Buscar

PERSEFONE - MITO

Prévia do material em texto

Pontifícia Universidade Católica 
Faculdade de Psicologia 
 
 
 
 
 
 
PERSÉFONE: A MORTE COMO TRANSFORMAÇÃO 
 
 
MARIA CAROLINA DE AZEVEDO ANTUNES 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2008 
 
 
Pontifícia Universidade Católica 
Faculdade de Psicologia 
 
 
 
PERSÉFONE: A MORTE COMO TRANSFORMAÇÃO 
 
 
MARIA CAROLINA DE AZEVEDO ANTUNES 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso como 
exigência parcial para a graduação no curso de 
Psicologia, sob orientação da Profa. Dra. Flavia 
Arantes Hime 
 
 
 
 
São Paulo 
2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho àquele que feliz ou 
infelizmente me mobilizou a realizá-lo. Ao queridíssimo 
Ale... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço a todos que fizeram parte da minha vida ao longo da elaboração 
deste trabalho me apoiando e acreditando em meu potencial. 
 
Aos meus pais e meus irmãos pelo amor, carinho e confiança que me 
motivaram a sempre continuar; e mesmo nos momentos difíceis quando achei 
que não conseguiria mais prosseguir amaram-me incondicionalmente. 
 
À minha querida orientadora pela paciência e acolhimento nos momentos de 
apreensão. 
 
Ao meu namorado por estar sempre ao meu lado me animando e me 
encorajando. 
 
A todos os amigos e amigas que, às vezes, com apenas um sorriso alegravam 
este processo. 
 
A cada um que, direta ou indiretamente, contribuiu em meu estudo. 
 
Obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina 
acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do 
destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando 
que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que 
esperando porque, embora quem quase morre esteja 
vivo, quem quase vive já morreu." (Luiz Fernando 
Veríssimo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maria Carolina de Azevedo Antunes: Perséfone: a morte como transformação, 
2008 
Orientador: Profa. Dra. Flavia Arantes Hime 
 
RESUMO 
O presente trabalho teve como objetivo analisar os processos de perdas e 
mortes como agentes de transformação para os seres humanos. À luz da 
Psicologia Analítica e das concepções a cerca do tema, focalizou-se o mito “O 
rapto de Perséfone” que é de grande importância para todas as épocas e 
gerações por simbolizar uma tentativa de superação da dor e de abertura para 
um novo eu interior. Utilizando como método o levantamento bibliográfico de 
autores da abordagem junguiana, foi então utilizada a amplificação simbólica 
que amplia e enriquece os elementos do símbolo visando a traduzi-lo e 
interpretá-lo, o que favorece a compreensão de seu significado arquetípico. 
Deste modo, foi possível refletir que, após vivenciar uma morte física ou 
simbólica, passamos por todo um processo de luto até entendermos 
emocionalmente a situação e percebermos nela uma oportunidade de 
renascimento e transformação. O mito vincula então aspectos arquetípicos e, 
portanto, favorece a integração necessária à superação do luto. 
 
Palavras-chave: morte; símbolo; transformação. 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
Introdução......................................... ................................................................ 1 
Parte I – Principais Pressupostos Teóricos da Psico logia Analítica........... 6 
1 Principais Pressupostos Teórico Junguianos............................................... 6 
1.1 Ego ........................................................................................................ 6 
1.2 Self ........................................................................................................ 7 
1.3 Inconsciente Pessoal............................................................................. 7 
1.4 Inconsciente Coletivo............................................................................. 8 
1.5 Arquétipo ............................................................................................... 8 
1.6 Anima e Animus..................................................................................... 8 
1.7 Persona ................................................................................................. 9 
1.8 Sombra .................................................................................................. 9 
1.9 Símbolo ............................................................................................... 10 
1.10 Individuação....................................................................................... 10 
2 Mitos .......................................................................................................... 11 
Parte II – Morte, Renascimento e Transformação ..... .................................. 13 
Parte III – Método................................. ........................................................... 20 
Parte IV – O mito: “O Rapto de Perséfone”.......... ........................................ 22 
Parte V – Análise e Discussão ...................... ................................................ 26 
Parte VI – Considerações Finais .................... ............................................... 35 
Referências ........................................ ............................................................. 38
1 
 
INTRODUÇÃO 
 
Acostumados a controlar grande parte das situações cotidianas, o 
homem se sente muito aflito quando se percebe em uma fase de incertezas. 
Porém, conforme afirma Vilela (2005), “por mais desagradável ou assustadora 
que possa parecer, a dor é apenas um instrumento de cura”, já que ao sentir tal 
desconforto o indivíduo é obrigado a olhar para si e é exatamente neste 
momento que enormes saltos da consciência ocorrem, transformando o “eu” 
interior. É em tal contato de profunda dimensão que, normalmente, o homem 
vê a necessidade de ir até as cinzas para somente então ressurgir e se sentir 
renovado. 
Neste olhar para si é comum o enfrentamento de medos, inseguranças e 
resistências internas já que o indivíduo acaba por ser motivado a se questionar, 
a pôr o dedo na ferida, a trazer à tona o que o está incomodando e eliminar o 
que já se desgastou ou degradou. Assim, lhe é imposta uma regeneração, uma 
reciclagem interna, uma transformação dolorida devido à percepção de que 
para dar espaço ao novo é necessário que se abra mão de algo velho ou 
conhecido. 
Observando este processo, podemos compará-lo ao luto. Por este 
motivo é que algumas transformações que são tão profundas e provocam 
tantas mudanças são comparadas à morte/renascimento que desestabilizam os 
homens, mas que, possivelmente, irão transformá-lo no mais profundo e íntimo 
do seu ser. Surge então a idéia de que antes de qualquer renascimento deve 
haver uma morte. 
Tal mudança já é considerada como um processo fundamental para que 
haja o crescimento de qualquer indivíduo e, portanto, uma evolução existencial. 
Kübler-Ross (2000) pontua que no luto ocorrem cinco fases que podem ser 
comparadas às etapas de mudança que geram um renascimento. São elas: 1. 
Choque e negação, 2. Cólera (ou raiva) 3. Regateio (ou tentativa de 
negociação), 4. Depressão e 5. Aceitação e renascimento. Estas cinco fases 
2 
 
são obrigatórias em qualquer mudança e sua intensidade e a duração 
dependerão da pessoa e da situação. 
Conforme nomeou Branco (2006), este ciclo “nascimento-morte-
renascimento” não rege apenas a natureza humana, mas a de todos os seres 
vivos de uma maneira geral. Isso ocorre, já que a própria natureza nunca se 
encontra estagnada, mantendo um movimento contínuo. Tal lei da natureza 
pode ser expressa pelo seguinte provérbio Budista “a única coisa perpétua é a 
mudança”. 
Exemplo de tal autotransformação na natureza é o processo de 
metamorfose da borboleta. Sofrendo uma verdadeira transformação, interna e 
externa, ela passa por vários estágios: de ovo para larva, desta para casuloe, 
finalmente, passa para forma de borboleta. Os estágios são importantes para 
que não se pule de uma fase para outra, sem a devida atenção ao que está 
sendo feito. Na metamorfose fica aparente que a lagarta deve morrer enquanto 
lagarta, para dar espaço a um casulo e então ressurgir mais bela e delicada 
nas coloridas asas de uma borboleta. 
Outra ilustração das constantes transformações ao longo do ciclo vital 
pode ser feita através do ciclo da árvore nas diferentes estações do ano. Cheia 
de flores, folhas e galhos, no verão e na primavera a árvore aproveita para 
acumular bastante energia para garantir os períodos escassos. Assim, no 
outono e no inverno a seiva bruta das plantas (energia vital) desce para as 
raízes tirando a energia das folhas e galhos para então levá-la a sua base de 
sustentação que, neste período, está sem energia, sendo um bom momento 
para a poda destes galhos que estão mais fragilizados. 
Um último exemplo exposto aqui faz parte de um dos mais conhecidos 
símbolos dos alquimistas: o oroboro. 
“Presente milenarmente em diversas culturas, (o oroboro) é a cobra 
(ou dragão) que morde o próprio rabo e opera, num movimento 
circular e contínuo, todo o processo dinâmico e transformador da 
vida. "Meu fim é meu começo", diz a cobra nesse ato mágico de 
devorar-se e cuspir-se, a representar a unidade indiferenciada da 
3 
 
vida, e seu caráter divino implícito na 
perfeição do círculo. À serpente devorando 
a própria cauda, os alquimistas chamaram 
Oroboro. Este termo, visto não ter sido 
nunca tão oportuno em nossa língua 
nomearmos um símbolo cuja singularidade é 
a de não ter começo nem fim, por meio de 
palavra tão especial, que permite ser lida de 
trás para a frente sem prejuízo sequer de sua pronúncia, transmitindo 
ela própria a idéia de algo que se expressa ciclicamente. 
Dialeticamente, a cobra que morde sua cauda e não pára de girar 
sobre si mesma, evoca a roda da vida à qual estamos presos.” 
(URBAN, em 
http://www.terra.com.br/planetanaweb/341/reconectando/civilizacoese
tribos/a_simbologia_da_serpente_01.htm) 
Assim como nos exemplos expostos acima, o processo “nascimento-
morte-renascimento” também faz parte do ciclo diário dos seres humanos. Isso 
porque, em processos habituais de vida, o indivíduo sempre tem preocupações 
e essas acabam por gerar transformações. No entanto, segundo Branco (2006) 
os problemas que na cultura ocidental trazem a sensação de impotência, vazio, 
medo e incertezas podem ser de qualquer dimensão como na ocasião de uma 
perda importante, de um fechamento de qualquer ciclo como o término da 
faculdade e a procura de um emprego; o período de adaptação logo após uma 
união ou uma separação; o conhecimento de uma doença grave do próprio 
indivíduo ou de alguém extremamente próximo. De qualquer maneira, 
independentemente do tamanho do “problema”, devido às crenças da cultura 
ocidental, normalmente os indivíduos têm muita dificuldade em atravessar 
estes períodos de mudança, sentindo-se solitários, infelizes e perdendo uma 
enorme energia psíquica. Tal gasto energético ocorre freqüentemente, já que 
ao sair de uma experiência, os seres humanos se esquecem que após passar 
por profunda transformação entrarão novamente em um outro ciclo de 
experiências. “Tudo o que existe altera-se incessantemente num movimento 
cíclico de nascimento, evolução e morte, que se repete até ao infinito”. (Branco, 
2006) Assim, o ciclo completo ao longo da vida gira sempre em torno de 
4 
 
