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Aula 09 Direitos Humanos p/ DPU (Defensor Público da União) Professor: Ricardo Torques Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Aula 09 Combate ao Racismo Sumário 1 - Considerações Iniciais ................................................................................................. 3 2 – Combate ao Racismo .................................................................................................. 3 2.1 – Introdução .......................................................................................................... 3 2.2 - Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial ................................................................................................................................. 3 2.3 – Estatuto da Igualdade Racial ............................................................................... 11 3 – Quilombolas e outras comunidades tradicionais ........................................................... 19 3.1 – Introdução ........................................................................................................ 19 3.2 - Conceito ........................................................................................................... 20 3.3 - Proteção Legislativa ............................................................................................ 21 3.4 - Estruturação das Políticas Públicas voltadas para a defesa dos direitos de comunidades quilombolas .............................................................................................................. 22 3.5 - Art. 68 dos ADCT, Decreto nº 4.887/2003 e a ADI n° 3.239 .................................... 23 4 - Proteção aos Povos Indígenas .................................................................................... 25 4.1 - Proteção aos Índios em nosso Ordenamento Jurídico .............................................. 25 4.2 - Estatuto do Índio ............................................................................................... 32 5 – Questões ................................................................................................................ 37 5.1 – Questões sem Comentários ................................................................................. 37 5.2 - Gabarito ........................................................................................................... 46 5.3 – Questões com Comentários ................................................................................. 47 6 - Resumo .................................................................................................................. 65 7 - Considerações Finais ................................................................................................ 74 Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques GRUPOS VULNERÁVEIS 1 - Considerações Iniciais Vejamos o item do edital: 4.2 O combate ao racismo. 4.2.1 A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. 4.2.2 O Estatuto da Igualdade Racial. 4.3 O índio. 4.4 Os quilombolas e as demais comunidades tradicionais. São assuntos específicos que tratam, em síntese, de dois blocos de proteção dos Direitos Humanos os negros e os índios. Excelente aula a todos! 2 – Combate ao Racismo 2.1 – Introdução O racismo se funda na convicção da superioridade de determinadas raças, tendo em vista motivações variadas, principalmente com relação às características físicas e outros traços do comportamento humano. Trata-se, em suma, de uma opinião pessoal sobre determinada raça humana que leva a uma posição depreciativa e, até mesmo, violenta em relação a uma coletividade. O tema do combate ao racismo tem ganhado destaque tanto na seara internacional como nacional, em especial com a criminalização de tal conduta. São diversos os diplomas internacionais e nacionais que tratam do tema da discriminação racial e visam, geralmente com a concessão de direitos e opressão de práticas racistas, o combate ao racismo e conscientização da população. A seguir veremos os diplomas que tratam do combate à discriminação racial. 2.2 - Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial Introdução Em superação ao Absolutismo, aflorou, com a Revolução Francesa, em 1789, e com a Constituição dos EUA, em 1776, a igualdade formal, segundo a qual todos são iguais perante a lei. Esses movimentos, imprescindíveis ao desenvolvimento histórico, representaram a supremacia do Estado de Direito, que objetivou garantir os direitos de liberdade negativa, que seriam aplicáveis a todos os homens, abstratamente considerados. O princípio da igualdade, nesse período, é genérico, não considerando as pessoas em suas especificidades. Contudo, percebeu-se que assegurar a igualdade Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques formal não era suficiente para que as pessoas tivessem suas diferenças e particularidades respeitadas. Houve, assim, com a expansão dos Direitos Humanos, uma ampliação dos direitos de igualdade, de modo que se passou a defender a necessidade de garantir não apenas a igualdade formal, mas também a igualdade material (substancial). A igualdade material pressupõe a individualização do sujeito. Vale dizer, consiste em considerar a pessoa nas suas relações concretas, assimilando suas diferenças. Assim, a igualdade (formal) considera a pessoa em abstrato, sem levar em conta o sexo, a cor e a classe social. Pela igualdade em sentido material pugna-se por um aparato normativo especial, endereçado aos grupos de pessoas vulneráveis na sociedade, como forma de reequilibrar tais desigualdades. Diante disso, surgem regras protetivas às mulheres, às crianças, aos idosos e às vítimas de discriminação racial. Nesse contexto, segundo a doutrina, o sistema que compreende a Declaração Internacional de Direitos (International Bill os Rights), representa um conjunto de normas internacionais endereçadas a toda e qualquer pessoa, genericamente concebida. Já os documentos específicos, a exemplo da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, constituem documentos internacionais preocupados com a pessoa segundo suas diferenças e relações em concreto. Flávia Piovesan1, ao encontro do que foi destacado, postula: ao lado do sistema global geral de proteção, organiza-se o sistema especial de proteção, que adota como sujeito de direito o indivíduo historicamente situado, isto é, o sujeito de direito ‘concreto’, na peculiaridade e particularidade de suas relações sociais. A Convenção A Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial foi assinada pelo Brasil em março de 1966. Após aprovação pelo Congresso Nacional, foi depositada junto ao Secretário-Geral da ONU em 1 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 6ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, p. 292. •Considera todas as pessoas abstratamente iguais. •Declaração Internacional de Direitos.IGUALDADE FORMAL •Considera as pessoas iguais tendo em vista suas condições de vulnerabilidade. •Convenções específicas. IGUALDADE MATERIAL Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques março de 1968, sendo promulgada internamente por intermédio do Decreto n° 65.810/1968. Esse documentointernacional possui como precedentes históricos, segundo ensinamentos de Flávia Piovesan2: O primeiro precedente indicou o ingresso de países vítimas de reiteradas discriminações no campo racial, o que motivou a luta contra as violações de direitos humanos decorrentes. Os dois últimos eventos citados, por sua vez, indicam uma retomada de força daqueles que perderam a guerra, gerando preocupação da comunidade internacional, bem como a ocorrência de alguns atos nazistas novamente praticados no continente europeu. Já no preâmbulo da Convenção, tratou-se de repudiar toda e qualquer acepção fundada numa suposta superioridade étnica, que é destituída de fundamentação científica, moralmente inaceitável e socialmente injusta e perigosa. Além disso, percebe-se, também no preâmbulo, a nítida preocupação com a urgência em serem adotadas as medidas para reprimir eventuais violações por questões raciais e para criar mecanismos positivos de superação dessa mazela. O conceito de discriminação racial é apresentado no art. 1º, da Convenção, nos seguintes termos: (...) qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou 2 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 13ª edição, rev., atual., São Paulo: Editora Saraiva, 2012, p. 261. 1966 •assinatura da Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial 1968 •aprovação no Congresso Nacional 1968 •depósito do Pacto na ONU 1968 •promulgação no direito interno pelo Decreto nº 65.810/68 P R E C E D E N T E S H IS T Ó R IC O S ingresso de 17 novos países africanos nas Nações Unidas de 1960. Primeira Conferência de Cúpula dos Países Não Aliados, em 1961. ressurgimento de atividades nazifacistas na Europa e as preocupações ocidentais com o antissemitismo. