetos se dão de maneira que destoa com a maneira como os adultos os expressam. Espectro da esquizofrenia Por espectro pode-se compreender as diversas formas de manifestação do mesmo transtorno, podendo compor um gradiente quantitativo de comprometimento ou qualitativo, como ocorre no espectro autista por exemplo. Estão inclusos no espectro da esquizofrenia, a própria esquizofrenia, transtornos psicóticos, assim como transtorno de personalidade esquizotípica (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p.87). Os domínios prejudicados, ou seja, com funcionamento anormal neste domínio incluem: alucinações, comportamento motor desorganizado, sintomas negativos, delírios e pensamento desorganizado. 35 A despeito de evidências que se chocam com a crença do sujeito delirante, estas são irrevogáveis para aquele que delira, e podem mesmo enrijecer a crença no próprio delírio. A maneira como os delírios podem se manifestar não é única, dentre os delírios mais comuns incluem-se: 1: Delírios somáticos: quando o sujeito acredita que há algo de errado com seus corpos, tais como doenças, organismos alienígenas, etc. 2: Delírios de referência: quando para o sujeito eventos ambientais parecem endereçar-se à ele (apesar de não fazer sentido para os demais, dada a ausência de evidência); 3: Delírios persecutórios: os sujeitos afligidos por este tipo de delírio acreditam que pessoas, organizações, objetos ou outros seres estão tramando contra sua integridade física, deste modo, o mundo parece um lugar mais perigoso que de fato é. 4: Delírios de grandeza: delírios desta natureza são caracterizados pela crença do sujeito de que ele possui características, status, dinheiro, etc. Que o tornam superior aos demais seres humanos. Podendo leva-la a acreditar, por exemplo, a crer que é um deus, ou que tem superpoderes. 5: delírio erotomaníaco: quando o sujeito crê que uma outra pessoa está apaixonada por ele, chegando até mesmo a crer que ocorre um romance entre eles. Delírios desta natureza podem levar a pessoa delirante a espionar, enviar flores, tentar destruir (literalmente ou não) pessoas que se interponham no caminho de seu relacionamento ilusório. 6: delírios niilistas: quando o sujeito acredita que uma catástrofe ocorrerá. 36 Delírios podem ser relativamente lógicos, aos quais se denomina delírios não- bizarros, e delírios absurdos – denominados delírios bizarros. Acreditar que ao cair de uma escada e se desenvolveu um câncer que irá mata-lo em poucos meses é uma forma de delírio não-bizarro, mas crer que este mesmo tombo ocorreu porque seres invisíveis psicocinéticos lhe empurraram da escada apenas para que a queda pudesse despertar nele uma doença contagiosa que mataria os pecadores, é uma forma de delírio bizarro. De acordo com o DSM-V e o CID-10, há diversos tipos de transtornos esquizofrênicos, a seguir exploremos alguns deles, à luz destes dois manuais: Transtorno psicótico breve: 298.8 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013); ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (1993, p.97) F23. Este tipo de transtorno é caracterizado pela volatilidade de afetos e pelas confusões experienciadas pelos sujeitos em um relativamente curto período. Há que se levar em consideração que, apesar da curta duração temporal, os danos gerados por este transtorno podem causar prejuízos e sofrimento intenso. Pode-se perder a autonomia, para alimentar-se, vestir-se, ter cuidados com a higiene pessoal e saúde ou mesmo levar a pessoa a suicidar-se. Em muitos casos o desempenho das atividades diárias básicas demanda o auxílio de terceiros enquanto este transtorno está em curso. Critérios diagnósticos: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p.94) 37 Para que seja considerado acometido por este transtorno é necessário que o sujeito apresente um dos seguintes sintomas psicóticos positivos: comportamento psicomotor muito anormal, delírios, discurso desorganizado e alucinações. O aparecimento deste transtorno é súbito e ocorrem normalmente sem a presença de prelúdio que anunciasse sua chegada, em duas semanas. Duram entre um dia e menos de um mês. Findado o tempo do transtorno, a pessoa retorna ao estado anterior ao quadro psicótico. Curso do transtorno: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p.94). Embora este transtorno possa ocorrer em qualquer fase da vida, geralmente ocorre na adolescência ou em adultos jovens. Sendo os trinta anos de idade a média na qual o transtorno costuma ocorrer. Como é um transtorno de curta duração, para um diagnóstico correto ou diferencial, é necessário que os sintomas psicóticos estejam completamente remissos por pelo menos um mês. Transtorno delirante: 297 .1 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p.90); F.22 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993, p.95). Os