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01_-_Direitos_Humanos

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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO 
DIRETORIA DE ENSINO E CULTURA 
ESCOLA SUPERIOR DE SARGENTOS 
 
 
CURSO SUPERIOR DE TECNÓLOGO DE 
POLÍCIA OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO 
 DA ORDEM PÚBLICA I 
 
 
MATÉRIA 11: DIREITOS HUMANOS 
 
 
Divisão de Ensino e Administração 
Seção Técnica 
Setor de Planejamento 
 
 
APOSTILA REVISADA EM SET13, PELO CAP PM REGES MEIRA,DO 43º BPM/M 
APOSTILA EDITADA PARA O CFS – I / 2015 
 
 
 
 
 2 
ÍNDICE 
DESCRIÇÃO PÁG 
 
1 - Contexto Histórico e Político do Surgimento dos Direitos humanos __________________ 3 
2 – Introdução aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana _________________________ 7 
3 – Constituição da República Federativa do Brasil _________________________________ 11 
4 - Estatuto da Criança e do Adolescente __________________________________________ 23 
6.- A Atividade Policial e a Presunção da Inocência, Direito à imagem e proibição da 
exposição indevida _____________________________________________________________ 33 
7. Introdução ao Estudo do Direito dos Tratados ___________________________________ 35 
8. Declaraçoes e Tratados Internacionais __________________________________________ 39 
9. Tráfico de pessoas ___________________________________________________________ 52 
10. Respeito e Proteção à Diversidade Sexual ______________________________________ 59 
11. Ações Afirmativas e Igualdade Racial _________________________________________ 53 
BIBLIOGRAFIA: _____________________________________________________________ 69 
 
 
Nota: 
 
Esta apostila é um material de apoio. O seu conteúdo não esgota o 
assunto e desde que previsto curricularmente, poderá ser objeto de 
avaliação. Com isso, é essencial que você pesquise profundamente 
os assuntos, tomando por base as referências bibliográficas 
dispostas, bem como outras que achar por bem utilizar. 
 
 3 
 
1. Contexto histórico e político do surgimento dos Direitos Humanos; Principais documentos históricos de Direitos 
Humanos. Dimensões dos Direitos Humanos 02 h/a 
 
1. CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO DO SURGIMENTO DOS DIREITOS 
HUMANOS 
Os primeiros fundamentos dos direitos 
humanos, conforme uma concepção cristã surge no 
“Gênesis”, ao se postular na Bíblia que o homem foi criado 
à imagem e semelhança de Deus; passando o ser humano a 
identificar-se com a própria Divindade
1
  Essa é a herança 
Judaico-cristã herdada pelos povos antigos. Ainda naquela 
época, os hebreus herdaram um intenso respeito às leis 
divinas; toda conduta dos homens era minuciosamente regulada por um complexo de normas que, 
antes de tudo, era um conjunto de preceitos éticos ao qual estavam submetidos humildes e 
poderosos indistintamente, ou seja: normas fundadas na igualdade entre os homens e no respeito à 
pessoa humana. Jesus, com singeleza, afirmou que o princípio que norteava seus ensinamentos 
figurava no seguinte: “Amarás ao próximo como a ti mesmo.” 
Para se ter a idéia da extensão e profundidade dos estudos de direitos humanos, 
lembra-se que no próprio pensamento Greco-Romano repousava a inspiração do pensamento antigo. 
Pregava-se no mundo grego, por meio da escola estóica, que: “a lei natural é uma lei divina, e tem, 
como tal, o poder de regular o justo e o injusto”; ao conceito de lei natural, pregavam aqueles 
pensadores que todos os homens provinham de um mesmo pai, Zeus, e eram todos iguais em sua 
origem. Esse pensamento grego, por sua vez, influenciou os romanos, que assim transmitiu seu 
legado à civilização medieval. Ainda, na época da Roma antiga surgiram várias leis humanísticas, 
abrandando o rigor e o elitismo dos antigos cânones patrícios. 
 
1.1. DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS 
As pessoas possuem direitos que se espraiam em várias esferas de sua vida, sendo que 
muitos deles dizem respeito a direitos a elas inerentes. Os direitos, e em especial os direitos 
humanos, não dizem respeito apenas aos direitos individuais e políticos, como amplamente é 
divulgado nos meios de comunicação. Há, ainda, os direitos coletivos e difusos, os sociais, os de 
solidariedade etc. 
Paulo Bonavides, dentre outros autores, aponta a existência de quatro gerações de direitos 
humanos
2
. 
 
1
 LEWANDOWSKI (2003:1) 
 
2
 Chimenti, Ricardo Cunha; Capez, Fernando; Rosa, Márcio Fernando Elias; Santos, Marisa Ferreira dos; Curso de 
Direito Constitucional. Ed. Saraiva, 2ª Ed. 2005. 
 
 4 
No entanto, quanto ao termo “gerações”, ainda hoje empregado, esclarece-se que o termo 
emprega certo conteúdo ilógico, na medida em que os direitos subseqüentes não excluem os 
anteriores, (gerações é um termo que diz respeito ao momento histórico em que se reconheceram os 
direitos). Assim, outra expressão correlata, e mais apropriada, é “Dimensões de Direitos 
Humanos”, pois abarca idéia mais ampla dos direitos reconhecidos no decorrer do tempo! 
 
Assim, as dimensões (ou gerações) de Direitos Humanos marcam no tempo, a evolução e 
a conquista do Homem quanto ao reconhecimento de seus direitos pelo Estado. Isto quer dizer, 
basicamente, que: conseguidos (positivados em um texto), por exemplo, com os direitos de primeira 
geração, passou o Homem a exigir outros, e assim sucessivamente (sem se abandonar os direitos 
anteriormente reconhecidos), sempre com a finalidade de aperfeiçoar-se como pessoa e também 
como garantia de que o Estado não mais violaria tais direitos. 
Pode-se dizer, por fim, que o Homem, paulatinamente, veio adquirindo (reconhecendo) 
direitos pelo próprio Estado; ou seja, direitos que devem obrigatoriamente ser observados e 
garantidos por este. Há, assim, um dever de proteção pelo Estado dos direitos fundamentais contra 
agressões: dos próprios Poderes Públicos, de particulares, ou de outros Estados. 
 
 Atualmente, como mencionado acima, a doutrina menciona as seguintes dimensões (ou 
gerações) de Direitos Humanos: 
 
Primeira Dimensão: são os direitos considerados indispensáveis a todos os homens e diz 
respeito às liberdades individuais, à proteção dada ao indivíduo quanto às liberdades civis e 
políticas. Caracteriza-se por uma pretensão de abstenção do Estado (para que respeite tais direitos). 
Nessa dimensão encontram-se, por exemplo, o antecedente histórico do Habeas Corpus e a garantia 
dos cidadãos quanto à anterioridade na imposição de tributos, além do reconhecimento da liberdade 
de consciência, de culto, de reunião, da inviolabilidade do domicílio. São os direitos reafirmados 
durante as revoluções burguesas do Séc. XVIII; 
A Segunda Dimensão: refere-se ao reconhecimento, pelo Estado, de direitos concernentes à 
situação do Homem enquanto convivente em sociedade. São direitos basicamente adquiridos em 
decorrência da Revolução Industrial. Aqui se exige não só a abstenção do Estado, mas também uma 
prestação positiva para que os institua e com isso se busque a atenuação das desigualdades sociais. 
A intenção, nesta dimensão, é estabelecer uma liberdade real e igual para todos, mediante a ação 
corretiva dos Poderes Públicos. Almeja-se a igualdade de fato entre os cidadãos. Nesta dimensão 
encontram-se os chamados direitos sociais, econômicos e culturais. Exemplos: direito à assistência 
social, à saúde, à educação, ao trabalho, ao lazer à sindicalização, à greve etc. Os direitos, enfim, se 
ligam a reivindicações de justiça social (porém os direitos ainda têm como titulares indivíduos 
singularizados); 
A Terceira Dimensão: caracteriza-se pela titularização difusa e coletiva. É a fase de 
previsão de direitos relativos à solidariedade e fraternidade entre os indivíduos. Protege-se, além da 
pessoa individualmente considerada, principalmente a coletividade. Aqui se inclui a proteção ao 
meio ambiente, ao progresso, ao patrimônio histórico comum da humanidade, à defesa do 
Resumindo 
4! 
 5 
consumidor, à infância e à juventude etc. Em nossa Constituição, por exemplo, consta, no artigo 
230,um dever de solidariedade da família, da sociedade e do Estado quanto à proteção dos idosos; 
A Quarta Dimensão: é nova na doutrina (havendo divergências a respeito do próprio 
conteúdo) e diz respeito à proteção do homem não só como indivíduo, mas também como membro 
de uma espécie. Esta dimensão alerta, por exemplo, para as possíveis alterações do genoma humano 
que poderiam ser realizadas em virtude do alto grau de desenvolvimento da ciência. Assim é que 
em 1997 a UNESCO editou a Declaração dos Direitos do Homem e do Genoma Humano, na qual 
se propugna a busca de soluções que conciliem desenvolvimento tecnológico e respeito aos direitos 
do homem. Em suma, esta dimensão representa o estado atual da ciência e o estágio da civilização, 
passando o genoma, por exemplo, a ser considerado “patrimônio da humanidade”. Exemplo: 
pretensão de clonagem de seres humanos. Mas esta dimensão de Direitos Humanos também se 
refere a direitos ligados à comunicação de massa e à democratização da informação. Enfim, diz 
respeito à globalização pela qual hoje passa o mundo. A sociedade globalizada amplia horizontes 
materiais e intelectuais, mas também expõem os indivíduos à dominação por outros povos; é 
necessário que haja uma ordem jurídica internacional capaz de equacionar a soberania dos Estados 
com os direitos individuais de cada um. Questionam-se as verdadeiras liberdades existentes e 
reconhecidas; pergunta-se: somos realmente livres? 
 