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano, (em igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de sua vida. 2. Esta Convenção não se aplicará às distinções, exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado Parte nesta Convenção entre cidadãos. A doutrina, a exemplo de Flávia Piovesan3, compreende a discriminação como: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, o gozo ou o exercício em igualdade de condições, dos direitos humanos e liberdades fundamentais, nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo. Logo, a discriminação significa sempre desigualdade. Podemos afirmar que o OBJETIVO CENTRAL da Convenção é a eliminação de todas as formas de discriminação racial. Os Estados-parte, na Convenção, obrigam-se, progressivamente, a eliminar a discriminação racial, assegurando a efetiva igualdade substancial, de forma que os direitos civis e políticos, bem como os direitos sociais, econômicos e culturais (explicitados na Declaração Internacional de Direitos) sejam assegurados a qualquer etnia, sem quaisquer formas de discriminação. Para tanto, o Estado-parte deve atuar em duas vertentes: proibir qualquer forma de discriminação racial; e promover políticas compensatórias que levem à igualdade substancial. Em forma de quadro: Essa é a temática adotada pela Convenção. Por exemplo, o artigo IV prevê, segundo a vertente repressivo-punitiva, que devem ser considerados ilícitos penais as seguintes condutas: 3 PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. 6ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013, p. 293/4. OBJETIVO CENTRAL eliminação de todas as formas de discriminação racial •Proíbe-se qualquer forma de discriminação racial. •Criam-se tipos penais para quem causar discriminação racial. VERTENTE REPRESSIVO- PUNITIVA •promoção de políticas públicas compensatórias que levem à igualdade substancial •ações afirmativas VERTENTE PROMOCIONAL Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques difundir ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, incitando a discriminação racial; praticar atos de violência contra qualquer etnia ou grupo de pessoas; e prestar assistência ou prover financeiramente atividades racistas. Por outro lado, o artigo I, 4, prevê a possibilidade de ação de medidas positivas, que nada mais são do que ações afirmativas, segundo a vertente promocional. Vejamos uma questão que trata exatamente desse assunto. Questão – FUNIVERSA/Secretaria da Criança – DF - Especialista Socioeducativo - Direito e Legislação - 2015 Acerca da constitucionalização dos direitos humanos, do Estatuto da Igualdade Racial, do combate ao racismo, da constitucionalização dos direitos humanos, da proteção a minorias e a demais grupos vulneráveis, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW) e da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, do combate ao racismo e da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, assinale a alternativa correta. a) A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial impõe expressamente ao Estado-parte o dever de criminalizar o discurso do ódio racial e a participação em organizações racistas. b) O Estatuto da Igualdade Racial, pautado, entre outros, pelos princípios da inclusão e da igualdade material, parte do pressuposto de que a consecução de seus objetivos prescinde da instituição de ações afirmativas. c) A CEDAW é insuscetível de ratificação com reservas. d) A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial não pode ser denunciada pelos Estados-parte que a ratificaram, por expressa previsão nesse sentido. e) A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial não prevê a atribuição do Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial para receber e examinar comunicações de indivíduos ou grupos de indivíduos sob a jurisdição de Estado-parte, tendo essa previsão nascido a partir de Protocolo Facultativo à Convenção. Comentários Vejamos cada uma das alternativas. A alternativa A está correta e é o gabarito da questão. De acordo com o art. 4º, a, da Convenção Internacional sobre todas as Formas de Discriminação Racial, o Estado-parte deve condenar todas as organizações que encorajem qualquer forma de ódio racial e declarar tais atos puníveis como delitos. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Artigo 4º - Os Estados-partes condenam toda propaganda e todas as organizações que se inspirem em idéias ou teorias baseadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem étnica ou que pretendam justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e de discriminação raciais, e comprometem-se a adotar imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer atos de discriminação com este objetivo, tendo em vista os princípios formulados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e os direitos expressamente enunciados no artigo V da presente Convenção, inter alia: a) a declarar como delitos puníveis por lei, qualquer difusão de idéias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer incitamentoà discriminação racial, assim como quaisquer atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem étnica, como também qualquer assistência prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento; A alternativa B está incorreta, pois o Estatuto da Igualdade Racial é todo pautado em ações afirmativas de implementação da igualdade racial na sociedade. A alternativa C está incorreta, pois não somente é possível opor reservas contra as cláusulas da Convenção Internacional sobre todas as Formas de Discriminação contra a mulher, como se trata do documento internacional que mais recebeu reservas quanto ao seu conteúdo. Vejamos o art. 28 da Convenção, que deixa claro a possibilidade de reservas. Artigo 28 - 1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e enviará a todos os Estados o texto das reservas feitas pelos Estados no momento da ratificação ou adesão. 2. Não será permitido uma reserva incompatível com o objeto e o propósito desta Convenção. 3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por uma notificação endereçada com esse objetivo ao Secretário Geral das Nações Unidas, que informará a todos os Estados a respeito. A notificação surtirá efeito na data de seu recebimento. A alternativa D está incorreta, com base no art. 21, da Convenção Internacional sobre todas as Formas de Discriminação Racial. Artigo 21 - Todo Estado-parte poderá denunciar a presente Convenção mediante notificação por escrito endereçada ao Secretário Geral das Nações Unidas. A denúncia produzirá efeitos um ano depois da data do recebimento da notificação pelo Secretário Geral. A alternativa E está incorreta, uma vez que a possibilidade de Comunicações está prevista no texto da Convenção. Artigo 14 - Todo Estado-parte na presente Convenção poderá declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e examinar as comunicações enviadas por indivíduos ou grupos de indivíduos sob sua jurisdição, que aleguem ser vítimas de violação, por um Estado-parte, de qualquer um dos direitos enunciados na presente Convenção. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado-parte que não houver feito declaração dessa natureza. Direitos Albergados O artigo V da Convenção, ao tratar dos direitos abrangidos, postula que o objetivo central é garantir a igualdade em sentido material, destacando diversos direitos decorrentes da igualdade que devem ser assegurados. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques DIREITOS RECONHECIDOS NA CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL tratamento igual perante os tribunais; direito à segurança da pessoa ou à proteção do Estado contra violência ou lesão corporal; direitos políticos, incluindo a capacidade eleitoral ativa (votar) e passiva (ser votado) em igualdade de condições; direitos civis, destacando-se: o liberdade de ir e vir; o direito de deixar o país e de retornar; o direito a uma nacionalidade; o direito de casar-se e escolher o cônjuge; o direito à propriedade; o direito à herança; o liberdade de pensamento, de consciência e de religião; o liberdade de opinião e de expressão; e o liberdade de reunião e de associação pacífica; direitos econômicos, sociais e culturais, destacando-se: o direito ao trabalho; o direito de fundar sindicatos e a eles se filiar; o direito à habitação; o direito à saúde pública, a tratamento médico, à previdência social e aos serviços sociais; o direito à educação e à formação profissional; o direito à igual participação das atividades culturais; e o direito de acesso a todos os lugares e serviços destinados ao uso do público. Conforme leciona a doutrina, para a proteção das vítimas de discriminação racial devem ser assegurados meios e condições para o exercício dos direitos civis e políticos, bem como dos direitos sociais, econômicos e culturais em igualdade de condições com as demais pessoas. Mecanismos de Fiscalização Antes de passarmos para análise do texto da Convenção, devemos pontuar algumas observações em relação aos mecanismos de fiscalização. A referida Convenção instituiu o Comitê sobre a Eliminação da Discriminação Racial ao qual compete a coordenação e a organização das diferentes formas adotadas para fiscalizar o cumprimento das prescrições constantes do documento internacional. