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UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL - USCS DEISE GUELERE A BUSCA DO AMOR IDEALIZADO NA VISÃO JUNGUIANA Profa. Ma. Paluana Luquiari São Paulo – SP 2018 UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL - USCS PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA ANALÍTICA: ABORDAGEM JUNGUIANA DEISE GUELERE A BUSCA DO AMOR IDEALIZADO NA VISÃO JUNGUIANA Trabalho de Conclusão apresentado ao curso de Pós-Graduação em Psicologia Analítica: abordagem Junguiana, oferecido pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS, como requisito parcial para obtenção do grau de especialista, sob a orientação da Profa. Paluana Luquiari, Ma. São Paulo – SP 2018 Termo de Aprovação Aluna: Deise Guelere Título: A busca do amor Idealizado na visão Junguiana Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação em Psicologia Analítica: abordagem Junguiana, oferecido pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS, como requisito parcial para obtenção do grau de especialista, sob a orientação da Profa. Paluana Luquiari, Ma. São Paulo, ______de ________________ de 2018. Banca examinadora: _________________________________________ Ma. Paluana Luquiari Orientadora - USCS _________________________________________ Prof.ª Eugenia Cordeiro Curvêlo Coordenadora – Examinadora Interna - USCS Dedico ao meu marido e companheiro, o meu Eros, Valter Cesar de Farias que sempre me apoia e incentiva aos meus filhos Bruno e Luana pela compreensão e torcida, e aos meus pais por todo o apoio em mais uma jornada. AGRADECIMENTOS À minha querida amiga Carmen Silvia Amaral Ramos, por todo suporte e contribuição, ouvindo sempre atentamente minhas ideias e por compartilhar comigo cada fase desse trabalho. A minha amiga-irmã Luciane que sempre dividiu comigo as alegrias e aflições nesta fase da minha vida. Sem vocês esta caminhada não teria a menor graça. E a todos os meus mestres, em especial Professora Eugenia Curvêlo, Professora e Orientadora Paluana Luquiari e colegas de formação que contribuíram de forma direta nessa vitória. Muito obrigada a todos vocês. Soneto da fidelidade “De tudo, ao meu amor serei atento antes E com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure”. (Vinícius de Moraes-1946) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7 1.1 Problematização ................................................................................................. 8 1.2 Justificativa ......................................................................................................... 9 1.3 Objetivos ........................................................................................................... 10 1.4 Metodologia ...................................................................................................... 10 2 REVISÃO TEÓRICA ......................................................................................... 12 3 TEMA ................................................................................................................ 27 4 DISCUSSÃO..................................................................................................... 36 5 CONCLUSÃO ................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 41 ANEXO A – Carta analisada.................................................................................... 44 7 1 INTRODUÇÃO No dia a dia de uma vivência clínica observa-se cada vez mais a angústia das pessoas pelo encontro com o amor verdadeiro, romântico e idealizado. A expectativa pelo encontro desse amor ocasiona, além da ansiedade, vivências de solidão e de insatisfação constante. Mas será que existe o amor verdadeiro, aquele que nos faz sonhar e acordar todos os dias ao lado da pessoa amada? Será que amamos apenas uma vez na vida e esse é o amor verdadeiro, romântico e idealizado? Difícil responder... mas, nessa busca constante pelo amor que afaga, que sufoca, que nos faz rir e chorar ao mesmo tempo, existe também a busca da felicidade, do “estar junto” e do “ficar junto”. No entanto, a busca por esse amor que todos querem, nos leva a pensar o quanto essa procura pelo outro e a projeção desse amor idealizado e romântico nos distancia do encontro com o si mesmo e do nosso processo de individuação. Será que existe o amor a exemplo dos mitos de “Romeu e Julieta” e de “Eros e Psique”, embora diferentes, mas, um amor que ultrapassou as barreiras? Se existe mesmo o amor verdadeiro, e devemos acreditar que sim, ao mesmo tempo deixamos muitas vezes de ser quem somos, para nos dedicar àquele do qual esperamos tudo, e passamos a nos dedicar somente a ele. Para entender o que leva um ser humano a querer e buscar um amor igual ao que se vê no cinema, nas peças de teatro, na televisão, é preciso ir muito mais além do que simplesmente ler, estudar e entender os ensinamentos da psicologia analítica, base deste trabalho. É preciso viver ou ter vivido esse amor, a exemplo de Eros e Psiquê e Romeu e Julieta, amor esse, que segundo a história representou, sem dúvida, o amor sem fronteiras eterno e, porque não dizer, “o amor verdadeiro ou idealizado”? Difícil dizer. No entanto, o resultado apontou para a responsabilidade de descobrirmos e entendermos a essência masculina e feminina que há dentro de cada um de nós para que, dessa forma, possamos nos estruturar enquanto um ser único e, posteriormente partir em direção ao outro, sem esgotar obviamente a continuidade dessas descobertas. É o que Carl Jung chama de individuação. 8 1.1 Problematização Para Carl. G. Jung, idealizador da Psicologia Analítica, só podemos nos desenvolver plenamente, quando integramos nossa individualidade e nossa capacidade de nos relacionar. Esse processo é chamado de “Individuação” que estimula o indivíduo a criar condições para que cada um desperte o melhor de si e do outro, o tempo todo, fazendo-o sair do isolamento e empreender uma convivência mais ampla e coletiva, por estar mais próximo, conscientemente da totalidade, mas ainda mantendo sua individualidade. A individuação consiste em aproximar o mundo do indivíduo e não excluí-lo do mesmo. A individuação, em geral, é o processo de formação e particularização do ser individual e, em especial, é o desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser distinto do conjunto, da psicologia coletiva. É, portanto, um processo de diferenciação que objetiva o desenvolvimento da personalidade individual. (…). Uma vez que o indivíduo não é um ser único, mas pressupõe também um relacionamento coletivo para sua existência, também o processo de individuação não leva ao isolamento, mas a um relacionamento coletivo mais intenso e mais abrangente. (JUNG, 2013, p. 468). Inclui-se nesse processo o inconsciente pessoal, repositório de nossos conteúdos reprimidos, os complexos, e o inconsciente coletivo, os arquétipos, nossa herançauniversal, nos convidando ao autoconhecimento. Ao entrarmos em contato com nossos conteúdos inconscientes obtemos uma compreensão maior de nossa integridade e criamos um relacionamento saudável consigo, com o outro e com a sociedade. Ainda sob essa ótica, o processo de individuação se refere a dois aspectos: a característica bipolar do ser, cada homem traz dentro de si seu aspecto feminino, assim como a mulher traz também em seu interior psicológico o seu aspecto masculino e outro aspecto da individualidade quanto ao consciente e inconsciente. Enquanto não conhecermos nossa estrutura inconsciente seremos seres divididos, onde a potencialidade de nosso Eu Interior, continua latente sem que possamos alcançá-la. Nesse aspecto, os arquétipos anima e animus representam os conteúdos de idealizações inconscientes, sendo modelos de perfeição considerados ideais para o indivíduo em si que foram direcionados pelo histórico de desenvolvimento de cada um. Então, é necessário que o ser humano tenha consciência de suas projeções e alcançar a realidade presente na outra pessoa procurando reconhecer todas as suas 9 idealizações e também as idealizações do outro. Para Jung, é essencial que todas as nossas expectativas em relação aos outros sejam apenas idealizações produzidas pelo inconsciente para essa tomada de consciência. No arquétipo do amor romântico, duas almas se unem, dois pares, um masculino e outro feminino, para se completarem na magnitude do amor que de dois se faz um só. Frente à ansiedade na busca pelo encontro desse amor idealizado, as expectativas com relação à complementação de nós pelo outro, muitas vezes tornam- se algo intangível, afastando-nos da consciência da nossa real projeção interna, e, consequentemente, nos distanciando do processo de individuação. Então, o quanto essa busca por um amor idealizado, realmente nos afasta do encontro com o si mesmo? Nesse sentido, vale lembrar as palavras de Fernando Pessoa, no “Livro do Desassossego” (1982, p. 338) ao destacar: “Nunca amamos ninguém. Amamos, tão somente, a ideia que fazemos de alguém. É um conceito nosso- em suma, é a nós mesmos que amamos!”. 