Feitas essas colocações, é importante que o policial militar saiba 
da amplitude da matéria estudada (Direitos Humanos), e 
entenda que a proteção aos direitos humanos não diz respeito 
apenas aos eventuais abusos que foram ou venham a ser 
cometidos, sim todos os direitos existentes, que devemos 
proteger! Assim, cada vez mais reafirmamos a todo o momento 
os direitos humanos, tornando efetiva a atuação do Estado, por 
meio da Polícia Militar. Percebe-se que nosso ordenamento 
jurídico, desde a Constituição Federal até nosso próprio 
Regulamento Disciplinar, contempla a proteção a todos esses 
direitos (vida, liberdade, a dignidade da pessoa humana, o 
direito de realização de greves e atos públicos, a proteção ao 
meio ambiente e ao patrimônio histórico etc.). 
 
1.3 PRINCIPAIS DOCUMENTOS HISTÓRICOS DE DIREITOS HUMANOS 
Durante toda a história houve várias lutas para assegurar determinado direito, elencamos, 
aqui, alguns dos principais documentos existentes (esclarecendo que, atualmente, há uma infinidade 
de normas outras conquistadas e asseguradas juridicamente). 
 Magna Carta (Inglaterra) – 1215 
 Petition of Rights – Petição de Direitos - 1628 
 Lei de Habeas Corpus - 1679 
 
Importante! 
 
 6 
 Bill Of Rights – 1689 
 Declaração de Virgínia – 1776 
 Declaração de Independência dos Estados Unidos da América - 1776 
 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789 
 Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948 
 
Magna Carta - Foi o primeiro documento escrito de “limitação do poder”. O rei João Sem 
Terra, da Inglaterra, tributava exageradamente os Barões do reino, que então o forçaram a assinar 
um documento em que lhes eram assegurados certos direitos. Caracterizou-se pela concessão de um 
privilégio a alguns estamentos (clero e nobreza) e pelo consequente estabelecimento de obrigações 
reais. Influenciou textos constitucionais de todo o mundo, inclusive a Constituição Federal 
Brasileira de 1988, fazendo parte da Constituição Inglesa até hoje. 
 
Alguns dos princípios nela previstos e que ainda vigem: 
 
 necessidade de autorização prévia para lançamento de tributos; 
 princípio da razoabilidade tributária; 
 necessidade de divulgação dos atos de governo (princípio da publicidade); 
 princípio da proporcionalidade na esfera criminal; 
 princípio do devido processo legal (due process of law). 
 
Petition of Rights - Documento dirigido ao monarca no qual os membros do Parlamento 
pediam o reconhecimento de diversos direitos e liberdades dos súditos. Foi um meio de transação 
com o rei, que cedeu pois o Parlamento detinha o poder financeiro (de sorte que aquele não podia 
usar o dinheiro sem autorização deste). Na verdade, a petição reclamava a observância de direitos e 
liberdades já reconhecidos na Magna Carta. É interessante ressaltar, também, que o Parlamento se 
colocou como representante do povo, encaminhando os anseios deste ao detentor do poder 
monárquico. 
Lei de Habeas Corpus - Já existia na Inglaterra, mesmo antes da Magna Carta, como 
mandado judicial (writ) em caso de prisão arbitrária. Mas sua eficácia como remédio jurídico era 
muito reduzida, tendo em vista a falta de regras processuais claras e adequadas. A Lei nº 1.679, cuja 
denominação oficial foi descrita como “uma lei para melhor garantir a liberdade do súdito e para 
prevenção de prisões no ultramar”, veio corrigir um defeito e reafirmar o brocardo inglês que dizia 
que “as garantias processuais criam os direitos, e não o contrário”. 
Declaração de Direitos (Bill of Rights) - Pôs fim, pela primeira vez, ao regime de 
monarquia absoluta, no qual todo o poder emanava do rei e em seu nome era exercido. A partir de 
 
Interessante! 
 7 
1689, na Inglaterra, os poderes de legislar e de criar tributos já não mais eram prerrogativas do 
monarca, mas sim competência do Parlamento. Surgia, assim, a monarquia constitucional, 
submetida à lei e, consequentemente, à soberania popular. O Bill of Rights, enquanto lei 
fundamental, permanece ainda hoje como um dos mais importantes textos constitucionais do Reino 
Unido. 
Declaração de Virgínia – A primeira declaração de direitos fundamentais foi, em sentido 
moderno, a “Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia” (que era uma das treze colônias 
inglesas na América), datada de 12 de janeiro de 1776. Incorporou em seu texto as liberdades 
constituídas na Inglaterra ao longo do século XVII (Petition of Rights, de 1628; Lei de Habeas 
Corpus, de 1679; Bill of Rights, de 1689). Preocupa-se basicamente com a estrutura de um governo 
democrático e com o sistema de limitação de poderes. Enquanto os textos ingleses apenas tinham a 
finalidade de limitar o poder do rei, esta, por sua vez, iniciou uma nova era de declarações, baseadas 
na crença da existência de direitos naturais e imprescritíveis do Homem. 
Declaração de Independência dos Estados Unidos da América - A Declaração de 
Independência dos Estados Unidos, de 04JUL1776, teve como tônica preponderante à limitação do 
poder estatal e a valorização da liberdade individual. É um documento de inestimável valor 
histórico, que influenciou mesmo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 
1789) e inspirou, servindo de exemplo, as outras colônias do continente americano. Recebeu 
influência de iluministas e de documentos semelhantes, anteriormente elaborados na Inglaterra. 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – Sofreu forte influência da 
Independência dos Estados Unidos. Os mesmos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade foram 
também garantidos nas Constituições Francesas de 1791 e 1793, chegando esta última a acrescentar 
direitos como ao trabalho, à proteção contra a pobreza e à educação. Seu texto proclama os 
princípios da liberdade, da igualdade, da propriedade e da legalidade, bem como prevê garantias 
individuais liberais. 
Declaração Universal dos Direitos Humanos – Elaborada em 1948, logo após o término 
da Segunda Guerra Mundial, representa a culminância de um processo ético iniciado com a 
Declaração de Independência dos Estados Unidos e com a Revolução Francesa, reconhecendo 
universalmente a igualdade de todas as pessoas. Esse processo só se deu ao término de uma das 
mais desumanas guerras de toda a história, a Segunda Guerra Mundial, ocasião em que se percebeu 
que a idéia da superioridade de uma raça, de uma classe social, de uma cultura ou religião sobre 
outra põe em risco a própria sobrevivência de toda a humanidade. 
 
2.Introdução aos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana. Conceito de Direitos 
Humanos; Fundamentos e proteção aos Direitos Humanos; Polícia, Democracia e 
Direitos Humanos. 
02 h/a 
2.1 – CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 Os “direitos humanos”, ou “direitos do homem”, são aqueles que visam ao aperfeiçoamento 
do homem enquanto ser vivente e que tendem a preservar a dignidade da pessoa humana. 
 8 
Alguns estudiosos fazem uma distinção entre “direitos humanos” (um conjunto de direitos 
inatos que acompanham todo ser humano e que são inerentes a todos os povos) e “direitos 
fundamentais” (que seriam apenas aqueles positivados – escritos – num texto normativo de um 
país, e especialmente em sua Constituição. 
 
Assim, conforme preleciona Canotilho, direitos do 
homem (direitos humanos) seriam os inerentes à própria 
condição humana, válidos para todos os povos, em todos 
os tempos.. E direitos fundamentais seriam os 
considerados indispensáveis à pessoa humana, mas 
reconhecidos e garantidos por uma determinada ordem 
jurídica. 
2.2 PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS 
Esses direitos-liberdades, resultado de inúmeras e seguidas conquistas sociais desde os 
tempos antigos, após inscritos nos mais diversos textos normativos, necessitam de instrumentos que 
os resguardem, com o que ganham a devida proteção e por meio de que se pode chegar à 
efetividade em sua aplicação. 
Neste ponto é interessante ressaltar a diferença conceitual entre “direito” e “garantia”. Diz-
se que direito é a disposição meramente declaratória, enquanto garantia é a disposição assecuratória 
do direito. 
Um exemplo pode aclarar facilmente a distinção: a liberdade de ir e vir é um DIREITO, 
enquanto o habeas corpus é a GARANTIA que assegura o exercício do direito. 
 
 
 
 
Os direitos são protegidos (ou garantidos) por meio da ordem jurídica editada pelo Estado. 
Isto significa que possuem ‘coercibilidade’, surgindo então duas situações: 
 
 1) uma vez reconhecidos e positivados, cabe ao Estado o 
dever restaurá-los, de ofício, em caso de violação; da mesma 
forma, deve o Estado abster-se de condutas que possam lesar 
os direitos humanos; 
Para 
Pensar! Você conseguiria identificar, na constituição 
federal, algum outro direito e sua correspondente 
garantia? 
 
 
Resumindo: 
 
 
Importante! 
 
 9 
2) o homem, sentindo-se lesado, tem ação própria para ver seu 
direito restaurado (o que será feito, em última análise, também 
pelo Estado, através do Poder Judiciário). 
 