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques O Comitê é formado por 18 peritos, escolhidos pelos Estados-parte para mandato de 4 anos, que atuarão a título individual, ou seja, não representam o Estado-parte do qual são nacionais. Assim, como a maioria dos tratados internacionais de direitos humanos, são três os mecanismos utilizados: relatórios, comunicações interestatais e petições individuais. Não vamos aqui tecer conceitos e maiores explicações para não tornar a aula repetitiva. Vamos, entretanto, pontuar alguns aspectos importantes relativamente a esses mecanismos de fiscalização. O mecanismo de relatórios está previsto no artigo IX da Convenção, por meio do qual, a cada 2 anos, os Estados-parte devem submeter, ao Comitê, relatórios acerca do cumprimento das disposições da Convenção, bem como indicar as medidas (legislativas, judiciárias e administrativas) tomadas em defesa da igualdade racial plena. O mecanismo das comunicações interestatais, estabelecido no artigo XI da Convenção, somente poderá ocorrer mediante aceitação de ambos os Estados-parte: notificante e notificado. Mecanismos de Implementação: COMUNICAÇÕES INTERESTATAIS: Por fim, o mecanismo de petições individuais consolida a capacidade processual internacional dos indivíduos e exige que o Estado-parte faça uma declaração habilitando o Comitê para receber as referidas petições das vítimas de violação de direitos humanos, razão pela qual é denominada de cláusula facultativa. Caso haja a declaração, a vítima poderá levar ao conhecimento do Comitê de Violação de Direitos em razão de discriminação social, que pressuporá, para a sua análise, o esgotamento ou demora injustificada nos meios internos disponíveis. Uma vez recebida a petição, o Comitê solicitará ao Estado-parte informações atinentes ao caso apresentado, que deverá encaminhar explicações e indicar as ações e as medidas tomadas. O problema das petições individuais é a exigibilidade da decisão dos Comitês, uma vez que tais decisões são destituídas de força jurídica. Assim, a única forma de sanção poderá ocorrer moralmente perante a comunidade internacional, que tomará conhecimento, por meio do relatório anual do Comitê, acerca da não solução de uma violação por discriminação racial. Estado notificante dá ciência ao Comitê Comitê solicita informações do Estado notificado Pelo prazo de 3 meses, o notificado poderá submeter explicações Se não a questão não foi solucionada, poderá novamente ser submetida ao Comitê Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Com isso, finalizamos os principais aspectos relativos à Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial. 2.3 – Estatuto da Igualdade Racial Introdução Atualmente, o Estatuto Nacional da Igualdade Racial (EIR) é disciplinado pela Lei nº 12.228/2010. Trata-se de um diploma que tutela direitos das pessoas negras. E possui os objetivos abaixo relacionados: Esses objetivos são extraídos do caput do art. 1º, assim disciplinado: Art. 1o Esta Lei instituio Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. Ademais, em relação à parte introdutória é importante que conheçamos os conceitos adotados pelo EIR, assim esquematizados: CONCEITOS DISCRIMINAÇÃO RACIAL OU ÉTNICO-RACIAL Constitui toda forma de distinção baseada em fatores étnicos ou de descendência que impliquem na anulação ou restrição dos seus direitos humanos. DESIGUALDADE RACIAL Ocorrerá quando for identificado diferenciação injustificada no acesso e fruição de bens, serviços e oportunidade em razão de fatores étnicos ou de descendência. DESIGUALDADE DE GÊNERO E RAÇA Refere-se à constatação do fosso entre as mulheres negras e demais segmentos da sociedade. POPULAÇÃO NEGRA Conjunto de pessoas que se declaram negas ou pardas segundo o IBGE. POLÍTICAS PÚBLICAS Ações, iniciativas e programas adotados pelo Poder Público voltado para a efetivação de direitos humanos, no âmbito de suas prerrogativas institucionais. De acordo com EIR a garantia da igualdade material entre as pessoas negras e as demais etnias é dever do Estado e da sociedade. Essa igualdade pressupõe a fruição de diversas prerrogativas, especialmente a participação em atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas. Além OBJETIVOS DO EIR Efetivação da igualdade de oportunidadades aos negros Defesa de direito étnicos Combate à discriminação Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques disso, devem ser respeitadas a dignidade e valores religiosos e culturais das pessoas negras. Notem: De acordo com o art. 3º, o EIR é considerado diretriz político-jurídica para a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, para a valorização da igualdade étnica e para o fortalecimento da identidade nacional brasileira. Para a execução das diretrizes, tendo em vista os deveres e objetivos assegurados às pessoas negras, deve ser promovida uma série de ações, que vem disciplinadas no art. 4º, cujo conhecimento é imprescindível para a nossa prova. Essas ações são exemplificativas e prioritárias. Isso significa dizer que devem ser adotadas preferencialmente, entre outras que podem ser implementadas. Vejamos o dispositivo: Art. 4o A participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, política e cultural do País será promovida, prioritariamente, por meio de: I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social; II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa; III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas decorrentes do preconceito e da discriminação étnica; IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas manifestações individuais, institucionais e estruturais; V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e privada; VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos públicos; VII - implementação de programas de ação afirmativa destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e outros. DEVER do Estado e da sociedade Igualdade de participação na comunidade. Respeito à dignidade. Respeito à religião e cultura próprios. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar as distorções e desigualdades sociais e demais práticas discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada, durante o processo de formação social do País. Para a promoção dessas medidas o Estatuto criou o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), cujas linhas gerais serão adiante analisadas. Direitos Fundamentais Neste tópico vamos analisar o tratamento diferenciado conferido a alguns dos direitos humanos das pessoas negras. Direito à Saúde A regra geral consta do art. 6º o EIR: Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos. § 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da saúde da população negra será de responsabilidade dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e municipais, da administração direta e indireta. § 2o O poder público garantirá que o segmento da população negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado sem discriminação. Foi instituído, para a questão afeta à saúde das pessoas negras, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Essa Política, disciplinada no art. 7º do EIR, possui as seguintes diretrizes: Ampliação e fortalecimento da participação de movimentos sociais em defesa da saúde da população negra nas áreas de controle social do SUS. Produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra. Informação, comunicação e educação para a redução das vulnerabilidades da população negra. O dispositivo seguinte, estabelece os objetivos da referida Política, quais sejam: Promoção da saúde, com objetivo de reduzir desigualdades étnicas e combate à discriminação nas instituições e serviços do SUS. Melhorias na qualidade de informação do SUS no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero. Fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra. Inclusão do conteúdo da saúde dos negros nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da área de saúde. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Adoção dos temas relacionados à saúde da população negra nos processos de formação política das lideranças de movimentos sociais para o exercício da participação e controle social no SUS. Em relação à comunidade quilombola, prevê ainda, o tratamento especialíssimo, relativamente à saúde, prevendo a melhorias de condições ambientais, saneamento básico, segurança alimentar e nutricional e atenção integral à saúde. Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer Para a garantia dos direitos supramencionados, compete ao Poder Público adotar uma série de providências. Entre elas: Promoção de ações o acesso da população negra ao ensino e às atividades esportivas e de lazer. Apoio às entidades que mantenham espaço para promoção social e cultural da população negra. Desenvolvimento de campanhas educativas para integração da comunidade negra. Implementação de políticas públicas para o fortalecimento da juventude negra brasileira. Vejamos, na sequência, alguns aspectos pontuais relativos a cada um dos direitos mencionados. Educação Entre os assuntos a serem abordadosnos currículos escolares é obrigatório, segundo EIR, o estudo da história geral da África e da história da população negra no Brasil, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Pretende-se, com o ensino de tais assuntos, resgatar a contribuição decisiva da comunidade negra para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País. Para tanto, é essencial a formação dos professores e a elaboração de material didático específico para a disseminação desses conhecimentos. Do mesmo modo, a pesquisa e desenvolvimento voltados para temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões pertinentes à população negra será incentivado pelos órgãos federais. Nesse contexto, segundo dispõe o art. 13, o Poder Executivo deverá: Resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar grupos, núcleos e centros de pesquisa, que desenvolvam temáticas de interesse da população negra. Incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de formação de professores, assuntos que incluam valores concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade brasileira. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Desenvolver programas de extensão universitária destinados a aproximar jovens negros de tecnologias avançadas. Estabelecer programas de cooperação técnica, nos estabelecimentos de ensino públicos, privados e comunitários, com as escolas de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico, para a formação docente baseada em princípios de equidade, de tolerância e de respeito às diferenças étnicas. Além disso nos arts. 14 a 16, são estabelecidos deveres específicos aos poderes públicos. Cultura Em relação aos direitos culturais da população negra, destaca-se do EIR o reconhecimento das culturas específicas desse segmento social, com a preservação de seus usos, costumes, tradições e religião. Há forte preocupação também com a manutenção das reminiscências históricas dos quilombolas. Ademais, está previsto o respeito à capoeira, como bem de natureza imaterial e de formação da identidade cultural brasileira, que será divulgado internacionalmente como tradição da cultura brasileira. Esporte e Lazer No que diz respeito ao esporte e ao lazer, reconhece-se a capoeira, para além dos aspectos acima, também um esporte de criação nacional. Em relação à capoeira, destaca-se: Será reconhecida como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional. Faculta-se o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos. Direito à Liberdade de Consciência, de Crença e o Livre Exercício de Culto Vejamos o que dispõe o art. 23: Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. A liberdade de consciência abrange: •estimular e apoiar ações socioeducacionais realizadas por entidades do movimento negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, convênios e incentivos, entre outros mecanismos. •adotar programas de ação afirmativa. •acompanhar e avaliar os programas voltados à defesa dos direitos das pessoas negras. OUTRAS ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS CONFERIDAS AO PODER PÚBLICO Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques A prática de cultos, reuniões e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins. A celebração de festividades e cerimônias. A fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas. A produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às práticas. A produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana; A coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades. O acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respectivas religiões. A comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros locais. Temos na CF a garantia de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva, abrangendo inclusive a assistência quanto aos praticantes de religiões de matrizes africanas. Além de assegurar a liberdade de culto, ao Poder Público é conferida a função de combater a intolerância religiosa, atendendo, em relação aos cultos professados pela população negra, os seguintes objetivos: Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para o combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores, especialmente com o objetivo de: I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para a difusão de proposições, imagens ou abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas; II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões de matrizes africanas; III - assegurar a participação proporcional de representantes das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder público. Acesso à terra e à moradia adequada Acesso à Terra No que diz respeito ao acesso a propriedades produtivas pelas comunidades negras, prevê o EIR que o Estado deverá promover políticas públicas voltadas para a questão. Desse modo, além de propiciar condições para o acesso à terra, compete ao Poder Público incentivar o desenvolvimento de atividades produtivas no campo, notadamente por intermédio do financiamento agrícola, com facilitação de crédito, fortalecimento da logística e infraestrutura. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Está previsto, ainda, a educação e a orientação profissional dos trabalhadores negros para o melhor desenvolvimento de suas atividades. No que diz respeito ao acesso à terra pelos quilombolas, prevê o Estatuto regramento específico para preservar-lhes as propriedades de origem. Vejamos os dispositivos: Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá políticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento sustentável dos remanescentes das comunidades dos quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental das comunidades. Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das comunidades dos quilombos receberão dos órgãos competentes tratamento especial diferenciado, assistência técnica e linhas especiais de financiamento público, destinados à realização de suas atividades produtivas e de infraestrutura. Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos se beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em outras leis para a promoção da igualdade étnica. Notamos, em relação aos quilombolas, um tratamento especialíssimo, na medida queem constituem grupos ainda mais vulnerável dentro da temática estudada na presente aula. Moradia O tratamento jurídico da moradia é bastante semelhante ao tratamento conferido ao acesso à terra. Fixa-se ao Poder Público o dever de estabelecer políticas específicas para assegurar o direito fundamental à moradia, especialmente àqueles que vivem em situações degradantes, como favelas, cortiços, áreas urbanas subutilizadas etc. O direito à moradia, de acordo com o art. 35, inclui entre os deveres do Estado: 1. o provimento habitacional; 2. garantia da infraestrutura urbana ; 3. garantia de equipamentos comunitários associados à função habitacional; 4. assistência técnica e jurídica para a construção, a reforma ou a regularização fundiária da habitação em área urbana. Conforme art. 36 do EIR, essas políticas serão desenvolvidas no âmbito do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), tendo em vistas as peculiaridades sociais, econômicas e culturais da população negra. Trabalho O trabalho, enquanto direito social fundamental, vem expressamente disciplinado no Estatuto. Confere-se ao Poder Público, do mesmo modo, o dever de implementar políticas públicas voltadas à igualdade material no trabalho para as pessoas negras. É o que prevê o art. 39: Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a população negra, inclusive mediante a implementação de medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e organizações privadas. § 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a adoção de políticas e programas de formação profissional, de emprego e de geração de renda voltados para a população negra. § 2o As ações visando a promover a igualdade de oportunidades na esfera da administração pública far-se-ão por meio de normas estabelecidas ou a serem estabelecidas em legislação específica e em seus regulamentos. § 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a adoção de iguais medidas pelo setor privado. § 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão o princípio da proporcionalidade de gênero entre os beneficiários. § 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena produção, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas para mulheres negras. § 6o O poder público promoverá campanhas de sensibilização contra a marginalização da mulher negra no trabalho artístico e cultural. § 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de elevar a escolaridade e a qualificação profissional nos setores da economia que contem com alto índice de ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização. Envolvem, ainda, políticas voltadas para o mercado trabalho dos negros: financiamento para constituição e ampliação de pequenas e médias empresas e de programas de geração de renda, contemplarão o estímulo à promoção de empresários negros. atividades voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais, monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os costumes da população negra. Meios de Comunicação Quanto aos meios de comunicação destaca-se: Valorização da herança cultural e a participação da população negra na história do País. Prática de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos negros, vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou artística. SINAPIR Quanto ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, vejamos apenas as regras mais relevantes, em forma de tópicos. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques No âmbito do SINAPIR o Poder Público instituirá mecanismos e instrumentos para a defesa da igualdade racial, notadamente por intermédio de recebimento e encaminhamento de denúncias relatando preconceitos e discriminação fundados na etnia ou cor. Para tanto, nos termos do art. 52, assegura-se o acesso às Defensorias Públicas e demais órgãos jurídicos estatais: Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimento de seus direitos. Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres negras em situação de violência, garantida a assistência física, psíquica, social e jurídica. Para além do acesso à Justiça deve-se observar as regras relativas à proteção desse grupo vulnerável, contra a violência policial incidente sobre a população negra. Entre as práticas adotadas pelo Estado, devem ser implementadas ações de ressocialização e proteção da juventude negra em conflito com a lei e exposta a experiências de exclusão social. Desse modo, chegamos ao final do tratamento relativo ao Estatuto Nacional da Igualdade Racial. Vimos os principais dispositivos, destacando aqueles que possuem relevância para a nossa prova. 3 – Quilombolas e outras comunidades tradicionais 3.1 – Introdução Por comunidades tradicionais devemos compreender os grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, com formas próprias de organização social ocupantes de territórios e recursos naturais para manutenção da comunidade. Citam-se como exemplo de comunidades tradicionais os quilombolas, os indígenas, as comunidades ciganas e de terreiro. Em relação aos quilombolas, vejamos o que nos ensina Daniel Sarmento4: 4 CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil, versão eletrônica. •promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive mediante adoção de ações afirmativas. •formular políticas destinadas a combater os fatores de marginalização e a promover a integração social da população negra. •descentralizar a implementação de ações afirmativas pelos governos estaduais, distrital e municipais. •articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção da igualdade étnica. •garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados para a implementação das ações afirmativas e o cumprimento das metas a serem estabelecidas. OBJETIVOS DO SINAPIR Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques As marcas deixadas por séculos de escravidão negra no país estão longe de cicatrizar. A escravidão e a posterior omissão do Estado e da sociedade brasileira em adotar medidas de inclusão social do negro são responsáveis por um quadro desalentador, de profunda desigualdade entre as etnias. A tarefa que hoje se impõe ao país, e que tem firme apoio na Constituição de 88, não se esgota na redução dos desníveis socioeconômicos existentes entre as raças. Ela é mais profunda, e inclui também o respeito e a valorização da cultura afro-brasileira e o reconhecimento, despido de preconceitos e estereótipos, da identidade dos negros. O aspecto principal de discussão no cenário jurídico atual é o acesso à terra, cuja diretriz normativa consta do Estatuto Nacional da Igualdade Racial, por nós analisado. Conforme destacam os especialistas, a terra para essas comunidades não é apenas um bem econômico. O espaço ocupado por tais comunidade é, para além de um bem material, fundamental para as relações sociais, econômicas, culturais, justificando a proteção especial conferida pelo Estatuto. Nesse contexto, prevê o art. 68 dos ADCT: Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejamocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos. Analisaremos esses dispositivo, adiante. 3.2 - Conceito Os quilombolas constituem grupos e comunidades que adotam a prática do sistema de uso comum da terra, entendida como espaço coletivo e indivisível a ser ocupado e explorado por meio de regras consensuais aos grupos familiares que as compõem. As relações são orientadas pela solidariedade e ajuda mútua entre os integrantes da comunidade. Há um conceito regulamentar, conferido pelo Decreto nº 4.887/2003, cujo conhecimento é importante: Art. 2o Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. Segundo a doutrina para o conceito de quilombo, quatro elementos devem ser analisados. CONCEITO DE GRUPOS QUILOMBOLAS Grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num determinado lugar. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques No que diz respeito ao primeiro elemento, deve ser verificado se a comunidade é marcada por uma trajetória histórica específica, relacionada à resistência e opressão contra os negros. Ademais, é fundamental que essa comunidade possua traços culturais próprios, como modos de criar, fazer e viver peculiares. No que diz respeito à territorialidade, traço distintivo dessas comunidades, é a existência de uma relação próxima do quilombo com a terra, para além do aspecto meramente econômico do imóvel. Finalmente, no que atine à autoatribuição, refere-se à percepção dos integrantes da comunidade têm em relação à própria identidade étnica. Vale dizer, reconhecem-se como uma comunidade quilombola, nos termos que definimos acima. 3.3 - Proteção Legislativa Inicialmente destaca-se o dispositivo dos ADCT já citado, que reconhece a propriedade definitiva às comunidades quilombolas que estejam ocupadas, caracterizando-as como direito fundamental. Essa regra específica é endossada pela proteção especial conferida aos povos indígenas, constantes do art. 231 e 232 da CF, mencionados no tópico anterior. Paralelamente há o Decreto nº 4.887/2003 (que está sob alegação de inconstitucionalidade perante o STF na ADI nº 3.239), em atenção ao art. 68, dos ADCT, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. No âmbito internacional, aplicável à matéria, destaca-se a Convenção nº 169 da OIT, que trata dos direitos dos povos indígenas e tribais, aplicável aos remanescentes de quilombos. O referido documento, regularmente internalizado em nosso ordenamento (Decreto Legislativo nº 143/2002 e Decreto Presidencial nº 5.051/2004) disciplina o direito ao território ocupado por tais comunidades indígenas. ELEMENTOS PARA CARACTERIZAÇÃO DE UMA COMUNIDADE QUILOMBOLA Passado histórico de resistência à opressão racial Cultura própria Relação especial com a terra (territorialidade) Autoatribuição Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Desses diplomas, nos interessa, para uma análise objetiva o art. 68, das ADCT, que resultou no Decreto 4.887/2003 e toda a discussão em torno da questão fundiária dos quilombolas e a ADI nº 3.239, em trâmite no STF. 3.4 - Estruturação das Políticas Públicas voltadas para a defesa dos direitos de