1.2 Justificativa No século 17, o francês La Rochefoucauld, escreveu: “Há pessoas que nunca teriam amado se não tivessem ouvido falar de amor”. Em outras palavras, o amor é uma só palavra que representará sempre o “verdadeiro” amor. O amor e as várias formas de amar, ainda é um assunto atual e o “amor romântico” está presente na busca pelo parceiro ideal nos relacionamentos pós- modernos, influenciando no estado emocional, profissional e social do indivíduo. Na cultura ocidental contemporânea, a expressão amor romântico refere-se à maioria das formas de atração entre os gêneros, geralmente homens e mulheres. O que motivou a realização deste trabalho foi a possibilidade de analisar o que leva o ser humano a procurar incansavelmente pelo seu par perfeito, através de um olhar romanceado gerando a expectativa de amar e ser amado incondicionalmente, a exemplo do mito do amor romântico, baseado nas histórias de Romeu e Julieta e de Eros e Psiquê. Ao mesmo tempo em que o ser humano busca o amor verdadeiro e luta para encontra-lo, deve estar preparado para perdê-lo, a exemplo de Romeu e Julieta e Eros 10 e Psiquê. O que fazer diante da perda? Esquecer o amor conquistado, esperado ou simplesmente renunciar à vida? Para Jung (2013, p. 406): Justifica-se trazer para o centro das discussões o conceito de amor romântico e o quanto a busca pelo par perfeito pode gerar frustações e distanciar o indivíduo do encontro com o si mesmo. Além disso, pode vir a impactar diretamente na maneira como as pessoas se relacionam e propiciar uma reflexão a respeito da importância de se estabelecer com o outro ligações e vínculos realmente significativos para o processo de síntese de personalidade também nomeado por Jung de individuação, o “tornar-se único” ou desenvolvimento da individualidade. Considerando que a produção científica tem como objetivo apropriar-se da realidade para melhor analisá-la e, posteriormente, produzir transformações, a discussão sobre a busca do amor idealizado e o distanciamento ou não do encontro com o si mesmo pode ser o início de um processo de transformação que começa na academia e estende seus reflexos para a realidade social. Para os estudos da Psicologia e a área de conhecimento que envolve a Psicologia Analítica, pesquisas e trabalhos sobre o processo de individuação são cada vez mais necessários e pertinentes. 1.3 Objetivos O objetivo geral é refletir sobre a busca pelo amor ideal, procurando compreender se ele nos aproxima ou nos distancia do encontro com o si mesmo. Como objetivo específico, temos a análise de uma carta romanceada, selecionada entre milhares que são endereçadas ao Club Di Giullieta. A carta, escrita por uma jovem, procura o amor verdadeiro e, neste sentido, entende-se, sob a ótica da Psicologia Junguiana, uma relação com o mito de Eros e Psiquê e Romeu e Julieta. 1.4 Metodologia O modelo de pesquisa utilizado neste trabalho teórico foi o levantamento bibliográfico, dentro da abordagem Junguiana, investigação de seus conceitos e 11 análise crítica de uma carta entre uma amostra de 50 das que são direcionadas ao Club Di Giulietta que, segundo dados divulgados no site do Club, recebe 50.000 cartas por ano de todas as partes do mundo. A escolha pela carta em questão, deve-se ao fato de que, conceitos da teoria analisada se fazem presentes no conteúdo. Para tanto, serão adotados estudos da Psicologia Analítica e seus conceitos, com base em autores como o próprio Carl G. Jung, em Obras Completas, Memórias, Sonhos e Reflexões e outros teóricos junguianos como, Nise da Silveira, Marie-Louise Von Franz, John Sanford, e Murray Stein, entre outros. 12 2 REVISÃO TEÓRICA A fundamentação teórica deste estudo tem como base a Psicologia Analítica, desenvolvida por Carl Gustav Jung. Carl Jung nasceu em 26 de julho de 1875, no vilarejo de Kesswil, Suíça. Filho do pastor protestante Johann Paul Achiles Jung e de Emille Preiswerk, recebeu o nome Karl Gustav II Jung, em homenagem ao seu ilustre avô paterno, um bem- sucedido cirurgião-professor, Carl Gustav Jung (avô) por quem, em seu livro “Memórias, Sonhos e Reflexões” (2006, p. 23), Jung deixa clara sua admiração. A maneira de escrever o primeiro nome foi modernizada, uma vez que os pais haviam observado o velho costume suíço de indicar que ele era o segundo a receber o nome escrevendo o número romano antes do sobrenome da família. (BAIR, 2006, p. 7). Jung tinha restrições ao pai, pastor protestante, a quem considerava com certa tristeza, pois via nele um homem estagnado pelas crenças religiosas. Tinha pela mãe muito mais apreço, porém, ainda menino, descobriu nela duas personalidades: uma inofensiva e humana, e outra estranha e autoritária, embora se mostrasse boa e extremamente simpática. Destaca-se também uma personalidade inconsciente de aspecto sombrio. Na infância, Jung foi uma criança tímida que vivenciou em suas experiências multiplicidade de símbolos. Cresceu em uma casa com enorme biblioteca, onde leu vários livros diferentes, tornando-se assim, um estudioso das mais diversas áreas, como as religiões orientais, a alquimia, a parapsicologia e a mitologia, entre outras. Dessa forma, sua análise sobre a natureza humana leva em consideração todos esses assuntos e faz com que ele desperte interesse e seja estudado por várias áreas além da psicologia. No ano de 1900, aos 25 anos concluiu o curso de Medicina e ocupou um cargo de segundo assistente no hospital de Zurique, que vivia na ocasião um período de intensa atividade científica, sob a direção de um dos maiores psiquiatras, Dr. EugenBleuler. Nesse mesmo ano, entrou em contato com a obra “A interpretação dos sonhos”, de Freud. Em 1902, Jung passou a primeiro assistente e defendeu sua tese de doutoramento; casou-se com Emma Rauschenbach em 1903, com quem teve cinco filhos e em 1905 assumiu o posto imediatamente abaixo de Bleuler. (SILVEIRA, 1981, p. 13). 13 Em fevereiro de 1907, Freud e Jung se encontraram e conversaram durante treze horas seguidas. Jung considerou este encontro essencial, e Freud, como o primeiro homem de real importância em sua vida. Esse primeiro contato deu início às sucessivas correspondências e a uma intensa colaboração científica e relação pessoal, de 1907 a 1912. Freud referia-se a Jung como seu sucessor, porém Jung, que já percebia diferenças importantes entre o seu pensamento e as formulações de Freud, sobretudo referentes a conceitos básicos, religião e interpretação dos sonhos, mas principalmente em relação à teoria da libido, sentia-se desconfortável com tal referência ao seu nome. Com o tempo, essas divergências se aprofundaram e culminaram na ruptura desse relacionamento. Em seu livro “Memórias, sonhos e reflexões”, Jung escreve sobre uma lembrança de Freud lhe dizendo: Meu caro Jung, prometa-me nunca abandonar a teoria sexual. É o que importa, essencialmente! Olhe, devemos fazer dela um dogma, um baluarte inabalável.” Ele me dizia isso cheio de ardor, como um pai que diz ao filho: “Prometa-me uma coisa, meu caro filho: vá todos os domingos à Igreja!”. Um tanto espantado, perguntei-lhe: “Um baluarte – contra o quê?” Ele respondeu- me: “Contra a onda de lodo negro do... “Aqui ele hesitou um momento e então acrescentou:” ... do ocultismo! O que me alarmou em primeiro lugar foi o “baluarte” e o “dogma”; um dogma, isto é, uma profissão de fé indiscutível surge apenas quando se pretende esmagar uma dúvida, de uma vez por todas. Não se trata mais de julgamento científico, mas revela somente uma vontade de poder pessoal. Esse choque feriu o cerne de nossa amizade. Eu sabia que jamais poderia concordar com essa posição. (JUNG, 2013, p. 158). Jung então renunciou à Associação Internacional de Psicanálise e se afastou da Universidade de Zurique, onde ensinara por oito anos como livre docente. Depois do texto de 1911, “Metamorfose e Símbolo da Libido,” ficou impossibilitado de ler qualquer obra científica e escreveu relativamente pouco, somente alguns artigos em inglês, até a publicação de “Tipos psicológicos”, em 1921. Esse período foi extremamente difícil para Jung, que teve de reunir forças para seguir a sua jornada, relembrando as imagens da infância e se dedicando ao seu passatempo: construir maquetes em pedras, com a finalidade de reorganizar seu eu e reestruturar os seus objetivos. No período entre 1914 até a sua morte, em seis de junho de 1961, Jung dedicou-se às suas teorias, principalmente à psicologia analítica, em que analisou diversos povos e culturas. Em 1933, Jung retornou à atividade docente na Escola 14 Politécnica de Zurique. Mais tarde foi nomeado professor titular e em 1944 passou a professor efetivo de medicina psicológica, criada em sua homenagem, porém, nesse mesmo ano fraturou o pé e logo depois sofreu um enfarte. Devido à debilitação física, aposentou-se em 1945. Ao longo de sua vida, recebeu homenagens e títulos, como presidente da Sociedade Médica Geral de Psicoterapia (1933) e doutor Honoris Causa da Universidade de Genebra (1945). Além disso, fundou, em 1948, o Instituto Carl Gustav Jung em Zurique. O desenvolvimento das pesquisas de Jung o fez estudar as relações do homem com o seu meio exterior, nas relações com o outro, e as relações consigo mesmo. De seus estudos e experiências, Jung extraiu um mapa da alma humana, que descreve a psique em todas as suas dimensões, e também procura explicar sua dinâmica interna. Porém, Jung foi sempre cuidadoso e respeitoso do mistério supremo da psique. Sua teoria pode ser lida como um mapa à alma, mas é o mapa de um mistério que não pode, em última instância, ser captado em termos e categorias racionais. É o mapa de uma coisa viva, palpitante, mercurial – a psique. (STEIN, 2006, p. 15). Jung desenvolve então a Psicologia Analítica, também conhecida como Psicologia Junguiana que denomina como um todo a personalidade de psique. Seu significado denota a personificação da “alma” ou “espírito” e abarca os pensamentos, sentimentos e comportamentos tanto conscientes quanto inconscientes. “Funciona como um guia que regula e adapta o indivíduo ao ambiente social e físico.” (HALL & NORDBY, 2014, p. 25). Segundo Jung, o conceito de psique sustenta a ideia primordial de que uma pessoa é um todo unificado e não uma reunião de partes, rejeitando assim, uma psique fragmentária. O ser humano não lutaria para se tornar uma totalidade, pois ele já nasce como um todo e durante sua existência lhe cabe desenvolver esse todo essencial até chegar ao mais alto grau possível de integração, diferenciação e consonância. Jung mergulhou na busca por desvendar a psique humana. A seguir, uma breve descrição dos principais conceitos desenvolvidos por ele e que auxiliaram no entendimento deste trabalho. 