Não é demais relembrar que o Estado contemporâneo nasce da filosofia que o justifica 
expressamente pela necessidade de dar proteção aos direitos fundamentais. É o que está escrito, por 
exemplo, no artigo 2º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789: “O fim de 
qualquer associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do Homem”. 
O constitucionalismo exige que o Estado se organize em função dessa finalidade acima 
descrita. Nos países de regime democrático, como o Brasil, a proteção aos direitos humanos é feita 
pela própria Constituição (o que confere grau máximo de proteção) e também por toda a legislação 
infraconstitucional. 
2.3 CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
Sendo os direitos fundamentais aqueles direitos humanos positivados, e reconhecidos por 
determinada ordem jurídica, podemos dizer que possuem as seguintes características: 
 Imprescritibilidade: não se perdem pelo não-exercício num determinado prazo; 
 Inalienabilidade: são intransferíveis, a qualquer título (gratuito ou oneroso); 
 Irrenunciabilidade: assegurados em um texto normativo, pertencem a todos os homens, e 
por isso não podem ser objeto de renúncia; 
 Inviolabilidade: não podem ser desrespeitados por atos normativos nem por atos de 
autoridades públicas; 
 Universalidade: independentemente de raça, religião, sexo ou qualquer outro fator de 
discriminação, pertencem a todos os seres humanos; 
 Efetividade: a maior preocupação se dá no sentido de que o Poder Público, além de 
reconhecer tais direitos em documentos, faça sua real implementação, de modo que todos os 
homens atinjam condições dignas de vida; 
 Interdependência: as várias previsões legais, apesar de possuírem previsão autônoma, 
possuem intersecções para que possam completar-se e atingir suas finalidades; 
 Complementaridade: não podem ser interpretados isoladamente, mas sim de forma 
conjunta, com a finalidade de alcance dos objetivos previstos pelo legislador.
7
 
 
2.4 POLÍCIA, DEMOCRACIA E DIREITOS HUMANOS. 
A democracia é o regime político em que o povo, por meio de seus representantes ou de 
forma direta, exerce os atos necessários à vida em sociedade. 
São características/requisitos da democracia: 
 
 representatividade: na impossibilidade de todas as pessoas exercerem o governo 
simultaneamente, o povo elege representantes; estes, então, em suas decisões, nada mais fazem que 
externar a vontade popular; 
 10 
 eletividade: o processo de escolha dos representantes do povo dá-se por meio de 
eleições; 
 temporariedade: o mandato do representante do povo deve ter prazo certo de 
duração. 
 
Havendo ofensa a qualquer uma das características acima, desnatura-se o regime 
democrático. Tem-se como exemplo de rompimento com o regime democrático o caso de 
governantes que, ao assumirem o poder, intentam alterar a legislação para permitir a própria 
reeleição indefinidamente (quebra-se, neste caso, o pilar chamado “temporariedade”). 
Os órgãos policiais, no Estado Democrático de Direito, devem exigir o cumprimento da lei 
por parte dos cidadãos. No entanto, também deve ter a preocupação de que seus próprios integrantes 
a respeitem. Nisto, aliás, reside o fundamento do Estado Democrático de Direito: o mesmo Estado 
que edita as leis, a elas também se submete. 
Neste contexto, ressalta-se a necessidade de se manter, na atividade policial, o mais alto grau 
de respeito aos direitos humanos, desde o atendimento a situações que não envolvem a prática de 
crime até aquelas ocorrências em que haja o cometimento de infrações graves por parte de 
meliantes. 
A Polícia Militar, por sua vez, no sistema jurídico brasileiro, é órgão competente para 
patrocinar a preservação da ordem pública. Sabendo-se que o policial militar representa diretamente 
o Estado, qualquer desrespeito à cidadania é imediatamente entendido como sinal de desordem. 
Espera-se que o Estado (e o policial militar, assim, consequentemente) não fira os direitos humanos 
dos cidadãos que estão sob sua proteção. Aliás, perceba que a ostensividade decorrente de sua 
missão constitucional torna mais visível a atuação policial-militar, tornando o exercício das funções 
mais sensível às críticas (boas e más). 
Seguindo esse raciocínio, quanto à atuação policial, mesmo o infrator da lei, sendo preso em 
flagrante delito, e até que seja definitivamente julgado, não pode ser despojado de alguns direitos 
básicos (caráter da imprescritibilidade, irrenunciabilidade e inviolabilidade dos direitos 
fundamentais). Aliás, mesmo depois de definitivamente condenado, continua possuindo todos os 
direitos que não sejam incompatíveis com sua condição de preso. Exemplificando: o preso não pode 
abrir não do devido processo legal; não perde o direito à sua integridade física; não perde o direito 
de se avistar com seu advogado e com seus familiares, dentre outros. Mas ficam-lhe cerceados, por 
outro lado, o direito à livre correspondência, à liberdade de ir e vir e estar nos logradouros públicos, 
o direito de votar (após trânsito em julgado da condenação), o direito de exercer atividade 
profissional etc. 
Assim, pelo exposto, é importante ao policial militar observar que a existência dos corpos 
policiais dá-se exclusivamente, e somente por isso, à proteção de direitos. Desta forma, não se 
justifica a afirmação de que o Direito, a proteção aos direitos humanos, prejudicou a atuação 
policial!11 
Durante toda sua carreira policial, pense em alguma ocorrência, em 
alguma atuação, em que você tenha agido, e essa ação não tenha 
decorrido da necessidade de proteger algum direito? não há, pois a 
polícia só existe para proteger direitos! 
 
Por fim, deve o policial lembrar-se de que direitos humanos são, atualmente, parte de 
qualquer programa de governo. Aliás, não poderia ser diferente, pois o Estado deve se abster, como 
já estudado exaustivamente, de praticar quaisquer atos que violem direitos, em especial os direitos 
humanos. 
 
 
3. Constituição da República Federativa do Brasil. Classificação dos Direitos 
Fundamentais; Proteção aos Direitos Fundamentais; Remédios Constitucionais e 
Garantias de Ordem Criminal. 
04 h/a 
 
3.1 – CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
No tocante à Constituição brasileira de 1988, à primeira vista, poderíamos afirmar que os 
direitos fundamentais eleitos pelo constituinte estariam restritos ao art. 5º em seus 78 incisos. No 
entanto, cabe atenta leitura de seu § 2º, in verbis: 
“os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes 
do regime e dos princípios por elas adotados ou dos Tratados Internacionais em que 
a República Federativa do Brasil é parte”. 
Pode-se afirmar, assim, que o constituinte não teve a intenção de restringir os direitos 
fundamentais àqueles enumerados no artigo em tela. Não o teria redigido se não tivesse o nítido 
desejo de possibilitar a expansão e atualização destes direitos ao longo da ‘vida’ constitucional. 
Considerado nossa cláusula aberta, este parágrafo encerra o princípio da não tipicidade dos 
direitos fundamentais, de forma a confirmar o não congelamento destes direitos naqueles 
determinados no processo constituinte. E ainda, como leciona Ingo Wolfgang Sarlet, os direitos 
fundamentais “podem ter acento em outras partes do texto constitucional ou residir em outros textos 
legais nacionais.” 
Adicione-se ainda que ao referir-se aos “direitos e garantias expressos nesta Constituição”, o 
legislador teve como preocupação não fazer qualquer menção à posição a ser ocupada pelos 
mesmos no Texto. Assim, pode-se concluir que são considerados direitos e garantias fundamentais 
de mesma hierarquia aqueles que ocupam diversas posições na Constituição Federal de 1988. 
Pense 
nisso! 
 12 
De acordo com a sistemática adotada pela Constituição brasileira de 1988, a expressão 
direitos fundamentais é gênero de diversas modalidades de direitos: os denominados individuais, 
sociais, coletivos, políticos e nacionais. 
 direitos individuais: são limitações impostas pela soberania popular aos poderes 
constituídos, com a finalidade de resguardar direitos indispensáveis à dignidade da pessoa 
humana; o artigo 5º da Constituição Federal traz uma extensa relação de direitos 
fundamentais, porém tal discriminação não é taxativa, e sim enumerativa, ou seja, pode 
haver (como já dito anteriormente), em outras normas e em outros artigos da própria 
Constituição, previsão de outros direitos fundamentais; 
 direitos coletivos: são aqueles que têm como titular não uma pessoa individualmente 
considerada, mas sim uma coletividade (ex.: o povo, uma classe profissional), desde que 
ligados por uma relação jurídica básica; 
 direitos sociais: caracterizam-se como verdadeiras liberdades positivas, de 
observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das 
condições de vida dos cidadãos em geral; visam à concretização da igualdade social (que é 
um dos fundamentos de nosso Estado Democrático de Direito). Estão descritos na 
Constituição a partir do artigo 6º. Ex.: direito à saúde, à educação, ao trabalho, ao lazer; 
 direitos políticos: conjunto de regras que disciplinam as formas de atuação da 
soberania popular. Tais normas constituem um desdobramento do princípio democrático 
inscrito no art 1º, parágrafo único, da CF, que afirma que todo poder emana do povo, que o 
exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente. A constituição regulamenta 
os direitos políticos no art 14, dentre os quais destacamos o de votar e ser votado; 
 direito à nacionalidade: nacionalidade é o vínculo jurídico político que liga um 
indivíduo a certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, 
dimensão pessoal deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento 
de deveres impostos. Estão previstos nos arts 12 e 13 da CF.
3
 
 
A título de exemplificação, veja alguns direitos fundamentais previstos na Constituição 
Federal: 
 
 alguns constantes no art. 5º: direito à vida, igualdade, proibição de tortura, 
liberdade da manifestação de pensamento, liberdade de consciência, crença e culto, 
inviolabilidade domiciliar, sigilo de correspondência e comunicações, liberdade de 
profissão, liberdade de locomoção, direito de reunião etc. 
 
 alguns outros nos demais artigos: relação de emprego protegida contra despedida 
arbitrária ou sem justa causa (art. 7º, I); proibição de diferença de salários, de 
exercícios de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou 
estado civil (art. 7º, XXX); a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros 
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta constituição (Art 12, I, §2º); 
 
3
 MORAES (2005:39) 
 13 
todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum 
do povo e essencial à sadia qualidade de vida (art 225) etc. 
 
