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corporeidade e motricidade humana

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Prévia do material em texto

Autores: Prof. André De Fillipis
 Prof. Gil Oliveira da Silva Junior
 Profa. Cássia Regina Palermo Moreira 
Colaboradoras: Profa. Vanessa Santhiago
 Profa. Tânia Sandroni
Corporeidade e 
Motricidade Humana
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Professores conteudistas: André De Fillipis / Gil Oliveira da Silva Junior / 
Cássia Regina Palermo Moreira
André De Fillipis
Graduado em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (2007), especialista em Educação Física 
Escolar pela Universidade Nove de Julho (2011), mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba 
(Unimep), com trabalho desenvolvido na Linha de Pesquisa: Lazer, Educação e Movimento Humano. Atualmente é 
Docente da Universidade Paulista (UNIP) no curso de Educação Física Licenciatura e Bacharelado com as disciplinas de 
Corporeidade e Motricidade Humana, Recreação e Lazer, Dimensões Filosóficas e História da Educação Física. Professor 
de Educação Física do Ensino Médio do Colégio Madre Alix. Ministrou o módulo de Recreação e Lazer para o curso 
de Técnico em Hotelaria no Senac/Piracicaba. Experiência na área de Educação Física, atuando principalmente nos 
seguintes temas: recreação, lazer, educação física, motricidade humana e formação profissional, experiência na área 
de Hotelaria e Turismo com viagens de estudo do meio e cruzeiros.
Gil Oliveira da Silva Junior
Formou-se em Educação Física pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Fez mestrado em Treino Desportivo para 
Crianças e Jovens na Universidade de Coimbra, em Portugal, tendo o título reconhecido pela Escola de Educação Física 
e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP). Trabalha com treinamento esportivo com pessoas com deficiência 
e alto rendimento na modalidade Remo. Desde 2012, é professor no Ensino Superior, atuando, principalmente, com 
ensino do esporte, aprendizagem e desenvolvimento motor, crescimento e desenvolvimento humano e a disciplina de 
Corporeidade e Motricidade Humana.
Cássia Regina Palermo Moreira
Bacharel em Educação Física (1996). Mestre em Educação Física (2002), com bolsa Capes, pela Escola de Educação Física 
e Esporte da Universidade de São Paulo (USP). Doutora em Ciências (2011), com bolsa CNPq, pelo Instituto de Psicologia 
(USP). Graduanda em Direito pelas Faculdades Integradas de Guarulhos (FIG – Unimesp). Docente no Ensino Superior em nível 
de graduação desde 2003. Pesquisadora nas áreas de: aspectos psicológicos e filosóficos da Educação Física e do Esporte – 
formação e intervenção profissional; Ética e Direitos Humanos: questões sobre dignidade e corporeidade.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D278c De Fillipis, André
Corporeidade e Motricidade Humana / André De Filipis, Gil 
Oliveira da Silva Junior, Cássia Regina Palermo Moreira. – São Paulo: 
Editora Sol, 2019.
120 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-011/19, ISSN 1517-9230.
1. Corporeidade. 2. Qualidade de vida. 3. Educação física. I. Silva 
Junior, Gil Oliveira da. II. Moreira, Cássia Regina Palermo. III. Título.
CDU 796
U500.75 – 19
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Marcília Brito
 Vitor Andrade
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Sumário
Corporeidade e Motricidade Humana
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA ...........................................................................................9
1.1 A corporeidade na história da humanidade .................................................................................9
1.1.1 O pensamento do corpo da Grécia Antiga à Idade Moderna ............................................... 10
1.1.2 O corpo – do Renascimento a uma nova concepção, com o capitalismo ...................... 20
1.1.3 A corporeidade contemporânea ....................................................................................................... 28
2 A MOTRICIDADE HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................................................... 37
3 A CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA E NO ESPORTE .............................................................. 40
4 O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A CORPOREIDADE ...................................................... 46
Unidade II
5 QUALIDADE DE VIDA E CORPOREIDADE ................................................................................................ 55
5.1 A percepção objetiva da qualidade de vida ............................................................................... 59
5.2 A percepção subjetiva da qualidade de vida ............................................................................. 63
5.3 A relação entre as esferas das percepções objetiva e subjetiva ........................................ 65
6 INSTRUMENTO PARA MEDIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA ............................................................. 68
6.1 Índice de Desenvolvimento Humano – IDH .............................................................................. 69
6.2 Os instrumentos WHOQOL - 100 e WHOQOL - bref .............................................................. 70
7 QUALIDADE DE VIDA E CORPOREIDADE ................................................................................................ 77
8 EDUCAÇÃO FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................... 81
8.1 Esporte e qualidade de vida ............................................................................................................. 90
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APRESENTAÇÃO
A disciplina de Corporeidade e Motricidade Humana tem a finalidade de analisar as vivências da 
corporeidade ao longo da história, mediante a identificação dos paradigmas científicos e das teorias 
que influenciam suas diversas concepções de corpo, trazendo à tona o discurso da corporalidade, e a 
vivência das possibilidades de identificar o corpo, de modo sensívele reflexivo, nas relações consigo 
mesmo, com o outro e com o mundo, bem como o corpo enquanto lugar de construção de saberes e 
abrigo de múltiplas inteligências, sensações, emoções e inciativas crítico-criativas.
Os objetivos desta disciplina são: estabelecer a compreensão da corporeidade e da motricidade, como 
também suas relações em diferentes esferas e épocas da vida humana; ademais, discutir acerca dos 
desdobramentos em concepções atuais, oportunizando assim uma análise das principais características 
dessas tendências, de acordo com pressupostos que embasam a intervenção profissional na área.
Ao fim desta disciplina, com o auxílio deste livro-texto, você será capaz de:
• Conhecer os paradigmas emergentes na ciência – e diversas áreas do conhecimento – e relacioná-
los à corporeidade.
• Analisar algumas das diferentes correntes de pensamento sobre o corpo.
• Refletir sobre o fenômeno da corporeidade e motricidade humana como fundamento para uma 
melhor atuação pedagógica-profissional.
• Ter como auxílio em seu trabalho teórico-prático a dimensão da corporeidade como dinamizadora 
de aprendizagem, valores e princípios, os quais reagem para uma atuação mais humanizada nas 
inúmeras possibilidades de trabalho com o corpo.
INTRODUÇÃO
Hoje em dia, o corpo pode ser estudado por diversas formas e contextos, principalmente dentro da 
Educação Física, em que as áreas de estudos podem ser divididas em contextos biológico, psicológico e 
social. Contudo, a observação do corpo deve ser vista e reconhecida como uma totalidade de aspectos, 
que se interligam e interagem criando uma reflexão de sensações que constituem esse corpo.
Contudo, para entendermos essa totalidade, é necessário colocar em evidência “esse corpo”, o qual 
pertence a uma (ou mais) cultura(s) e com ela(s) se relaciona e se altera, havendo diversas ideias e objetos de 
interação, em especial, mediante o movimento. Assim, a corporeidade é caracterizada pelo preenchimento 
do espaço pela ação do corpo em movimento, criando um homem como o ser no mundo, resgatando a 
ideia de interação do sujeito influenciado pela cultura, e a cultura sendo modificada pelo sujeito.
Com isso, é imprescindível compreender como ocorreu a transformação da conceituação de corpo 
ao longo dos diversos anos de história da humanidade – da concepção grega de corpo até chegar à Era 
Contemporânea –, e como a criação do trabalho mecanizado substituiu o trabalho manual, alterando o 
modo de como o corpo se relaciona com a vida em sociedade, assim como os produtos que ele produz.
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No que tange à abordagem contemporânea, principalmente na área de Educação Física, há de se 
compreender como a mídia altera e coloca padrões corporais em relação à cultura a ser seguida e 
reproduzida, divulgando os padrões de beleza e a corpolatria, ou seja, a adoração/idolatria do corpo.
Ainda, é preciso refletir como a corporeidade e sua relação com a cultura em que o corpo está 
inserido afetam, juntamente com a motricidade, a qualidade de vida do indivíduo. 
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Unidade I
1 CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Os estudos sobre as ações do corpo do ser humano são divididos em diversas áreas de pesquisa, e 
a Educação Física não é uma exceção. As investigações sobre o corpo humano são divididas em áreas 
como a Psicologia, a Anatomia, a Biologia, a Fisiologia Humana e do Exercício, dentre outras.
Todavia, essa segregação do corpo humano em partes não é capaz de retratar o corpo em sua 
totalidade, especialmente o diálogo entre as diversas áreas de estudos, pois são inúmeras as vertentes 
de entendimento, seja na segregação entre corpo e mente e as influências que o mundo exerce sobre 
ambos, seja no inverso, isto é, corpo e mente alterando o mundo em que estão inseridos (SCORSOLINI-
COMIM; AMORIM, 2008).
Essa separação do corpo em partes, principalmente a relação do corpo com a mente (SCORSOLINI-
COMIM; AMORIM, 2008), não é algo contemporâneo. Ela vem desde os primeiros pensadores, que são 
os filósofos da Grécia Antiga, em suas reflexões acerca da existência e função do ser humano no mundo.