comprometimentos trazidospor este transtorno ocorrem nas esferas: social, conjugal ou profissionais. Humor irritável ou mesmo disfórico podem se apresentar em reação às crenças delirantes do sujeito. Comportamentos violentos ou raivosos podem ocorrer em delírios do tipo erotomaníaco, ciumento e persecutório. Tais comportamentos podem levar o sujeito a ter problemas com a lei. 38 Critérios diagnósticos: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p.90) Caracteriza-se por pelo menos um mês de delírios, ainda que nenhum outro sintoma psicótico esteja presente. A. A presença de um delírio (ou mais) com duração de um mês ou mais. B. O Critério A para esquizofrenia jamais foi atendido. C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de seus desdobramentos, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é claramente bizarro ou esquisito. D. Se episódios maníacos ou depressivos ocorreram, eles foram breves em comparação com a duração dos períodos delirantes. E. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a alguma outra condição médica, não sendo mais bem explicada por outro transtorno mental, como transtorno dismórfico corporal ou transtorno obsessivo- compulsivo. Subtipos Tipo grandioso: aplica-se quando o tema central do delírio é a convicção de ter algum grande talento (embora não reconhecido), um insight ou feito uma descoberta importante. Menos comum, a pessoa pode ter o delírio de manter uma relação especial com alguém renomado ou de ser uma pessoa famosa (caso em que o indivíduo verdadeiro pode ser visto como impostor). Delírios grandiosos podem ter conteúdo religioso. Tipo ciumento: aplica-se quando o tema central do delírio do indivíduo é o de que o cônjuge ou parceiro é infiel. Essa crença é injustificada e se baseia em 39 inferências incorretas apoiadas por pequenas "evidências" (ex.: acreditar que o fato do cônjuge estar com cabelos despenteados, é evidência de que pouco antes, o mesmo estava fazendo sexo com outra pessoa); A pessoa com o delírio costuma confrontar o cônjuge ou o parceiro e tenta intervir na infidelidade imaginada. Tipo persecutório: aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de que o próprio indivíduo está sendo vítima de conspiração, enganado, espionado, perseguido, envenenado ou drogado, difamado maliciosamente, assediado ou obstruído na busca de objetivos de longo prazo. Pequenas descortesias podem ser exageradas, tornando-se foco de um sistema delirante. O indivíduo afetado pode se envolver em tentativas repetidas de conseguir satisfação por alguma ação legal ou legislativa. Pessoas com delírios persecutórios costumam ser ressentidas e enraivecidas, podendo até recorrer à violência contra aqueles que, em sua opinião, lhe causam danos. Tipo somático: aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais. Podem ocorrer delírios somáticos de várias formas. Mais comum é a crença de que a pessoa emite odor desagradável, de existir uma infestação de insetos na pele ou sob ela, de haver um parasita interno, de que certas partes do corpo estão deformadas ou feias ou de que essas partes não estão funcionando. Tipo misto: aplica-se quando não há um tema delirante predominante. Tipo não especificado: aplica-se quando a crença delirante dominante não pode ser determinada com clareza ou não está descrita nos tipos específicos (p. ex.: delírios referenciais sem um componente persecutório ou grandioso proeminente). 40 Pode apresentar conteúdo bizarro, isto é, quando os delírios são claramente implausíveis, incompreensíveis e não originados de experiências comuns da vida (ex.: o sujeito pode acreditar que seus olhos foram trocados pelos olhos de outra pessoa, sem que ele percebesse, pois estava dormindo). Curso do transtorno (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p.91). Este transtorno tem início na vida adulta, e uma parte não desprezível das pessoas acaba evoluindo o quadro para esquizofrenia. Esquizofrenia: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p. 99, 2013); F.20.0 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, p. 88, 1993). A exibição de afetos em pessoas com esquizofrenia pode se manifestar de formas inadequadas, de modo que diante de ausência de qualquer estímulo ou diante de estímulos até mesmo destoantes, poderia por exemplo chorar, rir, etc.; podem apresentar padrões de sono alterados; humor disfórico; avolia para alimentar-se ou mesmo recusar comida mesmo que auxiliado por outra pessoa. Despersonalização, desrealização e preocupações somáticas podem ocorrer e por vezes atingem proporções delirantes. Ansiedade e fobias são comuns. Déficits cognitivos na esquizofrenia são comuns e fortemente associados a prejuízos profissionais e funcionais. Esses déficits podem incluir diminuições na memória declarativa, na memória de trabalho, na função da linguagem