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A psicopatia em grau elevado e o direito - Um estudo interdisciplinar introdutório Profa. Lúcia Maria Almendra Correia Lima (orientadora) Artigo elaborado por alunos do 2º período de Direito, na disciplina Psicologia Aplicada ao Direito. Discentes: Alaíde Geralda Taveira Silva; Divino Barbosa Júnior; Ivone Diniz da Silva Castro Santos; Maria Silva Dias; Marielly Melquíades da Silva; Rafael Neves Lucas; Raquel Fernandes da Silva. Resumo Dentro do parâmetro interdisciplinar norteador do presente trabalho, o mesmo tem por finalidade analisar e apresentar a psicopatia, evidenciando a diferença entre o psicopata e o psicótico, definindo o conceito teórico e a ação caracterizada no perfil do psicopata, principalmente em grau elevado e, tendo como base de análise, o código penal e demais disciplinas aplicadas ao Direito, com opinião conclusiva abordada pelo grupo. Abordar-se-á o caso de Marcos Antunes Trigueiro divulgado pela mídia nacional no ano de 2010, analisando e relacionando os conceitos ao caso concreto, dentro da esfera do Direito e voltado enfim para a Psicologia aplicada ao Direito, à Psiquiatria e ao Direito Penal brasileiro, estimulando reflexões. Este trabalho tem por finalidade, assim, analisar acerca dos indivíduos psicopatas que por motivos contestáveis, apresentam uma anomalia enorme em sua personalidade, que já é reconhecida desde cedo, acompanha-o para o resto da vida, e que permite um prenúncio muito sério. Os psicopatas em grau elevado são indivíduos capazes de cometer os mais bárbaros crimes, sem demonstrar qualquer remorso, são analisados pela Psiquiatria como seres antissociais e são considerados inimigos da sociedade. Este artigo busca, portanto, apresentar noções a respeito dos sinais indicativos de psicopatia em grau elevado, sendo seu diagnóstico de responsabilidade das áreas médica e psicológica. Ademais, trataremos de como se dá a questão da criminalização e da aplicação de sanções aos indivíduos psicopatas. Palavras-chave: psicopatia, psicopatas, Direito. Abstract This interdisciplinary work aims to analyze and present psychopathy, demonstraiting the diference between the psychopath and the psychoticc personalities, setting the theoretical concepts and actions that characterize the profile of the psychopath, especially that one with high level of psychopathy. The study is based on the analysis of the criminal code and other disciplines applied to law, with conclusive opinion stated by the group. It is addressed the case of Marcos Antunes Trigueiro, which was notorious in the media in 2010, analyzing the concepts related to the case, within the sphere of law and finaly analyzes the Psychology applied to law, the criminal law and psychiatry in Brazil, simulating reflections. Therefore, this study seeks to present notions about the warning sings of high level psychopathy existent in some individuals, and their diagnosis being the responsibility of medical doctors and psychologists. In addition, it is addressed in the text the issue of criminalization and the penalties applied to psychopathic individuals. Keywords: psychopathy; psychopath; law Introdução Ao findar um dia exaustivo de trabalho, mãe e filha se despedem em frente sua loja. A mãe entra em seu automóvel e vai embora, enquanto a filha fica para acabar de fechar a loja. Feito isso ela vai em direção ao seu veículo e abre a porta, ao adentrar é surpreendida por um rapaz alto, claro, muito simpático e de boa conversa. Reconheceu-o de imediato, pois freqüentavam a mesma igreja e ele já havia até freqüentado sua casa em algumas ocasiões. Neste momento ele pediu uma carona e ela deixou-o entrar. No dia seguinte, foi encontrada morta, estrangulada dentro do seu próprio carro, com o filho de um ano e quatro meses em cima de seu corpo já desfalecido. O que teria acontecido? Seria tal homem o autor de tamanha barbaridade? Após alguns dias a polícia desvenda o caso e associados a ele, outros de mesma natureza. O autor um homem comum, com aparência e hábitos normais, teoricamente acima de quaisquer suspeitas, mas que de repente são capazes de ações e atitudes extremamente perigosas “tornam-se perigosos para aqueles com quem convivem, em razão do que se passa em suas mentes” conforme comenta, psiquiatra forense. (SILVA, p.16). Este trabalho tem por objetivo central a abordagem cientifica e teórica do psicopata, tendo por norte traçar caminhos para que possamos tentar reconhecer e nos proteger de pessoas frias e cruéis, sem nenhum sentimento de culpabilidade, que podem estar bem próximas de nós. Este trabalho é de suma importância para a sociedade, pois irá delinear um panorama minucioso sobre a conduta dos psicopatas, apresentando precauções, as pessoas que eventualmente venham a cruzar seus caminhos. Contudo, não temos a intenção de esgotar o assunto, uma vez que este é um tema complexo tanto na Psiquiatria quanto na Psicologia, mas sim abrir espaço para discussões e incentivar pesquisas sobre o tema. Por outro lado, intenciona também fazer considerações em torno da decisão jurídica que é tomada no caso específico do criminoso psicopata, levando a uma reflexão em torno do melhor encaminhamento, dentro do Direito, uma vez que se sabe ter a psicopatia em grau elevado, depois de claramente diagnosticada, as características de incorrigibilidade e de reincidências criminais (1979, DOYLE apud LIMA, 1998; SIMON, 2009). 1 – Conceito do termo psicopatia O termo psicopatia tem origem em Kraepelin em 1904 (apud FIORELLI e MANGINI, 2010, p. 106) e era sinônimo de transtorno de personalidade, porém devido à evolução dos estudos e análise de determinados indivíduos que apresentavam certas características específicas, percebeu-se a inadequação do termo o qual ganhou contornos mais definidos. Psicopatia foi o primeiro transtorno de personalidade a ser oficialmente reconhecido na psiquiatria e a ser incluído na primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da American Phichiatric Association. Em sua segunda edição, em 1968, o indivíduo psicopata passou a ser denominado sociopata, sendo este termo utilizado para designar “indivíduos que sejam, basicamente, não socializáveis e cujo padrão de comportamento os coloque, repetidas vezes, em situação de conflito com a sociedade” (apud SIMON, 2009, p.53). A definição de psicopatia, entendida antes como doença mental, particularmente para os autores da psiquiatria de origem germânica, passou a restringir-se à ideia de personalidade doente ou personalidade psicopática. Evidenciava-se, assim, uma nova condição de anormalidade, mas que não