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A BUSCA DO AMOR IDEALIZADO NA VISÂO JUNGUIANA (I)

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL - USCS 
 
 
 
 
 
DEISE GUELERE 
 
 
 
 
 
A BUSCA DO AMOR IDEALIZADO NA VISÃO JUNGUIANA 
 
 
 
 
 
 
Profa. Ma. Paluana Luquiari 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo – SP 
2018
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL - USCS 
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ANALÍTICA: ABORDAGEM 
JUNGUIANA 
 
 
 
 
DEISE GUELERE 
 
 
A BUSCA DO AMOR IDEALIZADO NA VISÃO JUNGUIANA 
 
 
 
Trabalho de Conclusão apresentado ao 
curso de Pós-Graduação em Psicologia 
Analítica: abordagem Junguiana, 
oferecido pela Universidade Municipal 
de São Caetano do Sul – USCS, como 
requisito parcial para obtenção do grau 
de especialista, sob a orientação da 
Profa. Paluana Luquiari, Ma. 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo – SP 
2018 
Termo de Aprovação 
 
 
Aluna: Deise Guelere 
Título: A busca do amor Idealizado na visão Junguiana 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de 
Pós-Graduação em Psicologia Analítica: 
abordagem Junguiana, oferecido pela 
Universidade Municipal de São Caetano 
do Sul – USCS, como requisito parcial 
para obtenção do grau de especialista, 
sob a orientação da Profa. Paluana 
Luquiari, Ma. 
 
 
São Paulo, ______de ________________ de 2018. 
 
 
Banca examinadora: 
 
_________________________________________ 
Ma. Paluana Luquiari 
Orientadora - USCS 
 
 
_________________________________________ 
Prof.ª Eugenia Cordeiro Curvêlo 
Coordenadora – Examinadora Interna - USCS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico ao meu marido e companheiro, o 
meu Eros, Valter Cesar de Farias que 
sempre me apoia e incentiva aos meus 
filhos Bruno e Luana pela compreensão e 
torcida, e aos meus pais por todo o apoio 
em mais uma jornada. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 À minha querida amiga Carmen Silvia Amaral Ramos, por todo suporte e 
contribuição, ouvindo sempre atentamente minhas ideias e por compartilhar comigo 
cada fase desse trabalho. A minha amiga-irmã Luciane que sempre dividiu comigo as 
alegrias e aflições nesta fase da minha vida. Sem vocês esta caminhada não teria a 
menor graça. E a todos os meus mestres, em especial Professora Eugenia Curvêlo, 
Professora e Orientadora Paluana Luquiari e colegas de formação que contribuíram 
de forma direta nessa vitória. Muito obrigada a todos vocês. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Soneto da fidelidade 
 
“De tudo, ao meu amor serei atento antes 
E com tal zelo, e sempre, e tanto 
Que mesmo em face do maior encanto 
Dele se encante mais meu pensamento 
 
Quero vivê-lo em cada vão momento 
E em seu louvor hei de espalhar meu canto 
E rir meu riso e derramar meu pranto 
Ao seu pesar ou seu contentamento 
 
E assim quando mais tarde me procure 
Quem sabe a morte, angústia de quem 
vive 
Quem sabe a solidão, fim de quem ama 
 
Eu possa lhe dizer do amor (que tive): 
Que não seja imortal, posto que é chama 
Mas que seja infinito enquanto dure”. 
 
(Vinícius de Moraes-1946)
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7 
1.1 Problematização ................................................................................................. 8 
1.2 Justificativa ......................................................................................................... 9 
1.3 Objetivos ........................................................................................................... 10 
1.4 Metodologia ...................................................................................................... 10 
 
2 REVISÃO TEÓRICA ......................................................................................... 12 
 
3 TEMA ................................................................................................................ 27 
 
4 DISCUSSÃO..................................................................................................... 36 
 
5 CONCLUSÃO ................................................................................................... 40 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41 
 
ANEXO A – Carta analisada.................................................................................... 44 
 
 
 
 
7 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
No dia a dia de uma vivência clínica observa-se cada vez mais a angústia das 
pessoas pelo encontro com o amor verdadeiro, romântico e idealizado. A expectativa 
pelo encontro desse amor ocasiona, além da ansiedade, vivências de solidão e de 
insatisfação constante. 
Mas será que existe o amor verdadeiro, aquele que nos faz sonhar e acordar 
todos os dias ao lado da pessoa amada? Será que amamos apenas uma vez na vida 
e esse é o amor verdadeiro, romântico e idealizado? Difícil responder... mas, nessa 
busca constante pelo amor que afaga, que sufoca, que nos faz rir e chorar ao mesmo 
tempo, existe também a busca da felicidade, do “estar junto” e do “ficar junto”. 
No entanto, a busca por esse amor que todos querem, nos leva a pensar o 
quanto essa procura pelo outro e a projeção desse amor idealizado e romântico nos 
distancia do encontro com o si mesmo e do nosso processo de individuação. 
Será que existe o amor a exemplo dos mitos de “Romeu e Julieta” e de “Eros e 
Psique”, embora diferentes, mas, um amor que ultrapassou as barreiras? 
Se existe mesmo o amor verdadeiro, e devemos acreditar que sim, ao mesmo 
tempo deixamos muitas vezes de ser quem somos, para nos dedicar àquele do qual 
esperamos tudo, e passamos a nos dedicar somente a ele. 
Para entender o que leva um ser humano a querer e buscar um amor igual ao 
que se vê no cinema, nas peças de teatro, na televisão, é preciso ir muito mais além 
do que simplesmente ler, estudar e entender os ensinamentos da psicologia analítica, 
base deste trabalho. 
É preciso viver ou ter vivido esse amor, a exemplo de Eros e Psiquê e Romeu 
e Julieta, amor esse, que segundo a história representou, sem dúvida, o amor sem 
fronteiras eterno e, porque não dizer, “o amor verdadeiro ou idealizado”? 
Difícil dizer. No entanto, o resultado apontou para a responsabilidade de 
descobrirmos e entendermos a essência masculina e feminina que há dentro de cada 
um de nós para que, dessa forma, possamos nos estruturar enquanto um ser único e, 
posteriormente partir em direção ao outro, sem esgotar obviamente a continuidade 
dessas descobertas. É o que Carl Jung chama de individuação. 
 
 
8 
 
1.1 Problematização 
 
Para Carl. G. Jung, idealizador da Psicologia Analítica, só podemos nos 
desenvolver plenamente, quando integramos nossa individualidade e nossa 
capacidade de nos relacionar. Esse processo é chamado de “Individuação” que 
estimula o indivíduo a criar condições para que cada um desperte o melhor de si e do 
outro, o tempo todo, fazendo-o sair do isolamento e empreender uma convivência 
mais ampla e coletiva, por estar mais próximo, conscientemente da totalidade, mas 
ainda mantendo sua individualidade. A individuação consiste em aproximar o mundo 
do indivíduo e não excluí-lo do mesmo. 
 
A individuação, em geral, é o processo de formação e particularização do ser 
individual e, em especial, é o desenvolvimento do indivíduo psicológico como 
ser distinto do conjunto, da psicologia coletiva. É, portanto, um processo de 
diferenciação que objetiva o desenvolvimento da personalidade individual. 
(…). Uma vez que o indivíduo não é um ser único, mas pressupõe também 
um relacionamento coletivo para sua existência, também o processo de 
individuação não leva ao isolamento, mas a um relacionamento coletivo mais 
intenso e mais abrangente. (JUNG, 2013, p. 468). 
 
Inclui-se nesse processo o inconsciente pessoal, repositório de nossos 
conteúdos reprimidos, os complexos, e o inconsciente coletivo, os arquétipos, nossa 
herançauniversal, nos convidando ao autoconhecimento. Ao entrarmos em contato 
com nossos conteúdos inconscientes obtemos uma compreensão maior de nossa 
integridade e criamos um relacionamento saudável consigo, com o outro e com a 
sociedade. Ainda sob essa ótica, o processo de individuação se refere a dois 
aspectos: a característica bipolar do ser, cada homem traz dentro de si seu aspecto 
feminino, assim como a mulher traz também em seu interior psicológico o seu aspecto 
masculino e outro aspecto da individualidade quanto ao consciente e inconsciente. 
Enquanto não conhecermos nossa estrutura inconsciente seremos seres divididos, 
onde a potencialidade de nosso Eu Interior, continua latente sem que possamos 
alcançá-la. 
Nesse aspecto, os arquétipos anima e animus representam os conteúdos de 
idealizações inconscientes, sendo modelos de perfeição considerados ideais para o 
indivíduo em si que foram direcionados pelo histórico de desenvolvimento de cada 
um. Então, é necessário que o ser humano tenha consciência de suas projeções e 
alcançar a realidade presente na outra pessoa procurando reconhecer todas as suas 
9 
 
idealizações e também as idealizações do outro. Para Jung, é essencial que todas as 
nossas expectativas em relação aos outros sejam apenas idealizações produzidas 
pelo inconsciente para essa tomada de consciência. 
No arquétipo do amor romântico, duas almas se unem, dois pares, um 
masculino e outro feminino, para se completarem na magnitude do amor que de dois 
se faz um só. 
Frente à ansiedade na busca pelo encontro desse amor idealizado, as 
expectativas com relação à complementação de nós pelo outro, muitas vezes tornam-
se algo intangível, afastando-nos da consciência da nossa real projeção interna, e, 
consequentemente, nos distanciando do processo de individuação. 
Então, o quanto essa busca por um amor idealizado, realmente nos afasta do 
encontro com o si mesmo? Nesse sentido, vale lembrar as palavras de Fernando 
Pessoa, no “Livro do Desassossego” (1982, p. 338) ao destacar: “Nunca amamos 
ninguém. Amamos, tão somente, a ideia que fazemos de alguém. É um conceito 
nosso- em suma, é a nós mesmos que amamos!”. 
 
