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O self na relação terapêutica
Book · February 2018
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1 author:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Resilience and the Association with Depression, Anxiety and Trauma History in Patients with Systemic Lupus Erythematosus View project
Sílvia Fernanda Cal
UNIME-União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura
19 PUBLICATIONS   59 CITATIONS   
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SÍLVIA FERNANDA LIMA DE MOURA CAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O SELF NA RELAÇÃO TERAPÊUTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ÍNDICE 
 
 
 
Introdução ........................................................................................................................... Pág. 04 
Capitulo 1 – O Self .............................................................................................................. Pág. 07 
Capitulo 2 – Símbolos do Self ............................................................................................. Pág. 11 
Capitulo 3 – O Self na Mitologia e nos Contos de Fadas ................................................... Pág. 20 
Capitulo 4 – O Self nos Sonhos .......................................................................................... Pág. 25 
Capitulo 5 – O Self nas Escrituras Sagradas ........................................................................ Pág 29 
Capitulo 6 – A Relação Terapêutica ................................................................................... Pág. 33 
Capitulo 7 – O Self na Relação Terapêutica ....................................................................... Pág. 38 
Capítulo 8 –O Dogma da Trindade......................................................................................Pág 42 
Capítulo 9 –Mais Considerações sobre as mandalas............................................................Pág 50 
Capitulo 8 – Conclusão ....................................................................................................... Pág. 55 
Bibliografia.......................................................................................................................... Pág 56 
 
 
 
 
 
O Self na relação terapêutica 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “ o desenvolvimento da personalidade[...] é uma questão 
de dizer sim a si mesmo, de se considerar como a mais 
importante das tarefas, de ser consciente de tudo o que se 
faz, mantendo-se constantemente diante dos olhos em todos 
os nossos dúbios aspectos”. 
 Jung( Estudos alquímicos, p. 24) 
 
 
 
 
 
O Self na relação terapêutica 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A função religiosa, para Jung, é uma disposição natural da alma. Esta função se produz por 
si mesma sem precisar ser impulsionada e sem precisar de interferência. Há no homem uma 
verdadeira necessidade, independente de sua fé religiosa, de entrar em relação com algo que 
provoque nele o sentimento de numinoso, algo que desperte nele a percepção do sagrado. 
O numinoso, ainda que seja provocado por um sagrado exterior, desencadeia um processo 
puramente interno, pela comunhão com o “fundo originário e com a vastidão ilimitada do Si 
mesmo” 
1
. 
O contato com este nível interno, enquanto experiência primordial e absoluta indiscutível, 
foi objeto de especial atenção no estudo de Jung, chegando ele a dizer que, em todos os seus 
clientes com idade superior a 35 anos, não havia um só cujo problema básico não fosse a atitude 
religiosa. 
Todos ficaram doentes por ter perdido o contato com o próprio nível interno, e nenhum 
ficou curado enquanto não reencontrou uma atitude religiosa. Esta atitude consiste de uma 
observação atenta e da consideração minuciosa de certos fatos dinâmicos, julgados pelo homem 
como potências, como, por exemplo, espíritos, demônios, deuses, leis, idéias, ideais considerados 
de poder ou mesmo perigosos e, por isto, rejeitados ou considerados belos e adorados. 
 
1
 Ysé Tardan-Masquelier - Jung, a sacralidade da existência interior, S Paulo,Ed Paulus,1994. 
 
 
O Self na relação terapêutica 5 
A experiência religiosa é indiscutível, tal é a certeza de quem a vivenciou, deixando 
marcas profundas e possuindo grande potencial transformador. Para Jung é necessário que o ser 
humano aprenda a reconhecer em si a existência desse nível interno, cuja atuação ele chamou de 
função religiosa. 
Nesse sentido todas as religiões se equivalem, enquanto função na sociedade e por 
emanarem da natureza. Seus símbolos traduzem não só acontecimentos cósmicos, mas 
principalmente acontecimentos psíquicos. 
De imanente ao cosmo, o divino torna-se imanente à psique humana. 
A ausência do contato com o sagrado resultaria numa espécie de rutura com o jorro vital da 
totalidade da vida. 
As religiões organizadas têm, sem dúvida, um papel, uma função psicológica na sociedade 
e na cultura, mas não abarcam a totalidade da alma e portanto não levam necessariamente à 
realização desta. Algumas vezes se colocam como mediadoras do contato entre o homem e o 
Self, mas não são indispensáveis, pois como já foi mencionado, esse contato é uma experiência 
natural, que leva o homem a vivenciar a potência do inconsciente coletivo e dos arquétipos. 
Podemos dizer que esta é antes de tudo uma experiência do inconsciente coletivo, que permite ao 
homem pressentir a presença de um Supraconsciente Transpessoal. 
Na minha vida pessoal e na minha experiência como psicoterapeuta, tenho tido 
oportunidade de confirmar estas observações de Jung. Muitas vezes apenas a lembrança dessenível interno é capaz de modificar toda uma situação, não como algo mágico, mas parece que o 
contato com esse nível nos dá condições de viver o que temos que viver da melhor forma, com 
grande segurança, que vem da certeza e confiança da indestrutibilidade da essência e da filiação 
divina. 
Ao observar os clientes em processo de psicoterapia, notamos que sempre que a pessoa 
contata este nível e o traz através de símbolos, nos sonhos (onde é mais frequente) ou de alguma 
outra forma, é grande a capacidade de transformação, como se esse símbolo trouxesse um 
impulso nesse sentido 
O papel do terapeuta é ajudar seu paciente na reconstituição de uma “religião” verdadeira, 
de uma atitude reverente e atenta em relação ao fator numinoso, íntimo, que é o “Si mesmo” ou 
Self. 
 
 
O Self na relação terapêutica 6 
Haja visto a importância da função religiosa para o ser humano, o objetivo deste trabalho é 
buscar conhecimento mais amplo sobre o Self, a fim de ampliarmos nossa consciência a este 
respeito e observarmos como esta consciência pode atuar também na relação terapêutica, 
surgindo por diferentes vias como por exemplo: sonhos, sincronicidade, intuição, atuando na 
interação cliente-terapeuta na medida que nos abrimos para esta escuta. 
A reconstituição dessa “religião verdadeira”, que se dá por uma cuidadosa e silenciosa 
relação com este centro do próprio ser, leva a uma harmonização crescente nos níveis concretos, 
físicos, circunstanciais, do que quer que precise ser restaurado, o que nos faz pensar esta relação 
com o Self, como um elemento curador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Self na relação terapêutica 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
O SELF 
 
Através de sua própria experiência de contato com o inconsciente e da experiência de seus 
pacientes, Jung concluiu que existe uma espécie de centro regulador e coordenador de nossa vida 
psíquica. A este centro denominou Self ou Si mesmo. 
Para ele todos os acontecimentos, sejam do mundo subjetivo (fantasias, sonhos, 
sensações), sejam do mundo externo (ligações afetivas, viagens, escolhas profissionais, etc), são 
simbólicos e têm um fio condutor que objetiva a realização de nossa totalidade como seres no 
mundo. 
Ele acreditava que nenhum de nós veio ao mundo por acaso e que cada um tem uma meta a 
cumprir, um “tom” a expressar que só cabe a ele. Neste sentido somos únicos. Nossa origem é 
um estado indiferenciado de identidade, onde o ego se encontra em estado de fusão com o 
inconsciente. A partir dessa origem começa gradativamente o processo de diferenciação eu-outro 
ou consciente-inconsciente, para que possamos organizar a consciência, formar o ego, 
desenvolver a personalidade, e exercer nossa função psicológica. Tal processo é intermediado 
pela ação do símbolo. 
A consciência se desenvolve recebendo nutrientes de raízes arquetípicas e o símbolo faz 
circular estes nutrientes, sendo intermediador do processo ego-self. O Ego vai gradualmente se 
tornando independente em relação ao Self, mantendo sempre uma relação com o mesmo. O ego 
fortalecido, passa a ser o intermediador entre o mundo externo e o mundo interno. 
 