apresentava as evidências de loucura ou insanidade mental. As psicopatias, foram posteriormente subdivididas em neuropatias.. e sociopatias (MORANA, 2003, p. 31). Segundo Murray (1997 apud MORANA, 2003, p.33) na Europa continental, o termo “psicopatia” é usado para todos os transtornos específicos de personalidade. Na tradição inglesa, é usado somente para o antissocial, particularmente quando se acompanha de comportamento delituoso. Cleckley (1941 apud SIMON, 2009, p. 53) no seu livro The Mask of Sanity, procurou delinear as características de um indivíduo com personalidade psicopática, descrevendo-os como seres com ausência de sentimento de culpa, charme superficial, egocêntricos, incapacidade de amar, ausência de vergonha ou remorso, falta de percepção psicológica e incapacidade para aprender com as experiências passadas. Simon (2009, p.53) escreve que “transtorno da personalidade antissocial” é a denominação atual para designar a psicopatia. O que vem expresso no CID 10 (Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde), editado em 1993, é que tais pessoas são cientificamente conceituadas como portadoras de “transtornos específicos da personalidade”,apresentando Perturbação grave da constituição característica e das tendências comportamentais dos indivíduos, usualmente envolvendo várias áreas da personalidade e quase sempre associada considerável ruptura pessoal e social. O transtorno tende a aparecer no final da infância ou adolescência e continua a se manifestar pela idade adulta. Não podemos nos iludir que não haja dentro de nossas estruturas psíquicas pensamentos outros dos quais poderíamos nos envergonhar, ainda que jamais tenhamos coragem de colocá-los em prática, pois ao contrário dos seres diagnosticados como portadores de transtorno da personalidade antissocial, somos impedidos de realizá-los por sentimentos de medo da reprovação social, uma vez que nós mesmos já os condenamos, por vergonha, relutância em denegrirmos nossa imagem, entre outros. Ademais, quando por algum lapso deixamos que determinadas condutas sejam efetivadas, somos acometidos de remorso e vergonha de nós mesmos, por termos sido capazes de tais atos. O ilustre romancista brasileiro, Machado de Assis, em sua obra “O Alienista” alude a essa realidade, por meio da ficção, quando se refere aos moradores de Itaguaí, concluindo que considerando-se todos seus habitantes, “não possuía um único cérebro consertado”, o que pode facilmente ser aplicado à realidade cotidiana em que: as pessoas normais possuem alguns traços antissociais (SIMON, 2009, p. 52) ainda que seja em maior ou em menor grau. Segundo nos ensina Cleckeu (1941 apud SIMON, 2009, p. 47) os psicopatas são sem dúvida alguma, os melhores mentirosos, manipuladores e fabricantes de verdades do mundo. E faz tudo isso de modo convincente porque acreditam em suas próprias mentiras. E conclui fazendo a seguinte inferência: afinal, suas vidas não são nada além de uma mentira, uma fraude, então como podemos imaginar que eles conheçam qualquer outra coisa além da mentira? Além disso, pode se depreender que tais indivíduos existem em todos os níveis da sociedade, a qualquer tempo e em todo lugar (SIMON, 2009, p. 52). Não obstante, a denominação psicopatia expressa um conhecimento vulgar associado a indivíduos loucos ou acometidos de alguma insanidade mental, de acordo com Silva (2008 apud LIMA, 2011, p. 1) a psicopatia não se enquadra na mera concepção tradicional das doenças mentais ou psíquicas, não sendo os indivíduos portadores de psicopatia considerados loucos. No entendimento da professora Lima (2011, p.1) A psicopatia, em especial a de grau mais severo, deve ser vista como um quadro isolado dos quadros clínicos, pois a característica de incorrigibilidade e impossibilidade de cura, o difícil diagnóstico e o sério prognóstico que ela comporta, tornam essa conduta muito específica e, como tal, deve ser abordada, contextualizada e considerada. De outra face,o criminoso que se revela um psicopata também difere dos demais tipos de criminosos que poderiam vir a ser ressocializados e não se revelam psicopatas (LIMA, 2011, p.1). Psicopatia pode ser entendida como: O constructo clínico da maior relevância para o sistema jurídico penal, e as implicações do estudo deste transtorno são importantes seja por sua relação com taxas de reincidência criminal, seja para a seleção de tratamento apropriado e programas de reabilitação no sistema penitenciário (1998, HARE apud MORANA, 2003, p. 5). O alerta acima de Morana (2003) se faz realmente relevante, pois é sabido que criminosos que não são psicopatas poderiam ser ressocializados. 2 – Tipos de psicopatia Ao avaliarem indivíduos que apresentam características de transtorno de personalidade antissocial, profissionais da saúde os agrupam conforme a potencial gravidade de que podem ser acometidos em: leve, moderado e grave. Silva (2010, p. 20) faz uma descrição dos dois extremos, nos ensinando que os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, enquanto que os últimos, utilizam-se de métodos mais sofisticados, e sentem enorme prazer com seus atos brutais, sendo pois, capazes de praticar homicídios. Isto posto, a autora conclui que independentemente do grau de periculosidade, suas ações deixam marcas de destruição por onde passam, sem piedade (SILVA, 2010, p.20). Psicopatas Imorais – são insensíveis e perversos Psicopatas Astênicos – são sensitivos e assustadiços, insatisfeitos; e perturbados orgânicos. Psicopatas Explosivos – são irritáveis e costumam cometer delitos de sangue. Psicopatas Fanáticos – são inteligentes e dão grande importância aos seus ideais. Psicopatas Hipertímicos – são sociais, bem humorados mas explodem em fúria subitamente. Psicopatas Inadaptáveis – são inseguros e têm dificuldade na integração com as pessoas. Psicopatas Inseguros – caracterizam-se pela falta de confiança em si mesmo. Psicopatas Ostentativos – são mentirosos, afáveis, simpáticos, vaidosos. Psicopatas Sexuais – possuem perversões ou aberrações sexuais primitivas. Psicopatas Toxifílicos – caracterizam-se pelos distúrbios de conduta e caráter. 