1. Psique 15 Segundo Jung, (apud Hall & Nordby, 2014, p. 25), a psique abrange pensamentos, sentimentos, comportamentos conscientes e inconscientes. Funciona como guia que regula e adapta o indivíduo ao ambiente social e físico. A pessoa é um todo – não luta para ser, já é, nasce como um todo. Durante a existência, esse todo deve ser desenvolvido, resultando em coerência, diferenciação e harmonia; e evitando fracionamento em sistemas separados, autônomos e conflitantes. Figura 1 – O modelo junguiano da psique Fonte: FISICAPSICOLOGIA, 2018. 2. Individuação O processo de individuação ocorre quando uma pessoa se torna ela mesma, íntegra e diferente da coletividade, sem se isolar, e desenvolve a personalidade no seu sentido único e singular. 16 Ao nos desenvolver naquilo que somos únicos, nos deparamos com a totalidade, ou o Self, pois para o indivíduo ser íntegro é necessário abranger sua totalidade do ser. “O processo que conduz a ela [a experiência do Self] foi por Jung denominado ‘processo de individuação’”, (JUNG, C.G. 2016, p. 117), ou, em outras palavras, o conceito de si-mesmo, que oferecia a melhor explicação possível para um dos mistérios centrais da psique – sua criatividade aparentemente milagrosa, sua dinâmica centralizadora e suas estruturas profundas de ordem e coesão. Jung, (apud Stein, 2006, p. 152). Para Jung (apud von-Franz, 1992, p. 112): A semente de um pinheiro da montanha contém em si a futura árvore em forma latente; mas cada semente cai a seu tempo num lugar próprio; sob o efeito de fatores diversos, como a qualidade do solo ou as rochas, o grau de declive e de exposição ao sol e ao vento. A totalidade latente do pinheiro na semente reage a essas circunstâncias desviando-se das pedras e inclinando- se para o sol, o que acaba moldando o crescimento da árvore. Assim um pinheiro individual lentamente toma corpo, constituindo a realização da sua totalidade, sua manifestação no mundo da realidade. Na falta da árvore viva, a imagem do pinheiro é apenas uma possibilidade, uma ideia abstrata.... A realização dessa singularidade no indivíduo é o objetivo do processo de individuação. Jung considera que a individuação consiste, objetivamente, integrar o inconsciente na consciência. É um processo de diferenciação cujo objetivo é o desenvolvimento da personalidade individual. Uma vez que o indivíduo não é um ser único, mas pressupõe também relações coletivas, o processo de individuação não leva ao isolamento, mas a um relacionamento coletivo mais intenso e mais abrangente. (JUNG, 2013, p. 467-468). Sendo assim, o Self representa o ser em sua totalidade e também o centro organizador, autorreguladore integrador. No processo de desenvolvimento da consciência, que envolve a totalidade, o ego reconhece que é o centro da consciência, mas não o centro da personalidade como um todo. Muda-se o foco da consciência do ego para o Self. Quando isso [o processo de individuação] ocorre positivamente, em vez de uma separação, produz uma união com o inconsciente coletivo, e significa uma expansão da consciência, juntamente com uma diminuição da intensidade do complexo do ego. Quando isso acontece, o ego retira-se em favor do inconsciente coletivo. Atingir esse ponto em que a realidade externa e a realidade interna (a terra e o céu) se tornam uma só é a meta da individuação. (vON FRANZ, 1992, p. 153) 17 Assim, tornar-se único e integro é o próprio processo de amadurecimento que envolve o fortalecimento do ego, o reconhecimento do Self e sua realização. “Talvez a individuação seja, antes de qualquer coisa, assumir a sua própria condição humana tal qual se apresenta, e vivê-la com todas as suas implicações e riquezas, sempre se referindo ao Centro que é ao mesmo tempo o objetivo e a própria vida.” (BONAVENTURE in von FRANZ, 1985, p. 15). 3. Inconsciente Segundo Jung, o inconsciente é exclusivamente um conceito psicológico e não filosófico, no sentido metafísico. É um conceito-limite psicológico que abrange todos os conteúdos ou processos psíquicos que não são conscientes, isto é, que não estão relacionados com o eu de modo perceptível. (JUNG, 2013, p. 465). Tudo o que conhecemos a respeito do inconsciente foi-nos transmitido pelo próprio consciente. A psique inconsciente, cuja natureza é completamente desconhecida, sempre se exprime através de elementos conscientes e em termos de consciência, sendo esse o único elemento fornecedor de dados para a nossa ação (JUNG, 1972, p. 22). Os conteúdos do inconsciente podem ser originários do Inconsciente pessoal e do Inconsciente Coletivo. 3.1. Inconsciente Pessoal O inconsciente pessoal, para Jung (apud Silveira 1981, p. 72), refere-se às camadas mais superficiais do inconsciente, cujas fronteiras com o consciente são bastante imprecisas. Estão aí incluídas as percepções e impressões subliminares dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente. Para Jung (2013, p. 466), o inconsciente pessoal engloba todas as aquisições da existência pessoal: o esquecido, o reprimido, o subliminarmente percebido, pensado e sentido. Esses diversos elementos, embora não estejam em conexão com o ego, nem por isso deixam de ter atuação e de influenciar os processos conscientes, podendo provocar distúrbios tanto de natureza psíquica quanto de natureza somática. 3.2. Inconsciente Coletivo Para Jung (1972, p. 65), o inconsciente coletivo é a camada mais profunda que conseguimos atingir na mente do inconsciente, é aquela em que o homem perde sua 18 individualidade particular, mas, sua mente é onde sua mente se alarga mergulhando na mente da humanidade - não a consciência - mas o inconsciente, onde somos todos iguais. O inconsciente coletivo funciona, na interpretação psicológica, como o denominador comum que reúne e explica numerosos fatos impossíveis de entender, no momento atual da ciência, sem sua postulação. Enquanto o inconsciente pessoal é composto de conteúdos cuja existência decorre de experiências individuais, os conteúdos que constituem o inconsciente coletivo são impessoais, comuns a todos os homens e transmitem-se por hereditariedade. (SILVEIRA, 1981, p. 76). 4. Consciente ou Consciência Segundo Jung (2013, p. 440), a consciência é função ou atividade que mantêm a relação dos conteúdos psíquicos com o eu. A psique não é o mesmo que consciência, pois, representa o conjunto de todos os conteúdos psíquicos. Há grande carga de energia psíquica e conteúdos acessíveis ao ego e geralmente se opõe ao que há no inconsciente. Jung considera que nossa consciência não se cria a si mesma, mas emana de profundezas desconhecidas. Desperta gradualmente na criança, e cada manhã, ao longo da existência, desperta das profundezas do sono, saindo de um estado de inconsciência. Compara-se a uma criança que nasce diariamente do inconsciente materno. Um estudo mais aprofundado da consciência revela que ela não é somente influenciada pelo inconsciente, mas deriva constantemente do abismo do inconsciente, sob a forma de várias ideias espontâneas (JUNG, 2016, p. 400). 5. Ego ou Eu Segundo Hall & Nordby (2014, p. 27), Ego é a denominação dada por Jung à organização da mente consciente. O Ego é o sujeito da ação consciente, ele é o primeiro complexo a se formar na consciência, sendo seu centro. Embora ocupe uma pequena parte da psique total, o ego desempenha a função básica de vigia da consciência. O processo de desenvolvimento da personalidade, a individuação, consiste em diferenciar o ego de suas estruturas arquetípicas auxiliares. O ego, o Self (centro organizador da psique) e o ego onírico (o eu dos sonhos) são instâncias psíquicas 19 diferentes. O ego se baseia no arquétipo do si mesmo, sendo, de certa forma, seu agente no mundo da consciência. Como vigia da consciência, o Self é altamente seletivo: determina o que chegará à consciência. Fornece identidade e continuidade: mantém qualidade contínua de coerência na personalidade. Relação íntima e importante com a individuação: sensação de sermos a mesma pessoa hoje e ontem. O ego atua segundo critérios das quatro funções dominantes relacionados à angústia causada. Quanto mais próximo da individuação, maior o número de experiências conscientes. 6. Arquétipos Para Jung (apud Silveira 1981, p. 78) o arquétipo funciona como um nódulo de concentração de energia psíquica. Quando essa energia, em estado potencial, atualiza-se, toma forma, então teremos a imagem arquetípica. Não podemos denominar essa imagem de arquétipo, pois, arquétipo é unicamente uma virtualidade. Os arquétipos são o conteúdo do inconsciente coletivo e universais, ou seja, o núcleo do complexo, onde todos herdam as mesmas imagens arquetípicas básicas e quando essa soma tornar o complexo suficientemente forte, ele pode chegar à consciência. Esse é o caminho para que o arquétipo se torne consciente e se manifeste no comportamento. Jung (apud HALL & NORDBY, 2014, p. 34). 