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ECONOMIA 5 POLÍTICA ECONÔMICA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Estamos iniciando a última etapa de nosso estudo sobre economia. Aqui iremos abordar conceitos sobre política econômica, aspectos monetários, política externa e desenvolvimento econômico. Conhecimentos que irão lhe dar uma base conceitual e de raciocínio econômico para ter um melhor desempenho nos estudos de seu curso. Aqui você conseguirá desenvolver uma visão global do contexto econômico no qual o Estado brasileiro, as empresas e os consumidores devem interagir. APRESENTAÇÃO Organização Daniele de Lourdes Curto da Costa Martins Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI Autor José Alfredo Pareja Gómez de la Torre CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. .01 1 INTRODUÇÃO Neste tópico vamos estudar como a macroeconomia é uma ferramenta úti l efetiva para definir polít icas econômicas de interesse nacional. A política econômica utiliza as informações vindas dos grandes agregados macroeconômicos para poder dinamizar a atividade microeconômica, ou seja, para poder dinamizar as atividades econômicas dos agentes econômicos no mercado, isto é, entre os consumidores, produtores e o Estado. Isto podemos visualizar e comparar com o seguinte exemplo: Analogicamente podemos comparar a macroeconomia como a análise de um ecossistema – observando os agregados da flora e fauna que fazem parte de uma floresta –; entretanto, a análise da flora e fauna específica, que faz parte dessa grande floresta, com suas particularidades, pode ser comparada com a análise microeconômica dos consumidores (famílias) e produtores (empresas). Imagine o que aconteceria com o ecossistema da floresta sem a interligação entre a flora e a fauna de cada m² que faz parte dela? Aos poucos a dinâmica dessa floresta perderia força, até poderia parar de existir, como acontece hoje com o desflorestamento. Exatamente isso acontece na economia. Sem a inter-relação entre a dinâmica microeconomia e do “grande ecossistema” macroeconômico, a economia como um todo perde força e fica sem instrumentos para combater as ameaças do ambiente econômico tanto nacional como internacional. E para manter firme e forte essa inter-relação, o Estado possui as políticas econômicas, visando manter a dinâmica desse grande “ecossistema” econômico, dando assim apoio às atividades comerciais e produtivas do dia a dia da economia. POLÍTICA ECONÔMICA CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. 2 POLÍTICA ECONÔMICA É por meio das políticas econômicas que um país possui as ferramentas para manter sob controle a inflação, a taxa de juros, o desemprego, o crescimento econômico, as perspectivas de desvalorização ou valorização da moeda etc. Em termos econômicos, podemos definir a política econômica como: • Um conjunto de ações utilizadas pelo governo com vistas a atingir objetivos que possam ter um impacto nas atividades econômicas, tanto de curto prazo como de longo prazo. Mas para manter um horizonte de ação das políticas econômicas, há uma separação entre políticas a serem atingidas em um prazo de tempo curto e as de prazo maior. Isto é, as políticas econômicas de curto prazo (também chamadas de políticas de conjuntura econômica); e aquelas a serem atingidas em um prazo de tempo longo, as políticas econômicas de longo prazo. Isso podemos interpretar por meio de um exemplo bem simples: • Pode ser que uma família esteja planejando realizar uma viagem de férias ao final do ano, e para isso faz uma série de ações para atingir esse objetivo: política familiar de curto prazo. • Pode ser que os pais dessa família estejam planejando a educação de ensino médio e superior de seus filhos, e para isso fazem uma série de ações para atingir esse grande objetivo: política familiar de longo prazo. Exatamente igual faz o governo, para atingir seus objetivos tanto de curto como de longo prazo, ele faz uma série de ações para atingir seus objetivos socioeconômicos, conforme veremos a seguir. 2.1 POLÍTICAS ECONÔMICAS DE CURTO PRAZO Estas políticas possuem objetivos com um horizonte de ação de até um ano, ou seja, fazem parte das metas econômicas conjunturais. Para que uma meta seja considerada conjuntural, ela deve ser realizável no curto prazo, daí a expressão “conjuntura econômica”. Isto é, a situação econômica atual, e como a política econômica de curto prazo pode desenvolver planos de ação para melhorar essa conjuntura ou condição econômica. Se observarmos bem, duas conjunturas econômicas que mais pesam na gestão econômica de qualquer governo são a geração de emprego e o controle da inflação. Assim, as políticas econômicas que possuem um maior peso são a geração de emprego e o controle da inflação. Vamos exemplificar o exposto por meio do seguinte exemplo. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Política de geração de emprego versus inflação. Se o governo observar que existe um aumento do emprego além da real capacidade produtiva nacional, logo, existe o grande risco de que a demanda agregada possa crescer mais rápido que a real capacidade produtiva do país. Ou seja, esse excesso de emprego poderia aquecer a economia “além” de seu potencial real. Em termos econômicos, o aquecimento da economia além de sua capacidade real de oferta potencializa uma série de distorções. Resultado disso? Apresenta-se um cenário de alta pressão inflacionária; decorrente de um excesso de renda (vinda do excesso de emprego), mas sem uma capacidade produtiva real que possa dar conta disso. E para dar conta disso, o governo possui ferramentas da política econômica de curto prazo, tal como o aumento da taxa de juros básica, conforme estudaremos mais adiante. Estas políticas de curto prazo ajudam a estabilidade da inflação. Vale a pena observar que: Embora preços de determinados bens e serviços possam flutuar, sofrendo, por exemplo, a influência de fatores sazonais, a média geral de todos os preços permanece estável ou registra variações pouco expressivas. Vale dizer: a redução da inflação para níveis não significativamente diferentes de zero (ROSSETI, 2003, p. 185). Todo país deseja pleno emprego e inflação baixa. Infelizmente, o governo de um país deve ponderar e analisar entre a geração de pleno emprego e a inflação. Ou seja, o governo deve fazer uma escolha e uma análise do custo de oportunidade da gestão das políticas de curto prazo – no Brasil não é diferente! Isto podemos interpretar por meio da Curva de Phillips. CURVA DE PHILLIPS: ESCOLHA ENTRE MAIOR GERAÇÃO DE EMPREGO E CONTROLE DA INFLAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/RoseliSilva2/economia-monetaria-1>. Acesso em: 10 jul. 2016. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Neste gráfico podemos observar claramente o exposto anteriormente, isto é, a grande escolha da política econômica de curto prazo entre menor inflação e maior desemprego. No gráfico, o símbolo π representa a taxa de inflação e o símbolo µ representa a taxa natural de desemprego. Segundo a dinâmica deste gráfico, no curto prazo, enquanto maior seja a inflação, menor será a taxa de desemprego. E enquanto menor a inflação, maior a taxa de desemprego. Cabe destacar que a análise exposta fica em função da posição relativa da economia no curto prazo, já no longo prazo (prazos maiores de um ano) existem outros elementos de análise que, com certeza, irão pesar na análise econômica. Como um todo, as políticas de curto prazo podem ser aplicadas através de diversas ferramentas, como: a Política Fiscal, a Política Monetária, a Política Cambial e a Política de Rendas, conforme abordaremos mais adiante. Devemos observar e semprelembrar que essas políticas mexem com as metas conjunturais da economia. E as de longo prazo? A seguir vamos aprender para que servem. 2.2 POLÍTICAS ECONÔMICAS DE LONGO PRAZO Como o próprio nome revela, estas políticas possuem objetivos com um prazo de ação maior de um ano, e visam mudar a estrutura econômica de um país, ou seja, possuem um cunho estratégico para o futuro de um país. Por meio destas políticas o país procura mudar algumas das bases estruturais da economia, visando, entre outras coisas: • Melhorar a capacidade produtiva. Tal como a produção agrícola do país, por exemplo, como fez a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com a soja. A Embrapa, depois de uma longa pesquisa, conseguiu modificar a soja para que esta possa ser produzida em solos mais quentes, como no Estado de Goiás, pois a soja era considerada uma lavoura de clima temperado. Agora, o Brasil é um dos grandes produtores deste grão, junto com a Argentina e os Estados Unidos. A Embrapa desenvolveu o potencial agrícola do país, e por meio disto mudou algumas bases da economia e da geração de riqueza do Brasil. • Aprimorar a malha logística do país. Alguns economistas e políticos estão analisando alguns programas para conseguir atingir uma melhor logística. Isto, com certeza, irá melhorar, e bastante, o potencial produtivo do país, logo, ajudará o crescimento econômico e a geração de riqueza. • Aprimorar a estrutura educacional. É fato que, melhorando a educação, o trabalhador brasileiro poderá ser mais competente, e assim o potencial econômico do Brasil será imenso. Mas são políticas de Estado que levam pelo menos 12 anos para serem executadas. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. • Aprimorar uma série de programas governamentais em vários campos de ação . Tal como o energético, o ambiental, de desflorestamento da Amazônia etc. Acabamos de ver alguns exemplos de políticas de longo prazo que mexem com a base da estrutura socioeconômica, visando desenvolver um melhor cenário às atividades econômicas que estejam de acordo com as necessidades de um país. Levando em consideração que as políticas de longo prazo mexem com a estrutura econômica, estas também são conhecidas como metas estruturais. 2.2.1 Setores econômicos e metas estruturais Por meio dos exemplos expostos acima podemos observar que as metas estruturais mudam as bases econômicas dos diversos setores da atividade econômica. Estes setores, no contexto econômico, são divididos em três grandes grupos: setor primário, setor secundário e setor terciário. • Setor primário . É o setor cuja atividade está focada na agricultura e na extração de recursos naturais. Em geral, os países que se sustentam maioritariamente do setor primário são considerados de menor grau de desenvolvimento. • Setor secundário. É o setor cuja atividade tem como foco o processamento industrial dos recursos produtivos. Na economia moderna, em geral, os países que se sustentam maioritariamente do setor secundário são considerados de grau de desenvolvimento médio. • Setor terciário. É o setor cuja atividade está focada na oferta de serviços em geral, tais como: transporte, serviços logísticos, comércio, educação, serviços bancários etc. Estas atividades, de fato, dinamizam e potencializam a atividade econômica. Na economia moderna, os países que possuem um setor terciário de grande peso são considerados de maior grau de desenvolvimento. Este setor dinamiza a geração de emprego, a geração de renda, e aprimora processos da atividade econômica como um todo. Embora todo país possua os três setores - primário, secundário e terciário -, é o peso destes na economia que pode determinar qual é o nível do potencial econômico de um país. É por isso que, quando as políticas de longo prazo conseguem mexer na estrutura destes setores, a economia como um todo melhora seu potencial. Agora, vamos voltar às políticas econômicas de curto prazo que visam melhorar a conjuntura econômica de um país. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. 3 POLÍTICA FISCAL Dentro das polít icas de curto prazo temos a política fiscal , que basicamente procura fazer gestão das receitas e gastos do governo, eis a sua importância. A política fiscal possui duas grandes áreas de atuação, a Política de Gastos Públicos, ou seja, o controle dos gastos do governo; e a Política Tributária, a capacidade de arrecadação de impostos. Essas duas ferramentas, o controle de gastos públicos e a cobrança efetiva dos tributos, são utilizadas, entre outras coisas, para cumprir as políticas econômicas de curto prazo de controle do emprego e da inflação. Ou seja, entre os grandes objetivos da política fiscal, ela visa estimular ou inibir a Demanda Agregada (DA), isto é, aquecer ou esfriar a atividade econômica como um todo, dependendo das necessidades conjunturais. Observe que a política fiscal: Consiste no uso de impostos e despesas do governo. Despesas do governo ocorrem de duas formas distintas. Primeiro existem as compras do governo. Essas abrangem os gastos em bens e serviços – compras de tanques, construção de estradas, salários de juízes etc. Além disso, existem os pagamentos de transferência do governo, que impulsionam as rendas de grupos específicos, como idosos e os desempregados (SAMUELSON, 2004, p. 338). É por meio do uso de impostos e despesas do governo que a política fiscal pode mexer na demanda agregada da economia, isto é, aquecer ou esfriar a atividade econômica. Nesse sentido, podemos observar quatro grandes campos de ação desta política de curto prazo. A política fiscal como ferramenta restritiva da DA. Se o governo decidir diminuir a pressão inflacionária, quais ações deverão ser tomadas? Entre outras coisas, poderá inibir a Demanda Agregada (DA), através da redução dos gastos públicos e elevação dos impostos. Logo, essas ações poderão trazer os seguintes impactos: • Redução dos gastos públicos . Essa ação implica uma diminuição da atividade pública: menos obras públicas, reduzindo os contratos de prestação de serviços e investimentos em novos projetos; menor salário público, diminuindo a geração de emprego público; menor aumento nos gastos de previdência social; entre outros. Essas reduções levarão a uma diminuição da renda disponível do consumidor, portanto, para uma diminuição na procura de produtos e, assim, para redução da inflação. • Aumento dos impostos. Essa ação implica uma menor renda disponível para as pessoas gastar. Isso acontece porque, no momento em que o governo aumentar os impostos, haverá um peso maior dos impostos por cada real gasto pelas famílias. Segundo um levantamento feito pela Organização para CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), <www.oecd.org>, no ano 2013 os impostos representavam 37,3% do PIB; isto é, para cada R$ 1,00 de renda nacional, 37,3% correspondem a impostos. Assim, se o governo decidir aumentar essa carga em mais 1%, logo haverá 1% menos de renda a ser gasta pelas famílias, diminuindo a DA e, assim, reduzindo também a inflação. Política fiscal como ferramenta expansiva da DA. Agora, se o objetivo é incentivar a Demanda Agregada (DA), para combater o desemprego, o governo poderia aumentar o gasto, aumentando a atividade pública através de maior quantidade de obras, maiores salários públicos, entre outros. Incentivos que levarão a um aumento da geração de emprego (público e privado), incentivando o consumo e o investimento, portanto, ajudando a dinâmica da DA. Levando em consideração que o objetivo é incentivar a DA, quais seriam as fontes para financiar esse gasto adicional? Aumento de impostos para, assim, ter fontes frescas de dinheiro? Está certo, sim, mas se o governo quer incentivara DA, o aumento de impostos neutralizará o objetivo de incentivar o consumo. Assim, a única alternativa do governo é empréstimos, ou seja, aumento do endividamento do Estado. Todavia, devemos considerar que esse aumento do gasto público irá diminuir a capacidade de gerar superávit primário, isso aumenta o volume da dívida pública, gerando pressão na inflação e nos juros básicos da economia. Ou seja, se essas medidas vão além da capacidade instalada do setor produtivo, apresenta-se o risco de uma explosão do consumo, logo, as condições ideais para aumento da inflação. Acabamos de ler sobre as duas grandes ações da política fiscal, a primeira para inibir a DA e a segunda para incentivá-la. Disto podemos concluir que existe um custo de oportunidade entre a geração de emprego e uma inflação estável. Quando se deseja maior emprego, incentiva-se a DA, mas há risco de aumentar a inflação. Eis o custo de oportunidade a ser analisado pelo governo. Os países não estão livres dessa escolha conflitante, ou custo de oportunidade. Assim, o governo de um país sempre deve avaliar o custo de oportunidade, pensando na melhor escolha em função da situação conjuntural das condições econômicas. O que significa O superávit primário? É resultado operativo das contas públicas. Isto é, receitas operativas (tributos, especialmente) menos os gastos, mas sem levar em conta os juros da dívida pública. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. .02 1 INTRODUÇÃO Existe outra ferramenta muito útil para incentivar ou inibir a DA, por meio da gestão da massa monetária circulando no país, ou seja, por meio da política monetária. No Brasil, a política monetária está sob o comando do Comitê de Política Monetária (Copom). Este é um órgão importantíssimo do governo para controlar a quantidade de dinheiro em circulação e para fazer a gestão da taxa de juros básicos da economia. No caso do Brasil, está atrelada à taxa Selic. 