Com o passar dos anos, ao longo da Idade Média e no período renascentista, também ocorreu uma 
mudança na concepção de como o corpo era entendido. A Revolução Industrial, que se iniciou na 
Inglaterra, alterou completamente a forma como o corpo é tratado, principalmente sua relação com o 
trabalho. Contemporaneamente, o corpo passa a sofrer um processo controverso, de submissão e poder.
Como pode ser observada nos parágrafos anteriores, a forma como o homem lida com sua corporeidade 
é resultado de construções sociais, as quais são consequência de um extenso processo histórico, em que o 
contexto social interage de uma forma extremamente dinâmica, direcionando e modificando como o corpo se 
expressa. Com isso, o corpo do ser humano carrega a história acumulada de uma sociedade que contém seus 
valores, suas leis, suas crenças, ou seja, sua base para uma construção social.
1.1 A corporeidade na história da humanidade
O homem, ao longo de toda a sua história, apresenta diversas formas e variações de como ele 
entende e trata seu corpo, o qual se comporta e se apresenta de formas distintas, de acordo com 
determinados contextos sociais. Nesse sentido, Gonçalves (2012) retrata que os corpos, em diferentes 
contextos sociais, apresentam diversas técnicas em relação aos seguintes aspectos:
• Controle de estruturas, funções e necessidades corporais básicas para sobrevivência do ser 
humano, como autonomia na obtenção de alimentos, higiene pessoal etc.
• Habilidades motoras fundamentais, como andar, correr e saltar, as quais estão diretamente 
associadas a atividades da vida diária.
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Unidade I
• Movimentos corporais expressivos (exemplos: gestos, posturas, expressões faciais), que são formas 
de expressão não verbais.
• Ética corporal, que contempla as ideias, os conceitos e os sentimentos sobre a aparência do próprio 
corpo e do corpo de outrem (exemplo: pudor e ideal de beleza).
Apesar de se constituírem como elementos identificados e presentes em diversas culturas, há uma 
gama considerável de técnicas corporais que podem se diferenciar quanto à ordenação e interação 
entre elas, assim como alterar a forma como se manifestam em cada sociedade e dentro de uma mesma 
sociedade, conforme características sociais próprias, como sexo, idade, religião, ofício, classe social e 
outros fatores socioculturais (RIGO et al., 2007).
1.1.1 O pensamento do corpo da Grécia Antiga à Idade Moderna
Os primeiros pensadores da Era Antiga, como os filósofos Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.), 
Parmênides de Eleia (530-460 a.C.) e Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.), mais precisamente 
da Grécia Antiga – que é considerada como o berço do pensamento ocidental (CESTARI, 2002) –, 
não tinham a preocupação ou não colocavam em questão uma separação entre corpo e alma – 
entendida como mente (CARDIM, 2009).
Essa ideia de separação não existia, pois o corpo e a mente eram concebidos de modo harmônico, 
compondo um ser único, indivisível e visível. O corpo do ser humano, para os gregos, apresentava uma 
grande abrangência de estruturas em sua constituição. Primeiramente se tinha o soma, que é o corpo 
composto de uma matéria; em seguida se tinha a psique, que é considerada a alma ou a inteligência do 
ser humano, e, por último, mas sem uma ordem hierárquica, tinha-se a pneuma, que era considerado o 
sopro que daria a vidaa essa quantidade definida de matéria (GALLO, 2006).
Para exemplificar como o corpo não era visto de uma maneira segregada da mente (alma), na obra 
Ilíada, de Homero (séc. VIII a.C.), e Antígona, de Sófocles (496-406 a.C.), ocorrem dois episódios de 
morte, nos quais fica claro que o corpo na sociedade grega tinha muita importância, pois era necessário 
enterrá-lo para que a alma pudesse se separar desse ser humano que perdera a vida para se juntar ao 
reino das sombras ou dos mortos.
Além disso, as obras gregas apresentam uma representação do corpo nas pinturas, nos afrescos e nas 
esculturas com grande detalhe e fidelidade às formas do ser humano (CARDIM, 2009).
Com isso, soma e psique, ou seja, corpo e alma não eram realidades segregadas ou separadas, mas 
ao contrário, se completavam, ou seja, um dependia do outro (GALLO, 2006).
Porém o filósofo grego Platão (429-347 a.C.) dá início ao Platonismo, com o gesto teórico de 
fundação da oposição entre corpo e alma, ao considerar um contrário ao outro, obtendo, dessa forma, 
um dualismo (CARDIM, 2009; CAVALCANTI, 2005).
Platão trouxe essa concepção de separação entre o corpo e a alma do ser humano a partir do 
desenvolvimento de uma noção de divisão do mundo em duas realidades: uma realidade real e uma 
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
realidade ideal (GALLO, 2006). Assim, há dois mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível (ou 
mundo das ideias), a saber:
• Mundo sensível: é conhecido por meio dos sentidos, em que os corpos nascem e morrem, sendo 
esta uma realidade sensível, captada pelos sentidos, compostos de matéria, que são dados à 
corrupção e à mentira. Os objetos produzidos nesse mundo são cópias das ideias (mundo ideal) 
perfeitas, porém a matéria é corroída pelo tempo e está fadada ao desaparecimento.
• Mundo inteligível: só poderia ser conhecido por meio do pensamento e da alma, sendo esta uma 
realidade ideal, captada somente pelo intelecto – a última verdade de todas as coisas –, intelecto 
que é perfeito e eterno, sem transformações, pois as coisas sempre serão como elas são, não sendo 
possível o desaparecimento e a destruição pelo tempo.
O ser humano é composto de: um corpo, porção de matéria que habita o mundo real ou sensível, 
portanto, corruptível e que tende à morte; uma alma, que é pertencente ao mundo ideal, logo, perfeita, 
eterna e imortal. Com isso, tudo o que o homem percebe e entende do mundo em que vive não passa 
de uma cópia malfeita do mundo inteligível.
O mundo das ideias
Para Platão, o conhecimento 
verdadeiro é dividido
O mundo inteligível
• Eterno e imutável
• Onde reside a verdade
• Perfeito
Mundo da razão = causa de 
tudo o que existe
Prevalecem as aparências = 
enganosas
Verdade absoluta Reflete a opinião
O mundo sensível
• Percebido pelos sentidos
• Universo material
• Cópias físicas do inteligível
Figura 1 – Representação dos mundos, segundo Platão
O homem, por ser composto de um corpo material e também ter uma alma, acaba por participar ou 
pertencer aos dois mundos, porém o corpo material torna-se um obstáculo para que a alma possa atingir a 
verdade. A alma somente conseguiria atingir a verdade absoluta se conseguisse dominar o corpo, com isso o 
corpo se tornava um túmulo que aprisionava a alma, impedindo ela de conhecer a plena verdade.
Para Platão, a alma comandava e polarizava todas as ações do corpo, ou seja, movia o corpo do seu 
interior, sendo ela o princípio do movimento. E o corpo, que é movido pela alma, é ao mesmo tempo a 
prisão da alma. Mesmo com essa afirmação, o homem não é somente corpo físico ou somente alma, mas 
necessariamente uma junção dessas duas realidades (GALLO, 2006).
Com essa separação, a alma acaba assumindo um papel de uma “quase divindade”, apresentando 
imortalidade, tendo a capacidade de pensar, denotando, assim, um ser único e com identidade. Por 
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Unidade I
outro lado, o corpo é tido como mortal, assumindo várias formas, desprovido de inteligência, sujeito ao 
processo de decomposição, por isso nunca permanecerá idêntico (CARDIM, 2009).
Com isso, o homem acaba apresentando três tipos de alma, que, segundo Platão, são distintos, sendo 
duas almas de natureza inferior, totalmente ligadas ao corpo e suas sensações enganadoras, portanto, 
imperfeitas e mortais, e a terceira alma ligada a uma natureza superior, ao mundo ideal, ou seja, perfeita 
e imortal (GALLO, 2006).
Corpo
Alma superior
Alma inferior Alma irascível
Figura 2 – Separação dos tipos de alma, segundo Platão
A alma superior está ligada à racionalidade e é responsável pelos pensamentos, que são sua principal 
virtude. Segundo Platão, essa alma está localizada na cabeça do ser humano.
A alma inferior está ligada aos bens materiais e à luxúria, que são responsáveis pelos desejos e 
necessidades básicas; sua localização é a região abaixo do abdômen. Por fim, a alma irascível, que é 
responsável pelas emoções e paixões, dando ao homem o ânimo necessário para enfrentar os problemas 
e os conflitos, e que se encontra no peito do ser humano (GONÇALVES, 2012).
 Observação
Alma: identificação de diversas faculdades, das mais simples para as 
mais complexas.
Faculdade sensitiva: função de sentir dor e prazer.
Figura 3 – Platão 
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Com essa ideia de separação entre o corpo e a alma, proposta por Platão, é interessante observar, 
conforme dito anteriormente, a noção de imortalidade da alma e a relação do homem com as divindades 
gregas, pois é mediante a alma que os homens se relacionavam com os deuses e estes os influenciavam. 