 
O Self na relação terapêutica 8 
Self é o arquétipo da totalidade, centro regulador da psique, poder transpessoal que 
transcende o ego, expressa a unidade da personalidade com o todo. A personalidade possui um 
aspecto inconsciente, que só em parte pode tornar-se consciente. O conceito de Self abrange 
tanto o inconsciente como o consciente, ou seja abrange tanto aquilo que pode ser experienciado, 
como aquilo que não pode ser experienciado. É portanto um conceito transcendente. 
Self ou Si mesmo é o núcleo mais profundo da psique, não pode ser captado em sua 
totalidade. 
O Self é o centro da totalidade, assim como o “eu” ou ego é o centro da consciência. 
O “eu”, fator com o qual todos os conteúdos conscientes se relacionam, constitui o centro 
do campo de consciência. O "eu" é o sujeito de todos os atos da consciência e está subordinado 
ao Self ou Si mesmo. 
Em certo sentido o ego é o Si mesmo ou pelo menos a parte do Si mesmo que existe na 
consciência empírica, que vive e atua no mundo da realidade consensual; mas num sentido 
profundo, o ego se encontra tão subordinado ao Si mesmo como o homem a Deus. 
Jung chamou de Self ao arquétipo do “DEUS-homem interior”. Segundo Jung, Deus é um 
conceito, uma idéia dotada de extremo valor psicológico, existente dentro de cada um de nós. 
Trata-se da imagem psíquica da totalidade transcendente do ser humano. 
Como acontece com todo arquétipo, a natureza essencial do Self é incognoscível, mas suas 
manifestações estão nos mitos e lendas. 
O Self aparece em sonhos, mitos e contos de fadas, muitas vezes como uma figura de rei 
ou herói, profeta ou salvador etc. ou ainda sob a forma de um símbolo da totalidade como o 
círculo, o quadrado, a quadratura circuli, a cruz. Quando representa um complexo oppositorum, 
uma união de opostos, pode também aparecer como uma dualidade una, na forma do tao, como 
interação Yang Ying, dois irmãos hostis, o herói e seu adversário, Fausto e Mefistóles, etc. 
No caso da mulher em geral é personificado por uma figura feminina superior uma 
sacerdotisa, uma feiticeira, uma mãe–terra, ou uma deusa da natureza ou do amor, ou ainda uma 
figura feminina possuidora de poderes sobrenaturais. No caso do homem, manifesta-se como 
indicador masculino ou guardião, um velho sábio, um espírito da natureza, um ser superior e 
assim por diante. Veremos no próximo capítulo, mais sobre os símbolos que representam o Self. 
Embora a representação simbólica seja uma das expressões mais comuns do Self, ele nem 
sempre toma a forma de um velho sábio ou de uma criteriosa senhora, estas personificações são 
 
 
O Self na relação terapêutica 9 
tentativas de exprimir uma entidade que não está inteiramente contida no tempo, algo que é 
simultaneamente novo e velho. 
O Self pode ser simbolizado em sonhos ou visões, sob a forma humana de um jovem ou de 
um velho. O fato de manifestar-se sob roupagens de várias idades mostra que o Self não só nos 
acompanha por toda nossa vida, como também que subsiste além do fluxo da vida de que temos 
consciência e que vem de uma dimensão atemporal. 
As experiências do Self possuem uma característica de uma numinosidade próprias das 
revelações religiosas, por isso Jung acreditava que havia semelhança entre o Self enquanto 
realidade experimental e psicológica, e o conceito tradicional de uma divindade superior, o que 
nos faz entender o Self como um Deus interior. 
Quando um homem segue as instruções do seu interior, sua vida tende a ser mais criativa. 
“O Self não está inteiramente contido na nossa experiência de tempo (na nossa dimensão 
espaço–tempo), no entanto simultaneamente onipresente. Além disso aparece com freqüência 
sob uma forma que sugere esta onipotência de maneira especial, por exemplo, pode manifestar-
se como um ser humano gigantesco e simbólico que envolve e contém o cosmo inteiro. Quando 
uma imagem como esta surge nos sonhos de uma pessoa, podemos ter esperança de uma solução 
criadora para o seu conflito porque o surgimento dessa imagem demonstra que o centro psíquico 
vital está ativado e é capaz de vencer suas dificuldades (todo o ser encontra-se em uma 
unidade)”.
2
 
Na civilização ocidental, idéias semelhantes à do Homem Cósmico foram associadas ao 
símbolo de Adão, o primeiro homem. 
Segundo uma lenda judaica, para criar Adão, Deus apanhou dos 4 cantos do mundo, pó 
vermelho, preto, branco e amarelo, e assim criado Adão se estendia de um ponto a outro da 
Terra. Neste símbolo está claramente expressa a idéia de uma unidade total na existência 
humana. 
O Homem Cósmico corresponde a uma imagem psíquica interior e não a uma realidade 
exterior. É algo que vive dentro do ser humano. Tem o papel de redentor,retirando o indivíduo 
do mundo e de seus sofrimentos para levá-lo de volta à sua origem imortal. Já foi chamado de 
Cristo, Buda, Krisna, Filho do Homem e Adão Kadmon, etc. 
 
2
 Jung, Carl G.- O homem e seus símbolos, Rio de Janeiro,Ed Nova Fronteira. 
 
 
O Self na relação terapêutica 10 
De acordo com vários mitos, o Homem Cósmico não significa apenas o começo da vida, 
mas também o seu alvo final, a razão de ser da criação. 
A existência humana dificilmente será satisfatoriamente explicada por meio de instintos. 
O objetivo principal da vida do homem não é comer, beber, lutar apenas para a 
sobrevivência ou satisfação dos instintos. Se assim fosse, a vida careceria de sentido. Porisso 
mesmo quando o homem chega a uma fase da vida em que já fez as construções esperadas pelo 
social, ou seja estabilidade financeira, família, filhos etc muitas vezes começa a se perguntar 
sobre o objetivo da vida e as questões conhecidas como da fase da metanóia, como “de onde 
vim”, “para onde vou”. Ao homem parece estar reservado algo maior, que poderíamos expressar 
como ser "humano”. Para Jung, ser “humano” implica um mistério que, para torná-lo acessível, 
o inconsciente usa a imagem do Homem Cósmico (ou Self). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Self na relação terapêutica 11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
SÍMBOLOS DO SELF 
 
O símbolo do Homem Cósmico é universal. Está presente como uma espécie de expressão 
do mistério fundamental de nossas vidas. Este símbolo representa o que é total e pleno, e muitas 
vezes é concebido como um ser bissexual, unindo, dessa forma, a polaridade masculina e 
feminina. Às vezes aparece em sonho também como um casal real, divino, ou de certa maneira 
eminente. 
Outro símbolo relacionado com o Self, é a pedra ou as pedras preciosas. A pedra sempre 
esteve relacionada ao sagrado e considerada receptáculo de poderes divinos. Na Europa foram 
encontradas em várias regiões pedras sagradas enroladas em cortiça e escondidas em cavernas, 
provavelmente guardadas pelos homens da Idade da Pedra, por acreditarem serem as mesmas 
possuidoras dos ditos poderes. “Aborígenes da Austrália acreditavam que seus ancestrais mortos 
continuavam a existir como forças benéficas e divinas dentro de pedras, e ao esfregarem estas 
pedras, o poder delas é aumentado (como se estivessem carregadas de eletricidade) em benefício 
de ambos, o morto e o vivo” 
3
. 
Em muitos sonhos o núcleo central – Self – também aparece como um cristal. “O cristal 
desperta em nós o conhecimento intuitivo de que, mesmo na matéria inanimada, existe um 
 
3
 Jung, Carl – O Homem e Seus Símbolos, Rio de Janeiro, Ed Nova Fronteira, pág. 205 
 
 
O Self na relação terapêutica 12 
princípio de ordenação espiritual em funcionamento. Assim, muitas vezes o cristal simboliza a 
união dos extremos opostos: a matéria e o espírito”.
4
 
