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Direitos Humanos: Combate ao Racismo e Proteção a Comunidades Tradicionais

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Aula 09
Direitos Humanos p/ DPU (Defensor Público da União)
Professor: Ricardo Torques
 
 
 
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DIREITOS HUMANOS – DPU 
teoria e questões 
Aula 09 – Prof. Ricardo Torques 
 
 
Aula 09 
Combate ao 
Racismo 
Sumário 
1 - Considerações Iniciais ................................................................................................. 3 
2 – Combate ao Racismo .................................................................................................. 3 
2.1 – Introdução .......................................................................................................... 3 
2.2 - Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial
 ................................................................................................................................. 3 
2.3 – Estatuto da Igualdade Racial ............................................................................... 11 
3 – Quilombolas e outras comunidades tradicionais ........................................................... 19 
3.1 – Introdução ........................................................................................................ 19 
3.2 - Conceito ........................................................................................................... 20 
3.3 - Proteção Legislativa ............................................................................................ 21 
3.4 - Estruturação das Políticas Públicas voltadas para a defesa dos direitos de comunidades 
quilombolas .............................................................................................................. 22 
3.5 - Art. 68 dos ADCT, Decreto nº 4.887/2003 e a ADI n° 3.239 .................................... 23 
4 - Proteção aos Povos Indígenas .................................................................................... 25 
4.1 - Proteção aos Índios em nosso Ordenamento Jurídico .............................................. 25 
4.2 - Estatuto do Índio ............................................................................................... 32 
5 – Questões ................................................................................................................ 37 
5.1 – Questões sem Comentários ................................................................................. 37 
5.2 - Gabarito ........................................................................................................... 46 
5.3 – Questões com Comentários ................................................................................. 47 
6 - Resumo .................................................................................................................. 65 
7 - Considerações Finais ................................................................................................ 74 
 
 
 
 
 
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DIREITOS HUMANOS – DPU 
teoria e questões 
Aula 09 – Prof. Ricardo Torques 
 
GRUPOS VULNERÁVEIS 
1 - Considerações Iniciais 
Vejamos o item do edital: 
4.2 O combate ao racismo. 4.2.1 A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial. 4.2.2 O Estatuto da Igualdade Racial. 4.3 O índio. 4.4 Os quilombolas 
e as demais comunidades tradicionais. 
São assuntos específicos que tratam, em síntese, de dois blocos de proteção dos 
Direitos Humanos os negros e os índios. 
Excelente aula a todos! 
2 – Combate ao Racismo 
2.1 – Introdução 
O racismo se funda na convicção da superioridade de determinadas raças, tendo 
em vista motivações variadas, principalmente com relação às características 
físicas e outros traços do comportamento humano. Trata-se, em suma, de uma 
opinião pessoal sobre determinada raça humana que leva a uma posição 
depreciativa e, até mesmo, violenta em relação a uma coletividade. 
O tema do combate ao racismo tem ganhado destaque tanto na seara 
internacional como nacional, em especial com a criminalização de tal conduta. 
São diversos os diplomas internacionais e nacionais que tratam do tema da 
discriminação racial e visam, geralmente com a concessão de direitos e opressão 
de práticas racistas, o combate ao racismo e conscientização da população. 
A seguir veremos os diplomas que tratam do combate à discriminação racial. 
2.2 - Convenção Internacional sobre a Eliminação de 
todas as Formas de Discriminação Racial 
Introdução 
Em superação ao Absolutismo, aflorou, com a 
Revolução Francesa, em 1789, e com a Constituição 
dos EUA, em 1776, a igualdade formal, segundo a 
qual todos são iguais perante a lei. Esses 
movimentos, imprescindíveis ao desenvolvimento 
histórico, representaram a supremacia do Estado de 
Direito, que objetivou garantir os direitos de 
liberdade negativa, que seriam aplicáveis a todos 
os homens, abstratamente considerados. 
O princípio da igualdade, nesse período, é genérico, não considerando as pessoas 
em suas especificidades. Contudo, percebeu-se que assegurar a igualdade 
 
 
 
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DIREITOS HUMANOS – DPU 
teoria e questões 
Aula 09 – Prof. Ricardo Torques 
 
formal não era suficiente para que as pessoas tivessem suas diferenças e 
particularidades respeitadas. 
Houve, assim, com a expansão dos Direitos Humanos, uma ampliação dos 
direitos de igualdade, de modo que se passou a defender a necessidade de 
garantir não apenas a igualdade formal, mas também a igualdade material 
(substancial). 
A igualdade material pressupõe a individualização do 
sujeito. Vale dizer, consiste em considerar a pessoa nas 
suas relações concretas, assimilando suas diferenças. 
Assim, a igualdade (formal) considera a pessoa em abstrato, sem levar em 
conta o sexo, a cor e a classe social. Pela igualdade em sentido material 
pugna-se por um aparato normativo especial, endereçado aos grupos de 
pessoas vulneráveis na sociedade, como forma de reequilibrar tais 
desigualdades. Diante disso, surgem regras protetivas às mulheres, às crianças, 
aos idosos e às vítimas de discriminação racial. 
Nesse contexto, segundo a doutrina, o sistema que compreende a Declaração 
Internacional de Direitos (International Bill os Rights), representa um conjunto 
de normas internacionais endereçadas a toda e qualquer pessoa, genericamente 
concebida. Já os documentos específicos, a exemplo da Convenção Internacional 
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, constituem 
documentos internacionais preocupados com a pessoa segundo suas diferenças 
e relações em concreto. 
Flávia Piovesan1, ao encontro do que foi destacado, postula: 
ao lado do sistema global geral de proteção, organiza-se o sistema especial de proteção, 
que adota como sujeito de direito o indivíduo historicamente situado, isto é, o sujeito de 
direito ‘concreto’, na peculiaridade e particularidade de suas relações sociais. 
 
 
A Convenção 
A Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de 
Discriminação Racial foi assinada pelo Brasil em março de 1966. Após aprovação 
pelo Congresso Nacional, foi depositada junto ao Secretário-Geral da ONU em 
 
1 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 6ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, 
p. 292. 
•Considera todas as pessoas abstratamente iguais.
•Declaração Internacional de Direitos.IGUALDADE FORMAL
•Considera as pessoas iguais tendo em vista suas
condições de vulnerabilidade.
•Convenções específicas.
IGUALDADE MATERIAL
 
 
 
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DIREITOS HUMANOS – DPU 
teoria e questões 
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março de 1968, sendo promulgada internamente por intermédio do Decreto n° 
65.810/1968. 
 
Esse documentointernacional possui como precedentes históricos, segundo 
ensinamentos de Flávia Piovesan2: 
 
O primeiro precedente indicou o ingresso de países vítimas de reiteradas 
discriminações no campo racial, o que motivou a luta contra as violações de 
direitos humanos decorrentes. Os dois últimos eventos citados, por sua vez, 
indicam uma retomada de força daqueles que perderam a guerra, gerando 
preocupação da comunidade internacional, bem como a ocorrência de alguns atos 
nazistas novamente praticados no continente europeu. 
Já no preâmbulo da Convenção, tratou-se de repudiar toda e qualquer 
acepção fundada numa suposta superioridade étnica, que é destituída de 
fundamentação científica, moralmente inaceitável e socialmente injusta e 
perigosa. 
Além disso, percebe-se, também no preâmbulo, a nítida preocupação com a 
urgência em serem adotadas as medidas para reprimir eventuais 
violações por questões raciais e para criar mecanismos positivos de superação 
dessa mazela. 
O conceito de discriminação racial é apresentado no art. 1º, da Convenção, nos 
seguintes termos: 
(...) qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, 
descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou 
 
2 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 13ª edição, 
rev., atual., São Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. 261. 
1966
•assinatura da 
Convenção 
Internacional 
sobre a 
Eliminação de 
todas as 
Formas de 
Discriminação 
Racial
1968
•aprovação no 
Congresso 
Nacional
1968
•depósito do 
Pacto na ONU
1968
•promulgação 
no direito 
interno pelo 
Decreto nº 
65.810/68
P
R
E
C
E
D
E
N
T
E
S
H
IS
T
Ó
R
IC
O
S
ingresso de 17 novos países africanos nas Nações Unidas de 
1960.
Primeira Conferência de Cúpula dos Países Não Aliados, em 1961.
ressurgimento de atividades nazifacistas na Europa e as 
preocupações ocidentais com o antissemitismo.
 