Assim, “por intermédio do corpo, a alma dá expressão ao que quer manifestar” (CARDIM, 2009, p. 25).
Tendo essa ideia de corpo sendo controlado pela alma, Platão afirma que existem três tipos de 
temperamentos (ou caráter) que advêm dessas almas, os quais determinavam a ordem social e 
educacional da Grécia Antiga (GALLO, 2006):
• Caráter concupiscível: a alma inferior é predominante e faz tomar decisões com base nos desejos.
• Caráter irascível: a alma que predomina marca as decisões do ser humano baseadas nas emoções.
• Caráter racional: a alma superior predomina, e as decisões são baseadas na racionalidade ou no 
uso da razão.
Alma racional 
ou intelectual
Alma irascível
Alma concupiscente
Figura 4 – Localização das almas, segundo Platão
Na obra República, Platão (2000) descreve que os tipos de caráter determinam como seria a educação 
das crianças e de toda a população, a partir da identificação da alma predominante, e essa identificação 
iria direcionar o lugar de cada pessoa na sociedade.
Para as pessoas com caráter concupiscível, eram destinados trabalhos como artesanato e agricultura. 
Pessoas com essas funções eram submissas às outras duas “classes sociais” consideradas superiores, 
as quais tinham função de manutenção e conservação econômica do Estado. Pessoas dessas classes 
superiores eram educadas até os 20 anos de idade.
Para os indivíduos que apresentavam uma predominância de caráter irascível, lhes era conferida 
a função de guerreiros e guardiões das cidades, pois eles representavam a força de servir do direito, 
recebendo educação até os 30 anos de idade.
E por último, os cargos de filósofos, magistrados e governantes das cidades, eram ocupados pelas 
pessoas com predominância de caráter racional, constituindo a classe social mais elevada e que, por 
conseguinte, exercia o domínio sobreas outras classes. Para Platão, quem apresentava um caráter 
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Unidade I
racional, conhecia a realidade das coisas, a ordem ideal do mundo e da sociedade, e por isso estavam 
aptos a orientar racionalmente o homem e a sociedade para o caminho da verdade. Esses indivíduos 
recebiam educação até os 50 anos de idade.
Para Platão, o corpo era algo tão insignificante que ele considerava que a alma de um filósofo deveria 
se afastar do corpo, pois atrapalhava o raciocínio e os impedia de perceber a verdadeira realidade. Esse 
obstáculo para perceber a verdadeira realidade era causado pelos sentidos e sensações do corpo, como 
a visão, a audição ou a dor (QUEIROZ, 2008).
Os olhos e os ouvidos transmitem alguma verdade ou os poetas têm razão 
em repetir sem cessar que nada ouvimos ou vemos? Visto que, se estes dois 
sentidos são inseguros, então os outros o serão ainda mais, uma vez que são 
inferiores a eles [...] quando não é perturbada pela vista, nem pela audição, 
nem pela dor, nem pela volúpia e, encerrada em si mesma, deixe que o corpo 
lide com essas coisas sozinho [...] (PLATÃO, 1999, p. 126).
 
O Estado assume o papel 
da educação
Educação para todos até os 
20 anos de idade
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O Estado orienta a eugenia 
(reprodução humana) 
1º: 20 anos – pessoas com 
caráter concupiscível – 
trabalhos de artesão
2º: 30 anos – pessoas 
com caráter irascível – 
guardiões e guerreiros
3º: 50 anos – pessoas com 
caráter racional – governo 
da cidade
Figura 5 – Separação dos indivíduos na sociedade, segundo os tipos de alma
O corpo, na óptica platônica, acaba causando guerras, sendo corrupto, e a inteligência ou a alma é 
a única esfera que deve ser investida a respeito de se ter um conhecimento total do mundo em que se 
vive (QUEIROZ, 2008; CARDIM, 2009).
Figura 6 – Escola de Atenas
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É importante deixar claro que essa relação que Platão impõe, da alma sobre o corpo, está estreitamente 
ligada a um entendimento de que existe uma compreensão total do mundo e da humanidade. 
Essa concepção filosófica, principalmente no que se refere ao aspecto da imortalidade da alma, 
advém de uma forte relação do homem com questões religiosas e divinas, no caso, os deuses da Antiga 
Grécia, uma vez que, por intermédio da alma, os deuses influenciavam os homens, os quais deveriam 
ser justos e dominar a si mesmos, suscitando assim uma harmonia do corpo e fornecendo à alma uma 
boa qualidade (CARDIM, 2009).
Esse dualismo foi desenvolvido por Platão, com base na ideia de que corpo e alma possuem realidades 
completamente distintas, porém necessariamente relacionadas. Se o corpo é mortal e imperfeito, se faz 
necessário que a alma seja exercitada, para que o indivíduo se aproxime cada vez mais da perfeição que 
está muito distante do mundo físico (GONÇALVES, 2012).
Dentro do pensamento a respeito dessa relação entre o corpo e a alma, também na Grécia Antiga, deve-se 
citar o filosofo Aristóteles, que sustenta um pensamento diferente do platonismo, uma vez que coloca a alma 
como uma forma interior da vida, mas que está inteiramente ligada ao corpo (CARDIM, 2009).
Figura 7 – Aristóteles 
De acordo com Aristóteles, o homem deve investigar a realidade da natureza, e esse corpo (humano) 
pertencente à natureza, contemplar essa realidade, em um mundo que já é o ideal. E a alma deve ser entendida 
como um princípio vital de todo ser vivo, e ainda mais, é o ato do corpo organizado (CARDIM, 2009).
Aristóteles responderia a Sócrates: Percebemos com ambos, alma e corpo, 
pois a percepção é certa afecção e há apenas uma substância que pode ser 
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afetada: o sujeito que percebe. [...] o sujeito que percebe é composto de 
corpo e alma, mas não de uma substância corpórea separável da substância 
psíquica (AGGIO, 2009, p. 63).
Como retratado no trecho descrito anteriormente, Aristóteles considerava que a percepção da alma 
se dá através da capacidade do corpo de ser sensível aos diversos estímulos presentes no mundo. Essa 
ação de receber um determinado estímulo acaba por desenvolver um processo em que cada órgão 
responsável em receber os diversos estímulos irá interpretá-los de uma forma diferente. Portanto, essa 
interpretação indica um componente cognitivo (AGGIO, 2009).
 Observação
O termo “cognitivo” origina-se do termo cognição, que vem da expressão 
em latim cognoscere, a qual significa conhecer. Em ciência, atualmente, 
quando se fala de aspectos cognitivos do ser humano está-se tratando de 
todos os processos associados ao cérebro – ainda que não exclusivos desse 
órgão –, por exemplo: interpretação de informações advindas do ambiente, 
memória, tomada de decisão, linguagens (atribuição de significados a 
símbolos), raciocínio lógico etc. De certa forma, tudo o que se identifica 
como “pensamento” ou relativo à “mente” pode ser identificado como 
aspecto cognitivo.
Aristóteles também criou a teoria Hilemorfismo, a qual considera que toda a realidade se fundamenta 
em dois princípios: a matéria e a forma. O filósofo entende que esses dois princípios são distintos 
e absolutamente complementares. Nesse sentido, ele considera que o conteúdo (alma) não poderia 
ser separado da forma (corpo), pois um fazia parte do outro, ou seja, o corpo era uma extensão, uma 
realidade física limitada por uma superfície (MOREIRA, 2006). Portanto, corpo e alma são dois aspectos 
distintos, porém inseparáveis, de uma mesma realidade.
A alma era responsável por conservar e reproduzir a vida, e apresentaria três funções distintas – o que 
levava Aristóteles a falar da alma constituída por três partes. A primeira parte com função vegetativa, 
ou faculdades anímicas, tendo como finalidade a regulação das funções biológicas do corpo, e estava 
presente em todos os seres vivos do planeta. Ela era a responsável pelos instintos, impulsos, crescimento, 
reprodução e nutrição (GALLO, 2006).
A segunda parte da alma exercia função ou faculdade sensitiva, sendo responsável pelos sentidos, 
sensações e percepções dos objetos, e ainda, por coordenar os movimentos corporais. 
A última parte é a alma intelectiva ou pensante, exclusiva do ser humano. Ela determina a capacidade 
de pensar, elaborar teorias e formular juízos sobre a realidade (GALLO, 2006).
Como mencionado anteriormente, para Aristóteles era inconcebível uma visão dualista de separação 
entre corpo e alma, pois as ações das faculdades anímicas são possíveis somente por meio de uma 
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relação entre corpo e alma, logo, é impossível haver pensamento sem uma atividade coordenada entre 
corpo e a alma (GALLO, 2006).
 Observação
Faculdade anímica: nutrição, reprodução, sensação, imaginação – 
movimentos que tornam a vida dinâmica.
Mediante esta relação colocada por Aristóteles, a alma é aquilo que anima o corpo, gerando, assim, 
o movimento. Qualquer movimento físico somente é realizado por intermédio da alma e também só é 
realizado o pensamento, que é uma faculdade da alma, porque temos o corpo, estabelecendo assim uma 
relação de dependência entre o corpo e a alma.