experiências de morte e renascimento que podem promover o 
autoconhecimento e a autotransfomação. 
Fagundes (2007) ainda defende a idéia de que, embora o processo de 
“morte” de cada indivíduo seja muito particular, a natureza e os recursos 
psíquicos do ser humano tenderão a manter um padrão de levá-lo sempre em 
direção a uma nova ordem que corresponde ao desenrolar do caos. Assim, 
pode-se dizer que o processo de dor é praticamente o mesmo que os 
processos do luto e das mudanças que vão da negação, raiva, depressão, até 
à reestruturação e re-significação da vida e o retorno dos sentimentos de 
alegria, contentamento e tranqüilidade. 
A morte neste sentido não simboliza necessariamente a morte física, 
mas retrata o fim necessário e inevitável de um ciclo e a chegada de uma 
transformação, no sentido de uma regeneração com caráter renovador que dá 
abertura a um renascimento. Muitas vezes é necessário que, para ocorrer tal 
processo, o indivíduo reorganize seu modo de pensar e se permita passar por 
um processo de desprendimento do passado, pois novos fatores ou novas 
circunstâncias intervirão no seu antigo modo de ser, agir e pensar. Mas nem 
todos têm coragem de se entregar ao novo e resistem à mudança, porque 
temem a morte do que já é conhecido e que lhe dá estabilidade e o novo o 
obriga a ter uma outra visão das coisas e, inclusive, de si próprio. 
No entanto, o que não se sabe é que, de acordo com Branco (2006), ao 
recusar a morte, nega-se automaticamente a vida. Por isso, 
“só é possível a aceitação da vida e o encontro com ela, se 
paralelamente se aceita a morte, como um aspecto da manifestação 
da vida. E é quando enfim se chega a este ponto, que se começa a 
vencer a morte, porque se entra no dinamismo vital, ao reconhecer na 
morte um dos aspectos da vida. Dando à morte o seu lugar na vida, 
desaparece ela como imagem de aniquilação e fim do que existe, 
porque se percebe que verdadeiramente há tão só movimento e 
mudança de estados. É, contudo, em nome da vida que a negação da 
morte é feita, porque se considera que esta destrói aquela, mas no 
fundo quem não quer a morte, busca-a sem saber, porque se recusa 
a viver”. (BRANCO, em 
5 
 
http://refletindo.weblog.com.pt/arquivo/2006/12/o_ciclo_da_mort.html)
. 
Conforme pontuou Fagundes (2007), “dizem que no fundo do poço tem 
uma mola e que quando realmente chegamos lá recebemos um impulso e 
começamos a trajetória de saída.” Além disso, todos os seres humanos 
passam, necessariamente, por momentos de dor e sofrimento. 
Apesar de a mesma autora ponderar que cada indivíduo reage às 
situações da vida de acordo com seus recursos e vivências pessoais, fica claro 
que o ser humano deve lembrar-se de que para tudo há uma solução e que, 
mesmo passando por momentos de sofrimento e dificuldades, ele encontrará 
de alguma forma a recuperação e o crescimento pessoal. 
Assim, o objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão a cerca do mito “O 
Rapto de Perséfone” focalizando o tema morte, renascimento e transformação. 
Para tal análise será realizada uma pesquisa teórica baseada em referências 
bibliográficas de abordagem junguiana. 
O trabalho será então dividido em seis partes sendo elas: Parte I. 
Pressupostos Teóricos da Psicologia Analítica que será dividida em dois temas: 
1) Principais Pressupostos Teóricos Junguianos e 2) Mitos; Parte II: Morte, 
Renascimento e Transformação; Parte III. Método; Parte IV. O mito: “O Rapto 
de Persófone”; Parte V. Análise e Discussão; e Parte VI. Considerações Finais. 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
PARTE I - PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA ANALÍ TICA 
 
1. Principais Pressupostos Teóricos Junguianos 
Para fundamentar melhor o meu trabalho utilizarei como base a 
Psicologia Analítica criada por Carl Gustav Jung. 
De acordo com Penna (2003), Jung propôs um modelo de psique 
dinâmico, dotado de um sistema auto-regulador. Trata-se de um processo em 
que a totalidade psíquica abrange aspectos conscientes e inconscientes que se 
relacionam complementar e compensatoriamente se expressando através de 
um meio externo para então realizar o potencial individual. 
O autor defende então a idéia de que “não há equilíbrio nem sistema de 
auto-regulação sem oposição” (Jung, 2002, p.53) e passa a considerar a 
existência de dois pólos opostos para basear sua teoria psicológica. Como “os 
conflitos surgem da tensão entre estes pares de opostos, sem osquais não 
haveria manifestações energéticas” (Tognini, 2007, p. 37), para Jung, tal 
função reguladora dos contrários acaba por ser essencial para o funcionamento 
do psiquismo e “condição para qualquer relação entre o indivíduo e o mundo” 
(Jung, apud Tognini, 2007, p. 37). 
Partindo destas premissas, Jung passou a estudar mais profundamente 
a psique humana desvendando muitas partes deste aparelho psíquico. Para 
auxiliar na compreensão do meu trabalho, abaixo farei uma breve 
apresentação de alguns termos junguianos que são mais profundamente 
analisados por outros autores citados ao longo de meu estudo. 
1.1 Ego 
““Ego” é um termo técnico cuja origem é a palavra latina que significa 
“eu”” (Stein, 1998, p. 21). De acordo com o autor, o ego é a característica mais 
central da consciência humana. Sendo que esta é a percepção dos nossos 
próprios sentimentos e em seu centro existe um “eu”. Este é o ponto de partida 
7 
 
ou “a ferramenta”, como nomeia o autor, para entendermos o interior do ser 
humano que chamamos de psique. 
Segundo Tognini (2007), o ego se forma 
“a partir do momento em que o indivíduo passa a ter percepção do 
corpo e da existência e, também pelos registros de memória. É o ego 
que nos dá a sensação de sermos um processo com início, meio e 
fim” (p.39). 
De acordo com a mesma autora, é o ego que possibilita o auto-
conhecimento e o desenvolvimento da consciência através das imagens do 
inconsciente e dos símbolos. 
1.2 Self 
Whitmont (1991) coloca em sua obra: 
“Jung chamou de self à soma total de nosso ser potencial. Contrastou 
este self mais amplo ao nosso pequeno eu, ou seja, à nossa auto-
imagem consciente, nosso senso de identidade pessoal e de 
esperanças e expectativas pessoais. O self funciona como se 
gerasse uma vontade evolutiva e um padrão intencional próprios, que 
muitas vezes estão em desacordo com a personalidade egóica 
consciente. Fluem do self nosso instintos “mais baixos”, além de 
nossas aspirações espirituais. Ele gera nosso impulso de 
individuação, a ânsia de nos tornarmos o que somos e também a 
consciência individual (...)” (p. 227). 
 1.3 Inconsciente Pessoal: 
 É o local do inconsciente em que são armazenados conteúdos 
conscientes de aquisição individual e que foram esquecidos ou reprimidos pelo 
indivíduo. De acordo com Tognini (2007), tais elementos acabam por ser 
incompatíveis com a atitude consciente, pois o ego os considerou como 
perigosos e ameaçadores para o indivíduo em determinado momento, 
escolhendo por reprimi-los então. Tal parte do inconsciente é constituída em 
sua maioria pelos complexos. 
8 
 
1.4 Inconsciente Coletivo: 
 Armazenando conteúdos coletivos, universais e atemporais 
herdados, o inconsciente coletivo é considerado a camada mais profunda da 
psique já que nunca esteve na consciência. Por este motivo Jung (2000) 
acreditava que tais conteúdos não seriam adquiridos individualmente, mas sim 
hereditariamente. Tal parte do inconsciente é constituída de arquétipos. 
1.5 Arquétipo: 
“Para Jung, um arquétipo representa uma estrutura da psique 
humana. Pertence não tanto ao indivíduo como a uma raça particular 
e a uma tradição específica nas quais o indivíduo nasce e cresce. Os 
arquétipos são, nesse sentido, resquícios de experiências dos nossos 
ancestrais e, coletivamente, da raça a que pertencemos” (McLean, 
1989, p. 130). 
Trata-se então de padrões universais (imagens, símbolos) guardados no 
inconsciente coletivo e que se manifestam através dos sonhos, por 
comportamentos, sentimentos e instintos. Por se repetirem de geração a 
geração, pode-se dizer que os arquétipos estão gravados na alma da 
humanidade. 
Assim, a importância dos arquétipos é reconhecida por construir a 
identidade pessoal ou a identidade de um grupo e por fortalecer valores morais 
dos seres humanos. De acordo com Tognini (2007), sombra, persona, anima e 
animus são arquétipos. 
1.6 Anima e Animus 
“A anima e o animus são arquétipos daquilo que, em cada sexo, é o 
inteiramente o outro. Cada um representa um mundo que, à primeira 
vista, é incompreensível ao seu oposto, um mundo que nunca pode 
ser conhecido diretamente” (Whitmont, 2002, p. 165). 
De acordo com o autor, a anima simboliza o lado feminino que há dentro 
de cada homem e o animus representa a masculinidade da mulher. Assim, 
apesar dos homens serem culturalmente mais racionais, agressivos e rígidos, 
9 
 
