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AUTORA Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos ● Mestra em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Maringá. ● Graduada em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Maringá. ● Especialista em História e Sociedade - Universidade Estadual de Maringá. ● Especialista em Educação a Distância - UNIFAMMA - Centro Universitário Metropolitano de Maringá ● Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Educação (PPE) - Universidade Estadual de maringá. ● Integrante do Grupo de Pesquisa em Educação a Distância e Tecnologia (GPEaDTEC) - Universidade Estadual de maringá. ● Principais temas de interesses: Educação, Ensino de Sociologia, Políticas Públicas, Educação a Distância (EaD), Tecnologia, Comunicação. Atualmente, Professora de Sociologia - Educação Básica. Professora de Ciências sociais e Áreas afins - Ensino Superior. ● Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/7216942697334779 https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=547B1C4C555717CB54271E59B736B834# APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Caros Alunos e Alunas Sejam bem vindos a disciplina de Políticas Públicas da Educação Básica. O objetivo geral desta disciplina é contribuir para a formação acadêmica de vocês por meio do debate e conhecimento das política públicas de educação existente e em vigor no país. É de suma importância que vocês sejam capazes de tirar as vendas que comprem seus olhos quando o assunto é política. Ela é tão fundamental para nossa sociedade que até parece uma brincadeira (de muito mal gosto) que as pessoas acreditem que não seja necessário compreendê-la. No nosso caso, vamos nos debruçar, sobre as políticas públicas de educação de maneira geral e também, especificamente, sobre a educação básica. Para isso, devemos estar abertos a novos saberes e conhecimentos. Como estamos em constante construção, espero contribuir para o seu aperfeiçoamento como cidadão e também professores ou futuros profissionais da educação. Assim sendo, o que pretendo revelar a vocês é que a política faz parte do nosso cotidiano e por isso, precisa ser interpelada e questionada à todo mundo. Dessa maneira, o material didático de vocês está dividido da seguinte forma: Na Unidade I vamos conversar um pouco sobre conceitos e concepção do que é política? Perpassando pela história filosófica e social de toda a construção conceitual. Veremos ainda que a política demanda uma teoria específica e seu estudo é realizado por uma ciência, chamada de Ciência Política. Esse recorte teórico nos auxiliará a refletir sobre as noções de poder e dominação. Dando sequência às nossas discussões adentraremos a Unidade II, que continuará refletindo sobre a questão tão política, porém agora, de maneira mais específica, apresentando o conceito de políticas públicas de educação e os seus desdobramentos na legislação nacional. Refletiremos, mesmo que de maneira sucinta sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, assim como, das especificações, sobre educação existentes na Constituição Federal de 1988. Porém, até chegarmos a essas resoluções mais recentes, vamos fazer um breve apanhado histórico sobre as leis e decretos de políticas públicas em nosso país, a partir da década de 1930. Já na Unidade III, iremos debater sobre as questões de financiamentos da educação brasileira e o peso das organizações e agências internacionais sobre esse processo. Por fim, na Unidade IV, vamos refletir sobre as políticas públicas de educação relacionado a formação e a valorização docente da educação básica. Para nos aproximarmos ainda mais das discussões realizadas recentemente vamos tomar por base o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Diante dessa primeira exposição, espero que vocês possam compreender que estudar política é uma necessidade e compreendê-la faz parte da formação não só de um professor crítico e engajado, mas de um cidadão que conhecer e defende a “coisa pública”. SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Concepções e Princípios UNIDADE II ................................................................................................... 27 Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil UNIDADE III .................................................................................................. 49 Financiamento da Educação Brasileira UNIDADE IV .................................................................................................. 65 Profissionais da Educação Básica 6 Plano de Estudo: • Conceitos e Definições de Política. • Campos de estudo das Ciências Políticas • Política e Estado • Poder x Dominação Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar o conceito e as definições do que Política. • Compreender de que maneira a Ciências Políticas é importante da compreensão crítica da ideia de política. • Refletir sobre a questão de Estado, Poder e Dominação. UNIDADE I Concepções e Princípios Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos 7UNIDADE I Concepções e Princípios INTRODUÇÃO Você já deve ter ouvido e até mesmo falado nas rodas de amigos ou familiares que: “Política é algo que não se discute”, será que essa afirmativa é mesmo verdadeira? Nessa unidade vamos refletir sobre a importância de entender o que é política, sua relação com o Estado, poder e dominação. A partir do olhar advindo da área responsável por seus inúmeros estudos, chamada de Ciências Políticas. O importante nessa nossa caminhada por essa temática é estar aberto para novas descobertas, transformação de pensamento e, principalmente, a inquietação para questionar. Tudo isso é imprescindível, para que você possa compreender a política baseada em análises críticas, teóricas e científicas e não se manter apenas no achismo. Quando estamos refletindo sobre questões políticas, nos voltamos para o entendimento da sociedade, suas necessidades e dilemas. Só assim, é possível lutar para que hajam modificados para a realidade de muitos grupos socias. Por isso, que política deve ser debatida, SIM! Não baseada apenas no gosto de cada um por partido ou candidato, mas baseado em todo o processo político, propostas e ações que possam modificar a realidade. Convido você então a entender política por uma outra ótica. Pelo olhar de cidadão, que consciente do seu lugar, pode sugerir e opinar em sua própria sociedade. BONS ESTUDOS. 8UNIDADE I Concepções e Princípios 1 AFINAL, O QUE É POLÍTICA? Você já parou para pensar na importância de se compreender o que é política? Já se perguntou porque ela é tão necessária para a nossa sociedade? Já quis ser um político? Ou mediante a realidade tem um certo desânimo em falar qualquer coisa que se relacione a política? São questões que muitas vezes estão no nosso dia-a-dia, porém não somos capazes de aprofundamos nossas inquietações e passamos a viver em uma realidade que não entendemos, mas também não sabemos como modificar. Estudar Política é necessário, pois nos ajuda a entender que somos parte de uma sociedade, refletidos e reflexos da vivência social que possuímos, começando ainda em um primeiro processo de socialização que ocorre, inicialmente, na família e depois nos encaminha para o segundo processo que será efetivado nas instituições sociais, como: Estado, Igreja e Escola. Todos esses espaços sociais tende a nos revelar características particulares, repleto de regras e também de ações que serão direcionadas como direitos e deveres. Por essa razão, é que a política é fundamental para a dinâmica social. Segundo Ribeiro (2010), o termo política tem como princípio o exercício de diferentes formas de poder e suas inúmeras consequências. Entretanto, esse poder muitas vezes não é tãovisível, mas está ali inserido pelas ações e atitudes dos indivíduos. 9UNIDADE I Concepções e Princípios Até as discussões realizadas por Michael Foucault (2014), sobre a ideia de microfísicas do poder, considerava-se que ao falarmos de poder estávamos nos referindo apenas a questão política, porém veremos mais adiante, que o poder é exercido de maneira variada pelos indivíduo sobre o outro. A complexidade do poder é que nos faz compreender a ação da política. Pois, a política está interligada com o poder, esse tem por objetivo modificar o comportamento das pessoas, por meio de atos políticos baseado em decisões e nos interesses próprios de um grupo ou sujeito social. Assim, ao pensarmos em política percebemos o quando ela é imposta pelos interesses pessoais ou sociais, que são transformados em objetivos, que se tornam decisões importantes para todos. Será que você já compreendeu que toda e qualquer disputa política é permeada por variados interesses? Talvez, quando nos damos conta disso, somos capazes de entender o que move os políticos e suas ações. Todas as vezes que vemos uma campanha eleitoral ou o discurso de um político, precisamos entender como ele poderá nos ajudar em nossos interesses pessoais, se ele não for capaz de suprir nossas vontades pessoais ou de grupos, logo não será digno de votos. Não se engane a política é um jogo de interesse, em que os envolvidos precisam saber jogar, para se tornarem aptos a não serem iludidos por pessoas que dizem fazer aquilo que eles desejam, mas não acabam fazendo nada. Por exemplo, te convido a pensar em quais pessoas você votou nas últimas eleições? Quais delas podem satisfazer seus interesses? Quando você foi a urna, você pensou que estava votando em alguém que poderia entender suas necessidades? Se a sua resposta foi negativa para essas questões, talvez e infelizmente, você não consiga entender como alinhar seus interesses com o do seu candidato pode se de fato o que leve a uma mudança social. Para quem faz parte da educação, outro exemplo, é necessário estar atento aos planos de educação ou projeto que os candidatos apresentam, só assim é possível modificar algo. Quando votamos apenas por “gostamos” do candidato muitas vezes esquecemos o que de fato ele poderá fazer por nós. Por isso, que muitas vezes nos sentimos enganados, a partir do momento que temos consciência da realidade e do que necessitamos, é que nos tornamos seres pensantes socialmente e podemos atuar como cidadãos conscientes. Assim, o ato político de votar, transforma-se numa ação determinante para manter ou modificar a sociedade. 