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Aprendizagem - reconfigurações e sentidos

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APRENDIZAGEM: reconfigurações e sentidos
Diana dos Santos Carmo da Silva
INTRODUÇÃO
Estamos na sociedade da aprendizagem, já que em maior ou menor escala, estamos todos envolvidos em aprender algumas coisas, pois a demanda por diferentes e contínuas aprendizagens é uma marca da nossa sociedade!
Pozo (2002)
Segundo Pozo (2002), a aprendizagem é a marca da sociedade 0contemporânea. É por meio dela que poderemos enfrentar os desafios gerados pela globalização e pelo avanço tecnológico do mundo de hoje. Precisamos estar em constante aprendizagem para gerar conhecimentos, para produzir ideia a fim de nos tornar competentes para transformar essa sociedade que é cada vez mais competitiva e excludente.
Aprender é, então, fundamental e imprescindível para a sobrevivência humana. Sua importância é tanta que nas quatro premissas apontadas pelo Relatório de Jacques Delors, da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI (UNESCO, 1993), como eixos estruturais da educação contemporânea estão: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver. Aprender a aprender significa ser capaz de estabelecer ligações entre os diversos saberes, quer dizer, o aprendizado da teoria, da construção e reconstrução de conceitos e seus significados. 
Aprender a fazer significa ser capaz de agir, de criar e recriar, de trazer à luz dos conhecimentos humanos seu poder de criação e de transformação. Aprender a conviver quer dizer, certamente, ser capaz não só de viver junto, mas respeitar as normas de convivência de uma sociedade, de forma harmônica, compreendida e admitida interiormente. E, aprender a ser é descobrir o seu próprio interior, o enigma do seu “eu”, com os gostos, certezas e valores. Portanto, no contexto atual percebe-se o quão é mister a aprendizagem para o homem e para a transformação de nossa sociedade.
Pensando por esta perspectiva, a grande preocupação esbarra nas indagações: O que é aprendizagem? O que significa aprender? Que relação existe entre aprendizagem, conhecimento e ensino? O que se entende por ensino-aprendizagem? E como as abordagens educacionais e psicológicas definiram a aprendizagem? 
Esse artigo apresenta em um capítulo, os sentidos de aprendizagem reconfigurado a outros conceitos e está organizado em 3 seções. A 1ª seção aborda a relação entre o conceito de aprendizagem com o conhecimento e na 2ª, enfoca sua relação com o ensino. Na 3ª seção trata da aprendizagem como parte intrínseca do processo e suas implicações nas relações entre o ensinar/professor e o aprender/aluno.
1 CONSTRUINDO SIGNIFICADOS – o que é aprendizagem?
A aprendizagem é intrínseca ao ser humano. Eles são seres aprendizes por natureza. Desde o nascimento se começa o processo de aprendizagem: aprende-se a respirar, a mamar, a andar, a falar, enfim, viver e sobreviver. O ser humano aprende por uma questão de sobrevivência: sua e de sua espécie.
Aprender é crescer a cada dia e, é crescendo que se aprende. O homem está num processo constante de crescimento e de aprendizagem que o acompanha ao longo de sua vida. Este processo é natural. Enquanto vive, aprende. Não se pode parar de aprender porque não se pode deter seu próprio crescimento. Não existe o momento de viver e o momento de aprender, ambos acontecem simultaneamente, sem “pensar”, sem um “querer explícito”. Nesse caso é simples, vive-se a vida aprendendo.
Jean Piaget (1896-1980), preocupou-se principalmente como o sujeito aprende, criando assim, com seus estudos, a Teoria do Conhecimento. Para ele (1969), as estruturas mentais são construídas na interação do sujeito e objeto, onde ambos não se opõem, ao contrário, se integram por meio dos mecanismos de assimilação e acomodação. O sujeito assimila novos conhecimentos, integrando-os às suas estruturas mentais já existentes e acomoda-os, modificando ou criando novos esquemas. Nesse processo ativo, ocorre a equilibração que é um novo ponto de partida de todo o processo de construção do conhecimento. É a busca do equilíbrio que num processo contínuo constitui a ação humana, o desenvolvimento mental do sujeito e é esse desenvolvimento que comanda a aprendizagem.