e em outras funções executivas, bem como velocidade de processamento mais lenta. Anormalidades no processamento sensorial e na capacidade inibitória, bem como redução na atenção, são também encontradas. Alguns indivíduos com esquizofrenia mostram déficits na cognição social, incluindo déficits na capacidade de inferir as intenções dos outros (teoria da mente), podendo atender 41 a eventos ou estímulos irrelevantes e depois interpretá-los como significativos, talvez levando à geração de delírios explanatórios. Esses prejuízos costumam persistir durante a remissão dos sintomas. Alguns indivíduos com psicose podem carecer de insight ou consciência de seu transtorno. Isso inclui não perceber os sintomas de esquizofrenia, podendo estar presente em todo o curso da doença. Não perceber a doença costuma ser um sintoma da própria esquizofrenia em vez de uma estratégia de enfrentamento. É comparável à falta de percepção de déficits neurológicos após dano cerebral, chamada de anosognosia. Esse sintoma é o mais comum preditor de não adesão ao tratamento e prevê elevadas taxas de recaída, aumento no número de tratamentos involuntários, funcionamento psicossocial mais pobre, agressão e um curso mais pobre da doença. Hostilidade e agressão podem estar associadas à esquizofrenia, embora agressão espontânea ou aleatória não seja comum. A agressão é mais frequente em indivíduos do sexo masculino, nos mais jovens e em pessoas com histórico de violência, não adesão ao tratamento, abuso de substâncias e impulsividade. Deve- se observar que a grande maioria das pessoas com esquizofrenia não é agressiva, sendo, com mais frequência, mais vitimada que aquelas na população em geral. Atualmente, não há exames laboratoriais, radiológicos ou testes psicométricos para o transtorno. Critérios diagnósticos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p.99 2013). Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3): 42 1. Delírios; 2. Alucinações; 3. Discurso desorganizado; 4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico; 5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia). Por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas importantes do funcionamento, como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional). Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse período deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfazer o Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e podeincluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma forma atenuada (p. ex.: crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns). Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas são descartados porque: 1) não ocorreram episódios depressivos maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas da fase ativa, ou 2) se episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, com duração total breve em relação aos períodos ativo e residual da doença. 43 A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p.ex.: droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Os sintomas característicos da esquizofrenia envolvem uma gama de disfunções cognitivas, comportamentais e emocionais, mas nenhum sintoma é patognomônico do transtorno. O diagnóstico envolve o reconhecimento de um conjunto de sinais e sintomas associados a um funcionamento profissional ou social prejudicado. Indivíduos com o transtorno apresentarão variações substanciais na maior parte das características, uma vez que a esquizofrenia é uma síndrome clínica heterogênea. Curso (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013, p. 102) As características psicóticas da esquizofrenia costumam surgir entre o fim da adolescência e meados dos 30 anos; início antes da adolescência é raro. A idade de pico do início do primeiro episódio psicótico se dá entre o início e a metade da faixa dos 20 anos para o sexo masculino e fim dos 20 anos para o feminino. O início pode ser abrupto ou insidioso, mas a maioria dos indivíduos manifesta um desenvolvimento lento e gradativo de uma variedade de sinais e sintomas clinicamente importantes. Transtorno esquizoafetivo: (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p. 104, 2013); F.25 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, p. 104, 1993). 