10UNIDADE I Concepções e Princípios Além disso, Ribeiro (2010), acredita que política está muito relacionado a quem manda, por que manda, como manda, pois mandar não é nada mais, nada menos do que decidir e isso requer apoio, anuência e muitas vezes submissão do outro. O que não é um processo nada fácil ou simples de ser feito. A Política então pode ser vista como a arte da razão, ou a arte da negociação, ou apenas a arte de governar. Assim, quem a pratica deve ter um “dom” especial para governar, uma espécie de vocação para compreender o outro e alinhar todos os interesses daquele que a rege com aqueles que possibilitam a tomada de poder. Nesse sentido, veremos mais adiante, que ela é uma ciência, pois quando decidimos entender os processos que a desenvolve, a constrói, vamos entendê-la de maneira sistematizada, filosófica e social. Mas antes disso, devemos afirmar que política também é uma forma de profissão. Os cargos políticos hoje são almejados muitas vezes por conta de sua rentabilidade. Em nosso país, podemos dizer que eles se tornaram “cabides de empregos”, o que nos revela que deixaram de ter um valor de fato, para transformar a realidade em nome de um bem comum a todos, passaram a ser apenas uma profissão que se dedica a influenciar a coletividade em razão de seus interesses próprios e não da comunidade. O fato é que mesmo que você, sem conhecer, repita sempre que detesta política é importante frisar que a todo momento a fazemos de alguma forma. Em constantes tomadas de decisões do dia-a-dia estamos fazendo política, por que tudo se resume a conquistar os nossos interesses em detrimento da aceitação e submissão do outro. Assim, quando você diz que odeia política, na verdade você não se transforma em um ser “apolítico”, mas sim indiferente em relação a sua realidade e sociedade. Ignorando tantas coisas que precisam ser realizadas para que a sua própria realidade venha a ser modificada. A forma como as decisões são tomadas nos apresentam o que elas carregam, ou seja, qual o maior interesse ali envolvido, assim a apatia ou ter uma “atitude blasé”, não nos parece a melhor saída para as questões políticas (RIBEIRO, 2010). O fazer político nos permite viver em sociedade determinando as regras e como as ações devem ser direcionadas. O ser político deve ser aquele que compreende a ideia de coletivo, sociedade, da vivência nas cidades ou pólis, como eram chamadas na grécia antiga, podendo viver em comunidade sem extrapolar o espaço do outro. Ideais como fraternidade, liberdade e igualdade utilizados durante a revolução francesa, nos mostram o quanto importante é lutar por uma sociedade mais igualitária capaz de respeitar a diversidade e a convivência entre todos. 11UNIDADE I Concepções e Princípios Porém, é claro que diante de sociedades desiguais essas ações parecem utópicas e muitas vezes só acentuaram ainda mais a diferença entre aqueles que mandam e os que obedecem. Por isso, que o fazer político não pode se distanciar da realidade, pois querendo ou não ele entra em todas as nossas relações determinando muitas vezes a forma como agimos no mundo. O processo político deve estar atento a todas as formas de variáveis sociais, senão corremos o risco de realizar apenas o interesse de algumas pessoas. Por exemplo, quando pensamos em educação, alguns sujeitos sociais podem acreditar que ela nada mais, nada menos pode ser entendida por meio do mérito. Quando pensamos nas aprovações em exames de vestibulares, podemos observar quanto discrepante é a realidade do aluno que teve melhores condições de estudos em relação àqueles vindo de uma periferia. A quem diga que não existam diferenças cognitivas, e realmente muitas vezes não tem mesmo, porém a realidade em que vivem faz toda a diferença. Te explico o por que, não é apenas a vontade de estudar que conta para o sucesso de alguém, mas também entender a sua realidade, como as oportunidades de estudos podem ser ofertadas e principalmente qual a sua condição financeira. Por isso, que após a divulgação de resultados de processos seletivos, vemos que o filho da empregada, do pedreiro, da dona de casa, festeja a sua aprovação como quase algo impossível é que ele conseguiu alcançar uma meta que muitas vezes era descartada por conta da sua questão social. E esse esforço todo não pode ser visto como mérito, mas infelizmente, como uma exceção, que infelizmente não é para todos. Mas como isso tudo tem a ver com o processo político? Oras, se o governo não é capaz de dar condições educacionais que não diferencie as pessoas, ele é culpado pelo fato de que a universidade pública, muitas vezes é ocupada por alunos oriundos de escolas particulares, enquanto as faculdades privadas, estão repletas de pessoas vinda da classes mais baixas. Você pode estar pensando, mas no final todo mundo está na sala de aula, e eu posso te afirmar, mediante a um processo injusto e inexistente de decisões coerentes para uma educação para todos, a forma como esses alunos adentram a universidade é completamente diferente. Volto a repetir, não é uma questão de cognição, mas de como o próprio Estado, por meio de seus processos políticos tem prometidouma educação, laica, gratuita e de qualidade para todos. Será que ficou confuso esse exemplo? Talvez, você esteja se perguntando o que a política pode fazer pelas pessoas, se ela é marcada por tanta corrupção e ações 12UNIDADE I Concepções e Princípios desonestas? Pois bem, quando entendemos que somos nós que fazemos política, fica mais claro pensar que ao escolher um candidato, estou escolhendo também a forma como ele pode interferir na maneira em que vejo, compreendo e entendo o mundo e isso pode ser manipulado, conforme ele perceba o meu processo de conscientização da realidade: a Política não se ocupa de todos os processos de formulação e tomada de decisões, mas somente daqueles que afetem, de alguma forma, a coletivida- de. A maior parte desses processos, como se pode imaginar, é extremamente complicada. [...] A Política não é, pois, apenas uma coisa que envolve dis- cursos políticos, promessas, eleições e, como se diz frequentemente, “muita sujeira”. Não é uma coisa distinta de nós. É a condução de nossa própria existência coletiva, com reflexos imediatos sobre nossa existência individual, nossa prosperidade ou pobreza, nossa educação ou falta de educação, nos- sa felicidade ou infelicidade (RIBEIRO, 2010, p. 25-26). Dessa maneira, odiar política, não querer compreendê-la pode ser um ato que não tende a prejudicar o outro, mas a você mesmo e o fato de viver em coletividade. A Política precisa ser debatida e refletida a todo momento, para que as tomadas de decisões possam ser realizar de maneira coerente e consciente. 13UNIDADE I Concepções e Princípios 2 CIÊNCIAS POLÍTICAS Segundo Bonavides (2000, p. 42): “A Ciência Política, em sentido lato, tem por objeto o estudo dos acontecimentos, das instituições e das idéias políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte), referido ao passado, ao presente e às possibilidades futuras”. É um ciência que tem como propósito pensar os processos políticos e de como o mesmo pode afetar a sociedade. A Ciências Políticas tem como objetivo conhecer e refletir sobre as instituições, dos fatos e de tudo que tem a ver com as práticas políticas que competem questões filosóficas, jurídicas e sociais. No caso da Filosofia, os estudos realizados dão ênfases a investigar a origem, essências, justificação e os fins do Estado, que possibilite compreender a gestão e atuação do Poder. Esse que vai permear toda a discussão em relação a formação o Estado. Já diante de um olhar sociológico, a ideia de Ciências Política, é a que permeia toda essa unidade. Para a Sociologia, a compreensão da política se dá através do Estado baseado no fenômeno político, tendo em Max Weber seu maior expoente que introduz discussões que vão desde a racionalização do poder, aparato burocrático administrativo, compreende o tipo de autoridades que estão presente no quadro de poder, questiona a administração pública e como influencia os interesses transformados em atos legislativos. Weber ao pensar no Estado, divide a sua percepção por meio do aparato administrativo e da violência legítima. Segundo ele, todo o ser administrativo perpassa 14UNIDADE I Concepções e Princípios por uma burocratização e racionalização de suas ações, enquanto a violência legítima se revela pelas ações policiais inquestionáveis a favor do Estado. Como isso seria possível? É