O sujeito aprende na relação com o outro, com o meio. Como diz Mizukami (1996, p. 68) “as relações entre sujeito e objeto são relações epistêmicas”, pois o sujeito constrói o conhecimento a partir de sua relação com o objeto e é a partir das suas vivências e de suas experiências no meio, que o sujeito conhece e modifica o objeto desconhecido. Dessa relação, ativa e dinâmica, ele não só conhece e modifica o objeto, como também este é modificado e transforma o conhecimento do sujeito. Numa relação epistêmica, o sujeito constrói o mundo à medida que constrói o conhecimento físico do objeto, transformando-o, e também, ao construir-se a si mesmo, se alterando e se aperfeiçoando, isto é, um sujeito epistêmico, um sujeito universal, que não corresponde a ninguém em particular. 
O objeto, que é o meio (físico e sociocultural) no qual o sujeito está inserido, o influencia na construção da aprendizagem num processo dialético e de transformação. Nessa interação, o sujeito tem um papel participante e não meramente passivo, receptor, assimilador e, o processo pelo qual ele passa é valorizado, pois o influi diretamente na construção ou não da aprendizagem; é determinante entre a ignorância e o conhecimento. Demo (2000, p. 48) alerta-nos, afirmando que “o que temos de aprender na e da vida não é propriamente resolver os problemas, mas administrá-los com inteligência”. 
No cotidiano da vida, encontram-se muitos problemas, porém, não se pode pensar de uma forma reducionista, no sentido de que ao encontrarmos uma solução para os problemas, estes irão acabar. O problema sempre vai existir, novo ou com outra roupagem. O importante é desafiá-los, aprendendo sempre, numa dinâmica de reflexão e questionamentos, num processo em forma de espiral: problema-solução-problema; onde para a resolução de um desafio/construção de um conhecimento se faz necessária a desconstrução de uma resposta/verdade. Administrar bem a desconstrução e a reconstrução de um problema e sua solução é indicador de construção do conhecimento. A construção da aprendizagem é um processo múltiplo. Não há uma única forma de aprender, de administrar os problemas e de resolvê-los, assim sendo, aprendemos pela realização e resolução das situações, do problema. 
A toda aprendizagem construída no cotidiano da vida, convencionou-se chamar de aprendizagem informal e, de aprendizagem formal aquela construída em uma escola, de forma organizada e sistematizada. A escola é, então, o lugar por excelência no qual o sujeito sistematiza o conhecimento, questiona as verdades e respostas, formula idéias e conceitos, transforma o objeto/meio, enfim, é o espaço/tempo onde se constrói a aprendizagem. É na escola que o sujeito vai aprender a administrar as situações/problemas com inteligência.
 Muitas vezes, porém, a escola assume a função de simples transmissora de informações, instrucionista, assumindo o papel de transferir o conhecimento do professor para o aluno, como nos sinaliza Demo (2001, p. 296) quando diz que “... continuamos profundamente instrucionista em nossa educação formal, como podemos observar nas escolas e universidades, que continuam reproduzindo conhecimento com a maior tranquilidade”. A sociedade, por tradição, vem concebendo uma cultura de aprendizagem que receberam por várias gerações, onde o aluno tinha o papel de captar os conceitos dados pelo professor e internalizá-los, produzindo, assim, a aprendizagem. Dessa forma, o conhecimento seria algo pronto, acabado e não, como se acredita, como algo a ser descoberto, recriado, transformado a todo o momento.
Aprendizagem é um processo que nunca finda, como na expressão lifelong learning; processo de construção e reconstrução do conhecimento, que ocorre na interação do sujeito com o outro e nas suas relações com o meio social.
Percebe-se, então, que a aprendizagem numa abordagemeducacional, tem significado complexo, pois, não pode ser entendida independentemente de outros conceitos que estão a ela relacionados, como por exemplo, conhecimento e ensino.
1.1 Conhecimento e Aprendizagem
Conhecimento é a habilidade, a capacidade que o ser humano tem de entender a realidade e transformá-la. O homem é o único animal que tem a capacidade de não aceitar o mundo como ele é, mudando-o para a sua comodidade e preservação e é o conhecimento que permite questionar as verdades; discutir o passado, analisar o presente e transformar o futuro. Entende-se, portanto, que o conhecimento é a capacidade de agir e não somente a de acumular informações. Conhecimento é o desenvolvimento da mente, do cérebro, da forma de pensar de todos nós, é “a máquina de aprender” (Demo, 2000 p.59).