2.1 - Quanto a psicopatia e psicopatia de grau elevado. A presença da delinquência na maioria das vezes é visível em um psicopata enquanto criança, e com o decorrer do tempo vai evoluindo ao ponto de ter um comportamento predatório, constituindo-se uma ameaça para a sociedade. Para Simon (2009) homens maus fazem o que homens bons sonham e pessoas que cometem atos antissociais não são, necessariamente, psicopatas, além de que também não é correta a noção, amplamente difundida, de que os psicopatas que existem entre nós são loucos assassinos. Este mesmo autor, reforça: Os psicopatas são pessoas que têm graves impulsos antissociais e concretizam esses impulsos sem levar em conta as consequências desastrosas e inevitáveis de seus atos tanto para elas mesmas quanto para os demais. Muitos psicopatas, não são criminosos, mas são predadores, parasitas crônicos e exploradores das pessoas ao seu redor. Usam truques psicológicos e recursos emocionais para manipular, em seu próprio benefício, as pessoas vulneráveis. Eles são incapazes de se colocar no lugar dos outros, assim como uma cobra não sente qualquer empatia por sua presa (SIMON, 2009, p. 52). Entre vários profissionais da Psicologia Jurídica considera-se que a psicopatia têm diferentes graus, e por meio desses inclui-se a diferenciação entre os psicopatas. É notório que há um espectro de condutas psicopáticas, ou seja, que existem graus de diferenciação de psicopatia, entre eles pode-se evidenciar o sociopata “de colarinho branco”, uma situação que espelha, por exemplo, o comportamento de um político que desvia verbas destinadas para educação em benefício próprio. Nessa situação existe total evidência de que o resultado foi programado para esse fim, porém não ocorreu lesão física e nem morte, não existiu o intuito de agressividade, mas não deixa de ter em sua conduta a ação de um psicopata, sendo esse classificado como um psicopata ou sociopata de grau menor, em cuja conduta existe uma moderação de agressividade, diferente da psicopatia em grau elevado, quando o psicopata não hesita em praticar qualquer tipo de ação para ter o seu objetivo, e isso inclui até mesmo matar alguém caso seja necessário para conseguir seus intentos. Caracterizando melhor um psicopata de grau mais elevado, pode-se pensar na personalidade de psicopatia criminal que define explicitamente uma conduta. Na personalidade psicopátia criminal, para falar de uma possibilidade mais grave de psicopatia, há uma deficiente compreensão dos valores morais e éticos, o que pode estar associado a uma clara manifestação do componente agressivo, às vezes com caráter de impulsividade, cuja resultante seria a conduta antissocial. [..] É necessário, entretanto, não confundir com psicopatas típicos ou mais fronteiriços, pessoas normais e que também costumam pertubar-secom realidades não favoraveis. [..] O psicopata agressivo estaria no extremo do que KAREN HORNEY chama “orientação contra pessoas “ e que ERICH FROMM chama de “orientação exploradora” (1979, DOYLE apud LIMA, 1998, p. 1). Resumindo o que foi descrito até aqui, o psicopata de grau menor seria aquele que tem ação de um psicopata, porém moderado como foi comparado com o comportamento do sociopata “de colarinho branco”, que tem os sintomas coerentes com a psicopatia, como, a falta de sentimento afetivo, não se arrepender de seus atos, um dom de grande manipulação, principalmente por meio de mentiras, etc., porém não tem o discernimento ao extremo de que poderia matar alguém ou utilizar sua inteligência em manipular para contribuir com a morte de alguém e alcançar o seu resultado desejado. Comparando com o perfil do psicopata de grau elevado, a criminóloga Casoy (2004) evidencia e define uma das classificações de serial killer como coincidindo com essa conduta e, a partir da análise de vários casos reais, mostra como ocorrem nesta situação específica, várias atrocidades e a busca incessante pelo prazer a todo custo de um psicopata criminoso e cruel. Decidimos viver em sociedade buscando harmonia e coletividade, essa natureza social do homem nos encaminha à vontade de ser feliz e produzir meios de prazer social, porém o convívio com criminosos psicopatas nos mostra uma realidade incoerente e muitas vezes assustadora. Esses indivíduos algumas vezes considerados equivocadamente “doentes”, outras imputáveis e conscientes, conhecedores da frieza, e decididos a seguir de maneira ardilosa sem limites e muitas vezes cruéis, não param enquanto o seu objetivo não for alcançado. Satisfazer sua vontade, é essencial e ainda que isso implique em morte e maus-tratos, tais indivíduos são incapazes de manifestar sentimento de dor ao formalizar os seus interesses. Consciente de seus atos os psicopatas desenvolvem comportamento descompassado, seus anseios são pautados em interesses íntimos e egoístas; são incapazes de manifestar qualquer importância quanto a pessoas e sentimentos, apresentando um sentir material. Os transtornos de personalidade globais são pois alterações qualitativas das interações sociais que em muito refletem no funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões. Tais transtornos são: traço de personalidade, transtorno global da personalidade (ou psicopata) e psicopata perverso. Observem os casos abaixo relacionados: - Marcelo Casthãs 32 anos. Quando criança não despertou expectativas na família, confuso, indisciplinado e muitas vezes birrento, estudava e dedicava-se às suas tarefas. Formou-se, namorou muito e em um dos seus relacionamentos, após 3 anos sentiu-se pressionado pela moça a casar-se e então, após uma discussão acirrada com ofensas e xingamentos retirou-se deixando-a sozinha. Dias depois voltou pedidndo desculpas. Traço de personalidade infantil/imatura. - Roger Gazzony 46 anos, solteiro, desde criança apresentava sinais de que não trilharia passos firmes e contínuos, logo aos 14 anos deixou de estudar e o trabalho não lhe dava prazer. Seus pais em busca de motivos para o seu desinteresse mudaram de casa, de bairro e até de cidade. Tornou-se um homem só, poucos amigos, sem relacionamentos duradouros e com idéias constrangedoras e incapazes de assumir sua indiferença. Não trabalhava e passava parte do seu tempo no quarto jogando e comendo. Transtorno global da personalidade. - Viviane Faheuzirzany 23 anos. Não teve família sua mãe a abandonou e seu pai não a conheceu, foi criada por um casal amoroso que sempre lhe dissera a verdade: sua mãe envolveu-se com um rapaz e não teve condições de lhe criar, trabalhava conosco e após seu nascimento a deixou prometendo voltar um dia, mas isso nunca aconteceu. Viviane tinha temperamento forte, era inteligente e determinada concluiu o ensino médio aos 16 anos e nesta mesma época foi morar sozinha experimentando um pouco de tudo que a vida lhe ofereceu. Relacionou-se com mulheres, traficou, foi usuária de droga, prostituiu-se e aos 17 anos trouxe ao mundo um garoto fruto do seu relacionamento com um rapaz de 15 anos, nunca aceitará a rejeição e aos 19 anos trazia no colo Ruan de 2 anos, Beatriz de 1 ano, Fael de 6 meses e no ventre uma vida que formava-se agora fruto do seu