 
 
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restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano, (em igualdade de 
condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político econômico, 
social, cultural ou em qualquer outro domínio de sua vida. 
2. Esta Convenção não se aplicará às distinções, exclusões, restrições e preferências feitas 
por um Estado Parte nesta Convenção entre cidadãos. 
A doutrina, a exemplo de Flávia Piovesan3, compreende a 
discriminação como: 
 
toda distinção, exclusão, restrição ou preferência que tenha por objeto ou resultado 
prejudicar ou anular o reconhecimento, o gozo ou o exercício em igualdade de condições, 
dos direitos humanos e liberdades fundamentais, nos campos político, econômico, social, 
cultural e civil ou em qualquer outro campo. Logo, a discriminação significa sempre 
desigualdade. 
Podemos afirmar que o OBJETIVO CENTRAL da Convenção é a eliminação de 
todas as formas de discriminação racial. 
 
Os Estados-parte, na Convenção, obrigam-se, progressivamente, a eliminar a 
discriminação racial, assegurando a efetiva igualdade substancial, de forma que 
os direitos civis e políticos, bem como os direitos sociais, econômicos e culturais 
(explicitados na Declaração Internacional de Direitos) sejam assegurados a 
qualquer etnia, sem quaisquer formas de discriminação. 
Para tanto, o Estado-parte deve atuar em duas vertentes: 
 proibir qualquer forma de discriminação racial; e 
 promover políticas compensatórias que levem à igualdade substancial. 
Em forma de quadro: 
 
Essa é a temática adotada pela Convenção. Por exemplo, o artigo IV prevê, 
segundo a vertente repressivo-punitiva, que devem ser considerados ilícitos 
penais as seguintes condutas: 
 
3 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 6ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, 
p. 293/4. 
OBJETIVO CENTRAL eliminação de todas as formas de discriminação racial
•Proíbe-se qualquer forma de discriminação racial.
•Criam-se tipos penais para quem causar 
discriminação racial.
VERTENTE REPRESSIVO-
PUNITIVA
•promoção de políticas públicas compensatórias que 
levem à igualdade substancial
•ações afirmativas
VERTENTE PROMOCIONAL
 
 
 
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 difundir ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, incitando a 
discriminação racial; 
 praticar atos de violência contra qualquer etnia ou grupo de pessoas; e 
 prestar assistência ou prover financeiramente atividades racistas. 
Por outro lado, o artigo I, 4, prevê a possibilidade de ação de medidas positivas, 
que nada mais são do que ações afirmativas, segundo a vertente promocional. 
Vejamos uma questão que trata exatamente desse assunto. 
 
Questão – FUNIVERSA/Secretaria da Criança – DF - 
Especialista Socioeducativo - Direito e Legislação - 2015 
Acerca da constitucionalização dos direitos humanos, do Estatuto da 
Igualdade Racial, do combate ao racismo, da constitucionalização dos 
direitos humanos, da proteção a minorias e a demais grupos vulneráveis, da 
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra 
as Mulheres (CEDAW) e da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas 
com Deficiência, do combate ao racismo e da Convenção sobre a Eliminação 
de Todas as Formas de Discriminação Racial, assinale a alternativa correta. 
a) A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial impõe expressamente ao Estado-parte o dever de criminalizar o 
discurso do ódio racial e a participação em organizações racistas. 
b) O Estatuto da Igualdade Racial, pautado, entre outros, pelos princípios da 
inclusão e da igualdade material, parte do pressuposto de que a consecução 
de seus objetivos prescinde da instituição de ações afirmativas. 
c) A CEDAW é insuscetível de ratificação com reservas. 
d) A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial não pode ser denunciada pelos Estados-parte que a ratificaram, por 
expressa previsão nesse sentido. 
e) A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial não prevê a atribuição do Comitê sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação Racial para receber e examinar comunicações de 
indivíduos ou grupos de indivíduos sob a jurisdição de Estado-parte, tendo 
essa previsão nascido a partir de Protocolo Facultativo à Convenção. 
Comentários 
Vejamos cada uma das alternativas. 
A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. De acordo com o art. 4º, 
a, da Convenção Internacional sobre todas as Formas de Discriminação Racial, o 
Estado-parte deve condenar todas as organizações que encorajem qualquer 
forma de ódio racial e declarar tais atos puníveis como delitos. 
 
 
 
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Artigo 4º - Os Estados-partes condenam toda propaganda e todas as organizações que se 
inspirem em idéias ou teorias baseadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de 
pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem étnica ou que pretendam justificar ou 
encorajar qualquer forma de ódio e de discriminação raciais, e comprometem-se a adotar 
imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar qualquer incitação a uma tal 
discriminação, ou quaisquer atos de discriminação com este objetivo, tendo em vista os 
princípios formulados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e os direitos 
expressamente enunciados no artigo V da presente Convenção, inter alia: 
a) a declarar como delitos puníveis por lei, qualquer difusão de idéias baseadas na 
superioridade ou ódio raciais, qualquer incitamentoà discriminação racial, assim 
como quaisquer atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra qualquer 
raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem étnica, como também 
qualquer assistência prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento; 
A alternativa B está incorreta, pois o Estatuto da Igualdade Racial é todo 
pautado em ações afirmativas de implementação da igualdade racial na 
sociedade. 
A alternativa C está incorreta, pois não somente é possível opor reservas contra 
as cláusulas da Convenção Internacional sobre todas as Formas de Discriminação 
contra a mulher, como se trata do documento internacional que mais recebeu 
reservas quanto ao seu conteúdo. Vejamos o art. 28 da Convenção, que deixa 
claro a possibilidade de reservas. 
Artigo 28 - 1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e enviará a todos os Estados 
o texto das reservas feitas pelos Estados no momento da ratificação ou adesão. 
2. Não será permitido uma reserva incompatível com o objeto e o propósito desta 
Convenção. 
3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por uma notificação endereçada 
com esse objetivo ao Secretário Geral das Nações Unidas, que informará a todos os Estados 
a respeito. A notificação surtirá efeito na data de seu recebimento. 
A alternativa D está incorreta, com base no art. 21, da Convenção Internacional 
sobre todas as Formas de Discriminação Racial. 
Artigo 21 - Todo Estado-parte poderá denunciar a presente Convenção mediante 
notificação por escrito endereçada ao Secretário Geral das Nações Unidas. A denúncia 
produzirá efeitos um ano depois da data do recebimento da notificação pelo Secretário 
Geral. 
A alternativa E está incorreta, uma vez que a possibilidade de Comunicações 
está prevista no texto da Convenção. 
Artigo 14 - Todo Estado-parte na presente Convenção poderá declarar, a qualquer 
momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as 
comunicações enviadas por indivíduos ou grupos de indivíduos sob sua jurisdição, 
que aleguem ser vítimas de violação, por um Estado-parte, de qualquer um dos direitos 
enunciados na presente Convenção. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a 
um Estado-parte que não houver feito declaração dessa natureza. 
Direitos Albergados 
O artigo V da Convenção, ao tratar dos direitos abrangidos, 
postula que o objetivo central é garantir a igualdade em 
sentido material, destacando diversos direitos decorrentes 
da igualdade que devem ser assegurados. 
 
 
 
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DIREITOS RECONHECIDOS NA CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO 
DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL 
 tratamento igual perante os tribunais; 
 direito à segurança da pessoa ou à proteção do Estado contra violência ou lesão 
corporal; 
 direitos políticos, incluindo a capacidade eleitoral ativa (votar) e passiva (ser votado) 
em igualdade de condições; 
 direitos civis, destacando-se: 
o liberdade de ir e vir; 
o direito de deixar o país e de retornar; 
o direito a uma nacionalidade; 
o direito de casar-se e escolher o cônjuge; 
o direito à propriedade; 
o direito à herança; 
o liberdade de pensamento, de consciência e de religião; 
o liberdade de opinião e de expressão; e 
o liberdade de reunião e de associação pacífica; 
 direitos econômicos, sociais e culturais, destacando-se: 
o direito ao trabalho; 
o direito de fundar sindicatos e a eles se filiar; 
o direito à habitação; 
o direito à saúde pública, a tratamento médico, à previdência social e aos serviços 
sociais; 
o direito à educação e à formação profissional; 
o direito à igual participação das atividades culturais; e 
o direito de acesso a todos os lugares e serviços destinados ao uso do público. 
Conforme leciona a doutrina, para a proteção das vítimas de discriminação racial 
devem ser assegurados meios e condições para o exercício dos direitos civis e 
políticos, bem como dos direitos sociais, econômicos e culturais em igualdade de 
condições com as demais pessoas. 
Mecanismos de Fiscalização 
Antes de passarmos para análise do texto da Convenção, devemos pontuar 
algumas observações em relação aos mecanismos de fiscalização. 
A referida Convenção instituiu o Comitê sobre a Eliminação da Discriminação 
Racial ao qual compete a coordenação e a organização das diferentes formas 
adotadas para fiscalizar o cumprimento das prescrições constantes do documento 
internacional. 
 