2 DINÂMICA DA POLÍTICA MONETÁRIA Como vimos anteriormente, a política monetária mexe com a quantidade de moeda em circulação, ou massa monetária. Dependendo da conjuntura econômica, a política monetária pode estimular o consumo ou frear a inflação. Mas para entender melhor a dinâmica da política monetária, devemos saber que existem dois grupos de moedas ativas na economia: a moeda manual e a escritural. A primeira é a moeda manual, cuja função é gerar circulação de papel- moeda e moedas metálicas em circulação. Este tipo de moeda fica nas mãos dos agentes econômicos (famílias, empresas e o Estado), e nos depósitos à vista da rede bancária. Em outras palavras, é moeda física, papel-moeda, a ser utilizada em qualquer momento pelos agentes econômicos. O segundo tipo de moeda é a escritural, isto é, depósitos bancários a serem usados como meios de pagamentos, por meio de cheques, transferências bancárias e cartões de crédito, ou seja, é um meio de pagamento sem a necessidade de usar moeda física. O uso de moeda escritural vem aumentando drasticamente durante as últimas décadas. Hoje, na média de cada R$ 1,00 gasto pelos agentes econômicos, 60% é feito por meio de moeda escritural e 40% por meio de moeda manual. POLÍTICA MONETÁRIA CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Mas como um todo, como é que a circulação da moeda pode incentivar ou inibir a atividade econômica? Por meio de um aumento na circulação da moeda podemos incentivar a massa monetária disponível na economia, logo, aquecendo a demanda agregada. Para poder fazer isso o governo possui as seguintes ferramentas: • Emissão de Moeda Manual, Depósitos Compulsórios, Operações de Open Market (Mercado Aberto), Operações de Redesconto, Taxa de Juros e Regulamentação sobre o crédito. 2.1 EMISSÃO DE MOEDA É por meio da gestão da moeda que as autoridades econômicas podem utilizar a Teoria Quantitativa da Moeda para controlar o fluxo monetário disponível na economia. Mas qual é o órgão do governo responsável por esta gestão? A gestão da quantidade de moeda na economia está sob a responsabilidade do Banco Central, monitorando e autorizando a emissão de papel-moeda. É o Banco Central que administra a quantidade de moeda que deverá circular na economia. Devemos observar que tanto um excesso como uma falta de moeda prejudicam as atividades econômicas. Se há excesso de moeda, haverá pressão na inflação; por outro lado, se há uma falta desta, haverá uma contração econômica. Deste modo: • Quando há inflação alta, o Banco Central pode diminuir a circulação de papel-moeda, reduzindo a Demanda Agregada (DA), consequentemente reduzindo a pressão na inflação. Mas quando há excesso de moeda em circulação, pode aquecer a demanda agregada além das reais capacidades produtivas, logo, poderá se apresentar pressão na inflação. Como podemos observar, é responsabilidade chave do Banco Central fazer uma excelente gestão da quantidade de moeda circulando na economia. Em termos econômicos, essa gestão da quantidade de moeda é aplicada por meio da Teoria Quantitativa da Moeda. Esta teoria diz que a quantidade de moeda em circulação é medida por meio de: M x V = P x Y = PIB. Qual o significado destas siglas? CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. EQUAÇÃO DA TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA M x V = P x Y = PIB FONTE: O autor M Disponibilidade física de moeda em circulação, ou seja, Massa monetária. V Velocidade de circulação da moeda, frequência média em que uma unidade monetária é gasta num período de tempo (x), ou seja, a quantidade de giros que a massa monetária gira na economia durante um período de tempo. P O nível de preços num período de tempo. Y É o volume de transações feitas nesse período, em outras palavras, o produto real da economia. PIB Produto Interno Bruto. Procurando a velocidade de giro da moeda. Vamos dar uma olhada de como é a dinâmica da Teoria Quantitativa da Moeda? No seguinte exemplo estaremos analisando o valor do Produto Interno Bruto (PIB) e a velocidade do dinheiro, desde uma perspectiva desta teoria. Isto levando em consideração a velocidade de giro da moeda e os seguintes dados: • PIB de R$ 3.770 bilhões Esse é o valor de todas as transações feitas na economia durante um ano, ou seja: PIB = R$ 3.770 bi. • Disponibilidade de moeda em circulação nesse ano de R$ 300 bilhões. Isto representa a massa monetária nesse período, ou seja: M = R$ 300 bi. Agora, aplicando a equação PIB = M x V, logo, podemos inserir nessa equação os dados expostos, obtendo o seguinte resultado: • R$ 3.770 = R$ 300 x V, e como estamos procurando V, vamos ter que despejar M (ou R$ 300) à esquerda e assim teremos a seguinte equação: o , logo: , V = 12,57. Esse valor de V = 12,57 quer dizer que a moeda física (papel-moeda) girou 12,57 vezes no decorrer desse ano. Em outras palavras, para obter um PIB de R$ 3.770 bi não foi necessário ter fisicamente esse enorme valor em papel-moeda, foram necessários somente R$ 300 bi, e isso graças ao poder do efeito multiplicador do dinheiro através do giro deste por meio das transações econômicas. No exemplo exposto só foi necessário ter fisicamente 7.96% ( ) de moeda para gerar renda e produzir esse enorme valor de PIB. Eis um exemplo claro do poder multiplicador da moeda. É por meio da gestão da emissão de moeda (M) e pela velocidade do dinheiro (V) que o governo possui = $ 3.770 $ 300 R V R = $ 3.770 $ 300 R V R $ 300 $ 3.770 R R CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. as ferramentas monetárias para estimular ou inibir a Demanda Agregada (DA). Mas quais são essas ferramentas monetárias que possuem o poder de gerar um maior giro ao dinheiro circulandona economia? É por meio dos Depósitos Compulsórios, Taxa de Juros, Operações Open Market (Mercado Aberto) e Operações de Redesconto. 2.2 DEPÓSITOS COMPULSÓRIOS O depósito compulsório é “o saldo” dos depósitos à vista dos clientes da rede bancária que fica obrigatoriamente no Banco Central. Ou seja, para cada depósito feito em um banco comercial, parte deste irá ao Banco Central e a outra parte ficará disponível no banco comercial. Exemplificando, vamos supor que o Depósito Compulsório estabelecido pelo Banco Central é de 40%, logo, para cada R$ 1,00 depositado no sistema financeiro: • 40% deste depósito irá ao Banco Central, neste caso, ficará depositado no Banco Central R$ 0,40 (R$ 1,00 x 0,40). Se o depósito for de R$ 150, logo ficarão no Banco Central R$ 60,00 (R$ 150 x 0,40), e assim sucessivamente. • 60% deste depósito irá ao banco comercial, neste caso, ficará depositado no Banco Comercial R$ 0,60 (R$ 1,00 x 0,60). Se o depósito for de R$ 150, logo ficarão no banco comercial R$ 90,00 (R$ 150 x 0,60), e assim sucessivamente. Essa exigência do depósito compulsório, feita pelo Banco Central, é para garantir um mínimo dos depósitos realizados na rede bancária com as reservas do Banco Central. Ou seja, neste caso o Banco Central atua como o “Banco” de todos os “Bancos” do sistema financeiro, eis o nome de “Banco Central”, aliás, todo país possui um. Além disso, o depósito compulsório possui um efeito multiplicador da moeda, aumentando ou diminuindo a velocidade da moeda (V) na economia. Deste modo, é decisão do governo determinar qual será a porcentagem do depósito compulsório. No exemplo exposto acima a dinâmica é a seguinte: • Se há um depósito de R$ 1.000,00, logo, R$ 400 irão ao Banco Central e R$ 600 ficarão no banco comercial. • Esse saldo de R$ 600 disponível no banco comercial estará sendo emprestado, logo, o tomador desse empréstimo irá depositá-lo na rede bancária. • Esse novo depósito de R$ 600 terá que ser dividido em duas partes: R$ 240 para o Banco Central, R$ 600 x 0,40; e R$ 360,00 ficam no banco comercial, R$ 600 x 0,60. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Esse novo saldo disponível no banco comercial de R$ 360 irá ser emprestado e assim sucessivamente, gerando desta maneira o efeito multiplicador da moeda por meio do depósito compulsório. Agora, considerando esta dinâmica: • Quanto menor for a porcentagem do Depósito Compulsório, maior será a velocidade (V) da moeda circulando na economia. Logo, incentivando a Demanda Agregada, esquentando a atividade econômica e potencializando o PIB. • E quanto maior for a porcentagem do Depósito Compulsório, menor será a velocidade (V) da moeda circulando na economia. Logo, inibindo a Demanda Agregada, esfriando a atividade econômica e reduzindo o potencial de crescimento do PIB. 2.3 TAXA DE JUROS BÁSICA DA ECONOMIA A definição da taxa de juros básica é um dos instrumentos mais efetivos para incentivar ou inibir a atividade econômica. Por meio do estabelecimento da taxa de juros básica o governo pode aumentar a velocidade de circulação da moeda na economia. Qual o objetivo disso? Aumentar ou diminuir a massa monetária em circulação. As autoridades monetárias podem, por meio do Banco Central: • Aumentar a taxa de juros básica, isto faz reduzir a velocidade de giro da moeda na economia, logo, consegue-se desestimular o consumo e investimentos das empresas, reduzindo assim a Demanda Agregada (DA) e as pressões sobre a inflação. • Diminuir a taxa de juros básica, isto gera exatamente o efeito contrário descrito acima. Ou seja, quando se apresenta uma queda da atividade econômica por meio da queda dos juros, consegue-se incentivar a DA e assim iniciar aumento das atividades econômicas. 