3.2 COLISÃO DE DIREITOS 
Vimos que há vários direitos; sempre que ocorrer a colisão de direitos fundamentais, em 
qualquer de suas modalidades, o aplicador da lei deverá fazer uma verificação do caso concreto, 
devendo prevalecer sempre o direito principal sobre o secundário, ou seja, durante esta verificação, 
devem ser levadas em consideração todas as normas vigentes em nosso ordenamento jurídico, sendo 
determinante a prevalência do direito “hierarquicamente” superior. Por exemplo: um policial 
poderá, nos termos da lei, restringir a liberdade de ir e vir de uma pessoa, para preservar ou não 
colocar em risco seu direito a vida, como num bloqueio de uma via pública onde esteja acontecendo 
um delito. 
 
3.3 – REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
4
 (“WRIT” CONSTITUCIONAIS) 
Remédios constitucionais são os meios colocados à disposição dos indivíduos pela 
Constituição para a proteção de seus direitos fundamentais. São previstos para o caso de o simples 
enunciado não ser suficiente para assegurar o devido respeito aos direitos. 
Por visarem a provocar, em alguns casos, a própria atividade jurisdicional do Estado, são 
também denominados “ações constitucionais”. 
Como ensina Manoel Gonçalves Ferreira Filho, são “meios de reclamar o restabelecimento 
de direitos fundamentais violados – remédios para os males da prepotência”. 
 
3.3.1 - “HABEAS CORPUS” (art 5º, LXVIII, CF) 
“Conceder-se-á ‘habeas-corpus’ sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de 
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso 
de poder.” 
 
 CONCEITO 
É a ação constitucional para a tutela da liberdade de locomoção, utilizada sempre que 
alguém estiver sofrendo, ou na iminência de sofrer, constrangimento ilegal em seu direito de ir e 
vir. 
Embora não seja o único remédio jurídico para fazer cessar uma prisão ilegal, trata-se do 
mais eficaz e célere. 
 
4
 PINHO (2002:128) 
 14 
 
NATUREZA JURÍDICA 
Possui natureza jurídica de ação constitucional, muito embora tenha sido incluído no Código 
de Processo Penal no capítulo dos recursos, pois se invocava a tutela jurisdicional do Estado para a 
proteção da liberdade de locomoção e tem previsão no texto constitucional. 
Essa ação pode ser utilizada tanto em questões criminais como civis, desde que haja 
constrangimento ilegalefetivo ou potencial a direito de ir e vir. É utilizado em questões civis 
referentes à prisão por débitos alimentares ou depositários infiéis. 
 
RESTRIÇÃO CONSTITUCIONAL 
A Constituição em seu art 142, § 2º, dadas às peculiaridades da hierarquia e da disciplina 
militar, estabelece que “não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares”. 
Essa disposição é estendida aos membros das Policias Militares e Bombeiros Militares (art 42 e § 
1º, CF). Contudo, mesmo na hipótese de punição disciplinar militar, caberá habeas corpus se a 
sanção tiver sido aplicada de forma ilegal: a) por autoridade incompetente; b) em desacordo com as 
formalidades legais; ou c) além dos limites fixados em lei. O que não poderá ser objeto de análise é 
o mérito. 
PROCEDIMENTO E PARTES 
O Código de Processo Penal estabelece, em seus arts 647 a 667, o procedimento a ser 
adotado em ações de habeas corpus. Trata-se de um rito especial onde são dispensadas maiores 
formalidades, sempre em favor do bem jurídico maior, a liberdade de locomoção. 
Impetrante (legitimidade ativa). O impetrante é a pessoa que ingressa com a ação de habeas 
corpus. Qualquer pessoa, física ou jurídica, pode com ela ingressar. Para a propositura não se 
exige capacidade postulatória, dessa forma, dispensa-se a juntada de procuração na ordem 
impetrada em nome próprio ou de terceiro. 
Paciente. O paciente é a pessoa em favor de quem é impetrada a ordem de habeas corpus. 
Trata-se da pessoa que está sofrendo ou na iminência de sofrer constrangimento ilegal em seu 
direito de ir e vir. O habeas corpus somente pode ser impetrado em favor de pessoas físicas, pois 
somente seres humanos possuem a capacidade de ir e vir. O impetrante e o paciente, muitas vezes, 
são a mesma pessoa, que ingressa com a ação em seu próprio favor. 
Autoridade coatora (legitimidade passiva). Autoridade coatora é a pessoa em relação a 
quem é impetrada a ordem de habeas corpus, apontada como a responsável pela coação ilegal. 
Tecnicamente, autoridade coatora não é parte no Habeas Corpus, pois apenas presta informações, 
sendo parte propriamente dita o Estado. Tanto é assim, que a ordem é impetrada contra o cargo, e 
não contra a pessoa que o ocupa, sendo responsável por prestar as informações aquela autoridade 
que suceder a que praticou o ato reputado como ilegal. 
 15 
Ato de particular. Em princípio a ordem somente deveria ser concedida contra autoridades 
públicas, mas, em face da realidade, a jurisprudência tem admitido habeas corpus impetrados contra 
atos de particulares. Observa-se que o Texto Constitucional condiciona a concessão da ordem à 
ilegalidade ou ao abuso de poder, não exigindo que o responsável seja autoridade pública, como 
ocorre com o mandado de segurança. 
 
 ESPÉCIES 
Há três modalidades de habeas corpus: LIBERATÓRIO, PREVENTIVO e DE OFÍCIO. 
No “liberatório” ou “repressivo”, concede-se a ordem para fazer cessar o constrangimento à 
liberdade de locomoção já existente. 
No “preventivo”, quando houver ameaça ao direito de ir e vir. Expede-se um salvo-conduto, 
documento emitido pela autoridade competente, para impedir que uma pessoa venha a ter 
restringido seu direito de ir e vir por um determinado motivo. 
Enquanto o “de ofício” é concedido pela autoridade judicial, sem pedido, quando verificar 
no curso de um processo que alguém está sofrendo ou na iminência de sofrer constrangimento ilegal 
em sua liberdade de locomoção (art 654. § 2º, CPP). 
 
3.3.2 - MANDADO DE SEGURANÇA (art 5º, LXIX, CF) 
 
“Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não 
amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela 
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no 
exercício de atribuições do Poder Público.” 
 
 CONCEITO 
Ação constitucional para a tutela de direitos individuais líquidos e certos, não amparados por 
habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for 
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. 
Direito líquido e certo. A jurisprudência entende que direito líquido e certo é o que pode ser 
comprovado de plano, pela apresentação de documentos. 
OBJETO 
São tutelados pelo mandado de segurança todos os direitos líquidos e certos não amparados 
pelo habeas corpus ou habeas data. É por exclusão o alcance dessa ação constitucional. 
 16 
Direito líquido e certo. A jurisprudência entende que direito líquido e certo é o que pode ser 
comprovado de plano, pela apresentação de documentos. A prova é toda pré-constituída. Os 
documentos comprobatórios do direito devem acompanhar a própria petição inicial, a não ser que 
essa evidência se ache em repartição ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por 
certidão (Lei nº 12.016/09, art 6º, § 1º). No mandado de segurança não se admite a abertura da fase 
instrutória. Salienta-se que a complexidade da discussão jurídica envolvida na lide não 
descaracteriza a certeza e liquidez do direito. 
ESPÉCIES 
São duas: mandado de segurança: REPRESSIVO (visa cessar constrangimento ilegal já 
existente) e PREVENTIVO (busca pôr fim à iminência de constrangimento ilegal à direito líquido e 
certo). 
 
PROCEDIMENTO E PARTES 
O mandado de segurança é regulamentado pela Lei nº 12.016/09 e outras leis extravagantes. 
Legitimidade ativa.A pessoa que ingressa em juízo com o mandado de segurança é 
denominado impetrante, podendo ser qualquer pessoa, física ou jurídica. É o titular do direito 
líquido e certo violado ou ameaçado de violação. 
Legitimidade passiva. A pessoa em relação a quem é proposto o mandado de segurança é 
denominada autoridade coatora, isto é, a autoridade ou o agente da pessoa jurídica no exercício de 
atribuições do Poder Público responsável pela violação ou ameaça de violação de direito líquido e 
certo. Autoridade pública é qualquer pessoa que exerça alguma função pública com poder de 
decisão. Observa-se que a pessoa jurídica de direito público não pode ser autoridade coatora, mas 
pode ingressar em juízo como assistente do coator ou litisconsorte do impetrado. 
Procedimento. A petição inicial deve ser apresentada em duas vias, com os documentos 
necessários que comprovem a certeza e liquidez do direito pleiteado. A segunda via será 
encaminhada à autoridade apontada como coatora para prestar as informações necessárias no prazo 
de 10 dias. Em seguida será aberta vista ao Ministério Público para apresentação de parecer. A 
última etapa é a remessa dos autos ao juiz para que profira a sentença. Observa-se que em mandado 
de segurança não cabe a condenação em honorários advocatícios (Súmula 512 do STF). 
 
PRAZO PARA IMPETRAÇÃO 
 
O prazo para impetração do mandado de segurança é de 120 dias, contados da ciência do ato 
impugnado pelo interessado (Lei nº 12.016/09, art 23). Superado esse prazo, ocorre a decadência do 
direito de impetra-lo, não a perda do direito material, podendo valer-se o titular do direito líquido e 
certo violado somente das vias ordinárias. 
 
