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Analise La Amistad

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1. NARRATIVA –DESCRITIVA
O filme “Amistad” remonta ao cenário do século XIX, quando em 1839, a bordo de um navio de tráfico negreiro ocorre um enorme revés ao momento em que os africanos, trazidos de seus lares para tornarem-se escravos nas Américas, após constante tortura e em condições desumanas, cometem um motim libertando-se dos grilhões, e trucidando maior parte da tripulação que os aprisionava. Após a rebelião os negros na tentativa de retornar a seu continente, fizeram com que os sobreviventes do massacre os guiassem, porem desconhecendo as rotas marítimas foram ludibriados e levados a costa de Connecticut na América do Norte.
Chegando a costa Norte Americana o navio espanhol “La Amistad” onde encontravam-se amotinados os africanos, é capturado pela guarda-costeira estado-unidense, momento em que são todos aprisionados e levados a julgamento, acusados de homicídio, levando a uma grande polemica durante o momento de tensão entre os escravagistas do Sul e os abolicionistas do norte industrializado, conflito que posteriormente levaria a Guerra de Secessão.
Os sobreviventes da tripulação pleiteiam a posse da mercadoria (forma como eram tratados os africanos escravizados), porem são contestados pela Rainha Isabella II da Espanha sobre pretexto de que o navio era de bandeira espanhola, sendo assim a carga pertenceria a coroa; além de ambos, também reclamavam posse dos cativos, os oficiais norte-americanos que apreenderam e controlaram a revolta.
Contra os reclamantes e em favor dos africanos cativos, levantam-se: o ex-escravo Theodore Joadson, e o jovem advogado Roger Baldwin, ambos defensores das liberdades individuais do homem, lutando contra a espoliação e exploração características da escravidão. 
Em princípio, os africanos são julgados em primeira estancia pelo assassinato da tripulação, mas, o caso torna-se ainda mais polêmico pelo fato de ocorrer em um período de reeleição, onde o Presidente Martin Van Buren tenta pela condenação dos negros, em motivo de benefício próprio, pois agradaria os Estados do sul, e também estreitaria as relações com a Espanha.
No julgamento em primeira estancia, graças a uma sagaz defesa elaborada pelo advogado Roger Baldwin, que consegue provar, através do inventario do navio, que os africanos foram traficados do Forte Lomboko, situado em Serra Leoa na Africa, e então transportados até a embarcação La Amistad para serem comercializados de forma ilegal (pois nos Estados Unidos da América era proibida a importação de escravos trazidos do continente africano). Baldwin também toma como base a tese de que se na constituição americana era reconhecida a situação de pessoas que prestavam serviços, possuíam direitos e, de nenhuma forma poderiam ser considerados como propriedade de alguém. Neste caso, sendo os africanos considerados como “objetos” não poderiam estar sendo julgados.
Assim sendo, o Juiz do Tribunal Distrital decidiu pela rejeição da acusação de homicídio feita por parte do governo Norte-Americano, e também negou o pedido de extradição feito pela coroa espanhola. O poder Executivo então apelou para a próxima estancia e posteriormente para a Suprema Corte dos Estados Unidos da América.
Em última estancia, a defesa dos africanos capturados foi realizada pelo advogado Roger Baldwin e agora também pelo Ex-Presidente Norte-Americano John Quincy Adams, todavia foi decisiva a contestação de Adams para a decisão da Suprema Corte.
John Adams em sua extensa defesa, inicia pela noção de Justiça definida pelas institutas de Justiniano, destacando que a decisão da Corte incidiria sobre a liberdade e as vidas de cada um dos réus por ele representados. Sua defesa utiliza como base os valores de fundação do país, invocando o espirito republicano dos Estados Unidos da América e também da antiga Roma, e também destacando o papel da Suprema Corte como guardiã dos valores constitucionais. E acusa o executivo norte-americano de substituir a noção de justiça por mera simpatia a causa dos brancos escravagistas.
O Ex-Presidente utiliza do argumento de que por se tratar de um caso peculiar e imprevisível, a única lei aplicável seria a lei natural e de natureza divina, evocando os princípios declarados pelos fundadores do país, que servem de alicerce para a edificação da Republica. Sendo assim, aqueles negros não eram propriedade de ninguém, e sim homens livres, pois provinham do continente africano e tinham direito a vida e a liberdade. Desconhece-los seria romper com as tradições e renegar o próprio passado.
Após o longo discurso de John Adams, a Suprema Corte decide em favor dos réus, que então inocentados, tiveram o direito assegurado e custeado pelo Estado Norte-Americano de retornar a sua terra de origem como homens livres.
2. COMENTÁRIO-CRÍTICO
Nos Estados Unidos da América, mesmo sendo um país, cujo a maioria da população, na época era abertamente racista, e que ainda se aproveitava da exploração humana e do trabalho escravo, o tráfico de escravos era considerado pratica ilegal, porem mesmo assim, o negro era tratado como propriedade, e não era portador de nenhum dos direitos básicos concedidos ao homem.
Em princípio durante nenhum momento do julgamento foi considerado sobre o fato, de que os africanos sofreram maus tratos, constante tortura e tiveram de sobreviver em condições sub-humanas durante o trajeto percorrido em alto mar pelo navio negreiro, sendo punidos somente na última instancia os responsáveis, somente devido ao crime de tráfico de escravos.
Um dos agravantes na dificuldade de realizar o julgamento dos africanos, foi a barreira imposta pelo idioma, pois tornou os réus incapazes de defenderem-se das acusações, limitando-os a serem julgados por relatos unilaterais, o que faz com que pareçam cada vez mais com “coisas” ao invés de seres humanos.