Conhecimento é mais que um produto da aprendizagem é reconstrução, movimento, é dinâmico e está diretamente interligado à aprendizagem. Por isso, não se pode conceituar estes dois vocábulos de forma estática e isolada. A reconstrução do novo se dá a partir do conhecimento já existente e que está em processo permanente de aprendizagem. Sendo assim, pode-se afirmar que o conhecimento é parceiro da aprendizagem, e que, entre eles existe uma relação harmônica. 
O conhecimento vem antes da aprendizagem, uma vez que se assimila informação advinda de experiências anteriores, e também se pode afirmar que o conhecimento precede a aprendizagem, visto que por meio dele é que se modificam os próprios conceitos, as informações, os conteúdos, suas maneiras de entender o mundo e agir sobre ele. O conhecimento é, então, ponto de partida e de chegada num processo contínuo e múltiplo como explica muito bem Demo (2002, p. 70) ao dizer que “conhecimento é meio, embora aprecie assumir a pose de fim”. 
O conhecimento pode ser entendido segundo duas visões. Na visão positivista, ele é algo que se constrói de fora para dentro, em que o importante é a quantidade de informações e dados a serem recebidos e que deverão ser internalizados e apreendidos pelo sujeito que aprende. Nesta visão, o conhecimento é linear, com início meio e fim e ainda pode ser quantificado.
Na visão sócio-histórica, o conhecimento tem um caráter dialético e temporal (Méndez, 2002). E o sujeito que aprende tem um papel fundamental, pois é ele quem constrói e reconstrói o seu conhecimento de forma ativa a partir de suas interações com o que o cerca. Nesta visão, o aluno participa efetivamente de todo o processo ensino-aprendizagem, pois, o conhecimento vira parte deste processo, e passa a ser pensado, criado e recriado.
Percebe-se, então, que este último enfoque descreve a aprendizagem, o conhecimento e o ensino de forma integrada, onde a aprendizagem é um processo realizado por ambos, professor e aluno, construído por cada um, à medida que questionam e refletem sobre o conhecimento. Os conceitos e as relações entre “o conhecer” e “o aprender” mostram o quanto eles são indissociáveis. Não existe uma linha que os defina, uma fronteira que os separe. Há uma interdependência entre esses dois conceitos.
Demo (2001, p. 296) afirma que “na prática, aprendemos do que já tínhamos aprendido e conhecemos do que já conhecíamos”. A aprendizagem não é fruto de construção, mas de reconstrução do conhecimento. É um processo de inovação que não pode começar do nada, da tábula rasa. Começa-se do que já existe, do questionamento do real para desfazer, desmanchar, encontrar falhas e problemas e a partir daí, produzir um novo conhecimento. Não existe um conhecimento uno e imutável, todo conhecimento é passível de análise, de questionamento e, por fim, de reconstrução a partir de experiências anteriores e da interpretação subjetiva de cada um, num movimento permanente. 
O conhecimento é uma construção que se dá a partir das aprendizagens, dos processos de transformação das informações e experiências anteriores. O conhecimento não nasce do vazio, ele é construído a partir do desenvolvimento do sujeito no processo de assimilação, que segundo Piaget (1969, p, 48) “é uma reestruturação ou uma reinvenção”. É na construção do conhecimento que a ruptura, o desequilíbrio, o erro gera a aprendizagem.
Aprender é pesquisar, investigar, é questionar o conhecimento como verdade e como produto, descobrir a imensa variedade de possibilidades e realizações. Afirma-se, então, que é uma ação, aprendizagem é o ato de “desconstruir” o conhecimento para torná-lo novamente conhecimento. É o desconhecimento tornado conhecido, para logo depois se tornar desconhecido novamente. Aprendizagem é isso, uma constante busca do novo, um processo permanente de investigação, análise e questionamento. Enfim, conhecer é construir conceitos; aprender é a ação de analisá-los, questioná-los e reconstruí-los. Como se dá essa ação? Por meio do ensino? 