 
1.2 Justificativa 
 
No século 17, o francês La Rochefoucauld, escreveu: “Há pessoas que nunca 
teriam amado se não tivessem ouvido falar de amor”. Em outras palavras, o amor é 
uma só palavra que representará sempre o “verdadeiro” amor. 
O amor e as várias formas de amar, ainda é um assunto atual e o “amor 
romântico” está presente na busca pelo parceiro ideal nos relacionamentos pós-
modernos, influenciando no estado emocional, profissional e social do indivíduo. Na 
cultura ocidental contemporânea, a expressão amor romântico refere-se à maioria das 
formas de atração entre os gêneros, geralmente homens e mulheres. 
O que motivou a realização deste trabalho foi a possibilidade de analisar o que 
leva o ser humano a procurar incansavelmente pelo seu par perfeito, através de um 
olhar romanceado gerando a expectativa de amar e ser amado incondicionalmente, a 
exemplo do mito do amor romântico, baseado nas histórias de Romeu e Julieta e de 
Eros e Psiquê. 
Ao mesmo tempo em que o ser humano busca o amor verdadeiro e luta para 
encontra-lo, deve estar preparado para perdê-lo, a exemplo de Romeu e Julieta e Eros 
10 
 
e Psiquê. O que fazer diante da perda? Esquecer o amor conquistado, esperado ou 
simplesmente renunciar à vida? 
Para Jung (2013, p. 406): 
 
Justifica-se trazer para o centro das discussões o conceito de amor romântico 
e o quanto a busca pelo par perfeito pode gerar frustações e distanciar o 
indivíduo do encontro com o si mesmo. Além disso, pode vir a impactar 
diretamente na maneira como as pessoas se relacionam e propiciar uma 
reflexão a respeito da importância de se estabelecer com o outro ligações e 
vínculos realmente significativos para o processo de síntese de personalidade 
também nomeado por Jung de individuação, o “tornar-se único” ou 
desenvolvimento da individualidade. 
 
Considerando que a produção científica tem como objetivo apropriar-se da 
realidade para melhor analisá-la e, posteriormente, produzir transformações, a 
discussão sobre a busca do amor idealizado e o distanciamento ou não do encontro 
com o si mesmo pode ser o início de um processo de transformação que começa na 
academia e estende seus reflexos para a realidade social. Para os estudos da 
Psicologia e a área de conhecimento que envolve a Psicologia Analítica, pesquisas e 
trabalhos sobre o processo de individuação são cada vez mais necessários e 
pertinentes. 
 
 
1.3 Objetivos 
 
O objetivo geral é refletir sobre a busca pelo amor ideal, procurando 
compreender se ele nos aproxima ou nos distancia do encontro com o si mesmo. 
Como objetivo específico, temos a análise de uma carta romanceada, 
selecionada entre milhares que são endereçadas ao Club Di Giullieta. A carta, escrita 
por uma jovem, procura o amor verdadeiro e, neste sentido, entende-se, sob a ótica 
da Psicologia Junguiana, uma relação com o mito de Eros e Psiquê e Romeu e Julieta. 
 
 
1.4 Metodologia 
 
O modelo de pesquisa utilizado neste trabalho teórico foi o levantamento 
bibliográfico, dentro da abordagem Junguiana, investigação de seus conceitos e 
11 
 
análise crítica de uma carta entre uma amostra de 50 das que são direcionadas ao 
Club Di Giulietta que, segundo dados divulgados no site do Club, recebe 50.000 cartas 
por ano de todas as partes do mundo. A escolha pela carta em questão, deve-se ao 
fato de que, conceitos da teoria analisada se fazem presentes no conteúdo. Para 
tanto, serão adotados estudos da Psicologia Analítica e seus conceitos, com base em 
autores como o próprio Carl G. Jung, em Obras Completas, Memórias, Sonhos e 
Reflexões e outros teóricos junguianos como, Nise da Silveira, Marie-Louise Von 
Franz, John Sanford, e Murray Stein, entre outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
2 REVISÃO TEÓRICA 
 
 
A fundamentação teórica deste estudo tem como base a Psicologia Analítica, 
desenvolvida por Carl Gustav Jung. 
Carl Jung nasceu em 26 de julho de 1875, no vilarejo de Kesswil, Suíça. Filho 
do pastor protestante Johann Paul Achiles Jung e de Emille Preiswerk, recebeu o 
nome Karl Gustav II Jung, em homenagem ao seu ilustre avô paterno, um bem-
sucedido cirurgião-professor, Carl Gustav Jung (avô) por quem, em seu livro 
“Memórias, Sonhos e Reflexões” (2006, p. 23), Jung deixa clara sua admiração. A 
maneira de escrever o primeiro nome foi modernizada, uma vez que os pais haviam 
observado o velho costume suíço de indicar que ele era o segundo a receber o nome 
escrevendo o número romano antes do sobrenome da família. (BAIR, 2006, p. 7). 
 Jung tinha restrições ao pai, pastor protestante, a quem considerava com certa 
tristeza, pois via nele um homem estagnado pelas crenças religiosas. Tinha pela mãe 
muito mais apreço, porém, ainda menino, descobriu nela duas personalidades: uma 
inofensiva e humana, e outra estranha e autoritária, embora se mostrasse boa e 
extremamente simpática. Destaca-se também uma personalidade inconsciente de 
aspecto sombrio. 
Na infância, Jung foi uma criança tímida que vivenciou em suas experiências 
multiplicidade de símbolos. Cresceu em uma casa com enorme biblioteca, onde leu 
vários livros diferentes, tornando-se assim, um estudioso das mais diversas áreas, 
como as religiões orientais, a alquimia, a parapsicologia e a mitologia, entre outras. 
Dessa forma, sua análise sobre a natureza humana leva em consideração todos esses 
assuntos e faz com que ele desperte interesse e seja estudado por várias áreas além 
da psicologia. 
 No ano de 1900, aos 25 anos concluiu o curso de Medicina e ocupou um cargo 
de segundo assistente no hospital de Zurique, que vivia na ocasião um período de 
intensa atividade científica, sob a direção de um dos maiores psiquiatras, Dr. EugenBleuler. Nesse mesmo ano, entrou em contato com a obra “A interpretação dos 
sonhos”, de Freud. Em 1902, Jung passou a primeiro assistente e defendeu sua tese 
de doutoramento; casou-se com Emma Rauschenbach em 1903, com quem teve 
cinco filhos e em 1905 assumiu o posto imediatamente abaixo de Bleuler. (SILVEIRA, 
1981, p. 13). 
13 
 
Em fevereiro de 1907, Freud e Jung se encontraram e conversaram durante 
treze horas seguidas. Jung considerou este encontro essencial, e Freud, como o 
primeiro homem de real importância em sua vida. Esse primeiro contato deu início às 
sucessivas correspondências e a uma intensa colaboração científica e relação 
pessoal, de 1907 a 1912. 
Freud referia-se a Jung como seu sucessor, porém Jung, que já percebia 
diferenças importantes entre o seu pensamento e as formulações de Freud, sobretudo 
referentes a conceitos básicos, religião e interpretação dos sonhos, mas 
principalmente em relação à teoria da libido, sentia-se desconfortável com tal 
referência ao seu nome. Com o tempo, essas divergências se aprofundaram e 
culminaram na ruptura desse relacionamento. 
Em seu livro “Memórias, sonhos e reflexões”, Jung escreve sobre uma 
lembrança de Freud lhe dizendo: 
 
Meu caro Jung, prometa-me nunca abandonar a teoria sexual. É o que 
importa, essencialmente! Olhe, devemos fazer dela um dogma, um baluarte 
inabalável.” Ele me dizia isso cheio de ardor, como um pai que diz ao filho: 
“Prometa-me uma coisa, meu caro filho: vá todos os domingos à Igreja!”. Um 
tanto espantado, perguntei-lhe: “Um baluarte – contra o quê?” Ele respondeu-
me: “Contra a onda de lodo negro do... “Aqui ele hesitou um momento e então 
acrescentou:” ... do ocultismo! O que me alarmou em primeiro lugar foi o 
“baluarte” e o “dogma”; um dogma, isto é, uma profissão de fé indiscutível 
surge apenas quando se pretende esmagar uma dúvida, de uma vez por 
todas. Não se trata mais de julgamento científico, mas revela somente uma 
vontade de poder pessoal. Esse choque feriu o cerne de nossa amizade. Eu 
sabia que jamais poderia concordar com essa posição. (JUNG, 2013, p. 158). 
 
Jung então renunciou à Associação Internacional de Psicanálise e se afastou 
da Universidade de Zurique, onde ensinara por oito anos como livre docente. Depois 
do texto de 1911, “Metamorfose e Símbolo da Libido,” ficou impossibilitado de ler 
qualquer obra científica e escreveu relativamente pouco, somente alguns artigos em 
inglês, até a publicação de “Tipos psicológicos”, em 1921. Esse período foi 
extremamente difícil para Jung, que teve de reunir forças para seguir a sua jornada, 
relembrando as imagens da infância e se dedicando ao seu passatempo: construir 
maquetes em pedras, com a finalidade de reorganizar seu eu e reestruturar os seus 
objetivos. 
No período entre 1914 até a sua morte, em seis de junho de 1961, Jung 
dedicou-se às suas teorias, principalmente à psicologia analítica, em que analisou 
diversos povos e culturas. Em 1933, Jung retornou à atividade docente na Escola 
14 
 
Politécnica de Zurique. Mais tarde foi nomeado professor titular e em 1944 passou a 
professor efetivo de medicina psicológica, criada em sua homenagem, porém, nesse 
mesmo ano fraturou o pé e logo depois sofreu um enfarte. Devido à debilitação física, 
aposentou-se em 1945. 
Ao longo de sua vida, recebeu homenagens e títulos, como presidente da 
Sociedade Médica Geral de Psicoterapia (1933) e doutor Honoris Causa da 
Universidade de Genebra (1945). Além disso, fundou, em 1948, o Instituto Carl Gustav 
Jung em Zurique. O desenvolvimento das pesquisas de Jung o fez estudar as 
relações do homem com o seu meio exterior, nas relações com o outro, e as relações 
consigo mesmo. 
De seus estudos e experiências, Jung extraiu um mapa da alma humana, que 
descreve a psique em todas as suas dimensões, e também procura explicar sua 
dinâmica interna. Porém, Jung foi sempre cuidadoso e respeitoso do mistério supremo 
da psique. Sua teoria pode ser lida como um mapa à alma, mas é o mapa de um 
mistério que não pode, em última instância, ser captado em termos e categorias 
racionais. É o mapa de uma coisa viva, palpitante, mercurial – a psique. (STEIN, 2006, 
p. 15). 
Jung desenvolve então a Psicologia Analítica, também conhecida como 
Psicologia Junguiana que denomina como um todo a personalidade de psique. Seu 
significado denota a personificação da “alma” ou “espírito” e abarca os pensamentos, 
sentimentos e comportamentos tanto conscientes quanto inconscientes. “Funciona 
como um guia que regula e adapta o indivíduo ao ambiente social e físico.” (HALL & 
NORDBY, 2014, p. 25). 
Segundo Jung, o conceito de psique sustenta a ideia primordial de que uma 
pessoa é um todo unificado e não uma reunião de partes, rejeitando assim, uma 
psique fragmentária. O ser humano não lutaria para se tornar uma totalidade, pois ele 
já nasce como um todo e durante sua existência lhe cabe desenvolver esse todo 
essencial até chegar ao mais alto grau possível de integração, diferenciação e 
consonância. 
Jung mergulhou na busca por desvendar a psique humana. A seguir, uma breve 
descrição dos principais conceitos desenvolvidos por ele e que auxiliaram no 
entendimento deste trabalho. 
 