possível citar alguns exemplos de quando a ação violenta policial se tornou uma violência legitimada pelo Estado. Exemplo 1: a ação dos policiais, em 2016, diante de um protesto de professores no Estado do Paraná. Diante de uma manifestação contrária aos desmandos do Estado sobre a previdência de seus servidores, muitos professores se reuniram na cidade de Curitiba, para protestar, autorizados pelo Estado, policiais atacaram os professores, com balas de borrachas, gás lacrimogêneo, agressões com cassetetes e até armas de fogo. Professores ficaram feridos e por muitos a ação foi considerada abusiva e desastrosas. Porém, até 2020, ninguém foi preso pelo ação, em alguns casos, policiais foram até mesmo inocentados em nome do Estado. Exemplo 2: cidade do Rio de Janeiro, 2019, em uma ação desastrosa a polícia militar atira 82 vezes em um carro branco que conduzia uma família para uma festa, em um domingo a tarde. Até o momento ninguém foi preso ou acusado da morte do motorista e morador da região que não tinha nenhum problema com a polícia. É dessa maneira que a violência do Estado é tida como legítima, por em todo caso esses policiais estão a serviço dele e em seu dever pode valer tudo, mesmos vidas inocentes. A Ciências Políticas entendida pela ótica sociológica foi referenciada por diferentes autores, cada um acrescentou um pouco mais de riqueza a essa discussão. Autores que compreenderam o quanto a própria história das mudanças políticas revelam que tipo de análise pode ser feita. Cada tempo, época, período e contexto tende a demandar uma atenção singular sobre as questões relacionadas aos processos políticos. Nesses estudos revela-se a ideia de uma estado cada vez mais dividido por classes sociais e que acentuam as injustiças, segregações sociais e espaciais. Além disso, a análise sobre os partidos políticos e seus interesses vão evidenciar a importância de cada voto almejado nas eleições. Os estudos ainda irão chamar atenção para os movimentos sociais e sua eficácia dentro do Estado. Movimentos que vão promover mudanças ou conservar a visão do Estado para inúmeras questões sociais. Chegamos então nos estudos ligados às mudanças sociais, que apontam a busca de uma sociedade mais igualitária e utópica. Perpassam então pela própria história da constituição do Estado que pode ser absolutista, liberal, nacional, neoliberal, de bem estar social, democrático, totalitário ou ditatorial. 15UNIDADE I Concepções e Princípios Os propósitos do estudo das Ciências Políticas vai nos mostrando as facetas do Estado e como a sua construção pode ser compreendida mediante aos processos escolhidos. Ao entender os processos do Estado, podemos compreender como os seus interesses estão ali expostos. Por exemplo, a questão da arte ou da cultura no Brasil, passa na atualidade por um desgastante reconhecimento de sua importância. Mas, afinal pra que serve a arte? Em alguns momentos da história da humanidade, arte foi usado como um recurso revolucionário, conscientizador, em outros como manipulador e a favor de um Estado muitas vezes autoritário. Pois bem, compreendendo as políticas de Estado é possível entender quais os interesses de seus governantes. As Ciências Políticas também podem ser entendidas pelo viés jurídico. É a compreensão do Direito Constitucional, a próprio formação das normas e regras do Estado, nascendo assim uma Teoria Geral do Estado. Para Montenegro (1959, p. 208), “O papel da ciência política, portanto, será o de fornecer elementos de conhecimento do mundo real em ação ampla que supera o simples atavismo ou mera militância”. Assim, a Ciências Política existe por meio da descrição, interpretação, crítica aos fenômenos que correspondem às práticas do Estado. Tudo muito específico. Estudar política por essa perspectiva é entendê-la como um campo único. Um cientista político será muito diferente de um cientista natural, ele tem por “missão” a crítica e reflexão de um objeto mutável o tempo todo. Suas interpretações sobre as questões do Estado são pontuais ao momento observado. Assim, não é uma ciência capaz de determinar o futuro, mas pode sim pensá-lo. Por essa razão, em diferentes períodos históricos foi se questionado sua necessidade e ou autoridade. Entretanto, o fato de ter como objeto os processos políticos baseados na ideia do podere interesse do Estado, permite com a política seja vista sim como um objeto a ser investigado que demanda seu próprio método. Importante na Ciência política não é reafirmar perspectivas históricas, psicológicas de seus envolvidos, mas sim refletir sobre o Estado como um todo, em seus processos que tendem a afetar o coletivo. Assim, ao tentarem a aproximar sua discussão de uma Sociologia Política, pode se perceber que essa seria apenas uma ramificação dos próprios originários da Ciências Política, assim os objetivos de ambas abordagens são bem semelhantes sobre a ênfase do que interessa ao debate dessa ciência: “a) o poder político, o comportamento político 16UNIDADE I Concepções e Princípios (indivíduos e grupos), as manifestações de autoridade (carismática, tradicional e legal, segundo Max Weber), a legalidade e legitimidade do poder político; b) os fatores materiais do poder político: o território e a população; c) as origens sociais do Estado e sua penosa evolução, consagrando institutos que se desdobram historicamente, da escravidão à liberdade, do Estado de conquista ao Estado de cidadania livre (Oppenheimer); d) a política científica, volvida basicamente para a racionalização do poder (a função política, econômica e social das burocracias no Estado moderno), a tecnocracia; e) os grupos de pressão de todo o gênero, lícitos e ilícitos, que atuam à sombra dos parlamentos e dos ministérios, e influem nos atos legislativos e medidas do poder executivo; f) a luta de classes e seus efeitos políticos, as tensões sociais, os antagonismos políticos de toda espécie; g) a crise dos sistemas de governo, os regimes políticos, as ideologias, as utopias, a liberdade e a autoridade e h) o inconformismo social, as reformas, as revoluções e os golpes de Estado” (BONAVIDES, 2000, p. 61). Mediante a esses tópicos podemos entender então que tudo que envolve o processo de formação, expansão e consolidação do Estado faz parte do entendimento da política e de sua ação mediante as decisões tomadas com o propósito do benefício do coletivo. 17UNIDADE I Concepções e Princípios 3 PODER E ESTADO No que compete os estudos da Ciências Políticas sem dúvida que o conceito de Poder é uma dos mais pesquisados e de maior interesse tanto para cientistas políticos como sociólogo. Em sua definição mais corrente, ele pode ser definido como um fator externo, que pode ser exercido por uma pessoa ou um grupo de pessoas, ainda de caráter institucional, pessoal e também simbólico. Anteriormente, comentei que o poder pode estar em diferentes estâncias, como é o caso das relações entre pais e filhos, professores e alunos, chefias e funcionários, nesse sentido seu significado se “encaixa” da perspectiva Foucaultiano de microfísica do poder. Você deve estar pensando: “então existe poder em todos os lugares e relações?” Basicamente sim. Tudo que fazemos está permeado por alguma relação de poder, a ideia de quem manda e quem obedece permanece forte, mesmo que “invisível”. Sociologicamente falando, o poder existe em todas as relações sociais, se manifestando tanto na esfera pública quanto privada. Em relação aos estudos da Ciências Políticas, o poder é visto como aquele que constitui todo tipo de governo e que necessita ser controlado para que não possa se tornar autoritário. Um bom governo precisa estar ciente de sua relação entre diferentes grupos de interesses e preservar a autonomia de cada um deles, que impeça que alguns indivíduos sejam prejudicados. Assim, busca-se promover o bem comum, em que o poder seria baseado em uma justiça equilibrada. 18UNIDADE I Concepções e Princípios O fato é que quando nos atrevemos a falar sobre poder, não podemos deixar de citar o pai da Filosofia Política moderna, Nicolau Maquiavel, que escreveu uma obra clássica chamada O Príncipe, que pode ser entendido como uma espécie de manual que busca instruir o príncipe não apenas a conquistar o poder, como também, de promover sua manutenção, compreendendo os meios necessários para se atingir aquilo que é necessário para si. Além de ser uma obra que pode ser entendida como um manual para o governante, o livro também serve para ser interpretado pelo povo contra os possíveis abusos de poder daqueles que os governa. A abordagem proposta por Maquiavel estava baseada na noção de VIRTÚ, não numa virtude de origem moral, mas sim de poderes e funções que envolviam o domínio políticos. Poderia ser entendido também como o sucesso de um Estado que deveria ser admirado e imitado pelos demais governantes. Nesse sentido, tudo que fosse necessário para a manutenção desse bem estar deveria ser realizado em nome do Estado, os meios utilizados deveriam justificar as ações desse monarca. Em uma das partes mais significativas do O Príncipe, Maquiavel “aconselha” que esse precisa ter uma relação de equilíbrio com o seu povo. Precisa ser tanto amado quanto temido, e se não conseguir autocontole, é preferível que seu povo tenha medo de suas ações, pois segundo Maquiavel, ser temido é muito mais garantido do que amado, pois o amor pode ser traiçoeiro. Por isso, quando necessária a