1.2 Ensino e Aprendizagem
Para que a aprendizagem aconteça, faz-se necessário, então, ensinar. Ensinar, significando possibilitar oportunidades ao aluno de conhecer e aprender. Logo, percebe-se que, ensinar, também, está diretamente relacionado com aprendizagem e conhecimento. Não se pode pensar em ensino dissociado de aprendizagem. Uma vez que ambos acontecem paralelamente: o professor/aluno ensina e, aluno/professor aprende, numa relação de causa e efeito, na qual ambos trocam saberes e informações. O professor é aquele que ensina para que seu aluno aprenda. Então, não basta somente ensinar, importante, sim, é que o aluno tenha construído conhecimento; que as experiências, os desafios proporcionados pelo professor, tenham conseguido fazer com que ele reelabore o conhecimento. 
Ensinar é a ação de planejar, de selecionar estratégias e experiências, que permitam ao sujeito construir conhecimentos, aprender. Logo, é um eixo de toda a tarefa da educação. Ao se pensar no conceito de ensinar, isolado de aprendizagem, tem-se o ato de transferir conhecimentos/conteúdos. E aí, observa-se que a ação mais importante estaria na transmissão e reprodução desses conteúdos. Ora! Ao se aceitar que ensino é puramente instrução, comunicação de informações, numa visão tradicional de educação, renega-se a aprendizagem construída pelo próprio sujeito, suas descobertas, pesquisas e análises. Dessa forma, não se possibilita e se oportuniza um aprendizado real, afinal, para que haja aprendizagem os sujeitos, professor e aluno, necessitam agir em um processo interativo. Ambos ensinam e aprendem juntos. 
O sujeito não aprende apenas recebendo informações, pois assim só, não é ensino; ele aprende quando o professor, além de transmitir seus conhecimentos, também oportuniza que ele reconstrua esse conhecimento recebido, desenvolva suas habilidades e se torne competente na utilização dessas informações nos desafios futuros. A escola que adota como mais importante de seu processo o ato de ensinar, dissociado do ato de aprendizagem, faz de seus alunos mero receptores de informações, centraliza o ensino no educador detentor do conhecimento e que irá transmiti-lo. 
Nesta escola, o mais importante será a quantidade de conhecimentos/conteúdos adquirida e não a construção de aprendizagem, reconstrução de conhecimentos; mais importante também serão os acertos, isto é, a resposta correta às perguntas feitas numa prova, que deverão ser exatamente iguais as que o professor tem como modelo. Percebe-se aí, então, como diz Demo (2000), um “vazio de aprendizagem” e um, cheio de ensino, de transmissão/memorização. A ênfase nesse processo estará na quantidade de informações memorizadas por meio da repetição.
O contrário, também, não é a solução, pois, ao se enfatizar, na educação, somente a aprendizagem deixando de lado o ensino, com o que Demo (2000) denomina como um “vazio de ensino”, também estará deixando de fazer aquilo que escola se propõe, que é desenvolver a formação integral do indivíduo. Ensinar é importante na medida em que implica compromisso com a aprendizagem. Quando se tem um vazio de ensino, impede-se que o aluno receba a teoria/conhecimento e, aí, resulta no que se pode chamar de um sujeitovazio, comumente nomeado de sujeito sem conteúdo. O sujeito não constrói o conhecimento no vazio, no vácuo, portanto o ensino é indispensável. Ele aprende na interação, na troca; aprende, como cita Demo (2002, p. 87) “na trama do relacionamento social e um dos pontos fulcrais é a presença do professor”. Por conseguinte, para que se tenha aprendizagem, é necessário ensino e é importante a figura do professor como direcionador do processo, fazendo a mediação do acervo de informações e o aluno. É o professor quem propõe situações educativas e contextualizadas para desenvolver a capacidade do aluno em construir seu conhecimento. É o professor e o aluno como parceiros no processo ensino-aprendizagem. 
Contudo, como afirma Perrenoud (2003, p. 33) “ensinar, hoje, é apaixonante, mas é difícil” pois, sabe-se que ensinar é um trabalho árduo e que não se pode estar somente preocupado com o conteúdo, mas também, com todo o currículo, todos os multisaberes, as culturas, a tecnologia, os valores, os sentimentos presentes na vida diária e que não devem ser ignorados dentro dos muros das escolas.
Perrenoud (2003, p. 31) ainda aponta que “ensinar é trabalhar com um leque de sensibilidades, de culturas, de relações com o mundo”. Nesse processo de ensinar, existem vários aspectos que interferem na aprendizagem: as inteligências inter e intrapessoais do professor e do aluno que vão garantir empatia na relação dual; a disponibilidade permanente: de aprender do aluno, como a motivação e o desejo, e do professor, como o aperfeiçoamento de suas aulas, a cultura de cada um com suas várias interpretações de mundo e seus paradigmas. E, por fim, a inteligência emocional necessária para que o aluno entenda suas emoções e desenvolva sua auto-estima garantindo, assim, o sucesso do processo de construção de sua aprendizagem. 