1. Psique 
15 
 
Segundo Jung, (apud Hall & Nordby, 2014, p. 25), a psique abrange 
pensamentos, sentimentos, comportamentos conscientes e inconscientes. Funciona 
como guia que regula e adapta o indivíduo ao ambiente social e físico. A pessoa é um 
todo – não luta para ser, já é, nasce como um todo. Durante a existência, esse todo 
deve ser desenvolvido, resultando em coerência, diferenciação e harmonia; e evitando 
fracionamento em sistemas separados, autônomos e conflitantes. 
 
Figura 1 – O modelo junguiano da psique 
 
Fonte: FISICAPSICOLOGIA, 2018. 
 
 
 
2. Individuação 
O processo de individuação ocorre quando uma pessoa se torna ela mesma, 
íntegra e diferente da coletividade, sem se isolar, e desenvolve a personalidade no 
seu sentido único e singular. 
16 
 
Ao nos desenvolver naquilo que somos únicos, nos deparamos com a 
totalidade, ou o Self, pois para o indivíduo ser íntegro é necessário abranger sua 
totalidade do ser. “O processo que conduz a ela [a experiência do Self] foi por Jung 
denominado ‘processo de individuação’”, (JUNG, C.G. 2016, p. 117), ou, em outras 
palavras, o conceito de si-mesmo, que oferecia a melhor explicação possível para um 
dos mistérios centrais da psique – sua criatividade aparentemente milagrosa, sua 
dinâmica centralizadora e suas estruturas profundas de ordem e coesão. Jung, (apud 
Stein, 2006, p. 152). 
Para Jung (apud von-Franz, 1992, p. 112): 
 
A semente de um pinheiro da montanha contém em si a futura árvore em 
forma latente; mas cada semente cai a seu tempo num lugar próprio; sob o 
efeito de fatores diversos, como a qualidade do solo ou as rochas, o grau de 
declive e de exposição ao sol e ao vento. A totalidade latente do pinheiro na 
semente reage a essas circunstâncias desviando-se das pedras e inclinando-
se para o sol, o que acaba moldando o crescimento da árvore. Assim um 
pinheiro individual lentamente toma corpo, constituindo a realização da sua 
totalidade, sua manifestação no mundo da realidade. Na falta da árvore viva, 
a imagem do pinheiro é apenas uma possibilidade, uma ideia abstrata.... A 
realização dessa singularidade no indivíduo é o objetivo do processo de 
individuação. 
 
 
Jung considera que a individuação consiste, objetivamente, integrar o 
inconsciente na consciência. É um processo de diferenciação cujo objetivo é o 
desenvolvimento da personalidade individual. Uma vez que o indivíduo não é um ser 
único, mas pressupõe também relações coletivas, o processo de individuação não 
leva ao isolamento, mas a um relacionamento coletivo mais intenso e mais 
abrangente. (JUNG, 2013, p. 467-468). Sendo assim, o Self representa o ser em sua 
totalidade e também o centro organizador, autorreguladore integrador. 
No processo de desenvolvimento da consciência, que envolve a totalidade, o 
ego reconhece que é o centro da consciência, mas não o centro da personalidade 
como um todo. Muda-se o foco da consciência do ego para o Self. Quando isso [o 
processo de individuação] ocorre positivamente, em vez de uma separação, produz 
uma união com o inconsciente coletivo, e significa uma expansão da consciência, 
juntamente com uma diminuição da intensidade do complexo do ego. Quando isso 
acontece, o ego retira-se em favor do inconsciente coletivo. Atingir esse ponto em que 
a realidade externa e a realidade interna (a terra e o céu) se tornam uma só é a meta 
da individuação. (vON FRANZ, 1992, p. 153) 
17 
 
Assim, tornar-se único e integro é o próprio processo de amadurecimento que 
envolve o fortalecimento do ego, o reconhecimento do Self e sua realização. “Talvez 
a individuação seja, antes de qualquer coisa, assumir a sua própria condição humana 
tal qual se apresenta, e vivê-la com todas as suas implicações e riquezas, sempre se 
referindo ao Centro que é ao mesmo tempo o objetivo e a própria vida.” 
(BONAVENTURE in von FRANZ, 1985, p. 15). 
 
3. Inconsciente 
Segundo Jung, o inconsciente é exclusivamente um conceito psicológico e não 
filosófico, no sentido metafísico. É um conceito-limite psicológico que abrange todos 
os conteúdos ou processos psíquicos que não são conscientes, isto é, que não estão 
relacionados com o eu de modo perceptível. (JUNG, 2013, p. 465). 
 
Tudo o que conhecemos a respeito do inconsciente foi-nos transmitido pelo 
próprio consciente. A psique inconsciente, cuja natureza é completamente 
desconhecida, sempre se exprime através de elementos conscientes e em 
termos de consciência, sendo esse o único elemento fornecedor de dados 
para a nossa ação (JUNG, 1972, p. 22). 
 
Os conteúdos do inconsciente podem ser originários do Inconsciente pessoal e 
do Inconsciente Coletivo. 
 
3.1. Inconsciente Pessoal 
O inconsciente pessoal, para Jung (apud Silveira 1981, p. 72), refere-se às 
camadas mais superficiais do inconsciente, cujas fronteiras com o consciente são 
bastante imprecisas. Estão aí incluídas as percepções e impressões subliminares 
dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente. 
Para Jung (2013, p. 466), o inconsciente pessoal engloba todas as aquisições 
da existência pessoal: o esquecido, o reprimido, o subliminarmente percebido, 
pensado e sentido. Esses diversos elementos, embora não estejam em conexão com 
o ego, nem por isso deixam de ter atuação e de influenciar os processos conscientes, 
podendo provocar distúrbios tanto de natureza psíquica quanto de natureza somática. 
 
3.2. Inconsciente Coletivo 
Para Jung (1972, p. 65), o inconsciente coletivo é a camada mais profunda que 
conseguimos atingir na mente do inconsciente, é aquela em que o homem perde sua 
18 
 
individualidade particular, mas, sua mente é onde sua mente se alarga mergulhando 
na mente da humanidade - não a consciência - mas o inconsciente, onde somos todos 
iguais. 
O inconsciente coletivo funciona, na interpretação psicológica, como o 
denominador comum que reúne e explica numerosos fatos impossíveis de entender, 
no momento atual da ciência, sem sua postulação. 
Enquanto o inconsciente pessoal é composto de conteúdos cuja existência 
decorre de experiências individuais, os conteúdos que constituem o inconsciente 
coletivo são impessoais, comuns a todos os homens e transmitem-se por 
hereditariedade. (SILVEIRA, 1981, p. 76). 
 
4. Consciente ou Consciência 
Segundo Jung (2013, p. 440), a consciência é função ou atividade que mantêm 
a relação dos conteúdos psíquicos com o eu. A psique não é o mesmo que 
consciência, pois, representa o conjunto de todos os conteúdos psíquicos. 
Há grande carga de energia psíquica e conteúdos acessíveis ao ego e 
geralmente se opõe ao que há no inconsciente. Jung considera que nossa consciência 
não se cria a si mesma, mas emana de profundezas desconhecidas. Desperta 
gradualmente na criança, e cada manhã, ao longo da existência, desperta das 
profundezas do sono, saindo de um estado de inconsciência. Compara-se a uma 
criança que nasce diariamente do inconsciente materno. Um estudo mais aprofundado 
da consciência revela que ela não é somente influenciada pelo inconsciente, mas 
deriva constantemente do abismo do inconsciente, sob a forma de várias ideias 
espontâneas (JUNG, 2016, p. 400). 
 
5. Ego ou Eu 
Segundo Hall & Nordby (2014, p. 27), Ego é a denominação dada por Jung à 
organização da mente consciente. O Ego é o sujeito da ação consciente, ele é o 
primeiro complexo a se formar na consciência, sendo seu centro. Embora ocupe uma 
pequena parte da psique total, o ego desempenha a função básica de vigia da 
consciência. 
O processo de desenvolvimento da personalidade, a individuação, consiste em 
diferenciar o ego de suas estruturas arquetípicas auxiliares. O ego, o Self (centro 
organizador da psique) e o ego onírico (o eu dos sonhos) são instâncias psíquicas 
19 
 
diferentes. O ego se baseia no arquétipo do si mesmo, sendo, de certa forma, seu 
agente no mundo da consciência. 
Como vigia da consciência, o Self é altamente seletivo: determina o que 
chegará à consciência. Fornece identidade e continuidade: mantém qualidade 
contínua de coerência na personalidade. Relação íntima e importante com a 
individuação: sensação de sermos a mesma pessoa hoje e ontem. O ego atua 
segundo critérios das quatro funções dominantes relacionados à angústia causada. 
Quanto mais próximo da individuação, maior o número de experiências conscientes. 
 
6. Arquétipos 
Para Jung (apud Silveira 1981, p. 78) o arquétipo funciona como um nódulo de 
concentração de energia psíquica. Quando essa energia, em estado potencial, 
atualiza-se, toma forma, então teremos a imagem arquetípica. Não podemos 
denominar essa imagem de arquétipo, pois, arquétipo é unicamente uma virtualidade. 
Os arquétipos são o conteúdo do inconsciente coletivo e universais, ou seja, o 
núcleo do complexo, onde todos herdam as mesmas imagens arquetípicas básicas e 
quando essa soma tornar o complexo suficientemente forte, ele pode chegar à 
consciência. Esse é o caminho para que o arquétipo se torne consciente e se 
manifeste no comportamento. Jung (apud HALL & NORDBY, 2014, p. 34). 
 