7. Persona A persona é a personalidade externa, é a maneira por que se dá a comunicação com o mundo. Cada estado ou cada profissão, por exemplo, possui sua persona característica. É a face externa da psique máscara ou fachada ostentada publicamente com a intenção de provocar intenção favorável a fim de ser aceito pela sociedade. Confere a possibilidade de convivermos com as pessoas amistosamente, base da vida social e comunitária. A recompensa por ela acarretada pode ser utilizada para levar uma vida privada mais satisfatória e mais natural. Pode-se usar mais de uma máscara – conformação de diferentes maneiras a situações diversas, de forma positiva ou negativa. Quando há identificação excessiva do ego, os demais aspectos da personalidade são negligenciados, e há tensão decorrente da persona superdesenvolvida e das partes subdesenvolvidas. (JUNG, 2016, p. 37). 20 8. Anima e animus Segundo Jung (2016, p. 400,401), anima e animus representam a personificação da natureza feminina do inconsciente do homem e da natureza masculina do inconsciente da mulher. Tal bissexualidade psíquica é o reflexo de um fato biológico; o maior número de genes masculinos (ou femininos) determina os sexos. Um número restrito de genes do sexo oposto parece produzir um caráter correspondente ao sexo oposto, mas, devido à sua inferioridade, usualmente permanece inconsciente. Todas as manifestações arquetípicas, e, portanto, também o animus e a anima, têm um aspecto negativo e um aspecto positivo. Um aspecto primitivo e um aspecto diferenciado. ParaJung (2016, p. 400,401), o animus, em sua primeira forma inconsciente, é uma instância que engendra opiniões espontâneas, involuntárias, exercendo uma influência dominante sobre a vida emocional da mulher; a anima é, por outro lado, uma instância que engendra sentimentos espontâneos, os quais exercem uma influência sobre o entendimento do homem, nele provocando distorções. O animus é projetado particularmente em personalidades “espirituais” e toda espécie de “heróis” (inclusive tenores, “artistas”, esportistas, etc.) A anima se apodera facilmente do elemento que na mulher é inconscientemente, vazio, frígido, desamparado, incapaz de relação, obscuro e equívoco... No decurso do processo de individuação, a alma se associa à consciência do eu e possui, pois, um índice feminino no homem e masculino na mulher. A anima do homem procura unir e juntar; o animus da mulher procura diferenciar e reconhecer. São posições estritamente contrárias... No plano da realidade consciente anima e animus constituem uma situação conflitual, mesmo quando a relação consciente dos dois parceiros é harmoniosa. Para Neuman (1999, p. 41): A anima é o veículo por excelência do caráter de transformação. Ela é a movimentadora e o impulso à transformação, cuja fascinação impele, seduz e estimula o masculino a todo tipo de aventuras da alma e do espírito, da ação e da criação no mundo interior ou exterior. 9. Sombra A sombra está nos aspectos mais repugnantes de nosso ser, que por não serem aceitos são relegados ao inconsciente. Quanto mais unilaterais formos em 21 olhar apenas paras as qualidades que julgamos ter, tanto mais autônomos ficam os conteúdos sombrios que possuímos, surgindo do inconsciente de onde foram relegados. Para Jung, sombra “é a parte negativa da personalidade, isto é, a soma das propriedades ocultas e desfavoráveis, das funções mal desenvolvidas e dos conteúdos do inconsciente pessoal” (2013, p. 58). É importante para a economia psíquica considerar o par complementar da consciência, o inconsciente. E neste processo, o primeiro passo é olhar para o inconsciente e ver a sombra que está encoberta pela persona. Esta última, que criamos para nos proteger do mundo externo, também é utilizada para escondermos de nós a própria sombra, e é a primeira que enxergamos ao olhar no espelho. Diante deste ato de coragem, se formos mais além poderemos ver por trás da persona os aspectos de nossa personalidade que consideramos malignos, e que fomos incapazes de assumir. Lá estará nossa sombra. A sombra nos fala do inconsciente pessoal, embora muitas vezes esteja permeada de associações e projeções de elementos arquetípicos coletivos, o que torna mais difícil o seu reconhecimento. Para Jung (2013, p. 31): A sombra, porém, é uma parte viva da personalidade e por isso quer comparecer de alguma forma. Não é possível anulá-la argumentando, ou torná-la inofensiva através da racionalização. Este problema é extremamente difícil, pois não desafia apenas o homem total, mas também o adverte acerca do seu desamparo e impotência. Neste sentido, assim como os conteúdos do inconsciente, a sombra faz parte de nós mesmos, por mais que a neguemos. Para Jung, é caminho necessário para o autoconhecimento a confrontação com este mal que existe em nós. O homem arcaico se defendia da sombra projetando em personalidades e objetos coletivos, e quanto mais imerso na coletividade estiver, menos terá que enfrentar seus aspectos individuais sombrios. Entretanto, como vimos, o homem dos tempos modernos perdeu muito em suas crenças místicas, sendo que esta solução não está mais servindo para explicar o mal do mundo, e o mal em si mesmo na forma de sombra. Neste processo, há ainda quem se utiliza dos meios arcaicos de projeção do mal nas pessoas externas, e assim, cada vez mais o homem negligencia o poder do mal e o relega ao inconsciente. Este conteúdo se potencializa e se torna autônomo, e por isso o homem moderno é chamado a olhar para si mesmo, e consequentemente a confrontar-se com sua sombra. 22 Desde que as estrelas caíram dos céus e nossos símbolos mais altos empalideceram, uma vida secreta governa o inconsciente. É por isso que temos hoje uma psicologia, e falamos do inconsciente. Tudo seria supérfluo, e o é de fato, numa época e numa forma de cultura que possui símbolos.” (JUNG, 2013, p. 33) A sombra é aquela personalidade oculta, recalcada, frequentemente inferior e carregada de culpabilidade, cujas ramificações extremas remontam ao reino de nossos ancestrais animalescos, englobando também todo o aspecto histórico do inconsciente... Se antes era admitido que a sombra humana representasse a fonte de todo o mal, agora é possível, olhando mais acuradamente, descobrir que o homem inconsciente, precisamente a sombra, não é composto apenas de tendências moralmente repreensíveis, mas também de um certo número de boas qualidades, instintos normais, reações apropriadas, percepções realistas, impulsos criadores, etc. (JUNG, 2016, p. 411). 10. Complexos Para Jung, (apud Silveira 1981, p. 35), os complexos são agrupamentos de conteúdos psíquicos carregados de afetividade. Compõe-se primariamente de um núcleo possuidor de intensa carga afetiva. Secundariamente estabelecem-se associações com outros elementos afins, cuja coesão em torno do núcleo é mantida pelo afeto comum a seus elementos. Formam-se assim verdadeiras unidades vivas, capazes de existência autônoma. Segundo a força de sua carga energética, o complexo torna-se um imã para todo fenômeno psíquico que ocorra ao alcance de seu campo de atração, bem como faz parte do cotidiano das pessoas. No entanto, este é um uso errôneo do significado psicológico desta expressão criada por Jung uma vez que, a verdade é que não somos nós que temos o complexo, o complexo é que nos tem. 11. Self ou si mesmo De acordo com Jung (apud Hall & Nordby 2014, p. 43), o princípio organizador da personalidade é um arquétipo ao qual, Jung denominou como Self, ou seja, é o arquétipo da totalidade, o centro do aparelho psíquico, englobando o consciente e o inconsciente. Atrai a si e harmoniza os demais arquétipos e suas atuações nos complexos e na consciência, une a personalidade, conferindo-lhe um senso de “unidade” e firmeza. 23 O si mesmo é o centro e também a circunferência completa que compreende ao mesmo tempo o consciente e o inconsciente: é o centro da totalidade, como o eu é o centro da consciência. É também a meta da vida, pois é a expressão mais completa dessas combinações do destino que se chama: indivíduo. (JUNG, 2016, p. 409). Silveira, (1981, p. 99), destaca que para Jung O Self (si mesmo) não se revela apenas através de personificações humanas. Sendo uma grandeza que excede de muito a esfera do consciente, sua escala de expressões estende-se de uma parte ao infra-humano e de outra parte ao super-humano. Assim, seus símbolos podem apresentar-se sob aspectos minerais, vegetais, animais; como super-homens e deuses. Também sob formas abstratas. A denominação de Self não cabe unicamente a esse centro profundo, mas também à totalidade da psique. O reconhecimento da própria sombra, a dissolução de complexos, liquidação de projeções, assimilação de aspectos parciais do psiquismo, a descida ao fundo dos abismos..., em suma, o confronto entre consciente e inconsciente, produz um alargamento do mundo interior do qual resulta que o centro da nova personalidade, construída durante todo esse longo labor, não mais coincida com o ego. O centro da personalidade estabelece-se agora no Self, e a força energética que ele irradia englobará todo o sistema psíquico. A consequência será a totalização do ser, sua esterificação (abrundung). O indivíduo não estar mais fragmentado interiormente. Não se reduzir a um pequeno ego crispado dentro de estreitos limites. Seu mundo agora abraça valoresmais vastos, absorvidos do imenso patrimônio que a espécie penosamente acumulou nas suas estruturas fundamentais. Prazeres e sofrimentos serão vivenciados num nível mais alto de consciência. O homem torna-se ele mesmo, um ser completo, composto de consciente e inconsciente incluindo aspectos claros e escuros, masculinos e femininos, ordenados segundo o plano de base que lhe for peculiar. “O Self é o centro regulador e unificador da psique total, consciente e inconsciente. Simbolicamente, ele é expresso em toda a história da humanidade como divindade interior, ou a imagem de Deus”. JUNG (apud von-FRANZ, 1992, p. p. 117). 