2.4 OPERAÇÕES OPEN MARKET As operações de Open Market são operações feitas no mercado aberto. Por meio destas operações o governo compra e vende títulos públicos, principalmente às instituições financeiras, isto é, o governo compra ou vende sua própria dívida pública. Vamos expor duas situações: CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. • O que pode acontecer quando o governo comprar títulos públicos? No momento dessa transação o governo compra títulos públicos em troca de dinheiro, ou seja, na prática está colocando mais liquidez na economia e assim aumentando a velocidade de giro da massa monetária, logo, incentivando a demanda agregada. • O que pode acontecer quando o governo vender títulos públicos? No momento dessa transação o governo vende títulos públicos em troca de dinheiro, ou seja, na prática está retirando liquidez da economia e assim diminuindo a velocidade de giro da massa monetária, logo, inibindo a Demanda Agregada e reduzindo a pressão na inflação. 2.5 OPERAÇÕES DE REDESCONTO As operações de redesconto são transações financeiras entre o Banco Central e as instituições financeiras. Por meio desta ferramenta o Banco Central controla a emissão de crédito do governo aos bancos comerciais, são operações financeiras de curtíssimo prazo, aliás, de dias. Nesse sentido: • Quando o Banco Central aumentar a taxa de redesconto os bancos perdem margem para emprestar, pois terão que pagar mais juros por esses empréstimos de curto prazo e, assim, diminuindo a procura destes. Logo, haverá uma queda da massa monetária, inibindo a demanda agregada. • Quando diminuir a taxa de redesconto os bancos aumentam a capacidade de emprestar, pois deverão pagar menos juros por esses empréstimos, desse modo, aumentando a procura destas operações de redesconto, e haverá aumento da massa monetária, incentivando a demanda agregada e a atividade econômica. 3 AS FUNÇÕES DA MOEDA Agora que temos uma visão mais clara de como a política fiscal e monetária pode ajudar no dinamismo da atividade econômica, devemos nos focar sobre qual a função da moeda nessas políticas econômicas e nas atividades econômicas. Todos sabemos que a moeda serve como meio de poder de troca comercial para adquirir bens e serviços, sejam estes para fins produtivos ou para fins de consumo. Além de sua função básica de troca comercial, a moeda está associada à acumulação da riqueza, pois possui a função de reserva de valor. A moeda é uma representação tanto do poder de troca comercial como da riqueza de um sistema econômico, que pode ser usada em qualquer momento entre os agentes econômicos, isto é, entre famílias/consumidores, empresas e o Estado. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Nesse contexto, a moeda de um país possui um valor relativo e abstrato, no qual todas as pessoas confiam. Este conceito de moeda tem seus fundamentos em lei, que determinam sua base legal, visando cumprir sua função como meio de representatividade do valor relativo dos bens e riqueza de uma sociedade. Esse valor relativo, em lei, é a base de “valor” para todos os ativos e passivos das pessoas jurídicas e naturais de uma sociedade. Mas para poder perceber melhor do que estamos falando, devemos nos perguntar: como foi que esse conceito de moeda moderna foi evoluindo? Para responder isto, vamos estudar o significado da moeda desde o nascimento do “papel-moeda”. 3.1 EVOLUÇÃO DA MOEDA Como meio de troca comercial e reserva de valor até a época mercantilista (entre 1600 a 1700), não existia ainda o uso do papel-moeda, a moeda metálica era o meio circulante para as transações comerciais. Porém, na Europa mercantilista começou o processo evolutivo do uso do papel- moeda. Processo que tem as seguintes fases históricas: certificado de depósito nominal, certificado ao portador, e saque à vista da moeda metálica. • Certificado de depósito nominal. A partir da época mercantilista na Europa começou a existir a necessidade de preservar o valor acumulado, em moeda metálica,da riqueza gerada pelos excedentes de produção e comércio. Assim, procurando satisfazer essa necessidade, os banqueiros da época ofereciam o serviço de guarda de moeda metálica, oferecendo segurança à riqueza acumulada da época. Em troca desse serviço, os banqueiros emitiam um certificado de depósito nominal, isto é: Ø Certificado que especifica o nome da pessoa que possui os direitos de retirar quando quiser saldos das moedas depositadas. Por este serviço, o banqueiro cobrava uma taxa pela guarda das moedas. • Certificado ao portador . Com o passar do tempo esses certificados “nominais” passaram a ser “ao portador”. Desse modo, acabaram os direitos com nome específico do certificado, logo, sendo “ao portador”, esse papel “valor” estava liberado para ser negociado entre várias pessoas. Ou seja, o possuidor final do certificado ao portador teria os direitos de retirada do depósito. • Saque à vista da moeda metálica. Ao ser certificado “ao portador”, o último dono do certificado “ao portador” poderia ir em qualquer momento para fazer um saque do depósito em moeda metálica. Esta nova propriedade do certificado dinamizou, e muito, o comércio da época, pois as pessoas começaram a usar os próprios certificados para fins de trocas comerciais. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Esta última fase, saque à vista da moeda metálica, foi o início das trocas comerciais utilizando certificados “ao portador” como “papel dinheiro” até os dias de hoje. Aliás, o papel-moeda usado hoje vem a ser um certificado de depósito “ao portador” do Banco Central, certificando o pagamento de seu valor intrínseco. 3.2 MULTIPLICAÇÃO DO VALOR DAS MOEDAS Ao final de época mercantilista as pessoas se acostumaram a usar o certificado de depósito “ao portador” para realizar transações comerciais. Nessa dinâmica comercial, os bancos faziam a gestão de manutenção do valor dos certificados alinhando-o ao valor das moedas metálicas depositadas nos cofres. Porém, com o passar do tempo os banqueiros perceberam que nem todas as pessoas retiravam todos os depósitos, em moedas, ao mesmo tempo. Desse modo, eles tiveram uma grande ideia inovadora que fez multiplicar e alavancar drasticamente a dinâmica das transações da época. Qual foi essa ideia? A alavancagem do valor das moedas depositadas, ou seja: os bancos começaram a emitir certificados num valor superior ao valor realmente depositado. Deste modo, os banqueiros tiveram os meios para fazer empréstimos além dos valores realmente depositados em moeda metálica, e assim começou o efeito multiplicador da “moeda”. Devemos observar que nessa época, e hoje, a lógica do negócio bancário é: • Quanto mais se puder emprestar, mais juros os banqueiros podem cobrar, e mais potencial de lucro poderá existir. Incentivando assim o uso do fator multiplicador. O uso do efeito multiplicador dos depósitos fez sucesso em termos de incentivar a dinâmica comercial e desenvolvimento econômico. Isto potencializou ao limite máximo o potencial produtivo e de inovação da época. Porém, ao final do mercantilismo e começos do período clássico (finais do século XVIII), ao não terem controles, os bancos não tinham limites aos volumes de empréstimos. O resultado disso? Empréstimos além dos limites de suas reservas em depósitos reais em moeda metálica. Isto, com o passar do tempo, deixou muitos bancos quebrados e depositantes desconfiantes do sistema bancário. Situação que levou a crises financeiras contínuas. Qual foi a solução para isto? O controle do Banco Central. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. 