violência deveria ser aplicada para demonstrar o poderio do governante. Além da virtú, que seria a capacidade de se conduzir um governo, para Maquiavel, o príncipe também deveria ter FORTUNA, para saber lidar com as mais variáveis circunstâncias que desafiam a estabilidade do político, uma relação estreita e muito pontual com o acaso, o azar e a sorte. Dessa maneira, aquele que possuí a virtú consegue controlar os imprevistos da fortuna e isso o faz ser um governante completo e atento para todas as suas funções dentro do seu reinado que quanto mais vitorioso e próspero se expande para novas conquistas. Ao longo da história da humanidade, após os escritos iniciais de Maquiavel, a questão de pensar o poder por meio da política foi se tornando relevante para outros autores, que vão dar origem a formação do Estado Moderno, que cada vez mais irá se distanciar da figura de um rei ou monarca absoluto e ver surgir novas formas de organização. Destacam se a partir dos séculos XVI - XVII, os chamados contratualistas, representados por Thomas Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau e Charles-Louis 19UNIDADE I Concepções e Princípios Montesquieu, cada um deles irá pensar a ideia de Estado e política em suas particularidades. Vejamos, de maneira sucinta, pontos importantes de suas teorias: ● Thomas Hobbes - (1588-1679): para esse autor os homens são guiados pelo sentimento egoísta que se revela em seu estado de natureza, assim afirma que: “O homem é o lobo do próprio homem”, para solucionar uma possível constância de estado de guerra, ele sugere que para viverem em harmonia, os homens deveriam renunciar ao seu estado de natureza, para sua autopreservação. Deveriam preservar o estado de paz, mantido por um Estado poderoso, acima de tudo e de todos. ● John Locke - (1632-1704): Conhecido como o “pai” do liberalismo político, acredita que o Estado deve ser pensado preservando o conjunto de individualidade de cada um, assim como, a propriedade privada. Por isso, defende um governo com limites, visto como um agente mediador e regulador. ● Jean-Jacques Rousseau - (1712-1778): Sua teoria se baseia na ideia de um contrato social, em que afirmar que o ser humano seria um “bom selvagem”, entretanto, a sociedade política seria responsável por corrompê-lo. Por isso, deveria ser um construída uma sociedade por meio de contrato, ou seja, o consenso entre as partes envolvidas, uma associação justa. ● Charles-Louis Montesquieu - (1689-1755): Pensando em uma sociedade civil, organizada, era necessário refletir sobre a distribuição dos poderes. Se já não existe mais um monarca que toma conta detudo, se fez fundamental o surgimento, proposto, por esse pensador de uma teoria dos três poderes. Essa separação fez surgir o Estado moderno liberal, pensado por meio dos poderes básicos: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Existentes até hoje, cada um deve ser preservado em sua particularidade e autonomia. Porém, como percebemos essa divisão, infelizmente, não tem garantido que seja exercido com bom funcionamento e sem corrupção. Enfim, quando pensamos o poder precisamos também analisar como em contextos diferentes, ele vai se afirmando de maneiras diversas. A constituição dos primeiros pensadores sobre o conceito e sua ação prática nos permite ver o quanto a ideia de poder ainda é existente em nosso cotidiano, por isso precisamos entender cada vez mais sua ação no que compete às políticas públicas. 20UNIDADE I Concepções e Princípios 4 PODER X DOMINAÇÃO Para finalizar a nossa unidade, vamos nos aprofundar um pouquinho mais nessa ideia de poder, mas com outra forma de olhar e perceber como ele se estabelece em sociedade. Vimos, anteriormente, como Max Weber foi importante para pensar a ideia de Estado e sociedade já em meados do século XX, nos apresentando uma forma particular de entender a sociedade. Bom, nesse momento vamos recorrer novamente ao autor para ver como ele diferenciou os conceitos de poder e dominação. A primeira coisa que devemos relembrar dos estudos já realizados sobre Weber, é que esse autor defendia que o indivíduo era responsável por moldar a sociedade. Para ele, somos nós, com nossas ações sociais, que determinamos a sociedade. Por essa razão, seu conceito de Ação Social nos revela que somos movidos por sentidos e significados individuais para nossas atitudes e todas elas podem ser explicadas de maneira subjetiva. Para ele, a ação social, pode ser pensada a partir de quatro tipos: ● Ação social racional em relação à fins - Tudo que realizamos tem com objetivo um fim, por exemplo, ao estudar você busca um diploma, não é mesmo? Pois bem, é por causa da certificação que você passa por todos os desafios de fazer uma graduação. 21UNIDADE I Concepções e Princípios ● Ação social racional em relação à valores - Para Weber ser honesto e gentil, por exemplo, são ações que racionalizamos a partir dos valores sociais que estão embutidos em nossos princípios morais, familiares ou de crenças. ● Ação Afetiva - Os nossos sentimentos não são racionais, por isso, amor, raiva são vistos como ações afetivas marcada pelo impulso subjetivo de cada um. ● Ação tradicional - são ações que mantemos por costumes ou hábitos, apenas repetindo o que os outros fazem, sem questionamento. Por exemplo, o ato de pedir a benção para familiares, muitas pessoas ainda os fazem, porém será que conseguem compreender seu real significado? Weber ainda nos ajuda pensar que essa ações quando compartilhada por outras pessoas, podem se tornar relações sociais, que nos permitem vivem em coletividade. Ao pensar na coletividade, Weber se deparou com o Estado, formado por diferentes indivíduos e interesses. A comunidade é formada por uma divisão de poderes que forma um conjunto de esferas autônomas, com suas próprias regras, sistemas de valores, crenças e etc. Assim, o autor refletiu sobre: classes, estamentos e partidos, para pensar a distribuição de poder. ● Classes: Não será vista ainda como uma divisão social, para o autor, a classe significa a aquisição de bens e serviços que são próprios de um mesmo grupo. Podemos pensar como uma classe de aula, por exemplo, nela as pessoas estarão “unidas” por um interesse comum, ser aprovado no ano letivo, terão suas regras particulares. Nesse sentido, classe é fazer parte desse grupo de pessoas. ● Estamentos: Pode ser pensado como um status, ou seja, o espaço social que ocupamos a partir do que possuímos e como essas aquisições nos oferece um lugar na sociedade. ● Partidos: esses são responsáveis apenas pela busca ou posse do poder institucional, por meio das eleições e do voto. Ao pensar a sociedade de caráter racionalizado e burocrático, Weber nos permitiu compreendê-la em sua organização. Assim seus estudos no campo político fez com que o entendimento sobre o Estado, em seus diferentes níveis, pudessem ser visto desde a àrea administrativa até as questões de território. Entendeu que o poder se estabelece na esfera 22UNIDADE I Concepções e Princípios pública, através da racionalidade burocrática e também por meio da forma como o líder dominar o seu povo. Nesse momento, o autor nos convida a entender que poder e dominação são coisas completamente diferentes, embora sejam muito parecidos em seus propósitos. O que o autor identifica como poder, a imposição de sua própria vontade sobre o outro, a ideia genuína de quem manda e quem deve obedecer, a opressão em relação ao outro. Já a dominação é uma imposição de poder que pode ser “disfarçada” pela maneira como ela se revela ao outro. Dominar é a capacidade de fazer com que uma vontade pessoal, subjetiva, se transforme e se compartilha como vontade individual de outras pessoas. Dessa maneira, a dominação irá exercer um poder que muitas vezes passa desapercebido por quem apenas a reflete como sendo sua própria vontade. Ficou confuso? Vamos então aos tipos de dominação legítimas, propostas pela análise de Weber: ● Dominação Carismática: o líder carismático é aquele que aclamado pelo povo pelo seu “dom” ou “dádiva” que o diferencia dos demais sujeitos da sociedade. Ele possuí um convencimento retórico. São atribuídos a ele poderes “especiais”, a visto como um herói ou heroína, por ter algo que o diferencia dos demais seres humanos. Esse tipo de líder pode ser identificado em diferentes esferas sociais. Pode ser o atleta, a atriz, o político, a cantora, o padre, o pastor, o professor. São pessoas que pelo seu carisma podem convencer os outros sem muito esforço. ● Dominação Racional-Legal: essa é legitimada pela questão legal, ou seja, as regras e leis impostas que promovem uma racionalização nos processos governamentais. São as normas que devemos seguir sem muitos questionamentos. ● Dominação Tradicional: assim como, na ação tradicional, aqui o processo de persuasão ocorre mediante os costumes, valores e hábitos definidos de maneira hierárquico que estabelece a relação do líder e de seus subordinados. Por fim, a dominação tem como ação promover que o poder possa ser exercido por meio de questões ideológicas que tende a esconder a realidade ou até mesmo incentivar a não existência de uma pensamento mais crítico. Quando dominados, deixamos de questionar o que nos parece ser a nossa própria vontade, mas que não verdade tem sido manipulada para o melhor aproveitamento e realização daqueles que estão no poder. 