24 12. Símbolo Silveira (1981, p. 80) destaca que para Jung, o símbolo é uma forma extremamente complexa, onde nela se reúnem opostos numa síntese que vão além das capacidades de compreensão disponíveis no presente e que ainda não podem ser formuladas dentro de conceitos. Inconsciente e consciente aproximam-se. Assim, o símbolo não é racional nem irracional, porém as duas coisas ao mesmo tempo. Se for de uma parte acessível à razão, de outra parte lhe escapa para vir fazer vibrar cordas ocultas no inconsciente. Entende-se assim, que um símbolo não traz explicações; impulsiona para além de si mesmo na direção de um sentido ainda distante, inapreensível, obscuramente pressentido e que nenhuma palavra de língua falada poderia exprimir de maneira satisfatória. 13. Sincronicidade Termo criado por Jung (2013, p. 409), que exprime uma coincidência significativa ou uma correspondência entre um acontecimento psíquico e um acontecimento físico, não ligados por uma relação casual. Tais fenômenos de sincronicidade aparecem, por exemplo, quando sonhos, visões, premonições parecem ter uma correspondência na realidade exterior: a imagem interior ou a premonição mostrou-se “verdadeira”; entre sonhos, ideias análogas ou idênticas que ocorrem em lugares diferentes, sem que a causalidade possa explicar umas e outras manifestações. Ambas parecem ter relação com processos arquétipos do inconsciente. 14. Sonhos O sonho é a principal ferramenta de análise da psicologia analítica, pois, constitui as expressões da mente inconsciente. Jung (1972, p. 103) considera o sonho uma auto representação espontânea, sob forma simbólica, da situação do inconsciente, é aquilo que ele é, inteiramente e unicamente o que é, e não uma fachada. Não é algo pré-arranjado, um disfarce qualquer, mas sim, uma construção realizada, uma coisa viva e não alguma coisa morta que soe como papel seco machucado. Em outras palavras, o sonho é uma situação existente... é como um animal com antenas ou com vários cordões umbilicais. 25 [...] Os sonhos fornecem informações extremamente interessantes a quem se empenhar em compreender o seu simbolismo. O resultado, é verdade, pouco tem a ver com preocupações mundanas como comprar e vender. Mas o sentido da vida não é explicado pelos negócios que se fez, assim como os desejos profundos do coração não são satisfeitos por uma conta bancária. (C.G. JUNG, apud von-Franz, 1992, p. 10). Jung, no livro “O homem e seus símbolos” (1996)1, destaca: Os cristãos costumam perguntar por que Deus não lhes fala, como se crê que fazia no passado. ...Estamos tão emaranhados e cativados por nossa consciência subjetiva que nos esquecemos do antiqüíssimo fato de que Deus fala especialmente através de sonhos e visões. Os budistas descartam o mundo de fantasias inconscientes, alegando que não passam de ilusões inúteis; os cristãos colocam sua Igreja e sua Bíblia entre eles e o próprio inconsciente; e os intelectuais racionais ainda não sabem que sua consciência não é sua psique inteira.... Mas se um teólogo realmente crê em Deus, com que autoridade pode afirmar que Deus é incapaz de falar através dos sonhos? 15. Mito Jung, (apud Silveira 1981, p. 128), ao interpretar os mitos, acrescenta aos conceitos dos especialistas modernos dimensões mais profundas. Assim, para Jung: Os mitos são principalmente fenômenos psíquicos que revelam a própria natureza da psique. Resultam da tendência incoercível do inconsciente para projetar as ocorrências internas, que se desdobram invisivelmente no seu íntimo, sobre os fenômenos do mundo exterior, traduzindo-as em imagens. Não basta ao primitivo ver o nascer e o pôr do sol; esta observação externa será ao mesmo tempo um acontecimento psíquico: o sol no seu curso representará o destino de um deus ou herói que, em última análise, habita na alma do homem. Os mitos condensam experiências vividas repetidamente durante milênios, experiências típicas pelas quais passaram (e ainda passam) os humanos. Por isso, temas idênticos são encontrados nos lugares mais distantes e mais diversos. A partir desses materiais básicos é que sacerdotes e poetas elaboram os mitos, dando-lhes roupagens diferentes, segundo as épocas e as culturas. (JUNG, apud SILVEIRA, 1972, p. 129). 1 Inspirado por um sonho do autor e concluído apenas dez dias antes de sua morte, representa uma tentativa de expor os princípios fundamentais da análise junguiana sem qualquer obrigatoriedade de conhecimento especializado de psicologia. No livro, Jung acentua que o homem só se realiza através do conhecimento e aceitação do seu inconsciente - conhecimento que ele adquire por intermédio dos sonhos e seus símbolos. 26 16. Tipos Psicológicos Para Jung (2013, p. 494): “A função psicológica é entendida como uma certa forma de atividade, que permanece idêntica sob condições diversas, ou seja, um exemplo ou modelo que reproduz de forma característica o caráter de uma espécie ou de uma generalidade”. Silveira (1981, p. 51) destaca que os trabalhos de exploração do inconsciente não fizeram Jung perder o interesse pelas relações do homem com o meio exterior. A comunicação entre as pessoas sempre lhe pareceu problema da maior importância. Na vida comum e na clínica via todos os dias que a presença do outro é um desafio constante. O outro não é tão semelhante a nós conforme desejaríamos. Ao contrário, ele nos é exasperantemente dessemelhante. Não é raro ouvir o marido irritado, dizer que não entende a esposa e a mãe queixar-se de absolutamente desconhecer a filha. Também nas relações de amizade e de trabalho surgem frequentes desentendimentos, desencontros, que deixam cada personagem perplexo face às reações do outro, sem que os separem sensíveis diferenças de idade, de educação ou de situação social. Jung deteve-se no exame deste problema e apresentou sua contribuição a fim de que nos oriente melhor dentro dos quadros de referência do outro. Segundo Hall & Nordby (2014, p. 84), o trabalho desenvolvido por Jung com Tipos Psicológicos teve uma dupla importância: ele identificou e descreveu certo número de processos psicológicos básicos e mostrou de que maneira se ligam em várias combinações para determinar o caráter de um indivíduo. Ele se dispôs a transformar uma psicologia geral de leis e processos universais numa psicologia individual que descreva as características exclusivas e o comportamento de uma pessoa específica. O resultado foi, como disse Jung, uma psicologia muito prática. “Uma das mais importantes experiências de minha vida foi descobrir o quão prodigiosamente diferentes são as psiques das pessoas” (JUNG, 2013, p. 148). 27 3 TEMA A busca pelo verdadeiro amor ainda é vista pelo homem contemporâneo como um grande tesouro para o encontro da felicidade. Para Carotenuto (1994, pg. 5), na busca pelo sentido da vida e pela sua alma, o homem descobriu novos caminhos que o levam para a sua interioridade, revelando que somente o amor é capaz de gerar alma, mas também o amor necessita da alma, pois, a experiência amorosa está entre as mais significativas e consideráveis da existência humana. Ainda, segundo oautor, por sua natureza o amor pertence à esfera do indivisível. Como tudo o que se relaciona à alma, com a dimensão mais profunda e secreta do ser, ele está próximo do mistério e é acompanhado do silêncio. Para o americano Morton Hunt2 (1920-121016) “a história do amor é uma história daquilo que se diz sobre o amor”. Sendo assim, foram os gregos que inventaram o amor, pois embora as pessoas já se amassem muito antes, os gregos, que tinham uma explicação para tudo, foram os primeiros a criar uma palavra para isso. Filósofos como Sócrates e Aristóteles discutiam poesia, ciência e política durante os chamados simpósios, festas onde os participantes partilhavam uma grande taça de vinho. Em uma dessas festas se desenvolveu O Banquete, célebre obra de Platão, uma das mais reveladoras sobre o pensamento grego a respeito do amor. As expressões “almas gêmeas” e “cara-metade” surgiram quando Aristófanes recorreu à mitologia para falar sobre a origem do amor. Segundo ele: ...éramos seres andróginos de duas cabeças, quatro pernas e quatro braços. Temendo que o poder dessas estranhas criaturas ameaçasse os deuses, Zeus dividiu-as em duas outras- e desde então carregamos a sensação de estarmos sempre incompletos, em busca da metade afastada de nós. Temos aí a criação dos sexos: Andros, Gynos e o Androgyno, Andros, eram formados por duas cabeças masculinas, Gynos por duas cabeças femininas e o 2 Psicólogo e escritor de ciência que escreveu notavelmente para The New Yorker, The New York Times Magazine e Harper e autor de vários livros, incluindo: “A História da Psicologia”,“ A História Natural do Amor”, entre outros. (Fonte : https://en.wikipedia.org/wiki/Morton_Hunt) acesso em 12.06.2018. 