eles apresentam também uma anima que lhes permite ser mais sentimentais, 
espontâneos, sensíveis e intuitivos, características típicas femininas. O mesmo 
ocorre com o animus. Apesar de as mulheres apresentarem um lado bastante 
dócil, emocional e, de certa forma, até impulsivo, este arquétipos as ajuda a 
terem uma capacidade maior de julgamento, discriminação, iniciativa e ação. 
1.7 Persona 
De acordo com Whitmont (2002), 
“o termo latino persona refere-se à máscara do ator da Antigüidade, 
que era usada nas peças ritualísticas solenes. Jung usa o termo para 
caracterizar as expressões do impulso arquetípico para uma 
adaptação à realidade exterior e à coletividade. Nossas personas 
representam os papéis que desempenhamos no palco do mundo; são 
as máscaras que carregamos durante todo esse jogo de viver na 
realidade exterior. A persona, como uma imagem representacional do 
arquétipo da adaptação, aparece em sonhos nas imagens de roupas, 
uniformes e máscaras” (p. 140). 
Desta forma, a persona simboliza o ser humano tal como ele se 
apresenta ao mundo externo, à sociedade. E, por este motivo é que cada 
pessoa pode se apresentar de diversas maneiras, atuando com suas personas 
em diferentes papéis. Um indivíduo pode apresentar-se de um jeito no trabalho, 
de outro com a família e de uma terceira maneira com os amigos. Estas são as 
personas deste indivíduo ao se deparar com o mundo social. 
1.8 Sombra 
Assim como a persona, a sombra também faz parte da personalidade do 
ser humano. No entanto, “representa uma personalidade parcial e autônoma 
com tendências opostas ao ego consciente e se comporta de maneira 
compensatória a este” (Tognini, 2007, p. 41), já que representa o inconsciente 
pessoal do indivíduo. 
Deste modo, ainda segundo a autora, 
10 
 
“a sombra refere-se à parte inferior da personalidade, aos aspectos 
primitivos não diferenciados; embora não sejam necessariamente 
negativos, são elementos classificados como inferiores porque não 
encontraram condições suficientes para se desenvolver” (p. 41). 
1.9 Símbolo 
A respeito do assunto, Jung (1964) afirmou: 
“O que chamamos de símbolo é um termo, um nome ou mesmo uma 
imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua 
conotações especiais além do seu significado evidente e 
convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta 
para nós. (...) Assim, uma palavra ou imagem é simbólica quando 
implica alguma coisa além do significado manifesto e imediato. Esta 
palavra ou imagem tem um aspecto “inconsciente” mais amplo, que 
nunca é precisamente definido ou de todo explicado. E nem podemos 
ter esperanças de defini-la ou explicá-la. Quando a mente explora um 
símbolo, é conduzida a idéias que estão fora do alcance da nossa 
razão. (...) Por existirem inúmeras coisas fora do alcance da 
compreensão humana é que freqüentemente utilizamos termos 
simbólicos como representação de conceitos que podemos definir ou 
compreender integralmente” (p.21). 
1.10 Individuação 
Ao longo da vida as pessoas passam por diversas mudanças em muitos 
níveis. Isso ocorre devido aos problemas, dificuldades, prazeres e 
possibilidades que cada ser vivencia. Tais experiências lapidam o ser humano, 
fazendo com que seu self evolua em um processo de expansão e diferenciação 
da consciência através do autoconhecimento e da percepção do eu. Jung 
nomeou este processo de individuação. Segundo Whitmont (1991), tal 
processo de conscientização e crescimento não deve ser confundidocom uma 
simples auto-reflexão ou um mero pensar a respeito de si mesmo. 
De acordo com Perera (1985), é 
“a percepção consciente da realidade própria e única de uma pessoa, 
abrangendo todas as potencialidades e limitações. Esse processo 
11 
 
leva a experimentar o si mesmo como o centro regulador da psique” 
(p.140). 
Para Whitmont (2002), para que se atinja a individuação, é necessário 
que o homem e a mulher descubram sua outra personalidade através de sua 
anima e seu animus, respectivamente e aprendam com eles. 
Tognini (2007) coloca ainda que 
“o objetivo da individuação é o de relacionar os vários aspectos da 
psique, consciente e inconsciente, para isso é preciso que o ego tome 
consciência do self e perceba não apenas a persona; é preciso que 
entre em contato com a sombra. “É importante para a meta da 
individuação, isto é, da realização do si-mesmo, que o indivíduo 
aprenda a distinguir entre o que parece ser para si mesmo e o que é 
para os outros” (Jung, 2004, p.71). Nesse sentido, a individuação 
enquanto reconhecimento de uma incompletude não é busca da 
perfeição humana, ou seja, não necessariamente a meta da 
individuação será algo socialmente considerado como bom” (p. 50). 
 
2. Mitos 
“Mitos são narrações fantásticas de deuses e heróis, que pertencem 
ao patrimônio cultural de um povo. Fundados sobre uma tradição oral 
ou escrita, têm geralmente um estreito vínculo com a religião, 
formando uma razão de crenças, tabus e ritos. Freqüentemente 
constituem um suporte (base) do sistema social e uma chave 
explicativa de fenômenos da natureza. Os mitos trazem vestígios das 
fases primitivas da humanidade, que são os arquétipos” (Paiva e 
Paiva, disponível em http://clinicamillerdepaiva.com). 
Assim como os contos de fada e o folclore, os mitos são utilizados pelos 
seres humanos como uma tentativa de explicar os mistérios da vida e torná-los 
suportáveis. Isso ocorre já que segundo Greene e Sharman-Burke (2001), “os 
mitos têm a misteriosa capacidade de conter e transmitir paradoxos, 
permitindo-nos enxergar, em volta e acima do dilema, o verdadeiro cerne da 
12 
 
questão” (p. 9). Desta forma, os mitos podem aliviar os conflitos internos e 
ajudar-nos a descobrir melhor a vida. 
Enxergando nos mitos uma função de cura, as mesmas autoras 
acreditam que ao ouvirmos tais narrativas mitológicas, percebemos que não 
estamos sozinhos em nossos sentimentos, medos, conflitos e aspirações. 
Os mitos são também de tamanha importância na vida do ser humano 
que alguns autores como Campbell (1988) acreditam que eles sejam uma 
abertura secreta na qual as energias do cosmos penetram nas manifestações 
culturais. Para o autor, os mitos são uma inspiração da criatividade para o 
corpo e a mente dos seres humanos, já que os símbolos que os compõem são 
produções espontâneas da psique. 
Por serem constituídos pelos arquétipos, os mitos acabam por estar 
sempre presentes na vida dos seres humanos e servem como modelo de 
conduta a cada indivíduo. 
Com base em tal teoria, fundamentarei meu trabalho relacionando os 
principais pressupostos teóricos junguianos com o mito “O rapto de Perséfone”. 
Para tal análise, focarei o tema “Morte, renascimento e transformação” que 
será abordado no capítulo seguinte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
PARTE II - MORTE, RENASCIMENTO E TRANSFORMAÇÃO 
 
Existem alguns momentos da vida que são de corte, de conclusão e aí 
temos que nos despedir. Este é um dos ciclos naturais da existência humana, 
mas tal processo de ponto final dói. “Deixar ir embora faz parte da existência, 
tanto quanto começar um ciclo novo” (Ceccon, 2007, p. 26). 
Quando sofremos, normalmente vemos tal situação como algo injusto, 
que não deveria estar acontecendo. Culpamos os outros, culpamos a nós 
mesmos, culpamos divindades, ou tentamos culpar qualquer outra coisa para, 
talvez, achar um alívio à nossa dor. No entanto, nem sempre achamos um 
culpado ou nem sempre há sequer um culpado. As coisas simplesmente 
acontecem e o máximo que podemos fazer é viver tentando compreender a 
situação para dar um sentido ao sofrimento e assim, obtermos a possibilidade 
de transformação. 
Acredito que é por este motivo que em sua obra Estés (1994) defende a 
idéia de deixarmos morrer o que precisa morrer. E para a autora “isso significa 
deixar morrer os valores e atitudes de dentro da psique que não mais 
sustentamos” (p. 109). Mantemos dogmas há muito aceitos e ouvimos vozes 
interiores que nos estimulam a recuar para manter a vida segura, mas esta 
superproteção não necessariamente nos ajuda a crescer, desenvolver e nos 
transformar. Assim, é preciso tomar cuidado para não deixar que talentos 
expressivos recuem para a sombra definhando o ser ao invés de ajudá-lo a se 
fortalecer e progredir. 
Mas por que então ter a dificuldade de deixar ir embora uma situação, 
uma vida ou parte de nós mesmos que já chegou ao final de seu ciclo? 
Ceccon (2007) acredita que insistir em uma situação pode ser mais 
confortável, talvez mais seguro do que encarar o novo. E este é o motivo do 
sofrimento. É preciso ter coragem para aceitar um fim, um “adeus”; assumir 
que aquela etapa já se esgotou e, por isso, deve ser finalizada. A autora ainda 
14 
 