As pessoas sentem certo fascínio pelas pedras; muitas não resistem ao impulso de apanhar 
pedras de cor e formas incomuns, para guardá-las. Os homens colecionam pedras desde o início 
dos tempos e admitem que algumas delas possuem força vital. 
Povos antigos acreditavam que os espíritos dos mortos continuavam a existir nas lápides 
dos túmulos. O costume ainda vigente de colocar pedras sobre os túmulos provavelmente deve-
se à idéia simbólica de que algo eterno do morto subsiste. 
Cristo é considerado pelo simbolismo cristão como “a pedra que os edificadores 
reprovaram”, ou ainda a “rolha espiritual”, de onde jorra a água da vida (I Corinti X:4). 
Os alquimistas medievais buscavam o segredo da matéria, na esperança de assim encontrar 
Deus. Julgavam que este segredo estaria encerrado na “pedra filosofal”, até que perceberam 
intuitivamente que a tão procurada pedra simbolizava algo que só poderiam encontrar na psique 
do homem. 
Para Morienus
5
, um velho alquimista árabe: “Esta coisa (a pedra filosofal) é extraída de 
vós: vós sois o seu minério e é em vós que se pode encontrá-lo”. 
A pedra alquímica simboliza algo que não pode ser dissolvido ou perdido, algo 
indestrutível e, neste aspecto pode ser comparado ao Self e à experiência mítica de Deus dentro 
de nossas almas. 
A pedra simboliza a existência pura, o mais possível distanciada de nossas emoções, 
sentimentos, fantasias e do pensamento discursivo do nosso ego. A pedra simboliza a experiência 
de algo eterno que o homem conhece nos fugazes instantes em que se sente inalterável e imortal. 
A necessidade que existe em quase todas as civilizações de erigir monumentos de pedras a 
pessoas consideradas importantes e famosas, ou nos cenários de acontecimentos importantes, 
decorre deste significado simbólico da pedra. 
As religiões costumam usar a pedra para representar Deus ou para marcar o local de um 
culto. Ka`aba, santuário sagrado que fica em Meca, é uma pedra negra, onde todo muçulmano 
espera chegar um dia, em peregrinação. 
 
4
 idem 
5
 Morenius – velho alquimista árabe citado por Jung em “O Homem e Seus Símbolos”, pág. 210 
 
 
O Self na relação terapêutica 13 
Nos sonhos, às vezes, o Self é simbolizado também por um animal que representa a nossa 
natureza instintiva e a sua relação com o meio ambiente. Geralmente expressa-se como animais 
bondosos e prestimosos, como apresentado nos mitos e contos de fadas. 
Parece haver uma relação do Self com a natureza à sua volta e com o cosmo. 
Todas as manifestações superiores de vida estão, de certa maneira, sintonizadas com o 
espaço–tempo. No que diz respeito aos animais, por exemplo, eles têm a sua alimentação 
especial, o material particular para construir sua casa e seus territórios bem definidos, com os 
quais os esquemas instintivos se encontram ajustados e adaptados. O nosso inconsciente está 
sintonizado com o meio ambiente (grupo, sociedade em geral, com o espaço-tempo e a natureza 
no seu todo). Por isso, o Self pode nos dar indicações, orientações, não apenas sobre verdades 
interiores, mas também sobre assuntos concernentes à nossa vida exterior e ao nosso ambiente. 
Santa Teresa d’Àvila 
6
dizia que Deus se interessa por tudo que nos diz respeito, mesmo por 
uma agulha perdida. 
Muitos de nossos sonhos nos dão esta indicação, no entanto eles não têm como objetivo 
predominante a nossa adaptação à vida exterior, mas sim a atitude correta em relação ao Self. 
Algumas razões principais que fazem o homem perder o contato com o centro regulador de 
sua alma: 
 Impulso instintivo ou emocional que o leva a perder o equilíbrio. 
 Devaneios excessivos que, em geral estão relacionados com certos complexos. 
 Consolidação excessiva da consciência do ego, tornando-se um obstáculo à recepção de 
impulsos e imagens vindos do Self. 
 
Os diferentes símbolos são imagens pelas quais se busca expressar o Self, o centro da 
alma. Cada um destes símbolos expressa, no entanto, um aspecto do centro e não a sua 
totalidade, embora o conjunto de símbolos exprima a estrutura complexa do centro. O centro em 
Si mesmo é uma realidade que não se pode conhecer. 
O Self pode ser representado por um círculo, um triângulo, etc. O círculo é a expressão do 
infinito e da eternidade, de onde emana toda a vida e toda luz, enquanto o triângulo refere-se à 
trindade da simbologia cristã. O Self engloba a simbologia do triângulo, a trindade, que 
representa o homem vivendo em Deus e Deus no homem. 
 
 
O Self na relação terapêutica 14 
Como vimos as diferentes formas simbólicas que se referem ao centro, não se referem 
unicamente à simbologia cristã e bíblica, mas também à das ciências matemáticas, da 
cosmologia, da metafísica, da filosofia neoplatônica e da alquimia. 
Na linguagem teresiana o centro (ou Self na linguagem junguiana) é a sétima morada; na 
simbologiageométrica, é o ponto e a circunferência, ou seja, a quintessência, a totalidade. 
 
 
MANDALA 
 
 
 A palavra mandala significa em sânscrito “círculo mágico”, formas esféricas ao redor de 
um centro que eram utilizadas para proteger as pessoas de perigos externos. 
A mandala é outra representação mitológica do Self. Consiste num círculo dividido em 4 
partes. 
O número 4 possui um simbolismo relacionado à cruz, o que faz dele um símbolo 
incomparável de plenitude, de universalidade, um símbolo totalizador. O cruzamento de um 
meridiano e de um paralelo divide a Terra em quatro setores. “Em todos os continentes, chefes e 
reis são chamados: Senhores dos 4 mares, dos 4 sois, das 4 partes do mundo, etc.”, 
7
o que pode 
significar, a extensão e a totalidade desse poder. São 4 os pontos cardeais, 4ventos, 4 pilares do 
universo, 4 fases da lua, 4 estações, 4 elementos, 4 letras no nome de Deus e no do primeiro 
homem, Adão; 4 braços da cruz, 4 evangelistas. O quatro simboliza o terrestre, a totalidade do 
criado e do revelado. 
Mandala significa círculo mágico, e é a representação simbólica do "átomo nuclear” da 
psique humana, cuja essência não conhecemos. A mandala indica a totalização da vida. 
Os Naskapi, sem a ajuda de ritos ou doutrinas religiosas, alcançam uma experiência direta 
com o centro. Eles representam o seu Grande Homem como uma mandala e não como um ser 
humano. 
Os índios Navajos tentam por meio de pinturas na areia, às quais dão a forma de uma 
mandala, fazer uma pessoa doente restabelecer sua saúde. 
 
6
 Sta Teresa d’Avila, considerada doutora da igreja católica, escreveu vasta obra relacionada à experiência da alma 
até o contato com Deus. 
7
 Dicionário de símbolos- Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Rio de Janeiro, Ed José Olympio (pág 759). 
 
 
O Self na relação terapêutica 15 
Nas civilizações orientais a mandala favorece a meditação profunda. A contemplação de 
uma mandala deve trazer paz interior e a sensação de que a vida voltou a encontrar a sua origem 
e o seu significado. 
Quando a mandala aparece espontaneamente nos sonhos, traz efeitos muito positivos. 
A mandala serve ao propósito de restabelecer uma ordem preexistente, como também ao 
propósito criador de dar forma e expressão a alguma coisa. Na maioria dos casos o que restaura a 
antiga ordem envolve algum elemento de criação, um elemento novo, que junto com o antigo 
permite que aquela situação mude de ponto, proporcionando um crescimento. 
“Um mito indiano da criação conta que o deus Bhrama, erguido sobre um imenso lótus de 
milhares de pétalas, voltou seus olhos para os quatros pontos cardeais. Esta inspeção quadrúpla 
feita do círculo do lótus, era uma espécie de orientação preliminar, uma tomada de contas 
indispensável antes de começar o seu trabalho da criação”(O homem e seus símbolos, Jung). 
Além do círculo, outro símbolo usado para auxiliar a meditação oriental (iantra) é um 
motivo formado por dois triângulos que se interpenetram, um apontando para cima, outro para 
baixo. Simboliza a união de Shiva e Shakti, as divindades masculinas e femininas. Expressa 
ainda a união do mundo pessoal e temporal do não-ego. Esta união diz respeito ao alvo de todas 
as religiões, que é a união da alma com Deus. Tanto os triângulos que se interpenetram como a 
mandala representam a Unidade e a totalidade da psique, ou Self. 
Mandalas também aparecem na arte cristã, como são exemplo, as rosáceas das catedrais, 
representando o Self do homem transposto para um plano cósmico. São consideradas mandalas, 
as auréolas de Cristo e dos santos cristãos vistos em pinturas e ilustrações religiosas.” Rodas 
solares” já apareciam gravadas na pedra, que remontam ao período neolítico, quando a roda 
ainda não havia sido inventada. Estas rodas solares são alusivas à experiência de uma imagem 
arquetípica interior, que o homem da idade da Pedra soube exprimir muito bem. 
Outras mandalas encontradas na arte cristã são, por exemplo, a imagem da virgem no 
centro de uma árvore circular (símbolo do divino evônimo), e as que representam Cristo cercado 
pelos 4 evangelista, que tem como origem a representação egípcia do deus Horo, com seus 4 
filhos. 
Nas construções seculares e sagradas de todas as civilizações, foram utilizadas a forma da 
mandala como plano básico, o que acontece também com algumas cidades antigas, medievais e 
modernas (Washington D.C. por exemplo). 
 