23UNIDADE I Concepções e Princípios Por isso, a importância de compreender os processos do campo político para identificarmos se estamos contribuindo para uma dominação que tende a nos incapacitar para o entendimento da realidade. SAIBA MAIS Você sabia que a obra “O Príncipe” foi escrita em 1513, enquanto Maquiavel se encon- trava exilado. Entretanto, seu livro só foi publicado em 1532, cinco anos após a sua mor- te. O livro, que é um manual sobre a arte de governar, foi inspirado pelo estilo político de César Bórgia, que foi um dos mais ambiciosos comandantes italianos, e que Maquiavel trabalhou junto por 5 meses quando foi embaixador. Fonte: a autora. REFLITA O Analfabeto Político - Bertold Brecht “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tãoburro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”. Fonte: Disponível em: <https://www.portalraizes.com/o-analfabeto-politico-uma-reflexao-bastante-atual-de-bertolt-brecht/> Acesso em: 25.Jan.2020. Ao ler o poema, você consegue refletir se é uma analbeto político? https://www.portalraizes.com/o-analfabeto-politico-uma-reflexao-bastante-atual-de-bertolt-brecht/ 24UNIDADE I Concepções e Princípios CONSIDERAÇÕES FINAIS Antes mesmo de entrarmos de cabeça sobre a temática das políticas públicas de educação, optamos por uma breve reflexão sobre como se desenvolveu os conceitos de: política, ciências política, poder, Estado e dominação. Partimos do pressuposto que era de relevante importância fazer esse primeiro caminhar para que as próximas descobertas fizessem ainda mais sentido para o nosso estudo. Sobre o conceito de política podemos perceber que estamos cotidianamente inseridos nessa ação. Fazemos política o tempo todo, pois estamos sempre em contato com o outro, negociando, alguma coisa. Sendo ela uma arte da razão, nos permite direcionar a forma como vemos a vida e entendemos a nossa relação com o outro. Por isso, entender política é tão importante, por que ela nos faz perceber de que maneira as tomadas de decisões são realizadas, baseadas em que tipo de interesse. Afinal, a política é também um processo individual que se desenvolve numa proposta de coletividade. Nesse sentido, entender os processos políticos deve ser feito por meio de métodos e teorias que priorize uma compreensão fora da ideia de “achismos” ou gostos pessoais. Hoje estamos vivendo uma polarização política que tem nos impedido de fazer de fato uma reflexão crítica sobre os processos e a formação do Estado, isso por que as pessoas não usam as ferramentas ou realizam as leituras indicados por aqueles que transformaram o campo político em uma ciência, chamada de: Ciências Políticos. Como ressaltamos, pensar a política brasileira ou mundial não é algo que podemos fazer apenas “gostando ou não” de um determinado partido político, mas sim sendo capaz de entender a dimensão dos processos políticos. Esse processos estão sempre repletos de formas de poder, que não pode ser definido como um conceito único e imutável. Poder existe em todos os lugares e para os pensadores da Sociologia, qualquer relação social é mantida por uma relação de poder. Como afirma, Foucault (2014), o poder se multiplica em suas microfísicas, ou seja, nas relações humanas em que haja a propensão de alguém mandar enquanto o outro obedece. Por fim, vimos que o poder pode ser entendido em uma outra “roupagem”, através da dominação, essa não é apenas exercida pela vontade particular, mas sugerida como uma vontade de todos. 25UNIDADE I Concepções e Princípios LEITURA COMPLEMENTAR Quando falamos de política podemos compreendê-la em suas diferentes representações. Uma das formas mais recentes de entendê-la pode ser através de uma fenômeno político chamado de Ativismo digital. Leia o texto indicado e reflita. DESLANDES. Suely Ferreira. O ativismo digital e sua contribuição para a descentralização política. 2018. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v23n10/1413-8123-csc-23-10-3133.pdf> Acesso em: 25.Jan.2020. http://www.scielo.br/pdf/csc/v23n10/1413-8123-csc-23-10-3133.pdf 26UNIDADE I Concepções e Princípios MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO: • Título: A Revolução dos Bichos • Autor: George Orwell • Editora: Companhia das Letras • Sinopse: Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século 20, “A Revolução dos Bichos” é uma fábula sobre o poder. Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista.De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de- Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética.Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A revolução dos bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto. FILME/VÍDEO • Título: Leões e Cordeiros. • Ano: 2007. • Sinopse: Um professor idealista, um senador e uma jornalista de TV envolvidos em diferentes aspectos na guerra no Afeganistão. O professor, Stephen Malley, tenta convencer um de seus alunos mais promissores a assumir uma posição e mudar o curso de sua vida. Um senador, Jasper Irving, que pretende vender sua “mais nova estratégia de guerra” a uma incrédula jornalista de um noticiário de TV. Do outro lado do mundo, dois ex-alunos do professor estão presos atrás das linhas inimigas no Afeganistão. Três histórias interligam-se para enfocar que as nossas decisões determinam o nosso futuro pessoal e dentro da sociedade. 27 Plano de Estudo: • Conceitos e Definições de Políticas Públicas • Definição de Políticas Públicas no Brasil • Breve histórico do Políticas Públicas de Educação • Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar o que são políticas públicas • Compreender os tipos de políticas públicas no brasil, em especial, as relacionadas a educação. • Refletir sobre a importância da LDB para as políticas públicas de educação. UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil Professora Mestra Renata Oliveira dos Santos 28UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil INTRODUÇÃO Ao continuar as nossas descobertas sobre o “mundo” das Ciências Políticas e da Política de maneira geral, vamos agora nos aprofundarmos cada vez mais nas chamadas políticas públicas relacionadas a educação brasileira. Para isso iniciaremos a nossa discussão aprendendo sobre o conceito de políticas públicas, para compreendermos qual a diferença e importância delas em relação as demais políticas realizadas pelo governo. Depois vamos refletir sobre as diferenças entre políticas públicas e políticas públicas de educação, com o objetivo de percebemos que cada esfera social demanda uma necessidade, um olhar, mais aguçado sobre a realidade que a rodeia. Sabemos que a educação sempre foi um projeto político, mas que muito ainda falta a ser feito para que ela possa de fato ser entendida como uma prioridade de qualquer governo. Por isso, é muito importante refletir sobre como esse projeto político tem sido desenvolvido em nosso país. Para isso, vamos fazer um breve histórico sobre as políticas públicas de educação no Brasil e seu desenvolvimento até a chegada da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB de 1996. Assim, ao pensarmos historicamente sobre esse tipo de política poderemos perceber de que maneira ela é imprescindível para o desenvolvimento do país e de toda a população. Afinal, não é de hoje que concluímos que a educação deve ser uma prioridade governamental, mas que a mesma precisa ser pensada na realidade existente para quede fato possa ser para TODOS. BONS ESTUDOS! 29UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil 1 POLÍTICAS PÚBLICAS: O QUE SÃO? O exercício que fizemos, anteriormente, foi pensar sobre a Política. Vimos que ela pode ser entendida como arte da razão ou a arte de governar. Sendo assim, quando falamos de Política pública estamos utilizando de uma expressão que tem por objetivo determinar uma situação específica da política. Por isso, se quisermos conhecer de fato sua definição, se faz necessário entendermos a etimologia das palavras que compõe essa expressão. Assim, quando falamos de Política remetemos a palavra em sua origem grega, politikó, que revela a condição de participação da pessoa que sendo livre nas decisões, pode tornar as decisões necessárias em relação aos rumos da cidade, a pólis. Vale ressaltar que no período grego a liberdade não era uma coisa para todos, muito menos a condição de cidadão, esse era um privilégio apenas de homens atenienses e de posses. No que compete a palavra pública sua origem revela-se latina, e tem como significado povo e do povo. Dessa maneira, a expressão política pública, do ponto de vista etimológico das palavras que a compõem, refere-se à participação do povo nas decisões da cidade, do território. Entretanto, sabemos que esse tipo de participação assumiu feições distintas, no tempo e no lugar, cada contexto histórico tem sua particularidade e assim, ela tem se apresentado de forma direta ou indireta (por representação). Mas o que devemos ter 30UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil sempre em mente é que para que ela possa ser concretizada é imprescindível a presença de uma estado. Um mundo cada vez mais globalizado fez surgir uma sociedade cada vez antenada com as suas necessidades. Diante disso, o conhecimento e reflexão sobre as questões das políticas públicas tem se modificado a cada nova década, pois estamos vivendo em governos de caráter democrático que proporciona, ou pelo menos deveria proporcionar, uma maior participação do povo nas questões governamentais. A parceria