 
 
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DIREITOS HUMANOS – DPU 
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O Comitê é formado por 18 peritos, escolhidos pelos Estados-parte para 
mandato de 4 anos, que atuarão a título individual, ou seja, não representam 
o Estado-parte do qual são nacionais. 
Assim, como a maioria dos tratados internacionais de 
direitos humanos, são três os mecanismos utilizados: 
relatórios, comunicações interestatais e petições 
individuais. Não vamos aqui tecer conceitos e maiores 
explicações para não tornar a aula repetitiva. Vamos, entretanto, pontuar alguns 
aspectos importantes relativamente a esses mecanismos de fiscalização. 
O mecanismo de relatórios está previsto no artigo IX da Convenção, por meio 
do qual, a cada 2 anos, os Estados-parte devem submeter, ao Comitê, relatórios 
acerca do cumprimento das disposições da Convenção, bem como indicar as 
medidas (legislativas, judiciárias e administrativas) tomadas em defesa da 
igualdade racial plena. 
O mecanismo das comunicações interestatais, estabelecido no artigo XI da 
Convenção, somente poderá ocorrer mediante aceitação de ambos os 
Estados-parte: notificante e notificado. 
Mecanismos de Implementação: COMUNICAÇÕES INTERESTATAIS: 
 
Por fim, o mecanismo de petições individuais consolida a capacidade 
processual internacional dos indivíduos e exige que o Estado-parte faça uma 
declaração habilitando o Comitê para receber as referidas petições das vítimas 
de violação de direitos humanos, razão pela qual é denominada de cláusula 
facultativa. 
Caso haja a declaração, a vítima poderá levar ao conhecimento do Comitê de 
Violação de Direitos em razão de discriminação social, que pressuporá, para a 
sua análise, o esgotamento ou demora injustificada nos meios internos 
disponíveis. Uma vez recebida a petição, o Comitê solicitará ao Estado-parte 
informações atinentes ao caso apresentado, que deverá encaminhar explicações 
e indicar as ações e as medidas tomadas. 
O problema das petições individuais é a exigibilidade da decisão dos Comitês, 
uma vez que tais decisões são destituídas de força jurídica. Assim, a única forma 
de sanção poderá ocorrer moralmente perante a comunidade internacional, que 
tomará conhecimento, por meio do relatório anual do Comitê, acerca da não 
solução de uma violação por discriminação racial. 
Estado 
notificante dá 
ciência ao 
Comitê
Comitê solicita 
informações 
do Estado 
notificado
Pelo prazo de 
3 meses, o 
notificado 
poderá 
submeter 
explicações
Se não a 
questão não 
foi 
solucionada, 
poderá 
novamente ser 
submetida ao 
Comitê
 
 
 
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Com isso, finalizamos os principais aspectos relativos à Convenção Internacional 
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial. 
2.3 – Estatuto da Igualdade Racial 
Introdução 
Atualmente, o Estatuto Nacional da Igualdade Racial (EIR) é disciplinado pela Lei 
nº 12.228/2010. Trata-se de um diploma que tutela direitos das pessoas negras. 
E possui os objetivos abaixo relacionados: 
 
Esses objetivos são extraídos do caput do art. 1º, assim disciplinado: 
Art. 1o Esta Lei instituio Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população 
negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, 
coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. 
Ademais, em relação à parte introdutória é importante que conheçamos os 
conceitos adotados pelo EIR, assim esquematizados: 
CONCEITOS 
DISCRIMINAÇÃO RACIAL 
OU ÉTNICO-RACIAL 
 Constitui toda forma de distinção baseada em fatores étnicos ou 
de descendência que impliquem na anulação ou restrição dos seus 
direitos humanos. 
DESIGUALDADE RACIAL 
 Ocorrerá quando for identificado diferenciação injustificada no 
acesso e fruição de bens, serviços e oportunidade em razão de 
fatores étnicos ou de descendência. 
DESIGUALDADE DE 
GÊNERO E RAÇA 
 Refere-se à constatação do fosso entre as mulheres negras e 
demais segmentos da sociedade. 
POPULAÇÃO NEGRA 
 Conjunto de pessoas que se declaram negas ou pardas segundo 
o IBGE. 
POLÍTICAS PÚBLICAS 
 Ações, iniciativas e programas adotados pelo Poder Público 
voltado para a efetivação de direitos humanos, no âmbito de suas 
prerrogativas institucionais. 
De acordo com EIR a garantia da igualdade material entre as pessoas negras e 
as demais etnias é dever do Estado e da sociedade. Essa igualdade pressupõe 
a fruição de diversas prerrogativas, especialmente a participação em atividades 
políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas. Além 
OBJETIVOS DO EIR
Efetivação da igualdade de 
oportunidadades aos negros
Defesa de direito étnicos
Combate à discriminação
 
 
 
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disso, devem ser respeitadas a dignidade e valores religiosos e culturais das 
pessoas negras. 
Notem: 
 
De acordo com o art. 3º, o EIR é considerado diretriz político-jurídica para a 
inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, para a valorização da 
igualdade étnica e para o fortalecimento da identidade nacional brasileira. 
Para a execução das diretrizes, tendo em vista os deveres e objetivos 
assegurados às pessoas negras, deve ser promovida uma série de ações, que 
vem disciplinadas no art. 4º, cujo conhecimento é imprescindível para a nossa 
prova. Essas ações são exemplificativas e prioritárias. Isso significa dizer que 
devem ser adotadas preferencialmente, entre outras que podem ser 
implementadas. 
Vejamos o dispositivo: 
Art. 4o A participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade, na 
vida econômica, social, política e cultural do País será promovida, prioritariamente, por meio 
de: 
I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social; 
II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa; 
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado 
enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas decorrentes do preconceito e da 
discriminação étnica; 
IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à discriminação 
étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas manifestações individuais, 
institucionais e estruturais; 
V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que 
impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e privada; 
VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil 
direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades 
étnicas, inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios de condicionamento 
e prioridade no acesso aos recursos públicos; 
VII - implementação de programas de ação afirmativa destinados ao enfrentamento 
das desigualdades étnicas no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, 
segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, 
acesso à terra, à Justiça, e outros. 
DEVER do Estado e da sociedade
Igualdade de 
participação na 
comunidade.
Respeito à 
dignidade.
Respeito à 
religião e cultura 
próprios.
 
 
 
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Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se-ão em políticas públicas 
destinadas a reparar as distorções e desigualdades sociais e demais práticas 
discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada, durante o processo de formação 
social do País. 
Para a promoção dessas medidas o Estatuto criou o Sistema Nacional de 
Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), cujas linhas gerais serão adiante 
analisadas. 
Direitos Fundamentais 
Neste tópico vamos analisar o tratamento diferenciado conferido a alguns dos 
direitos humanos das pessoas negras. 
Direito à Saúde 
A regra geral consta do art. 6º o EIR: 
Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante 
políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de 
outros agravos. 
§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS) para promoção, 
proteção e recuperação da saúde da população negra será de responsabilidade dos órgãos 
e instituições públicas federais, estaduais, distritais e municipais, da administração direta e 
indireta. 
§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população negra vinculado aos seguros 
privados de saúde seja tratado sem discriminação. 
Foi instituído, para a questão afeta à saúde das pessoas negras, a Política 
Nacional de Saúde Integral da População Negra. Essa Política, disciplinada no art. 
7º do EIR, possui as seguintes diretrizes: 
 Ampliação e fortalecimento da participação de movimentos sociais em defesa 
da saúde da população negra nas áreas de controle social do SUS. 
 Produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde da população 
negra. 
 Informação, comunicação e educação para a redução das vulnerabilidades da 
população negra. 
O dispositivo seguinte, estabelece os objetivos da referida Política, quais sejam: 
 Promoção da saúde, com objetivo de reduzir desigualdades étnicas e combate 
à discriminação nas instituições e serviços do SUS. 
 Melhorias na qualidade de informação do SUS no que tange à coleta, ao 
processamento e à análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero. 
 Fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da 
população negra. 
 Inclusão do conteúdo da saúde dos negros nos processos de formação e 
educação permanente dos trabalhadores da área de saúde. 
 