 
O Self na relação terapêutica 16 
“Por sua planta em forma de mandala, a cidade com seus habitantes, é exaltada acima do 
domínio puramente temporal. E isto é acentuado pelo fato destas cidades terem um centro, “o 
Mundus”, que estabelece a sua relação com outro reino, a morada dos espíritos ancestrais.”
8
 
Assim foi construída Roma, orientada por etruscos. Conta-se que nessa construção se 
realizou um ritual sacro, com um centro, "mundus” ou cosmos, que era uma cova no meio da 
área, onde cada homem jogou um pouco da terra de seu local de origem. Roma foi edificada 
sobre um planta em forma de mandala, e cercada por muralhas de forma circular. 
As artérias principais dividiam a cidade em “ quartos” e levavam a quatro portões. A igreja 
ou catedral costumava ser erguida no meio da interseção das artérias. Este tipo de construção tem 
o objetivo de transformar a cidade em uma imagem ordenada do cosmos, um lugar sagrado 
ligado ao seu centro, e estava relacionado com uma necessidade vital do homem religioso, 
expressando uma projeção da imagem arquetípica do interior do inconsciente humano, sobre o 
mundo exterior. 
A cidade e o templo tornam-se símbolo da unidade psíquica. 
 
Na arte cristã o símbolo central não é a mandala e sim a cruz ou crucifixo. O símbolo da 
cruz é tão antigo quanto a própria humanidade 
Antes da Idade Média, a cruz grega incluía a mandala, depois passou-se a usar a cruz 
latina, podendo-se entender esta mudança como o deslocamento do centro do homem, da terra 
para o alto, a elevação deste centro a uma esfera espiritual, o que corresponde ao que o Cristo 
disse: “ Meu reino não é deste mundo”. 
“O símbolo da cruz, através dos tempos, derivou-se em diversas formas; cada uma delas 
exprime um aspecto da verdade e da luz espiritual que vivifica esse símbolo, encerra um 
diferente aspecto do grande mistério da vida”
9
. Através dele o homem é estimulado a penetrar 
mistérios que o conduzem à essência da vida. As diversas formas de cruz expressam energias de 
diferentes níveis de consciência. 
A cruz representa o perfeito equilíbrio e fusão de 4 elementos da natureza, de 4 forças 
básicas. 
Elemento terra – tanto pode prender o homem à matéria, como ser a substância maleável 
para que ele molde sua obra. 
 
8
 Jung, Carl – O Homem e eus Símbolos, Rio de Janeiro,Ed Nava Fronteira, pág 243. 
 
 
O Self na relação terapêutica 17 
 Elemento água – que sugere maleabilidade e adaptabilidade, A energia presente torna-se 
fator de equilíbrio, possuindo características curadoras e purificadoras. 
Elemento fogo – ardendo sobre a matéria ele libera a luz encerrada na forma. Elemento de 
redenção e símbolo de uma energia transformadora. 
Elemento ar – Expressa uma energia que se encontra em grau vibratório próximo ao do 
éter. 
 
Atua como um importante vértice que conduz a vida formal a estados mais sutis. 
A maçonaria estabeleceu um quadro de correspondência entre os 4 elementos e as 
principais etapas de ascensão iniciática. 
 
Elementos Partes do ser humano Etapas 
Fogo Espírito Iniciação 
Água Alma Religião 
Ar Mente Filosofia 
Terra Corpo Vida material 
 
Esses elementos permeiam o processo de transcendência do homem da matéria ao espírito, 
o que está claramente expresso na cruz,com sua haste vertical voltada para cima, enquanto a 
haste horizontal simboliza a matéria. 
Santa Tereza d’Avila, em sua obra estabeleceu uma relação entre o Self e os 4 elementos 
da natureza. Para ela o centro (Self) é ao mesmo tempo água, ar, fogo e terra. Estes 4 elementos 
expressam a totalidade do universo e do centro, e ainda expressam também o componente 
cósmico do centro da alma, possuindo uma qualidade feminina. 
No mineral, ele é a pedra preciosa, o diamante, o cristal e o metal puro, o ouro. 
No vegetal é a semente, o fruto, a árvore etc. 
No humano é o "essencial a alma”, "a melhor parte de nós mesmos” o “intimo de nós 
mesmos” enfim, o que caracteriza o homem. 
Na ordem espiritual o centro é Deus. 
 
9
 Trigueirinho – Omitério da cruz na atual transição planetária,São Paulo,Ed. Pensamento, 1992. 
 
 
O Self na relação terapêutica 18 
Os 4 elementos expressam a totalidade, representada também pelo quadrado (expressão do 
tempo histórico),podendo inscrever-se nos 4 braços da cruz. 
A relação do espírito com a matéria está expressa na cruz. A cruz tem o poder de conduzir 
as forças do mundo material para sua posição correta do ponto de vista energético espiritual. 
No passado, quando a cruz era utilizada em rituais sagrados, em geral não era fixada 
verticalmente no solo mas sim deitada sobre ele, de forma que o contato com a terra ocorresse 
igualmente em suas hastes, sem preponderância de nenhuma delas. 
Quando da crucificação de Cristo, a haste vertical da cruz voltada para o céu, simbolizou o 
início de uma etapa evolutiva, permitindo que ocorresse um processo oculto de transmutação da 
essência material, e também que um novo padrão energético se instalasse sobre a Terra. Este 
padrão ou arquétipo, é um núcleo de energia de síntese, um arquétipo universal que atua como 
polarizador da manifestação das formas . 
Um arquétipo é a síntese da perfeição a ser expressa pela vida manifestada. 
Os padrões por ele emitidos entrelaçam-se de maneira tal que produzem as condições 
necessárias ao progresso da vida.. 
“Sempre que um arquétipo é acionado, ele força a direção da consciência a partir do 
inconsciente, obrigando-a a encontrar naquele estágio de diferenciação uma nova interpretação 
que permita uma conexão da vida atual com as raízes do passado que existe em cada um de nós 
“ ( Paul Grimberg)
10
 
Os arquétipos permitem produzir inúmeras vezes o mesmo padrão ou idéias críticas 
semelhantes, e proporciona a repetição das mesmas experiências.” Uma vez que esse repertório 
de experiências é teoricamente infinito sempre que se fizer necessária uma nova orientação e 
adaptação da consciência, é ativado um arquétipo que representa a imagem primordial da 
necessidade do momento”.
11
 
O arquétipo seria como o pano de fundo da experiência, como um modelo que traz consigo 
certo poder de influência, exercido através do aspecto numinoso que o caracteriza. 
Experienciamos o arquétipo através dos sonhos, fantasias, dos rituais que desempenhamos ao 
longo da vida, nas projeções ou nas cargas afetivas de um complexo. 
 