Importante! 
 
 17 
 
3.3.4 - AÇÃO POPULAR (art 5º, LXXIII, CF) 
 
“Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato 
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à 
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, 
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da 
sucumbência.” 
 
CONCEITO 
Ação constitucional posta à disposição de qualquer cidadão para a tutela do patrimônio público 
ou de entidade de que o Estado participe, da moralidade administrativa, do meio ambiente e do 
patrimônio histórico e cultural, mediante a anulação do ato lesivo. 
 
FINALIDADE 
A finalidade da ação popular é fazer de todo cidadão um fiscal do Poder Público, dos gastos 
feitos com recursos públicos. 
 
PRESSUPOSTOS 
A propositurada ação popular exige a presença de três requisitos: a) condição de eleitor; 
b) ilegalidade; e c) lesividade. 
a) a ação somente pode ser proposta por cidadão brasileiro, ou seja, por nacional que esteja 
no gozo de seus direitos políticos. O que comprova a qualidade de cidadão é o título de eleitor. 
Trata-se de documento indispensável para a propositura da ação, devendo acompanhar a própria 
petição inicial. 
Enunciado da Súmula 365, do STF: pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação 
popular. 
b) o ato deve ser contrário ao ordenamento jurídico, por infringir regras e princípios 
estabelecidos para a Administração Pública. A ilegalidade pode decorrer tanto de vício formal 
quanto material. 
c) o ato deve ser lesivo aos cofres públicos. Para a propositura da ação popular não basta a 
constatação da ilegalidade. Deve ser comprovada também a ofensa ao patrimônio público, bem 
 18 
como aos demais objetos da ação popular. Essa lesividade pode ser tanto efetiva como legalmente 
presumida, podendo caracterizar-se com a ofensa à própria moralidade administrativa. 
 
MORALIDADE ADMINISTRATIVA 
A Constituição de 1988 erigiu a moralidade como um dos princípios informadores da 
administração pública (art 37, “caput”, CF). Trata-se de um fundamento ou causa autônoma, pois a 
afronta a esse princípio constitucional autoriza o ajuizamento da ação popular, independentemente 
da comprovação de lesão ao erário ou de ofensa à estrita legalidade. Basta a ofensa aos padrões 
morais exigidos de um bom administrador público. Essa moralidade deve ser entendida em seu 
sentido jurídico, como afronta a um dos valores consagrados pelo ordenamento jurídico, de forma 
explícita ou implícita. 
 
PROCEDIMENTO E PARTES 
A ação popular foi disciplinada pela Lei nº 4717/65. Segue o rito ordinário com as modificações 
estabelecidas no art 7º da referida lei. 
Sujeito ativo. Essa ação pode ser proposta somente pelo cidadão, que, em sentido estrito, 
é todo nacional no gozo de direitos políticos. Se o autor desistir da ação popular, fica assegurado a 
qualquer outro cidadão, bem como ao Ministério Público, promover o prosseguimento da demanda. 
Sujeito passivo. São réus na ação popular: a) as pessoas jurídicas de direito público e 
privado em nome das quais foi praticado o ato; b) as autoridades, funcionários ou administradores 
que houverem concorrido para o ato ilegal e lesivo ao patrimônio público:e c) os beneficiários do 
ato. No pólo passivo podem encontrar-se pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras. 
 
OBJETO 
 O objeto da ação popular é o ato ilegal ou lesivo ao patrimônio público, à moralidade 
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico cultural. Observa-se que nem todo ato 
legal é honesto e que uma lei pode ser executada de forma moral ou imoral. A ofensa à moralidade 
administrativa já é suficiente para a declaração da nulidade do ato, independente da verificação de 
efetiva lesão patrimonial, ou seja, basta o prejuízo à Administração Pública pela violação dos 
princípios éticos que devem dirigir a conduta dos responsáveis pelos seus atos. 
 
ISENÇÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA 
Estabelece a Constituição como estímulo à propositura da Ação Popular, que o autor ficará 
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência, salvo comprovada má-fé. Julgada procedente a 
 19 
ação popular, contudo, os réus deverão ser condenados ao pagamento das verbas decorrentes da 
sucumbência (custas judiciais e honorários advocatícios). 
 
3.3.5 - “HABEAS DATA” (art 5º, LXXII, CF) 
 
“Conceder-se-á "habeas-data": 
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, 
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter 
público; 
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, 
judicial ou administrativo.” 
CONCEITO 
Ação constitucional para a tutela do direito de informação e de intimidade do indivíduo, 
assegurando o conhecimento de informações relativas a sua pessoa constantes de banco de dados de 
entidades governamentais ou abertas ao público, bem como o direito de retificação desses dados. 
 
FINALIDADES 
O habeas data possui dupla finalidade: 
a) a primeira é o conhecimento de informações pessoais. 
b) a segunda, a possibilidade de retificação de informações errôneas que constem dos 
registros de dados. 
Esses dois pedidos podem ser postulados de forma autônoma ou em conjunto. O pedido de 
retificação pode abranger um pedido de complementação de dados, com atualização dos registros 
referentes a determinado indivíduo. A Lei nº 9507/97 admite uma terceira hipótese de concessão de 
habeas data para “anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre 
dado verdadeiro, mas justificável, e que esteja sob pendência judicial ou amigável” (art 7º, III). 
 
PROCEDIMENTO E PARTES 
O habeas data foi regulamentado pela Lei nº 9507/97. O acesso ao Poder Judiciário só é 
válido caso a entidade governamental ou privada tenha-se recusado a prestar as informações 
solicitadas ou com prova do decurso de mais de 10 dias sem decisão, ou se tenha recusado a fazer 
retificação a anotação da justificação ou do decurso de mais de 15 dias sem decisão (art 8º, I e II). A 
 20 
Lei adotou o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça em sua Súmula nº 2: “Não 
cabe habeas data... se não houve recusa de informações por parte da autoridade administrativa”. 
Legitimidade ativa. Qualquer pessoa, física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, pode 
ingressar com uma ação de habeas data. Podem ser solicitadas exclusivamente informações de 
caráter pessoal. Somente o próprio indivíduo tem o direito de acesso a informações que digam a seu 
respeito. Em caráter absolutamente excepcional, já foi reconhecido a herdeiro e a cônjuge de pessoa 
falecida direito de impetrar o habeas data. 
Legitimidade passiva. No pólo passivo, podem estar: a) entidades governamentais da 
Administração direta ou indireta; ou b) pessoas jurídicas de direito privado que mantenham banco 
de dados aberto ao público. Podem ser empresas de cadastramento, de proteção ao crédito, de 
divulgação de dados profissionais. Exemplos: Serviço de Proteção ao Crédito, Telecheque e Serasa. 
 
CARACTERÍSTICAS 
Trata-se de ação de aplicabilidade imediata, gratuita (art 5º, LXXVII, CF) e 
personalíssima. 
 
3.3.6 - MANDADO DE INJUNÇÃO (art 5º, LXXI, CF) 
“Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora 
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das 
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.” 
CONCEITO 
Ação constitucional para tutela de direitos previstos na Constituição inerentes à 
nacionalidade, à soberania e à cidadania que não possam ser exercidos em razão da falta de norma 
regulamentadora. 
PRESSUPOSTOS 
A concessão do mandado de injunção depende da existência de dois pressupostos: a) 
existência de um direito previsto na Constituição inerente à nacionalidade, soberania e cidadania 
não auto-aplicável, pois se for auto-aplicável, a ausência de norma infraconstitucional que o 
regulamente não impede o seu exercício, não cabendo a ordem de injunção. b) falta de norma 
infraconstitucional regulamentadora que inviabilize o exercício do direito previsto na Constituição – 
omissão normativa. Entende-se por norma regulamentadora toda medida, legislativa ou 
administrativa, necessária para tornar efetivo um preceito previsto na Constituição. 
FINALIDADE 
Tem por finalidade efetivar concretamente um direito assegurado na Constituição, no caso 
de não-elaboração da norma regulamentadora. 
 21 
OBJETO 
Alcança todos os direitos previstos na Constituição inerentes à nacionalidade, à soberania 
e à cidadania que não possam ser exercidos por falta de norma regulamentadora. Alcança direitos 
individuais, coletivos e sociais. 
PARTESLegitimidade ativa. Poderá ser proposto por qualquer pessoa física ou jurídica titular de 
direito previsto na Constituição, inerente à nacionalidade, soberania ou cidadania, que não possa ser 
exercido por falta de norma infraconstitucional regulamentadora. Até os dias de hoje o Supremo 
Tribunal Federal só não aceitou a propositura por pessoa jurídica de direito público. 
Legitimidade passiva. Deverá ser proposto contra pessoa ou órgão responsável pela 
omissão normativa que inviabilize a concretização do direito previsto na Constituição. O Supremo 
Tribunal Federal não tem admitido que o mandado de injunção possa ser proposto contra 
particulares. Não há possibilidade de litisconsórcio passivo, seja necessário ou facultativo, entre 
particulares e autoridades públicas ou entes estatais. 
 
PROCEDIMENTO 
A Lei 8038/90, em seu art 24, parágrafo único, estabeleceu que no mandado de injunção 
serão observadas, no que couber, as normas do mandado de segurança, enquanto não editada 
legislação específica. Como ainda não foi regulamentado, o mandado de injunção adota o 
procedimento previsto na Lei nº 12.016/09. 
 
COMPETÊNCIA 
A competência para julgamento do mandado de injunção depende da natureza do órgão ou da 
pessoa responsável pela elaboração da norma regulamentadora. 
Estando caracterizada a mora do Poder Legislativo, defere-se o Mandado de Injunção para 
determinar ao Congresso Nacional que elabore tal lei (STF - MI nº 611/SP). 
 