A preocupação desse filósofo com o corpo fica clara quando ele faz recomendações às mulheres 
para que, durante o período da gravidez, nãofiquem ociosas, que se alimentem bem, exercitem 
o corpo e mantenham o equilíbrio espiritual para um bom desenvolvimento de suas crianças 
(MOREIRA, 2006).
Para Aristóteles é importante que o corpo se mantenha ativo e seja educado desde a infância, 
porém sem excessos e esgotamentos físicos, evitando problemas e, inclusive, danos físicos 
(GALLO, 2006).
Já na Idade Média, período que é compreendido do século V ao século XV, o corpo do ser 
humano acaba por sofrer um processo de descorporalização, em razão de uma evolução ou uma 
importância contínua da racionalização ou processo racional – ideia muito semelhante à de Platão 
(GONÇALVES, 2012).
Para se compreender esse processo de descorporalização, é necessária certa noção a respeito de 
como o corpo humano era tratado na Idade Média. A maioria das ações do homem, em sua vida 
cotidiana, estava ligada a atividades corporais, sendo o seu corpo instrumento de trabalho, sustento e 
comunicação com a sociedade. Segundo Gonçalves (2012), o corpo tinha características relacionadas à 
noção temporal, de personalidade e de economia.
As ações humanas em relação à noção temporal estão ligadas ao desenrolar natural do tempo, por 
exemplo, trabalhar durante o dia e descansar no período noturno, assim como as estações do ano, que 
irão determinar os períodos de plantar e de colher o que se plantou, ainda, ao crescimento das plantas 
e ao ritmo de reprodução dos animais. Assim, todas as ações humanas são determinadas por uma 
demanda temporal, seja qual for o referencial de tempo.
A ideia de personalidade se relaciona com as ações do corpo do homem ao sistema de castas, sistema 
esse imposto durante a Idade Média, em que o indivíduo nascia “dentro ou fora dos muros”, e ele não 
poderia sair desta condição. Esses muros são referência ao espaço delimitado por altas paredes; em 
seu interior, era comum haver um castelo e algum comércio (como se vê em filmes que retratam essa 
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época, por exemplo), constituindo uma cidadela (pequena cidade). Essa era uma estrutura típica do 
sistema feudal: um modo de produção de economia em que as terras pertenciam a um dono, o senhor 
feudal, que cobrava altos impostos das pessoas que moravam em suas terras. Normalmente o senhor 
feudal vivia nesses grandes castelos, ao passo que o restante da população desenvolvia sua vida ao 
redor – ou dos muros deste castelo (em especial, os artesãos e comerciantes), ou em locais um pouco 
mais afastados (como as próprias áreas agrícolas pertencentes ao senhor feudal, ou em áreas florestais 
razoavelmente próximas).
A economia da Idade Média era orientada para a subsistência, ou seja, os indivíduos tinham atividades 
como agricultura, criação de animais, caça e pesca, para o seu sustento e de sua família. As sensações 
de fome e sede regiam a relação econômica, em que quase não se conhecia a necessidade de haver 
um planejamento e cálculos com ideias monetárias, logo, a economia estava ligada à satisfação das 
necessidades básicas (HUIZINGA, s/d).
A personalidade das pessoas, sobretudo as que moravam fora dos castelos, eram renegadas, 
ou seja, a individualidade não era reconhecida e, portanto, não era valorizada; reconhecia-se 
apenas a classe social à qual a pessoa pertencia. O sistema feudal, que era fundamentado no 
trabalho braçal forçado das classes sociais mais baixas, sendo a nobreza e o clero (Igreja Católica) 
dominante sobre as demais pessoas.
Figura 8 – Representação da sociedade feudal, durante a Idade Média, com separação em classes 
sociais, que determinava a forma como seu corpo e suas ideias iriam se comportar
Assim, no sistema feudal, que ocorreu em grande parte da Idade Média, o corpo era 
compreendido a partir das ideias de subsistência, conformismo e submissão em relação às suas 
condições de vida e desenvolvimento do indivíduo e da população. Com isso inicia-se o processo 
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de descorporalização, liderado por uma instituição que tinha grande poder e influência, social, 
econômica e religiosa nessa época.
Essa descorporalização se dá principalmente por questões religiosas impostas na Idade Média, uma 
vez que a Igreja Católica tinha grande influência no sistema social, comercial e político nessa época 
(DUBY, 2011). Um dos responsáveis pela concepção de corpo dentro dessa Igreja foi Santo Agostinho, 
que o definiu como um cárcere da alma, sendo uma parte orgânica, concebida ao homem, como forma 
de punição (SILVA, 2013).
Essas ideias vão ao encontro do conceito platônico e acabaram por se constituir um dos 
fundamentos da Igreja, aplicando esse dualismo de oposição entre: bem e mal, graça e pecado, 
alma (etérea) e corpo (matéria), Deus e homem e, principalmente, luz divina e trevas eternas 
(ALMEIDA; PETRAGLIA, 2008).
Com essa fundamentação, Agostinho defende uma superioridade da alma, em que o espírito deve se 
sobrepor ao corpo, pois a alma é uma criação divina que deveria reinar e guiar o corpo a praticar o bem.
Agostinho tinha um pessimismo em relação ao corpo do ser humano, em razão das sensações que 
ele produzia e das criações terrenas, que poderiam ser belas e atraentes, mas que não passavam de 
objetos sem qualquer valor (AGOSTINHO, 1996).
Além das sensações, o homem, considerado pecador, apresenta o livre-arbítrio, que é o 
poder de escolher se quer ou não seguir determinada religião ou ordem de fé, e este livre-
arbítrio costuma inverter a chamada “ordem ideal” defendida por Agostinho. O corpo passa a ter 
um controle sobre a alma, provocando assim uma submissão do espírito em relação ao corpo, 
trazendo uma vida de pecado, luxúria e prazer, considerada uma vida de “escravidão” em relação 
ao pecado (CONTRIM, 2000).
O homem somente conseguiria abandonar a vida de escravo do pecado e retornar aos caminhos 
divinos se houvesse a salvação por intermédio da combinação de um esforço pessoal e a vontade de 
Deus. Sem essa vontade, o homem não teria forças para conseguir realizar tal tarefa. Além do mais, 
segundo Agostinho, nem todas as pessoas são dignas de receber a graça divina, e sim apenas uma 
parcela da população (CONTRIM, 2000).
Mediante essa concepção, a alma deveria governar e manter vigilância constante sobre o 
corpo e seus sentidos, para que esses não impedissem que se conhecesse a verdade divina e que 
somente a alma pudesse salvar o corpo, colocando-o no caminho da verdade divina (AGOSTINHO, 
1996; QUEIROZ, 2008).
Essa visão dualista e negativa do corpo, primeiramente colocada por Platão e incorporada aos 
ensinamentos da Igreja, teria reflexos sociais, políticos e educacionais por muitos séculos seguintes 
(ALMEIDA; PETRAGLIA, 2008).
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1.1.2 O corpo – do Renascimento a uma nova concepção, com o capitalismo
Com o advento do Renascimento, que ocorreu aproximadamente entre os anos de 1300 a 
1600 d.C., a racionalidade ou razão foi favorecida por causa de uma série de avanços técnicos 
e científicos; houve uma valorização do trabalho, principalmente do intelecto, da capacidade 
de criação, transformação e modificação do mundo conforme as necessidades dos homens 
(NASCIMENTO; BAUAB, 2010; GONÇALVES, 2012). Isso trouxe a ideia de que o homem era um 
animal racional (aquele que pensa), juntamente com um esquema mecanicista, que era utilizado 
em todas as experiências (CARDIM, 2009).
No campo do pensamento e reflexão a respeito do local ou lugar em que o corpo e a alma ocupam, 
o filosofo francês René Descartes (1596-1650)apresenta na base de seu pensamento a importância do 
método como ponto principal para a construção do conhecimento (CARDIM, 2009).
• Não aceitar uma verdade cuja evidência 
não se conheça.
• Dividir as possibilidades em quantas partes 
forem possíveis.
• Conduzir os pensamentos por ordem, em 
etapas – do simples para o composto.
• Fazer enumerações completas e revisões 
para não se omitir nada.
Evidência
Análise
Síntese
Exaustivo
Figura 9 – O ordenamento do método, segundo Descartes
O método era dividido em quatro partes, que são a evidência, a análise, a síntese e a última parte, 
o exaustivo.
A evidência diz respeito a não aceitar uma verdade antes que se conheçam todas as evidências e as 
condições que a fizeram se tornar uma verdade.
A segunda etapa, após se conhecer as evidências, envolve dividi-las e analisá-las em quantas partes 
ou unidades de análises fossem possíveis.
A síntese, terceira etapa do método, consiste em refletir a respeito das análises realizadas sobre 
as evidências e conferir uma ordem cronológica ou hierárquica aos pensamentos realizados, sempre 
partindo dos pensamentos mais simples para os pensamentos com maiores complexidades.