comunidades quilombolas Regularização fundiária em comunidades quilombolas Tal política é, atualmente, desenvolvida pelo INCRA, órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Para a regularização há abertura de processo administrativo, seguido da confecção de um relatório que identifica a delimita o território reivindicado pela comunidade quilombola. Esse documento de delimitação do território é publicado, para eventuais impugnações administrativas. Resolvidas as impugnações ou decorrido o prazo sem manifestações, a delimitação é constituída e o presidente do INCRA publica portaria reconhecendo e declarando os limites da terra quilombola. Políticas Públicas voltadas às comunidades quilombolas Entre as diversas políticas que são desenvolvidas para a proteção das comunidades quilombolas, destacam-se: Programa Brasil Quilombola Constitui um conjunto de ações governamentais voltadas para a defesa dos direitos das comunidades remanescentes de quilombos, com ênfase na participação da sociedade civil. Dentre as ações engendradas, destaca-se: Política de Regularização Fundiária; Política de Infraestrutura e Serviços série de ações destacadas à construção de obras de infra-estrutura e construção de equipamentos sociais destinados a atender as comunidades quilombolas; Desenvolvimento econômico-social na aplicação de um modelo peculiar de desenvolvimento das comunidades quilombolas, tendo em vista as características do local, identidade da comunidade. Essas ações têm por finalidade conferir condições adequadas de vida ao segmento social. Controle e participação social ações voltadas à integração da comunidade quilombola em fóruns locais e nacionais de políticas públicas. Agenda Social Quilombola •Art. 68, das ADCT •Arts. 231 e 232, da CF •Decreto nº 4.887/2003 •Convenção nº 169 da OIT BASE LEGAL DE PROTEÇÃO ÀS COMUNIDADES QUILOMBOLAS Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques A Agenda Social objetiva articular as ações existentes no âmbito do Governo Federal, por meio do Programa, voltadas para a defesa dos direitos da comunidade, em especial a defesa da terra, construção de obras de infraestrutura, visando conferir qualidade de vida a tais pessoas, inclusão produtiva e desenvolvimento local e direitos de cidadania. 3.5 - Art. 68 dos ADCT, Decreto nº 4.887/2003 e a ADI n° 3.239 Segundo Daniel Sarmento5, o art. 68 da ADCT veio à CF para acolher uma demanda legítima e importante: Sem embargo, a partir da década de 1990 o tema passa a ser objeto de intensa discussão tanto no âmbito do movimento negro como no campo da Antropologia, e o art. 68 começa a ser invocado com frequência cada vez maior como instrumento de luta em favor dos direitos territoriais de comunidades negras dotadas de cultura própria e de um passado ligado à resistência à opressão. Desde então, houve, no plano federal, duas tentativas principais de definição jurídica do instituto: a primeira, em termos extremamente restritivos, foi realizada pelo Decreto n. 3.912/2001, e a segunda, mais ampliativa, está plasmada no Decreto n. 4.887/2003, atualmente em vigor. Vejamos, abaixo, os objetivos do art. 68, dos ADCT, segundo a doutrina. A terra para essas comunidades é imantada por uma relação mais próxima da comunidade. Há um conjunto de laços históricos, tradições e valores compartilhados pela sociedade que se estabelece a partir da relação do quilombo com o território que ocupam. Em razão disso, o art. 68 dos ADCT assume caráter 5 CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil, versão eletrônica. •Acesso à Terra •Promoção da Saúde •Educação Quilombola •Alfabetização •Luz para todos •Meio ambiente •Desenvolvimento local •Cidadania EIXOS DE AÇÃO DA AGENDA SOCIAL QUILOMBOLA •Assegurar a sobrevivência e o florescimentosdas comunidades quilombolas. •Promoção da igualdade substantiva e da justiça social ao conferir direitos territoriais a grupo desfavorecido. •Medida reparatória que objetiva resgatar a dívida histórica do Brasil em relação às comunidades compostas por descedentes de escravos que, até hoje, sofrem os efeitos da dominação e violações de direitos. OBJETIVOS DO ART. 68 DOS ADCT Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques de direito fundamental às comunidades quilombolas, constituindo verdadeiro premissa para a dignidade de seus integrantes. Questiona-se acerca da aplicabilidade desse dispositivo, havendo quem mencione ser um direito aplicável apenas a partir de regulamentação infraconstitucional. Nesse o Partido da Frente Liberal (PFL) em 2004 ajuizou a ADI 3.239 que objetiva declarar a inconstitucionalidade do Decreto nº 4.887/2003 que regulamenta o procedimento de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação de terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas nos termos do art. 68 do ADCT. Alega-se a inconstitucionalidade com fundamento de que o diploma padece de inconstitucionalidade formal, devido ao fato de não haver uma lei prévia que confira validade ao Decreto. Por se tratar de um documento normativo secundário, a sua validade estaria vinculada a uma lei reguladora, que não existe. Fala-se, portanto, em violação ao princípio da legalidade a regulamentação do art. 68 dos ADCT por intermédio de um decreto autônomo. Devemos lembrar que as matérias que podem ser disciplinadas por decreto autônomo são restritas e vem expressamente delimitadas no art. 84, VI, da CF. Contudo, o entendimento disseminado atualmente na doutrina é o que o art. 68 dos ADCT é uma norma completa, embora concisa. Todos os elementos necessários à aplicabilidade estão presentes no teor do art. 68, de modo que pode ser aplicado diretamente pela Administração, sem necessidade de intermediação por lei infraconstitucional. Desse modo, manter-se-ia hígido o Decreto para regulamentar o dispositivo constitucional. Se isso não bastasse afirma-se que é possível extrair fundamento infraconstitucional para o Decreto da Convenção nº 168 da OIT, que trata explicitamente do direito à terra das comunidades indígenas e povos tribais. Alerta-se que a referida Convenção foi internalizada em nosso ordenamento jurídico, ingressando como norma infraconstitucional. Ademais, a AGU manifestou pela constitucionalidade do Decreto nº 4.887/2003 arguindo em sede preliminar que a ADI não deve ser reconhecida, uma vez que objetiva declarar integralmente inconstitucional uma norma, de forma genérica. No entendimento do órgão é imprescindível a indicação específica dos dispositivos constitucionais que cada um de seus artigos que o decreto viola. O parecer dos amicus curiae (Conectas Direitos Humanos, o Instituto Pro Bono e a Sociedade Brasileira de Direito Público) sustentam a constitucionalidade reportando-se ao histórico dessas comunidades, enquanto territórios étnicos de resistência. Arguem que ao Estado Brasileiro compete a proteção dessas comunidades e suas manifestações culturais afro-brasileiras, com os respectivos valores e modos próprios de vida, o que legitimaria a ação do governo por intermédio do decreto impugnado. Ademais, sustentam que, ao contrário do que fora afirmado na petição inicial da ADI, a regulamentação fundiária não envolve a mera manifestação de vontade do interessado para que a terra lhe seja vinculada juridicamente. Há um processo Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques administrativo burocrático, pelo qual busca-se avaliar os critérios de territorialidade e identidade coletiva, em nítido caráter histórico-antropológico. Atualmente, os autos foram devolvidos do gabinete do Min. Dias Toffoli e aguardam julgamento6. 4 - Proteção aos Povos Indígenas Neste capítulo vamos analisar a proteção especial conferida aos povos indígenas em sede de Direitos Humanos. Para fins do nosso estudo vamos tratar, primeiramente, da colocação constitucional da matéria para localização do tema. É importante ressaltar, ainda, antes de começar que no âmbito internacional a proteção é difusa. Temos algumas convenções gerais que tratam da proteção a esse grupo, como é o caso da Convenção para Eliminação da Discriminação Racial e do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. Contudo, o documento mais relevante na seara internacional é a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. Como o assunto não foi referido em edital, fica aqui apenas o registro. 4.1 - Proteção aos Índios em nosso Ordenamento Jurídico Para o nosso estudo aqui em Direitos Humanos nos interessa especialmente a disciplina constante da Constituição Federal. A CF de 1988 rompe com o paradigma até então vigente da assimilação, integração e provisoriedade da condição de indígena. O pensamento até então dominante é o que de que os índios estavam em processo de aculturação. Essa premissa, contudo, não é a mais adequada. Na CF o Estado reconhece o direito dos indígenas de continuarem índios, enquanto uma coletividade organizada. Não é á toa que o caput do art. 231 reconhece a ordem social própria das comunidades indígenas, com costumes, línguas, crenas e tradições próprias. Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. Do caput do dispositivo extrai-se o reconhecimento à cultura e tradição dos índios, bem como o modo de vida, bem como o reconhecimento das terras ocupadas, cuja definição consta do §1º abaixo: § 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. O conceito do dispositivo acima trata, por assim dizer, de quatro critério para classificá-las como territórios tradicionalmente utilizados pelos indígenas. 6 Conforme http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2227157, acesso em 18/8/2016. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques Revela-se a vontade do Constituinte Originário de garantir os direitos territoriais aos grupos indígenas, premissa para a manutenção da vida indígena. Essas propriedades, contudo, não assumem a conotação privada, tanto é que a CF prevê no art. 20, XI, que as terras indígenas são bens da União. Trata-se, portanto, de uma categoria sui generis de “terras indígenas”. No mesmo sentido estão os ensinamentos de Carlos Frederico Marés de Souza Filho7: A Constituição de 1988 repete os termos posse permanente e usufruto exclusivo. Por isso, é necessário verificar o que significa posse indígena, estando claro que não se confunde com a posse civil do receituário privado, porque esta é individual e material, enquanto a indígena é coletiva e exercida segundo usos, costumes e tradições do povo, no dizer da Lei de 1973 (Estatuto do Índio). Sigamos com o §2º: § 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. De acordo com a doutrina, ao se reconhecer os direitos originários sobreas terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, remete a três ideias chave, quais sejam: Constitui-se um direito originário, na medida em que independe de qualquer ato do Estado. As terras devem ser ocupadas com caráter permanente, sendo utilizadas para atividades produtivas. 7 CANOTILHO, J. J. Gomes [et. al.]. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Editora Saraiva e Almedina, 2013, versão eletrônica. T E R R A S T R A D IC IO N A L M E N T E O C U P A D A S P E L O S Í N D IO S por eles habitadas em caráter permanente utilizadas para suas atividades produtivas imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições O caráter originário do direito. A forma tradicional de ocupação. A ocupação real e atual. Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques A ocupação deve ser real e atual, ainda que haja algum fato impeditivo. É o que se extrai do caso envolvendo a terra indígena Raposa Serra do Sol. Dada a importância e correlação com a matéria e porque extremamente didática, é interessante a leitura do julgamento histórico do STF: AÇÃO POPULAR. DEMARCAÇÃO DA TERRA INDÍGENA RAPOSA SERRA DO SOL. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS NO PROCESSO ADMINISTRATIVO- DEMARCATÓRIO. OBSERVÂNCIA DOS ARTS. 231 E 232 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO DA LEI Nº 6.001/73 E SEUS DECRETOS REGULAMENTARES. CONSTITUCIONALIDADE E LEGALIDADE DA PORTARIA Nº 534/2005, DO MINISTRO DA JUSTIÇA, ASSIM COMO DO DECRETO PRESIDENCIAL HOMOLOGATÓRIO. RECONHECIMENTO DA CONDIÇÃO INDÍGENA DA ÁREA DEMARCADA, EM SUA TOTALIDADE. MODELO CONTÍNUO DE DEMARCAÇÃO. CONSTITUCIONALIDADE. REVELAÇÃO DO REGIME CONSTITUCIONAL DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL COMO ESTATUTO JURÍDICO DA CAUSA INDÍGENA. A DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS COMO CAPÍTULO AVANÇADO DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. INCLUSÃO COMUNITÁRIA PELA VIA DA IDENTIDADE ÉTNICA. VOTO DO RELATOR QUE FAZ AGREGAR AOS RESPECTIVOS FUNDAMENTOS SALVAGUARDAS INSTITUCIONAIS DITADAS PELA SUPERLATIVA IMPORTÂNCIA HISTÓRICO-CULTURAL DA CAUSA. SALVAGUARDAS AMPLIADAS A PARTIR DE VOTO-VISTA DO MINISTRO MENEZES DIREITO E DESLOCADAS PARA A PARTE DISPOSITIVA DA DECISÃO. (...) . 3. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS NO PROCESSO ADMINISTRATIVO DEMARCATÓRIO. 3.1. Processo que observou as regras do Decreto nº 1.775/96, já declaradas constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal no Mandado de Segurança nº 24.045, da relatoria do ministro Joaquim Barbosa. Os interessados tiveram a oportunidade de se habilitar no processo administrativo de demarcação das terras indígenas, como de fato assim procederam o Estado de Roraima, o Município de Normandia, os pretensos posseiros e comunidades indígenas, estas por meio de petições, cartas e prestação de informações. Observância das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa. 3.2. Os dados e peças de caráter antropológico foram revelados e subscritos por profissionais de reconhecidas qualificação científica e se dotaram de todos os elementos exigidos pela Constituição e pelo Direito infraconstitucional para a demarcação de terras indígenas, não sendo obrigatória a subscrição do laudo por todos os integrantes do grupo técnico (Decretos nos 22/91 e 1.775/96). 3.3. A demarcação administrativa, homologada pelo Presidente da República, é "ato estatal que se reveste da presunção juris tantum de legitimidade e de veracidade" (RE 183.188, da relatoria do ministro Celso de Mello), além de se revestir de natureza declaratória e força auto-executória. Não comprovação das fraudes alegadas pelo autor popular e seu originário assistente. 4. O SIGNIFICADO DO SUBSTANTIVO "ÍNDIOS" NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O substantivo "índios" é usado pela Constituição Federal de 1988 por um modo invariavelmente plural, para exprimir a diferenciação dos aborígenes por numerosas etnias. Propósito constitucional de retratar uma diversidade indígena tanto interétnica quanto intra-étnica. Índios em processo de aculturação permanecem índios para o fim de proteção constitucional. Proteção constitucional que não se limita aos silvícolas, estes, sim, índios ainda em primitivo estádio de habitantes da selva. 5. AS TERRAS INDÍGENAS COMO PARTE ESSENCIAL DO TERRITÓRIO BRASILEIRO. 5.1. As "terras indígenas" versadas pela Constituição Federal de 1988 fazem parte de um território estatal- brasileiro sobre o qual incide, com exclusividade, o Direito nacional. E como tudo o mais que faz parte do domínio de qualquer das pessoas federadas brasileiras, são terras que se submetem unicamente ao primeiro dos princípios regentes das relações internacionais da República Federativa do Brasil: a soberania ou "independência nacional" (inciso I do art. 1º da CF). 5.2. Todas as "terras indígenas" são um bem público federal (inciso XI do art. 20 da CF), o que não significa dizer que o ato em si da demarcação extinga ou amesquinhe qualquer unidade federada. Primeiro, porque as unidades federadas pós- Constituição de 1988 já nascem com seu território jungido ao regime constitucional de preexistência dos direitos originários dos índios sobre as terras por eles "tradicionalmente Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques ocupadas". Segundo, porque a titularidade de bens não se confunde com o senhorio de um território político. Nenhuma terra indígena se eleva ao patamar de território político, assim como nenhuma etnia ou comunidade indígena se constitui em unidade federada. Cuida-se, cada etnia indígena, de realidade sócio-cultural, e não de natureza político-territorial. 6. NECESSÁRIA LIDERANÇA INSTITUCIONAL DA UNIÃO, SEMPRE QUE OS ESTADOS E MUNICÍPIOS ATUAREM NO PRÓPRIO INTERIOR DAS TERRAS JÁ DEMARCADAS COMO DE AFETAÇÃO INDÍGENA. A vontade objetiva da Constituição obriga a efetiva presença de todas as pessoas federadas em terras indígenas, desde que em sintonia com o modelo de ocupação por ela concebido, que é de centralidade da União. Modelo de ocupação que tanto preserva a identidade de cada etnia quanto sua abertura para um relacionamento de mútuo proveito com outras etnias indígenas e grupamentos de não-índios. A atuação complementar de Estados e Municípios em terras já demarcadas como indígenas há de se fazer, contudo, em regime de concerto com a União e sob a liderança desta. Papel de centralidade institucional desempenhado pela União, que não pode deixar de ser imediatamente coadjuvado pelos próprios índios, suas comunidades e organizações, além da protagonização de tutela e fiscalização do Ministério Público (inciso V do art. 129 e art. 232, ambos da CF). 