 
4 – GARANTIAS DE ORDEM CRIMINAL E PROCESSUAL 
 
A Constituição Federal de 1988 traz em seu texto várias garantias de ordem criminal e 
processual. Assim, ao lado dos direitos diretamente restringidos com a prisão, restam vários outros 
absolutamente intocados e que não podem ser desconsiderados desde o ato de detenção da pessoa 
até a fase de cumprimento da pena eventualmente imposta. 
 
 22 
 Vale lembrar que tais direitos e garantias não são deferidos somente aos que se encontrem 
definitivamente presos, mas também aos suspeitos, indiciados, denunciados, aos provisoriamente 
presos e, por fim, aos condenados com sentença transitada em julgado. 
 
 Trata-se, enfim, da segurança jurídica em matéria criminal, conforme previsto nos incisos 
‘XXXIX’ a ‘LXVII’ da Constituição Federal. 
 
 Pode-se citar, pois, alguns de tais direitos e garantias: 
 
 princípio da estrita legalidade em matéria penal; 
 irretroatividade da lei penal incriminadora e da lei penal in pejus; 
 imprescritibilidade e inafiançabilidade do crime de racismo; 
 inafiançabilidade e insuscetibilidade de graça ou anistia dos crimes de tortura, tráfico 
ilícito de entorpecentes, terrorismo e hediondos; 
 inafiançabilidade e imprescritibilidade da ação de grupos armados, civis ou militares, 
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; 
 personalismo da pena; 
 penas de privação ou restrição da liberdade, de perda de bens, de multa, de prestação social 
alternativa, de suspensão ou interdição de direitos; 
 vedação de penas de morte (salvo em caso de guerra declarada), de caráter perpétuo, de 
trabalhos forçados, de banimento, crueis; 
 cumprimento da pena em estabelecimentos próprios, de acordo com a natureza do delito, a 
idade e o sexo do apenado; 
 regra da excepcionalidade da prisão (que somente pode se dar em caso de flagrante delito 
ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo os casos 
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei); 
 respeito à integridade física e moral; 
 asseguração de direito às presidiárias para que possam permanecer com seus filhos durante 
o período de amamentação; 
 comunicação imediata da prisão e do local onde se encontre o preso, ao juiz, à família ou à 
pessoa por ele indicada; 
 informação ao preso de seus direitos, dentre os quais de permanecer calado; 
 assistência ao preso pela família e por advogado; 
 assistência jurídica integral e gratuita; 
 identificação dos responsáveis pela prisão ou por seu interrogatório policial; 
 presunção de inocência; 
 23 
 vedação de prisão por dívida civil (exceto pelo inadimplemento inescusável de pensão 
alimentícia); 
 vedação de prisão civil por depósito infiel; 
 contraditório e ampla defesa, seja em procedimento administrativo ou judicial; 
 indenização por erro judiciário; 
 celeridade processual; 
 direito à citação válida; 
 direitos de vistas dos autos do processo; 
 direito de arrolar testemunhas; 
 vedação ao uso de provas ilegais; 
 indeclinabilidade do acesso do poder judiciário; 
 proteção à coisa julgada; e 
 relaxamento da prisão ilegal pela autoridade judiciária, de ofício ou mediante provocação, 
sob pena de cometimento de crime de abuso de autoridade. 
 
 
 
4. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, alterado 
parcialmente pelas Leis Federais nº 8.242, de 12OUT91, Lei nº 9.455, de 07ABR97, 
Lei nº 9.532, de 10DEZ97, Lei nº 9.975, de 23JUN00, Lei nº 10.764, de 12NOV03 e 
Lei nº 11.829, de 25NOV08). Introdução e conceito de criança e adolescente. 
Proteção devida pelos Órgãos Públicos. Direitos Fundamentais. Prevenção a violação 
de Direitos. Entidades responsáveis pelo atendimento. Ato Infracional. Auto de 
Apreensão. Boletim Circunstanciado. Procedimentos do Policial Militar nas 
ocorrências envolvendo crianças ou adolescentes. 
04 h/a 
 
Conforme já explanado anteriormente, os direitos fundamentais estão previstos em 
vários pontos da Constituição Federal e reiterados também em outras leis esparsas. É o que acontece 
com as disposições acerca das crianças e adolescentes, que se mostram diferenciadas, como 
demonstra o Título VIII, Capítulo VII – Da família, da criança, do adolescente e do idoso, em 
virtude da especial condição de pessoa em desenvolvimento. Tendência consagrada no art 1º da 
Convenção dos Direitos da Criança, onde a criança “tem direito a uma proteção especial ao seu 
desenvolvimento físico, mental, espiritual e social, por meio de uma forma de vida saudável e 
normal e em condições de liberdade e dignidade”. 
A legislação específica que trata de crianças e adolescentes é o Estatuto da Criança e do 
Adolesccente (ECA). Em sua interpretação, leva-se sempre em consideração a peculiar condição de 
criança e de adolescente como pessoas em desenvolvimento, prevalecendo seus interesses. 
 24 
 
Em âmbito internacional, diz a Declaração dos Direitos da Criança (adotada pela 
Assembleia das Nações Unidades de 20 de novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil): “A criança, 
em decorrência de sua imaturidade física e mental, precisa de proteção e cuidados especiais, 
inclusive proteção legal apropriada, antes e depois do nascimento”; e ainda: “A humanidade deve 
à criança o melhor de seus esforços”. O Princípio 2º da referida Declaração, por sua vez, 
prescreve: “A criança gozará proteção social e ser-lhe-ão proporcionadas oportunidades e 
facilidades, por lei e por outros meios, a fim de lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, 
moral, espiritual e social, de forma sadia e normal, em condições de liberdade e dignidade. Na 
instituição das leis visando este objetivo levar-se-ão em conta sobretudo os melhores interesses da 
criança”. 
Vê-se, pois, que a proteção, em resumo, deve se dar em vista aos melhores interesses 
das crianças e adolescentes. 
 
4.1 - CONCEITO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE 
De acordo com o art 2º do ECA, “considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa 
até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. Ambos 
estão sempre dentro da proteção do Estatuto. 
Os maiores de 18 anos, em regra, estão fora do âmbito de atuação do ECA, ficando, 
então, sujeitos diretamente à legislação civil e penal. Conforme o parágrafo único do art. 2º, 
EXCEPCIONALMENTE, as pessoas entre 18 e 21 anos poderão estar sob a proteção do ECA nos 
casos previstos em lei. 
Assim, deve-se considerar,para a apuração do delito (ato infracional), a idade do menor no 
tempo em que ocorreu o fato. Assim, praticando um delito enquanto ainda for considerado 
juridicamente menor de idade, responderá de acordo com as medidas previstas no Estatuto. 
 
4.2- PROTEÇÃO DEVIDA PELOS ÓRGÃOS PÚBLICOS 
 De acordo com a doutrina da proteção integral, adotada pelo ECA, que atribui ao menor 
uma série de direitos necessários ao seu pleno desenvolvimento, essa proteção deve abranger todas 
as necessidades do ser humano para o pleno desenvolvimento de sua personalidade.
5
 Não devendo 
ser voltada apenas ao menor carente ou em situação de risco, mas a proteger o menor em qualquer 
situação que ele se encontre, logicamente, sem afastar a atenção aos grupos vulneráveis. 
 O art 4º do ECA, define como responsáveis pelos direitos da criança e do adolescente a 
família, a comunidade, a sociedade em geral e o Poder Público, todos podendo ser juridicamente 
cobrados, dependendo do caso concreto. 
 
5
 SMANIO (2003:18) 
Saiba mais! 
 25 
 A atividade dos órgãos públicos deve se pautar pelo exato cumprimento desse dever, vez 
que a finalidade do Estado constituído não é outra senão o bem estar social (bem comum). 
 
5.3 – DIREITOS FUNDAMENTAIS
6
 
 
 Os direitos fundamentais previstos no ECA são oponíveis erga omnes, 
ou seja, podem ser opostos a qualquer um, seja o Estado, seja pessoa física, 
jurídica, particular ou não. Destacam-se, o: 
DIREITO À VIDA E À SAÚDE - englobando a proteção desde a concepção, 
direito ao aleitamento materno, atendimento médico e odontológico, 
comunicação obrigatória de maus tratos à criança e adolescente (por parte das escolas, hospitais, 
creches, etc) para o Conselho Tutelar, Ministério Público ou qualquer outra autoridade judicial. 
DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE - apenas se deve restringir o 
direito à liberdade, por exemplo, se o menor puder ser exposto a situação de risco; já a dignidade é 
bem indisponível, não se podendo dela despojar o menor sob qualquer pretexto; a proteção à 
dignidade abrange a imagem, o nome, a filiação, os valores, os espaços próprios e os objetos 
pessoais; 
DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA - a regra é a permanência da 
criança e do adolescente com a sua família natural (art 19 do ECA). Retirar a criança ou o 
adolescente da família natural é medida de exceção, só podendo ser aplicada quando a lei determinar, 
quando então são retirados da convivência da família natural e colocados em família substituta. Cabe 
ressaltar que o art 20 do ECA proíbe qualquer distinção entre os filhos naturais e adotivos. 
DIREITO DE PERSONALIDADE - disposto no art 27 do ECA, o reconhecimento da filiação pode 
ser feito a qualquer tempo, no nascimento, por testamento, por escritura ou por qualquer outro 
instrumento público ou particular, sendo irrevogáveis. A natureza jurídica desse estado de filiação 
reconhecido pelo ECA é o direito da personalidade, sendo personalíssimo, indisponível e 
imprescritível. É hipótese de processo em segredo de justiça. 
 