7. Persona 
A persona é a personalidade externa, é a maneira por que se dá a comunicação 
com o mundo. Cada estado ou cada profissão, por exemplo, possui sua persona 
característica. É a face externa da psique máscara ou fachada ostentada 
publicamente com a intenção de provocar intenção favorável a fim de ser aceito pela 
sociedade. Confere a possibilidade de convivermos com as pessoas amistosamente, 
base da vida social e comunitária. A recompensa por ela acarretada pode ser utilizada 
para levar uma vida privada mais satisfatória e mais natural. Pode-se usar mais de 
uma máscara – conformação de diferentes maneiras a situações diversas, de forma 
positiva ou negativa. Quando há identificação excessiva do ego, os demais aspectos 
da personalidade são negligenciados, e há tensão decorrente da persona 
superdesenvolvida e das partes subdesenvolvidas. (JUNG, 2016, p. 37). 
 
 
20 
 
8. Anima e animus 
Segundo Jung (2016, p. 400,401), anima e animus representam a 
personificação da natureza feminina do inconsciente do homem e da natureza 
masculina do inconsciente da mulher. Tal bissexualidade psíquica é o reflexo de um 
fato biológico; o maior número de genes masculinos (ou femininos) determina os 
sexos. Um número restrito de genes do sexo oposto parece produzir um caráter 
correspondente ao sexo oposto, mas, devido à sua inferioridade, usualmente 
permanece inconsciente. 
Todas as manifestações arquetípicas, e, portanto, também o animus e a anima, 
têm um aspecto negativo e um aspecto positivo. Um aspecto primitivo e um aspecto 
diferenciado. 
ParaJung (2016, p. 400,401), o animus, em sua primeira forma inconsciente, é 
uma instância que engendra opiniões espontâneas, involuntárias, exercendo uma 
influência dominante sobre a vida emocional da mulher; a anima é, por outro lado, 
uma instância que engendra sentimentos espontâneos, os quais exercem uma 
influência sobre o entendimento do homem, nele provocando distorções. O animus é 
projetado particularmente em personalidades “espirituais” e toda espécie de “heróis” 
(inclusive tenores, “artistas”, esportistas, etc.) A anima se apodera facilmente do 
elemento que na mulher é inconscientemente, vazio, frígido, desamparado, incapaz 
de relação, obscuro e equívoco... No decurso do processo de individuação, a alma se 
associa à consciência do eu e possui, pois, um índice feminino no homem e masculino 
na mulher. A anima do homem procura unir e juntar; o animus da mulher procura 
diferenciar e reconhecer. São posições estritamente contrárias... No plano da 
realidade consciente anima e animus constituem uma situação conflitual, mesmo 
quando a relação consciente dos dois parceiros é harmoniosa. 
Para Neuman (1999, p. 41): 
 
 A anima é o veículo por excelência do caráter de transformação. Ela é a 
movimentadora e o impulso à transformação, cuja fascinação impele, seduz 
e estimula o masculino a todo tipo de aventuras da alma e do espírito, da 
ação e da criação no mundo interior ou exterior. 
 
9. Sombra 
A sombra está nos aspectos mais repugnantes de nosso ser, que por não 
serem aceitos são relegados ao inconsciente. Quanto mais unilaterais formos em 
21 
 
olhar apenas paras as qualidades que julgamos ter, tanto mais autônomos ficam os 
conteúdos sombrios que possuímos, surgindo do inconsciente de onde foram 
relegados. Para Jung, sombra “é a parte negativa da personalidade, isto é, a soma 
das propriedades ocultas e desfavoráveis, das funções mal desenvolvidas e dos 
conteúdos do inconsciente pessoal” (2013, p. 58). É importante para a economia 
psíquica considerar o par complementar da consciência, o inconsciente. E neste 
processo, o primeiro passo é olhar para o inconsciente e ver a sombra que está 
encoberta pela persona. Esta última, que criamos para nos proteger do mundo 
externo, também é utilizada para escondermos de nós a própria sombra, e é a primeira 
que enxergamos ao olhar no espelho. Diante deste ato de coragem, se formos mais 
além poderemos ver por trás da persona os aspectos de nossa personalidade que 
consideramos malignos, e que fomos incapazes de assumir. Lá estará nossa sombra. 
A sombra nos fala do inconsciente pessoal, embora muitas vezes esteja 
permeada de associações e projeções de elementos arquetípicos coletivos, o que 
torna mais difícil o seu reconhecimento. Para Jung (2013, p. 31): 
 
A sombra, porém, é uma parte viva da personalidade e por isso quer 
comparecer de alguma forma. Não é possível anulá-la argumentando, ou 
torná-la inofensiva através da racionalização. Este problema é extremamente 
difícil, pois não desafia apenas o homem total, mas também o adverte acerca 
do seu desamparo e impotência. 
 
Neste sentido, assim como os conteúdos do inconsciente, a sombra faz parte 
de nós mesmos, por mais que a neguemos. Para Jung, é caminho necessário para o 
autoconhecimento a confrontação com este mal que existe em nós. O homem arcaico 
se defendia da sombra projetando em personalidades e objetos coletivos, e quanto 
mais imerso na coletividade estiver, menos terá que enfrentar seus aspectos 
individuais sombrios. Entretanto, como vimos, o homem dos tempos modernos perdeu 
muito em suas crenças místicas, sendo que esta solução não está mais servindo para 
explicar o mal do mundo, e o mal em si mesmo na forma de sombra. Neste processo, 
há ainda quem se utiliza dos meios arcaicos de projeção do mal nas pessoas externas, 
e assim, cada vez mais o homem negligencia o poder do mal e o relega ao 
inconsciente. Este conteúdo se potencializa e se torna autônomo, e por isso o homem 
moderno é chamado a olhar para si mesmo, e consequentemente a confrontar-se com 
sua sombra. 
 
22 
 
Desde que as estrelas caíram dos céus e nossos símbolos mais altos 
empalideceram, uma vida secreta governa o inconsciente. É por isso que 
temos hoje uma psicologia, e falamos do inconsciente. Tudo seria supérfluo, 
e o é de fato, numa época e numa forma de cultura que possui símbolos.” 
(JUNG, 2013, p. 33) 
 
A sombra é aquela personalidade oculta, recalcada, frequentemente inferior e 
carregada de culpabilidade, cujas ramificações extremas remontam ao reino de 
nossos ancestrais animalescos, englobando também todo o aspecto histórico do 
inconsciente... Se antes era admitido que a sombra humana representasse a fonte de 
todo o mal, agora é possível, olhando mais acuradamente, descobrir que o homem 
inconsciente, precisamente a sombra, não é composto apenas de tendências 
moralmente repreensíveis, mas também de um certo número de boas qualidades, 
instintos normais, reações apropriadas, percepções realistas, impulsos criadores, etc. 
(JUNG, 2016, p. 411). 
 
10. Complexos 
Para Jung, (apud Silveira 1981, p. 35), os complexos são agrupamentos de 
conteúdos psíquicos carregados de afetividade. Compõe-se primariamente de um 
núcleo possuidor de intensa carga afetiva. Secundariamente estabelecem-se 
associações com outros elementos afins, cuja coesão em torno do núcleo é mantida 
pelo afeto comum a seus elementos. Formam-se assim verdadeiras unidades vivas, 
capazes de existência autônoma. Segundo a força de sua carga energética, o 
complexo torna-se um imã para todo fenômeno psíquico que ocorra ao alcance de 
seu campo de atração, bem como faz parte do cotidiano das pessoas. No entanto, 
este é um uso errôneo do significado psicológico desta expressão criada por Jung 
uma vez que, a verdade é que não somos nós que temos o complexo, o complexo é 
que nos tem. 
 
11. Self ou si mesmo 
De acordo com Jung (apud Hall & Nordby 2014, p. 43), o princípio organizador 
da personalidade é um arquétipo ao qual, Jung denominou como Self, ou seja, é o 
arquétipo da totalidade, o centro do aparelho psíquico, englobando o consciente e o 
inconsciente. Atrai a si e harmoniza os demais arquétipos e suas atuações nos 
complexos e na consciência, une a personalidade, conferindo-lhe um senso de 
“unidade” e firmeza. 
23 
 
 
O si mesmo é o centro e também a circunferência completa que compreende 
ao mesmo tempo o consciente e o inconsciente: é o centro da totalidade, 
como o eu é o centro da consciência. É também a meta da vida, pois é a 
expressão mais completa dessas combinações do destino que se chama: 
indivíduo. (JUNG, 2016, p. 409). 
 
Silveira, (1981, p. 99), destaca que para Jung O Self (si mesmo) não se revela 
apenas através de personificações humanas. Sendo uma grandeza que excede de 
muito a esfera do consciente, sua escala de expressões estende-se de uma parte ao 
infra-humano e de outra parte ao super-humano. Assim, seus símbolos podem 
apresentar-se sob aspectos minerais, vegetais, animais; como super-homens e 
deuses. Também sob formas abstratas. A denominação de Self não cabe unicamente 
a esse centro profundo, mas também à totalidade da psique. O reconhecimento da 
própria sombra, a dissolução de complexos, liquidação de projeções, assimilação de 
aspectos parciais do psiquismo, a descida ao fundo dos abismos..., em suma, o 
confronto entre consciente e inconsciente, produz um alargamento do mundo interior 
do qual resulta que o centro da nova personalidade, construída durante todo esse 
longo labor, não mais coincida com o ego. 
O centro da personalidade estabelece-se agora no Self, e a força energética 
que ele irradia englobará todo o sistema psíquico. A consequência será a totalização 
do ser, sua esterificação (abrundung). O indivíduo não estar mais fragmentado 
interiormente. Não se reduzir a um pequeno ego crispado dentro de estreitos limites. 
Seu mundo agora abraça valoresmais vastos, absorvidos do imenso patrimônio que 
a espécie penosamente acumulou nas suas estruturas fundamentais. Prazeres e 
sofrimentos serão vivenciados num nível mais alto de consciência. O homem torna-se 
ele mesmo, um ser completo, composto de consciente e inconsciente incluindo 
aspectos claros e escuros, masculinos e femininos, ordenados segundo o plano de 
base que lhe for peculiar. 
“O Self é o centro regulador e unificador da psique total, consciente e 
inconsciente. Simbolicamente, ele é expresso em toda a história da humanidade como 
divindade interior, ou a imagem de Deus”. JUNG (apud von-FRANZ, 1992, p. p. 117). 
 