amor por Ronaldo. Uma noite, percebendo a ausência de Ronaldo na cama, saiu à procura do mesmo e ao encontrá-lo nos braços de outra mulher voltou para casa, ligou o gás, jogou álcool em todos os cômodos e atirou o cigarro acesso pela janela, mesmo ao longe sem olhar para trás era possível ouvir o gemido das crianças...... Psicopata Perverso 3 – Imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade Na definição dos autores Zaffaroni & Pierangelli (2004, p. 85) o Direito Penal corresponde ao Conjunto de leis penais que traduzem normas que pretendem tutelar bem jurídicos, e que determinam o alcance de sua tutela, cuja violação se chama delito, e aspira a que tenha como consequência uma coerção jurídica particularmente grave, que procura evitar o cometimento de novos delitos por parte do autor. Portanto, há que se perguntar: se o psicopata ofende a bens tutelados pelo Direito Penal, como devem ser esses crimes imputados a eles? Principalmente, por que na definição do digníssimo doutrinador Damásio (1985, p.17) “Direito penal é um complexo de regras legais que regem uma típica exteriorização de atividade antissocial, ou seja, conduta punível”, pois podemos a ela consubstanciar o transtorno da personalidade antissocial presente na conduta do psicopata. Imputar é “atribuir ou declarar alguém responsável por qualquer ato” (OLIVEIRA NETTO, 2010, p. 327). “Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática de um fato punível” (JESUS, p. 476), enquanto que inimputável é um indivíduo que “é inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento” (art. 26, caput, CP) . Bitencourt (2002, p. 310) critica a denominação de semi-imputabilidade, e a denomina “culpabilidade diminuída”, e a ela associa a possibilidade de redução de pena, e discorre que nesse caso “o agente não possui a plena capacidade de entender a ilicitude do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. Portanto, quanto a aplicação da penalidade o Código Penal Brasileiro envolve precipuamente a intenção da conduta do agente e o critério biopsicológico, caracterizado pelo seu livre arbítrio e autodeterminação. A lição de Weizel (apud GRECO, 2009, p.390) nos esclarece que Ação humana é exercício de atividade final. A ação é, por isso, acontecer “final”, não somente “causal”. A finalidade ou o caráter final da ação se baseia em que o homem, graças a seu saber causal, pode prever, dentro de certos limites, as conseqüências possíveis de sua atividade, estabelecendo, portanto, fins diversos e dirigir sua atividade, conforme o seu plano, a consecução desses fins. Em virtude de seu saber causal prévio, pode dirigir os distintos atos de suas atividades de tal modo que oriente o acontecer causal exterior a um fim e assim o determine finalmente Atividade final é um agir orientado conscientemente ao fim, enquanto que o acontecer causal não está dirigido ao fim, senão que é a resultante dos componentes causais existentes em cada caso. Por isso a finalidade é – dito em forma gráfica – vidente, a casualidade, cega (WEIZEL apud GRECO, 2009, p.391). A denominada “Teoria Finalista” de Weizel (apud GRECO, 2009, p. 391) afirma que “é através da ação que percebemos a finalidade do agente”. No que tange à questão do psicopata o sistema jurídico brasileiro lhe associa a tese de imputabilidade do agente, ou seja, uma vez presente a maioridade considera-se que ao agir este tinha completo discernimentoe conhecimento dos seus atos, pois a Psicopatia não é caracterizada como doença mental. Os principais itens que classificam a conduta do psicopata grave como imputável, é o conhecimento dos seus atos, os quais se destinam a um fim específico previamente definido, ou seja, a capacidade de reconhecer seu ato como lícito ou ilícito, e daí resulta a sua responsabilidade penal. Para tanto, entrementes há que se ter a preponderância das análises da Psiquiatria Forense, cuja finalidade é o estudo mais profundo dos distúrbios mentais em face das dificuldades jurídicas. A ocupação do psiquiatra ou do psicólogo jurídico é diversa, ora em colaboração com o legislador na solução e acepção de problemas jurídicos, ora com o juiz, na aplicação do direito ao caso concreto, não se devendo restringir a, estudar e observar o delinquente portador de transtorno de personalidade, mas também apresentar dados seguros e precisos ao magistrado, para deliberar, e jamais opinar sobre a responsabilidade jurídica, trabalho do julgador. Sua contribuição é de grande valor, afinal, a lei precisará ser instituída e estar adequadamente de acordo com as mudanças da sociedade, e o psiquiatra forense, precisa estar frequentemente em contato com os agentes transgressores portadores de distúrbios da personalidade, trazendo uma enorme contribuição para uma efetiva melhora do sistema penitenciário. Quanto à penalidade aplicada pelo código penal brasileiro envolve fatores da intenção da conduta do agente, critério biológico quanto a sua capacidade, e critério biopsicológico quando constatado o déficit mental. Nos moldes da concepção trazida pelo finalismo de WELZEL, a culpabilidade é composta pelos seguintes elementos normativos: imputabilidade, potencial consciência sobre ilicitude do fato, exigibilidade de conduta diversa. A partir dessa configuração faremos a análise individualizada de cada um deles, dentro da ordem acima proposta (GRECO, 2010, p.376). Falando-se em imputabilidade, o primeiro requisito seria da capacidade do agente, que envolve a maior idade penal e a total noção de conhecimento dos seus atos, adequando-se a esses criterios é considerado compativel com a imputabilidade, pois nota-se que o psicopata grave responde por imputabilidade perante ao código penal, sendo que a psicopatia não é caracterizada como mera doença mental. Assim, o psicopata é considerado penalmente como imputável, não havendo nenhum outro fator que desvie a sua conduta para ser um semi- imputavel. As principais definições que classificam a conduta do psicopata grave como imputavel, é o conhecimento dos seus atos, ou seja, conhecimento se o seu ato é lícito ou ilícito, a responsabilidade penal adquirida, tendo outro fator de extrema consideração no perfil de psicopatia grave que concretiza a imputabilidade, que seria a vontade da prática de sua conduta ilícita.O imputável está sujeito a pena. Quanto a semi-imputabilidade penal só é considerada quando existe uma ausência de compreensão relativa, ou seja, [...] o agente não era inteiramente incapaz de entender típico, ilícito e culpável (GRECO,2010, p.74). Se o grau de deficiência intelectiva do réu é moderado, a redução da pena não pode ser maior que 1/3 (TJMG.AC 1.0003.05.012921-6/002, Rel. Des. Beatriz Pinheiro CAIRES, DJ26/05/2009). A diminuição da pena deve ser medida pela amplitude da perturbação da saúde mental do réu, ou pela graduação de seu desenvolvimento mental, com a verificação da intensidade de seu entendimento [...]