realça que não basta dizer um “até breve”, mas assumir um adeus verdadeiro, 
do fundo da alma. 
Para que tal processo possa ser menos dolorido, a mesma autora 
sugere que não imaginemos a situação como algo negativo, como um 
abandono, uma desistência ou um fracasso. Uma porta que se fecha dá 
espaço para novas possibilidades, sendo então um fim para o começo de algo 
novo. Este ciclo ocorre inclusive internamente em cada ser humano. 
Com o passar do tempo sentimos a necessidade de deixar para trás 
escolhas, idéias, atitudes antigas que se tornaram obsoletas, mesmo que isso 
não signifique mudar uma trajetória anterior (relacionamento, carreira, hábitos), 
mas apenas dar espaço a outros paradigmas ou outra direção. Isso ocorre 
naturalmente. É como uma voz que grita internamente pedindo por socorro e a 
própria alma se encarrega de situar o que está precisando de maior atenção 
naquele momento. Talvez seja um processo longo, em outras ocasiões pode 
ser curto, mas o coração naturalmente aceita os sentimentos, mesmo 
carregando ainda muitas incertezas. Este contato com os fantasmas da vida, 
com a dor interna, pode ser sofrido, mas é a construção gradativa para um 
novo caminho. E “saber encarar um ciclo com lucidez indica maturidade. É 
sinal de que nos tornamos responsáveis pela própria vida” (Ceccon, 2007, p. 
28). 
Na cultura oriental, a vida não é vista como um processo que se dirige 
apenas a uma direção, mas sim como um crescimento rítmico seguido por 
decréscimos, alternando assim vida e morte. No entanto, no ocidente tal 
ensinamento ainda não é muito reconhecido, já que, raramente, se reflete a 
respeito da necessidade de se gastar, deteriorar e morrer simbolicamente. “Se 
a morte e a decadência não estivessem dotadas de poderes tão grandes como 
as forças da criação, nosso mundo inteiro teria agora alcançado o estado 
lamentável da estagnação”, afirma Harding (1985, p. 278). 
Ceccon (2007) então explica porque acredita que o ser humano sofre ao 
deixar para trás certas situações. Para ela o sofrimento é gerado por nada 
menos que o tão conhecido apego. O ser humano, principalmente no Ocidente, 
15 
 
não se contenta em apenas vivenciar uma situação. Ele precisa possuí-la e 
“para sempre”. Mas, no momento de deixá-la passar ocorre o sofrimento devido 
à perda de algo que, para este ser, deveria ser eterno. Assim, segundo a 
autora, “o segredo, então, é conservar o que se tem com desapego ou, então, 
soltar de vez o que não tem mais valor” (p.30). 
A autora afirma que não se deve ter medo da falta do que se foi, já que 
em toda perda há um ganho. Este processo de transformação acaba também 
por ser dolorido por entrarmos emcontato com conteúdos interiores delicados. 
E, como defende Whitmont (1991), também ter a coragem de olhar e ouvir a 
própria profundidade é um desafio, já que aquilo que reprimimos e rejeitamos 
nos outros também pode fazer parte do nosso próprio ser. É por este motivo 
que atualmente algumas abordagens da Psicologia tais como o psicodrama e a 
gestalt-terapia utilizam a dramatização deliberada da situação dolorosa ao 
invés de evitá-la. 
“Isso significa a coragem de adentrar o abismo, de se permitir 
mergulhar, temporariamente, no caos da subjetividade, o velho 
inimigo. Significa perder-se a fim de encontrar-se mais tarde” 
(Whitmont, 1991, p. 211). 
O autor acredita também que a nossa sombra, que por muitos ainda é 
vista como uma fraqueza, pode agora, quando encarada verdadeiramente, ser 
reconhecida e valorizada como elemento de equilíbrio e, portanto, aspecto 
indispensável da vida. Todo ser passa por “altos” e “baixos”. Assim, o indivíduo 
deve procurar reintegrar tais momentos de baixa ou de descida, como coloca 
Perera (1985), mas transformando-os em uma parte de sua personalidade 
sem, necessariamente, modificar seus princípios éticos e morais. 
Whitmont (1991) ainda pontua que é importante para o ser humano 
encontrar um lugar para a sombra dentro do próprio ser, pois somente assim 
ele atingirá o equilíbrio e vivenciará totalmente sua personalidade. Caso 
contrário estará sendo apenas a parte que gosta de si, não sendo então uma 
totalidade. 
16 
 
Este processo de sofrimento que nos faz encarar a nós mesmos causa 
tamanha dor que podemos dizer que ocorre semelhantemente ao processo de 
superação do luto. É algo desagradável, causador de medo, insegurança, 
desconforto, revolta, negação, mas que pode ser também um canal de cura. 
Para Perera (1985), a chamada morte simbólica significa desenterrar 
conteúdos que foram mantidos no inconsciente até que o indivíduo tenha 
forças suficientes para sacrificar parte da libido em favor de sua libertação. 
Dentre os diversos tipos de descida para situações desconfortáveis existem as 
mais fáceis e as mais difíceis de se enfrentar. 
De acordo com a mesma autora, as descidas mais fáceis servem como 
um afrouxamento dos conteúdos enraizados e também como um gerador de 
energia para o enfrentamento das descidas mais profundas. Estas últimas são 
as que levam o indivíduo às profundezas mais primitivas e orobóricas com o 
intuito de reorganização e transformações radicais da personalidade 
consciente. Por englobar tais funcionalidades, as descidas mais profundas 
significam verdadeiras mortes para o indivíduo. 
Apesar da dificuldade e do sofrimento para entrar em contato com as 
descidas profundas da vida, são elas que promovem a entrada e a iniciação 
para diferentes níveis da consciência e podem, inclusive, liberar a vida. A 
autora coloca também que “o sacrifício ocasiona uma mudança gigantesca”, 
mas que “a vida só pode nascer do sacrifício de outra vida” (Eliade, apud 
Perera, 1985, p. 83). 
Abaixo Perera (1985) comenta a respeito da morte simbólica através de 
processos como a depressão, por exemplo. Apesar de a autora falar para as 
mulheres se incluindo nesta fala, acredito que tais ensinamentos englobariam 
qualquer ser humano sendo ele do sexo feminino ou masculino. 
“A nível psicológico, o aspecto processual é experimentado de 
maneira dolorosa e lenta. Sentimo-nos identificadas com quaisquer 
aspectos que nos sejam mais próximos, e raramente conseguimos 
encontrar o alívio parcial proporcionado pelos momentos de clareza, 
como quando se consegue ver o núcleo a partir de uma perspectiva 
17 
 
transcendental. Embora a depressão e o sacrifício de nossas ilusões 
e ideais incompletos sejam maneiras de levar a cabo uma troca de 
libido análoga à do ritual mítico, o processo se manifesta de maneira 
angustiosa e piora quando nos culpamos pela depressão. Somos 
forçadas a oferecer aquilo a que nos agarramos, aquilo que pagamos 
caro para obter. E nada nos pode dar a certeza de que a perda será 
recompensada da maneira que desejamos. No sistema abrangente 
da psique, o sacrifício pode alterar o equilíbrio de energia em algum 
ponto que não desejaríamos mudar. Só podemos saber que iremos 
encontrar renovação e relacionamento com as forças poderosas do 
mundo subterrâneo, e que isso envolverá a quebra dos velhos 
modelos, a morte de uma gestalt em que, de certo modo, nos 
sentíamos bem, a morte de uma identidade aparentemente completa. 
Raramente nos aproximaríamos desse desmembramento se nossa 
dor já não fosse muito intensa” (p. 85). 
A descida às profundezas interiores é obscura, sofrida, “onde beleza e 
feiúra extrema flutuam ou se dissolvem num estado paradoxal aparentemente 
sem sentido” (Pereira, 1985, p.89) e pode fazer a vida perder “o sabor” por um 
tempo. No entanto, segundo a mesma autora, é um processo sagrado e 
transformador. 
Branco (2002) diz que apesar da morte ser um processo destrutivo da 
existência e o fim absoluto de qualquer coisa, seu simbolismo introduz ao 
desconhecido e nos remete aos ritos de passagem. Assim, a situação de 
mudança pode ser um tanto desconfortável também já que, como explica 
Ceccon (2007), a dor da perda também pode ser decorrente do medo do 
desconhecido. E isto normalmente ocorre já que o indivíduo é obrigado a sair 
de algo já conhecido e esquematizado para então entrar em contato consigo 
mesmo e descobrir quem realmente é e para onde irá seguir. Por isso, “o 
verdadeiro adeus surge quando a pessoa já entendeu qual é o seu destino e 
refletiu muito a respeito do que precisa se desembaraçar para seguir adiante 
em seu caminho” (Critelli, apud Ceccon, 2007, p. 28). 
Tal processo possivelmente será dolorido, mas Ceccon (2007) sugere 
que, assim como age o povo hindu, talvez fosse mais fácil se procurássemos 
estar sempre em contato com nosso próprio ser e não apenas “procurá-lo” nos 
18 
 
momentos de dor. Dessa forma escutaríamos mais nossa alma, nosso coração 
e ficaríamos menos apegados ao externo, tendo então menos dificuldade de 
dizer adeus. 
Conforme pontua Branco (2002): 
 “A morte simbólica pode ser despertada pela possibilidade de morte 
física. Mas isso não impede a pessoa de aproveitar essa 
oportunidade para se reconstruir. É um fato externo que remete a um 
desafio interno” (p. 12). 
É um fim que também pode ser um começo para uma nova vida; e neste 
novo caminho a percorrer o indivíduo estará agora mais maduro e com maiores 
possibilidades para encarar seus novos desafios. 
Fato semelhante ocorre com a troca de pele da cobra a qual Perera 
(1985) nomeia de “o conhecimento das serpentes”. Ao longo de sua obra a 
autora compara a troca de pele do animal com as formas da vida do ser 
humano que vão se perdendo e se renovando. E, apesar de nesses períodos 
de transformação surgir o medo e vulnerabilidade, segundo a autora há 
também uma renovação de energia. Perera (1985) afirma que o medo nada 
mais é do que a perda momentânea da alma. 
“A pessoa cai no inconsciente, é vencida pela emoção e fica em 
pânico. E, na identidade com o medo, tenta sobreviver ao ataque. Ela 
procura, assim, esconder-se fora da vida até que haja a chance de 
renascer num meio mais clemente. O medo engolfa a alma mortal e 
provoca sua descida. Aí o mundo subterrâneo pode ser um refúgio, 
um esconderijo. Constatamos esta descida em ataques de anima e 
animus negativos, ocasião em que o emocional se sobrepõe ao 
senso de identidade pessoal” (Perera, 1985, p.129). 
A mesma autora diz também que a transformação é como uma peça de 
teatro que nunca termina, uma ação sem desfecho já que estamos sempre em 
processo de mudança e transformação de vida e morte. Perera (1985) aponta 
ainda que esta é uma nova espécie de ego em individuação que celebra e 
aceita tal processo de mutação, que ousa encarar as sombras e o sofrimento 
em prol da vida e que reage ao invés de reprimir tal processonatural. 
19 
 