44 Caracterizado por ter sintomas que afetam o humor, assim sendo, deve haver simultaneamente sintomas psicóticos e sintomas referentes ao humor. Caso os sintomas indiquem transtorno esquizoafetivo, mas o sujeito apresente apenas sintomas psicóticos residuais, o diagnóstico pode ser alterado para esquizofrenia, dada a maior ênfase manifesta dos sintomas psicóticos, que é característica mais marcante desta, no lugar do transtorno esquizoafetivo. O transtorno esquizoafetivo pode ser bipolar (mais comum em adultos mais jovens) ou depressivo (mais comum em adultos mais velhos). Diferentemente da esquizofrenia, este transtorno pode prejudicar o desempenho profissional, todavia não é regra definidora. Prejuízos sociais, de autocuidados e de higiene estão associados, ao transtorno, todavia, se comparados aos danos nas mesmas esferas, produzidos pela esquizofrenia, são geralmente menores, assim como os prejuízos na capacidade de insights. Além dos comprometimentos do transtorno em si, ele tende a aumentar o risco dos sujeitos por ele acometidos a desenvolver transtorno afetivo bipolar ou transtorno depressivo maior caso os sintomas de humor permanecerem após o período de remissão dos sintomas do critério A para esquizofrenia. Pode haver transtornos associados ao álcool ou relacionados a outras substâncias. Trata-se de um transtorno de difícil diagnóstico, dada a ausência de testes ou medidas de cunho biológico para auxiliar neste diagnóstico. Além disto, se comparado a esquizofrenia, não há clareza se há diferença nas estruturas cerebrais comprometidas, comprometimentos funcionais, fatores de risco genético ou se há déficit cognitivo. Critérios diagnósticos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p. 105, 2013) O diagnóstico de transtorno esquizoafetivo baseia-se em uma avaliação de um período ininterrupto da doença durante o qual o indivíduo continua a exibir 45 sintomas ativos ou residuais da doença psicótica. Embora não necessariamente, o diagnóstico costuma ser feito durante o período da doença psicótica. A. Um período ininterrupto de doença durante o qual há um episódio depressivo maior ou maníaco concomitante com o Critério A da esquizofrenia. B. Delírios ou alucinações por duas semanas ou mais na ausência de episódio depressivo maior ou maníaco durante a duração da doença ao longo da vida. C. Os sintomas que satisfazem os critérios para um episódio de humor estão presentes na maior parte da duração total das fases ativa e residual da doença. Curso (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, p.106, 2013). A idade habitual de início do transtorno esquizoafetivo é o começo da fase adulta, embora possa ocorrer a qualquer momento da adolescência até mais adiante na vida. Uma quantidade significativa de sujeitos diagnosticados com outra doença psicótica inicialmente receberá diagnóstico de transtorno esquizoafetivo mais tarde, quando o padrão dos episódios de humor tornar-se mais aparente. Com a presença atual do Critério diagnóstico C, espera-se que o diagnóstico para alguns indivíduos se converta de transtorno esquizoafetivo em outro transtorno, conforme os sintomas de humor também se tornem menos proeminentes. O prognóstico para transtorno esquizoafetivo é um pouco melhor do que para esquizofrenia, porém pior que aquele para transtornos do humor. Referências: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition. Arlington, VA, AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013. 46 BREUER, J.; FREUD, S. Estudos sobre a histeria. In Obras Completas (vol. II), Rio de Janeiro: Imago, 1969. CANGUILHEM, G. O normal e o patológico (6a ed.). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. COSTA; R. A. Psicopatologia I. Rio de Janeiro: SESES – Estácio, 2017. DALGALARRONDO, P. (2008). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais (2a ed.) Porto Alegre: Artmed, 2008. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (ORG.). (1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Tradução de Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas. 47 Capítulo IV – Grupo de ouvidores de vozes Grupo de ouvidores de vozes conceito e origem histórica. Seria possível que pessoas ouçam os mais variados tipos de vozes quando estão sozinhas e ainda estabeleçam um diálogo entre estas? Sim, é perfeitamente comum esse tipo de comportamento, onde pessoas tem o hábito de se relacionarem com vozes. A audição de vozes não é encarada como a expressão natural de um processo de adoecimento, mas na pluralidade de formas e modo como se manifesta. É necessário levar em conta as características particulares do ouvinte, ratificando que o fenômeno de ouvir vozes está, muitas vezes, ligado a questões religiosas, influência de outras pessoas, etc. Há que se ressaltar também a intensidade dessas vozes: forte, média, fraca ou insignificante, bem como a frequência em que se ouvem tais vozes. Ao não se restringir ao quadro referencial de classificação sindrômica de um indivíduo, tido como expressão de doenças mentais, toma-se a audição de vozes dentro do contexto mais amplo da vida das pessoas, inserindo-a na vasta gama das experiências subjetivas humanas (VASCONCELOS, 2003). Embora não seja considerada comum a alucinação auditiva, ela está presente em algumas pessoas. Contudo, para considerar transtorno e causar danos, é necessário levar em conta
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