. Quanto ao caráter ilícito do fato praticado[...] (GRECO,2010, p.75). Com relação à descrição de Greco (2010) o psicopata grave não é relacionado nos casos de semi-imputável, pois na Psicologia esse tem total noção de ilicitude e seu discernimento mental é completo, não aceita variação da noção com a realidade entre o certo e o errado, saindo desse padrão não é qualificado como um psicopata, os casos de semi imputabilidade podem ter maior relação com os psicóticos, tendo um vínculo com a psicopatologia. Sendo caracterizado um semi-imputável seguindo as evidências do parágrafo acima, Greco (2010) afirma que pode haver a substituição da pena por medida de segurança, relacionado com a leitura do CP art.26, tendo o juiz para essa decisão com base no art.98 e 97 que diz o seguinte: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de um a três anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º. Quanto à inimputável, também não se aplica em nenhum tipo de grau de psicopatia, pois adotam o critério biopsicológico, o qual define a incompreensão absoluta de realidade, que seria o déficit mental (inimputabilidade). Esse é aplicado ao menor que não tem maioridade penal, devido não ser classificado como crime e sim como ato infracional, sujeito à medida socioeducativa. O outro critério se atribui aos doentes mentais e portador de desenvolvimento mental incompleto ou retardado (GONZAGA, ALVARO; ROQUE, NATHALY; Vade Mecum Jurídico, 2011, p.370). Com explicação deste desqualifica-se o inimpútavel aos graus de psicopatia de menor a grave, devido aos critérios de adequação para a inimputábilidade. O Brasil não define o psicopata como doente mental ou retardado mas em alguns casos aplica-lhe a pena restritiva de liberdade em modalidade especial muitas vezes por ineficiência dos exames médicos periciais que não identificam sequer o grau de periculosidade do indivíduo. O neurologista carioca Souza (apud MAGESTE, 2004) em parceria com o neurorradiologista Moll (apud MAGESTE, 2004), pesquisando estudos anteriores, desenvolveram o BEM (Bateria de Emoções Morais) usado em conjunto com a tecnologia da ressonância magnética funcional e concluíram que o cérebro de alguns indivíduos responde de forma diferente da de uma pessoa normal quando levado a fazer julgamentos morais, que envolvem emoções sociais, como arrependimento, culpa e compaixão. Os resultados do estudo mostram que os psicopatas têm pouca pena ou culpa, dois alicerces da capacidade de cooperação humana. Mas sentem desprezo e desejo de vingança condicionando os psicopatas a agir com a razão deixando a emoção de lado. Tais estudos ainda identificaram dois tipos de psicopata: o psicopata assassino é frio e calculista, mas o comunitário é afável, agradável, sedutor, carinhoso. Conseguimos reconhecê-lo quando algo dá errado e ele fica agressivo. Os psicopatas comunitários são numerosos e passam tranquilamente por cidadãos comuns com falhas de caráter ou conduta mal formada. 4 – Psicopata grave homicida e demais assassinos e não psicopatas A figura do psicopata e do homicida muitas vezes são taxadas com o mesmo sentido, sendo que um psicopata pode ser um homicida, porém nem todo homicida é um psicopata. “O psicopata é uma pessoa fria, sem sensibilidade afetivo-emocional, um rompimento falho das características para a formação do superego” (FIORELLI, 2010, p.108), “mesmo com essas características o psicopata tem três graus para descrever a gravidade de sua conduta, [...] sendo importante ressaltar que nem todo psicopata é criminoso” (FIORELLI e MANGINI, 2010, p.109). Em contrapartida, o homicida pode ser classificado de várias formas, pois depende dofato ocorrido para analisar o resultado da sua conduta. O homicida pode cometer um delito de crime culposo ou doloso, devido à classificação dos dois crimes tem gênero de intenções diferentes, em análise dessa diferença que podemos separar a figura do psicopata grave e o homicida. Para focalizar melhor a diferença entre o psicopata e o homicida podemos citar um agente borderline que pratica um homicídio. O homicídio praticado por esse agente tem efeito psíquico diferente do psicopata grave, pois na visão da Psicologia vários autores e especialistas do tema admitem que o borderline tem uma personalidade fronteiriça, resultando em arrependimento da conduta do agente a não repetir essa ação negativa. Com isso, o borderline não configura no perfil do psicopata, tendo assim a sua diferenciação, pois em se tratando de um psicopata não existe sentimento de arrependimento. A diferença crucial do homicida para o psicopata grave é que nem sempre o homicida tem a vontade e a intenção de cometer o resultado, uma situação especifica seria o homicídio culposo. Para a visão do homicida existem vários fatores que podem desclassificar dos critérios do perfil de um psicopata grave, o psicopata tem conhecimento e vontade para ação dos seus atos, não existindo uma dependência ou fator relevante que desvia a sua intenção do resultado, o que é diferente no caso do homicida, para o qual existe a possibilidade de justificar a conduta do ato no resultado, por exemplo: o agente comete um homicídio, porém o mesmo possui um distúrbio mental, comprovado por laudo médico e nesse caso o distúrbio mental tem fator relevante mesmo ocorrendo homicídio, pois não configura o agente como um psicopata, sendo que a Psicologia e a Psiquiatria mais contemporâneas, não consideram que a psicopatia seja uma doença psíquica, pura e simplesmente. Na verdade, constitui-se bem mais grave que um transtorno mental, uma vez que, segundo Doyle (1955 apud LIMA, 1998, p.1) seu capítulo se apresenta obscuro e extenso, na maioria dos tratados de Psiquiatria. [...] “personalidades psicopáticas são todos os indivíduos que por motivos discutíveis, apresentam um desvio quantitativo da personalidade (o que o distingue do neurótico e do psicótico), que se instala precocemente, acompanha todo o ciclo vital e comporta prognóstico muito difícil” (1955, DOYLE apud LIMA, 1998, p.1). Casos como canibalismo que se conclui em morte, podem indicar psicose e não psicopatia, [...] indicando que a conduta reiterada à habitualidade e outros aspectos de personalidade e que indica a presença do transtorno, e não a violência do crime (FIORELLI e MANGINI, 2010, p.109). Com a citação de Fiorelli e Mangini (2010) somado