Enquanto um fato do destino, a transformação causa dor. No entanto, os 
indivíduos devem buscar tal sofrimento, pois assim terão a possibilidade de 
mudar e lutar para manter um equilíbrio. Segundo Branco (2002), é preciso 
suportar o passado e vencer as expectativas para o futuro para construir um 
novo ser no mundo real, segundo os impulsos dos desejos, mas respeitando 
seus limites. Assim o ser humano caminha em direção à totalidade, ao si - 
mesmo, ao processo de individuação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
PARTE III - MÉTODO 
 
O objetivo deste trabalho foi refletir a respeito da morte física e simbólica 
buscando compreendê-la num sentido mais amplo caracterizado pelos 
aspectos de renascimento e transformação na vida do ser humano. 
Para isso, o modelo de pesquisa utilizado neste trabalho foi o teórico 
com um levantamento bibliográfico de autores da abordagem junguiana, assim 
como outros autores que levantaram o tema mitos ou que refletiram sobre os 
aspectos da morte e seu caráter transformador. 
Segundo Penna (2003), enriquecidos por imagens de lendas, mitos, 
contos ou qualquer outro material cultural disponível, os símbolos passam por 
um processo de amplificação. 
“O processo de amplificação simbólica proposto por Jung consiste em 
ampliar e enriquecer os elementos do símbolo através de 
associações e analogias que fluem numa cadeia contínua de 
similaridade, visando a traduzir e interpretar o material desconhecido 
do símbolo. O ato de ampliar e enriquecer o símbolo, por meio de 
analogias diversas, favorece a compreensão de seu significado 
arquetípico pela diversidade de possibilidades oferecidas ao ego para 
captar o aspecto oculto do símbolo e encontrar o significado que mais 
sentido faça para a consciência atual” (p.195). 
 A autora acredita que a amplificação simbólica possibilita no indivíduo a 
abertura de uma ligação que relaciona seus aspectos inconscientes com os 
coletivos, da cultura. Isso ocorre já que, 
“os símbolos coletivos ou culturais, na amplificação, revelam seus 
aspectos arquetípicos prospectivos, fornecendo um entendimento 
ampliado da situação atual e futura da coletividade, além de sua 
conexão com a história passada” (Penna, 2003, p.197). 
 
21 
 
Ainda de acordo com Penna (2003), a pesquisa em Psicologia Analítica 
considera também que, necessariamente, a dimensão inconsciente está 
presente tanto no âmbito coletivo quanto pessoal, o que exige atenção e 
reflexão constantes sobre aspectos inconscientes do pesquisador para que a 
pesquisa seja realizada de maneira apropriada. 
Além disso, a principal meta de uma pesquisa em Psicologia Analítica é 
a aquisição de um novo e relevante conhecimento tanto ao coletivo quanto ao 
auto-conhecimento do próprio pesquisador. Assim, segundo a mesma autora, o 
objeto de pesquisa, o símbolo (da morte, neste caso), acaba por instigar e 
capturar a consciência do pesquisador, mobilizando seu ego em direção ao 
desconhecido que acaba por ser a motivação básica para a realização da 
investigação. 
Levando isto em consideração, Scanavacca (2007) salienta que é de 
extrema importância que o pesquisador esteja inteiramente envolvido com o 
tema, mas, ao mesmo tempo, tendo certo distanciamento para posteriormente 
ter condições de refletir a respeito, realizando suas próprias conclusões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
PARTE IV - O MITO: “O RAPTO DE PERSÉFONE” 
 
Neste trabalho, escolhi por refletir a respeito do mito “O Rapto de 
Perséfone” por este ilustrar claramente o processo de morte, renascimento e 
transformação pelo qual passa qualquer ser humano ao longo de sua vida. 
Tal mito, até os dias de hoje, já foi contado de diversas maneiras e por 
diferentes autores como Bolen (1996), McLean (1989) e Woolger e Woolger 
(1997). Cada um deles optou por abordar o mito sob uma perspectiva 
diferenciada com o objetivo de analisá-lo de acordo com o tema trabalhado. 
Assim, para expor em meu trabalho, optei pela versão de Woolger e Woolger 
(1997) que é a mesma de Seabra (Disponível em: http://www.sbpa-
rj.org.br/maefilha.htm) que achei mais completa e detalhada. Optei por tal 
versão já que ambos os autores utilizam como base uma das mais antigas 
fontes de mitos gregos de que dispomos: os Hinos Homéricos. 
“Naquele dia, Deméter, 
deusa do grão e da colheita, 
cuidando de cobrir a terra de 
verdura, flores e frutos, não 
estava junto à filha, a linda 
Perséfone, também 
chamada Core (que, para os 
romanos significa jovem). A 
jovem brincava com as 
ninfas no campo de Nísia; 
teciam coroas e guirlandas 
"misturando violetas e íris, 
rosas, jacintos e lírios". 
Atraída pelo perfume do 
narciso "de cem ramos", 
Core afasta-se das 
companheiras e debruça-se para colher um botão que floria na borda 
de um penhasco. Nesse momento a terra se abre e surge da fenda o 
deus da morte e do mundo subterrâneo, Hades, que a carrega, 
apesar de seus gritos, em seu carro puxado por "imortais cavalos", 
23 
 
para Hades, seu reino. Perséfone grita pedindo a Zeus que a salve, 
sem suspeitar que o rapto tinha sido tramado pelo filho de Cronos, 
Zeus, com seu irmão, o senhor de Hades. 
Do fundo de sua gruta, Hécate, deusa da sombra e da tênue luz da 
lua, nada vê, mas ouve o grito de Core. Distante, "através dos picos 
das montanhas e das profundezas do mar", Deméter também o ouve. 
Durante nove dias sem comer nem se lavar, carregando tochas, ela 
procura a filha. Na aurora do décimo dia, Hécate vem a seu encontro 
e diz à deusa inconsolável que sabia que sua filha tinha sido raptada, 
mas não sabia por quem. Juntas, vão perguntar ao Sol, o deus Hélio, 
que tudo vê no seu curso pelo céu. O deus resplandecente conta que 
Perséfone tinha sido dada por Zeus a Hades para ser sua esposa e 
rainha do reino dos mortos, e volta para as alturas no seu carro de 
luz, deixando imersa em escuro desespero a deusa Deméter. 
Desfigurada pela dor e vestida em andrajos, ela dirige-se, então, para 
as cidades dos homens. 
Uma tarde, tendo chegado ao reino de Elêusis, ela se senta à beira 
de uma fonte chamada Fonte das Donzelas, à sombra de uma 
oliveira. As filhas do rei vêm apanhar água e aproximam-se de 
Deméter. Quando esta lhes diz que busca trabalho como ama, as 
jovens levam-na a seus pais. Coberta com escuro manto, a deusa 
entra no palácio onde a recebem com respeito. Recusa o vinho que 
lhe é oferecido, mas aceita uma bebida feita com cevada e água. 
A rainha entrega-lhe seu filho recém-nascido. Deméter, que o recebe 
"em seu colo perfumado", começa a dar-lhe cuidados para que ele 
cresça "como se fora o filho de um deus": unta-o com ambrosia e à 
noite, secretamente, coloca-o sobre chamas para que ele se torne 
imortal. 
Uma noite, a rainha, insone e "com pensamentos tolos", deixa seu 
"quarto perfumado" e vai ver o filho entregue à ama. Surpreende-a 
segurando a criança sobre o fogo e solta um grito apavorado. Com 
isso impede que o filho se torne imortal. 
"Ondas de terrível ira" atravessam a deusa que, dando-se a 
conhecer, repreende a mãe por ter privado o filho da imortalidade. 
Revelada a presença da deusa, os reis e o povo de Elêusis erigem-
lhe magnífico templo. Para dentro dele Deméter se retira e entrega-se 
24 
 
à saudade da filha. A dor cresce em seu peito; seu luto e desespero 
começam a transbordar trazendo destruição sobre a terra. Naquele 
ano terrível nenhuma semente brotou; a humanidade teria perecido 
pela fome e os deuses estariam para sempre privados das oferendas 
e sacrifícios dos homens se Zeus "não tivesse percebido isso e 
ponderado em sua mente". A deusa Íris é a primeira mensageira que 
vem implorar a Deméter que aceite o convite para vir ao Olimpo 
receber grandes honras e que devolva a fertilidade aos campos dos 
homens. Deméter, inabalável em sua vingança, recusa-se a atender a 
Íris e a todos os deuses que vêm, um por um, suplicarque retire seu 
castigo. Declara que nenhuma semente brotará enquanto não lhe for 
devolvida Perséfone. Finalmente, Zeus envia Hermes ao Hades para 
pedir ao senhor dos mortos que concorde em ceder a esposa à sua 
mãe. 
Hades dá seu consentimento; Core, 
exultante, prepara-se para partir. Na 
despedida, o marido pede-lhe que 
coma com ele alguns gomos de 
romã. Depois de compartilharem a 
fruta, Perséfone salta no carro 
dourado de Hermes: e "puxados por 
cavalos de longas asas" atravessam 
os mares, os picos das montanhas, e 
chegam ao bosque perto do templo. 
Mãe e filha correm em direção uma à 
outra e abraçam-se numa alegria 
sem limites. Subitamente, Deméter 
suspeita de um embuste e pergunta 
à filha se tinha comido alguma coisa 
enquanto estava no mundo 
subterrâneo. Perséfone lembra-se de 
ter partilhado a romã com o marido, 
e sua mãe sabe então que só a terá 
de volta por dois terços do ano. Um terço a filha terá que passar com 
Hades no reino dos mortos. Por isso durante uma terça parte do ano 
tudo seca e morre na natureza. E todos os anos, quando Core volta, 
tudo volta a brotar. Sua volta traz a primavera - sua mãe cobre a terra 
de flores. 
25 
 