DIREITO À EDUCAÇÃO - previsto no artigo 54 e seguintes do ECA; a dicção legal garante ser 
dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, 
assim como o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade. Aliás, o 
§ 1º do mesmo artigo estabelece que o acesso ao ensino obrigatório é gratuito e “direito público 
subjetivo”, o que significa ser passível de ação judicial para sua garantia caso o Estado não cumpra 
com sua prestação; 
 
DIREITO À CULTURA, ESPORTE E LAZER - previsão: artigo 53 e seguintes do ECA; 
 
 
6
 SMANIO (2003:19) 
 
 26 
DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO NO TRABALHO- artigo 69 do 
Estatuto, que determina especial respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e 
capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho. 
 
5.4 – PREVENÇÃO E VIOLAÇÃO DE DIREITOS 
No que tange à prevenção, para fins de estudo, podemos analisá-la sobre dois aspectos: 
 o aspecto social – enfocando a participação da sociedade como forma de controle 
social informal; e 
 o aspecto estatal – tendo em vista as atividades 
desenvolvidas pelos órgãos estatais, dentre os quais a 
Polícia Militar, configurando-se então o chamado controle 
social formal. 
 
O papel social estaria presente nas várias formas de participação assistencial da sociedade 
no auxílio às crianças e adolescentes, buscando a erradicação da violação de seus direitos. 
Já os órgãos públicos possuem grande parcela de responsabilidade, pois o fim do Estado não 
é outro senão o bem estar social. Nesse sentido, a Polícia Militar assume um papel fundamental, 
pois está presente em todas localidades, diuturnamente, mantendo contato direto com menores que 
eventualmente tenham seus direitos violados (vítimas), bem como com os responsáveis pelas 
violações (autores). 
Por isso há extrema importância no desempenho da função policial-militar, em que o 
policial age como um dos controles para manter o equilíbrio social e assim evita o aumento da 
vitimização infantil. Consequentemente, relativamente aos responsáveis pelas violações, passam a 
receber o exato tratamento imposto pelas leis, tudo de forma sempre isenta, imparcial e dentro dos 
parâmetros da legalidade. 
Não há dúvida, portanto, de que o papel mais importante está exatamente na prevenção, 
visto que, além de ser nossa missão consagrada na Constituição Federal, não existe expressão mais 
adequada de bem comum que o respeito aos direitos fundamentais. 
Contudo, por fim, havendo violação aos direitos dos menores, surge a imediata necessidade 
de assistência às vítimas e, obviamente, num Estado de Direito, o correto e rápido processamento 
dos fatos para apuração e responsabilização dos autores de tais condutas à luz do Estatuto. 
E tal responsabilização pode ser enquadrada numa das formas previstas no título ‘VII’ do 
Livro ‘II’ do Estatuto (Dos Crimes e das Infrações Administrativas – artigos 225 a 258) ou nas 
demais legislações penais e civis em vigor, bem como, ainda, em norma administrativa, de forma 
cumulativa, caso o autor detenha o título de servidor público. 
 
 
 27 
5.5 – ENTIDADES RESPONSÁVEIS PELA FISCALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE 
ATENDIMENTO 
 
Traz o ECA que “a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á 
através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos 
estados, do Distrito Federal e dos municípios” (Art. 86 e seguintes), tais como: políticas sociais 
básicas, programas de assistência social, proteção jurídico-social etc. 
Para que essas políticas funcionem, delegou o ECA a responsabilidade de fiscalização das 
ações aos seguintes órgãos e poder: Conselho Tutelar, Ministério Público e Poder Judiciário. 
 
CONSELHO TUTELAR 
 É um órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade para zelar 
pela proteção dos direitos da criança e do adolescente. Cada município deverá, obrigatoriamente, ter 
pelo menos um Conselho Tutelar (CT), conforme o que dispuser sua Lei Orgânica. 
 As decisões do CT poderão ser revistas judicialmente, mas nunca de ofício, visto que o CT 
não está subordinado ao Poder Judiciário, sendo um órgão autônomo. Sendo provocado por quem 
tenha legítimo interesse, o judiciário pode reavaliar a decisão do CT, inclusive de mérito. 
Têm legítimo interesse para provocar o Judiciário o menor, o representante legal do menor e 
o MP. Qualquer pessoa poderá provocar o MP quando não satisfeito com alguma medida tomada 
pelo CT, para que este tome as medidas cabíveis. 
 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
 No ECA, o MP tem atribuição para proteger interesses difusos, coletivos e individuais 
(homogêneos ou não) de criança e adolescente. Se o MP nãofor o autor da ação, deverá atuar, 
obrigatoriamente, como custus legis, sob pena de nulidade. 
 As atribuições do MP estão previstas no art 201 do ECA. 
 
JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE 
 O art 145 do ECA faculta aos Estados e Municípios a criação de varas especializadas e 
exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade 
por número de habitantes, dota-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em 
plantões. 
 28 
Desse modo, o Judiciário tem a possibilidade de enfrentar as questões envolvendo menores 
com mais acuidade e detalhamento, dando tratamento especial àqueles que se encontram justamente 
num período de formação da personalidade. 
 
5.6 – ATO INFRACIONAL 
A Constituição Federal de 1988, expressamente em seu art 228, previu, dentre os vários 
direitos e garantias específicos das crianças e dos adolescentes, a seguinte regra: são penalmente 
inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Essa previsão 
transforma em especialíssimo o tratamento dado ao menor de 18 anos em relação à lei penal. Dessa 
forma, impossível a legislação ordinária prever responsabilidade penal aos menores de 18 anos. 
Para incidência do ECA, o que importa é a idade do autor do fato na data em que o praticou (art 
104, parágrafo único), sendo garantidos todos os direitos individuais previstos no artigo 5º da CF. 
Em decorrência da citada norma constitucional, a criança e o adolescente não cometem um 
crime ou contravenção penal, mas sim ATO INFRACIONAL, ou seja, as condutas descritas no 
Código Penal, bem como na Lei das Contravenções Penais, quando cometidas por criança ou 
adolescente, recebem a denominação de Ato Infracional. 
A prática de um Ato Infracional gera conseqüências diferentes para crianças e adolescentes. 
Aos adolescentes são aplicadas as medidas sócio-educativas ou medidas de proteção (artigo 112 do 
ECA) e às crianças as medidas de proteção (artigo 101 do ECA). 
 
 
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de 
brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. 
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. 
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, 
colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. 
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. 
 
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: 
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; 
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; 
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. 
 29 
 
5.7 – AUTO DE APREENSÃO E BOLETIM CIRCUNSTANCIADO 
O adolescente apreendido em flagrante será, desde logo, encaminhado à autoridade policial 
competente. 
Poderá haver delegacia especializada para menores (art 172, parágrafo único do ECA), que 
terá atribuição prevalecente em caso de co-autoria com maior, que será encaminhado posteriormente 
à repartição policial própria. 
O auto de apreensão em flagrante delito poderá ser substituído por boletim de ocorrência 
circunstanciado (art 173, parágrafo único do ECA). A não ser que o ato infracional tenha sido 
cometido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, quando, então, a lavratura do auto de 
flagrante será obrigatória (art 173, caput, do ECA). Neste ponto cabe relembrar que, de acordo com a 
Resolução SSP/SP nº 233, de 09Set09, o de termo circunstanciado não mais pode ser elaborado por 
policial militar. 
A autoridade policial, neste último caso, deverá ainda ouvir testemunhas e o adolescente 
apreendido em flagrante, apreender o produto e os instrumentos da infração e requisitar os exames e 
perícias necessários (art 173, I, II e III, do ECA). 
Após a apreensão do adolescente e as providências tomadas pela autoridade policial, esta 
poderá optar pelo seguinte encaminhamento: 
1 - caso o ato infracional não tenha gravidade e comparecendo qualquer dos pais ou 
responsável, o adolescente será liberado, mediante termo de compromisso e responsabilidade de sua 
apresentação ao Ministério Público, no mesmo dia ou, no caso impossível, no primeiro dia útil 
imediato (art 174 do ECA). A autoridade policial, após a liberação, encaminhará imediatamente ao 
Ministério Público a cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência (art 176 do ECA); 
2 – caso o ato infracional seja grave e tenha repercussão social, ou para assegurar a segurança 
do adolescente ou a ordem pública, não será o mesmo liberado, permanecendo aprendido. Deverá ser, 
então, o menor encaminhado imediatamente ao Ministério Público, juntamente com a cópia do auto 
de apreensão ou boletim de ocorrência (art 175 do ECA). Não sendo possível a apresentação imediata 
ao Ministério Público, o menor será encaminhado a entidade de atendimento, que fará sua 
apresentação ao MP no prazo de 24 horas (art 175, § 1º, do ECA). Onde não houver entidade de 
atendimento, a apresentação será feita pela própria autoridade policial, devendo o adolescente 
aguardar a apresentação em dependência separada daquelas destinadas aos maiores. Em qualquer 
hipótese, a apresentação do adolescente ao MP não poderá ultrapassar 24 horas (art 175, § 2º, do 
ECA). 
Resumindo: quer seja o caso de auto de apreensão quer seja de boletim de ocorrência 
circunstanciado, ambos são de competência do delegado de polícia civil a quem for levado o 
conhecimento do fato. 
 