ao desenvolvimento do tema abordado até aqui, evidencia-se que o homicida é o agente que produz o resultado morte, encaixando em vários perfis que necessariamente não tem relação com a psicopatia de grau elevado, sendo contrário ao psicopata grave, porém não descarta a possibilidade de que um homicida possa ser um psicopata, para ter tal afirmação depende da situação e do caso concreto e motivação do agente, pois foram citados acima vários casos onde o homicídio ocorre sem que o agente seja um psicopata, por isso o homicida e o psicopata grave não são sinônimos, pois o homicida e ação do agente que tem o resultado morte, possuindo uma pluralidade de conduta, mas o psicopata segue um só caminho, onde o resultado é consequência da sua intenção. Há que se falar ainda em torno de um forte fator biológico, ou dimensão biológica, também determinante ou até mesmo mais determinante, segundo algumas hipóteses comprovadas em estudos, para a psicopatia em seu grau elevado, como se viu no estudo das diferenças entre o cérebro da pessoa normal e o cérebro do psicopata apresentado anteriormente nesse trabalho.Conforme Gomes (2000) não é verdade que todo delinquente seja um psicopata, do mesmo modo que nem todo psicopata é delinquente. Não vamos nos ater em detalhar cada tipo de psicopatia, mas necessário se faz verificar os sintomas comuns a todos e que se resume à “Síndrome psicopática, apresentados por um diagnóstico roteirístico” proposto por Clekley. Vejamos: - Encanto superficial e boa inteligência. - Ausência de delírios ou outros sinais de pensamento ilógico. - Ausência de manifestações psiconeuróticas. - Inconstância. - Infidelidade e insinceridade. - Falta de remorso ou vergonha. - Conduta antissocial inadequadamente motivada. - Falta de ponderação e fracasso em aprender pela experiência. - Egocentrismo patológico e incapacidade de amar. - Pobreza geral nas reações afetivas. - Irresponsabilidade nas relações interpessoais. - Falta especifica de esclarecimento interior (insight). - Raramente suicidas. - Vida sexual impessoal, trivial, e pobremente integrada. - Incapacidade de seguir um plano de vida. - Falta específica de previsão. Gray e Hutchison (1998) juntamente com outros profissionais da área desenvolveram 10 (dez) características próprias da psicopatia de grande importância prática: 1 - Não aprende pela experiência. 2 - Falta-lhe senso de responsabilidade. 3 - É incapaz de estabelecer relações significativas. 4 - Falta-lhe controle sobre os impulsos. 5 - Falta-lhe senso moral. 6 - É crônica ou periódicamente antissocial. 7 - A punição não lhe altera o comportamento. 8 - É emocionalmente imaturo. 9 - É incapaz de sentir culpa. 10 - É egocêntrico. HARE ((apud WAGNER, 2008)), renomado psiquiatra, ao montar sua “Escala Hare” método para reconhecer psicopatas mais utilizados atualmente, só o fez depois de passar por experiência própria. Ao se formar foi trabalhar no presídio de Vancouver, como psiquiatra, uma de suas tarefas era diagnosticar a sanidade para pedidos de liberdade condicional, acabou por se tornar amigo de um presidiário, que de tão envolvente e inteligente tornou-se seu amigo. Os demais funcionários o alertaram para o seu provável engano, que o “amigo” não era quem ele pensava, e o Dr Robert só acreditou quando descobriu que o detento utilizava a cozinha para produzir álcool e vender aos demais detentos e após isto ser descoberto o presidiário sabotou os freios do carro de Hare com frieza. Depois disto o Dr. Robert passou 30 (trinta) anos reunindo características pessoais e métodos para reconhecer psicopatas. Segundo HARE (apud WAGNER, 2008), o critério para avaliação do distúrbio antissocial de personalidade não constitui uma escala, tampouco um teste, na medida em que não fornece normas suficientes precisas. Assim, o perito deve reconhecer ou não a presença de cada um dos critérios, com consequentes basilares na decisão final, isto é, se todos os critérios forem satisfeitos é possível fazer o diagnóstico de distúrbio antissocial de personalidade; na falta de um ou mais deles, referida diagnose não pode ser formulada. Também não pode ser formulada sem a combinação das demais técnicas avaliativas disponíveis nas ciências médica e psicológica. Segundo Wagner (2008) um dos assuntos fundamentais do DSM III, III-R E IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Associação Americana de Psiquiatria) é a diagnose, que recomenda-se, deve ser baseada na observação dos comportamentos exteriores do sujeito, posto que tais observações comportamentais são extremamente afetivas e interpessoais. O DSM IV compreende os seguintes critérios maiores: 1) inobservância e violação dos direitos alheios que se manifesta desde os quinze anos; 2) o individuo deve ter ao menos dezoito anos; 3) presença de um distúrbio na conduta com inicio anterior aos quinze anos de idade; 4) o comportamento antissocial não se manifesta unicamente durante o decurso de uma esquizofrenia ou de um episódio maniacal. Conforme podemos verificar, há diversas classificações e conceitos acerca da psicopatia. Apesar de tamanha diversidade de idéias e incontáveisdefinições, no entanto, ainda encontramos grandes problemáticas acerca destes indivíduos. É de suma importância, como frisa Wagner (2008), a observação de Gomes (2000 apud Wagner, 2008), quanto às investigações empíricas, com grupo de controle ou sem ele (população reclusa), destinadas a comprovar a relação entre a psicopatia e a criminalidade, seus resultados – equívocos desconcertantes e até mesmo contraditórios – ensejam toda sorte de interpretações. Segundo Gomes (2000) a discussão cientifica sobre o problema continua em aberto. 5 – Diferenças entre o delinquente social e o psicopata O psicopata (personalidade psicopática) apresenta falta de adequadas inibições, que o leva a desordens do comportamento e à ação antissocial, enquanto a personalidade pseudo- social ou dissocial (delinquente) se mostra capaz de se adaptar a grupos de comportamento desviado. Essa diversificação apresenta interesse criminológico, pois o grau de imputabilidade é diferente nas duas situações consideradas, da mesma forma que o tratamento a ser adotado e o estabelecimento penal a que se destinam, além do prognóstico de reincidência. 6 – Aplicações forenses 6.1 - Face à lei penal Segundo Magalhães Noronha em (Comentários ao CP, 9/301): “Não tem supressão completa do juízo ético, e são em regra mais perigosos que os insanos”. Assim também entendem os Tribunais: “A personalidade psicopática se revela pelas perturbações da conduta e não como enfermidade psíquica. Destarte, embora não enfermo mental, é o indivíduo portador de anomalia psíquica que se manifestou quando do seu procedimento violento ao cometer o crime, justificando, de um lado, a redução da pena, dada a sua semi-responsabilidade; e de outro, a imposição por imperativo legal da medida de segurança.”