Depois de um dia de muitos abraços e de contarem uma a outra tudo 
o que lhes tinha acontecido, na alegria de estarem novamente juntas, 
Deméter chamou os governantes da cidade e os instruiu na 
celebração de um ritual. Os Mistérios de Elêusis foram fundados para 
que a cada ano se repetisse aquele encontro entre Deméter e 
Perséfone. “Então, as duas deusas partiram para o Olimpo e aí estão 
juntas, na companhia dos deuses” (Seabra, p. 3). 
A partir de tal mito, analisarei Perséfone e seu processo de 
transformação pelo qual passou de adolescente a rainha do mundo 
subterrâneo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
PARTE V - ANÁLISE E DISCUSSÃO 
 
 
Nesta parte do trabalho farei uma intersecção entre os aspectos 
relevantes do mito “O Rapto de Perséfone” e os conteúdos teóricos levantados 
na pesquisa bibliográfica. 
Retomando a noção de arquétipo, observei que esta palavra está na 
própria raiz de algumas outras como arte, artífice, arquitetura, que trazem 
sempre a idéia de estrutura, sustentação ou de vigas invisíveis que mantêm 
uma grande construção. Se considerarmos os arquétipos como vigas invisíveis 
que sustentam a edificação de um indivíduo, estaremos bem próximos das 
mudanças desejadas por ele. 
Ao considerarmos morte como um arquétipo, todo homem terá em si 
uma imagem virtual do que seja morrer. Esta imagem manifesta-se de formas 
diferentes, dependendo da cultura em que vive ou viveu, depende de sua 
história de vida, do seu nível de desenvolvimento cognitivo e emocional e do 
seu dinamismo psíquico. Assim, o conceito que o indivíduo tem sobre a morte 
enquanto jovem poderá mudar quando for mais velho, ou o conceito que tem 
enquanto está sadio poderá mudar quando estiver doente, ou quando perder 
um ente querido. No entanto, a essência do que é a morte continuará a mesma 
e sempre passará um sentimento e idéia de perda, separação, finitude, 
passagem ou transformação e renascimento que podem ocorrer de uma forma 
ou de outra. Assim, o renascimento pode também ser vivenciado como 
significando o começo de uma nova vida. 
Este é o motivo da escolha do trabalho: ressaltar principalmente para a 
cultura ocidental, a possibilidade de olhar a morte (sendo ela física ou 
simbólica) como uma oportunidade de renascimento e transformação. Lembro 
que a morte simbólica aparece diariamente em nossas vidas através de etapas 
e processos que se findam dando espaço a novos relacionamentos, empregos 
ou a um jeito de ser. 
27 
 
“Podemos ser atraídos ao domínio tenebroso de Perséfone após um 
divórcio, uma mudança não desejada para algum lugar distante, um 
aborto, a perda de um emprego, algum trauma severo quando somos 
a única pessoa a sobreviver de um acidente de automóvel. Em tudo 
isso há sempre alguma espécie de morte psíquica, ainda que não 
física. A perda é, afinal, exatamente isso: o sentir arrancada de si a 
energia da imagem de alguma pessoa, lugar ou modo de vida amado, 
que é substituída por um enorme ermo, vazio emocional. (...) O 
desaparecimento de um objeto amado num grande, ermo e oco vazio 
é descrito em uma linguagem simbólica expressiva como descida ao 
mundo avernal. O que é reconfortante sobre o mito de Perséfone é 
haver uma figura guardiã que rege esses períodos terríveis de perda 
de energia e que nos protege, por assim dizer, até estarmos prontos 
para voltar à vida normal cotidiana. Metaforicamente falando, toda 
energia vital que perdemos durante a depressão, a dor ou o desgosto 
de qualquer espécie, “foi para o mundo avernal”. (...) Temos que 
respeitar esse processo em vez de tentar nos alegrar artificialmente” 
(Woolger e Woolger, 1997, p. 183). 
O mito escolhido, como foi levantado acima, também está diretamente 
ligado ao tema. Observei, no entanto, que cada autor que expõe um trabalho 
com o mito analisa “O Rapto de Perséfone” sob uma perspectiva. Muitos deles 
mostram a relevância do relacionamento entre mãe e filha, outros autores 
focam o lado feminino tanto de Perséfone como de Deméter, alguns optam por 
analisar a crueldade de Hades ou da própria rainha do Mundo Avernal e ainda 
há autores que revelam o funcionamento do Mundo Subterrâneo e a ligação 
que Perséfone faz entre os vivos e os mortos. Poucos são os autores que 
abordam o processo pelo qual a doce e frágil menina Core passa para se 
tornar a poderosa e corajosa mulher Perséfone. Este foi o motivo da escolha 
pelo mito. 
Os seres humanos passam por mudanças 
freqüentes que nunca se findam. É como se 
estivéssemos sempre dentro de um círculo girando 
eternamente ou mesmo dirigindo sob o símbolo do 
infinito que nunca se acaba. Isso faz lembrar o oroboro já citado anteriormente. 
De acordo com Perera (1985), o oroboro é a cobra mítica que engole a própria 
28 
 
cauda formando um círculo. É como se o bicho se sacrificasse para obter a 
percepção de seu próprio eu. A serpente guarda em si também outro paradoxo: 
por um lado ela exprime ameaça de morte com seu veneno, mas por outro 
suas escamas exprimem o aspecto de renovação na troca de pele. Assim, tal 
símbolo ilustra para a autora o processo de individuação. Acredito que é 
através das mortes e mudanças que enfrentamos constantemente que 
atingimos o autoconhecimento. 
Perséfone também precisou enfrentar literalmente a decida às trevas 
para atingir o processo de individuação. De acordo com Woolger e Woolger 
(1997), o Mundo Avernal simboliza o inconsciente coletivo que Perséfone teve 
que encarar através de suas sombras para descobrir seu verdadeiro eu. Ela 
teve que despir-se da persona de “filhinha” e enfrentar e integrar sua própria 
sombra descendo ao inferno. 
“Ao entrar na puberdade, a jovem tem que sofrer a perda da sua 
inocência infantil; esta é a “morte da donzela” interior que toda mulher 
vivencia em maior ou menor grau (e que toda mãe precisa ter em 
mente quando vê o mesmo acontecendo em sua filha). Esta fase é 
simbolizada pela flor” (Woolger e Woolger , 1997, p. 219). 
Ainda jovem, Core, como era chamada, aparentava sua ingenuidade 
infantil exatamente por estar mexendo naquelas flores. A ísis, por exemplo, é 
uma flor primaveril que, de acordo com Chevalier e Gheerbrant (2007), tem um 
papel purificador e protetor. A jovem foi então atraída por um narciso que, 
segundo os mesmos autores, 
“Foi o perfume do narciso que enfeitiçou Perséfone, quando Hades, 
seduzido por sua beleza, quis raptar a jovem e levá-la com ele para 
os Infernos: a flor cintilava com um brilho 
maravilhoso, e deixou assombrados todos os 
que então a viram, tanto Deuses imortais como 
homens mortais. Crescera de sua raiz uma 
haste com cem cabeças, e, com o perfume 
desta bola de flores, sorriu lá do alto todo o vasto Céu, e toda a terra, 
ea acre turgidez da vaga marinha. Admirada, a criança estendeu ao 
mesmo tempo os dois braços para agarrar o belo brinquedo: mas a 
terra de vastos caminhos abriu-se na planície de Nisa, e dali surgiu, 
29 
 
com seus cavalos imortais, o Senhor de tantos hóspedes, o Cronos, 
invocado sob tantos nomes. Ele a raptou e, apesar de sua 
resistência, arrastou-a aos prantos para o seu carro de ouro” (HYMH: 
Hino a Deméter apud Chevalier, 2007, p. 630). 
 Desta passagem percebemos que tal flor era uma armadilha para que 
Hades raptasse Core por quem havia se apaixonado. De acordo com os 
autores, o narciso compreende também uma ligação com os cultos infernais e 
é por este motivo que em alguns locais se plantam narcisos sobre túmulos. No 
entanto, eles simbolizam “o entorpecimento da morte, mas uma morte que não 
é talvez senão um sono” (p.629). Surgindo também na primavera, o narciso é 
encontrado apenas em locais úmidos. Isso o “liga aos símbolos das águas e 
dos ritmos sazonais e, por conseguinte, da fecundidade. Isso significa sua 
ambivalência: morte-sono-renascimento” (p.629). 
“No âmago do grande mito está Hades, que não é senão a Morte 
personificada. Dizer que a donzela Perséfone se casa com ele é o 
mesmo que dizer que a donzela morre. Trata-se de uma morte 
figurada, exigida pela crescente sabedoria da psique – um sacrifício 
que é também, como vimos, uma iniciação. Quer queira quer não, a 
mulher-Perséfone foi chamada a renunciar à sua inocência de 
donzela e a dedicar uma grande parcela de sua vida entrando e 
saindo do mundo avernal. Via de regra, ela fará isso como auxiliar ou 
guia dos outros. Por ter estado lá, ela se torna um facho de luz. O 
trabalho de Elisabeth Kübler-Ross com pacientes terminais é dessa 
natureza. Com o archote negro que a levou para baixo, Perséfone 
pode levar outros a se reunirem novamente com a vida, com 
Deméter, ou então ajudá-los a atravessar para “o lado de lá”” 
(Woolger e Woolger, 1997, p. 199). 
Tendo em Hades seu animus, Perséfone não é mais apenas aquela 
donzela dócil e emocional, mas se torna capaz de ser dona de si mesma e se 
transforma na Senhora dos Infernos. Ela passa então a ter autonomia, 
acompanha as almas e os indivíduos nos momentos de dor dando-lhes força e 
coragem. 
Assim, conforme colocado anteriormente, muitos autores crucificam 
Hades por ter sido o “monstro” que tirou Core de Deméter, separando uma 
30 
 