10
 Grimberg, Luis - Jung , 0 homem criativo, São Paulo, Ed FTD, 1997, pág 173. 
11
 Idem 
 
 
O Self na relação terapêutica 19 
O Cristo é o mito ainda vivo, é o herói de nossa civilização. É a imagem do homem 
perfeito. Elucida o arquétipo do “Si mesmo” para nossa cultura. Ele está dentro de nós e nós 
estamos nele. Do mesmo modo que Cristo, também o seu reino está dentro de nós. 
Santo Agostinho diz que nosso fim deve ser nossa perfeição, mas nossa perfeição é 
Cristo. Sua esposa é a alma humana que se acha unida ao Logos e com quem, durante o processo 
evolutivo, deverá unir-se em núpcias sagradas em coniuntio (união), casamento interno ou união 
de polaridades, por ocasião da iluminação. 
Para Jung este processo ocorre de forma coletiva, sendo efetivo e subsistente por si mesmo, 
e desenvolve sua atividade mesmo que o sujeito não tome conhecimento dele. 
Há indícios da existência de um arquétipo da totalidade, existente em todas as épocas, que 
leva o indivíduo a unir-se com o “ Si mesmo”, a tornar-se consciente de sua identidade profunda 
como ser único e autêntico no mundo, a individuar-se. 
Essa busca de contato com o “Si mesmo”, é expressa em mitos de diferentes tradições, tais 
como a busca do velo de ouro da Grécia Antiga ou da Pérola, do cristianismo primitivo ou do 
Santo Graal na Idade Média na Europa. 
 
 
 
 
 
O Self na relação terapêutica 20 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPITULO 3 
O SELF NA MITOLOGIA E CONTOS DE FADAS 
 
 
A mitologia conta fatos fictícios que tem um aspecto universal, com certo colorido 
regional. Estes fatos e estórias retratam a nossa imaginação, são relativos à nossa psique, e nos 
fala de assuntos referentes a nós mesmos. São mensagens para a mente consciente vindas de 
regiões desconhecidas da consciência. 
O jardim do Éden, da Bíblia, foi analisado por Joseph Campbel
12
 da seguinte forma: Éden 
significa em hebreu ”delícias, lugar de delícias” e a palavra paradise, que vem do persa pairi – “ 
ao redor de”, daeza “muro”, significa um” “ recinto murado” O Éden seria então um jardim 
murado de delícias, e em seu centro se ergueriam duas árvores: uma do conhecimento do bem e 
do mal e a outra da vida imortal. Havia também 4 rios que correm de uma fonte inesgotável e 
atravessavam o mundo em 4 direções. Quando Adão e Eva provaram do fruto proibido (fruto da 
árvore do bem e do mal) e perceberam que um era diferente do outro, foram expulsos. Dois 
querubins se postaram no portal do oriente, para guardar o caminho de volta, e impedir que eles 
voltassem. 
Para Joseph Campbel, o mito se refere a uma paisagem da alma. O Jardim do Éden estaria 
dentro de nós. 
 
12
 Campbell, Joseph - Para viver os Mitos, São Paulo, Ed Cultrix,1997, pág 28. 
 
 
O Self na relação terapêutica 21 
Nossa mente consciente é incapaz de ingressar nele e desfrutar nossa imortalidade, uma 
vez que já provamos o gosto do conhecimento do bem e do mal. Conhecimento este que nos 
atirou para fora de nosso próprio centro. Uma vez que o jardim cercado está dentro de nós, a vida 
eterna, já deve ser nossa, embora não tenhamos consciência disso. 
Na mitologia budista sob a árvore está sentado Sidarta, quando passou pelo processo da 
iluminação e passou a se chamar Buda, o Desperto. Neste mito também há uma serpente, que 
neste caso não é vista como o mal, mas como símbolo da energia imortal que habita toda a vida 
sobre a terra. Na mitologia indiana, enquanto Buda sentado, absorto por vários dias em 
meditação, ficou exposto a tempestade foi protegido por essa cobra, que se enrolou como um 
capuz em torno de sua cabeça. A serpente, em um mito foi amaldiçoada e no outro foi aceita e 
incluída. 
Em ambos os mitos, a serpente está relacionada com a árvore da vida eterna, a mesma sob 
a qual o Buda se sentou e alcançou a iluminação, e que corresponde à segunda árvore do Jardim 
do Éden (que deve ser pensado como um jardim da alma). 
Na visão budista, o que nos mantém fora do Jardim do Éden é o nosso apego instintivo, os 
nossos sentidos dirigidos para o externo, o nosso apego aos prazeres da vida física. Eis o que nos 
impede de reconhecer dentro de nós esta consciência imortal. Cristo resgatou a imortalidade para 
o homem. Sua cruz equipara-se à arvore da vida imortal e o fruto dessa árvore era o próprio 
salvador crucificado, ”que ali ofereceu o seu próprio sangue para ser nosso verdadeiro alimento e 
a nossa verdadeira bebida”. 
O que fica presente no estudo dessas duas grandes vidas é que o salvador, o redimido, é 
aquele queaprendeu a penetrar no muro protetor interno. 
Na literatura medieval, o Santo Graal é ilustrado como um objeto que possui poderes. 
Muitas vezes refere-se apenas a um simples prato côncavo levado por uma virgem. 
Entre os cavaleiros da Távola Redonda, ele tem o poder de iluminar e de tornar o homem 
invencível. 
O Graal teve diversas versões como por exemplo, o Cristo morto pelos homens, o cálice da 
Santa Ceia, a Graça divina dada por Cristo aos seus discípulos, e por fim o cálice da missa. 
Para Jung, o Graal simboliza o Si mesmo, esta plenitude interior que os homens sempre 
buscaram; ele está perto e não é percebido. A vida voltada para as coisas externas dificulta esta 
percepção. A busca do Santo Graal simboliza a aventura espiritual e a necessidade de 
 
 
O Self na relação terapêutica 22 
interiorização, pois só ela pode abrir a porta do templo em que está abrigado o divino cálice. A 
perfeição humana se conquista através da transformação do caráter e do contato com o coração. 
Existe uma concepção em diversos sistemas de que há um sentido para os fenômenos, 
como se a natureza tivesse uma finalidade, o que é expresso na frase do historiador de religiões e 
alquimista Mircea Eliade
13
 : “ Se nada entrava o processo de gestação, com o tempo todos os 
minerais se tornam ouro”, diz ainda “O que a natureza não pode aperfeiçoar, a não ser num 
espaço de tempo muito grande, nós podemos terminá-lo em pouco tempo” 
O ouro é visto como símbolo de soberania e autonomia. Transformar um metal em ouro 
seria colaborar para essa autonomia. 
A Alquimia tanto no oriente como no ocidente buscou concretizar este segredo da 
imortalidade. 
Alguns alquimistas como Alberto Magno, al Razi ou Rashis (latim), preocuparam-se com o 
aspecto puramente técnico e químico do processo. Outros, como Tomas de Aquino, Mohamed 
ibn Umail, conhecido como Senior (Sheik, o mais velho), se interessaram pelo aspecto simbólico 
e se afastaram dos laboratórios. 
Jung apontou para este processo psicológico que ocorria ao lado do químico, que resultaria 
numa transformação psíquica. Em alguns escritos alquímicos observa-se que seus autores 
estavam conscientes disto como é o caso de Rosarium philosophorum, em que diz que o ouro 
procurado não é “o vulgar”, mas sim o lapis invisibilitatis ou pedra da invisibilidade, e que sua 
verdadeira função é oculta ao profano. Outro tratado (Liber Platonis Quartorum) refere-se ao 
cogitatio ou o que devia ser tirado da matéria, como uma idéia estranha que só poderia ser 
explicada pela hipótese de certos conteúdos estarem projetados na matéria. 
Para Jung o alquimista projetava na matéria seu conteúdo psíquico e portanto ele estava 
pelo menos em parte inconsciente. Ele vivia a projeção como conteúdo da matéria, mas na 
verdade o que ele vivia era seu inconsciente. 
O ouro alquímico seria um símbolo da finalidade do processo de individuação. 
Zózimo de Panápolis, alquimista de tendência gnóstica do séc. III relata o discurso de um 
iniciador que lhe é conhecido através de sonhos anteriores: Constrói um templo monolítico 
branco...como de mármore de Procomeso, sem começo e sem fim em sua construção (isto é 
redondo), que ele tenha no interior uma fonte de água puríssima e uma luz solar brilhante como o 
 