E a última etapa é fazer uma revisão completa de todo o processo realizado anteriormente, para ter 
certeza de que todas as anteriores foram contempladas e assim conseguir justificar ou verificar se dada 
informação ou conhecimento é realmente verdadeiro.
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Esse método desenvolvido por Descartes (2009) é considerado a única maneira de obter o 
entendimento do conhecimento e da ciência, aplicando-se a todas as perspectivas da sociedade, até 
mesmo para o próprio corpo, ao considerar “um pensamento puro, a correspondência ou adequação da 
ideia ao ideado, do sujeito e objeto, a existência e a veracidade divinas [...] e a distinção real entre alma 
e corpo” (CARDIM, 2009, p. 30).
 Lembrete
Método: instrumento que ajuda a controlar cada um dos passos 
dados e deduzir algo desconhecido a partir de algo conhecido. Em 
sentido amplo, método refere-se a meios para se chegar a um 
determinado fim. Em ciência e em filosofia, os métodos de investigação 
e reflexão são previamente determinados, isto é, são estabelecidos 
antes de se iniciar um estudo.
Figura 10 – René Descartes 
Como mencionado anteriormente, o que está em pauta é uma busca pela verdade, porém essa 
procura é de difícil realização, uma vez que as informações são oferecidas pelos cinco sentidos 
(visão, audição, tato, paladar, olfato), e isso não é considerado por Descartes como uma fonte 
segura de informação.
Por causa dessa desconfiança do filósofo a respeito dos sentidos do corpo humano, a solução foi 
criar o processo de duvidar de tudo, resultando na formulação da expressão cogito ergo sum, que 
significa “penso, logo existo”, trazendo a ideia de racionalidade como verdade inquestionável (SILVA; 
HENNING, 2011).
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Descartes estabelece a subjetividade entre o que ele chama de coisa-pensamento – o sujeito –, 
em oposição radical ao corpo – objeto –, separando assim o sujeito do objeto, o espírito da matéria, 
estabelecendo a oposição entre o homem e a natureza, e todo o pensamento posterior sobre corpo e 
corporeidade com uma concepção separatista e redutora (QUEIROZ, 2008; GONÇALVES, 2012).
Essa separação proposta por René Descartes pode parecer semelhante ao proposto por Platão, que 
também apresentava uma separação entre o que é sensível (corpo) e o que é inteligível (alma/mente). 
Entretanto, nessa nova forma de se separar corpo e alma coloca-se uma concepção cartesiana, quase 
que matemática, em que a alma é o pensamento, e o corpo é somente uma extensão da alma, sendo 
ambos independentes um do outro (CARDIM, 2009).
Sob essas circunstâncias, o corpo-máquina é manipulado e dominado 
tendo em vista o modelo mecanicista: é o modelo da máquina que torna 
possível a compreensão do corpo. [...] por um lado, o homem sabe usar 
as palavras, por outro, ele age tendo em vista o conhecimento (CARDIM, 
2009, p. 32).
O ser humano é composto de duas substâncias: o corpo é a substância extensa ou a coisa extensa, e 
a alma é a substância pensante, ou a coisa pensante. Assim, Descartes (2009) confere ao corpo e à alma 
uma autonomia completa e independente; apesar de a alma estar inserida no corpo, o pensamento 
(alma) e a extensão (corpo) não estão ligados.
Corpo
Espírito
Figura 11 – Mesmo tendo passado muito anos, ainda existe o dualismo corpo e mente
Com essa divisão proposta pelo filósofo tem-se a construção do dualismo cartesiano na ideia 
de formação do ser humano. De acordo com essa interpretação, o homem passou a ser “dividido”, 
“recortado”, o que levou a uma série de conhecimentos segregados (separados) a respeito do ser humano.
Para esse filósofo, fica claro que é o pensamento que controla a extensão, ou seja, o corpo não é 
capaz de se movimentar, sentir, pensar, mas é movido por algo que lhe é tocado; no caso, o que move 
o corpo é a alma (GALLO, 2006).
Logo, o corpo é movido, porém não por si mesmo, trazendo a ideia de corpo-máquina, que é 
manipulado e dominado, com base em um modelo mecanicista (GALLO, 2006; CARDIM, 2009).
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Quadro 1 
Mente Corpo
Consciência pura Sensações
Pensamento Movimentos
Vontade Emoções e paixões
Não biológica Biológico
Compreensão/vontade Áreas confusas entre mente e corpo 
(emoções e percepções)Julgamento
A filosofia cartesiana proposta por Descartes toma como verdade a alma em detrimento do 
copo por causa da busca do conhecimento verdadeiro. A razão – única forma de obter e produzir 
esse conhecimento – constitui-se em uma faculdade da alma; o corpo, mediante os sentidos e 
sensações (como sede, fome, desejos sexuais etc.), é capaz de enganar o ser humano.
Com esse pensamento, Descartes foi um dos precursores da Era Moderna com o paradigma 
cartesiano (VILELA; MENDES, 2003), pelo qual se julgava que a única forma de obtenção de 
conhecimento era por meio da razão e do pensamento intelectual.
O pensamento científico acelerou o surgimento de diversas áreas da ciência, mudou a forma 
como o trabalho era executado, principalmente a partir da Revolução Industrial na Inglaterra, em 
meados do século XVIII, onde ocorreu a mecanização do trabalho e da mão de obra, e, com isso, o 
corpo foi reduzido a um mero instrumento da alma; contudo, o corpo deveria ser exercitado para 
cumprir as ordens da alma (GONÇALVES, 2012).
Além da racionalidade, a crescente ideia do capitalismo mudou a forma como o corpo é visto e 
encarado, pois se perde a ideia de proibição que era proposta pela Igreja na Idade Média, em que 
não era permitida a sua manipulação (CAVALCANTI, 2005).
Na perspectiva científica o corpo passa a ser um objeto de estudo por diversas áreas, 
principalmente pela medicina, em estudos da anatomia, chegando ao ponto de submeter pessoas 
ainda vivas a estudos anatômicos para tentar compreender como acontecia o comportamento do 
corpo junto com a alma, pois a vida estava ligada à presença de uma alma (CAVALCANTI, 2005; 
CARDIM, 2009).
Com o surgimento de uma nova visão a respeito do corpo como um objeto científico, o capitalismo 
encerra uma nova percepção sobre a forma como o corpo é encarado dentro da sociedade; por 
outro lado, a religião não mais apresenta tanta legitimidade sobre essa nova perspectiva.
No entanto, em oposição à forma comoo corpo era tratado e encarado, e principalmente 
contrário aos pensamentos cartesianos de separação (fragmentação) do corpo, o filósofo alemão 
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Friedrich Nietzsche (1844-1900) descarta a ideia de que o corpo é mera extensão controlável da 
alma (GALLO, 2006).
Figura 12 – Friedrich Nietzsche
Nietzsche trata o corpo vivo como uma perspectiva ambiente, ou seja, o corpo inserido em um 
contexto social, diferente da visão platônica e da visão religiosa, que despreza o corpo e o mundo 
em que ele está presente. O filósofo investiga o estado de saúde e doença, bem como a vida afetiva e 
fisiológica que dominam as experiências de um homem vivo.
O corpo humano, no qual tanto o passado mais longínquo quanto o mais 
próximo de todo o devir orgânico torna-se de novo vivo e corporal, por meio 
do qual, sobre o qual e no qual e para além do qual parece fluir uma torrente 
imensa e inaudível: o corpo é um pensamento mais espantoso que a antiga 
alma (NIETZSCHE, 2011, p. 202).
Com essas palavras, o filósofo inverte as concepções anteriores segundo as quais a alma não somente 
se sobrepõe ao corpo, como também o substitui – conforme era abordado pela religião.
A partir dessa perspectiva de corpo vivo, Nietzsche reconhece que é necessário interpretar o que o 
corpo faz, decifrando as linguagens que ele transmite, pois é por meio do corpo que se conhece a alma, 
e não o inverso (CARDIM, 2009).
O corpo é uma grande razão, uma mesma multiplicidade com um único 
sentido, uma grande guerra e uma paz, um rebanho e um pastor. Instrumento 
do teu corpo também a tua pequena razão [...]. Há mais razão no teu corpo 
do que na tua pequena sabedoria (NIETZSCHE, 1987, p. 51).
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 Lembrete
As ideias de um corpo único promovem uma nova visão sobre o 
entendimento do corpo e de suas relações internas e externas.
Na mesma concepção de um corpo interagindo com o meio em que vive, o filósofo Karl Marx 
(1818-1883) entende que os sentidos são recursos tão importantes quanto o pensamento. Com base nesse 
referencial, ele observa que o trabalho é a ideia central para se entender o homem e sua corporeidade. 
Para esse filósofo, no trabalho o homem exerce movimentos que pertencem à sua corporalidade – 
braços e pernas, entre outras partes – com o objetivo de alterar e utilizar a matéria natural para sua 
utilidade; assim, o corpo torna-se humano por sua atividade produtiva (GONÇALVES, 2012). 
Figura 13 – Karl Marx
No entanto, com a concepção capitalista de linhas de produção industrial em massa, o processo de 
criação e produção humana passou a tornar o corpo alienado, sendo somente um mero reprodutor de 
movimentos produtivos, tratando o trabalhador como uma mercadoria (GONÇALVES, 2012).