28 Androgyno por metade masculina e metade feminina. Esse mito, escrito por Platão, deu origem à criação das almas gêmeas. Mesmo sendo metade homem e metade mulher, Andrógino era um ser completo a ponto de se tornar autossuficiente, feliz e parecido aos deuses do Olimpo, despertando a ira e a inveja dos deuses e Zeus decidiu cortá-lo ao meio. A partir daí, as metades sempre buscam uma a outra para que num abraço, sintam a plenitude que conheciam. É o que Jung chamou de individuação, que ocorre quando cada ser encontra sua contraparte interna, realizando o encontro dos opostos e produzindo assim, a totalidade. Para Jung a contraparte do homem, sua mulher interna, é a Anima, e a contraparte interna da mulher, é Ânimus. Para Hall & Nordby (2014, p. 38): Toda pessoa possui qualidades do sexo oposto, no sentido biológico e psicológico das atitudes e sentimentos. O homem desenvolveu o seu arquétipo anima e a mulher seu arquétipo animus, vivendo e interagindo um com o outro durante gerações, adquirindo características do sexo oposto, facilitando assim a compreensão mútua. De modo que, os arquétipos de anima e animus, têm um valor muito grande para a sobrevivência. Para que a personalidade seja bem ajustada e harmoniosamente equilibrada, o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher devem poder expressar-se na consciência e no comportamento. Segundo Jung (2013, p. 400), anima é o arquétipo que constitui o feminino da psique masculina e animus é o arquétipo que compõe o lado masculino da psique feminina. Para ele, a primeira projeção da anima sempre é feita na mãe e a primeira projeção do animus é feita no pai e posteriormente com o amadurecimento, essas projeções são transferidas para os relacionamentos amorosos. Portanto, devemos tomar consciência de nossas projeções para perceber a realidade presente na outra pessoa. Jung aponta que a principal função desses arquétipos é a capacidade de sintonizar a consciência do eu com o inconsciente, abrindo-se para o conhecimento interno, o conhecimento do si mesmo. Anima e animus são os arquétipos que mediam a relação do eu com as esferas coletivas do inconsciente. Em um primeiro momento o eu precisa reconhecer essas figuras internas e perceber que elas possuem uma forma autônoma de manifestação. 29 Sua autonomia e falta de desenvolvimento usurpam, ou melhor, retêm o pleno desabrochar de uma personalidade, pois, na medida em que ambos (anima/animus) forem inconscientes, sempre serão projetados, uma vez que todo o inconsciente é projetado, de sorte que, conforme afirma, ninguém compreenderá esses fatos, se não experimentá-los em si mesmo. (JUNG, 2013, p. 268). Zeus, ao dividir o Andrógino em duas metades, colocou os órgãos sexuais para frente despertando assim o desejo de se unirem novamente, mas não na forma de um desejo puramente sexual e sim, o desejo de amar e ser amado por alguém que nos complete. No entanto, antes de nos completar no outro, necessário se faz que cada ser humano se sinta completo, visto que, se não há totalidade em nós mesmos, sempre procuraremos no outro aquilo que nos falta. E isso, nos causará dor, pois não sabemos até que ponto o outro irá nos completar. Sempre tentaremos agradar, satisfazer o outro até que nos perdemos de nós mesmos. O amor impulsiona a libido, além de todos os instintos, até mesmo aquele de satisfazer a fome, como garantia de sobrevivência e completude do ser humano. A alma humana é feita de pensamento e sentimento e é disso que somos feitos. Assim sendo, conhecer a si mesmo, é ter consciência do amor que há dentro de nós mesmos, e como pensamos sobre esse amor. Se para nós, o amor é algo atraente, nossa libido irá nos impulsionar para esse sentido. Se o amor para nós é algo mais profundo, ou resumidamente, seja alguém que me ame como eu amo a mim mesmo, a tendência é nos direcionar para encontrar alguém nesse sentido. Quando o ser humano está seguro de si, tem seu pensamento próprio, sem se espelhar em pai, mãe ou em outro modelo qualquer, a libido impulsionará para um movimento de encontro com alguém que o complete, alguém que o ame, e o complete exatamente como é, sem que interfira em sua individualidade. No entanto, antes de querermos achar a alma gêmea, é preciso primeiro saber se somos completos em si mesmos; em primeiro lugar, precisamos nos bastar, nos sentirmos seguros e independentes em si mesmos, bem como termos consciência do amor que queremos, pois só assim conseguiremos enxergar no outro um complemento e poderemos saber quem é nossa alma gêmea. A individuação permite-nos um encontro com nosso Self, nossa totalidade em si mesmo. Sendo assim, cada ser humano que quiser achar sua verdadeira alma gêmea, deve primeiramente seguir na sua individuação. 30 Para Jung, a busca pelo caminho de individuação, de totalidade, exige a aceitação dos opostos, inclusive a aceitação dos lados de nossa psique por nós excluídos. Em outras palavras “Tu és escravo daquilo que precisas em tua alma. O homem mais masculino precisa da mulher, por isso é seu escravo. Torna-te tu mesmo mulher, e ficarás livre da escravização à mulher” (JUNG, 2014, p. 263). Ao destacarmos a história do mito criado por Platão chegamos aos seres humanos, homens e mulheres que estão sempre em busca de sua cara-metade, sua alma gêmea. No entanto, mesmo supondo que exista uma alma gêmea, onde e como encontra-la? “O amor é uma espécie de loucura, disse Platão, uma loucura divina!”. “Quando arrebatado de amor, um ser humano olha a pessoa que ama, e é sua própria imagem que ele vê nos olhos de seu amado (a).” Podemos transpor essa ideia na teoria de espelhos, onde vemos no outro nossa própria alma e nos apaixonamos. Para o filósofo brasileiro Konder (2007, p. 7) o termo amor possui uma elasticidade espantosa, sendo considerado o sentimento mais forte da psique, já que majoritariamente aparece atrelado a outros. Para o filósofo alemão Marx, apud Konder (2007) “o amor é ‘uma maneira universal que o ser humano tem de se apropriar do seu ser como ‘um homemtotal’, agindo e refletindo, sentido e pensando, descobrindo- se, reconhecendo-se e inventando-se” (KONDER, 2007, p. 21). Na mitologia, o amor está representado em várias narrativas. Uma delas é entre um deus, Eros (o amor) filho da deusa do amor, Afrodite, e uma mortal, Psiquê (a alma), mortal, uma das três filhas de um rei. Psiquê, com sua beleza extraordinária, é notada por todos, não somente por sua beleza, mas também pelo seu charme, personalidade, forma de agir e falar. Tais características a fazem ser venerada, e apontada como “a nova Afrodite, uma nova deusa”. Mesmo assim, Psiquê transforma-se em uma preocupação para os pais, visto que suas irmãs se casam primeiro que ela. O rei decide consultar um oráculo, que dominado por Afrodite, faz com que a resposta seja uma terrível profecia: Psiquê deveria despojar uma criatura horrível e repulsiva. E assim aconteceu: Psiquê foi levada em uma procissão para o casamento, como se fosse um cortejo fúnebre; em seguida, acorrentada em uma pedra no alto de uma montanha, deixada ali para ser entregue à terrível criatura, obedecendo à profecia do oráculo, transformando as lágrimas do cerimonial e os adornos em razão do casamento e do funeral. 31 Afrodite queria destruir Psiquê e para isso planejava que Eros (também conhecido como Cupido) lançasse uma flecha em Psiquê para que ela se apaixonasse pelo seu futuro marido. No entanto, Eros, ao vê-la, se distrai e acaba espetando seu próprio dedo com uma das flechas, o que faz com que se apaixone por Psiquê e leve sua amada para o Vale do Paraíso. Ao acordar em seus aposentos, Psiquê percebeu que alguém a acompanhava. Era o marido que lhe havia sido predestinado. No entanto, ele havia colocado uma condição: ela não poderia vê-lo, pois se assim fizesse o perderia para sempre, condição esta aceita por Psiquê. O próprio Eros, que tinha sido encarregado de executar a vingança da mãe, se apaixonara por Psiquê, mantinha-se escondido para evitar a fúria de Afrodite. Psiquê se sentia extremamente feliz, pois tinha a seu lado o melhor dos esposos e a fazia se sentir amada. Resolve então, pedir a ele que a deixasse visitar seus pais. O reencontro gera a felicidade dos pais e a inveja das irmãs, que a enchem de perguntas sobre o marido. À noite, ao contar para Eros seu encontro com as irmãs, ele a adverte que isso era muito perigoso. Como estava grávida, Psiquê deveria manter a obediência que prometera porque senão a criança que nasceria seria uma mulher mortal e ele a abandonaria. Mas, Psiquê, desobedecendo às ordens do marido, continua a ver suas irmãs, que no terceiro encontro inventam que Eros era, na verdade uma repugnante serpente e tinha como plano devorar a ela e seu filho, fato que ocorreria quando a criança nascesse, mas que elas iriam ajudá-la. Para isso, Psiquê deveria colocar na cabeceira de sua cama uma lâmpada em uma redoma e uma faca muito afiada embaixo de seu travesseiro e quando Eros viesse visita-la à noite, ela esperaria ele dormir e então cortaria sua cabeça. Psiquê revela às irmãs que nunca havia visto o rosto de Eros, seu marido. Elas acabam convencendo-a de vê-lo, e Psiquê ao retornar para casa, acende uma vela fica totalmente extasiada e encantada pela beleza estonteante do marido. Nervosa, deixa sua faca cair e desajeitada pelo nervosismo acaba por acidentalmente se espetar numa das flechas de Eros e instantaneamente se apaixona por ele. Psiquê ficou tão deslumbrada pela visão do esposo que não percebeu uma gota da cera da vela que pingou no peito do amado e o acordou assustado. Ao perceber o acontecido, Eros tenta voar para longe de Psiquê, porém ela o segura, e agarrada a ele, sai do Paraíso, mas não aguenta se segurar por muito tempo e cai. 32 Eros diz a Psiquê que ela o desobedecera e quebrado sua promessa. A punição para isso seria a ausência dele, além do fato de que o filho que ela esperava nasceria mortal. Então, voou, deixando Psiquê sozinha, que ao vê-lo ir embora pensa em se suicidar, jogando-se no rio, mas Pan, o deus dos pés fendidos e a ninfa Eco, que estão à beira do rio convencem-na a desistir. Sozinha e infeliz, Psiquê começou a vagar pelo mundo e reza para Eros. Mas, ao invés de procurar diretamente por ele, busca ajuda em vários templos