povo e Estado é o que permite que o governo possa ter estabilidade para governar, por isso é necessário que as políticas públicas sejam de fato pensadas e exercidas para o bem de todos. Assim como outros conceitos definir as políticas públicas em uma única expressão é muito complicado, por essa razão optamos aqui pode reproduzir duas maneiras que se complementam ao pensarmos sobre elas. Para Souza (2003, p. 13): a definição estaria relacionada “Campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações e ou entender por que o como as ações tomaram certo rumo em lugar de outro (variável dependente). Em outras palavras, o processo de formulação de política pública é aquele através do qual os governos traduzem seus propósitos em programas e ações, que produzirão resultados ou as mudanças desejadas no mundo real”. Já para Azevedo (2003, p. 38): “política pública é tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas ações e de suas omissões”. Mediante a esses fragmento é possível então compreendermos que as políticas públicas são as ações governamentais pensadas e realizadas para o bem comum, assim, se não somos capazes de entender sobre política e suas ramificações, podemos acabar sendo dominados por governos autoritários e corruptos, sem nenhuma realização efetivada de transformação ou mudança na sociedade. Então ao pensarmos em políticas públicas podemos afirmar que elas seriam a expressão máxima dos governos, que necessitam do povo para entender suas particularidades e colocar em prática aquilo que precisa ser modificado. Por isso, é essencial que haja uma organização social capaz de permitir uma relação clara entre governo e povo, onde esse possa compreender seu espaço nas decisões políticas e o governo entender o que de fato seu povo deseja. Voltamos aqui é pensar que a política é feita de interesses, mas precisamos saber de quem. 31UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil Mas será que existem apenas um tipo de políticas públicas? Para Azevedo (2003), elas podem ser entendidas em três categorias: as redistributivas, as distributivas e as regulatórias. Vejamos então as especificidades de cada uma: ● Redistributivas: são aquelas relacionadas permitem a redistribuição de renda, por meio de financiamentos de serviços e equipamentos. Elas podem ser compreendidas por meio dos programas como: FIES, bolsa família, renda mínima para água e luz, Minha Casa - Minha Vida e tantos outros programas que contribuem para diminuição das desigualdades sociais. Elas deveriam ser financiadas por aqueles que possuem renda maior que a grande parte da população, entretanto, acaba sendo incorporada aos gastos de projetos da união e assim há um maior gasto na conta do Estado. Assim, muitos acabam achando que esses programas sociais, quando não usufruídos por ele, são onerosos demais para a sociedade, se colocam contra a essas bolsas como se elas fossem desnecessárias. ● Distributivas: são as ações cotidianas de qualquer governo, representadas pela à oferta de equipamentos e serviços públicos, de forma pontual ou setorial e que são determinadas pela necessidade social ou a pressão dos grupos de interesse. Nesse sentido, obras em escolas ou creches, manutenção da limpeza da cidade com podas de árvores, rios e córregos, o desenvolvimento de programas de conscientização ambiental são alguns dos exemplos das políticas públicas distributivas. ● Regulatórias: essas são responsáveis pela elaboração das leis que irão autorizar os governos a fazerem ou não determinada política pública redistributiva ou distributiva. Assim, se elas necessitam da ação do poder executivo para serem realizadas, a política pública regulatória é fundamental na ação do poder legislativo. Por isso, que importante que estejamos atentas a esse tipo de política pública, pois ela revela o quanto o governo vê “necessidade” ou não em sua execução. Nada mais é que aquelas possíveis leis, que muitas vezes lutamos e achamos fundamentais para o andamento da sociedade e que permanecem anos sem nenhuma resolução. Ao entendermos, a necessidade da ação política, começamos a perceber o quanto ainda os interesses governamentais ou de grupos majoritários podem prejudicar a execução de uma determinada política pública. 32UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil Podemos concluir então, que as políticas públicas deverão ser entendidas pela relação direta entre sociedade e governo. Esse sendo capaz de ouvir as necessidades de seu povo tende a promover maneiras para que as desigualdades socais e a justiça social possam ser encaradas como um ato prioritário para a manutenção de sua governabilidade. Por isso, como ressalta Oliveira (2010, p. 09): “O que distingue política pública da política, de um modo geral, é que esta também é praticada pela sociedade civil, e não apenas pelo governo. Isso quer dizer que política pública é condição exclusiva do governo, no que se refere a toda a sua extensão (formulação, deliberação, implementação e monitoramento)”. Assim, um governo que busca ser mais igualitário, tem nas políticas públicas um caminho para a realização de projetos que atendam as mais variadas inquietações relacionadas às múltiplas questões sociais existentes, sendo incapaz de fechar os olhos para elas. 33UNIDADEII Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil 2 POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO Espero que você tenha compreendido a importância das políticas públicas, em especial, que tenha ficado bem claro que elas são tudo aquilo que o governo pode ou não fazer em prol das necessidades de sua população. Novamente, gostaria de ressaltar a importância que existe na relação entre governo e sociedade. Por que deve ser ouvindo a sociedade, seu povo que o governante conseguiria se manter no poder ou dar continuidade a sua governabilidade. Por essa razão, mesmo que não seja o foco desse material, é necessário dizer o quão fundamentais são os Movimentos Sociais. Esses de caráter dinâmicos, mutáveis, diversos, tem protagonizados muitas vezes o start inicial de inúmeros diálogos entre governo e povo. Dessa maneira, não podemos enxergar essas manifestações como ações de reprovações, por que são a partir deles que o governo pode vislumbrar a sociedade e também dialogar com ela. Muitas das políticas públicas existentes hoje no Brasil, são frutos desses movimento sociais, pois vieram a ser executadas após mais reivindicações necessárias para o funcionamento da sociedade. Quando uma política pública é aprovada, ela carrega em si e deve carregar sempre, resquícios das ideias de muitas pessoas, envolvidas diretamente com a injustiça e desigualdade social. Você já reparou que para algo mudar em nosso cotidiano, as vezes, é preciso muito barulho? Pois bem, o barulho causado pelos movimento sociais tem como 34UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil propósito, justamente, acordar o mundo coisas importantes e que estão sendo esquecidas, principalmente, por aqueles que estão no poder. Assim, se você deseja entender uma lei posta em sociedade ou a sua modificação, fica a dica de procurar antes pela sua história, conhecer os grupos sociais envolvidos e compreender de que maneira a luta empreendida levaram a um novo direcionamento de ações para a transformação social. As políticas públicas podem mudar seu bairro, sua cidade, seu país e servirem de exemplos para o mundo, como uma espécie de modelo para o que seja preciso para que haja uma modificação geral, global da sociedade. Para qualquer esfera social existe um tipo de política pública, de caráter econômico, para a segurança pública, de saúde e etc. Nos interessa nesse momento, aprendermos um pouco mais sobre as chamadas políticas públicas de educação. Mas, afinal o que seriam elas? Segundo Oliveira (2010, p. 04): “Se “políticas públicas” é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer, políticas públicas educacionais é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer em educação”. Entretanto, nos lembra o autor que “educação é um conceito muito amplo”, porém ao pensarmos em políticas públicas de educação estamos direcionando e afunilando a maneira como pensar as questões educacionais. Podemos compreender que as políticas públicas de educação terão como interesses as questões escolares e também acadêmicas, esse será o foco central dessas políticas. Pensar a escola, as universidades e faculdades, refletir sobre como elas se desenvolvem e o que é necessário para esse desenvolvimento, serão as perspectivas encarada pela políticas públicas de educação. A ação governamental sobre elas devem estar sempre ao alcance do nosso entendimento, para que de fato possamos cumprir o que a Constituição Federal Cidadã de 1988, prioriza em seu artigo 205: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988, Art. 205). Diante disso é que o “ fazer educacional” deve ser visto como essencial para sociedade, escolas, universidades e faculdades devem ser pensadas em toda sua complexidade que perpassam as questões de ensino-aprendizagem a professores, família, comunidade e ações do estado. Essas poderão ser realizadas por meio das obras estruturais, 35UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil contratação de profissionais, valorização de formação de professores, o desenvolvimento das matrizes curriculares, reflexões sobre a gestão escolar, além de muitas discussões sobre a