Percebe-se que inicialmente o real motivo do julgamento não se tratava de uma questão de constitucionalidade ou justiça, mas sim de interesse puramente econômico, pois tanto os oficiais que apreenderam a embarcação, quanto os sobreviventes da tripulação e até mesmo a própria Rainha da Espanha, tinham uma visão dos africanos como um negócio lucrativo, apenas objetos ou mercadoria a ser comercializada.
Um fator peremptório para o resultado final do julgamento foi a atitude do advogado Roger Baldwin, que buscou alguém capaz de intermediar a comunicação com Cinqué e os outros africanos, utilizando como artificio, um pouco da história e sentimentos de cada um, assim quebrando a visão precipitada e mesmo equivocada dos negros como seres irracionais, fazendo-os passar da designação de objetos para a de seres humanos.
Outro fator que dificulta o trabalho do judiciário em fazer com que a lei seja cumprida de forma correta, é a corrupção do poder Executivo, que neste caso interviu substituindo o Juiz responsável pelo caso, na tentativa de alterar os resultados finais, visando a obtenção de benefícios próprios.
Durante o julgamento o advogado de acusação, argumenta sobre a legitimidade da escravidão, uma pratica antiga, onde o mais forte acaba por subjugar o mais fraco, pratica essa que não é exclusividade de europeus contra africanos, pois, durante a época do esplendor de Roma, eram comuns escravos europeus, seja por motivos de guerras, ou dividas, assim como as próprias tribos africanas escravizavam umas às outras. Em toda a história, há relatos de trabalhos forçados, servidão e constante violação dos direitos básicos do homem, todavia, é inadmissível legitimar tal pratica hedionda, independente do pretexto, todo o ser humano deve manter sua liberdade e dignidade.
A sombra de Roma é tão vasta que se estende mesmo através do tempo, sendo a longevidade de sua fundação, utilizada como exemplo, pelo advogado John Quincy Adams, reportando-se aqueles que haviam idealizado a Republica Romana, período de maior inspiração dos fundadores dos Estados Unidos da América, destacando-se notadamente menções a Cicero e Tácito.
Graças a defesa do Ex-Presidente, baseada na retomada dos valores da fundação nacional, foi possível,convencer os nove magistrados da Suprema Corte, dos quais sete eram proprietários de escravos, a cumprirem seu dever como guardiões dos valores constitucionais, garantindo o direito à liberdade aos africanos.
Apesar de um momento conturbado, de enorme tensão nas concepções raciais e, também políticas, com a possibilidade da decisão da Suprema Corte agravar um conflito civil de grandes proporções, a justiça foi colocada acima de tudo, retomando a máxima de Piso “Fiat justitia ruat cælum”.
Tal Justiça, que na concepção do personagem Cinqué, é associada ao que diziam seus antepassados, que todos nós somos a soma de nossos ancestrais. Sendo assim, a justiça que lhes foi concedida, estava presente no “sangue” de cada um, independente de negros ou brancos, sendo ela um valor moral passado através de gerações
Conclui-se, que o caso somente terminou de forma justa, devido, principalmente ao empenho de Roger Baldwin, em fazer com que todos os homens, independentes, de sua cor, etnia ou qualquer outro fator fenotípico, fossem tratados e julgados como semelhantes. Caso, eventualmente ocorresse, de ser designado para a defesa dos africanos, um advogado, sem uma visão de equidade, que possivelmente seguiria o senso comum da época, talvez o desfecho do caso “Amistad” houvesse sido completamente diferente, sendo os amotinados, vendidos ou executados.
3. PESQUISA DE TEMAS RELEVANTES
3.1. Escravidão contemporânea no Brasil.
Em 13 de maio, do ano de 1888, era decretada a Lei Aurea, que declarava o fim do direito de propriedade de uma pessoa sobre a outra no Brasil, porém, o trabalho escravo continua ocorrendo nos dias de hoje, em todas as regiões do pais, seja em zona urbana ou rural.
No começo dos anos 2000, os flagrantes de trabalho escravo eram concentrados principalmente nas áreas de expansão da fronteira agrícola, na Amazônia.
Gráfico 1: Número de trabalhadores libertados por atividade econômica. (2003-2014):
Fonte: Comissão Pastoral da Terra.
Em 2013, um fato novo aconteceu: pela primeira vez desde que os dados sobre libertações começaram a ser compilados, o número de trabalhadores resgatados do trabalho escravo contemporâneo em atividades urbanas superou o de libertados no campo.
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que sistematizou as informações fornecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 53% das pessoas libertadas em 2013 trabalhavam na zona urbana. A construção civil foi a maior responsável por isso, sendo o setor da economia brasileira com mais casos de resgates nesse ano: foram 858 libertados, ou 38% do total.
Mesmo, proibida a apropriação de seres humanos, ainda ocorrem trabalhos que expõem as pessoas a uma certa situação de escravidão, mesmo não sendo da maneira como ocorreu com os africanos no continente americano, e se assemelhando mais com o modelo de escravidão por dividas adotado por um longo período na Europa e resto do mundo, ainda é algo hediondo a ser combatido.
REFERENCIAS
REPORTER BRASIL, Organização não Governamental.	Escravidão contemporânea no Brasil. Livro digital “Escravo, nem pensar!” | Trabalho escravo contemporâneo. Pág 3. Disponível em: < http://escravonempensar.org.br/livro/capitulo-1/#3 > Acesso em: 31 abr 2018.

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