No livro Manifesto Comunista, os autores Marx e Engels condenam com veemência esse fundamento 
capitalista de exploração do corpo do trabalhador, de sua força de trabalho. No trabalho, conforme 
ocorria na época em que esses autores teciam sua crítica, as características corporais do ser humano, 
como idade e sexo, não têm qualquer tipo de valor ou significado, ou seja, “diferenças de sexo e idade 
não têm qualquer relevância social para a classe trabalhadora. Só instrumento de trabalho, cujo preço 
varia conforme a idade e o sexo” (MARX; ENGELS, 1998, p. 15).
Aquele corpo vivo, participante do processo de criação, produção e transformação da matéria natural, 
tornou-se um corpo mecanizado, diferente da ideia de Descartes, principalmente após a Revolução 
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Industrial, na qual é inserida a mecanização e a automatização das tarefas, sendo mínima a participação 
criativa e de expressão corporal do homem.
O corpo do trabalhador não é somente alienado, mas é um corpo deformado 
pela mecanização e pelas condições precárias de realização de movimentos. 
Enquanto o trabalho com máquinas agride o sistema nervoso ao máximo, 
ele reprime o jogo polivalente dos músculos e confisca toda a livre atividade 
corpórea e espiritual (GONÇALVES, 2012, p. 63).
Figura 14 
Figura 15 – Revolução Industrial na Inglaterra, no século XVIII, onde se iniciou a 
automatização e a mecanização do processo produtivo
 Saiba mais
Para entender um pouco mais como a Revolução Industrial, que, além 
de transformar a economia da época, alterou a forma do corpo de se 
relacionar com o trabalho e a sociedade, assista ao filme:
TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin, Estados Unidos: 1936. 
89 minutos.
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Figura 16 – Cena do filme Tempos Modernos
O quadro a seguir apresenta, de forma sucinta, as ideias dos principais filósofos mencionados 
neste texto, ao quais se dedicaram (entre outros assuntos) a estabelecer relações entre os constructos 
(conceitos) de corpo e de alma (mente/espírito). 
Quadro 2 – Os filósofos e suas concepções a respeito do corpo
Filósofo Concepção sobre o corpo
Platão
Platão baseava suas reflexões na concepção de dois mundos, o 
mundo inteligível e o mundo real, cujo corpo fazia parte do mundo 
real, sendo este imperfeito, corruptível e suscetível a erros. Já a 
alma pertencia ao mundo inteligível, perfeito, sem erros e imortal. 
Traçando assim uma divisão entre corpo e alma, renegando a vida 
que ocorre no mundo real, em detrimento da busca do mundo 
perfeito ou inteligível.
Aristóteles
Diferentemente de Platão, não considerava corpo e alma dois seres 
distintos, mas que a alma era a vida do corpo, sendo observado 
como um complemento do outro, tendo como pensamento-chave a 
observação da vida.
Santo Agostinho
O corpo era o cárcere ou a prisão da alma, o qual levava a alma, 
que era pura e perfeita, ao pecado e, consequentemente, à morte, 
sendo um dos preceitos da Igreja como forma de controle e 
doutrinamento na Idade Média.
Descartes
O corpo era formado por duas substâncias, uma material e outra 
pensante, na qual a alma, que é a substância pensante, controla 
o corpo. A razão era a única forma de se adquirir conhecimento, 
implementando, assim, o pensamento ou a ideia cartesiana de que 
a razão sempre será a razão e controlará o corpo.
Nietzsche
Contrário à ideia cartesiana de Descartes, não acreditava que 
o corpo fosse somente um máquina controlada pela alma, 
e o conhecimento, adquirido apenas pela razão, mas que o 
corpo interagisse com o ambiente, a sociedade em que ele está 
inserido. Só seria possível entender a alma conhecendo o corpo 
primeiramente, e não o contrário.
Karl Marx
O trabalho era a ideia-chave para entender como a corporeidade do 
homem se expressava, pois o seu corpo era utilizado para construir 
e alterar a natureza para o seu uso, porém o ideal capitalista 
deforma e desfigura o corpo, tornando-o totalmente alheio à 
produção e ao processo criativo.
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Unidade I
1.1.3 A corporeidade contemporânea
A visão dualista, desenvolvida principalmente pelos filósofos Platão e René Descartes, é antiga, 
porém permanece fortemente no homem e principalmente na sociedade.
Pensadores como Nietzsche e Marx mudam a forma de compreender o homem e, particularmente, a 
maneira como o corpo é observado – em contraposiçãoao pensamento dualístico e cartesiano do corpo, 
sempre oprimido pela alma ou pela razão.
As novas concepções de corpo de Nietzsche e Marx suscitaram modificações no pensamento 
contemporâneo, atribuindo-se especial atenção para a importância do corpo dentro de uma 
visão mais complexa do que é o ser humano e de suas relações com o mundo em que ele vive e 
se desenvolve.
Michel Foucault (1924-1984) e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), pensadores contemporâneos, 
podem ser destacados por terem essa visão mais complexa e abrangente das relações do corpo com o 
mundo, corpo esse que altera a si mesmo e o próprio mundo.
Figura 17 – Maurice Merleau-Ponty
O filósofo Merleau-Ponty traz em seus trabalhos a ideia totalmente contrária ao dualismo, visão 
cartesiana e mecanicista introduzida por Descartes, ao afirmar que o homem é um ser vivo, inserido 
em um meio definido, que parte de um desenvolvimento de projetos e atua na mudança desse meio 
(QUEIROZ, 2008).
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Figura 18 – Michel Foucault
 Michel Foucault trata o corpo como manifestação da esfera política, sendo alvo de relações de 
poderes dentro da sociedade moderna. Essa percepção de manipular o corpo de acordo com interesses 
políticos é utilizada desde a Idade Média, mediante castigos corporais e torturas, os quais se estendem 
até a Idade Moderna e Pós-Moderna (Contemporânea), sendo o corpo treinável, submisso e “dócil”, 
passível de controle e manipulação (QUEIROZ, 2008).
1.1.3.1 O corpo segundo Merleau-Ponty
O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty dá início a uma nova época, em uma filosofia para a vida, 
considerando-se de forma imprescindível a historicidade, a subjetividade, a cultura e a sociedade, que 
interferem no desenvolvimento individual, na formação da pessoa.
A partir desta perspectiva mais ampla e complexa (pois se considera vários fatores em interação), o 
sujeito tem sua plenitude em subjetividade, sendo este recortado pela história, em que o corpo é o elo 
entre o indivíduo e a sua história. Entende-se que isso irá refletir em diversas decisões teóricas e práticas 
de sua vida e do seu conhecimento (NÓBREGA, 2007).
 Saiba mais
Leia o artigo a seguir para compreender a trajetória de Merleau-Ponty:
NÓBREGA, T. P. Merleau-Ponty: o filósofo, o corpo e o mundo de toda 
a gente! CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 15., 2007, 
Recife. Anais eletrônicos... Recife: Conbrace, 2007. Disponível em: <http://
www.cbce.org.br/docs/cd/resumos/129.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2016.
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Unidade I
O ponto marcante da concepção de Merleau-Ponty sobre o corpo é exclusão da ideia cartesiana 
e da separação, ao eliminar os pensamentos do empirismo e do racionalismo, em que se precisava 
escolher um dos lados, o racional, e tem como julgamento o saber ou a coisa como consciência 
(GONÇALVES, 2012; CARDIM, 2009). 
 Observação
O racionalismo reduz todos os fenômenos do mundo a uma validação do 
conhecimento racional. Ao passo que o pensamento empírico, ou empirismo, 
toma o mundo como realidade em si mesmo, sem qualquer reflexão. 
A ciência, com uma visão positivista, entende a percepção como algo distinto das sensações, mesmo 
sendo uma casualidade na questão de uma resposta condizente com um estímulo dado pelo mundo 
(NÓBREGA, 2008). Com isso a percepção é um ato pelo qual a consciência compreende um determinado 
objeto, utilizando as sensações como instrumento.
Para Merleau-Ponty, a sensação não é um estado de consciência nem uma qualidade – como é 
definido por diversas correntes intelectuais –, e sim uma compreensão em movimento (NÓBREGA, 
2008). Portanto, para esse filósofo, a percepção é uma atitude corpórea.
Essa mudança de paradigma realizada por Merleau-Ponty a respeito das sensações modifica 
a forma como a percepção pode ser interpretada, ou seja, diferentemente de como é adotada pela 
razão, pelo intelectualismo, que descrevem a percepção somente como uma “causalidade linear de 
estímulo-resposta” (NÓBREGA, 2008, p. 142).
Segundo Merleau-Ponty, a percepção é a apreensão do sentido ou dos sentidos que se faz através 
do corpo, pelo corpo, sendo essa uma expressão criadora, com diferentes formas de observar e interagir 
com o mundo (NÓBREGA, 2007; 2008).