 
 
 
24 
 
12. Símbolo 
Silveira (1981, p. 80) destaca que para Jung, o símbolo é uma forma 
extremamente complexa, onde nela se reúnem opostos numa síntese que vão além 
das capacidades de compreensão disponíveis no presente e que ainda não podem 
ser formuladas dentro de conceitos. Inconsciente e consciente aproximam-se. Assim, 
o símbolo não é racional nem irracional, porém as duas coisas ao mesmo tempo. Se 
for de uma parte acessível à razão, de outra parte lhe escapa para vir fazer vibrar 
cordas ocultas no inconsciente. 
Entende-se assim, que um símbolo não traz explicações; impulsiona para além 
de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente 
pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira 
satisfatória. 
 
13. Sincronicidade 
Termo criado por Jung (2013, p. 409), que exprime uma coincidência 
significativa ou uma correspondência entre um acontecimento psíquico e um 
acontecimento físico, não ligados por uma relação casual. Tais fenômenos de 
sincronicidade aparecem, por exemplo, quando sonhos, visões, premonições 
parecem ter uma correspondência na realidade exterior: a imagem interior ou a 
premonição mostrou-se “verdadeira”; entre sonhos, ideias análogas ou idênticas que 
ocorrem em lugares diferentes, sem que a causalidade possa explicar umas e outras 
manifestações. Ambas parecem ter relação com processos arquétipos do 
inconsciente. 
 
14. Sonhos 
O sonho é a principal ferramenta de análise da psicologia analítica, pois, 
constitui as expressões da mente inconsciente. Jung (1972, p. 103) considera o sonho 
uma auto representação espontânea, sob forma simbólica, da situação do 
inconsciente, é aquilo que ele é, inteiramente e unicamente o que é, e não uma 
fachada. Não é algo pré-arranjado, um disfarce qualquer, mas sim, uma construção 
realizada, uma coisa viva e não alguma coisa morta que soe como papel seco 
machucado. Em outras palavras, o sonho é uma situação existente... é como um 
animal com antenas ou com vários cordões umbilicais. 
 
25 
 
[...] Os sonhos fornecem informações extremamente interessantes a quem se 
empenhar em compreender o seu simbolismo. O resultado, é verdade, pouco 
tem a ver com preocupações mundanas como comprar e vender. Mas o 
sentido da vida não é explicado pelos negócios que se fez, assim como os 
desejos profundos do coração não são satisfeitos por uma conta bancária. 
(C.G. JUNG, apud von-Franz, 1992, p. 10). 
 
Jung, no livro “O homem e seus símbolos” (1996)1, destaca: 
 
Os cristãos costumam perguntar por que Deus não lhes fala, como se crê que 
fazia no passado. ...Estamos tão emaranhados e cativados por nossa 
consciência subjetiva que nos esquecemos do antiqüíssimo fato de que Deus 
fala especialmente através de sonhos e visões. Os budistas descartam o 
mundo de fantasias inconscientes, alegando que não passam de ilusões 
inúteis; os cristãos colocam sua Igreja e sua Bíblia entre eles e o próprio 
inconsciente; e os intelectuais racionais ainda não sabem que sua 
consciência não é sua psique inteira.... Mas se um teólogo realmente crê em 
Deus, com que autoridade pode afirmar que Deus é incapaz de falar através 
dos sonhos? 
 
15. Mito 
Jung, (apud Silveira 1981, p. 128), ao interpretar os mitos, acrescenta aos 
conceitos dos especialistas modernos dimensões mais profundas. Assim, para Jung: 
 
Os mitos são principalmente fenômenos psíquicos que revelam a própria 
natureza da psique. Resultam da tendência incoercível do inconsciente para 
projetar as ocorrências internas, que se desdobram invisivelmente no seu 
íntimo, sobre os fenômenos do mundo exterior, traduzindo-as em imagens. 
Não basta ao primitivo ver o nascer e o pôr do sol; esta observação externa 
será ao mesmo tempo um acontecimento psíquico: o sol no seu curso 
representará o destino de um deus ou herói que, em última análise, habita na 
alma do homem. 
 
Os mitos condensam experiências vividas repetidamente durante milênios, 
experiências típicas pelas quais passaram (e ainda passam) os humanos. Por isso, 
temas idênticos são encontrados nos lugares mais distantes e mais diversos. A partir 
desses materiais básicos é que sacerdotes e poetas elaboram os mitos, dando-lhes 
roupagens diferentes, segundo as épocas e as culturas. (JUNG, apud SILVEIRA, 
1972, p. 129). 
 
 
1 Inspirado por um sonho do autor e concluído apenas dez dias antes de sua morte, representa uma 
tentativa de expor os princípios fundamentais da análise junguiana sem qualquer obrigatoriedade de 
conhecimento especializado de psicologia. No livro, Jung acentua que o homem só se realiza através 
do conhecimento e aceitação do seu inconsciente - conhecimento que ele adquire por intermédio dos 
sonhos e seus símbolos. 
 
26 
 
16. Tipos Psicológicos 
Para Jung (2013, p. 494): “A função psicológica é entendida como uma certa 
forma de atividade, que permanece idêntica sob condições diversas, ou seja, um 
exemplo ou modelo que reproduz de forma característica o caráter de uma espécie 
ou de uma generalidade”. 
Silveira (1981, p. 51) destaca que os trabalhos de exploração do inconsciente 
não fizeram Jung perder o interesse pelas relações do homem com o meio exterior. A 
comunicação entre as pessoas sempre lhe pareceu problema da maior importância. 
Na vida comum e na clínica via todos os dias que a presença do outro é um desafio 
constante. O outro não é tão semelhante a nós conforme desejaríamos. Ao contrário, 
ele nos é exasperantemente dessemelhante. Não é raro ouvir o marido irritado, dizer 
que não entende a esposa e a mãe queixar-se de absolutamente desconhecer a filha. 
Também nas relações de amizade e de trabalho surgem frequentes 
desentendimentos, desencontros, que deixam cada personagem perplexo face às 
reações do outro, sem que os separem sensíveis diferenças de idade, de educação 
ou de situação social. Jung deteve-se no exame deste problema e apresentou sua 
contribuição a fim de que nos oriente melhor dentro dos quadros de referência do 
outro. 
Segundo Hall & Nordby (2014, p. 84), o trabalho desenvolvido por Jung com 
Tipos Psicológicos teve uma dupla importância: ele identificou e descreveu certo 
número de processos psicológicos básicos e mostrou de que maneira se ligam em 
várias combinações para determinar o caráter de um indivíduo. Ele se dispôs a 
transformar uma psicologia geral de leis e processos universais numa psicologia 
individual que descreva as características exclusivas e o comportamento de uma 
pessoa específica. O resultado foi, como disse Jung, uma psicologia muito prática. 
“Uma das mais importantes experiências de minha vida foi descobrir o quão 
prodigiosamente diferentes são as psiques das pessoas” (JUNG, 2013, p. 148). 
 
 
 
 
 
 
27 
 
3 TEMA 
 
 
A busca pelo verdadeiro amor ainda é vista pelo homem contemporâneo como 
um grande tesouro para o encontro da felicidade. Para Carotenuto (1994, pg. 5), na 
busca pelo sentido da vida e pela sua alma, o homem descobriu novos caminhos que 
o levam para a sua interioridade, revelando que somente o amor é capaz de gerar 
alma, mas também o amor necessita da alma, pois, a experiência amorosa está entre 
as mais significativas e consideráveis da existência humana. Ainda, segundo oautor, 
por sua natureza o amor pertence à esfera do indivisível. Como tudo o que se 
relaciona à alma, com a dimensão mais profunda e secreta do ser, ele está próximo 
do mistério e é acompanhado do silêncio. 
Para o americano Morton Hunt2 (1920-121016) “a história do amor é uma 
história daquilo que se diz sobre o amor”. Sendo assim, foram os gregos que 
inventaram o amor, pois embora as pessoas já se amassem muito antes, os gregos, 
que tinham uma explicação para tudo, foram os primeiros a criar uma palavra para 
isso. 
Filósofos como Sócrates e Aristóteles discutiam poesia, ciência e política 
durante os chamados simpósios, festas onde os participantes partilhavam uma grande 
taça de vinho. Em uma dessas festas se desenvolveu O Banquete, célebre obra de 
Platão, uma das mais reveladoras sobre o pensamento grego a respeito do amor. As 
expressões “almas gêmeas” e “cara-metade” surgiram quando Aristófanes recorreu à 
mitologia para falar sobre a origem do amor. Segundo ele: 
 
...éramos seres andróginos de duas cabeças, quatro pernas e quatro braços. 
Temendo que o poder dessas estranhas criaturas ameaçasse os deuses, 
Zeus dividiu-as em duas outras- e desde então carregamos a sensação de 
estarmos sempre incompletos, em busca da metade afastada de nós. 
 
 Temos aí a criação dos sexos: Andros, Gynos e o Androgyno, Andros, eram 
formados por duas cabeças masculinas, Gynos por duas cabeças femininas e o 
 
2 Psicólogo e escritor de ciência que escreveu notavelmente para The New Yorker, The New York Times 
Magazine e Harper e autor de vários livros, incluindo: “A História da Psicologia”,“ A História Natural do 
Amor”, entre outros. (Fonte : https://en.wikipedia.org/wiki/Morton_Hunt) acesso em 12.06.2018. 
 
28 
 
Androgyno por metade masculina e metade feminina. Esse mito, escrito por Platão, 
deu origem à criação das almas gêmeas. 
Mesmo sendo metade homem e metade mulher, Andrógino era um ser 
completo a ponto de se tornar autossuficiente, feliz e parecido aos deuses do Olimpo, 
despertando a ira e a inveja dos deuses e Zeus decidiu cortá-lo ao meio. A partir daí, 
as metades sempre buscam uma a outra para que num abraço, sintam a plenitude 
que conheciam. É o que Jung chamou de individuação, que ocorre quando cada ser 
encontra sua contraparte interna, realizando o encontro dos opostos e produzindo 
assim, a totalidade. Para Jung a contraparte do homem, sua mulher interna, é a 
Anima, e a contraparte interna da mulher, é Ânimus. 
Para Hall & Nordby (2014, p. 38): 
 
Toda pessoa possui qualidades do sexo oposto, no sentido biológico e 
psicológico das atitudes e sentimentos. O homem desenvolveu o seu 
arquétipo anima e a mulher seu arquétipo animus, vivendo e interagindo um 
com o outro durante gerações, adquirindo características do sexo oposto, 
facilitando assim a compreensão mútua. De modo que, os arquétipos de 
anima e animus, têm um valor muito grande para a sobrevivência. Para que 
a personalidade seja bem ajustada e harmoniosamente equilibrada, o lado 
feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade 
da mulher devem poder expressar-se na consciência e no comportamento. 
 