Paulo Freire (1996, p. 52) afirma “saber que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção”. Ensinar é a ação de propor atividades de aprendizagem, onde haja uma interação de pensamentos, informações, idéias e sentimentos dos alunos, do professor e do mundo.
A escola, portanto, tem como principal função, o processo do desenvolvimento humano, isto é, ajudar o aluno a aprender, incentivar o aprendizado e estimular as potencialidades humanas de participação e construção de conhecimento. E, para isso, é preciso que haja uma intervenção, um ensinar, uma ação do professor e do meio, para que ele, aluno, possa se desenvolver de tal modo que tenha possibilidade de construir conhecimento, reelaborá-lo e reconstruí-lo.
Pode-se afirmar, então que, dependendo do “olhar”, da concepção de ensino e de aprendizagem que se acredita e se adota, determina-se que tipo de educação se tem. Ao se dar ênfase, ou ao ato de ensinar ou ao de aprender, de modo dissociado, acaba-se por estar escolhendo o que é mais importante, o professor como detentor do saber e “competente” para ensinar ou ao aluno como agente de construção de seu saber e “competente” para aprender sozinho. O resultado dessa escolha, com certeza, não será a aprendizagem. Precisa-se compreender que é a partir da relação destas duas competências: a de ensinar e aprender, que acontece a construção e reconstrução do conhecimento.
É necessário, para que a aprendizagem aconteça; que o centro da educação esteja dividido no ensinar e no aprender. Os atores, professor e aluno, devem estar juntos, interagindo, enfim, num processo único de ensino-aprendizagem. Precisa-se entender que ensinar é provocar a aprendizagem e, portanto, o ato de ensinar está diretamente relacionado ao de aprender, como um processo.
1.3 Processo ensino-aprendizagem
O ensino precisa centralizar-se no processo de aprendizagem do sujeito que construirá o conhecimento, de forma dinâmica e interativa. Deve ser num processo em que o professor irá orientar seus alunos em sua capacidade de aprender sempre, dia-a-dia e por toda a vida; impulsionando-o a desenvolver os suportes e ferramentas necessárias à realização de seus objetivos e guiá-los na construção de sua identidade pessoal.
É preciso perceber a importância em enfatizar mais o processo do que o produto, pois só assim que se consegue a aprendizagem do aluno. Mas o que é dar ênfase ao processo? Significa enfatizar o movimento que se situa “entre” as duas ações: o aprender e o ensinar, entre os dois sujeitos.
É o aluno o responsável pela sua aprendizagem, na medida em que dá significado e sentido aos conhecimentos ensinados por seu professor. E, é o professor o responsável por ensinar seus conhecimentos aos alunos, num processo de construção orientado e partilhado. Segundo Freire (2001, p. 26):
Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, pedagógica. Estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade. 
A ênfase, então, antes no ensino e depois na aprendizagem, passa a ser dada no processo dessas duas ações: aprender e ensinar. A letra lamed (graficamente, ל) do alfabeto hebraico, significaria ao mesmo tempo “aprender e ensinar”, pois, a palavra aprender é, em hebraico, ללמוד e, ensinar é ללמד . Ao se remover o prefixo e o sufixo do vocábulo aprender e do vocábulo ensinar, temos uma raiz idêntica, o que comprova que não podemos dissociar o ensino da aprendizagem, ambos são um só. A ação do professor e a ação do aluno estão interligadas. É uma só: aprender e ensinar.
 É tão importante ensinar quanto aprender, porque os percursos, a interação, a construção diz mais, muito mais do que as respostas, do que o produto. Nessa nova perspectiva, o mais importante é o processo ensino-aprendizagem, construído na articulação entre o ensinar e o aprender, pois os dois são eixos que se articulam. Na verdade, considerar cada um desses eixos em separado constitui-se o principal equívoco da educação. Isto significa que se deveria começar pela perfeita compreensão desses dois vocábulos e da necessidade de união deles no processo educacional.