Esse pensamento tem como objetivo buscar a compreensão do homem de uma forma 
integral, desenvolvendo a ideia de um “ser-no-mundo”, o qual recebe um caráter ambíguo, sem 
a separação de corpo e alma, nem de corpo e objeto, e sim de pensar no corpo sob a experiência 
do próprio corpo, em uma relação com o mundo ou com outros corpos (GONÇALVES, 2012; 
CARDIM 2009).
O corpo é tratado como um campo criador de sentidos, porque a percepção não é uma 
representação da mente, mas sim um acontecimento da corporeidade. O corpo sensível, que é 
feito da mesma matéria que o mundo, pode assim interagir com ele, dando ao mundo um sentido 
aos seus acontecimentos, e ao mesmo tempo tem a difícil tarefa de escolher e tomar decisões 
(NÓBREGA, 2007; 2008).
Dessa forma, é interessante observar um ponto primordial: o corpo tem uma intencionalidade. 
Essa intencionalidade é refletida pelo movimento, que é a concepção principal dessa 
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intencionalidade; na falta de movimento, a percepção do corpo é confusa, pois lhe falta 
intencionalidade, própria do movimento.
Portanto, com essa nova realidade do corpo, a sua intencionalidade é refletida pelos movimentos, 
que permitem ao corpo sentir e perceber o mundo, os objetos e os outros corpos, e ainda, possibilita 
ao indivíduo imaginar, sonhar, desejar e pensar em outras características do corpo e do sujeito. Esse 
comportamento é reconhecido como exercício da corporeidade, sendo esse um aspecto da consciência 
e da relação do olhar com o “espírito” que vem do mundo (MERLEAU-PONTY, 2006; NÓBREGA, 2007; 
2008; MACHADO, 2010).
Tenho consciência de meu corpo através do mundo e tenho consciência 
do mundo devido a meu corpo [...]. O corpo é o veículo do ser do mundo, 
e ter o corpo é, para uma pessoa viva, juntar-se a um meio definido, 
confundir-se com alguns projetos e engajar-se continuamente neles. 
O corpo é o lugar onde transcendência do sujeito articula-se com o mundo 
(GONÇALVES, 2012, p. 66).
Essa realidade e intencionalidade, ou seja, a subjetividade proposta por Merleau-Ponty, está ligada 
à noção de liberdade, em que o mundo existe independentemente das formulações individuais do 
homem a respeito dos fatos, porém o mundo não está totalmente constituído e essa construção 
depende de ações individuais e coletivas.
Logo, a liberdade é a interação entre o interior e exterior do ser humano, e as escolhas são feitas em 
determinadas situações. Essas escolhas são resultado de uma estrutura psicológica e histórica, tendo 
uma mistura entre o tempo natural, o tempo afetivo e o tempo histórico.
Merleau-Ponty também considera o que ele denomina campo da subjetividade: o contexto histórico, 
as relações sociais, o diálogo em relação à afetividade do sujeito, já que é uma experiência corporal e 
não intelectual, e que é conquistada pelo movimento e pela percepção:
A percepção sinestésica é regra, e, se não percebemos isso, é porque o saber 
científico desloca a experiência e porque desaprendemos a ver, ouvir e, em 
geral, a sentir para deduzir de nossa organização corporal e do mundo tal 
como concebe o físico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir (MERLEAU-
PONTY, 1994, p. 308).
Considerando destaforma, o homem desaprendeu a conviver com a realidade do corpo e a experiência 
que os sentidos trazem, sempre privilegiando a razão ou o intelecto (NÓBREGA, 2008).
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Unidade I
 Saiba mais
A respeito da relação entre a corporeidade e a subjetividade desenvolvida 
por Merleau-Ponty, leia:
DENTZ, R. A. Corporeidade e subjetividade em Merleau-Ponty. Intuitio, 
v. 1, n. 2, p. 298-307, 2008. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.
br/ojs/index.php/intuitio/article/view/4238/3356>. Acesso em: 3 nov. 2016.
Merleau-Ponty não concebe o corpo em partes, ou um conjunto de órgãos dos sentidos 
com funções e atitudes passivas de somente captar os estímulos, mas o corpo de um indivíduo/
sujeito que olha, observa e sente. Essa experiência faz com que o corpo reconheça o espaço como 
expressivo e simbólico. Esse comportamento é o potencial da atividade do ser humano criativo, 
sendo o principal constructo da capacidade de superar e criar estruturas nas experiências vividas 
pela percepção (MACHADO, 2010; NÓBREGA, 2008).
Os significados trazidos pela percepção do mundo expressam realidades estruturais que são 
manifestadas na corporeidade. Pelo corpo do ser humano de forma sensível, ele se efetiva no mundo, o 
qual envolve toda a percepção do ser humano, e também cuja percepção é envolvida pelo corpo. 
Cardim (2009, p. 89) relata que “não podemos abrir mão nem do ponto de vista subjetivo, nem 
do objetivo. O homem é simultaneamente sujeito e objeto, ativo e passivo”, em uma tensão dialética 
(GONÇALVES, 2012).
A experiência do corpo com si mesmo é fundamental para o entendimento na relação do homem-
mundo, pois que nessa experiência existe a ambiguidade do corpo ser, ao mesmo tempo, vidente e 
visível, sentiente e sensível. Como, por exemplo, a mão quando toca algum objeto é, ao mesmo tempo, 
tocada pelo objeto, ou seja, tem-se a existência de uma exploração do mundo juntamente com um 
conhecimento do corpo.
A reflexão não é constituída por uma consciência pura, mas, sim, enraíza-se na 
experiência sensível, na qual se encontram a gênese do sentido e o fundamento 
do mundo cultural [...]. A reflexão nunca abarca a realidade em sua totalidade, 
mas permanece aberta para novas significações (GONÇALVES, 2012, p. 68).
A vivência na percepção e na motricidade é a intencionalidade do corpo pelo movimento, o 
pensamento e as relações do homem com os outros e o mundo que o cerca. Tal vivência ocorre bem 
antes do que a dicotomia ou a separação entre o mundo e o ser humano, sujeito e objeto, como foi 
proposto por Platão e Descartes.
As experiências corporais só podem ser devidamente compreendidas quando forem superadas as 
separações entre o sujeito e o objeto, aceitando-se que o corpo sinérgico não é mero objeto, mas sim 
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composto de partes com receptores sensíveis, como olhos e mãos, ou seja, uma estrutura reflexiva do 
corpo. Não se pode cometer o erro de pensar que o corpo é somente corpo nem somente “espírito”, e 
sim a união dessas estruturas contrárias.
O pensamento de Merleau-Ponty é composto da ambiguidade de um ser humano com uma 
intencionalidade – não somente uma máquina de representação da alma, mas também com consciência 
e corpo –, tendo uma unidade de raiz sensível, corpórea e da experiência original de ser-no-mundo.
1.1.3.2 O corpo segundo Foucault
A constituição do trabalho de Michael Foucault na concepção do homem moderno está ligada ao 
estudo das relações entre o poder, o saber e o corpo (SILVEIRA; FURLAN, 2003). 
A história dos seres humanos é criada por diversos meios, e esse corpo reflete a cultura em que ele 
está inserido, tornando-se sujeito e apresentando três linhas conceituais (ALMEIDA; BELLO, 2015):
• Objetivação do sujeito produtivo, do sujeito que trabalha, na análise de riquezas e economia.
• O modo como o sujeito se constitui ao longo da vida, por questões internas e externas.
• A forma pela qual o ser humano torna-se sujeito.
O corpo sofre os efeitos do poder e os principais procedimentos de como o poder é manifestado 
sobre o corpo são a disciplina e a regulamentação (CARDIM, 2009). O poder intervém no indivíduo 
materialmente, refletindo no sujeito, em seu corpo, ou seja, em sua corporeidade, seus hábitos, 
sentimentos, emoções e ações (SILVEIRA; FURLAN, 2003).
Esse poder que interfere materialmente na realidade mais concreta do sujeito – o seu corpo, o corpo 
social, adentrando sua vida cotidiana, é caracterizado como micropoder ou subpoder (SILVEIRA, 2007).
O controle que Foucault retrata em seus trabalhos não está relacionado ao poder político 
governamental, como disseminado pela filosofia marxista, mas em todos os locais, como as esferas 
sociais e as diversas classes sociais, atingindo todas as pessoas no processo de instalação das relações, 
nas ações (ou conjuntos de ações) de um indivíduo sobre o outro.
De acordo com esse entendimento, é estabelecido não um poder único, mas diversas práticas de um 
poder cotidiano, o qual abrange todas as estruturas socais, por algum mecanismo de poder, do qual se 
destaca a disciplina.
Essa disciplina, por sua vez, instaura uma política no corpo humano mediante uma série de intervenções 
e controles reguladores, sendo denominada biopolítica da população, ou seja, um controle de massa – e 
não individual, como era realizado na Antiguidade – por meio de penitências e suplícios, portanto, em uma 
microestrutura e uma macroestrutura (ALMEIDA; BELLO, 2015; CARDIM, 2009).
O poder disciplinar é fruto de transformação de uma sociedade burguesa, que desloca o poder soberano 
para o corpo social, e com isso o poder é exercido na forma de micropoderes ou uma micropolítica.