13
 Forgerons et alchimistes pág 285. 
 
 
O Self na relação terapêutica 23 
raio. Observa com cuidado de que lado é a entrada do templo, e toma na mão uma espada, e 
então procura a entrada Estreito é, com efeito, o lugar onde se encontra a abertura. E um dragão 
se esconde na estrada, guardando o templo. Após tê-lo dominado, matá-o...desmembra-o. ..sobe 
e entra, e lá encontrarás a coisa procurada, isto é, o sacerdote, o homem de bronze que vês 
assentado na fonte e reunindo a coisa. Logo, porém não o verás mais como homem de bronze: 
ele mudou a cor de sua natureza e se tornou homem de prata, se o quiseres em pouco tempo o 
terás sob o aspecto de homem de ouro”. Também aqui o templo representa o Si mesmo e o ouro 
está ligado ao homem que está sentado no centro do templo e tem em si a “coisa procurada”. 
Na linguagem dos metais, o ouro é um metal de mais valor, mais perfeito. Tornar-se 
homem de ouro após sucessivas transformações: bronze, prata, certamente são uma referência ao 
processo de purificação e aperfeiçoamento que leva à individuação. 
O ouro na alquimia possui um sentido totalizante e um valor salvífico. No ouro os 4 
elementos estão reunidos em proporções iguais, daí provavelmente o fato de ser considerado o 
metal perfeito. O ouro simbolizaria o meio que o homem deveria seguir para alcançar a meta da 
perfeição. Da mesma maneira que a perfeição do ouro é obtida somente após a metamorfose de 
todos os metais, na vida espiritual, também para alcançar o centro é necessário grande 
transformação interior. 
Para se apropriar deste tesouro, guardado por serpentes e dragões (referência à vida 
instintiva do homem e à parábola de JESUS que diz que o tesouro não só está escondido nas 
profundezas da Terra, mas guardado por dragões e serpentes),é necessário muito esforço e luta 
contra estes dragões e serpentes, até a descoberta do centro que representa uma nova vida. 
Há ainda o efeito medicinal atribuído ao ouro. Sob a forma potável, ele é considerado 
remédio para os males físicos. 
Na Índia, acredita-se que ele provoca rejuvenescimento e crescimento da longevidade, 
devolvendo a saúde aos doentes e a juventude aos idosos. 
Para o alquimista Gérard Dorneus
14
: “No interior do corpo humano está escondida certa 
substância metafísica, que muito poucos conhecem, cuja essência é não precisar de nenhum 
medicamento inalterado”. 
O ouro filosófico, e a pedra filosofal, são muitas vezes chamados de “tintura” porque eles 
impregnam outros metais, e essa atividade química simboliza transformação no inconsciente. 
 
14
 Psychologie et alchimie ,pág 347. 
 
 
O Self na relação terapêutica 24 
Para Jung, a alquimia é um método espiritual em que ocorre a cura da alma no homem. 
Trata-se portanto de uma operação psíquica que leva à realização do Si mesmo (aptidão para 
deixar-se reger pelo arquétipo do Si mesmo).O homem” transformado em ouro” não somente é o 
produto de grande transformação de forças latentes dentro dele como se torna capaz de 
transformar tudo em ouro (efeito tintura).Ele passa a ter uma grande influência espiritual em seu 
meio. 
Quando o homem descobre o centro da alma, que possui as mesmas qualidades que o ouro, 
o tesouro, esmeralda, jóia (daí a analogia), tais como: pureza, transparência, claridade, 
incorruptibilidade, preciosidade, luminosidade, perfeição, indissolubilidade, e unidade, ele 
pode ser comparado ao estado perfeito do ouro, pois sua alma encontra-se purificada. Ele vai 
então irradiar estas qualidades, e se encontra em estado psicológico sublime. O ouro simboliza 
também a imortalidade e a eternidade, pois permanece idêntico através dos séculos. Como o 
ouro, a alma retorna a ser luz, sabedoria, incorruptibilidade, perfeição, unidade. 
Na realidade espiritual, a riqueza do ouro (ao contrário da vida mundana), consiste em 
profunda humildade, e obediência ao centro. 
 
 
 
 
O Self na relação terapêutica 25 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 4 
O SELF NOS SONHOS 
 
 
 O significado principal do sonho é estabelecer uma ligação entre a vida consciente e a vida 
inconsciente. 
 A atividade onírica não é produto do acaso, mas tem um sentido, uma função que está ligada 
a nossa vida consciente. O sonho funciona como um regulador do equilíbrio psíquico. Entre estas 
funções observa-se a função compensatória e a função prospectiva. 
 Na função compensatória, o sonho teria o objetivo de equilibrar, de balancear determinados 
aspectos da psique enquanto na função prospectiva, o sonhoantecede determinados 
acontecimentos, com o objetivo de: preparar a pessoa para o que está por vir ou oferecer a 
oportunidade de uma mudança daquela situação. 
 Parece haver portanto uma ação inteligente agindo por trás da consciência e utilizando os 
sonhos como portas de acesso ao inconsciente. 
 Muitas vezes ocorrem sonhos marcantes, portadores de efeitos transformadores na 
personalidade, Jung fazia uma distinção entre os sonhos do dia-a-dia do indivíduo, a aqueles 
cheios de fantasias e que estão relacionados ao campo de experiência do indivíduo, e os sonhos 
com conteúdos arquetípicos. Estes vêm de camadas mais profundas do inconsciente, do 
inconsciente coletivo. Muitas vezes contém imagens mitológicas, encontradas na mente da 
humanidade, e têm uma importância coletiva. Em muitos casos o sonhador pressente essa 
importância e relata o mesmo ao grupo social que faz parte. Estes sonhos, chamados numinosos, 
 
 
O Self na relação terapêutica 26 
podem acontecer em momentos críticos de nossas vidas ou nos chamar atenção para aspectos de 
nossa personalidade que precisam maior desenvolvimento. 
 Jung indicou que meditássemos sobre nossos próprios sonhos. Acredita-se que aquele que se 
coloca à escuta do inconsciente, considerando seus próprios sonhos e que os aceita como uma 
fonte real de informação sobre sua própria vida e que os leva em conta, pode perceber que com o 
tempo surge uma orientação geral que se aproxima do Self. Este tende a se impor à consciência 
através da linguagem simbólica. 
 Devemos pois não apenas acreditar nos sonhos como fato real, nem apenas aceitar sua 
interpretação, mas deixar-nos viver a sua imagem. 
 Nas culturas antigas como entre os egípcios, os babilônios, os gregos, os romanos, todos 
acreditavam que os sonhos eram uma forma de a alma receber orientação do mundo espiritual. 
 Na Bíblia existem inúmeras referências aos sonhos, também como uma forma de Deus e os 
anjos apresentarem-se ao homem, durante seu sono. 
 Os sonhos são instrumentos poderosos para a nossa evolução, através dele podemos receber 
orientação dos nossos níveis internos, embora muitas vezes ele nos pareçam confusos. Isto 
ocorre pelo fato deles não se limitarem à nossa noção de espaço-tempo, e ao uso da linguagem 
simbólica. Porém todos os detalhes de um sonho simbólico são importantes. Muitas vezes num 
detalhe que poderia passar despercebido está a chave para a compreensão do seu significado. 
 O símbolo que se transforma em memória ou pensamento, passa a fazer parte da consciência, 
deixando de ser símbolo. A carga afetiva ligada à imagem é integrada à consciência, possuindo 
um efeito transformador. 
 Quando compreendemos um símbolo, na realidade conhecemos apenas uma faceta de suas 
inúmeras possibilidades e múltiplos significados mas mesmo sem compreendê-lo podemos ser 
tocados pelo seu poder transformador. No entanto devemos ter cuidado ao relatar um sonho para 
que não haja distorções por opinião de terceiros ou tendências mentais nossas no sentido de uma 
interpretação simplista que poderia interferir, levando a um esvaziamento desse poder 
transformador. 
 Na mitologia, a epopéia babilônica de Gilgamesh, é uma longa história de 4 mil anos de idade 
que descreve as proezas deste herói. Gilgamesh provocou a ira dos deuses com sua presunção, 
estes então, inventaram um homem tão forte quanto Gilgamesh, a fim de exterminá-lo. O herói 
 