 
 
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 Adoção dos temas relacionados à saúde da população negra nos processos de 
formação política das lideranças de movimentos sociais para o exercício da 
participação e controle social no SUS. 
Em relação à comunidade quilombola, prevê ainda, o tratamento 
especialíssimo, relativamente à saúde, prevendo a melhorias de condições 
ambientais, saneamento básico, segurança alimentar e nutricional e atenção 
integral à saúde. 
Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer 
Para a garantia dos direitos supramencionados, compete ao Poder Público adotar 
uma série de providências. Entre elas: 
 Promoção de ações o acesso da população negra ao ensino e às atividades 
esportivas e de lazer. 
 Apoio às entidades que mantenham espaço para promoção social e cultural da 
população negra. 
 Desenvolvimento de campanhas educativas para integração da comunidade 
negra. 
 Implementação de políticas públicas para o fortalecimento da juventude negra 
brasileira. 
Vejamos, na sequência, alguns aspectos pontuais relativos a cada um dos direitos 
mencionados. 
Educação 
Entre os assuntos a serem abordadosnos currículos escolares é obrigatório, 
segundo EIR, o estudo da história geral da África e da história da população negra 
no Brasil, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 
Pretende-se, com o ensino de tais assuntos, resgatar a contribuição decisiva da 
comunidade negra para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural 
do País. 
Para tanto, é essencial a formação dos professores e a elaboração de material 
didático específico para a disseminação desses conhecimentos. Do mesmo modo, 
a pesquisa e desenvolvimento voltados para temas referentes às relações étnicas, 
aos quilombos e às questões pertinentes à população negra será incentivado 
pelos órgãos federais. 
Nesse contexto, segundo dispõe o art. 13, o Poder Executivo deverá: 
 Resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar grupos, núcleos e 
centros de pesquisa, que desenvolvam temáticas de interesse da população 
negra. 
 Incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de formação de professores, 
assuntos que incluam valores concernentes à pluralidade étnica e cultural da 
sociedade brasileira. 
 
 
 
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 Desenvolver programas de extensão universitária destinados a aproximar 
jovens negros de tecnologias avançadas. 
 Estabelecer programas de cooperação técnica, nos estabelecimentos de ensino 
públicos, privados e comunitários, com as escolas de educação infantil, ensino 
fundamental, ensino médio e ensino técnico, para a formação docente baseada 
em princípios de equidade, de tolerância e de respeito às diferenças étnicas. 
Além disso nos arts. 14 a 16, são estabelecidos deveres específicos aos poderes 
públicos. 
 
Cultura 
Em relação aos direitos culturais da população negra, destaca-se do EIR o 
reconhecimento das culturas específicas desse segmento social, com a 
preservação de seus usos, costumes, tradições e religião. 
Há forte preocupação também com a manutenção das reminiscências históricas 
dos quilombolas. 
Ademais, está previsto o respeito à capoeira, como bem de natureza imaterial e 
de formação da identidade cultural brasileira, que será divulgado 
internacionalmente como tradição da cultura brasileira. 
Esporte e Lazer 
No que diz respeito ao esporte e ao lazer, reconhece-se a capoeira, para além 
dos aspectos acima, também um esporte de criação nacional. Em relação à 
capoeira, destaca-se: 
 Será reconhecida como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o 
exercício em todo o território nacional. 
 Faculta-se o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos 
capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos. 
Direito à Liberdade de Consciência, de Crença e o Livre Exercício de Culto 
Vejamos o que dispõe o art. 23: 
Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre 
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e 
a suas liturgias. 
A liberdade de consciência abrange: 
•estimular e apoiar ações socioeducacionais realizadas por entidades do
movimento negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão social,
mediante cooperação técnica, intercâmbios, convênios e incentivos, entre
outros mecanismos.
•adotar programas de ação afirmativa.
•acompanhar e avaliar os programas voltados à defesa dos direitos das pessoas
negras.
OUTRAS ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS CONFERIDAS AO 
PODER PÚBLICO
 
 
 
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 A prática de cultos, reuniões e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, 
de lugares reservados para tais fins. 
 A celebração de festividades e cerimônias. 
 A fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes 
ligadas às respectivas convicções religiosas. 
 A produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais 
religiosos adequados aos costumes e às práticas. 
 A produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão 
das religiões de matriz africana; 
 A coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de 
natureza privada para a manutenção das atividades. 
 O acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das 
respectivas religiões. 
 A comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de 
atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em 
quaisquer outros locais. 
Temos na CF a garantia de assistência religiosa nas entidades civis e militares de 
internação coletiva, abrangendo inclusive a assistência quanto aos praticantes de 
religiões de matrizes africanas. 
Além de assegurar a liberdade de culto, ao Poder Público é conferida a função de 
combater a intolerância religiosa, atendendo, em relação aos cultos professados 
pela população negra, os seguintes objetivos: 
Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para o combate à intolerância com 
as religiões de matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores, especialmente com 
o objetivo de: 
I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para a difusão de proposições, 
imagens ou abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos 
fundados na religiosidade de matrizes africanas; 
II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico 
e cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões 
de matrizes africanas; 
III - assegurar a participação proporcional de representantes das religiões de matrizes 
africanas, ao lado da representação das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos 
e outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder público. 
Acesso à terra e à moradia adequada 
Acesso à Terra 
No que diz respeito ao acesso a propriedades produtivas pelas comunidades 
negras, prevê o EIR que o Estado deverá promover políticas públicas voltadas 
para a questão. Desse modo, além de propiciar condições para o acesso à terra, 
compete ao Poder Público incentivar o desenvolvimento de atividades produtivas 
no campo, notadamente por intermédio do financiamento agrícola, com 
facilitação de crédito, fortalecimento da logística e infraestrutura. 
 
 
 
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Está previsto, ainda, a educação e a orientação profissional dos trabalhadores 
negros para o melhor desenvolvimento de suas atividades. 
No que diz respeito ao acesso à terra pelos quilombolas, prevê o Estatuto 
regramento específico para preservar-lhes as propriedades de origem. Vejamos 
os dispositivos: 
Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas 
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos 
respectivos. 
Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá políticas públicas especiais 
voltadas para o desenvolvimento sustentável dos remanescentes das 
comunidades dos quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental das 
comunidades. 
Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das comunidades dos quilombos 
receberão dos órgãos competentes tratamento especial diferenciado, assistência técnica e 
linhas especiais de financiamento público, destinados à realização de suas atividades 
produtivas e de infraestrutura. 
Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos se beneficiarão de todas as 
iniciativas previstas nesta e em outras leis para a promoção da igualdade étnica. 
Notamos, em relação aos quilombolas, um tratamento especialíssimo, na medida 
queem constituem grupos ainda mais vulnerável dentro da temática estudada 
na presente aula. 
Moradia 
O tratamento jurídico da moradia é bastante semelhante ao tratamento conferido 
ao acesso à terra. Fixa-se ao Poder Público o dever de estabelecer políticas 
específicas para assegurar o direito fundamental à moradia, especialmente 
àqueles que vivem em situações degradantes, como favelas, cortiços, áreas 
urbanas subutilizadas etc. 
O direito à moradia, de acordo com o art. 35, inclui entre os deveres do Estado: 
1. o provimento habitacional; 
2. garantia da infraestrutura urbana ; 
3. garantia de equipamentos comunitários associados à função habitacional; 
4. assistência técnica e jurídica para a construção, a reforma ou a 
regularização fundiária da habitação em área urbana. 
Conforme art. 36 do EIR, essas políticas serão desenvolvidas no âmbito do 
Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), tendo em vistas as 
peculiaridades sociais, econômicas e culturais da população negra. 
Trabalho 
O trabalho, enquanto direito social fundamental, vem expressamente disciplinado 
no Estatuto. Confere-se ao Poder Público, do mesmo modo, o dever de 
implementar políticas públicas voltadas à igualdade material no trabalho para as 
pessoas negras. 
É o que prevê o art. 39: 
 
 
 
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Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a igualdade de 
oportunidades no mercado de trabalho para a população negra, inclusive mediante 
a implementação de medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do setor 
público e o incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e organizações privadas. 
§ 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a adoção de políticas e programas 
de formação profissional, de emprego e de geração de renda voltados para a população 
negra. 
§ 2o As ações visando a promover a igualdade de oportunidades na esfera da 
administração pública far-se-ão por meio de normas estabelecidas ou a serem 
estabelecidas em legislação específica e em seus regulamentos. 
§ 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a adoção de iguais medidas pelo 
setor privado. 
§ 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão o princípio da 
proporcionalidade de gênero entre os beneficiários. 
§ 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena produção, nos meios rural 
e urbano, com ações afirmativas para mulheres negras. 
§ 6o O poder público promoverá campanhas de sensibilização contra a 
marginalização da mulher negra no trabalho artístico e cultural. 
§ 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de elevar a escolaridade e a 
qualificação profissional nos setores da economia que contem com alto índice de 
ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização. 
Envolvem, ainda, políticas voltadas para o mercado trabalho dos negros: 
 financiamento para constituição e ampliação de pequenas e médias 
empresas e de programas de geração de renda, contemplarão o estímulo à 
promoção de empresários negros. 
 atividades voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais, monumentos 
e cidades que retratem a cultura, os usos e os costumes da população 
negra. 
Meios de Comunicação 
Quanto aos meios de comunicação destaca-se: 
 Valorização da herança cultural e a participação da população negra na história 
do País. 
 Prática de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos 
negros, vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, 
étnica ou artística. 
SINAPIR 
Quanto ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, vejamos apenas 
as regras mais relevantes, em forma de tópicos. 
 