(TJSP – Revisão Criminal – Relator Adriano Marrey – RT 442/412) Prevê a nossa legislação, em seu artigo 26, parágrafo único: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” Redução de pena Parágrafo único – “A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.” Embora possamos e tenhamos que fazer que fazer uma resalva na expressão “anomalia psiquiátrica” de Noronha, seu entendimento coincide com o entendimento do ilustre doutrinador Mirabete. Já se tem decidido que, reconhecida no laudo pericial à necessidade de isolamento definitivo ou por longo período, como na hipótese de ser o réu portador de personalidade psicopática, deve o juiz, inclusive por sua periculosidade, optar pela substituição da pena por medida de segurança para que se proceda ao tratamento necessário. Assim também entendeu o emérito Tribunal de Justiça de São Paulo: “Réu com personalidade psicopática e semi-imputável, para fins penais – Cancelamento da pena imposta, com aplicação em substituição da internação em hospital de custodia e tratamento psiquiátrico – “Em conformidade com o direito penal atual, consubstanciado na nova parte geral do Código Penal (art. 26, parágrafo único; 96,i; 98 e 99, com redação dada pela lei 7.209/84) deve o condenado ter sua pena substituída por medida de segurança de internação em estabelecimento adequado ao seu tratamento mental, torna-se imprescindível a substituição da pena imposta pela internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico”. (TJSP – Apelação Criminal 34.943/3 – Relator Djalma Lofrano) Face à periculosidade do agente, por uma questão de paz social, dentre outros fatores, entendemos ser mais conveniente ao agente portador de personalidade psicopática a imposição de medida de segurança a ser cumprida em substituição à redução da pena privativa de liberdade, pois cadeia pública fugiria totalmente ao caráter de ressocialização da pena, pois de nada serviria o tempo que passasse recluso nas penitenciárias devido a sua característica de não aprendizagem com a punição. No mais, em contato com os demais detentos, conforme já dito, é propenso que haja maior desordem do que já existe nas penitenciárias, e que esta seja estimulada pelos próprios agentes psicopatas, que, com sua inteligência acima da média, tornar-se-iam líderes dentre os demais detentos, conseguindo comandar uma legião de seguidores delinqüentes, conseguindo dominar a imensa massa de infratores vindos de lares desajustados, fruto do falido sistema econômico-social brasileiro. Entendemos, portanto, que um psicopata nato e de grau elevado, e que em sua estadia no sistema prisional, por mais rigoroso que seja este sistema, será infrutífero, e, quando de volta à sociedade quando posto em liberdade, continuará a cometer atos infracionais tão ou mais graves do que os que atualmente cometem, mesmo estando recluso. A periculosidade não é condição própria de doença mental. Quando o psiquiatra avalia o doente para o Laudo de Cessação de Periculosidade já o faz em razão do delito índice, ou seja, do delito que motivou a medida de segurança, e isto não precisa estar previsto na legislação. A questão é saber para onde encaminhar este sujeito que não necessitaria mais ficar internado em Hospital de Custodia, mas precisa continuar a receber atenção especializada. Outrossim, Morana (2003) defende ser absurdo o laudo de cessação da periculosidade, e, mais especificamente tratando dos psicopatas, realizou profundos estudos, dos quais concluiu a urgente necessidade de criação de uma instituição própria que abrigasse agentes com transtornos de personalidade de natureza crônica, senão vejamos: A psicopatia, condição médico-legal, refere-se a insuficiência permanente do caráter, sendo refratário a tratamento curativo. A sugestão que consideramos adequada já é realidade em outros países e se mostra eficiente. Assim, deveria existir uma lei que criasse instituições para doentes mentais crônicos egressos de hospitais de custodia e serem gerenciados por psiquiatras forenses. Mais adequado ainda, seria existir uma lei que criasse condição institucional especial para psicopatas com transtorno em grau elevado. Segundo Wagner (2008), no ano de 2004, Hilda Morana foi à Brasília tentar convencer os deputados a criarem prisões especiais para psicopatas. Conseguiu fazer a ideia virar um projeto de lei, mas que infelizmente não foi aprovado. Assim, hodiernanamente, quando eles cometem delitos, os psicopatas, que na maioria dos casos são enquadrados como semi-imputáveis, ora são beneficiados com a redução da pena, ora são submetidos à medida de segurança, geralmente na modalidade de internação. Uma vez internados nos hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico (quando disponíveis vagas para tal), são submetidos aos tratamentos de praxe. Porém, ainda há muita negligência do Estado quanto ao oferecimento de especiais tratamentos a estes agentes. Por esse e outros motivos, tentou a ilustre psiquiatra Dra. Hilda Morana chamar a atenção da sociedade e do governo acerca desta problemática. Apesar de sua tentativa haver restado infrutífera, consideramos ser ela um grande exemplo, pois esta questão clama por solução. Trabalhando diariamente com esta realidade, tanto a Dra. Hilda Morana, quanto diversos outros psiquiatras levantam questionamentos acerca deste assunto, o que infelizmente fica tão somente na esfera de debates entre os profissionais da área médica. Com isso, nossa realidade foi e vem sendo uma só. Uma vez postos em liberdade e de volta ao convívio social, os psicopatas, na maioria dos casos, reincidirão. E isso não é apenas mero sofismo, mas sim estatística. 7 –Caso concreto Para uma melhor elucidação sobre o tema aqui tratado, mister se faz exemplificarmos com um caso concreto o “Psicopata de Contagem”. Marcos Antunes Trigueiro, também conhecido como o “Psicopata de Contagem”, estuprou, torturou e matou pelo menos 05 mulheres na região de Contagem em Minas Gerais. Considerado um serial killer, foi condenado por júri popular pela morte de Ana Carolina Menezes, à (trinta e quatro anos e quatro meses) de prisão, por homicídio triplamente qualificado, que estão sendo cumpridos na Penitenciária Nelson Hungria em Contagem-MG. Analisando-se os fatos e a maneira fria como o próprio Marcos descreveu os crimes, podemos perceber que ele não aparentou menor sentimento de culpa ou remorso por desapontar, magoar, enganar e tirar a vida de várias pessoas. 