7. AS TERRAS INDÍGENAS COMO CATEGORIA JURÍDICA DISTINTA DE TERRITÓRIOS INDÍGENAS. O DESABONO CONSTITUCIONAL AOS VOCÁBULOS "POVO", "PAÍS", "TERRITÓRIO", "PÁTRIA" OU "NAÇÃO" INDÍGENA. Somente o "território" enquanto categoria jurídico-política é que se põe como o preciso âmbito espacial de incidência de uma dada Ordem Jurídica soberana, ou autônoma. O substantivo "terras" é termo que assume compostura nitidamente sócio-cultural, e não política. A Constituição teve o cuidado de não falar em territórios indígenas, mas, tão-só, em "terras indígenas". A traduzir que os "grupos", "organizações", "populações" ou "comunidades" indígenas não constituem pessoa federada. Não formam circunscrição ou instância espacial que se orne de dimensão política. Daí não se reconhecer a qualquer das organizações sociais indígenas, ao conjunto delas, ou à sua base peculiarmente antropológica a dimensão de instância transnacional. Pelo que nenhuma das comunidades indígenas brasileiras detém estatura normativapara comparecer perante a Ordem Jurídica Internacional como "Nação", "País", "Pátria", "território nacional" ou "povo" independente. Sendo de fácil percepção que todas as vezes em que a Constituição de 1988 tratou de "nacionalidade" e dos demais vocábulos aspeados (País, Pátria, território nacional e povo) foi para se referir ao Brasil por inteiro. 8. A DEMARCAÇÃO COMO COMPETÊNCIA DO PODER EXECUTIVO DA UNIÃO. Somente à União, por atos situados na esfera de atuação do Poder Executivo, compete instaurar, sequenciar e concluir formalmente o processo demarcatório das terras indígenas, tanto quanto efetivá- lo materialmente, nada impedindo que o Presidente da República venha a consultar o Conselho de Defesa Nacional (inciso III do § 1º do art. 91 da CF), especialmente se as terras indígenas a demarcar coincidirem com faixa de fronteira. As competências deferidas ao Congresso Nacional, com efeito concreto ou sem densidade normativa, exaurem-se nos fazeres a que se referem o inciso XVI do art. 49 e o § 5º do art. 231, ambos da Constituição Federal. 9. A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS COMO CAPÍTULO AVANÇADO DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. Os arts. 231 e 232 da Constituição Federal são de finalidade nitidamente fraternal ou solidária, própria de uma quadra constitucional que se volta para a efetivação de um novo tipo de igualdade: a igualdade civil-moral de minorias, tendo em vista o proto-valor da integração comunitária. Era constitucional compensatória de desvantagens historicamente acumuladas, a se viabilizar por mecanismos oficiais de ações afirmativas. No caso, os índios a desfrutar de um espaço fundiário que lhes assegure meios dignos de subsistência econômica para mais eficazmente poderem preservar sua identidade somática, linguística e cultural. Processo de uma aculturação que não se dilui no convívio com os não-índios, pois a aculturação de que trata a Constituição não é perda de identidade étnica, mas somatório de mundividências. Uma soma, e não uma subtração. Ganho, e não perda. Relações interétnicas de mútuo proveito, a caracterizar ganhos culturais incessantemente cumulativos. Concretização constitucional do valor da inclusão comunitária pela via da identidade étnica. 10. O FALSO ANTAGONISMO ENTRE A QUESTÃO INDÍGENA E O DESENVOLVIMENTO. Ao Poder Público de todas as dimensões federativas o que incumbe não é Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques subestimar, e muito menos hostilizar comunidades indígenas brasileiras, mas tirar proveito delas para diversificar o potencial econômico-cultural dos seus territórios (dos entes federativos). O desenvolvimento que se fizer sem ou contra os índios, ali onde eles se encontrarem instalados por modo tradicional, à data da Constituição de 1988, desrespeita o objetivo fundamental do inciso II do art. 3º da Constituição Federal, assecuratório de um tipo de "desenvolvimento nacional" tão ecologicamente equilibrado quanto humanizado e culturalmente diversificado, de modo a incorporar a realidade indígena. 11. O CONTEÚDO POSITIVO DO ATO DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. 11.1. O marco temporal de ocupação. A Constituição Federal trabalhou com data certa -- a data da promulgação dela própria (5 de outubro de 1988) -- como insubstituível referencial para o dado da ocupação de um determinado espaço geográfico por essa ou aquela etnia aborígene; ou seja, para o reconhecimento, aos índios, dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. 11.2. O marco da tradicionalidade da ocupação. É preciso que esse estar coletivamente situado em certo espaço fundiário também ostente o caráter da perdurabilidade, no sentido anímico e psíquico de continuidade etnográfica. A tradicionalidade da posse nativa, no entanto, não se perde onde, ao tempo da promulgação da Lei Maior de 1988, a reocupação apenas não ocorreu por efeito de renitente esbulho por parte de não- índios. Caso das "fazendas" situadas na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, cuja ocupação não arrefeceu nos índios sua capacidade de resistência e de afirmação da sua peculiar presença em todo o complexo geográfico da "Raposa Serra do Sol". 11.3. O marco da concreta abrangência fundiária e da finalidade prática da ocupação tradicional. Áreas indígenas são demarcadas para servir concretamente de habitação permanente dos índios de uma determinada etnia, de par com as terras utilizadas para suas atividades produtivas, mais as "imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar" e ainda aquelas que se revelarem "necessárias à reprodução física e cultural" de cada qual das comunidades étnico-indígenas, "segundo seus usos, costumes e tradições" (usos, costumes e tradições deles, indígenas, e não usos, costumes e tradições dos não-índios). Terra indígena, no imaginário coletivo aborígine, não é um simples objeto de direito, mas ganha a dimensão de verdadeiro ente ou ser que resume em si toda ancestralidade, toda coetaneidade e toda posteridade de uma etnia. Donde a proibição constitucional de se remover os índios das terras por eles tradicionalmente ocupadas, assim como o reconhecimento do direito a uma posse permanente e usufruto exclusivo, de parelha com a regra de que todas essas terras "são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis" (§ 4º do art. 231 da Constituição Federal). O que termina por fazer desse tipo tradicional de posse um heterodoxo instituto de Direito Constitucional, e não uma ortodoxa figura de Direito Civil. Donde a clara intelecção de que OS ARTIGOS 231 E 232 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL CONSTITUEM UM COMPLETO ESTATUTO JURÍDICO DA CAUSA INDÍGENA. 11.4. O marco do conceito fundiariamente extensivo do chamado "princípio da proporcionalidade". A Constituição de 1988 faz dos usos, costumes e tradições indígenas o engate lógico para a compreensão, entre outras, das semânticas da posse, da permanência, da habitação, da produção econômica e da reprodução física e cultural das etnias nativas. O próprio conceito do chamado "princípio da proporcionalidade", quando aplicado ao tema da demarcação das terras indígenas, ganha um conteúdo peculiarmente extensivo. 12. DIREITOS "ORIGINÁRIOS". Os direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam foram constitucionalmente "reconhecidos", e não simplesmente outorgados, com o que o ato de demarcação se orna de natureza declaratória, e não propriamente constitutiva. Ato declaratório de uma situação jurídica ativa preexistente. Essa a razão de a Carta Magna havê-los chamado de "originários", a traduzir um direito mais antigo do que qualquer outro, de maneira a preponderar sobre pretensos direitos adquiridos, mesmo os materializados em escrituras públicas ou títulos de legitimação de posse em favor de não-índios. Atos, estes, que a própria Constituição declarou como "nulos e extintos" (§ 6º do art. 231 da CF). 13. O MODELO PECULIARMENTE CONTÍNUO DE DEMARCAÇÃO DAS Prof. Ricardo Torques www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 73 DIREITOS HUMANOS – DPU teoria e questões Aula 09 – Prof. Ricardo Torques TERRAS INDÍGENAS. O modelo de demarcação das terras indígenas é orientado pela ideia de continuidade. Demarcação por fronteiras vivas ou abertas em seu interior, para que se forme um perfil coletivo e se afirme a auto-suficiência econômica de toda uma comunidade usufrutuária. Modelo bem mais serviente da ideia cultural e econômica de abertura de horizontes do que de fechamento em "bolsões", "ilhas", "blocos" ou "clusters", a evitar que se dizime o espírito pela eliminação progressiva dos elementos de uma dada cultura (etnocídio). 14. A CONCILIAÇÃO ENTRE TERRAS INDÍGENAS E A VISITA DE NÃO-ÍNDIOS, TANTO QUANTO COM A ABERTURA DE VIAS DE COMUNICAÇÃO E A MONTAGEM DE BASES FÍSICAS PARA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
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