3.3 O BANCO CENTRAL E O CONTROLE DO FATOR MULTIPLICADOR Nessa situação de crises financeiras severas e contínuas, os países começaram a normatizar e centralizar o controle de certificados “ao portador” respaldados em moeda metálica. Isto foi feito por meio do surgimento do Banco Central. Assim, a partir do momento em que houve um Banco Central, houve também uma centralização do uso de certificados de depósito “ao portador” para alavancar empréstimos. Isto foi o início do papel-moeda até os dias de hoje sob o controle do Banco Central. Nessa nova dinâmica bancária, começou-se a exigir dos bancos comerciais uma porcentagem mínima dos depósitos comerciais, porcentagem equivalente em dinheiro que deverá ser encaminhada ao Banco Central. Ou seja, de cada depósito realizado na rede bancária, uma porcentagem deveria ir obrigatoriamente ao Banco Central (vamos supor 30%) e o saldo poderia ficar livre para que o banco comercial pudesse emprestar (vamos supor 70%). Esta dinâmica começou a ser executada por meio de contas correntes abertas pelos bancos comerciais no Banco Central, formando-se assim o “Banco Matriz dos Bancos”, ou seja, o “banco central” de todos os bancos do sistema financeiro. Isto trouxe confiança à sociedade e controle sobre os depósitos do sistema financeiro. Esse controle feito pelo Banco Central sobre os depósitos dos bancos comerciais foi o início da gestão do depósito compulsório, como já estudamos anteriormente. 3.4 CONCEITOS DA MOEDA DE HOJE Uma vez estudado o conceito de papel-moeda, sua evolução, e como o Banco Central faz o controle da alavancagem financeira dos depósitos na rede financeira, estamos aptos para estudar o conceito de moeda fiduciária. Mas, antes disso, devemos saber o que é fidúcia. • Fidúcia é sinônimo de confiança, e no contexto da moeda isso significa que o dinheiro está sustentado na confiança e perspectivas produtivas de uma economia. Assim, no sentido figurado, não é propriamente um tipo de “moeda física”, mas é sim uma característica abstrata do dinheiro atual. Até meados do século passado, todos os depósitos de um país estavam respaldados em reservas de metal precioso (ouro) no Banco Central, mas hoje não existe mais essa reserva em ouro. Hoje o valor do dinheiro fica em função da confiança relativa da produtividade e sustentabilidade da economia de um país, ou seja, a moeda atual é “moeda fiduciária”. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. • Eis um dos motivos que explicam como as economias mais competitivas do mundo são as que têm as moedas mais fortes. Na economia global de hoje, a moeda tem duas funções importantes, atua como: denominador comum de valores e como reserva de valor. Denominador comum de valores. Todo bem e serviço oferecido no mercado é sujeito a um valor relativo à moeda em circulação. Esse valor relativo à moeda em circulação é conhecido em economia como denominador comum de valores, pois todos os bens e serviços possuem um denominador comum de valor, interpretado em unidades monetárias, no caso do Brasil, o “real”. Exemplo: • Quantas horas-salário são necessárias para comprar um smartphone? Se minha hora salário é de R$ 25,00 e o smartphone custa R$ 950, logo, irei precisar de 38 horas (R$ 950/R$ 25,00) de meu trabalho para poder comprar o smartphone. • Por quanto poderei vender meu carro? Dependendo do valor de mercado em reais de modelos semelhantes, poderei visualizar isso e saber o que vou fazer com esse dinheiro. Reserva de valor. Ao ter um valor referencial de todas as coisas a serem comercializadas no mercado, a moeda possui um referencial do potencial de riqueza intrínseca, ou seja, a moeda em si é um meio de reserva de valor. Considerando este conceito, é fundamental analisar o peso da inflação no momento de manter a moeda como reserva de valor, visando assim manter o poder de compra. Exemplo: • Se tenho hoje R$ 250.000 para comprar uma casa, mas por diversas questões eu sei que vou fazer a compra em dois anos, logo, preciso manter pelo menos o poder de compra desse dinheiro, nesse sentido: o Se colocar esses R$ 250.000 em um certificado de depósito que oferece: 6% de taxa de juros aoano e a inflação é de 9%. Logo, sei que meu depósito irá perder valor, e minha riqueza relativa desse depósito irá se desvalorizar. o Se colocar esses R$ 250.000 em um certificado de depósito que oferece: 12% de taxa de juros ao ano e a inflação for de 9%. Logo, sei que meu depósito irá manter seu valor relativo, inclusive, haverá um leve aumento de seu valor real. Assim, é fundamental considerar a existência da inflação. No contexto geral, no decorrer do tempo as moedas vão perdendo seu valor intrínseco, pois estão sujeitas ao poder da inflação, o que nos leva à seguinte reflexão: CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. • Qual o valor dos juros mínimos de minha poupança no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), para que eu possa pelo menos manter o valor relativo da riqueza acumulada de minha poupança? Pelo menos deverá gerar juros iguais ou acima dos da inflação, concorda? Estará acontecendo isso? A próxima vez que olhar os valores de seu FGTS, procure saber a taxa de juros que está gerando sua poupança, e aí saberá se pelo menos você está conseguindo manter o valor relativo da reserva de valor da poupança obtida por meio do esforço de seu trabalho. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. .03 1 INTRODUÇÃO Será que podemos determinar quantas transações internacionais estão envolvidas na compra de um produto no mercado? Seria quase impossível determinar, mas podemos dizer que são muitas. Se você observar, não há país que seja independente do comércio internacional. Alguns países dependem mais, outros menos, do mercado internacional de: matérias-primas, insumos, equipamentos, tecnologia, capital, produtos e serviços de consumo final, entre outros. Mas para que um país possa se integrar e aproveitar o comércio internacional para seu próprio desenvolvimento econômico, é necessário que tenha uma política econômica externa que seja positiva para os interesses do país e possa oferecer mercadorias e serviços ao mercado internacional. Mas como funciona essa política econômica externa? A seguir iremos estudar os principais conceitos dela. 2 POLÍTICA EXTERNA DA ECONOMIA A política econômica determina as diretrizes de como as relações comerciais e financeiras serão executadas com o resto do mundo. Para que isso seja feito, os países contam com a política cambial e comercial. Em termos macroeconômicos, isto ajuda na gestão das contas nacionais que monitoram as transações internacionais, isto é feito por meio da análise do balanço de pagamentos. POLÍTICA EXTERNA DA ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. 2.1 POLÍTICA CAMBIAL E COMERCIAL Todo país, em função de sua própria dinâmica econômica, analisa como vai interagir com o resto do mundo. Esta análise é feita pela gestão do governo de um país determinando estratégias para executar tanto a política cambial como a comercial. Mas como estas duas ferramentas, a política cambial e comercial, podem ajudar nisto? Segundo a conjuntura econômica e capacidade produtiva nacional, o governo definirá a maneira como sua moeda nacional se relacionará no mercado de câmbio. Ou seja, a política cambial avalia e toma ações para potencializar a capacidade competitiva de sua economia em função do valor das moedas no mercado de câmbio. É nesse sentido que “o como” um país objetiva definir a gestão de sua moeda é que irá nortear a política de câmbio. E para atingir isto, o governo possui dois modelos de política cambial: a política de taxa cambial flutuante e a de taxas fixas. 2.1.1 Política de taxa cambial flutuante Sob a política de taxa cambial flutuante a autoridade monetária deixa o valor da moeda no mercado de câmbio flutuar conforme as forças do mercado cambial atuantes. Mas quais são essas forças atuantes no mercado de câmbio? As forças que determinam o valor relativo da moeda nacional em função das estrangeiras são determinadas principalmente por dois grandes fatores: • Pela entrada de recursos monetário vindos de fora e pela saída para outros países. Essas entradas são decorrentes das exportações, investimento estrangeiro, entre outras. E as saídas são decorrentes das importações, pagamento de juros e capital da dívida externa, pela saída de capitais, entre outras. • Pelas expectativas econômicas futuras precisamente dessas entradas e saídas monetárias com o resto do mundo. Agora, sobre a aplicação da política de taxa cambial flutuante, existem vantagens e desvantagens, conforme veremos a seguir. Vantagens. Como grande vantagem da taxa de câmbio flutuante é que a própria posição cambial da moeda vai determinando gradativamente como essas forças expostas acima vão se encaixando no valor relativo da taxa de câmbio no mercado da moeda nacional. Como é um processo gradativo, dificilmente a moeda poderá sofrer um ataque especulativo, ou inclusive desenvolver um mercado paralelo de câmbio. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Qual é o significado de mercado de câmbio paralelo? É o mercado de câmbio informal, sem a intervenção das instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. No geral há mercado paralelo quando a taxa de câmbio oficial está fixada num patamar artificialmente elevado. Ficou curioso? Acesse o artigo sobre o mercado paralelo na Argentina, país que até finais do ano de 2015 vinha aplicando uma política de taxa fixa de câmbio: <http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/dolar- paralelo-retoma-alta-apesar-nova-medida-da-argentina>. Desvantagens. Ao deixar a taxa de câmbio exposta 100% às forças do mercado, acontece que a moeda fica exposta a mudanças muito rápidas que podem acontecer no mercado financeiro internacional. Isto deixa um espaço aberto a situações de alto risco que prejudicam tanto as exportações como as importações. Agora, para ter uma visão comparativa, vamos estudar sobre a Taxa Cambial Fixa. Qual é o significado de divisas? É a disponibilidade de moedas estrangeiras que possui um país. 2.1.2 Política de taxa cambial fixa Como podemos observar, há riscos no mercado que levam às oscilações na posição cambial da moeda. Assim, muitos países ficam tentados em determinar taxas de câmbio fixas. A dinâmica disto funciona da seguinte maneira: O Banco Central determina o valor fixo da taxa de câmbio. Observe: • Na primeira fase do Plano Real, desde o ano de 1994, o governo fixou o valor da nova moeda, o real, que seja R$ 1,00 = US 1,00. Nesta primeira fase isto ajudou, e em muito, a combater as pressões inflacionárias descontroladas da época. Em termos gerais, uma Política de Taxa Fixa é implantada por um prazo determinado para cumprir finalidades específicas. Devemos considerar que com ou sem fixação de taxas cambiais, no longo prazo as forças do mercado tomam conta das posições cambiais de um país. Sabendo disso, o governo da época desenvolveu duas grandes fases da nova moeda: • Primeira fase. 1994 até 1998, o real ficou fixo. O objetivo disto era combater a alta inflação estrutural da época. Ao executar a estratégia de taxa de câmbio fixa, os produtos importados não iriam subir de preço, enquanto os nacionais teriam que parar de indexar seus preços à inflação. Resultado disto? Ser mais uma ferramenta para baixar a alta inflação da época. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Ø Assim, em épocas de pressões inflacionárias altas, fixar a taxa de câmbio é uma das grandes vantagens. Porém, essa estratégia pode dar resultados positivos só durante um período de prazo determinado, até um par de anos. Além disso, a economia de um país irá colocar em risco as reservas internacionais e prejudicar até um ponto crítico a indústria nacional, ou seja, pode trazer uma crise econômicapior mesmo que a inflação alta que se desejava combater. • Segunda fase. Gradativamente, a moeda nacional, o real, começou a flutuar sob as forças do mercado de câmbio. Apesar de o Plano Real ter sucesso em diminuir a alta inflação, gradativamente o real vinha ficando exposto demais às forças do mercado, se sobrevalorizando e ficando em um patamar artificialmente elevado. Mas o que isso quer dizer? Ø Ao estar o real sobrevalorizado artificialmente, apresentou-se uma situação de excesso de importações. Nesse contexto, os agentes econômicos preferiam comprar produto importado, artificialmente barato, em detrimento da oferta da produção nacional, artificialmente cara. Ao ficar a produção nacional cara, as empresas começaram a vender e exportar menos. Resultado disso? Queda drástica na produção nacional e demissões em massa, ou seja, a taxa de câmbio já começou a ser uma ameaça muito grave à economia real. A situação exposta é uma das grandes desvantagens de uma política de taxa fixa de câmbio, isto é, tendência a sobrevalorizar a posição cambial oficial. Assim, na segunda fase do Plano Real, estava no momento de parar com essa taxa fixa de câmbio e começar a desenvolver uma política de taxa flutuante de câmbio controlada, ou semifixa. Como podemos observar, a política de taxas de câmbio flutuantes e fixas apresenta vantagens e desvantagens. A aplicação deste tipo de política depende em muito da análise conjuntural da economia. Em geral, os países tendem a ter uma política de câmbio flutuante, mas controlando as grandes oscilações do mercado de câmbio, e no Brasil não é diferente. Isto quer dizer que o Banco Central do Brasil faz gestão de evitar grandes oscilações no câmbio, ou pelo menos amenizá-las. O respaldo para fazer isto são as reservas internacionais, executando intervenções no mercado, por meio de compra e venda de divisas (moeda estrangeira). Mas como é a dinâmica disto? • Se executar a compra de US$, o Banco Central (Bacen) incentiva a demanda de US$, assim, o Bacen concorre na demanda de dólares com os importadores, apresentando-se uma situação de pressão de “desvalorizar” a moeda nacional. Isto é feito para combater pressões drásticas de valorização do real. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. • Se executar a venda de US$, o Bacen estará fazendo o efeito contrário ao exposto acima. Ou seja, incentiva a demanda de R$ e o Bacen estará concorrendo com os exportadores na venda de US$, e assim valorizando o real. Isto é feito para combater pressões drásticas de desvalorização do real. Acabamos de observar a dinâmica da política de câmbio. Mas, para entender uma das principais forças do mercado de câmbio, precisamos estudar sobre a dinâmica da conta nacional que registra tanto as entradas como as saídas de divisas de um país com o resto do mundo, isto é, o Balanço de Pagamentos. 3 O BALANÇO DE PAGAMENTOS Em termos monetários, todas as atividades comerciais e financeiras internacionais de um país ficam registradas na conta nacional Balanço de Pagamentos. O resultado final da apuração desta conta será o saldo líquido do Balanço de Pagamentos, o qual vai alimentando as reservas internacionais de um país. Devemos observar que as Reservas Internacionais servem para garantir as transações internacionais. Logo, quanto melhor e mais estável o saldo destas, mais estável ficará a taxa de câmbio, eis um exemplo de força direta, e real, que atua na dinâmica do mercado de câmbio. Agora, se por questões de uma crise econômica prolongada expõe riscos à dinâmica das reservas internacionais, logo, a taxa de câmbio pode se desvalorizar. Isto aconteceu desde o ano de 2014 até 2015, quando o real passou de R$ 2,00 para R$ 4,00 por 1,00 US$ em meados de 2015. Mas qual é a estrutura do Balanço de Pagamentos que alimenta as reservas internacionais? “[...] é um demonstrativo sistemático de todas as transações econômicas entre o país e o resto do mundo. Seus componentes principais são a conta corrente e a conta financeira” (SAMUELSON, 2012, p. 486). Por questões de padronização internacional, o Balanço de Pagamentos da maioria dos países é feita em US$, em função de que a moeda dos Estados Unidos é a de maior circulação e peso comercial no mundo. É por isso, entre outras coisas, que no Brasil o Balanço de Pagamentos tem um valor referencial em US$. A seguir vamos ver a estrutura do Balanço de Pagamentos, aliás, composto para várias grandes subcontas. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. 3.1 SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES O saldo em transações correntes é a somatória da Balança Comercial mais o saldo da Balança de Serviços, ou seja: Transações correntes (+) Saldo Balança Comercial (+) saldo Balança de Serviços (+) saldo Transferências Unilaterais Correntes. A seguir podemos observar quais as movimentações destas contas: • Balança comercial. Esta conta do Balanço de Pagamentos apura o saldo líquido entre todas as exportações e importações durante um período determinado. A balança comercial é o primeiro ponto referencial de tendências da cotação da taxa de câmbio, pois, dependendo do saldo líquido desta, e suas perspectivas, podem fazer aumentar ou diminuir as reservas internacionais. • Balança de serviços e valor das transferências unilaterais correntes. Esta é a segunda conta do Balanço de Pagamentos, e é quebrada em várias subcontas, entre as mais importantes: o Rendimentos financeiros ou renda de capitais apuram as despesas com juros da dívida externa, pública ou privada; os rendimentos financeiros no exterior; e as entradas e saídas das remessas de rendimentos das empresas estrangeiras instaladas no país, assim como das empresas brasileiras instaladas no exterior. o Despesas em viagens, transportes, seguros e serviços governamentais apuram o saldo líquido da saída e entrada de divisas destes serviços prestados. No Brasil, ao longo das últimas décadas, o saldo das transações correntes vem sendo negativo. Somente entre os anos de 2003 e 2007 é que este saldo foi positivo, graças ao boom de exportações de commodities desses anos. Neste ponto devemos nos perguntar: se na maioria dos anos o saldo das transações correntes vem sendo negativo, como é que o Brasil consegue melhorar o saldo das reservas internacionais? Isto podemos responder por meio da dinâmica da segunda parte do Balanço de Pagamentos, isto é: a Conta de Capital e Financeira. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. 3.2 CONTA DE CAPITAL E FINANCEIRA Podemos interpretar que o saldo das transações correntes é fonte de saldos operativos do Balanço de Pagamentos. A este saldo operativo devemos aumentar o saldo das movimentações dos grandes capitais financeiros e de investimento que entram e saem do país. Estas movimentações estão representadas por meio das transações em Conta de Capital e Financeira, movimentações agrupadas em dois grandes grupos: • Investimento estrangeiro direto. Nesta conta registram-se as movimentações de investimento estrangeiro que fica no país por meio de compra de empresas, ações, ou empreendimentos novos. O valor deste tipo de investimento vem só aumentando desde o começo do ano 2000, porém, com uma queda relativa nos anos 2013, 2014 e 2015. Este tipo de investimento é uma fonte de recursos relativamente segura, pois é capital investido no longo prazo em equipamentos, infraestrutura, novas empresas, entre outros, assim, ele não pode ir embora, tal como os capitais financeiros. • Empréstimos no exterior. Quando não há fontes de investimentos diretos e a economia precisa de recurso monetário estrangeiro, uma alternativa adicional para obter divisas é através de financiamento externo. Neste caso, o país pode solicitar empréstimos ao setor bancário internacional; ouaos organismos financeiros internacionais, tais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). • Capitais de curto prazo. Existe mais uma alternativa para obter divisas, isto é feito por meio de capitais financeiros de curto prazo. Este tipo de capital cobra juros bem maiores, reflexo de sua disponibilidade imediata. Em função dessa disponibilidade imediata, este tipo de capital é de alto risco à economia de um país, pois assim como entra, também sai em questão de dias. Eles começam a sair, imediatamente, ao acontecer, ou perceberem que “pode acontecer” uma crise internacional ou nacional. Alguns países enfrentaram sérios problemas com a saída repentina destes capitais. Historicamente, isto aconteceu no México em 1994; Tigres Asiáticos, 1997; Rússia, 1998; Brasil, 1999; Argentina, 2001; e Sul da Europa, 2012, por citar alguns exemplos. 3.3 SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS Acabamos de analisar os dois grandes grupos de conta que alimentam o Balanço de Pagamentos, isto é, o saldo em transações correntes e o saldo em conta de capital e financeira. Ao somar todas as contas desses dois grupos de contas é que se poderá obter o Saldo do Balanço de Pagamentos, conforme podemos ver a seguir: CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS FONTE: O autor (+/-) Saldo Líquido das Transações Correntes Valor líquido da Balança Comercial + Valor Líquido da Balança de Serviços + Valor das Transferências Unilaterais Correntes. (+/-) Saldo em Conta de Capital e Financeira (+/-) Investimentos Diretos (+/-) Empréstimos (+) Estrangeiros Investindo no país (-) Brasileiros Investindo no Exterior. (+) Novos Empréstimos (-) Amortizações desses Empréstimos (+/-) Capitais de Curto Prazo (+) Entrada destes (-) Saída destes (+/-) Saldo do Balanço de Pagamentos Saldo que vai aumentando ou diminuindo as Reservas Internacionais Observe que o resultado final do saldo do Balanço de Pagamentos pode aumentar ou diminuir as reservas internacionais de um país. Por meio do resultado final do saldo de balanço de pagamentos, podemos observar as seguintes situações: 1 Se há saldo positivo, haverá acréscimo nas reservas internacionais, logo, uma tendência de valorização da moeda nacional. 2 Se há saldo negativo, haverá decréscimo nas reservas internacionais, logo, uma tendência de desvalorização da moeda nacional. O resultado final do balanço internacional de pagamentos revela a posição do país em suas transações externas como um todo. As situações de déficit indicam saídas de reservas cambiais superiores às entradas, implicando geralmente queda das reservas cambiais; superávits, contrariamente, indicam ingressos líquidos de recursos, com o aumento dos estoques de ativos externos do país (ROSSETI, 2003. p. 888). O Brasil possui reservas internacionais muito sólidas, equivalentes a mais de 14 meses de importações. Eis um dos motivos do porquê, no primeiro semestre do ano de 2016, logo depois que a crise política/econômica começou a dar sinais de melhoria, a taxa de câmbio passou de R$ 4,00 por US$ 1,00 para menos de R$ 3,20 a finais de setembro/2016, segundo o Portal Brasil: Reservas internacionais de US$ 370 bilhões ajudam a proteger Brasil da crise [...] As reservas compõem uma poupança valiosa que blinda a economia, dando garantia de que o país honrará seus compromissos com credores nacionais e estrangeiros, mesmo em situações de crise, e barrando riscos de disparada da dívida pública. FONTE: Disponível em: <http://twixar.me/bxz1>. Acesso em: 5 ago. 2016. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. 4 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Todo país deseja desenvolvimento econômico, ele é a trilha para melhorar a riqueza e bem-estar das pessoas, e especialmente ele consegue superar a desigualdade social e fortalecimento da classe média. Uma maneira de assegurar o desenvolvimento econômico de uma sociedade é por meio da consolidação de sua classe média. • Eis um dos principais objetivos de como colocar na prática as teorias de desenvolvimento econômico, isto é: como conseguir executar o aumento sustentável da riqueza de um país e de sua classe média ao longo dos anos. Em termos de história econômica, os países só conseguiram se desenvolver a partir de crescimentos econômicos que têm levado em conta a sociedade e suas classes sociais dentro desse contexto de crescimento. Este raciocínio econômico ficou bem mais evidente logo após a Grande Depressão de 1929. A questão do desenvolvimento econômico também ficou mais evidente, no final dos anos de 1930, com a aplicação da Contabilidade Nacional, nascida com a teoria keynesiana. Com ela, passou-se a comparar a renda per capita dos diferentes países e a classificá-los como “ricos” ou “pobres”, dependendo do valor dessa renda média (SANTOS, 2011, p. 2). A partir dessa época e por meio do registro dos agregados econômicos da Contabilidade Nacional, se apresentaram as condições para que muitas nações pudessem ter ferramentas de análise para melhorar as condições e oportunidades da grande empresa, da média e pr incipalmente da microempresa, gerando assim melhores condições do emprego e de bem-estar da sociedade. Em grandes termos, a primeira das grandes contas para analisar o desenvolvimento econômico de um país é o Produto Interno Bruto (PIB). 4.1 O PIB PER CAPITA COMO MEDIDA DE BEM-ESTAR Em termos de análise socioeconômica, muito se comenta que o Produto Interno Bruto (PIB) não deve ser considerado isoladamente para avaliar o nível de desenvolvimento econômico. Porém, o PIB é o primeiro ponto de partida para analisar a riqueza e força econômica de um país. Qual país possui maior riqueza, o Brasil ou a Holanda? Em termos de valores monetários e de PIB, com certeza o Brasil! Pois é uma economia bem maior. Mas em termos da riqueza, inovação e capacidade de consumo das famílias entre estes dois países, qual terá maior nível de desenvolvimento? CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. A resposta é quase óbvia, as famílias holandesas possuem muito mais riqueza média que a família brasileira, logo, a Holanda é um país com um nível de desenvolvimento bastante maior que o Brasil. Vamos dar uma olhada no PIB dos últimos anos destes dois países? QUADRO COMPARATIVO DO PIB ENTRE O BRASIL E HOLANDA (PAÍSES BAIXOS) FONTE: Disponível em: <http://www.worldbank.org/>. Acesso em: 15 nov. 2016. Assim, acabamos de ver que o PIB não é um determinante para identificar o nível de desenvolvimento de um país, mas é sim o primeiro passo para identificá-lo. Como? A resposta é bem simples: devemos pegar o PIB de um país e dividi-lo para o número de cidadãos desse país, seguindo nosso exemplo: PIB PER CAPITA COMPARATIVO ENTRE DOIS PAÍSES – ANO 2015 FONTE: Disponível em: <http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2016/update/01/>. Acesso em: 5 ago. 2016. País PIB (Milhões de US$) População PIB per capita em US$ Brasil 1.772.589 204.450.649 US$ 8.670 = 1.772.589.000.000 204.450.649 Holanda 738.419 16.819.595 US$ 43.902,31 = 738.419.000.000 16.819.595 CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Acabamos de observar como é apurado o PIB per capita de um país e sua análise comparativa entre dois países. Apesar de o Brasil ser uma economia bem maior (150% maior), a riqueza média de sua população é bastante menor que da Holanda. Aliás, a riqueza média, medida em US$, do holandês é 406% maior que a do brasileiro! Eis um dos motivos do porquê a Holanda possuir um maior desenvolvimento que o Brasil. Do exposto acima podemos dizer que o primeiro passo para analisar o nível de bem-estar relativo de um país é apurando o PIB per capita. Por meio desta apuração podemos ter a rendaper capita “referencial”. Parâmetro de comparação que permite fazer uma análise da riqueza média dos cidadãos de um país, porém, faltam mais elementos para se ter uma análise mais criteriosa. 