8 – Visita Técnica RELATÓRIO DA VISITA TÉCNICA FEITA A (CAMPS) CAMP (CENTRO DE APOIO MÉDICO E PERICIAL DA SECRETARIA DE ESTADO DA DEFESA SOCIAL), EM RIBEIRÃO DAS NEVES, DIA 13/4/2011 e 20/04/2011. No segundo período do curso de Direito uma das disciplinas que consta em nossa grade curricular é a Psicologia Aplicada ao Direito, que é a ciência dos fenômenos da vida mental. Em síntese, nos remete ao emocional humano. Dentre todas as atividades concernentes ao curso, estudamos com certa relevância, a psiquê social. Embuídos deste espírito de diferenciação ingressamos em um trabalho de campo, para avaliação prática do conteúdo estudado em sala. Nos deslocamos para a cidade de Neves, com o intuíto de fazermos uma constatação dos fatos apresentados em sala de aula. Avaliarmos, de maneira pessoal, os cidadãos desprovidos de liberdade por cometer infrações devido seus tanstornos mentais ou apenas suspeita. Fomos em grupo de 10 alunos e a nos acompanhar estava a professora de Psicologia do curso. Ao chegarmos, nos recepcionou uma funcionária e um Agente de Segurança Penitenciária. Devemos ressaltar a beleza dos jardins, cuidado com esmero pelos próprios detentos, que alí estão por serem considerados pela Justiça como inimputáveis. A Justiça, de acordo com os preceitos de nossa Carta Magna, em seu artigo 5, inciso XLIX, nos diz:"É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral". Para estes indivíduos, "psicologicamente afetados" e que não deveriam incluir os casos de psicopatia, o Estado criou os Centros de Apoio Médico onde são submetidos a tratamento adequado à situação de cada um, sempre acompanhados diariamente por profissionais altamente qualificados, tais como: psicólogos, psiquiatras, médicos, enfermeiros, assistente social, dentre outros. Estes detentos, de acordo com o seu grau de periculosidade, são levados a participar de trabalhos internos, como a laborterapia, a jardinagem, a terapia ocupacional, frequentar uma escolinha, enfim eles são de uma maneira peculiar "chamados" a retornarem para o mundo real. O Centro de Apoio visitado têm capacidade para 110 detentos. Hoje abriga 92. Quatorze cumprem medidas de segurança. Todos são homicidas, apenas um cumpre pena por roubo. O trabalho tem o lado voltado para o social. São fornecidos cinco refeições todos os dias a saber: café da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche noturno. As celas são limpas, e algumas também dispõem de chuveiro quente. Eles têm direito ao banho de sol, e recebem tratamento medicamentoso ao longo dos três anos que ali permanecem. Ao final deste período são submetidos ao exame de "cessação de periculosidade que serve de base para o laudo definitivo". Muitos voltam para a prisão, e outros para o convívio de suas famílias. Não nos pareceu serem maltratados, notamos bastante humanidade para com eles. Existem também os "cadeirantes", as trocas de tiros os deixaram inválidos! O Estado disponibiliza um advogado para atendimento. O CP em seu artigo 41caput, nos fala sobre a Superveniência de Doença Mental: "O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado". Finalizando, citamos uma frase do livro de um dos nossos professores: "o presente é, inegavelmente, fruto do passado..." Há de se ter, um cuidado especial com as crianças de hoje, futuros homens do amanhã! Quem sabe, poderíamos, a longo prazo, sonhar com um futuro sem tantos transtornos.. 9 – Considerações finais Após este breve estudo no universo da Psiquiatria e Psicologia sobre o “transtorno da personalidade antissocial”, podemos perceber que, fazendo uma análise profunda acerca de todas as características que denotam esta personalidade, certamente chegaremos à conclusão de conhecer ao menos uma pessoa que podemos considerar ser um psicopata em algum grau. Também é certo que iremos nos remeter a esta pessoa que julgamos ser um psicopata em certa medida ao menos como um “mau caráter”, ou uma pessoa inescrupulosa, como nos faz refletir a professora de Psicologia. Por sorte, a maioria dessas pessoas não tem inclinação ao cometimento de homicídios ou de delitos graves, e usam seu instinto de maldade meramente para ter bom status na sociedade, mesmo que para isso precise ser desonesto, estelionatário, trapaceiro, etc. Entretanto, quando desenvolvem a violência, são seres de alta periculosidade e dignos de muita preocupação e cautela. Mesmo após presos e condenados, esta preocupação não deveria cessar, o que infelizmente não acontece. O Estado parece desconhecer esta realidade, preocupando-se apenas e tão somente com projetos de lei que visam a redução da maioridade penal. Nem quando acontece um homicídio de conhecimento público cometido por um psicopata, o Estado preocupa-se com esta latente questão, acreditando que o simples fato de condenar o autor a décadas de prisão será a panacéia. Porém, após este estudo, concluímos que esta questão é sim muito digna de preocupação e clama por uma solução, pois as barbáries cometidas por pessoas portadoras de personalidade antissocial na forma da psicopatia certamente não se resumem aos poucos casos que chegam ao conhecimento e clamor público. Por derradeiro, as reflexões ora apresentadas visam realçar a necessidade de uma maior atenção do Estado através de um estudo mais aprofundado das Medidas de Segurança, protegendo a sociedade das práticas infracionais cometidas por agentes altamente perigosos, portadores de transtorno específico e antissocial da personalidade, ou seja, a psicopatia, para a construção de meios efetivos de preservação da boa estrutura social. Até o presente momento, o Brasil ainda não dispõe de meios e exames para diagnosticar indivíduos com transtornos da personalidade dessa natureza, de difícil diagnóstico, grave e ainda sem exata cura pela ciência e não considerada doença mental, não pressupondo uma anormalidade apenas psíquica. No ano de 1954, em seus trabalhos Kurt Schneider cunhou o termo personalidades psicopáticas, definindo-as como “personalidades anormais, que sofrem por causa de sua anormalidade ou que, impelidos por ela, fazem sofrer à sociedade”. Referências CASOY, Ilana. Serial Killer: louco ou cruel? São Paulo: Madras, 2004. DEBATES sobre psiquiatria forense, São Paulo, s.d. Disponível em . Acesso em 12/02/2007. MAGESTE, Paula. Psicopata: você conhece um. Revista Época. Editora Globo, v 314, n. 3, mai., 2004. FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia Jurídica – 2. Ed.- São paulo: Atlas, 2010. FRANÇA, Marcelo Sales. 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