de deusas, sem sucesso, pois elas temiam que Afrodite considerasse isso uma proteção à jovem que feriu seu filho. Decide, então, procurar Afrodite que a recebe com duras palavras além de humilhá-la dizendo que não serve para nada além de tarefas subalternas. E, para livrar-se de tal desígnio, teria que cumprir quatro tarefas por ela indicadas: Na primeira tarefa, Afrodite, Psiquê deveria separar uma montanha de sementes por tipo, antes do anoitecer. Conseguiu cumprir a tarefa com a ajuda de milhares de formigas. Na segunda tarefa Psiquê deveria buscar o tosão de ouro-lã de ouro- dos ferozes carneiros que pastam na margem oposta do rio. Dirige-se ao rio que a separa dos carneiros, mas, no último instante uma voz sai dos juncos da margem do rio e alerta que não deveria se aproximar dos animais durante o dia, pois a matariam. No entanto, se procurasse um espinheiro na margem do rio no início da noite, poderia recolher a lã que costumava ficar presa nos espinhos. E assim conseguiu completar a segunda tarefa. Na terceira tarefa, Afrodite pede que Psiquê encha e entregue a ela uma taça de cristal com a água do rio Estige, que nasce no alto de uma montanha e em sua descida, o rio desaparece sob a terra, além de ser guardado por terríveis monstros. Com a ajuda da águia de Zeus, Psiquê conseguiu realizar a terceira tarefa. Na quarta e última tarefa, Afrodite ordena que Psiquê desça até os infernos e procure Perséfone, a esposa de Hades, o senhor do mundo inferior e dos mortos, e consiga com ela um pequeno cofre em que guarda seu unguento de beleza. Desta vez, Psiquê recebe ajuda não de um ser vivo, e sim da própria torre em que subira. Psiquê deveria levar nas mãos dois pedaços de pão de cevada e na boca duas moedas. No caminho deverá recusar ajuda a um homem coxo, e não salvar um homem que estará se afogando. Também não deverá se intrometer com as três tecelãs do destino e recusar qualquer coisa que lhe for dada para comer. Assim, conforme instruções da torre, as moedas serão para pagar o barqueiro Caronte, que 33 faz a travessia do rio Estige em sua ida e volta e os pães serviriam para alimentar Cérbero, o cão de três cabeças e guardião das portas do inferno. Conseguiu cumprir a quarta tarefa. Passando, assim, por vários desafios e sofrimentos impostos por Afrodite como uma vingança por ela ter ferido o seu filho, a jovem luta tentando recuperar o seu amor, mas acaba entregando-se à morte, caindo num sono profundo. Ao vê-la tão triste e arrependida, Eros, que também sofria com a ausência da amada, implorou a Zeus que tivesse misericórdia deles. Com a concessão de Zeus, Eros usou uma de suas flechas, despertando a amada, transformando-a numa imortal, levando-a para o Olimpo e a partir daí, nunca mais se separaram. Em grego "Psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". Uma alegoria à imortalidade da alma, simboliza também a alma humana provada por sofrimentos e aprovada, recebendo como prêmio o verdadeiro amor que é eterno. O termo Eros, foi utilizado por Jung para denotar o fundamento básico da psicologia feminina: A psicologia das mulheres é fundada principalmente em Eros, fortemente ligado ao desprendimento, visto que nas épocas antigas o principal atributo relacionado aos homens é Logos. O conceito do Eros podia ser expressado nas épocas modernas como uma ligação psíquica, e o Logos com o interesse objetivo. (JUNG, 2013, p. 255). Na teoria Junguiana, o mito de Eros e Psiquê fala do desenvolvimento da alma tanto do feminino, quanto do masculino. Outro conto de amor considerado um dos mais famosos de todosos tempos, a tragédia escrita por William Shakespeare em meados de 1.500, não cessa em inspirar versões e releituras para o cinema, teatro, televisão e outras literaturas. Romeu e Julieta, um clássico da literatura universal, há séculos seduz gerações de leitores apaixonados, que encontram na obra de William Shakespeare, uma das mais belas e trágicas histórias de amor de todos os tempos e transformou-se em um arquétipo da psique humana. Elaborada entre 1591 e 1595, a tragédia shakespereana não é significativa apenas por focalizar o amor proibido entre dois jovens na Verona renascentista, mas também pelo fato de denunciar a hipocrisia e as convenções sociais, os interesses econômicos e a sede de poder que geram, inevitavelmente, a intolerância e condenam o sentimento nobre existente entre Romeu e Julieta. 34 Na cidade italiana de Verona, aproximadamente nos anos de 1500, as famílias tradicionais Montecchios e Capuletos cultivavam uma inimizade que durava há vários anos. No entanto, independente desta rivalidade Romeu e Julieta, filhos únicos destes poderosos clãs se apaixonaram perdidamente e resolvem lutar por este sentimento. Apesar de lutarem contra a animosidade de suas famílias, o fim trágico e apaixonado inspira (ou deprime) os amantes de todas as épocas. Romeu e Julieta se conheceram em uma festa promovida pelo pai da jovem, líder dos Capuletos. Romeu, mesmo sem ter sido convidado e acreditando estar apaixonado por Rosaline, uma das moças presentes no evento, arruma um disfarce e vai à celebração. No entanto, ao se deparar com Julieta, esquece de Rosaline e só pensa na jovem desconhecida. Logo depois, descobre que pertencem às famílias que se odeiam. Escondido no jardim, logo depois da festa, Romeu ouve, sem querer o diálogo de Julieta com as estrelas, quando ela confessa sua paixão. Ele então a procura e se declara. Um dia depois, os jovens se casam em segredo, com o auxílio do Frei Lawrence, amigo do jovem. Mas a tragédia parece fazer parte da vida dos amantes. No mesmo dia em que se casaram, Romeu, sem querer se envolve em uma briga com o primo de Julieta, Tebaldo, que ao descobrir a presença do Montecchio na festa de seus tios, planeja uma revanche contra ele. A princípio, o jovem não aceita provocações, mas seu amigo Mercúcio enfrenta o adversário e é morto por ele. Romeu se revolta e mata Tebaldo para se vingar. A morte de Tebaldo aumenta ainda mais o ódio entre as famílias e o Príncipe de Verona manda Romeu sair da cidade. Sem saber da união de Julieta com Romeu, o velho Capuleto arranja o casamento da filha com Páris. O Frei a convence de aceitar o matrimônio, mas arma um plano: pouco antes da cerimônia Julieta deverá ingerir uma poção elaborada por ele e com este preparado, ela será considerada morta. Porém, Romeu seria avisado e voltaria para tira-la do jazigo dos Capuleto assim que ela despertasse. Mas, Romeu descobre o ocorrido antes de ser notificado pelo Frei. Desesperado, ele adquire uma poção venenosa, e na sepultura onde se encontra a amada ingere o conteúdo do frasco e morre junto a Julieta. Situada ao norte da Itália, a cidade de Verona resolveu abraçar seu posto como berço do amor de Romeu e Julieta. Depois que a peça de Shakespeare virou filme pelas mãos de George Cukor, em 1936, o drama do amor impossível foi se tornando 35 cada vez mais popular e a cidade aproveitou a onda para mergulhar nessa história, criando toda uma estrutura para dar vida a esse romance. A chamada Casa Di Giulietta, virou atração turística, trazendo à tona uma verdadeira lenda urbana. Ainda na cidade há o Club Di Giulietta, onde trabalham um grupo de mulheres voluntárias que respondem a todas as cartas que chegam ou são depositadas nas paredes de pedra ao arredor, de todos os lugares do mundo, com declarações e pedidos de conselhos amorosos. Os relatos dizem que a primeira carta chegou nos anos 1930 e que no destinatário, constava apenas: “Julieta, Verona”, e foi entregue na suposta tumba da personagem. Quando viu a carta, o coveiro, que era um veterano da Primeira Guerra Mundial e sabia um pouco de inglês, escreveu uma resposta, assim como para as novas correspondências que começaram a chegar. Com o passar do tempo, a tarefa de responder as cartas foi passada a um poeta local, mas logo descobriram sua identidade, e ele desistiu do cargo de secretário de Julieta. Foi só nos anos 1980, que a prefeitura de Verona passou a tarefa ao Club Di Giulietta que promove atividades culturais e eventos literários ligados ao mito de Romeo e Julieta. 36 4 DISCUSSÃO O “Correio de Julieta” é um fenômeno mundial que supera a própria magia da lenda shakespeariana: milhares de cartas que chegam de diversos lugares do mundo, nas quais as pessoas contam para Julieta sobre suas histórias, seus sonhos e seus desejos e, posteriormente, são respondidas por equipe de “Secretárias de Julieta”, que oferecem amizade e conselho. O conteúdo dessas cartas aponta para a busca pelo outro, no sentido de união de almas, de complementariedade. Na análise da carta anexa endereçada ao Club Di Giulietta, verifica-se a confirmação da teoria Junguiana em vários aspectos, do inconsciente individual, coletivo, aos arquétipos, mitos e à individuação. Projetada no amor do mito de Romeu e Julieta de Shakespeare, a autora busca respostas para suas inquietações internas e logo no inicio percebe-se que, os arquétipos Animus e Anima são de importância central no conteúdo expresso, conforme sua introdução: “Sua história me faz uma menina sonhadora, que sempre pensou que todos tenham seu Romeu perdido em qualquer esquina.”