avaliação e da qualidade do ensino. Tudo isso deve estar presente nas discussões de políticas públicas de educação pois, a formação escolar não incide apenas no fazer em sala de aula, mas em todos os fatores e aspectos que permitem que o ato desse fazer, que deve ser pensado em suas inúmeras particularidades. Entende-se por políticas públicas educacionais aquelas que regulam e orien- tam os sistemas de ensino, instituindo a educação escolar. Essa educação orientada (escolar) moderna, massificada, remonta à segunda metade do sé- culo XIX. Ela se desenvolveu acompanhando o desenvolvimento do próprio capitalismo, e chegou na era da globalização resguardando um caráter mais reprodutivo, haja vista a redução de recursos investidos nesse sistema que tendencialmente acontece nos países que implantam os ajustes neoliberais (OLIVEIRA, 2010, p. 09). A crítica que o autor faz está muito relacionado ao fato que as políticas públicas educacionais revelam o quanto os governos desejam ou não o seu desenvolvimento. Historicamente falando, o desenvolvimento das sociedades modernas, a partir do século XX, baseada cada vez mais na crescente expansão da globalização e de novas formas de governos adeptos pelo Neoliberalismo tem revelado o quanto essa “filosofia política”, tende a fazer da educação, assim como de outras esferas sociais, meios de privatizações estatais, ou seja, retirar do Estado sua maior responsabilidade. Assim, se não cabe ao Estado, a exclusividade das decisões sobre saúde, segurança ou educação, como tudo será feito? Essa questão é muito importante a ser pensada, pois com mais alguns blocos mundiais se destacam, mais influências eles conseguem exercer em país economicamente menores e que vão aderir a programas de educação, por exemplo, em que nada beneficiará a nossa realidade, pois esses são projetados para sociedades diferentes. Falaremos disso mais adiante quando iremos pensar sobre avaliações e qualidade de ensino, porém é preciso já começarmos a refletir de que maneira, os nossos problemas educacionais são diferentes, de uma suposta homogeneização mundial sobre educação. 36UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil 3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL (I) Como vimos até agora, a ideia de política pública está baseada na máxima de que o Estado deve estar em ação. No caso, da educação, essas políticas seria reveladas a partir da ideia de um Estado em ação em relação às questões educacionais. Elas estão relacionadas com tudo aquilo que incide sobre educação, ou seja, em âmbito escolar, desde a sua estrutura até a formação dos professores, planos de carreiras e etc. Para entendermos o desenvolvimento histórico das políticas públicas de educação no Brasil, se faz necessário compreendermos a nossa própria história. Não podemos jamais esquecer os meandros que formaram a nossa trajetória histórica e como tudo isso incide na formação de uma nação tardiamente. Quando recorremos ao nosso passado histórico, devemos nos lembrar que somos um país de durante 388 anos foi palco apenas para colônia portuguesa, um governo de exportação e exploração, marcado pela dizimação dos indígenas e a escravidão maciça de escravos advindos da África. Durante todo esse período falar sobre educação no Brasil é compreendê-la por meio das obras Jesuíticas, comandadas pelaigreja católica, com o objetivo de catequizar e educar a todos por meio do evangelho. Em nada essa primeira educação no Brasil tem a ver com algum tipo de política pública de Estado, era apenas a demonstração do poder baseado na colonização portuguesa. 37UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil Depois disso, alguns outros formatos de educação vão surgir, mas em comum serão destinadas apenas aqueles que podem “pagar”, ou seja, a educação era um privilégio para a classe mais rica brasileira, que além de não se importar com o desenvolvimento de educação para toda população, ainda possuía recursos para enviar seus filhos para estudar fora do país. Com a abolição da escravatura em 1888, e a proclamação da República em 1889, uma nova configuração surge no país. Sendo uma república, passamos agora a não mais sermos governado por uma rei ou monarca, mas temos a constituição de uma forma de governo, que em sua origem, tem como objetivo a formação de um Estado que tem no povo seu governador/ representante soberano. Dentro dessa nova lógica é que os estudos, pesquisa, sobre a questão das políticas públicas no Brasil, datam do final do século XIX e início do século XX, uma preocupação com a área da educação ou com políticas voltadas para uma educação que deveria ser almejada e alcançada por qualquer cidadão brasileiro. Nomes importante fazem parte desse movimento em prol da educação brasileira, um deles é Anísio Teixeira, que irá buscar com outras pessoas pensar a inserção de políticas educacionais que possam acabar com a falta de educação no país. A própria aura instalada por Getúlio Vargas com um projeto de Nacionalismo no país, permite vislumbrar a educação como essencial para o desenvolvimento, como um todo, do Brasil. Como dito, anteriormente, é muito importante que a gente possa atrelar todas as mudanças ocorridas a ação de movimentos sociais que em cada período e contexto histórico vão dar o tom necessário as ações políticas. Não seria diferente na década de 1930, podemos destacar a Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova que encabeçados por figuras como Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira vão descortinar as necessidades da educação brasileira. Um documento que priorizava a administração escolar como importante e as medidas que deveriam ser tomadas a longo prazo para o desenvolvimento de uma educação nacional. Ele exaltava o exercício dos direitos dos cidadãos brasileiros no que compete à educação, pautada numa educação pública, única, laica, gratuita e obrigatória. É possível afirmar que foi a partir de 1930, que as políticas públicas de educação brasileira passou a ser encarada, de fato, como um projeto de governo, implementada pela Reforma Francisco Campo várias decisões foram tomadas pelo governo. Destaca-se alguns decretos, segundo Santos (2011, p. 03): 38UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil ● Decreto 19.850, de 11 de abril de 1931, que criou o Conselho Nacional de Educação; ● Decreto 19.851, de 11 de abril de 1931, que dispôs sobre a organização do ensino superior no Brasil e adotou o regime universitário. ● Decreto 19.852, de 11 de abril de 1931, que dispôs sobre a organização da Universidade do Rio de janeiro. ● Decreto 19.890, de 18 de abril de 1931, que dispôs sobre a organização do ensino secundário. ● Decreto 19.941, de 30 de abril de 1931, que instituiu o ensino religioso como matéria facultativa nas escolas públicas do país. ● Decreto 20.158, de 30 de junho de 1931, que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissão de contador. ● Decreto 21.241, de 14 de abril de 1932, que consolidou as disposições sobre a organização do ensino secundário. A situação política no Brasil, nesse período, é marcada em 1937, pela instalação de Vargas no poder e o fechamento do Congresso Nacional. Criou-se nesse período a chamadas “Leis Orgânicas de Ensino” que tiveram um peso importante na ampliação e flexibilização da reforma anterior. Entre os decretos propostos, (SANTOS, 2011, p.05): ● Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, Lei Orgânica do Ensino Industrial. ● Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro de 1942, que cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). ● Decreto-lei 4.244, de 9 de abril de 1942, Lei Orgânica do Ensino Secundário. ● Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, Lei Orgânica do Ensino Comercial. ● Decretos-leis 8.529 e 8.530, de 2 de dezembro de 1946, Lei Orgânica do Ensino Primário e Normal, respectivamente. ● Decreto-lei 8.621 e 8.622, de 10 de janeiro de 1946, cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). ● Decreto-lei 9.613, de 20 de agosto de 1946, Lei Orgânica do Ensino Agrícola. Diante desse contexto histórico, de um país submerso a um governo autoritário e que permaneceria com o apoio de formas conservadoras, até 1945 no poder, as questões educacionais começaram a ser permeadas sobre a ideia de seriam elas as grandes 39UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil “salvadoras” dos problemas nacionais. Uma afirmação que, infelizmente, permanece até hoje sem nenhuma mudança, que a faça ser realidade. No período que compete a década de 1940 até 1961, as discussões sobre a educação no Brasil vão ganhar força na oposição entre os aqueles que viam na educação um lugar de conservação da tradição e dos “bons costumes” do país versus aos movimentos sociais que se dedicavam a uma educação libertadora e emancipadora, baseados na educação popular e outros projetos que emergiam das necessidade pujante de uma educação para todos no país. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961, foi instaurada mediante a muitos protestos, mesmo tendo saído do papel, ela não cumpria a ideia proposta de pensar uma educação para todos. Pelo contrário ela fortaleceu o ensino privado e limitou a expansão do ensino público (SANTOS, 2011). Em 1962, foi proposto o primeiro Plano Nacional de Educação, para ser cumprido em 8 anos. Entretanto, é importante mais uma vez retornarmos a história do Brasil, para lembramos que em 1964, as questões políticas no país tomaram um novo rumo, instalou-se no poder a Ditadura Militar, que permaneceria até 1985. Nesse período, é importante dizer que as agências internacionais como: Fundo Monetário Internacional - FMI, Organização das Nações Unidas - ONU, Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento - BIRD passaram a interferir muito nas resoluções de vários setores brasileiros e isso não seria diferente em relação a educação. As recomendações dessas agências deveriam ser absorvidas pelo regime militar, que priorizou, neste momento, uma política desenvolvimentista para a reorganização do Estado. Alguns dispositivos foram criados para educação, (SANTOS, 2011, p. 07): ● Lei 4.464, de 9 de novembro de 1964, que regulamentou a participação estudantil. ● Lei 4.440, de 27 de outubro de 1964, que institucionalizou o salário-educação. ● Decreto 57.634, de 14 de janeiro de 1966, que suspendeu as atividades da UNE. ● Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, que fixou as normas de organização e funcionamento do ensino superior. ● Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, que fixou as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus. Além dessas Leis, devemos citar, a de número: 5.692/71, que provocou transformações profundas que foram modificadas a pouco tempo no país, são elas: 40UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil ampliação da obrigatoriedade escolar para oito anos; instituição da obrigatoriedade da faixa etária de 7 aos 14 anos; profissionalização automática no segundo grau; extinção do exame de admissão no ginásio. Porém, como o regimecomeçou a dar sinais de sua falência, ainda no final da década de 1970, é possível constatar que as mudanças não proporcionaram um maior investimento na educação. A política baseada no chamado “milagre econômico” não foi capaz também de promover uma educação melhor pro país. Essa constatação virou uma das maiores bandeiras dos Movimentos Sociais da década de 1980. Algumas entidades científicas foram abertas e elas levantaram a bandeira de luta priorizando alguns pontos decisivos para uma mudanças educacionais: melhoria da qualidade na educação, valorização e qualificação dos profissionais da educação, democratização da gestão, financiamento, ampliação da escolaridade obrigatória (SANTOS, 2011). Novamente, vários campos sociais se uniram e, assim como, ocorrido em 1932, com o Manifesto dos Pioneiros, após a retirada do poder em 1985, dos militares, a sociedade civil, novamente, percebeu sua importância para lutar pela educação. Denvo, os caminhos históricos do Brasil vão nos ajudar a pensar sobre essas políticas, a partir da Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. 41UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil 4 POLÍTICA DE EDUCAÇÃO NO BRASIL (II) Seguimos nosso resgate histórico e chegamos a 1988, na efervescência pós a derrocada da ditadura militar, vivemos o momento necessário para uma nova constituição, estamos inseridos num processo de redemocratização que promete devolver ao povo seu lugar de direito em uma sociedade democrática. Sendo assim, a Constituição de 1988, chamada de Constituição Cidadã, emergirá como o documento indispensável para a reconstrução da história do país, em todos os seus aspectos e esferas sociais. Segundo o MEC, ao olharmos a constituição, a partir do Capítulo III: Da Educação, Da Cultura e Do Desporto, podemos vislumbrar o que o documento nos permite pensar sobre a educação. Já citamos acima o artigo 205, até o artigo 214, somos convidados a refletir sobre a educação em diferentes estâncias, como um projeto escolar, em suas funções em relação a gestão escolar, as tarefas reservadas a universidade e por fim, a questão dos investimentos, marcados pela presença ou não da iniciativa privada. A Constituição Federal Cidadã, sem dúvida é um documento muito importante para pensarmos o país como um todo, no caso da educação, reacendeu a esperanças de mudanças necessárias para que finalmente saísse do papel a ideia de uma educação para todos. Assim, a década de 1990 foi marcada pela emergência de movimentos pró educação que se alinhavam os desejos e lutas já travadas por muitos pesquisadores na década anterior. Nesse sentido, a construção de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi 42UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil sendo disputada por dois grupos diferentes. Não podemos dizer que eram grupos opostos, mas cada um deles tinha uma maneira distinta de pleitear as reformas educacionais. Depois de muitas disputas, a LDB aprovada em 1996, foi a defendida pelo então Senador Darcy Ribeiro (PDT/RJ), que não atendeu inúmeras reivindicações propostas pelos grupos sociais na década de 1980: “Várias bandeiras que foram levantadas durante o movimento acabaram distorcidas ou completamente descaracterizadas de sua ideia original, como por exemplo: capacitação de professores foi traduzida em profissionalização; participação da sociedade civil assumiu a forma de articulação com empresários e ONGs; descentralização significou desobrigação do Estado; autonomia ganhou contorno de liberdade para captação de recurso; melhoria da qualidade da educação traduziu-se em adequação ao mercado, sendo que o aluno transformou-se em consumidor” (SANTOS, 2011, p. 08). A partir da Lei nº 9394/96 - LDB- definiu a abrangência da educação brasileira da seguinte maneira: ● Educação infantil constituída pela creche para crianças de zero a três anos e pré-escolas para crianças de quatro a seis anos; ● Ensino fundamental constituído por oito anos; ● Ensino médio constituído por três séries. Novamente, não podemos esquecer a própria história política do país, o período da década de 1990, foi marcado pela primeira eleição para presidência, pós ditadura, sendo eleito o Presidente Fernando Collor de Mello, que em 1992 sofreu um impeachment por inúmeras denúncias de corrupção. Assumiu em seu lugar, o vice, Itamar Franco. Em 1994, com novas eleições, assumiu o Presidente Fernando Henrique Cardoso, esse promoveu o delinear de um novo governo, ancorado nas questões econômicas, tendo o Plano Real como sua maior contribuição a sociedade brasileira, em relação à educação, o governo estava cada vez mais alinhado aos Organismos Internacionais, como vimos anteriormente, FMI, ONU, BIRD, essas agências vão dar a tônica de como será pensada a educação brasileira. Temos que ressaltar que proposta do governo FHC, seguiam as orientações dessas agências, que projetavam a necessidade de um governo que priorizasse a diminuição dos gastos públicos, a privatização das empresas estatais e os serviços prestados pelo Estado 43UNIDADE II Políticas Públicas: Aspectos Legais da Educação Básica no Brasil e que fosse capaz de encontrar novas fontes de renda. Talvez agora você compreenda o que Santos (2011), nos propõe refletir acima na citação, de que as ideias iniciais sobre a educação tomaram uma nova dimensão, isso ocorre justamente por a política nacional está baseada nesses organismos/ agências de fomentos internacionais, cuja a orientação era deixar de lado a proposta de uma Estado de Bem estar social, em que o governo seria responsável pelas questões básicas sociais para um governo caracterizado pelo Estado Mínimo. Isso significava dar uma autonomia cada vez maior aos Estados e Municípios a gerência de seus recursos: É com este foco que a LDB de 1996, Lei nº 9.394/96, sinalizou claramente para mudanças nas responsabilidades dos entes federados quanto à manu- tenção e ao desenvolvimento do ensino em seus diferentes níveis. O teor da citada lei induz fortemente à descentralização da educação, direcionando os seus gastos por intermédio da criação do Fundo de Manutenção e Desenvol- vimento do Ensino Fundamental e da Valorização do Magistério – FUNDEF (Oliveira, 2008). A atenção do FUNDEF voltada, exclusivamente, para o Ensi- no Fundamental, somada à definição de Parâmetros Curriculares Nacionais e à instituição do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) parecem mostrar quais os direcionamentos do governo em relação à política educacional na época. Ou seja, direcionavam-se os gastos para o Ensino Fundamental como estratégia de preparação de mão-de-obra para o merca- do de trabalho; ao mesmo tempo, instituíam-se os Parâmetros Curriculares e o Sistema Nacional de avaliação, de maneira que um certo tipo de controle fosse mantido pelo governo (SANTOS, 2011, p.10). O governo passa então, por meio das avaliações, gerenciar o “rendimento” escolar, ou seja, as provas serão feitas como uma forma de medir a aplicabilidade de recursos e seus resultados. Falar em qualidade da educação passa a ser diretamente relacionado com os seus resultados, mas o que de fato isso tende a revelar? Com a chegada, em 2003, do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, novamente haverá modificação na educação nacional. Em um primeiro momento essas modificações não puderam ocorrer, pois muitas ações ainda estavam atreladas aos acordos realizados entre o governo FHC e as agências nacionais. Ao longo desse governo, muitas coisas foram se modificando, no caso da educação foram propostas ações de médio e a longo prazo, encabeçadas a princípio pelo Ministro da Educação Tarso Genro e, posteriormente, Fernando Haddad. Para Santos (2011, p. 10) destacam
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