Nessa análise, percebe-se que a construção do conhecimento só acontece quando se constitui num constante movimento de troca, e onde esse circula indistintamente entre todos os atores do processo. Essa relação entre ensino e aprendizagem só obtém sucesso quando ambos os atores do processo compartilham objetivos comuns, quando existe uma empatia, uma confiança enfim, uma relação interpessoal entre o professor e o aluno, passando a existir uma cumplicidade no ato de ensinar e de aprender, garantindo, assim, o sucesso esperado.
Mudar a ênfase para o ensino-aprendizagem significa muito mais do que enfocar o processo de ensinar e aprender numa perspectiva construtivista. Significa, também, mudança na prática do cotidiano de sala de aula, na metodologia aplicada, na postura de ambos, professor e aluno e na visão de avaliação desse processo. 
1.4 A Relação entre a Aprendizagem e o Ensino
O processo ensino-aprendizagem é permeado não só pelos elementos de cognição, mas também por toda uma parte afetiva. Na relação entre as ações existe uma carga emocional, na qual determinará o sucesso do processo, pois este depende do fator motivação/desejo/empatia, tanto quanto do intelecto.
Freud (1901) explicita que no processo de transferência, uma relação entre professor e aluno é um relacionamento impregnado de subjetividade, cada qual com seus desejos, pensamentos e necessidades. Assim, um professor pode tornar-se a figura mais importante de seu aluno, porque é objeto de uma transferência. Freud (1901, p. 998) explica essa transferência dizendo:
São reedições dos impulsos e fantasias despertadas e tornadas conscientes durante o desenvolvimento da análise e que trazem como singularidade características a substituição de uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Ou, para dizê-lo de outro modo: toda uma série de acontecimentos psíquicos ganha vida novamente, agora não mais como passado, mas como relação atual com a pessoa do médico. 
 Essatransferência de sentimentos que, muitas vezes são dirigidos aos pais ou outra pessoa responsável pela educação do aluno, são passadas para a figura do professor. O professor passa a ter nas mãos o poder de influenciar seus alunos, o que explica o sentimento de carinho, amor e atenção desses, muitas vezes, pelas primeiras professoras e que, com o tempo, o início da adolescência, essa atenção toda começa a diminuir, uma vez que a relação deles com os pais, também, começa a ficar problemática. Segundo Kupfer (1989, p. 88) “um professor pode tornar-se a figura a quem serão endereçados os interesses de seu aluno, porque é objeto de uma transferência”. 
Podemos exemplificar esse tipo de sentimento da relação professor/aluno no rodapé da prova de um aluno do 9º ano, por sua professora, em que ele expressa seus sentimentos, pois no ano seguinte ela não lhe dará mais aulas.
Na relação entre professor e aluno o valor não está na relação de conteúdos e na qualidade e quantidade de conhecimentos, mas sim na relação afetiva entre os professores e seus alunos. Nesse caso, a relação entre o professor e seus alunos é determinante para o sucesso do processo, pois aqueles que conseguirem, nessa relação, estabelecer empatia, ter um ambiente de sala de aula alegre e motivador, conseguirá um relacionamento estável e seguro e o sucesso do processo. 
Pensar a aprendizagem, então, não se resume basicamente em ensino, conhecimentos, planejamentos, conteúdos e métodos, mas também, em desejos, em transferência de sentimentos, em fenômenos interpessoais, enfim, no aspecto humanizador de todo o processo; onde aluno e professor relacionam-se em busca da superação de problemas e conflitos. Portanto, aprender é conflitante na medida em que envolve aceitação do sentimento de não saber, do erro e o de busca do novo, do desconhecido, a resposta para o problema. E, é nesse processo, que o professor pode intervir de maneira decisiva, aumentando ou minimizando a ansiedade do aluno.
A ansiedade é uma experiência penosa, vivida no dia-a-dia das salas de aula por professores e por alunos de todas as idades e que contribui para o desempenho ruim e/ou fracasso escolar. Ela surge, normalmente, nas situações de avaliação, pois é aí que, para o aluno, a necessidade de aprovação dos pais e dos professores está em jogo. Se o professor optar por uma atitude de negação frente às imperfeições e os erros, provavelmente este aluno terá mais dificuldades em aceitar e admitir suas falhas e viverá uma situação de ansiedade e medo. Segundo o pensamento de Lindgren (1977), o aluno quando está ansioso, deixa de ocupar-se com a construção da aprendizagem para ocupar-se em reduzir, esconder e acabar com a sua ansiedade, desviando assim, seu tempo e suas energias do processo ensino-aprendizagem. 