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O poder é aplicado sobre os corpos individualmente, por meio de exercícios direcionados para a 
ampliação de suas forças, criando assim o adestramento e corpos docilizados (SOUZA; MENESES, 2010).
Dentre as principais práticas disciplinares, pode-se ilustrar e enumerar a imposição de gestos, a 
quantificação do tempo, o espaço medido e determinado, o corpo do operário, o espaço do aluno, do 
soldado e os sistemas disciplinadores – como prisões, hospitais e escolas –, que são formas de como o 
poder se constitui sobre o corpo na Idade Contemporânea.
Figura 19 – Ambiente escolar onde os corpos são disciplinados
Figura 20 – A escola tradicional moldando a corporeidade pelo uso da disciplina 
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Figura 21 – O sistema prisional é utilizado para uma doutrinação, por meio de uma disciplina punitiva, 
 para os sujeitos que não têm ações condizentes com as estruturas sociais vigentes
Figura 22 – A cultura de uma pessoa perpassa pelo corpo
Um corpo disciplinado significa um corpo mantido sob um controle – controle que o mantém 
“introjetado”, ou seja, sem a consciência de questionamento por parte do indivíduo. Essa disciplina 
acaba por levar a um autocontrole, portanto, sem necessitar de comandos externos (GALLO, 2006).
Os dispositivos de poder disciplinar são caracterizados pelo detalhe, no sentido de que o corpo 
sofrerá uma forma de poder que irá separar e desmontá-lo para, em seguida, corrigi-lo por meio de uma 
nova mecânica de poder (SOUZA; MENESES, 2010).
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Com isso as práticas disciplinares vão permitir o controle das diversas operações do corpo e a 
subordinação constante de suas forças, impondo-lhe docilidade e utilidade.
Esse corpo dócil está relacionado a uma política de controle da energia produtiva individual, cuja 
disciplina se baseia em quatro elementos (ALMEIDA; BELLO, 2015):
• A distribuição dos corpos em função predeterminada.
• O controle da atividade individual pela reconstrução do corpo como portador de forças dirigidas.
• Organização da formação pela internalização e aprendizagem de funções.
• Composição de forças, pela articulação funcional das forças corporais em aparelhos eficientes.
Segundo Foucault (1987), a origem da disciplina se configura por meio de três formas de adestramento 
do corpo: a vigilância hierárquica, as sanções normalizadoras e o exame.
Vigilância hierárquica
Um sistema de controle sobre o corpo que integra uma rede de controle vertical (hierarquia), 
utilizando-se de meio de observação e conferindo o efeito de fiscalização de produção, principalmente 
em sistemas produtivos, tendo como objetivo o lucro (por exemplo, as fábricas).
Figura 23 – Os sistemas produtivos utilizam-se da hierarquização da disciplina, 
para a fiscalização do processo de produção, otimizando os lucros 
Sanção normalizadora
Um sistema duplo de recompensa e punição, com o objetivo de corrigir e minimizar os desvios 
do sujeito na sociedade onde vive, tendo como premissa a micropenalidade baseada em tempo e 
comportamento, fundamentando-se em leis, programas e regulamentos.
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Figura 24 – Caso o indivíduo não tenha atitudes condizentes com as 
normas e as lei sociais, ele acaba marginalizado e punido
Exame
O exame está relacionado às duas técnicas anteriores (vigilância e sanção) cujas relações de poder 
constroem o saber e constituem o sujeito de relações de poder e saber.
Esses são mecanismos disciplinares com os quais o poder é utilizado sobre o corpo, que o torna 
objeto e alvo de submissão. Por isso a disciplina tem como objetivo fabricar corpos exercitados para 
desempenhos e tarefas específicas, aumentando, assim, a força dos corpos, em questões econômicas de 
utilidade e, ao mesmo tempo, diminuindo o corpo em sentidos políticos de obediência (ALMEIDA; BELLO, 
2015; MOREIRA, 2008; SANTIN, 2008).
Foucault compreende o fenômeno corpóreo como um ponto de vista bélico, um jogo de forças, 
mediante o disciplinamento do corpo por uma força política, em que a disciplina estabelece novas 
relações nos meios em que ela ocorre.
Assim, o corpo é educado com relação a sua expressividade, sensibilidade e criatividade, havendo 
uma reflexão sobre os poderes e as práticas que moldam esse corpo na idade atual.
O corpo até hoje não alcançou uma libertação, pois sempre esteve preso a esquemas que o 
controlassem, desde um corpo “manchado”, que continha uma alma purificada, até um corpo objeto de 
poder, que perpassa a docilidade proposta por Foucault. Hoje o corpo esportivizado pode ser a última 
forma de uma imagem corporal – belo e forte – pela qual se pode ter a ideia de mente sã em corpo são, 
criando os padrões de beleza atuais.
2 A MOTRICIDADE HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA
O corpo humano em movimento sempre foi um dos “encantos” para a Educação Física, 
independentemente de em qual contexto esse movimento está sendo executado, por exemplo, em um 
jogo recreativo, um ambiente escolar, uma dança ou em esportes de alto rendimento.
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No entanto, se a compreensão desse movimento for realizada de uma maneira segregada – por 
exemplo, somente nos aspectos fisiológicos, como a via energética utilizada, ou nos aspectos psicológicos 
como a aferição dos níveis de estresse ou ansiedade –, será que os resultados dessas variáveis irão 
expressar de maneira geral e completa a complexidade do movimento?
Em muitos casos, a Educação Física acaba por ter uma visão reducionista do homem em movimento, 
sem o entendimento das necessidades do corpo ou do ser humano em movimento, excluindo a 
complexidade de um ser e reduzindo-o apenas a um corpo físico, desconsiderando os aspectos 
psicológico, cultural, econômico e político, ou seja, sem uma interação complexa e interdependente 
desses elementos (ZOBOLI; BARRETO, 2011).
Tojal (2011) tem como base o trabalho e a obra do filósofo português Manuel Sérgio, intitulada 
Motricidade Humana: uma Ciência do Homem, livro em que a motricidade emerge como um sinal da 
corporeidade de quem está no mundo para algum objetivo. Com esse pensamento, o movimento está 
relacionado ao entendimento de uma interação com o mundo, assim como o mundo interage com o 
corpo/sujeito, que é um ser complexo.
A motricidade representa a vocação de abertura do homem aos outros e ao 
mundo, funcionando, em certo sentido, como provocação (pro-vocação) que 
o liberta da solidão, para inseri-lo no plano da convivência. É ela também a 
verdade da percepção, entendendo este perceber com o sentido de tornar 
presente qualquer coisa com ajuda do corpo (TOJAL, 2011, p. 27).
Sérgio (1986, p. 11) relata que “não estou diante do meu corpo, estou no meu corpo, sou o meu 
corpo”. Com isso, tem-se a ideia de uma linha complexa entre componentes internos, por exemplo, o 
sistema nervoso; e componentes externos, como a cultura, que é captada a partir das experiências do 
sujeito, conferindo, desse modo, uma intencionalidade a esse indivíduo.
Filosofia
Antropologia
Desporto
História Sociologia
Epistemologia
Fisiologia
Dança
Psicologia
Biomecânica
Reabilitação
Etc.
Educação 
Física
Ergonomia Circo Etc.
Áreas científicas
Domínios de atividade e de estudo
Motricidade Humana
(objeto de estudo)
Figura 25 – A motricidade humana envolve diversos aspectos e áreas de estudos do ser humano
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Com isso a motricidade revela a intencionalidade operante do homem ao se movimentar – 
com sentido e conteúdo – relacionada à existência do ser humano, que tem como objetivo sempre 
se superar, e não apenas se submeter a uma mera reprodução de movimentos preestabelecidos 
(TOJAL, 2011).
Com esse pressuposto, a motricidade irá evidenciar a busca pela superação de algo que interessa o 
sujeito, que é particular de cada indivíduo, sendo a busca por um rendimento máximo (físico, motor etc.) 
apenas um dos seus possíveis focos (TOJAL, 2011).
A Educação Física não pode observar o corpo somente como uma estrutura composta de músculos, 
esqueleto e articulações, que compõem o sistema locomotor, portanto, não deve se preocupar 
exclusivamente com o movimento produzido, mas com o sujeito, o ser humano que produz o movimento 
(MOREIRA; NÓBREGA, 2008).
A motricidade, partindo do próprio corpo, tem um significado para esse corpo, pois apresenta 
uma intencionalidade, um sentido, refletindo e manifestando, assim, a intenção do próprio corpo, 
aumentando o entendimento da percepção, sendo essa a ligação entre o corpo e o mundo (MOREIRA; 
NÓBREGA, 2008).
Dessa forma, motricidade é muito mais que um organismo, composto de um conjunto de conceitos; 
ela é o homem integral em movimento, expressando sua corporeidade nos belos movimentos corporais, 
sempre com intencionalidade, em consonância com o mundo, se relacionando com as coisas e inserindo 
o ser humano em um processo construtivo.
Pela motricidade, o homem tem

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