 
 
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No âmbito do SINAPIR o Poder Público instituirá mecanismos e instrumentos para 
a defesa da igualdade racial, notadamente por intermédio de recebimento e 
encaminhamento de denúncias relatando preconceitos e discriminação fundados 
na etnia ou cor. 
Para tanto, nos termos do art. 52, assegura-se o acesso às Defensorias Públicas 
e demais órgãos jurídicos estatais: 
Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o acesso aos órgãos de Ouvidoria 
Permanente, à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em todas as 
suas instâncias, para a garantia do cumprimento de seus direitos. 
Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres negras em situação de 
violência, garantida a assistência física, psíquica, social e jurídica. 
Para além do acesso à Justiça deve-se observar as regras relativas à proteção 
desse grupo vulnerável, contra a violência policial incidente sobre a população 
negra. Entre as práticas adotadas pelo Estado, devem ser implementadas ações 
de ressocialização e proteção da juventude negra em conflito com a lei e exposta 
a experiências de exclusão social. 
Desse modo, chegamos ao final do tratamento relativo ao Estatuto Nacional da 
Igualdade Racial. Vimos os principais dispositivos, destacando aqueles que 
possuem relevância para a nossa prova. 
3 – Quilombolas e outras comunidades tradicionais 
3.1 – Introdução 
Por comunidades tradicionais devemos compreender os grupos culturalmente 
diferenciados e que se reconhecem como tais, com formas próprias de 
organização social ocupantes de territórios e recursos naturais para manutenção 
da comunidade. 
Citam-se como exemplo de comunidades tradicionais os quilombolas, os 
indígenas, as comunidades ciganas e de terreiro. 
Em relação aos quilombolas, vejamos o que nos ensina Daniel Sarmento4: 
 
4 CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil, versão eletrônica. 
•promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades sociais resultantes
do racismo, inclusive mediante adoção de ações afirmativas.
•formular políticas destinadas a combater os fatores de marginalização e a
promover a integração social da população negra.
•descentralizar a implementação de ações afirmativas pelos governos estaduais,
distrital e municipais.
•articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção da igualdade étnica.
•garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados para a implementação
das ações afirmativas e o cumprimento das metas a serem estabelecidas.
OBJETIVOS DO SINAPIR
 
 
 
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As marcas deixadas por séculos de escravidão negra no país estão longe de cicatrizar. A 
escravidão e a posterior omissão do Estado e da sociedade brasileira em adotar medidas de 
inclusão social do negro são responsáveis por um quadro desalentador, de profunda 
desigualdade entre as etnias. A tarefa que hoje se impõe ao país, e que tem firme apoio na 
Constituição de 88, não se esgota na redução dos desníveis socioeconômicos existentes 
entre as raças. Ela é mais profunda, e inclui também o respeito e a valorização da cultura 
afro-brasileira e o reconhecimento, despido de preconceitos e estereótipos, da identidade 
dos negros. 
O aspecto principal de discussão no cenário jurídico atual é o acesso à terra, cuja 
diretriz normativa consta do Estatuto Nacional da Igualdade Racial, por nós 
analisado. Conforme destacam os especialistas, a terra para essas comunidades 
não é apenas um bem econômico. O espaço ocupado por tais comunidade é, para 
além de um bem material, fundamental para as relações sociais, econômicas, 
culturais, justificando a proteção especial conferida pelo Estatuto. 
Nesse contexto, prevê o art. 68 dos ADCT: 
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejamocupando suas 
terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos 
respectivos. 
Analisaremos esses dispositivo, adiante. 
3.2 - Conceito 
 
Os quilombolas constituem grupos e comunidades que adotam a prática do 
sistema de uso comum da terra, entendida como espaço coletivo e indivisível a 
ser ocupado e explorado por meio de regras consensuais aos grupos familiares 
que as compõem. As relações são orientadas pela solidariedade e ajuda mútua 
entre os integrantes da comunidade. 
Há um conceito regulamentar, conferido pelo Decreto nº 4.887/2003, cujo 
conhecimento é importante: 
Art. 2o Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste 
Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória 
histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de 
ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. 
Segundo a doutrina para o conceito de quilombo, quatro elementos devem ser 
analisados. 
CONCEITO DE 
GRUPOS 
QUILOMBOLAS
Grupos que desenvolveram práticas 
de resistência na manutenção e 
reprodução de seus modos de vida 
característicos num determinado 
lugar.
 
 
 
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 No que diz respeito ao primeiro elemento, deve ser verificado se a comunidade 
é marcada por uma trajetória histórica específica, relacionada à resistência e 
opressão contra os negros. 
 Ademais, é fundamental que essa comunidade possua traços culturais próprios, 
como modos de criar, fazer e viver peculiares. 
 No que diz respeito à territorialidade, traço distintivo dessas comunidades, é a 
existência de uma relação próxima do quilombo com a terra, para além do 
aspecto meramente econômico do imóvel. 
 Finalmente, no que atine à autoatribuição, refere-se à percepção dos 
integrantes da comunidade têm em relação à própria identidade étnica. Vale 
dizer, reconhecem-se como uma comunidade quilombola, nos termos que 
definimos acima. 
3.3 - Proteção Legislativa 
Inicialmente destaca-se o dispositivo dos ADCT já citado, que reconhece a 
propriedade definitiva às comunidades quilombolas que estejam ocupadas, 
caracterizando-as como direito fundamental. 
Essa regra específica é endossada pela proteção especial conferida aos povos 
indígenas, constantes do art. 231 e 232 da CF, mencionados no tópico anterior. 
Paralelamente há o Decreto nº 4.887/2003 (que está sob alegação de 
inconstitucionalidade perante o STF na ADI nº 3.239), em atenção ao art. 68, dos 
ADCT, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, 
delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das 
comunidades dos quilombos. 
No âmbito internacional, aplicável à matéria, destaca-se a Convenção nº 169 da 
OIT, que trata dos direitos dos povos indígenas e tribais, aplicável aos 
remanescentes de quilombos. O referido documento, regularmente internalizado 
em nosso ordenamento (Decreto Legislativo nº 143/2002 e Decreto Presidencial 
nº 5.051/2004) disciplina o direito ao território ocupado por tais comunidades 
indígenas. 
ELEMENTOS PARA 
CARACTERIZAÇÃO DE 
UMA COMUNIDADE 
QUILOMBOLA
Passado histórico de 
resistência à opressão 
racial
Cultura própria
Relação especial com a 
terra (territorialidade)
Autoatribuição
 
 
 
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Desses diplomas, nos interessa, para uma análise objetiva o art. 68, das ADCT, 
que resultou no Decreto 4.887/2003 e toda a discussão em torno da questão 
fundiária dos quilombolas e a ADI nº 3.239, em trâmite no STF. 
3.4 - Estruturação das Políticas Públicas voltadas para 
a defesa dos direitos de comunidades quilombolas 
Regularização fundiária em comunidades quilombolas 
Tal política é, atualmente, desenvolvida pelo INCRA, órgão vinculado ao 
Ministério do Desenvolvimento Agrário. Para a regularização há abertura de 
processo administrativo, seguido da confecção de um relatório que identifica a 
delimita o território reivindicado pela comunidade quilombola. 
Esse documento de delimitação do território é publicado, para eventuais 
impugnações administrativas. Resolvidas as impugnações ou decorrido o prazo 
sem manifestações, a delimitação é constituída e o presidente do INCRA publica 
portaria reconhecendo e declarando os limites da terra quilombola. 
Políticas Públicas voltadas às comunidades quilombolas 
Entre as diversas políticas que são desenvolvidas para a proteção das 
comunidades quilombolas, destacam-se: 
 Programa Brasil Quilombola 
Constitui um conjunto de ações governamentais voltadas para a defesa dos 
direitos das comunidades remanescentes de quilombos, com ênfase na 
participação da sociedade civil. Dentre as ações engendradas, destaca-se: 
 Política de Regularização Fundiária; 
 Política de Infraestrutura e Serviços  série de ações destacadas à 
construção de obras de infra-estrutura e construção de equipamentos 
sociais destinados a atender as comunidades quilombolas; 
 Desenvolvimento econômico-social  na aplicação de um modelo peculiar 
de desenvolvimento das comunidades quilombolas, tendo em vista as 
características do local, identidade da comunidade. Essas ações têm por 
finalidade conferir condições adequadas de vida ao segmento social. 
 Controle e participação social  ações voltadas à integração da comunidade 
quilombola em fóruns locais e nacionais de políticas públicas. 
 Agenda Social Quilombola 
•Art. 68, das ADCT
•Arts. 231 e 232, da CF
•Decreto nº 4.887/2003
•Convenção nº 169 da OIT
BASE LEGAL DE PROTEÇÃO ÀS COMUNIDADES 
QUILOMBOLAS
 
 
 
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A Agenda Social objetiva articular as ações existentes no âmbito do Governo 
Federal, por meio do Programa, voltadas para a defesa dos direitos da 
comunidade, em especial a defesa da terra, construção de obras de 
infraestrutura, visando conferir qualidade de vida a tais pessoas, inclusão 
produtiva e desenvolvimento local e direitos de cidadania. 
 