Segundo Jung (2013, p. 400), anima é o arquétipo que constitui o feminino da 
psique masculina e animus é o arquétipo que compõe o lado masculino da psique 
feminina. Para ele, a primeira projeção da anima sempre é feita na mãe e a primeira 
projeção do animus é feita no pai e posteriormente com o amadurecimento, essas 
projeções são transferidas para os relacionamentos amorosos. Portanto, devemos 
tomar consciência de nossas projeções para perceber a realidade presente na outra 
pessoa. 
Jung aponta que a principal função desses arquétipos é a capacidade de 
sintonizar a consciência do eu com o inconsciente, abrindo-se para o conhecimento 
interno, o conhecimento do si mesmo. Anima e animus são os arquétipos que mediam 
a relação do eu com as esferas coletivas do inconsciente. Em um primeiro momento 
o eu precisa reconhecer essas figuras internas e perceber que elas possuem uma 
forma autônoma de manifestação. 
 
 
29 
 
Sua autonomia e falta de desenvolvimento usurpam, ou melhor, retêm o pleno 
desabrochar de uma personalidade, pois, na medida em que ambos 
(anima/animus) forem inconscientes, sempre serão projetados, uma vez que 
todo o inconsciente é projetado, de sorte que, conforme afirma, ninguém 
compreenderá esses fatos, se não experimentá-los em si mesmo. (JUNG, 
2013, p. 268). 
 
Zeus, ao dividir o Andrógino em duas metades, colocou os órgãos sexuais para 
frente despertando assim o desejo de se unirem novamente, mas não na forma de um 
desejo puramente sexual e sim, o desejo de amar e ser amado por alguém que nos 
complete. No entanto, antes de nos completar no outro, necessário se faz que cada 
ser humano se sinta completo, visto que, se não há totalidade em nós mesmos, 
sempre procuraremos no outro aquilo que nos falta. E isso, nos causará dor, pois não 
sabemos até que ponto o outro irá nos completar. Sempre tentaremos agradar, 
satisfazer o outro até que nos perdemos de nós mesmos. 
O amor impulsiona a libido, além de todos os instintos, até mesmo aquele de 
satisfazer a fome, como garantia de sobrevivência e completude do ser humano. A 
alma humana é feita de pensamento e sentimento e é disso que somos feitos. Assim 
sendo, conhecer a si mesmo, é ter consciência do amor que há dentro de nós 
mesmos, e como pensamos sobre esse amor. Se para nós, o amor é algo atraente, 
nossa libido irá nos impulsionar para esse sentido. Se o amor para nós é algo mais 
profundo, ou resumidamente, seja alguém que me ame como eu amo a mim mesmo, 
a tendência é nos direcionar para encontrar alguém nesse sentido. 
Quando o ser humano está seguro de si, tem seu pensamento próprio, sem se 
espelhar em pai, mãe ou em outro modelo qualquer, a libido impulsionará para um 
movimento de encontro com alguém que o complete, alguém que o ame, e o complete 
exatamente como é, sem que interfira em sua individualidade. 
No entanto, antes de querermos achar a alma gêmea, é preciso primeiro saber 
se somos completos em si mesmos; em primeiro lugar, precisamos nos bastar, nos 
sentirmos seguros e independentes em si mesmos, bem como termos consciência do 
amor que queremos, pois só assim conseguiremos enxergar no outro um 
complemento e poderemos saber quem é nossa alma gêmea. 
A individuação permite-nos um encontro com nosso Self, nossa totalidade em 
si mesmo. Sendo assim, cada ser humano que quiser achar sua verdadeira alma 
gêmea, deve primeiramente seguir na sua individuação. 
30 
 
Para Jung, a busca pelo caminho de individuação, de totalidade, exige a 
aceitação dos opostos, inclusive a aceitação dos lados de nossa psique por nós 
excluídos. Em outras palavras “Tu és escravo daquilo que precisas em tua alma. O 
homem mais masculino precisa da mulher, por isso é seu escravo. Torna-te tu mesmo 
mulher, e ficarás livre da escravização à mulher” (JUNG, 2014, p. 263). 
Ao destacarmos a história do mito criado por Platão chegamos aos seres 
humanos, homens e mulheres que estão sempre em busca de sua cara-metade, sua 
alma gêmea. No entanto, mesmo supondo que exista uma alma gêmea, onde e como 
encontra-la? “O amor é uma espécie de loucura, disse Platão, uma loucura divina!”. 
“Quando arrebatado de amor, um ser humano olha a pessoa que ama, e é sua própria 
imagem que ele vê nos olhos de seu amado (a).” Podemos transpor essa ideia na 
teoria de espelhos, onde vemos no outro nossa própria alma e nos apaixonamos. 
Para o filósofo brasileiro Konder (2007, p. 7) o termo amor possui uma 
elasticidade espantosa, sendo considerado o sentimento mais forte da psique, já que 
majoritariamente aparece atrelado a outros. Para o filósofo alemão Marx, apud Konder 
(2007) “o amor é ‘uma maneira universal que o ser humano tem de se apropriar do 
seu ser como ‘um homemtotal’, agindo e refletindo, sentido e pensando, descobrindo-
se, reconhecendo-se e inventando-se” (KONDER, 2007, p. 21). 
Na mitologia, o amor está representado em várias narrativas. Uma delas é entre 
um deus, Eros (o amor) filho da deusa do amor, Afrodite, e uma mortal, Psiquê (a 
alma), mortal, uma das três filhas de um rei. 
Psiquê, com sua beleza extraordinária, é notada por todos, não somente por 
sua beleza, mas também pelo seu charme, personalidade, forma de agir e falar. Tais 
características a fazem ser venerada, e apontada como “a nova Afrodite, uma nova 
deusa”. Mesmo assim, Psiquê transforma-se em uma preocupação para os pais, visto 
que suas irmãs se casam primeiro que ela. O rei decide consultar um oráculo, que 
dominado por Afrodite, faz com que a resposta seja uma terrível profecia: Psiquê 
deveria despojar uma criatura horrível e repulsiva. 
E assim aconteceu: Psiquê foi levada em uma procissão para o casamento, 
como se fosse um cortejo fúnebre; em seguida, acorrentada em uma pedra no alto de 
uma montanha, deixada ali para ser entregue à terrível criatura, obedecendo à 
profecia do oráculo, transformando as lágrimas do cerimonial e os adornos em razão 
do casamento e do funeral. 
31 
 
Afrodite queria destruir Psiquê e para isso planejava que Eros (também 
conhecido como Cupido) lançasse uma flecha em Psiquê para que ela se apaixonasse 
pelo seu futuro marido. No entanto, Eros, ao vê-la, se distrai e acaba espetando seu 
próprio dedo com uma das flechas, o que faz com que se apaixone por Psiquê e leve 
sua amada para o Vale do Paraíso. 
Ao acordar em seus aposentos, Psiquê percebeu que alguém a acompanhava. 
Era o marido que lhe havia sido predestinado. No entanto, ele havia colocado uma 
condição: ela não poderia vê-lo, pois se assim fizesse o perderia para sempre, 
condição esta aceita por Psiquê. O próprio Eros, que tinha sido encarregado de 
executar a vingança da mãe, se apaixonara por Psiquê, mantinha-se escondido para 
evitar a fúria de Afrodite. 
Psiquê se sentia extremamente feliz, pois tinha a seu lado o melhor dos 
esposos e a fazia se sentir amada. Resolve então, pedir a ele que a deixasse visitar 
seus pais. O reencontro gera a felicidade dos pais e a inveja das irmãs, que a enchem 
de perguntas sobre o marido. À noite, ao contar para Eros seu encontro com as irmãs, 
ele a adverte que isso era muito perigoso. Como estava grávida, Psiquê deveria 
manter a obediência que prometera porque senão a criança que nasceria seria uma 
mulher mortal e ele a abandonaria. 
Mas, Psiquê, desobedecendo às ordens do marido, continua a ver suas irmãs, 
que no terceiro encontro inventam que Eros era, na verdade uma repugnante serpente 
e tinha como plano devorar a ela e seu filho, fato que ocorreria quando a criança 
nascesse, mas que elas iriam ajudá-la. Para isso, Psiquê deveria colocar na cabeceira 
de sua cama uma lâmpada em uma redoma e uma faca muito afiada embaixo de seu 
travesseiro e quando Eros viesse visita-la à noite, ela esperaria ele dormir e então 
cortaria sua cabeça. 
Psiquê revela às irmãs que nunca havia visto o rosto de Eros, seu marido. Elas 
acabam convencendo-a de vê-lo, e Psiquê ao retornar para casa, acende uma vela 
fica totalmente extasiada e encantada pela beleza estonteante do marido. Nervosa, 
deixa sua faca cair e desajeitada pelo nervosismo acaba por acidentalmente se 
espetar numa das flechas de Eros e instantaneamente se apaixona por ele. 
Psiquê ficou tão deslumbrada pela visão do esposo que não percebeu uma 
gota da cera da vela que pingou no peito do amado e o acordou assustado. Ao 
perceber o acontecido, Eros tenta voar para longe de Psiquê, porém ela o segura, e 
agarrada a ele, sai do Paraíso, mas não aguenta se segurar por muito tempo e cai. 
32 
 