relação tão bela entre mãe e filha. No entanto, poucos são aqueles que 
percebem Hades como o agente de transformação de Perséfone. 
“O verdadeiro salvador não é Zeus, e sim, paradoxalmente, o irmão 
sombrio de Zeus, Hades. A sabedoria deste mito extraordinário é que 
a fonte de transformação de Perséfone vem de baixo, das 
profundezas abissais da alma, não dos confins mais elevados do 
espírito” (Woolger e Woolger, 1997, p.190). 
Foi Hades que permitiu que Core se tornasse uma mulher forte e 
independente e, inclusive, possibilitou que ela assumisse a posição de Rainha 
do Mundo Subterrâneo, governando os espíritos dos mortos ao lado dele. 
Hades representa o término do ciclo da vida e, portanto, o início de uma nova 
etapa. 
“Com isso vemos que o personagem não é ruim, ele pode representar 
o casamento, o nascimento, a morte de questões antigas. Um 
exemplo é a despedida de solteiro em que comemoramos a entrada 
num mundo de responsabilidades com o outro e, ao mesmo tempo, 
lamentamos a perda de um antigo estado civil. Outro exemplo pode 
ser o caso da depressão pós-parto, pois vemos a tristeza pela perda 
da antiga vida e a entrada em uma nova. Esses são acontecimentos 
inconscientes. Resumindo, Hades preside todos os finais e começos 
em nossas vidas. (Xavier, disponível em: www.redepsi.com.br). 
Ao olharmos de forma simbólica para Deméter, percebemos que ela 
representa a experiência materna, não só biológica, mas também sagrada e 
interior. É a mãe que nutre, protege, que tenta suprir as necessidades da cria e 
vê a paciência como uma virtude muito preciosa. Mas, lembrando que a 
abordagem junguiana trabalha com polaridades, o arquétipo da mãe também 
tem uma imagem negativa de superproteção, egoísta com os outros em 
relação aos filhos e sufocadora da própria cria, o que muitas vezes impede os 
filhos de crescerem e terem suas próprias vivências. O mesmo ocorreu com 
Deméter. Muito apegada à filha, acaba por perder-se no mundo sem a 
presença de Perséfone. Assim, passa nove dias à procura da filha sem se 
alimentar ou ao menos se lavar, causando também a devastação dos campos 
e a esterilidade das colheitas. Deméter fica este número específico de dias 
31 
 
incessantemente à procura de Perséfone já que, de acordo com Chevalier e 
Gheerbrant (2007), o número nove simboliza nos escritos homéricos um valor 
ritual coroando os esforços, o término de uma criação e sendo a 
medida das gestações. Outra interpretação ligada ao nove é que 
“cada mundo é simbolizado por um triângulo, um número ternário: o 
céu, a terra, os infernos. Nove é a totalidade dos três mundos” 
(p.642). É como se Deméter tivesse procurado sua filha por toda a 
parte, utilizando todos os esforços para achar a cria. 
Quando finalmente recebe sua filha de volta, Deméter suspeita que 
Perséfone havia comido romã. 
“A semente da romã teria tido, na Grécia antiga, um simbolismo 
ligado ao pecado. Perséfone conta a sua mãe de como foi seduzida a 
contragosto: ele me pôs na mão sorrateiramente um alimento doce e 
açucarado – uma semente de romã – e, embora eu não o quisesse, 
ele me forçou a comê-lo (Hino Homérico a Deméter). A semente de 
romã, que condena aos infernos, é um símbolo das doçuras 
maléficas. (...) No contexto do mito, a semente de romã poderia 
significar que Perséfone sucumbiu à sedução e merece, portanto, o 
castigo de passar um terço da sua vida nos infernos. Por outro lado, 
provando uma semente de romã, ela quebrou o jejum, que era a lei 
dos Infernos. Ali, quem quer que comesse qualquer coisa ficava 
impedido de voltar à terra dos vivos” (Chevalier e Gheerbrant, 2007, 
p. 787). 
De acordo com os mesmo autores, tal fruto é símbolo também de 
fecundidade maternal. E esta atitude de desconfiança da mãe mostra 
novamente o aspecto superprotetor de Deméter que zelava pela virgindade da 
filha. No retorno à mãe, Deméter percebe que a filha já não é uma donzela, 
mas sim uma mulher adulta e madura que agora conhece a sexualidade, a 
morte e a separação. De acordo com Woolger e Woolger (1997), 
“o retorno é um lembrete de que as duas deusas são na verdade 
uma, de que juntas elas representam a totalidade da Grande Mãe – a 
deusa capaz de separar-se de si mesma infindavelmente, de morrer 
infindavelmente e de renascer infindavelmente como mulher, como 
terra, como cosmos” (p. 203). 
32 
 
Assim, se Perséfone não tivesse sido raptada por Hades, talvez nunca 
pudesse passar pelo processo de transformação e fosse eternamente 
infantilizada pela mãe e dependente da mesma. 
Os mesmos autores colocam que Perséfone foi iniciada relutante nos 
domínios sombrios da psique. E sabemos que uma iniciação traumática ou 
mediante uma profunda crise na vida pode contribuir ao processo de 
individuação. O rapto pode então ser visto simbolicamente como uma lesão 
infligida ao ego que precisava ser provocado para abdicar de seu controle 
exclusivo sobre o psiquismo, estimulando-o ao reconhecimento do self. Então, 
o medo de Perséfone nada mais é do que a dificuldade de “se desvencilhar de 
sentimentos de desamparo e impotência, nem deixar para trás sua inocência, 
nem superar a raiva que sente inconscientemente” (p. 195). 
“O que Perséfone não logrou compreender é que a vítima dentro dela 
realmente precisa ser sacrificada e contrair núpcias com os poderes 
escuros. A palavra sacrifício não significa apenas renunciar ou 
abandonar, no sentido de perder algo, mas literalmente “tornar sacro” 
[sacrum facere]. Toda dor, raiva e mágoa precisamser oferecidas 
para forças que estão além de si” (Woolger e Woolger, 1997, p. 197). 
Assim, sentindo-se impotente diante da rapidez do processo pelo qual 
passava, Perséfone “descobre que precisa aprender a viver em dois mundos 
radicalmente diferentes: o mundo da vida e da luz representado pela mãe, 
Deméter; e o mundo das sombras e da morte, representado por Hades” (p. 
185). Para sobreviver a tal impasse, a rainha do mundo avernal teve que 
aprender a recolher-se para dentro de si e para os seus encontros psíquicos 
secretos, percebendo em tal descida traumática a chave para um vasto campo 
de descobertas interiores. “Como disse certa vez o velho alquimista Morienus, 
“O portal da paz é sobremaneira estreito, e ninguém poderá atravessá-lo senão 
pela agonia da sua própria alma”” (p. 197). 
Como rainha do Mundo dos Mortos, Perséfone é aquela que se 
movimenta entre sua luz e sua sombra, consciente e inconsciente, realidade e 
fantasia de modo a integrar tais aspectos de si mesma. “Seu maior desafio é 
unir o lado escuro e o lado luminoso da deusa em si mesma” (Woolger e 
33 
 
Woolger, p.197). Por este motivo seu mito serve como auxílio aos seres 
humanos para realizarem tal integração em suas próprias vidas, desvelando e 
compondo conteúdos da sombra na psique consciente. 
Após entender tais passagens do mito, fica mais fácil compreender 
porque alguns autores como Koltuv (1990) acreditam que Perséfone não só 
aceitou comer a romã, mas optou por comer tais sementes: por reconhecer que 
naquele momento com Hades no Mundo Avernal ela já era diferente. 
Embora Perséfone não fosse um dos doze deuses olímpicos, ela foi a 
figura central nos Mistérios de Elêusis, que por dois mil anos antes do 
Cristianismo foi a principal religião dos gregos. Nos Mistérios de Elêusis os 
gregos passavam pela experiência da renovação da vida depois da morte 
através da volta anual de Perséfone. 
O mito também é interpretado por muitos autores como o facilitador do 
surgimento das estações do ano. Quando Deméter encontra a filha é tempo de 
alegria e, portanto, a deusa do grão e da colheita prepara a terra, faz brotar 
sementes que possibilitam o nascer das flores e traz também o aparecimento 
do sol. Estas são as épocas de primavera e verão. Quando Perséfone volta ao 
encontro do marido tudo seca, simbolizando o outono. No entanto, é importante 
lembrar que, caso não houvesse o outono, não seria possível a vinda da 
primavera, já que é naquela época que as folhas das árvores caem para 
possibilitar que toda a energia seja guardada para futuramente gerar novos 
frutos e flores. 
“O nosso mito diz que Core acabou retornando para a mãe e que a 
terra tornou-se novamente fértil. Os seres humanos, e as mulheres 
em especial, têm uma grande lição a aprender com a suspensão do 
grande ciclo das estações. Esta interrupção ensina-lhes que a morte 
na forma de Hades, e Deméter, em sua ira e dor, têm que ser ambas 
propiciadas para que o grande ciclo prossiga” (Woolger e Woolger, 
1997, p. 225). 
Até alcançar o estágio de perfeita sintonia com o self, passamos, 
entretanto, por descidas e subidas cíclicas, recheadas de sofrimentos e 
34 
 
vitórias, como retrata o mito. Nos ciclos de descidas aos infernos nos 
conectamos inicialmente com medos, a depressão, os aspectos infantis ou 
sombrios, os conteúdos instintivos. Subindo à consciência, vamos aprendendo 
a integrar tais aspectos à personalidade total. As descidas seguintes já vão 
perdendo seu caráter traumático, permitindo assim o vislumbrar da sabedoria 
resultante do mergulho nas próprias feridas, favorecendo então a percepção 
dos componentes do psiquismo. 
É necessário passar por crises. E estas, segundo Bolen (1996), derivam 
do vocábulo grego krisis e significa decisão. Em chinês, o ideograma que se 
refere à palavra é composto por dois caracteres: perigo e oportunidade. Assim, 
“se não penetrarmos em fontes mais profundas da nossa psique, de 
onde podem brotar a criatividade, a geratividade e a significação. A 
alma exige que nos voltemos para dentro para nos individuarmos. 
Precisamos entrar em um processo interno, refletir, introspectar, 
meditar, manter os dilemas em nossa consciência, encontrar nossa 
própria clareza, penetrar naquilo que nos pode sustentar 
espiritualmente e agir com determinação quando necessário. Seja 
reprimindo o que é verdadeiro e sofrendo as conseqüências disso, ou 
agindo com base no que sabemos ser verdadeiro e descobrindo o 
preço disso, ou inconscientemente desencadeando acontecimentos 
que precipitam uma crise, a vida nos convoca ao trabalho interior. 
Essa é a fase de ajuste, transição ou crise, que exige que 
enfrentemos as mudanças e façamos escolhas” (Bolen, 1996, p. 171). 
 O mito “O rapto de Perséfone” é considerado então um agente 
encorajador e facilitador para o processo que todos passam a caminho da 
individuação. 
 