. (Cf. ANEXO A). A projeção do par ideal como a figura de Romeu demonstra um olhar romântico. Romeu apresenta-se como uma figura de um jovem perdidamente apaixonado, vindo a morrer por esse amor, ou seja, um homem que irá amar e ser amado incondicionalmente. Ao afirmar: “Hoje já sou uma mulher, mas igualmente sonhadora.” (Cf. ANEXO A), novamente a autora da carta afirma sua busca por esse encontro com o amor idealizado, romântico e verdadeiro, expresso no mito de Romeu e Julieta, que é o símbolo do arquétipo do amor juvenil e romântico. Jung considerava que um “amor verdadeiro” só era possível quando estivéssemos dispostos a abrir mão de nossas fantasias sobre nós mesmos, nossos (as) parceiros(as) e sobre o próprio amor. Para um “vínculo duradouro e profundo”, é preciso ser realista sobre a questão do amor e suas limitações: Todo amor profundo e verdadeiro é um sacrifício. A gente sacrifica suas possibilidades, ou melhor, as ilusões de suas possibilidades. Se não houver necessidade desse sacrifício, nossas ilusões impediriam o 37 surgimento do sentimento profundo e responsável e, com isso, ficaríamos privados também da possibilidade de experimentar o verdadeiro amor (JUNG, 2013, p. 122). Ainda sobre a ótica da mitologia, a busca pela alma gêmea, nutre no fundo a fantasia de que em algum lugar (...perdido em qualquer esquina) alguém está esperando, pensando e desejando o encontro da sua outra metade... a alma gêmea. “Embora nos dias de hoje, seja difícil manter a fé na existência de almas gêmeas...” (Cf. ANEXO A). Jung, (apud Sanford 1987, p. 42), afirma que, quando estamos em busca ou nos apaixonamos por alguém que não conhecemos como pessoa, mas por quem somos atraídos através da imagem refletida do deus ou da deusa em nossa própria alma, isso representa, num certo sentido, nos apaixonarmos por nós mesmos. No mito Eros e Psiquê, a Deusa do Amor Afrodite, impõe a Psiquê, várias tarefas difíceis, dificultando o reencontro com o seu amado, demostrando em termos psicológicos que devemos nos mostrar merecedores desse amor e estar maduros para ele. Na carta a autora ao dizer: “Tenho medo de ter uma vida enfadada na conformidade e em um casamento infeliz.” (Cf. ANEXO A), trazà consciência o medo do não merecimento de uma relação de completude. Para Jung, (apud Sanford, 1987, p. 42) para se entrar em contato com o outro é necessário estar separado deste outro, porque somente seres separados podem se relacionar. Se isso não acontece, um estado de identificação, no sentido de fusão mútua, embota o desenvolvimento psicológico de ambos os parceiros. Do ponto de vista da psicologia analítica, esse distanciamento pressupõe a existência da consciência em saber que o outro é diferente, não é igual a mim. Onde não houver consciência, o relacionamento psíquico ficará reduzido, tanto da pessoa em relação à sua autoconsciência, como em relação ao parceiro. Afirma C. Jung (2013, p. 201) “Sempre que tratamos do relacionamento psíquico, pressupomos a consciência. Não existe nenhum relacionamento psíquico entre dois seres humanos, se ambos se encontrarem em estado inconsciente”. (Cf. ANEXO A). Assim sendo: 38 Desde o momento em que aparece a consciência coerente, existe a possibilidade do relacionamento psíquico. Consciência, segundo nossa concepção, é sempre consciência do ‘eu’. Para tornar-me consciente de mim mesmo, devo poder distinguir-me dos outros. Apenas onde existe essa distinção, pode aparecer um relacionamento. Ainda que de modo geral se faça essa distinção, ela é normalmente cheia de lacunas, podendo talvez permanecer inconscientes regiões muito amplas da vida psíquica. Quanto aos conteúdos inconscientes não é possível qualquer distinção; e, por isso, nesse campo não pode ser estabelecido nenhum relacionamento; nessa região reina ainda o estado inicial da identidade primitiva do ‘eu’ com os outros, e assim ausência completa de relacionamento (JUNG, 2013, p. 202). Jung (2013, p. 202) considera que quanto maior for a extensão da inconsciência, igualmente menor se tratará de uma escolha livre no casamento; e mesmo quando faltar o apaixonamento continuará a existir a coação. Os motivos inconscientes são de natureza pessoal e geral. Em primeiro lugar, estão os motivos provenientes da influência dos pais, sendo decisivo para o rapaz o relacionamento com a mãe e para a moça o relacionamento com o pai. O grau de ligação aos pais influencia, em primeiro lugar, favorecendo ou dificultando a escolha do parceiro. Assim, o amor consciente para com o pai e a mãe favorece a escolha de um parceiro semelhante ao pai ou a mãe; mas, ao contrário a ligação inconsciente dificulta a escolha do parceiro e força modificações curiosas. É o próprio Jung que ilustra esta questão: Em regra, a vida que os pais podiam ter vivido, mas foi impedido por motivos artificiais, é herdada pelos filhos, sob uma forma oposta. Isto significa que os filhos são forçados inconscientemente a tomar um rumo na vida que compense o que os pais não realizaram na própria vida (...) A inconsistência artificial dos pais tem as piores consequências (...) A escolha do cônjuge poderá ficar livre de tais influências, se os instintos não estiverem atrofiados, mas cedo ou tarde se manifestarão certos obstáculos. A escolha feita apenas sob o impulso do instinto poderia ser a melhor, do ponto de vista da conservação da espécie; do ponto de vista psicológico, porém, nem sempre é a acertada porque muitas vezes há de existir uma grande distância entre a personalidade meramente instintiva e a personalidade individualmente diferenciada. (JUNG, 2013, p. 203- 204). Sendo assim, desde que o relacionamento não tenha sido arranjado pela inteligência, pela astúcia, ou pelo tal amor providente dos pais, a escolha do parceiro, normalmente, se realiza por motivos inconscientes e instintivos, se supondo, igualmente, que não tenha havido deformação do instinto primitivo dos filhos. 39 Ao apresentar alguns questionamentos na carta dirigida à Julieta, a autora faz projeções de suas intenções no encontro com o outro: “Será que nos dias de hoje, onde há pressa para tudo e tudo é tão efêmero, ainda podemos esperar um companheiro para a vida toda? “Alguém que queira gastar uma vida com você? Alguém que você não perde nunca?”. (Cf. ANEXO A) Para Jung (2013, p. 216), projetar conteúdos inconscientes é um fato natural e normal, um processo espontâneo em que os conteúdos do inconsciente de alguém são percebidos como estando em outra(s) pessoa(s) ou (objeto) externo(s). A projeção é sempre um mecanismo inconsciente. Para Von Franz (1915, p. 280,281), consiste em deslocar um conteúdo psíquico para um objeto externo e considerar a qualidade ou atributo deslocado como inerente ao próprio objeto. Tudo o que projetamos é conteúdo interno nosso e não do outro, criando assim idealizações comuns dessas projeções. As idealizações podem se tornar um problema nas relações interpessoais, uma vez que criam uma imagem irreal do outro, seja essa imagem negativa ou positiva. E então a forma como nos comportamos com o outro passa a ser orientada de acordo com a nossa percepção dessa imagem que, tem a ver não com o outro, mas com nós mesmos. A autora da carta expressa seus desejos, anseios, medos e sentimentos, trazendo à consciência conteúdos do seu inconsciente, integrando assim os aspectos separados entre esses dois universos e consequentemente, aproximando-se do si mesmo, o que para Jung é o objetivo da vida de todo ser humano: aumentar o nível de consciência. E que cada indivíduo siga sua jornada na busca pela individuação. Quando compartilha com a figura de Julieta a busca pelo amor idealizado, a autora expressa seu desejo. Eu realmente espero que sim, somos duas otimistas, acredito. Julieta, espero que eu encontre o meu Romeu um dia, e seja esperta o suficiente para reconhecê-lo.” “Espero que tenhamos o amor que meus avós tiveram – apesar de imperfeito – atemporal e infinito. (Cf. ANEXO A). 40 5 CONCLUSÃO O ponto central desse estudo foi refletir sobre se a busca pelo amor ideal nos aproxima ou nos distancia do encontro com o si mesmo. Os conceitos de psicologia analítica, aqui citados mostraram que o processo de individuação, depende da busca que o indivíduo fará para conhecer a si mesmo, seu eu interior e que somente conhecendo a si mesmo, será livre para ir ao encontro do seu par ideal. Para tanto, necessita trabalhar para trazer à consciência os conteúdos do seu inconsciente. A exemplo da carta aqui anexada, a busca pelo amor idealizado, verdadeiro, se faz presente nos dias de hoje de maneira constante, como uma necessidade de tomar água para matar a sede, comer para matar a fome. O amor, ah, o amor, uma delícia que transforma o ser humano, que transpõe barreiras, e o faz amar...e ser amado, como num conto de fadas. Entende-se, portanto, que a pretensão deste trabalho em enriquecer e aprimorar conhecimentos com a finalidade de desenvolver maior conhecimento sobre o tema foi atingido, além de proporcionar ao leitor maior compreensão sobre o processo do encontro com o si mesmo. Porém, por se tratarem, o amor e a individuação, temas relevantes sugere-se que novas pesquisas sejam desenvolvidas com o objetivo de aprofundar o conhecimento neste campo. 41 REFERÊNCIAS BAIR, Deirdre, Jung: Uma biografia. São Paulo: Editora Globo, 2006. BELOTTI, A. Almas gêmeas e o Mito do Andrógino. Disponível em: <https://www.somostodosum.com.br/artigos/espiritualidade/almas-gemeas-e-o- mito-do-androgino-3970.html> Acesso em: 15 mar. 2018. CAROTENUTO, Aldo. Eros e Pathos. São Paulo: Paulus, 1994. DEIRDRE, B. Jung: uma biografia. Vol. I. São Paulo: Globo, 2006. FISICAPSICOLOGIA. Matéria e Psique: estruturas e conexões. Disponível em: <https://seletynof.wordpress.com/2007/04/05/estrutura-da-psique-ii/>. Acesso em: 11 jun. 2018. HALL, Calvin S. & NORDBY, Vernon J. Introdução à psicologia Junguiana. [1. ed. 11. reimpressão] São Paulo: Cultrix, 2014. JULIET CLUB. Disponível em: <www.julietclub.com/en/>. Acesso em: 10
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