Eros diz a Psiquê que ela o desobedecera e quebrado sua promessa. A punição para 
isso seria a ausência dele, além do fato de que o filho que ela esperava nasceria 
mortal. Então, voou, deixando Psiquê sozinha, que ao vê-lo ir embora pensa em se 
suicidar, jogando-se no rio, mas Pan, o deus dos pés fendidos e a ninfa Eco, que estão 
à beira do rio convencem-na a desistir. 
Sozinha e infeliz, Psiquê começou a vagar pelo mundo e reza para Eros. Mas, 
ao invés de procurar diretamente por ele, busca ajuda em vários templos de deusas, 
sem sucesso, pois elas temiam que Afrodite considerasse isso uma proteção à jovem 
que feriu seu filho. Decide, então, procurar Afrodite que a recebe com duras palavras 
além de humilhá-la dizendo que não serve para nada além de tarefas subalternas. E, 
para livrar-se de tal desígnio, teria que cumprir quatro tarefas por ela indicadas: 
Na primeira tarefa, Afrodite, Psiquê deveria separar uma montanha de 
sementes por tipo, antes do anoitecer. Conseguiu cumprir a tarefa com a ajuda de 
milhares de formigas. 
Na segunda tarefa Psiquê deveria buscar o tosão de ouro-lã de ouro- dos 
ferozes carneiros que pastam na margem oposta do rio. Dirige-se ao rio que a separa 
dos carneiros, mas, no último instante uma voz sai dos juncos da margem do rio e 
alerta que não deveria se aproximar dos animais durante o dia, pois a matariam. No 
entanto, se procurasse um espinheiro na margem do rio no início da noite, poderia 
recolher a lã que costumava ficar presa nos espinhos. E assim conseguiu completar 
a segunda tarefa. 
Na terceira tarefa, Afrodite pede que Psiquê encha e entregue a ela uma taça 
de cristal com a água do rio Estige, que nasce no alto de uma montanha e em sua 
descida, o rio desaparece sob a terra, além de ser guardado por terríveis monstros. 
Com a ajuda da águia de Zeus, Psiquê conseguiu realizar a terceira tarefa. 
Na quarta e última tarefa, Afrodite ordena que Psiquê desça até os infernos e 
procure Perséfone, a esposa de Hades, o senhor do mundo inferior e dos mortos, e 
consiga com ela um pequeno cofre em que guarda seu unguento de beleza. Desta 
vez, Psiquê recebe ajuda não de um ser vivo, e sim da própria torre em que subira. 
Psiquê deveria levar nas mãos dois pedaços de pão de cevada e na boca duas 
moedas. No caminho deverá recusar ajuda a um homem coxo, e não salvar um 
homem que estará se afogando. Também não deverá se intrometer com as três 
tecelãs do destino e recusar qualquer coisa que lhe for dada para comer. Assim, 
conforme instruções da torre, as moedas serão para pagar o barqueiro Caronte, que 
33 
 
faz a travessia do rio Estige em sua ida e volta e os pães serviriam para alimentar 
Cérbero, o cão de três cabeças e guardião das portas do inferno. Conseguiu cumprir 
a quarta tarefa. 
Passando, assim, por vários desafios e sofrimentos impostos por Afrodite como 
uma vingança por ela ter ferido o seu filho, a jovem luta tentando recuperar o seu 
amor, mas acaba entregando-se à morte, caindo num sono profundo. Ao vê-la tão 
triste e arrependida, Eros, que também sofria com a ausência da amada, implorou a 
Zeus que tivesse misericórdia deles. Com a concessão de Zeus, Eros usou uma de 
suas flechas, despertando a amada, transformando-a numa imortal, levando-a para o 
Olimpo e a partir daí, nunca mais se separaram. 
Em grego "Psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". Uma alegoria à 
imortalidade da alma, simboliza também a alma humana provada por sofrimentos e 
aprovada, recebendo como prêmio o verdadeiro amor que é eterno. 
O termo Eros, foi utilizado por Jung para denotar o fundamento básico da 
psicologia feminina: 
 
A psicologia das mulheres é fundada principalmente em Eros, fortemente 
ligado ao desprendimento, visto que nas épocas antigas o principal atributo 
relacionado aos homens é Logos. O conceito do Eros podia ser expressado 
nas épocas modernas como uma ligação psíquica, e o Logos com o interesse 
objetivo. (JUNG, 2013, p. 255). 
 
 Na teoria Junguiana, o mito de Eros e Psiquê fala do desenvolvimento da alma 
tanto do feminino, quanto do masculino. 
Outro conto de amor considerado um dos mais famosos de todosos tempos, a 
tragédia escrita por William Shakespeare em meados de 1.500, não cessa em inspirar 
versões e releituras para o cinema, teatro, televisão e outras literaturas. 
Romeu e Julieta, um clássico da literatura universal, há séculos seduz gerações 
de leitores apaixonados, que encontram na obra de William Shakespeare, uma das 
mais belas e trágicas histórias de amor de todos os tempos e transformou-se em um 
arquétipo da psique humana. 
Elaborada entre 1591 e 1595, a tragédia shakespereana não é significativa 
apenas por focalizar o amor proibido entre dois jovens na Verona renascentista, mas 
também pelo fato de denunciar a hipocrisia e as convenções sociais, os interesses 
econômicos e a sede de poder que geram, inevitavelmente, a intolerância e condenam 
o sentimento nobre existente entre Romeu e Julieta. 
34 
 
Na cidade italiana de Verona, aproximadamente nos anos de 1500, as famílias 
tradicionais Montecchios e Capuletos cultivavam uma inimizade que durava há vários 
anos. No entanto, independente desta rivalidade Romeu e Julieta, filhos únicos destes 
poderosos clãs se apaixonaram perdidamente e resolvem lutar por este sentimento. 
Apesar de lutarem contra a animosidade de suas famílias, o fim trágico e apaixonado 
inspira (ou deprime) os amantes de todas as épocas. 
Romeu e Julieta se conheceram em uma festa promovida pelo pai da jovem, 
líder dos Capuletos. Romeu, mesmo sem ter sido convidado e acreditando estar 
apaixonado por Rosaline, uma das moças presentes no evento, arruma um disfarce e 
vai à celebração. No entanto, ao se deparar com Julieta, esquece de Rosaline e só 
pensa na jovem desconhecida. Logo depois, descobre que pertencem às famílias que 
se odeiam. 
Escondido no jardim, logo depois da festa, Romeu ouve, sem querer o diálogo 
de Julieta com as estrelas, quando ela confessa sua paixão. Ele então a procura e se 
declara. Um dia depois, os jovens se casam em segredo, com o auxílio do Frei 
Lawrence, amigo do jovem. 
Mas a tragédia parece fazer parte da vida dos amantes. No mesmo dia em que 
se casaram, Romeu, sem querer se envolve em uma briga com o primo de Julieta, 
Tebaldo, que ao descobrir a presença do Montecchio na festa de seus tios, planeja 
uma revanche contra ele. A princípio, o jovem não aceita provocações, mas seu amigo 
Mercúcio enfrenta o adversário e é morto por ele. Romeu se revolta e mata Tebaldo 
para se vingar. 
 A morte de Tebaldo aumenta ainda mais o ódio entre as famílias e o Príncipe 
de Verona manda Romeu sair da cidade. Sem saber da união de Julieta com Romeu, 
o velho Capuleto arranja o casamento da filha com Páris. O Frei a convence de aceitar 
o matrimônio, mas arma um plano: pouco antes da cerimônia Julieta deverá ingerir 
uma poção elaborada por ele e com este preparado, ela será considerada morta. 
 Porém, Romeu seria avisado e voltaria para tira-la do jazigo dos Capuleto assim 
que ela despertasse. Mas, Romeu descobre o ocorrido antes de ser notificado pelo 
Frei. Desesperado, ele adquire uma poção venenosa, e na sepultura onde se encontra 
a amada ingere o conteúdo do frasco e morre junto a Julieta. 
Situada ao norte da Itália, a cidade de Verona resolveu abraçar seu posto como 
berço do amor de Romeu e Julieta. Depois que a peça de Shakespeare virou filme 
pelas mãos de George Cukor, em 1936, o drama do amor impossível foi se tornando 
35 
 
cada vez mais popular e a cidade aproveitou a onda para mergulhar nessa história, 
criando toda uma estrutura para dar vida a esse romance. 
A chamada Casa Di Giulietta, virou atração turística, trazendo à tona uma 
verdadeira lenda urbana. Ainda na cidade há o Club Di Giulietta, onde trabalham um 
grupo de mulheres voluntárias que respondem a todas as cartas que chegam ou são 
depositadas nas paredes de pedra ao arredor, de todos os lugares do mundo, com 
declarações e pedidos de conselhos amorosos. 
Os relatos dizem que a primeira carta chegou nos anos 1930 e que no 
destinatário, constava apenas: “Julieta, Verona”, e foi entregue na suposta tumba da 
personagem. Quando viu a carta, o coveiro, que era um veterano da Primeira Guerra 
Mundial e sabia um pouco de inglês, escreveu uma resposta, assim como para as 
novas correspondências que começaram a chegar. Com o passar do tempo, a tarefa 
de responder as cartas foi passada a um poeta local, mas logo descobriram sua 
identidade, e ele desistiu do cargo de secretário de Julieta. Foi só nos anos 1980, que 
a prefeitura de Verona passou a tarefa ao Club Di Giulietta que promove atividades 
culturais e eventos literários ligados ao mito de Romeo e Julieta. 
36 
 
4 DISCUSSÃO 
 
 
O “Correio de Julieta” é um fenômeno mundial que supera a própria magia 
da lenda shakespeariana: milhares de cartas que chegam de diversos lugares 
do mundo, nas quais as pessoas contam para Julieta sobre suas histórias, seus 
sonhos e seus desejos e, posteriormente, são respondidas por equipe de 
“Secretárias de Julieta”, que oferecem amizade e conselho. O conteúdo dessas 
cartas aponta para a busca pelo outro, no sentido de união de almas, de 
complementariedade. 
Na análise da carta anexa endereçada ao Club Di Giulietta, verifica-se a 
confirmação da teoria Junguiana em vários aspectos, do inconsciente individual, 
coletivo, aos arquétipos, mitos e à individuação. Projetada no amor do mito de 
Romeu e Julieta de Shakespeare, a autora busca respostas para suas 
inquietações internas e logo no inicio percebe-se que, os arquétipos Animus e 
Anima são de importância central no conteúdo expresso, conforme sua 
introdução: “Sua história me faz uma menina sonhadora, que sempre pensou 
que todos tenham seu Romeu perdido em qualquer esquina.”. (Cf. ANEXO A). 
A projeção do par ideal como a figura de Romeu demonstra um olhar 
romântico. Romeu apresenta-se como uma figura de um jovem perdidamente 
apaixonado, vindo a morrer por esse amor, ou seja, um homem que irá amar e 
ser amado incondicionalmente. 
Ao afirmar: “Hoje já sou uma mulher, mas igualmente sonhadora.” (Cf. 
ANEXO A), novamente a autora da carta afirma sua busca por esse encontro 
com o amor idealizado, romântico e verdadeiro, expresso no mito de Romeu e 
Julieta, que é o símbolo do arquétipo do amor juvenil e romântico. 
Jung considerava que um “amor verdadeiro” só era possível quando 
estivéssemos dispostos a abrir mão de nossas fantasias sobre nós mesmos, 
nossos (as) parceiros(as) e sobre o próprio amor. Para um “vínculo duradouro e 
profundo”, é preciso ser realista sobre a questão do amor e suas limitações: 
 
 
Todo amor profundo e verdadeiro é um sacrifício. A gente sacrifica 
suas possibilidades, ou melhor, as ilusões de suas possibilidades. Se 
não houver necessidade desse sacrifício, nossas ilusões impediriam o 
37 
 
surgimento do sentimento profundo e responsável e, com isso, 
ficaríamos privados também da possibilidade de experimentar o 
verdadeiro amor (JUNG, 2013, p. 122). 
 