3.5 - Art. 68 dos ADCT, Decreto nº 4.887/2003 e a ADI 
n° 3.239 
Segundo Daniel Sarmento5, o art. 68 da ADCT veio à CF para acolher uma 
demanda legítima e importante: 
Sem embargo, a partir da década de 1990 o tema passa a ser objeto de intensa discussão 
tanto no âmbito do movimento negro como no campo da Antropologia, e o art. 68 começa 
a ser invocado com frequência cada vez maior como instrumento de luta em favor dos 
direitos territoriais de comunidades negras dotadas de cultura própria e de um passado 
ligado à resistência à opressão. Desde então, houve, no plano federal, duas tentativas 
principais de definição jurídica do instituto: a primeira, em termos extremamente restritivos, 
foi realizada pelo Decreto n. 3.912/2001, e a segunda, mais ampliativa, está plasmada no 
Decreto n. 4.887/2003, atualmente em vigor. 
Vejamos, abaixo, os objetivos do art. 68, dos ADCT, segundo a doutrina. 
 
A terra para essas comunidades é imantada por uma relação mais próxima da 
comunidade. Há um conjunto de laços históricos, tradições e valores 
compartilhados pela sociedade que se estabelece a partir da relação do quilombo 
com o território que ocupam. Em razão disso, o art. 68 dos ADCT assume caráter 
 
5 CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil, versão eletrônica. 
•Acesso à Terra
•Promoção da Saúde
•Educação Quilombola
•Alfabetização
•Luz para todos
•Meio ambiente
•Desenvolvimento local
•Cidadania
EIXOS DE AÇÃO DA AGENDA SOCIAL QUILOMBOLA
•Assegurar a sobrevivência e o florescimentosdas comunidades quilombolas.
•Promoção da igualdade substantiva e da justiça social ao conferir direitos
territoriais a grupo desfavorecido.
•Medida reparatória que objetiva resgatar a dívida histórica do Brasil em
relação às comunidades compostas por descedentes de escravos que, até
hoje, sofrem os efeitos da dominação e violações de direitos.
OBJETIVOS DO ART. 68 DOS ADCT
 
 
 
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de direito fundamental às comunidades quilombolas, constituindo verdadeiro 
premissa para a dignidade de seus integrantes. 
Questiona-se acerca da aplicabilidade desse dispositivo, havendo quem mencione 
ser um direito aplicável apenas a partir de regulamentação infraconstitucional. 
Nesse o Partido da Frente Liberal (PFL) em 2004 ajuizou a ADI 3.239 que objetiva 
declarar a inconstitucionalidade do Decreto nº 4.887/2003 que regulamenta o 
procedimento de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e 
titulação de terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas 
nos termos do art. 68 do ADCT. 
Alega-se a inconstitucionalidade com fundamento de que o diploma padece de 
inconstitucionalidade formal, devido ao fato de não haver uma lei prévia que 
confira validade ao Decreto. Por se tratar de um documento normativo 
secundário, a sua validade estaria vinculada a uma lei reguladora, que não existe. 
Fala-se, portanto, em violação ao princípio da legalidade a regulamentação do 
art. 68 dos ADCT por intermédio de um decreto autônomo. Devemos lembrar que 
as matérias que podem ser disciplinadas por decreto autônomo são restritas e 
vem expressamente delimitadas no art. 84, VI, da CF. 
Contudo, o entendimento disseminado atualmente na doutrina é o que o art. 68 
dos ADCT é uma norma completa, embora concisa. Todos os elementos 
necessários à aplicabilidade estão presentes no teor do art. 68, de modo que 
pode ser aplicado diretamente pela Administração, sem necessidade de 
intermediação por lei infraconstitucional. Desse modo, manter-se-ia hígido o 
Decreto para regulamentar o dispositivo constitucional. 
Se isso não bastasse afirma-se que é possível extrair fundamento 
infraconstitucional para o Decreto da Convenção nº 168 da OIT, que trata 
explicitamente do direito à terra das comunidades indígenas e povos tribais. 
Alerta-se que a referida Convenção foi internalizada em nosso ordenamento 
jurídico, ingressando como norma infraconstitucional. 
Ademais, a AGU manifestou pela constitucionalidade do Decreto nº 4.887/2003 
arguindo em sede preliminar que a ADI não deve ser reconhecida, uma vez que 
objetiva declarar integralmente inconstitucional uma norma, de forma genérica. 
No entendimento do órgão é imprescindível a indicação específica dos dispositivos 
constitucionais que cada um de seus artigos que o decreto viola. 
O parecer dos amicus curiae (Conectas Direitos Humanos, o Instituto Pro Bono e 
a Sociedade Brasileira de Direito Público) sustentam a constitucionalidade 
reportando-se ao histórico dessas comunidades, enquanto territórios étnicos de 
resistência. Arguem que ao Estado Brasileiro compete a proteção dessas 
comunidades e suas manifestações culturais afro-brasileiras, com os respectivos 
valores e modos próprios de vida, o que legitimaria a ação do governo por 
intermédio do decreto impugnado. 
Ademais, sustentam que, ao contrário do que fora afirmado na petição inicial da 
ADI, a regulamentação fundiária não envolve a mera manifestação de vontade 
do interessado para que a terra lhe seja vinculada juridicamente. Há um processo 
 
 
 
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administrativo burocrático, pelo qual busca-se avaliar os critérios de 
territorialidade e identidade coletiva, em nítido caráter histórico-antropológico. 
Atualmente, os autos foram devolvidos do gabinete do Min. Dias Toffoli e 
aguardam julgamento6. 
4 - Proteção aos Povos Indígenas 
Neste capítulo vamos analisar a proteção especial conferida aos povos indígenas 
em sede de Direitos Humanos. 
Para fins do nosso estudo vamos tratar, primeiramente, da colocação 
constitucional da matéria para localização do tema. É importante ressaltar, ainda, 
antes de começar que no âmbito internacional a proteção é difusa. Temos 
algumas convenções gerais que tratam da proteção a esse grupo, como é o caso 
da Convenção para Eliminação da Discriminação Racial e do Pacto Internacional 
de Direitos Civis e Políticos. Contudo, o documento mais relevante na seara 
internacional é a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. Como o 
assunto não foi referido em edital, fica aqui apenas o registro. 
4.1 - Proteção aos Índios em nosso Ordenamento 
Jurídico 
Para o nosso estudo aqui em Direitos Humanos nos interessa especialmente a 
disciplina constante da Constituição Federal. A CF de 1988 rompe com o 
paradigma até então vigente da assimilação, integração e provisoriedade da 
condição de indígena. O pensamento até então dominante é o que de que os 
índios estavam em processo de aculturação. 
Essa premissa, contudo, não é a mais adequada. Na CF o Estado reconhece o 
direito dos indígenas de continuarem índios, enquanto uma coletividade 
organizada. Não é á toa que o caput do art. 231 reconhece a ordem social própria 
das comunidades indígenas, com costumes, línguas, crenas e tradições próprias. 
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, 
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente 
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 
Do caput do dispositivo extrai-se o reconhecimento à cultura e tradição dos 
índios, bem como o modo de vida, bem como o reconhecimento das terras 
ocupadas, cuja definição consta do §1º abaixo: 
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em 
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à 
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua 
reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. 
O conceito do dispositivo acima trata, por assim dizer, de quatro critério para 
classificá-las como territórios tradicionalmente utilizados pelos indígenas. 
 