 
 
 
35 
 
PARTE VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Após analisar o tema, percebi como o assunto pode ser visto e discutido 
de formas tão diversificadas. Fui atraída a escrever a respeito exatamente por 
passar momentos de perdas na vida, mas não conseguir lidar com a dor. 
Queria entender como superar as mortes tanto as físicas como as simbólicas 
de uma maneira mais branda e talvez até mais racional. 
Foi muito difícil decidir sobre o que escreveria. Gostaria de acrescentar 
algo não apenas a mim, mas também para a sociedade. Deveria ser algo que 
todos os seres humanos vivenciassem freqüentemente, sendo ele de qualquer 
sexo, idade e raça, pois acreditava que desta maneira poderia, com as minhas 
reflexões, acrescentar mais ao mundo. 
Iniciei meu trabalho escrevendo sobre relacionamentos amorosos, 
depois pensei sobre o limite existente entre o amor e a amizade, mas então 
percebi que estava buscando algo muito mais profundo dentro do meu interior. 
Algo que de certa forma me incomodava tanto nos relacionamentos amorosos, 
quanto nas amizades: o sentimento de perda, separação e até mesmo a morte. 
Algo inevitável: as pessoas vão e vem, os relacionamentos também, mas por 
quê isso acontece? Por que às vezes temos que nos separar de quem amamos 
e por que às vezes somos separados destes? Como lidar com o medo da 
perda? E mais, como lidar com a dor? 
Comecei então a ler a respeito e cada vez mais me interessar pelo 
assunto. Havia muito material sobre a perda de entes queridos, os finais de 
relacionamentos amorosos, a luta contra uma doença, ou sobre a passagem da 
infância para a adolescência. No entanto, interessei-me mais pelos autores 
citados ao longo do meu trabalho que falavam da morte simbólica ou dos 
processos de perda de uma maneira geral. E, para mim, acreditava que seria 
mais fácil e mais belo entender tal processo através dos símbolos. Foi desta 
forma que cheguei à mitologia. 
36 
 
Como vimos anteriormente, os mitos podem ser muito importantes para 
todas as gerações como uma tentativa de explicar os mistérios da vida e torná-
los suportáveis, de maneira a podermos vivenciá-los, transpô-los e integrá-los. 
“O rapto de Perséfone” não deixa de ter a sua importância também, já que nos 
mostra que é possível aprendermos a deixar algo ir embora para então nos 
abrirmos para o novo. 
Através de Hades, Perséfone pôde deixar sua persona de jovem sem 
responsabilidades para então assumir o papel de adulta, esposa e rainha do 
Mundo Avernal. Como ocorre comumente nos processos de perda, Perséfone 
também passou por um momento de desorientação devido ao choque da 
separação com a mãe e da percepção do final do ciclo de vida infantil. No 
entanto, após se permitir vivenciar tal dor e encarando a própria sombra, a 
personagem acaba por se tornar uma mulher forte, corajosa e madura. 
O mesmo ocorre com os seres humanos. Após uma morte, passamos 
por todo um processo de luto até entendermos emocionalmente a situação. 
Isso não quer dizer deixar de sentir saudades da pessoaquerida que se foi ou 
do momento da vida que se passou, mas apenas entender e aceitar a situação 
na tentativa de enxergar a perda como um processo natural da vida e como um 
movimento interno de crescimento e transformação. 
Ao realizar o trabalho, observei também que a Psicologia Analítica está 
percebendo um movimento de evolução do ego que vai do dinamismo 
patriarcal à alteridade. Assim, há uma tendência à integração harmônica entre 
os princípios feminino e masculino que antes eram vistos como opostos e não 
complementares. Nesta nova era, tal mudança é importante para os seres 
humanos que passam por momentos de rápidas transformações, já que, 
possivelmente, terão maior capacidade de elaborar o novo com maior rapidez 
e, conseqüentemente, de maneira menos dolorida. 
Outra relevância do trabalho está na atuação clínica, no sentido 
profilático e terapêutico. Os seres humanos, principalmente no ocidente, têm 
uma dificuldade muito grande em aceitar os processos de perda, dor e 
transformação. No entanto, após fazer tal reflexão, percebi como os 
37 
 
profissionais de Psicologia podem promover saúde evitando que possíveis 
dificuldades ocorram com pacientes que passam por tal processo de morte e 
transformação. 
Ressalto a importância de que profissionais que atuam nesta área se 
revejam em relação aos seus processos de perda, luto e renascimento. 
Para um aprofundamento sobre o tema, sugiro a leitura dos autores 
referidos na bibliografia a seguir. Outros trabalhos interessantes a serem 
consultados são sob o ponto de vista masculino, ou sobre a própria 
feminilidade relacionada ao tema. Para simbolizar o processo de superação 
também se pode consultar o mito “O vôo da Fênix”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
REFERÊNCIAS 
 
BOLEN, Jean Shinoda. O caminho de Avalon: os mistérios femininos e a 
busca do Santo Graal. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 1996 
BRANCO, Cristina Bonilha. A morte como transformação. São Paulo, 2002, 
49p. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Faculdade de Psicologia, 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
BRANCO, Margarida. O ciclo da morte – vida. Disponível em: 
http://refletindo.weblog.com.pt/arquivo/2006/12/o_ciclo_da_mort.html 
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Editora Cultrix – 
Pensamento, 1988 
CECCON, Fernanda. Deixe ir. Revista Vida Simples , São Paulo, Edição 53, p. 
26-33, maio 2007 
CHEVALIER, Jean e GHEERBANT, Alain. Dicionário de símbolos. Rio de 
Janeiro: José Olympio Editora, 2007 
ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com lobos: mitos e 
histórias do arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1994 
FAGUNDES, Eda. No fim do túnel... Quando parece que tudo está perd ido, 
sempre surge um novo caminho – Disponível em: 
www.bolsademulher.com/amor/materia/no_fim_do_tunel/11649/1 
GREENE, Liz e SHARMAN-BURKE, Juliet. Uma viagem através dos mitos: o 
significado dos mitos como um guia para a vida. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor, 2001 
HARDING, Mary Esther. Os mistérios da mulher. São Paulo: Ed. Paulinas, 
1985 (p. 270 – 281) 
39 
 
JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Editora Nova 
Fronteira, 1964 
________________. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: 
Editora Vozes, 2000 
________________. Psicologia do Inconsciente. Petrópolis: Editora Vozes, 
14ª Ed., 2002 
________________. O eu e o inconsciente. Petrópolis: Editora Vozes, 2004 
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes 
terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos 
próprios parentes. São Paulo: Martins Fontes, 2000 
KOLTUV, Barbara Black. A tecelã: ensaio sobre a psicologia feminina 
extraídos dos diários de uma analista junguiana. São Paulo: Ed. Cultrix, 
1990 
MCLEAN, Adam. A deusa tríplice: em busca do feminino arquetípico. São 
Paulo: Cultrix, 1989 
PAIVA, Luiz Miller e PAIVA, Alina M. A. A presença do mito no mundo 
contemporâneo. Disponível em: http://clinicamillerdepaiva.com 
PENNA, Eloísa. Um estudo sobre o método de investigação da psique na 
obra de C. G. Jung. São Paulo, 2003, 222p. Dissertação de Mestrado – 
Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
PERERA, Sylvia Brinton. Caminho para a iniciação feminina. São Paulo: Ed. 
Paulinas, 1985 
SALETTE, Maria e RUGGERI, Wilma – Da lagarta à borboleta: um caminho 
para a transformação interior. Campinas: Editora Verus, 2004 
SCANAVACCA, Luiza Alvarenga. Mulheres do divino: um olhar junguiano 
sobre o ritual do divino Espírito Santo. São Paulo, 2007, 248p. Monografia 
40 
 
(Trabalho de Conclusão de Curso) – Faculdade de Psicologia, Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo 
SEABRA, Zelita. Amor entre mãe e filha: Deméter e Perséfone. Disponível 
em: http://www.sbpa-rj.org.br/maefilha.htm 
STEIN, Murray – Jung – O mapa da alma: uma introdução. São Paulo: 
Editora Pensamento-Cultrix, 1998 
TOGNINI, Michele Lopez. Dor crônica e a vivência do feminino: 
redescobrindo-se através da dança do ventre. São Paulo, 2007, 256p. 
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Faculdade de Psicologia, 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
URBAN, Paulo. O simbolismo da serpente. Disponível em: 
http://www.terra.com.br/planetanaweb/341/reconectando/civilizacoesetribos/a_s
imbologia_da_serpente_01.htm 
VILELA, Nereida Fontes. Dor: Um Instrumento de Transformação e de Cura. 
Revista Sophia , sem cidade, edição Jul-Set/2005, pág. 9 
WHITMONT, Edward C. A busca do símbolo: conceitos básicos da 
Psicologia Analítica. São Paulo: Editora Cultrix, 2002 
_____________________. O retorno da deusa. São Paulo: Summus Editoral, 
1991 (p. 203 - 235) 
WOOLGER, J. B. e WOOLGER, R. J. A deusa interior. São Paulo: Editora 
Cultrix, 1997 
XAVIER, Felipe Salles. A divisão das estações: um olhar sobre o mito. 
Disponível em: www.redepsi.com.br

Continue navegando