 
O Self na relação terapêutica 27 
entretanto escapou à vingança dos deuses. Teve sonhos que o avisaram do perigo e ele os levou 
em consideração. Os sonhos também indicaram como vencer o inimigo. 
 Como reconhecer um sonho de Self? 
 Porque escolheria um sonho para dar crédito e não outro ? 
 Estas são perguntas que nos acercam no momento. Seguem algumas pistas que podem ser 
importantes: 
 Os sonhos geralmente não são constituídos com “material” de nosso cotidiano, incluem por 
exemplo, seres de outros planetas, animais esquisitos, serpentes, figuras superiores à vida 
humana, ou figuras mágicas como cavalo voador ou criança que mal nasce, e já começa a falar, 
etc. 
 Ainda, com relação à questão simbólica, vimos no Cap.2 , que existem muitos símbolos que 
são indiscutivelmente símbolos de Self. Quando estes símbolos aparecem no sonho, podemos 
suspeitar que se trata de um sonho de Self.( observando sempre o contexto em que se insere, se é 
condizente com uma mensagem de Self). 
 Às vezes sonhos com a figura do terapeuta podem se referir também ao terapeuta interior, 
curador ou Self orientador. 
 Outro ponto é a qualidade do sonho, um certo clímax que traz junto uma certeza, uma 
comoção interior que aclara a mente da pessoa e toca sua vontade (sensação de numinoso). 
 Muitas vezes, através desses sonhos, a pessoa fica sabendo de coisas cujo conhecimento só 
poderia ser obtido através de um dom de Deus ou de uma Graça. Pererius diz que a “luz divina 
ilumina nossa mente durante os sonhos, provocados por Deus, fazendo-nos ver com clareza, que 
estes sonhos são verdadeiros e provêm de Deus, e neles acreditamos com toda certeza” ( Jung). 
15
O autor do sonho não tem a mínima dúvida de que esse sonho corresponde “aos mistérios mais 
importantes de nossa fé”. 
 Jung observou que alguns pacientes tiveram séries de sonhos, carregados de emoção e que 
diante desses sonhos eles tiveram a mesma reação que diante de uma manifestação do sagrado. 
Certos tipos de sonhos provocavam neles um sentimento semelhante ao que teriam ante uma 
experiência religiosa primordial. Estes sonhos muitas vezes estavam relacionados com a 
mandala, embora tivessem seus aspectos particulares e associações específicas do sonhador. 
 
15
 Jung, Carl - Psicologia e religião, Petrópolis,Ed Vozes, 1990,pág 23. 
 
 
O Self na relação terapêutica 28 
 Quando uma mandala emerge na consciência, indica que o indivíduo tem uma necessidade de 
unificação podendo essa necessidade afetar tanto o homem considerado normal como o homem 
psiquicamente perturbado. 
 A interpretação acertada do sonho de centro permite restaurar a evolução normal para o Self, 
o que não quer dizer que ela vai restabelecer ou estabelecer a ligação com a transcendência mas 
sim com a totalidade. Ou seja a mandala não fala de uma divindade, este lugar foi ocupado pela 
totalidade do homem. Como a mandala se assemelha muito aos antigos círculos mágicos, onde 
no centro está a divindade, podemos deduzir que na mandala é o homem, a profundidade do Si 
mesmo que simboliza a divindade. 
 Muito frequentemente vê-se referência a imagens relacionadas a núpcias na mandala. Jung 
faz uma relação entre o imaginário dos seus pacientes com a tradicional união de duas entidades 
divinas no interior de um círculo. Como é o caso do abraço do Deus Shiva e de sua parceira 
Shakti (do hinduísmo),referindo-se à união de opostos para acender à unidade transcendente. 
Outro exemplo, no evangelho segundo Felepe, traz textos encontrados em Nag Hammadi, 
explica que o fim supremo é a reunião da alma figurada por Eva ao seu duplo celeste e 
transcendente, o Adão primordial. Essa união é materializada por ritos que utilizam a água e o 
fogo (elementos oposto-complementares) Quando Eva estava em Adão não existia morte. Esta é 
uma referência a uma androginia primordial. 
 No Apocalipse de João há as núpcias do Cordeiro e da Jerusalém celeste num espaço 
centrado, em forma de mandala. 
 Também na alquimia ocidental há o matrimônio químico do Rei e da Rainha na quadratura do 
círculo: "os opostos supremos, expressos sob a forma do masculino e do feminino, são fundidos 
numa unidade que não contém mais contrários e que é, por conseguinte incorruptível.”
16
 
 Estas imagens falam da existência de um centro da alma, cuja realização se dá através do 
confronto dos opostos ou aindade um lugar interior onde se dá o encontro com o divino e 
enquanto este encontro não se dá, o ser humano vive em incompletude 
. 
 
16
 Jung-Psicologia e alquimia pág 54. 
 
 
O Self na relação terapêutica 29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 5 
O SELF NAS ESCRITURAS SAGRADAS 
 
Segundo a tradição hindu o Homem Cósmico ou Self é algo que vive dentro do ser 
humano, é a sua única parte imortal. 
Nos mitos simbólicos indianos, esta figura é conhecida como Purusha que significa homem 
ou pessoa. Purusha vive dentro de cada homem, mas ao mesmo tempo ocupa todo o cosmo. 
O contato com o Self é entendido como a meta da criação, o que significa que a orientação 
extrovertida do ego em direção ao mundo exterior vai dar lugar a uma orientação introvertida, o 
que acontece quando o homem acorda do seu sono e decide seguir o seu mundo interno até que o 
ego se incorpore ao Self. 
Na nossa civilização, em geral relacionamos o Homem Cósmico com Cristo, e na oriental 
com Krishna e com Buda. 
No velho testamento, esta figura simbólica aparece como “o Filho do homem” e no 
misticismo judeu surge como Adão Kadman. 
As personificações deste Homem Cósmico são apresentadas como “ grandes avatares que 
sempre aparecem nos períodos de transição, durante os tempos de crise na história do mundo. 
Por uma intervenção decisiva, eles surgem para curar o corpo planetário de uma doença que 
ameaça desintegrá-lo. 
 
 
O Self na relação terapêutica 30 
O advento de um redentor sobre a forma humana, frequentemente tem sido comparado a 
um nadador que para ser capaz de salvar alguém que esteja se afogando, precisa mergulhar no 
mesmo mar.”
17
 
O aparecimento de um avatar sempre dá um profundo ímpeto aos assuntos do mundo e 
uma nova direção à evolução da consciência humana. 
Cristo significa, em grego, ungido, refere-se à consciência que exprime a essência das leis 
universais. 
Cristo é o nome dado à Entidade que exprimiu através de Jesus, a energia do Amor-
sabedoria. O termo Cristo refere-se também, em geral, à energia em si, e não ao ser que a 
representou. Corresponde à energia cósmica de unificação. Potencialmente está em todos e 
exprime-se naqueles que vibram em sintonia com ela. Corresponde à vibração do centro do 
sistema solar, o sol espiritual, vibração de natureza atrativa que contribui para reconduzir à 
Origem, o universo criado. 
“Quanto mais o ser se aproxima do próprio núcleo interno, mais penetra esta energia, e 
mais é por ela utilizado como canal de expressão”.
18
 
Como conseqüência da manifestação dessa energia e irradiação nos planos concretos, há 
dois mil anos, as possibilidades de contato interno se ampliaram, assim como as da evolução da 
alma. 
A energia cósmica é intermediária entre o padrão arquetípico e o mundo exterior. É 
curativa, porque estabelece na forma, a vibração correspondente à idéia que lhe deu origem. 
Os ensinamentos dos diversos avatares que exprimiram a energia Crística, e os eventos 
significativos relacionados com esses personagens, foram registrados nas escrituras tradicionais, 
nos grandes poemas épicos, nos Purunas, Shastras e Upanishads, e permanecem vivos milhares 
de anos. 
O Bhagavad Gita dá talvez a mais sucinta formulação deste fenômeno: 
 
“Toda vez que a espiritualidade entra em fase de decadência e o materialismo predomina, 
então, oh! Arjuna, Eu mesmo reencarno. Para proteger o virtuoso, para destruir os que fazem o 
mal e para estabelecer a ordem correta, eu renasço, era após era”.
19
 
 
17
 Marie-Gabriele Wosien – Babaji, Mensagem do Himalaia.São Paulo,Ed TRIOM,1999,pág 13. 
18
 Trigueirinho-Glossário Esotérico, São Paulo, Ed Pensamento, pág 103. 
 