Podemos dizer que o processo ensino-aprendizagem é carregado de sentimentos e desejos que irão influenciar tanto a relação professor e aluno, quanto o sucesso/fracasso da aprendizagem e a formação pessoal e social do aluno. Ao professor caberá o papel de criar em sua sala de aula um ambiente onde o aprender seja prazeroso, valorizando as pequenas descobertas e, sobretudo, incentivando a curiosidade e a busca de novas respostas para as questões do dia-a-dia. Enfim, o professor a despeito de seus próprios conflitos e sentimentos, terá um papel proeminente no processo de construção do conhecimento e no desenvolvimento pessoal do aluno.
A aprendizagem acontece somente quando existe uma relação entre os sujeitos e não é possível aprender a aprender sem essa relação. Cabe ao professor enriquecer, e valorizar as vivências de cada sujeito/ator/coautor em sala de aula, oportunizando que essas experiências sejam partilhadas e se tornem construções de conhecimento. As interações informais, na vida diária, originam os chamados conceitos cotidianos, enquanto que a construção do conhecimento científico nasce da mediação formal na educação escolar, enfatizando, assim, a importância da inserção das atividades no processo de construção de conhecimentos. 
CONSIDERAÇÔES FINAIS
Aprendizagem é a capacidade de estabelecer as ligações entre os diversos saberes. É um processo que constante na vida dos seres humanos, vive-se a vida aprendendo e, que ocorre na interação entre os sujeitos, entre o sujeito e o objeto e nas suas relações com o meio social. Aprender é um processo natural e inconsciente. 
Existe uma relação profunda entre a aprendizagem, o conhecimento e o ensino. A aprendizagem é o ato de “desconstruir” o conhecimento para torná-lo novamente conhecimento. É o desconhecimento tornado conhecido, para logo depois se tornar desconhecido novamente. Enfim, conhecer é construir conceitos; aprender é a ação de analisá-los, questioná-los e reconstruí-los. 
Ensinar é provocar a ação de aprender, portanto, ensinar e aprender é um processo que se dá na relação entre os sujeitos: professor e alunos, bem como entre os próprios alunos. E a construção do conhecimento só acontece quando se estabelece essa relação de troca, e onde esse circula indistintamente entre todos os atores do processo. E só há sucesso nessa relação quando ambos os atores do processo compartilham os objetivos e sentimentos comuns.
REFERÊNCIAS
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________. Conhecimento e aprendizagem – Atualidade de Paulo Freire In: Paulo Freire y la agenda de la educación latino americana em el siglo XXI. Buenos Aires: CLACSO, 2001.
________. Ironia da educação – mudança e contos sobre mudança. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1987. 
________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 
________. & FAUNDEZ, A. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
FREUD, S. Fragmento da análise de um caso de histeria. In: Obras completas. 2 ed. Rio de Janeiro: Imago, 1901. Vol. VII.
KUPFER, M. C. Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo: Scipione, 
1989.
LINDGREN, H. C. Psicologia na sala de aula – o professor e o processo ensino – aprendizagem. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977.
MÉNDEZ, J. M. A. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto Alegre: 
Artmed Editora, 2002.
MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo EPU, 1996.
PERRENOUD, P. O ensino não é mais o mesmo. In: Presença Pedagógica. Minas Gerais: Editora Dimensão, v.9, n.50, mar./abr., 2003.
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1969.
________. Biologia e Conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1973.
________. Abstração reflexionante: relações lógico – aritméticas e ordem das relações espaciais. Porto Alegre: Arte Médicas, 1995.
POZO, J. I. Aprendizes e Mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002 
� CARMO, D. S. S. Aprendizagem: reconfiguração e sentidos. In: SILVA, A. B.; ALCANTARA, E. F. S.; GUIMARÃES, L. A. P. A Multidisciplinaridade da Docência: olhares e práticas. 1.ed. Campo dos Goutacases, RJ: Brasil Multicultural, 2006.
�Diana dos S. Carmo da Silva é professora do Centro Universitário Geraldo Di Biase. Atua nos cursos de graduação em Licenciatura em Pedagogia, Letras e História, e no Programa de Pós-graduação em Educação Infantil e, em Educação Especial. Mestre em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – FEBF.

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