6 Conforme 
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2227157, acesso 
em 18/8/2016. 
 
 
 
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Revela-se a vontade do Constituinte Originário de garantir os direitos territoriais 
aos grupos indígenas, premissa para a manutenção da vida indígena. Essas 
propriedades, contudo, não assumem a conotação privada, tanto é que a CF 
prevê no art. 20, XI, que as terras indígenas são bens da União. Trata-se, 
portanto, de uma categoria sui generis de “terras indígenas”. 
No mesmo sentido estão os ensinamentos de Carlos Frederico Marés de Souza 
Filho7: 
A Constituição de 1988 repete os termos posse permanente e usufruto exclusivo. Por isso, 
é necessário verificar o que significa posse indígena, estando claro que não se confunde 
com a posse civil do receituário privado, porque esta é individual e material, enquanto a 
indígena é coletiva e exercida segundo usos, costumes e tradições do povo, no dizer da Lei 
de 1973 (Estatuto do Índio). 
Sigamos com o §2º: 
§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse 
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos 
nelas existentes. 
De acordo com a doutrina, ao se reconhecer os direitos originários sobreas terras 
tradicionalmente ocupadas pelos índios, remete a três ideias chave, quais sejam: 
 
 Constitui-se um direito originário, na medida em que independe de qualquer 
ato do Estado. 
 As terras devem ser ocupadas com caráter permanente, sendo utilizadas para 
atividades produtivas. 
 
7 CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Editora 
Saraiva e Almedina, 2013, versão eletrônica. 
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por eles habitadas em caráter permanente
utilizadas para suas atividades produtivas
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais 
necessários a seu bem-estar
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo 
seus usos, costumes e tradições
O caráter originário 
do direito.
A forma tradicional 
de ocupação.
A ocupação real e 
atual.
 
 
 
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 A ocupação deve ser real e atual, ainda que haja algum fato impeditivo. É o 
que se extrai do caso envolvendo a terra indígena Raposa Serra do Sol. 
Dada a importância e correlação com a matéria e porque extremamente didática, 
é interessante a leitura do julgamento histórico do STF: 
AÇÃO POPULAR. DEMARCAÇÃO DA TERRA INDÍGENA RAPOSA SERRA DO SOL. 
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS NO PROCESSO ADMINISTRATIVO- DEMARCATÓRIO. 
OBSERVÂNCIA DOS ARTS. 231 E 232 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO DA LEI Nº 
6.001/73 E SEUS DECRETOS REGULAMENTARES. CONSTITUCIONALIDADE E LEGALIDADE 
DA PORTARIA Nº 534/2005, DO MINISTRO DA JUSTIÇA, ASSIM COMO DO DECRETO 
PRESIDENCIAL HOMOLOGATÓRIO. RECONHECIMENTO DA CONDIÇÃO INDÍGENA DA ÁREA 
DEMARCADA, EM SUA TOTALIDADE. MODELO CONTÍNUO DE DEMARCAÇÃO. 
CONSTITUCIONALIDADE. REVELAÇÃO DO REGIME CONSTITUCIONAL DE DEMARCAÇÃO 
DAS TERRAS INDÍGENAS. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL COMO ESTATUTO JURÍDICO DA 
CAUSA INDÍGENA. A DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS COMO CAPÍTULO AVANÇADO 
DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. INCLUSÃO COMUNITÁRIA PELA VIA DA 
IDENTIDADE ÉTNICA. VOTO DO RELATOR QUE FAZ AGREGAR AOS RESPECTIVOS 
FUNDAMENTOS SALVAGUARDAS INSTITUCIONAIS DITADAS PELA SUPERLATIVA 
IMPORTÂNCIA HISTÓRICO-CULTURAL DA CAUSA. SALVAGUARDAS AMPLIADAS A PARTIR 
DE VOTO-VISTA DO MINISTRO MENEZES DIREITO E DESLOCADAS PARA A PARTE 
DISPOSITIVA DA DECISÃO. (...) . 3. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS NO PROCESSO 
ADMINISTRATIVO DEMARCATÓRIO. 3.1. Processo que observou as regras do Decreto nº 
1.775/96, já declaradas constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal no Mandado de 
Segurança nº 24.045, da relatoria do ministro Joaquim Barbosa. Os interessados tiveram a 
oportunidade de se habilitar no processo administrativo de demarcação das terras 
indígenas, como de fato assim procederam o Estado de Roraima, o Município de Normandia, 
os pretensos posseiros e comunidades indígenas, estas por meio de petições, cartas e 
prestação de informações. Observância das garantias constitucionais do contraditório e da 
ampla defesa. 3.2. Os dados e peças de caráter antropológico foram revelados e 
subscritos por profissionais de reconhecidas qualificação científica e se dotaram 
de todos os elementos exigidos pela Constituição e pelo Direito infraconstitucional 
para a demarcação de terras indígenas, não sendo obrigatória a subscrição do laudo 
por todos os integrantes do grupo técnico (Decretos nos 22/91 e 1.775/96). 3.3. A 
demarcação administrativa, homologada pelo Presidente da República, é "ato 
estatal que se reveste da presunção juris tantum de legitimidade e de veracidade" 
(RE 183.188, da relatoria do ministro Celso de Mello), além de se revestir de natureza 
declaratória e força auto-executória. Não comprovação das fraudes alegadas pelo autor 
popular e seu originário assistente. 4. O SIGNIFICADO DO SUBSTANTIVO "ÍNDIOS" 
NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O substantivo "índios" é usado pela Constituição 
Federal de 1988 por um modo invariavelmente plural, para exprimir a 
diferenciação dos aborígenes por numerosas etnias. Propósito constitucional de 
retratar uma diversidade indígena tanto interétnica quanto intra-étnica. Índios em 
processo de aculturação permanecem índios para o fim de proteção constitucional. 
Proteção constitucional que não se limita aos silvícolas, estes, sim, índios ainda 
em primitivo estádio de habitantes da selva. 5. AS TERRAS INDÍGENAS COMO 
PARTE ESSENCIAL DO TERRITÓRIO BRASILEIRO. 5.1. As "terras indígenas" 
versadas pela Constituição Federal de 1988 fazem parte de um território estatal-
brasileiro sobre o qual incide, com exclusividade, o Direito nacional. E como tudo o 
mais que faz parte do domínio de qualquer das pessoas federadas brasileiras, são terras 
que se submetem unicamente ao primeiro dos princípios regentes das relações 
internacionais da República Federativa do Brasil: a soberania ou "independência nacional" 
(inciso I do art. 1º da CF). 5.2. Todas as "terras indígenas" são um bem público federal 
(inciso XI do art. 20 da CF), o que não significa dizer que o ato em si da demarcação extinga 
ou amesquinhe qualquer unidade federada. Primeiro, porque as unidades federadas pós-
Constituição de 1988 já nascem com seu território jungido ao regime constitucional de 
preexistência dos direitos originários dos índios sobre as terras por eles "tradicionalmente 
 
 
 