4.2 ÍNDICES NÃO MONETÁRIOS COMO MEDIÇÃO DE BEM- ESTAR Como acabamos de estudar, o PIB per capita é um identif icador “referencial” de nível de desenvolvimento econômico e de bem-estar. Porém, nele faltam elementos de análise para observar como está distribuída essa riqueza entre a população. Segundo o FMI, o PIB per capita do Brasil no ano de 2011 foi de US$ 12.993, porém: • Será que todo brasileiro, nesse ano de 2011, teve uma renda média de US$ 1.083 por mês? Isto é, uma renda média em reais de R$ 2.166, considerando a taxa de câmbio de R$ 2,00 por US$ dessa época? Alguns receberam muito mais que isso, e outros muito menos, inclusive não receberam renda. Eis a questão da análise social da riqueza de um país. Deste modo, além do PIB per capita, é chave ter outros elementos de análise para definir melhor o nível de bem-estar de um país. Nesse sentido, a ONU vem calculando periodicamente o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o qual considera as seguintes variáveis: expectativa de vida; nível de alfabetização; grau de distribuição de renda; mortalidade infantil; leitos hospitalares per capita; e consumo de calorias e proteínas per capita. Uma vez obtido o IDH, aí sim podemos fazer uma análise comparativa tanto do PIB per capita como do IDH, para assim obter um referencial mais claro do índice de bem-estar social de um país. A seguir, podemos ver essas grandes diferenças entre riqueza bruta do PIB, PIB per capita e IDH das maiores economias do mundo no ano de 2012. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. PIB ((Milhões de US$) PIB per capita IDH Fonte FMI FMI PNUD Ano 2012 2011 2012 Estados Unidos 1 15.653.366 14 48.387 3 0,937 China 2 8.250.241 89 5.414 101 0,699 Japão 3 5.894.390 18 45.920 10 0,912 Alemanha 4 3.336.651 20 43.742 5 0,92 França 5 2.875.000 19 44.008 20 0,893 Brasil 6 2.673.580 54 12.993 85 0,73 Reino Unido 7 2.585.779 22 38.592 26 0,875 O PIB E OS ÍNDICES COMPARATIVOS DE BEM-ESTAR * Não há registro do índice de IDH FONTE: Disponível em: FMI: <http://www.imf.org/external/country/index.htm>. Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento (PNUD): <www.pnud.org.br/SobrePNUD.aspx>. Acesso em: 7 dez. 2016. Observe que tanto a China como o Brasil estão entre as maiores economias do mundo. Mas seus PIBs per capita são bem menores que das outras economias do quadro e de muitas outras mais que não estão nesse quadro. Aliás, o PIB per capita da China deste ano (2016) foi só de US$ 5.414, possuindo o pior IDH das maiores economias do mundo. Agora, cabe levar em consideração que, apesar de que tanto o PIB per capita do Brasil como da China são bastante mais baixos que do resto das maiores economias do mundo, estes dois países vêm apresentando mudanças drásticas na sua estrutura econômica. Há apenas duas décadas, suas economias nem estavam entre as maiores do mundo, e pior ainda era o nível de bem- estar de suas populações, estes níveis eram bastante mais baixos. Pode-se considerar que o desenvolvimento econômico é um conjunto de transformações intimamente associadas, que se produzem na estrutura de uma economia, e que são necessárias à continuidade de seu crescimento. Essas mudanças concernem à composição da demanda, da produção e dos empregos, assim como da estrutura do comércio exterior e dos movimentos de capitais com o estrangeiro. Consideradas em conjunto, essas mudanças estruturais definem a passagem de um sistema econômico tradicional a um sistema econômico moderno (CHENERY, 1991 apud SOUZA, 2011). Para concluir, podemos dizer que a dinâmica entre essas interdependências expostas pelo autor Chenery (2011) é que faz realmente crescer a economia de um país. Porém, é exatamente com essas mudanças estruturais, com uma visão mais social e levando em consideração o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e políticas econômicas de bem-estar, que se poderá melhorar a “real distribuição da renda”, portanto, obter um desenvolvimento econômico com um horizonte mais sustentável no longo prazo. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. AUTOATIVIDADE Tópico .01 1 Qual é a diferença entre uma política econômica de curto prazo e uma de longo prazo? 2 Se o governo está precisando incentivar o crescimento econômico por meio do aumento da Demanda Agregada, um dos meios para atingir isso é incentivando a geração de maior emprego. Mas, em contrapartida, qual será um dos impactos colaterais desta medida? 3 No momento em que o governo apresentar um alto nível de gasto público, logo depois haverá pressões na inflação. Nesse sentido, para frear essa pressão na inflação, qual poderia ser uma medida efetiva da política fiscal? 4 Se o governo aumentar os impostos, embora seja uma atitude impopular, qual será o impacto na demanda agregada decorrente desse aumento de impostos? Tópico .02 1 No momento de aplicar políticas monetárias, como se pode aumentar ou inibir a Demanda Agregada (DA) por meio da Teoria Quantitativa da Moeda? 2 Entre as ferramentas da política monetária, temos o depósito compulsório. O que aconteceria se o governo reduzisse a porcentagem do depósito compulsório? 3 Uma das funções fundamentais da moeda é a sua condição de denominador comum de valores. Explique esse conceito. 4 Na economia contemporânea, na maioria dos países não existe moeda em circulação que tenha seu respectivo valor em “reserva ouro” no Banco Central, como existia antigamente até meados do século passado. Hoje existe na maioria dos países o conceito de moeda fiduciária. A seguir, exponha qual o significado de moeda fiduciária. CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. Tópico .03 1 Quando um país adota o regime de taxa de câmbio flutuante, é o mercado que determina o valor relativo da taxa de câmbio. Nesse cenário: a) Quais são as forças que determinam esse mercado? b) Qual é a grande conta nacional que apura a entrada e saída de recursos monetários de um país, em que moeda é medida essa conta? 2 Dentro da balança comercial tem-se a conta de importações. Nesse sentido, como impacta no Balanço de Pagamentos um aumento nas importações? 3 Existem dois grandes tipos de políticas de taxa de câmbio, a taxa de câmbio fixa e a flutuante. A seguir, determine a diferença entre taxa de câmbio fixa e flutuante. 4 Ao final da apuração de todos os registros do Balanço de Pagamentos durante um período de tempo, logo, o saldo líquido dessa conta como pode impactar as Reservas Internacionais e a taxa de câmbio? 5 No contexto de desenvolvimento econômico, qual o medidor da riqueza monetária referencial dos cidadãos de um país, e qual é o medidor social de bem-estar? CURSO LIVRE - ECONOMIA 5: POLÍTICA ECON. E DESENVOLVIMENTO ECON. REFERÊNCIAS CHENERY, Hollis. Changement des estrutures et politiques de dévelopment. Paris: Economica, 1981. FROYEN, Richard T. Macroeconomia. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. KENNEDY, Peter E. Economia em contexto. São Paulo: Saraiva, 2004. ROSSETI, José Paschoal. Introdução à economia. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2003. ROSSETI, José Paschoal. Contabilidade social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1995. SOUZA, Nali de Jesus. Desenvolvimento econômico. 5. ed. São Paulo: Atlas. 2011. SAMUELSON, Paul; NORDHAUS, William. Economia. 17. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2004. VASCONCELLOS, Marco Antônio; GARCIA, Manuel E. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 2005.
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