 30 
 
Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, 
procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato 
infracional, ou inexistindo ordem escrita da autoridade 
judiciária competente ou sem as formalidades legais, é 
crime previsto no artigo 230 do estatuto punido com 
detenção de seis meses a dois anos? 
Roteiro elaborado de acordo com os artigos 171 a 179 do ECA: 
Apreensão em 
flagrante de 
ato infracional
Condução ao 
DP 
(especializado, 
se houver)
Violência ou 
grave ameaça 
à pessoa?
Boletim de 
ocorrência 
circunstanciado
Auto de 
apreensão em 
flagrante
Termo de 
compromisso e 
responsabilidade de 
apresentação ao MP
Liberação do 
adolescente e remessa 
de cópia do BO ao 
representante do MP 
(S0S)
Apresentação do 
adolescente ao 
representante do MP, 
com cópia do auto 
(SOS)
Apresentado o 
adolescente, o MP 
procede sua oitiva, de 
seus pais e das partes
não
Comparecimento 
dos pais ou 
responsável?
Segue o 
procedimento 
judicial
sim
Gravidade ou 
repercussão 
social?
nãosim
sim
não
 
Obs.: Liberado o adolescente, se os pais não o apresentarem na data e horário marcados, o MP os 
notificará para comparecimento em nova data. Não comparecendo novamente, requisitará apoio 
da PM ou da PC para condução coercitiva. 
 
Não 
se 
Esqueça! 
 31 
A criança que cometer ato infracional não será apreendida, mas será encaminhada ao 
Conselho Tutelar (art 136 do ECA) ou, em sua falta, ao Juiz da Infância e da Juventude (art 262 do 
ECA). 
 
5.8 – PROCEDIMENTOS DO POLICIAL MILITAR NAS OCORRÊNCIAS 
ENVOLVENDO CRIANÇAS OU ADOLESCENTES 
 
Ocorrências envolvendo menores de idade devem ter como primeiro e principal vetor de 
atendimento a observância ao fato de se tratar de pessoas em condição de desenvolvimento – o que 
não só é protegido pela lei como também diz respeito à dignidade da pessoa humana. Portanto, é 
vedado, como em todo atendimento prestado pelo policial militar, qualquer espécie de discriminação. 
Ao contrário, deve haver maior zelo para o encaminhamento de tais ocorrências, visto que a pessoa 
em desenvolvimento tem direito à proteção integral por parte do Estado. 
Durante o atendimento das ocorrências policiais, deve–se ter cautela para não se envolver na 
ocorrência, devendo manter o equilíbrio e a mais absolutaimparcialidade. Assim, o policial militar 
tem o dever de fazer valer e cumprir os princípios do Estado que visam dar proteção integral à 
criança e ao adolescente, da maneira mais ampla e abrangente possível. Deve–se lembrar que a 
simples presença ostensiva e profissional, apoiada sempre no espírito de atingir o bem comum, 
constitui–se no mais eficiente meio para desestimular a prática de delitos. 
 
CONDUÇÃO E TRATAMENTOS CONDIGNOS COM A PESSOA HUMANA 
 
O ECA e a Resolução SSP/72/90 disciplinam a não condução de criança ao Distrito Policial 
(DP), determinando seu encaminhamento ao Conselho Tutelar ou Juízo da Infância e da Juventude. 
 A regra é a condução ao Conselho Tutelar ou Juízo da Infância e da Juventude. 
O adolescente pode ser conduzido na viatura policial, mas deve seguir as regras da mesma 
Resolução: 
 O adolescente não poderá ser conduzido ou transportado: 
I – em compartimento fechado de veículo policial, não sendo vedado o transporte do 
adolescente no banco traseiro da viatura policial, ainda que o acesso ao banco dianteiro esteja 
impedido por dispositivo de segurança; 
II – em condições atentatórias a sua dignidade ou que implique risco à sua integridade física e 
mental ( artigo 178 do ECA). 
 32 
 A condução no compartimento fechado da viatura deve justificar-se pelo desenvolvimento do 
adolescente ou sua manifesta periculosidade, conforme exposto no Aviso n.º22 do Ministério Público 
de 04 de fevereiro de 1.992. 
Quanto ao uso de algemas não é vedado. No entanto, atualmente a única norma diretiva é a 
Súmula Vinculante nº 11, editada pelo Supremo Tribunal Federal com base no artigo 103-A da 
Constituição Federal e publicada em 22 de agosto de 2008. 
Tendo a súmula força vinculante em relação aos demais órgãos do 
Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta nas esferas 
federal, estadual e municipal; e considerando-se que seu objetivo refere-
se à validade, interpretação e eficácia de normas determinadas, acerca 
das quais haja controvérsia entre órgãos judiciários ou entre esses e a 
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica (§ 2º do 
artigo 103-A da CF/88), deve-se considerar que tal norma é a única que 
rege, atualmente, o uso de algemas, tendo as demais perdido sua 
eficácia. 
 
 Diz o texto da Súmula Vinculante nº 11: “Só é lícito o uso de algemas em casos de 
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por 
parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de 
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão 
ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”. 
 Desta forma, pelo que se extrai da apresentada Súmula, verifica-se a plena compatibilidade do 
Aviso nº 22. 
Trata-se, conforme consta do texto normativo, de medida excepcional e que, por isso, deve ser 
justificada por escrito – o policial militar deve fazer esse registro no boletim de ocorrência. 
Por último, ressalta-se que o uso indevido das algemas pode causar a nulidade do ato e 
também a responsabilidade civil do Estado (que pode, em ação posterior, regressivamente, cobrar do 
servidor público o que pagou a título de indenização, conforme previsto no artigo 37, § 6º, da CF).
 
Já, crianças ou adolescentes perdidos dos responsáveis ou acidentados devem ser 
encaminhados ao Conselho Tutelar. Da mesma forma, deverão ter o mesmo encaminhamento: 
crianças ou adolescentes engraxates, vendedores e meninos de rua. 
Quanto ao uso de força ou arma de fogo, o policial militar deve estar consciente de que seu 
emprego só deve ser usada como último recurso, pois o objetivo deve ser claro no sentido de apenas 
fazer cessar a agressão injusta aos citados direitos, ou então evitá-las. 
 
 
Sobre Súmulas 
Vinculantes 
 33 
 
6. A Atividade Policial e o Princípio Constitucional da Presunção de Inocência, Direito à 
Imagem e Proibição da Exposição Indevida 
02 h/a 
 
 6.1 - PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA 
O princípio da presunção de inocência está entre as principais garantias constitucionais do 
cidadão brasileiro, ao estabelecer que todo e qualquer acusado deve ser considerado inocente até a 
decisão final, contra a qual não caiba mais recurso, independente da acusação que lhe seja 
imputada. Ou seja, ninguém pode ser considerado culpado antes da sentença final, que advirá após 
lhe ser garantida a ampla defesa e o contraditório, dentro do devido processo legal. O Art. 5, inciso 
LVII da CF, é muito claro: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da 
sentença penal condenatória”, artigo baseado no art. 9º da Declaração de Direitos do Homem e do 
Cidadão (“todo o acusado se presume inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável 
prendê-lo, todo o rigor não necessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido 
pela Lei”), de 1789, preceito reiterado no artigo 26 da Declaração Americana de Direitos e Deveres 
do Homem, de 1948, e no art. 11 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Sendo assim o policial militar, atuando em defesa da cidadania e de acordo com o 
ordenamento jurídico pátrio, não pode ferir este princípio, devendo agir de forma a preservá-lo e 
fortalecê-lo. Para tanto deve possuir o preparo e conhecimento suficiente para que, com serenidade, 
faça respeitar as leis sem incorrer em abusos. 
 
Súmula 444 do STF: 
“É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a 
pena-base”. A súmula é o resumo de um entendimento tomado repetidas vezes no Tribunal. Assim, 
após a publicação, os processos que se enquadrem na mesma situação vão ser analisados de 
acordo com o entendimento fixado. 
 
6.2 - DIREITO À IMAGEM E A PROIBIÇÃO DA EXPOSIÇÃO INDEVIDA 
 
O artigo 5º, X, da CF/88, determina: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e 
a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente”. 
Nesse sentido, a CF consagra ao ofendido a total reparabilidade em virtude dos prejuízos sofridos, 
através de indenização por dano moral, material e à imagem. 
 E, sendo a imagem um direito da personalidade, merece proteção legal, o que é feito pelo 
Código Civil Brasileiro no seu artigo 11 e seguintes. 
 
O artigo 20 do Código, por exemplo, prevê que “a divulgação de escritos, a transmissão 
da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão 
Saiba mais! 
 34 
ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a 
honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais, salvo se 
autorizadas”. 
Baseando-se na presunção de inocência (mesmo que o policial tenha efetuado prisão em 
flagrante delito do suposto infrator, que, então, poderá utilizar em sua defesa alguma excludente de 
criminalidade), e nos dispositivos legais acima mencionados, a pessoa presa, portanto, não é 
obrigada a dar entrevistas para a imprensa. Também não pode ser induzida ou coagida a fornecer 
sua imagem (e nem mesmo a voz) para publicação. Assim, cabe ao policial, condutor da ocorrência, 
zelar pelo cumprimento dos direitos da personalidade da pessoa que está sob sua guarda. Assim, na 
prática policial, em casos de prisão ou condução de pessoas, ou mesmo durante o atendimento de 
ocorrências, havendo notícia de que a imprensa pretende noticiar o fato, primeiramente deve-se 
perquirir se há autorização da pessoa para divulgação ou utilização de sua imagem. 
 
Caso o preso (ou detido) tenha seu direito à imagem desrespeitado, pode-se configurar o 
abuso de autoridade previsto na lei nº 4.898/65, que no artigo 4º traz as seguintes tipificações: 
 
 alínea “b”: constitui abuso de autoridade submeter pessoa sob sua guarda ou 
custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado

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