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ocupadas". Segundo, porque a titularidade de bens não se confunde com o senhorio de um 
território político. Nenhuma terra indígena se eleva ao patamar de território político, assim 
como nenhuma etnia ou comunidade indígena se constitui em unidade federada. Cuida-se, 
cada etnia indígena, de realidade sócio-cultural, e não de natureza político-territorial. 6. 
NECESSÁRIA LIDERANÇA INSTITUCIONAL DA UNIÃO, SEMPRE QUE OS ESTADOS E 
MUNICÍPIOS ATUAREM NO PRÓPRIO INTERIOR DAS TERRAS JÁ DEMARCADAS COMO DE 
AFETAÇÃO INDÍGENA. A vontade objetiva da Constituição obriga a efetiva presença de todas 
as pessoas federadas em terras indígenas, desde que em sintonia com o modelo de 
ocupação por ela concebido, que é de centralidade da União. Modelo de ocupação que tanto 
preserva a identidade de cada etnia quanto sua abertura para um relacionamento de mútuo 
proveito com outras etnias indígenas e grupamentos de não-índios. A atuação 
complementar de Estados e Municípios em terras já demarcadas como indígenas há de se 
fazer, contudo, em regime de concerto com a União e sob a liderança desta. Papel de 
centralidade institucional desempenhado pela União, que não pode deixar de ser 
imediatamente coadjuvado pelos próprios índios, suas comunidades e organizações, além 
da protagonização de tutela e fiscalização do Ministério Público (inciso V do art. 129 e art. 
232, ambos da CF). 7. AS TERRAS INDÍGENAS COMO CATEGORIA JURÍDICA DISTINTA DE 
TERRITÓRIOS INDÍGENAS. O DESABONO CONSTITUCIONAL AOS VOCÁBULOS "POVO", 
"PAÍS", "TERRITÓRIO", "PÁTRIA" OU "NAÇÃO" INDÍGENA. Somente o "território" enquanto 
categoria jurídico-política é que se põe como o preciso âmbito espacial de incidência de uma 
dada Ordem Jurídica soberana, ou autônoma. O substantivo "terras" é termo que assume 
compostura nitidamente sócio-cultural, e não política. A Constituição teve o cuidado de não 
falar em territórios indígenas, mas, tão-só, em "terras indígenas". A traduzir que os 
"grupos", "organizações", "populações" ou "comunidades" indígenas não constituem pessoa 
federada. Não formam circunscrição ou instância espacial que se orne de dimensão política. 
Daí não se reconhecer a qualquer das organizações sociais indígenas, ao conjunto delas, ou 
à sua base peculiarmente antropológica a dimensão de instância transnacional. Pelo que 
nenhuma das comunidades indígenas brasileiras detém estatura normativapara 
comparecer perante a Ordem Jurídica Internacional como "Nação", "País", "Pátria", 
"território nacional" ou "povo" independente. Sendo de fácil percepção que todas as vezes 
em que a Constituição de 1988 tratou de "nacionalidade" e dos demais vocábulos aspeados 
(País, Pátria, território nacional e povo) foi para se referir ao Brasil por inteiro. 8. A 
DEMARCAÇÃO COMO COMPETÊNCIA DO PODER EXECUTIVO DA UNIÃO. Somente à União, 
por atos situados na esfera de atuação do Poder Executivo, compete instaurar, sequenciar 
e concluir formalmente o processo demarcatório das terras indígenas, tanto quanto efetivá-
lo materialmente, nada impedindo que o Presidente da República venha a consultar o 
Conselho de Defesa Nacional (inciso III do § 1º do art. 91 da CF), especialmente se as 
terras indígenas a demarcar coincidirem com faixa de fronteira. As competências deferidas 
ao Congresso Nacional, com efeito concreto ou sem densidade normativa, exaurem-se nos 
fazeres a que se referem o inciso XVI do art. 49 e o § 5º do art. 231, ambos da Constituição 
Federal. 9. A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS COMO CAPÍTULO AVANÇADO 
DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. Os arts. 231 e 232 da Constituição 
Federal são de finalidade nitidamente fraternal ou solidária, própria de uma 
quadra constitucional que se volta para a efetivação de um novo tipo de igualdade: 
a igualdade civil-moral de minorias, tendo em vista o proto-valor da integração 
comunitária. Era constitucional compensatória de desvantagens historicamente 
acumuladas, a se viabilizar por mecanismos oficiais de ações afirmativas. No caso, 
os índios a desfrutar de um espaço fundiário que lhes assegure meios dignos de 
subsistência econômica para mais eficazmente poderem preservar sua identidade 
somática, linguística e cultural. Processo de uma aculturação que não se dilui no 
convívio com os não-índios, pois a aculturação de que trata a Constituição não é 
perda de identidade étnica, mas somatório de mundividências. Uma soma, e não 
uma subtração. Ganho, e não perda. Relações interétnicas de mútuo proveito, a 
caracterizar ganhos culturais incessantemente cumulativos. Concretização 
constitucional do valor da inclusão comunitária pela via da identidade étnica. 10. 
O FALSO ANTAGONISMO ENTRE A QUESTÃO INDÍGENA E O DESENVOLVIMENTO. 
Ao Poder Público de todas as dimensões federativas o que incumbe não é 
 
 
 
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subestimar, e muito menos hostilizar comunidades indígenas brasileiras, mas tirar 
proveito delas para diversificar o potencial econômico-cultural dos seus territórios 
(dos entes federativos). O desenvolvimento que se fizer sem ou contra os índios, 
ali onde eles se encontrarem instalados por modo tradicional, à data da 
Constituição de 1988, desrespeita o objetivo fundamental do inciso II do art. 3º 
da Constituição Federal, assecuratório de um tipo de "desenvolvimento nacional" 
tão ecologicamente equilibrado quanto humanizado e culturalmente diversificado, 
de modo a incorporar a realidade indígena. 11. O CONTEÚDO POSITIVO DO ATO 
DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. 11.1. O marco temporal de ocupação. 
A Constituição Federal trabalhou com data certa -- a data da promulgação dela 
própria (5 de outubro de 1988) -- como insubstituível referencial para o dado da 
ocupação de um determinado espaço geográfico por essa ou aquela etnia 
aborígene; ou seja, para o reconhecimento, aos índios, dos direitos originários 
sobre as terras que tradicionalmente ocupam. 11.2. O marco da tradicionalidade 
da ocupação. É preciso que esse estar coletivamente situado em certo espaço 
fundiário também ostente o caráter da perdurabilidade, no sentido anímico e 
psíquico de continuidade etnográfica. A tradicionalidade da posse nativa, no 
entanto, não se perde onde, ao tempo da promulgação da Lei Maior de 1988, a 
reocupação apenas não ocorreu por efeito de renitente esbulho por parte de não-
índios. Caso das "fazendas" situadas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, cuja 
ocupação não arrefeceu nos índios sua capacidade de resistência e de afirmação 
da sua peculiar presença em todo o complexo geográfico da "Raposa Serra do Sol". 
11.3. O marco da concreta abrangência fundiária e da finalidade prática da 
ocupação tradicional. Áreas indígenas são demarcadas para servir concretamente 
de habitação permanente dos índios de uma determinada etnia, de par com as 
terras utilizadas para suas atividades produtivas, mais as "imprescindíveis à 
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar" e ainda 
aquelas que se revelarem "necessárias à reprodução física e cultural" de cada qual 
das comunidades étnico-indígenas, "segundo seus usos, costumes e tradições" 
(usos, costumes e tradições deles, indígenas, e não usos, costumes e tradições 
dos não-índios). Terra indígena, no imaginário coletivo aborígine, não é um 
simples objeto de direito, mas ganha a dimensão de verdadeiro ente ou ser que 
resume em si toda ancestralidade, toda coetaneidade e toda posteridade de uma 
etnia. Donde a proibição constitucional de se remover os índios das terras por eles 
tradicionalmente ocupadas, assim como o reconhecimento do direito a uma posse 
permanente e usufruto exclusivo, de parelha com a regra de que todas essas terras 
"são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis" (§ 4º 
do art. 231 da Constituição Federal). O que termina por fazer desse tipo tradicional 
de posse um heterodoxo instituto de Direito Constitucional, e não uma ortodoxa 
figura de Direito Civil. Donde a clara intelecção de que OS ARTIGOS 231 E 232 DA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL CONSTITUEM UM COMPLETO ESTATUTO JURÍDICO DA 
CAUSA INDÍGENA. 11.4. O marco do conceito fundiariamente extensivo do chamado 
"princípio da proporcionalidade". A Constituição de 1988 faz dos usos, costumes e tradições 
indígenas o engate lógico para a compreensão, entre outras, das semânticas da posse, da 
permanência, da habitação, da produção econômica e da reprodução física e cultural das 
etnias nativas. O próprio conceito do chamado "princípio da proporcionalidade", quando 
aplicado ao tema da demarcação das terras indígenas, ganha um conteúdo peculiarmente 
extensivo. 12. DIREITOS "ORIGINÁRIOS". Os direitos dos índios sobre as terras que 
tradicionalmente ocupam foram constitucionalmente "reconhecidos", e não 
simplesmente outorgados, com o que o ato de demarcação se orna de natureza 
declaratória, e não propriamente constitutiva. Ato declaratório de uma situação 
jurídica ativa preexistente. Essa a razão de a Carta Magna havê-los chamado de 
"originários", a traduzir um direito mais antigo do que qualquer outro, de maneira 
a preponderar sobre pretensos direitos adquiridos, mesmo os materializados em 
escrituras públicas ou títulos de legitimação de posse em favor de não-índios. 
Atos, estes, que a própria Constituição declarou como "nulos e extintos" (§ 6º do 
art. 231 da CF). 13. O MODELO PECULIARMENTE CONTÍNUO DE DEMARCAÇÃO DAS 
 
 
 
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TERRAS INDÍGENAS. O modelo de demarcação das terras indígenas é orientado pela ideia 
de continuidade. Demarcação por fronteiras vivas ou abertas em seu interior, para que se 
forme um perfil coletivo e se afirme a auto-suficiência econômica de toda uma comunidade 
usufrutuária. Modelo bem mais serviente da ideia cultural e econômica de abertura de 
horizontes do que de fechamento em "bolsões", "ilhas", "blocos" ou "clusters", a evitar que 
se dizime o espírito pela eliminação progressiva dos elementos de uma dada cultura 
(etnocídio). 14. A CONCILIAÇÃO ENTRE TERRAS INDÍGENAS E A VISITA DE NÃO-ÍNDIOS, 
TANTO QUANTO COM A ABERTURA DE VIAS DE COMUNICAÇÃO E A MONTAGEM DE BASES 
FÍSICAS PARA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

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