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Psicopatologia I – Orientação e suas alterações É a capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente; é o elemento básico da atividade mental e fundamental para a sobrevivência. A avaliação da orientação é um instrumento valioso para a verificação das perturbações do nível de consciência. Muitas vezes, verifica-se que um paciente com nível de consciência que parece normal está com a consciência ligeiramente turva e rebaixada. Assim, ao investigar a orientação desse indivíduo, é verificado que ele se acha desorientado quanto ao tempo e ao espaço. A capacidade de orientar-se requer, de forma consistente, a integração das capacidades de atenção, percepção e memória. Alterações da atenção e retenção (memória imediata e recente) apenas um pouco mais intensas do que leves costumam resultar em alterações globais da orientação.A desorientação é um dos sintomas mais freqüentes das doenças cerebrais. A capacidade de orientar-se é classificada em orientação autopsíquica e alopsíquica. Orientação autopsíquica: é a orientação do indivíduo em relação a si mesmo. Revela se o sujeito sabe quem é: nome, idade, data de nascimento, profissão, estado civil, saber quem é o entrevistador, etc. Orientação alopsíquica: diz respeito à capacidade de orientar-se em relação ao mundo, isto é, quanto ao espaço (orientação espacial) e quanto ao tempo (orientação temporal). Entende-se vários subtipos de orientação: quanto ao local onde o sujeita está no momento (o local específico, distância, tipo de edifício). É investigada perguntando-se ao paciente o lugar onde ele se encontra, a instituição em que está, o andar do prédio, o bairro, a cidade, o estado e o país. Também é investigada a capacidade do paciente de identificar a distância entre o local da entrevista e sua residência. É uma capacidade complexa, contituída por vários componentes: reconhecer locais, edifícios, partes da casa, reconhecer cenas, perceber de forma acurada relações espaciais entre difrentes locais e ter habilidade de navegação. Necessita de uma adequada percepção do tempo e da sequência de intervalos temporais, de sua correspondente representação mental e do processamento mental da temporalidade. Trata-se de orientação mais sofisticada que a espacial e a autopsíquica. A orientação temporal indica se o paciente sabe em que momento cronológico está vivendo, a hora do dia, se é manhã, tarde ou noite, o dia da semana, o dia do mês, o mês do ano, a época do ano, bem como o ano corrente. O examinador pode perguntar: há quanto tempo não me vê? Há quanto tempo está nesse local? Psicopatologia I – Orientação e suas alterações A orientação temporal é atingida tardiamente que a autopsíquica e a espacial na evolução neuropsicológica da criança. Piaget notou que crianças de 4 a 7 anos, no nível pré-operatório, têm ainda algumas dificuldades com a noção de tempo. Elas acreditam que crianças mais altas são sempre mais velhas, que árvores altas, mais largas e com mais frutos são sempre “mais velhas” e que a duração de uma viagem é dada pelos pontos de chegada, semconsideração da velocidade de locomoção. Portanto, a temporalidade é uma função que exige maior desenvolvimento cognitivo do indivíduo, além da integração de estímulos ambientais de forma mais elaborada. Por isso, em relação à orientação espacial, a orientação temporal é mais fácil e rapidamente prejudicada pelos transtornos mentais e distúrbios neuropsicológicos e neurológicos, particularmente pelos que afetam a consciência. Distinguem-se vários tipos de desorientação, de acordo com a alteração de base que a condiciona. É preciso lembrar que geralmente a desorientação ocorre, em primeiro lugar, em relação ao tempo. Só após o agravamento do transtorno, o indivíduo se desorienta quanto ao espaço e, finalmente, quanto a si mesmo. I- Desorientação por redução do nível de consciência: também denominada desorientação torporosa ou confusa, é aquela na qual o indivíduo está desorientado por turvação da consciência. Tal turvação e o rebaixamento do nível de consciência produzem alteração da atenção, da concentração e, conseqüentemente, da capacidade de percepção e retenção dos estímulos ambientais. Isso impede que o indivíduo apreenda a realidade de forma clara e precisa e integre, assim, a cronologia dos fatos. Portanto, nesse caso, a alteração do nível de consciência é a causa da desorientação. Essa é a forma mais comum de desorientação. II- Desorientação por déficit de memória imediata e recente: também denominada desorientação amnéstica. Aqui, o indivíduo não consegue reter as informações ambientais básicas em sua memória. Não conseguindo fixar as informações, perde a noção do fluir do tempo, do deslocamento no espaço, passando a ficar desorientado temporoespacialmente. Ocorre não apenas por perda da memória de fixação, mas por déficit de reconhecimento ambiental (agnosias) e por perda e desorganização global das funções cognitivas. Ocorre nos diversos quadros demenciais (doença de Alzheimer, demências vasculares, etc.), e da Síndrome de Korsakoff; o doente não sabe o dia, mês e ano que se encontra. III- Desorientação apática ou abúlica: ocorre por apatia ou desinteresse profundos. Aqui, o indivíduo torna-se desorientado devido a uma marcante alteração do humor e da volição, comumente em quadro depressivo. Por falta de motivação e interesse, o indivíduo, geralmente muito deprimido, não investe sua energia no mundo, não se atém aos estímulos ambientais e, portanto, torna-se desorientado. Psicopatologia I – Orientação e suas alterações IV- Desorientação delirante: ocorre em indivíduos que se encontram imersos em profundo estado delirante, vivenciando idéias delirantes muito intensas, crendo com convicção plena que estão “habitando” o lugar (e/ou o tempo) de seus delírios. Nesses casos, é comum a chamada dupla orientação, na qual a orientação falsa, delirante, coexiste com a orientação correta. Quando delírios e alucinações prejudicam a orientação. Ocorre nos casos de delirium tremens e esquizofrenia. V- Desorientação demencial: é muito próxima à amnéstica. Ocorre não apenas por perda da memória de fixação, mas por déficit de reconhecimento ambiental (agnosias) e por perda e desorganização global das funções cognitivas. VI- Desorientação por déficit intelectual: ocorre em indivíduos com deficiência ou retardo mental grave ou moderado. Nesse caso, a desorientação ocorre pela incapacidade ou dificuldade em compreender o ambiente e de reconhecer e interpretar as convenções sociais (horários, calendário, etc.) que padronizam a orientação do indivíduo no mundo. VII- Desorientação por dissociação: ocorre em geral em quadros histéricos graves, normalmente acompanhada de alterações da identidade pessoal (fenômeno da possessão histérica ou desdobramento da personalidade) e de alterações da consciência secundárias à dissociação histérica (estado crepuscular histérico, quadros dissociativos psicogenéticos, etc.). VIII- Desorientação por desagregação: ocorre em pacientes psicóticos, geralmente esquizofrênicos em estado crônico e avançado da doença, quando o indivíduo, por desagregação profunda do pensamento, apresenta toda a sua atividade mental gravemente desorganizada, o que o impede de se orientar de forma adequada quanto ao ambiente e quanto a si mesmo. IX- Desorientação quanto à própria idade: é definida como uma discrepância de cinco anos ou mais entre a idade real e aquela que o paciente diz ter. Ela tem sido descrita em alguns pacientes esquizofrênicos crônicos e parece ser um bom indicativo clínico de déficit cognitivo na esquizofrenia.
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