Ainda sobre a ótica da mitologia, a busca pela alma gêmea, nutre no fundo 
a fantasia de que em algum lugar (...perdido em qualquer esquina) alguém está 
esperando, pensando e desejando o encontro da sua outra metade... a alma 
gêmea. “Embora nos dias de hoje, seja difícil manter a fé na existência de almas 
gêmeas...” (Cf. ANEXO A). 
Jung, (apud Sanford 1987, p. 42), afirma que, quando estamos em busca 
ou nos apaixonamos por alguém que não conhecemos como pessoa, mas por 
quem somos atraídos através da imagem refletida do deus ou da deusa em 
nossa própria alma, isso representa, num certo sentido, nos apaixonarmos por 
nós mesmos. 
 No mito Eros e Psiquê, a Deusa do Amor Afrodite, impõe a Psiquê, várias 
tarefas difíceis, dificultando o reencontro com o seu amado, demostrando em 
termos psicológicos que devemos nos mostrar merecedores desse amor e estar 
maduros para ele. Na carta a autora ao dizer: “Tenho medo de ter uma vida 
enfadada na conformidade e em um casamento infeliz.” (Cf. ANEXO A), trazà 
consciência o medo do não merecimento de uma relação de completude. 
Para Jung, (apud Sanford, 1987, p. 42) para se entrar em contato com o 
outro é necessário estar separado deste outro, porque somente seres separados 
podem se relacionar. Se isso não acontece, um estado de identificação, no 
sentido de fusão mútua, embota o desenvolvimento psicológico de ambos os 
parceiros. 
Do ponto de vista da psicologia analítica, esse distanciamento pressupõe 
a existência da consciência em saber que o outro é diferente, não é igual a mim. 
Onde não houver consciência, o relacionamento psíquico ficará reduzido, tanto 
da pessoa em relação à sua autoconsciência, como em relação ao parceiro. 
Afirma C. Jung (2013, p. 201) “Sempre que tratamos do relacionamento psíquico, 
pressupomos a consciência. Não existe nenhum relacionamento psíquico entre 
dois seres humanos, se ambos se encontrarem em estado inconsciente”. (Cf. 
ANEXO A). 
Assim sendo: 
 
38 
 
Desde o momento em que aparece a consciência coerente, existe a 
possibilidade do relacionamento psíquico. Consciência, segundo 
nossa concepção, é sempre consciência do ‘eu’. Para tornar-me 
consciente de mim mesmo, devo poder distinguir-me dos outros. 
Apenas onde existe essa distinção, pode aparecer um relacionamento. 
Ainda que de modo geral se faça essa distinção, ela é normalmente 
cheia de lacunas, podendo talvez permanecer inconscientes regiões 
muito amplas da vida psíquica. Quanto aos conteúdos inconscientes 
não é possível qualquer distinção; e, por isso, nesse campo não pode 
ser estabelecido nenhum relacionamento; nessa região reina ainda o 
estado inicial da identidade primitiva do ‘eu’ com os outros, e assim 
ausência completa de relacionamento (JUNG, 2013, p. 202). 
 
Jung (2013, p. 202) considera que quanto maior for a extensão da 
inconsciência, igualmente menor se tratará de uma escolha livre no casamento; 
e mesmo quando faltar o apaixonamento continuará a existir a coação. Os 
motivos inconscientes são de natureza pessoal e geral. Em primeiro lugar, estão 
os motivos provenientes da influência dos pais, sendo decisivo para o rapaz o 
relacionamento com a mãe e para a moça o relacionamento com o pai. O grau 
de ligação aos pais influencia, em primeiro lugar, favorecendo ou dificultando a 
escolha do parceiro. Assim, o amor consciente para com o pai e a mãe favorece 
a escolha de um parceiro semelhante ao pai ou a mãe; mas, ao contrário a 
ligação inconsciente dificulta a escolha do parceiro e força modificações 
curiosas. 
É o próprio Jung que ilustra esta questão: 
 
Em regra, a vida que os pais podiam ter vivido, mas foi impedido por 
motivos artificiais, é herdada pelos filhos, sob uma forma oposta. Isto 
significa que os filhos são forçados inconscientemente a tomar um 
rumo na vida que compense o que os pais não realizaram na própria 
vida (...) A inconsistência artificial dos pais tem as piores 
consequências (...) A escolha do cônjuge poderá ficar livre de tais 
influências, se os instintos não estiverem atrofiados, mas cedo ou tarde 
se manifestarão certos obstáculos. A escolha feita apenas sob o 
impulso do instinto poderia ser a melhor, do ponto de vista da 
conservação da espécie; do ponto de vista psicológico, porém, nem 
sempre é a acertada porque muitas vezes há de existir uma grande 
distância entre a personalidade meramente instintiva e a personalidade 
individualmente diferenciada. (JUNG, 2013, p. 203- 204). 
 
Sendo assim, desde que o relacionamento não tenha sido arranjado pela 
inteligência, pela astúcia, ou pelo tal amor providente dos pais, a escolha do 
parceiro, normalmente, se realiza por motivos inconscientes e instintivos, se 
supondo, igualmente, que não tenha havido deformação do instinto primitivo dos 
filhos. 
39 
 
Ao apresentar alguns questionamentos na carta dirigida à Julieta, a autora 
faz projeções de suas intenções no encontro com o outro: “Será que nos dias de 
hoje, onde há pressa para tudo e tudo é tão efêmero, ainda podemos esperar 
um companheiro para a vida toda? “Alguém que queira gastar uma vida com 
você? Alguém que você não perde nunca?”. (Cf. ANEXO A) 
Para Jung (2013, p. 216), projetar conteúdos inconscientes é um fato 
natural e normal, um processo espontâneo em que os conteúdos do inconsciente 
de alguém são percebidos como estando em outra(s) pessoa(s) ou (objeto) 
externo(s). 
A projeção é sempre um mecanismo inconsciente. Para Von Franz (1915, 
p. 280,281), consiste em deslocar um conteúdo psíquico para um objeto externo 
e considerar a qualidade ou atributo deslocado como inerente ao próprio objeto. 
Tudo o que projetamos é conteúdo interno nosso e não do outro, criando assim 
idealizações comuns dessas projeções. 
As idealizações podem se tornar um problema nas relações interpessoais, 
uma vez que criam uma imagem irreal do outro, seja essa imagem negativa ou 
positiva. E então a forma como nos comportamos com o outro passa a ser 
orientada de acordo com a nossa percepção dessa imagem que, tem a ver não 
com o outro, mas com nós mesmos. 
A autora da carta expressa seus desejos, anseios, medos e sentimentos, 
trazendo à consciência conteúdos do seu inconsciente, integrando assim os 
aspectos separados entre esses dois universos e consequentemente, 
aproximando-se do si mesmo, o que para Jung é o objetivo da vida de todo ser 
humano: aumentar o nível de consciência. E que cada indivíduo siga sua jornada 
na busca pela individuação. 
Quando compartilha com a figura de Julieta a busca pelo amor idealizado, 
a autora expressa seu desejo. 
 
Eu realmente espero que sim, somos duas otimistas, acredito. Julieta, 
espero que eu encontre o meu Romeu um dia, e seja esperta o 
suficiente para reconhecê-lo.” “Espero que tenhamos o amor que meus 
avós tiveram – apesar de imperfeito – atemporal e infinito. (Cf. ANEXO 
A). 
40 
 
5 CONCLUSÃO 
 
 
O ponto central desse estudo foi refletir sobre se a busca pelo amor ideal 
nos aproxima ou nos distancia do encontro com o si mesmo. 
Os conceitos de psicologia analítica, aqui citados mostraram que o 
processo de individuação, depende da busca que o indivíduo fará para conhecer 
a si mesmo, seu eu interior e que somente conhecendo a si mesmo, será livre 
para ir ao encontro do seu par ideal. Para tanto, necessita trabalhar para trazer 
à consciência os conteúdos do seu inconsciente. 
A exemplo da carta aqui anexada, a busca pelo amor idealizado, 
verdadeiro, se faz presente nos dias de hoje de maneira constante, como uma 
necessidade de tomar água para matar a sede, comer para matar a fome. O 
amor, ah, o amor, uma delícia que transforma o ser humano, que transpõe 
barreiras, e o faz amar...e ser amado, como num conto de fadas. 
Entende-se, portanto, que a pretensão deste trabalho em enriquecer e 
aprimorar conhecimentos com a finalidade de desenvolver maior conhecimento 
sobre o tema foi atingido, além de proporcionar ao leitor maior compreensão 
sobre o processo do encontro com o si mesmo. Porém, por se tratarem, o amor 
e a individuação, temas relevantes sugere-se que novas pesquisas sejam 
desenvolvidas com o objetivo de aprofundar o conhecimento neste campo. 
41 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
BAIR, Deirdre, Jung: Uma biografia. São Paulo: Editora Globo, 2006. 
 
 
BELOTTI, A. Almas gêmeas e o Mito do Andrógino. Disponível em: 
<https://www.somostodosum.com.br/artigos/espiritualidade/almas-gemeas-e-o-
mito-do-androgino-3970.html> Acesso em: 15 mar. 2018. 
 
 
CAROTENUTO, Aldo. Eros e Pathos. São Paulo: Paulus, 1994. 
 
 
DEIRDRE, B. Jung: uma biografia. Vol. I. São Paulo: Globo, 2006. 
 
 
FISICAPSICOLOGIA. Matéria e Psique: estruturas e conexões. Disponível 
em: <https://seletynof.wordpress.com/2007/04/05/estrutura-da-psique-ii/>. 
Acesso em: 11 jun. 2018. 
 
 
HALL, Calvin S. & NORDBY, Vernon J. Introdução à psicologia Junguiana. [1. 
ed. 11. reimpressão] São Paulo: Cultrix, 2014. 
 
 
JULIET CLUB. Disponível em: <www.julietclub.com/en/>. Acesso em: 10

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