 
O Self na relação terapêutica 31 
Ramakrisna, santo do sec. XIX, compara os avatares com as ondas do infinito oceano 
divino: 
“Como um mar sem limites, uma força infinita reside dentro do espírito e da matéria. Para 
uma tarefa específica, esta força infinita assume, por assim dizer, uma forma concreta durante 
um determinado período histórico – este é o que chamamos comumente de um grande homem. 
Ele é, falando num sentido restrito, uma manifestação local do poder que tudo permeia, em 
outras palavras uma encarnação divina. Sua grandeza nada mais é do que a manifestação da 
energia divina..” 
“O mar da vida emerge em um lugar e se chama Krishna, e novamente aparece em outro 
lugar, como Cristo”.
20
 
A chegada do avatar, aponta o caminho no qual a consciência humana pode evoluir. 
Para nós a presença do avatar revela a possibilidade de transcendência da realidade 
terrestre, e de estabelecer a lei divina na Terra. 
A filosofia hindu distingue dois aspectos relacionados à manifestação de um avatar: 
Um aspecto descendente, o nascimento do divino em forma humana ou em outra forma da 
natureza- este é o avatar eterno. O outro aspecto, ascendente,é a elevação de um ser humano à 
divindade – o homem que evolui até o divino e se torna uno com sua consciência, além, do ciclo 
do renascimento cármico. A diferença entre os dois está na consciência que o avatar tem de sua 
identificação com o brahman, a força divina. O ser humano, em geral, está cego à percepção da 
verdade, pelos sentidos do corpo e da mente que o distraem. 
O avatar se manifesta em resposta a um anseio profundo dos seres humanos por libertação 
e realização de seus desejos mais íntimos, mas apesar disto sua verdadeira importância não é 
compreendida pelos seus contemporâneos. Cristo foi considerado meramente o filho de um 
carpinteiro de Nazaré e o clero judeu ortodoxo o julgou um elemento indesejável que ameaçava 
suas posições hierárquicas. Krishna, um outro exemplo, nasceu em uma família real, mas sua 
força divina só foi revelada para muitos poucos. 
. 
As escrituras religiosas dizem que é a ignorância a cerca da divindade que mora no interior 
de cada um é que mantém cegos e limitados os seres humanos. 
 
19
 Bhagavad Gita IV, 7-8, apud Marie-Gabriele Wosien – Babaji, Mensagem do Himalaia.São Paulo, Ed 
TRIOM,1999. 
 
 
 
O Self na relação terapêutica 32 
Raramente, o avatar se revela como o Senhor da criação, quando isto acontece, equivale a 
uma experiência de iluminação. 
No Bhagavad Gita, assim é descrita a transfiguração de Krishna, diante dos olhos de 
Arjuna, seu discípulo: 
“Contemple neste momento, oh! Arjuna, o universo inteiro, as coisas que se movem e o 
que quer que você mais deseje ver, todos fazendo parte do Meu Corpo. 
Ainda que não me possa ver com seus Olhos, eu lhe dou a visão divina, contemple a minha 
divina força da Ioga. Nessa visão, Arjuna protagonista do Bhagavad Gita, viu o universo em um 
só, o Senhor Supremo”.
21
 Novamente aqui a idéia de unidade. 
Como vimos, o Homem Cósmico é o objeto, o alvo da criação, mas esta realização não 
deve ser compreendida como um possível acontecimento de ordem exterior. Segundo a tradição 
hindu, essa realização significa que a orientação extrovertida do ego em direção ao mundo 
exterior, há de desaparecer para dar lugar ao Homem Cósmico. 
Quando este contato interno se dá, ou seja, quando o Homem Cósmico é encontrado, os 
desejos que são instáveis e infindáveis, assim como o fluxo incessante dos pensamentos 
acalmam-se e o indivíduo encontra serenidade. Os apelos externos já não o perturbam. Já não há 
identificação com que é efêmero, considerado irreal, considerando-se realidade é o que é 
transcendente e atemporal. Agora o indivíduo sabe que dentro dele está o caminho de paz e que o 
sofrimento é decorrente da fixação no que irreal.20
 Marie-Gabriele Wosien – Babaji, Mensagem do Himalaia. São Paulo,Ed TRIOM,1999, pág 14. 
 
 
O Self na relação terapêutica 33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 6 
A RELAÇÃO TERAPÊUTICA 
 
 A natureza humana implica uma vida de relações e encontros, que ocupam um espaço vital 
na nossa vida. Quando nossas expectativas não são atendidas, quando a frustração e decepção 
nos causam dor, surge então a demanda da psicoterapia e entra em cena o trabalho do 
psicoterapeuta que começa, segundo Hillmam “a partir das sombras que caem sobre as 
pessoas”.
22
 Este desencontro nas relações entre as pessoas leva ao encontro cliente/terapeuta e é 
com alegria que vemos cada vez mais as pessoas se permitirem buscar a ajuda de profissionais 
que por muitos anos se prepararam para este encontro. “A psicoterapia está cada vez mais 
acesssível e não se trata mais de coisa de maluco”. 
 Quanto ao terapeuta, precisamos antes de tudo olhar para dentro de nós mesmos, pois este 
encontro conta com as projeções dos que vêm em busca de ajuda, mas também com nossas 
intenções, expectativas, impressões e sentimentos, ou seja com a contratransferência. Aqui vale 
a pena refletir sobre a forma como este cliente chegou, quem encaminhou, como encaminhou, 
como foi este primeiro contato por telefone. Estes dados nos darão indícios do eixo transferência 
x contratransferência que já se encontra ativado antes da terapia iniciar, sendo este um aspecto 
muito importante na relação terapêutica e que pode ser investigado observando-se os sonhos do 
 
21
A transfiguração de Krisna diante dos olhos de seu discípulo, Arjuna, Bhagavad gita, XI, 7,8,10-13.(apud Wosien). 
22
 Todas as referências a Hillman, neste capítulo, são retiradas do livro “Uma busca interior em psicologia e 
religião”, São Paulo, Ed Paulus,1984. 
 
 
O Self na relação terapêutica 34 
cliente ( em alguns casos também do terapeuta) nos dias que antecederam a primeira entrevista. 
Eles podem revelar receios , expectativas e até prognóstico em relação à psicoterapia. 
 A contratransferência dá a medida de quanto nos sentimos confortáveis na relação e para isto 
se faz necessário que conheçamos nossas necessidades e nossas dores, até para decidirmos se 
somos capazes de acompanhar este ser que nos procura, se somos capazes de sustentar esta 
relação tanto no eixo horizontal como no eixo vertical, como vermos adiante. 
 Nossas necessidades estão presentes todo o tempo, por exemplo a necessidade de salvar o 
outro ou fazer algum tipo de resgate que certamente estará relacionado com nossa ferida, que em 
nível mais profundo pode encontrar correspondência no outro. O que auxilia e o que precisa de 
auxilio, o perdido e o resgatado caminham sempre juntos 
 A necessidade nos permite fazer contato com nossa porção humana. “ Embora eu não consiga 
responder a meus desejos e anseios, posso responder aos seus, embora eu não consiga me 
compreender posso auxiliá-lo a compreender-se e você pode fazer o mesmo comigo Essa 
reciprocidade torna possível usufruir e doar-se mutuamente no amor” (Hillman). 
 A necessidade do terapeuta não é prejudicial desde que seja reconhecida para que não se 
transforme em algum tipo de exigência inconsciente. Daí a importância do terapeuta ter passado 
ou estar em processo terapêutico pessoal. Não é necessário que o terapeuta seja alguém que 
nunca tenha tido um problema emocional ou nunca esteve numa crise dessa ordem. Mesmo 
porque se isto fosse condição talvez não sobrasse nenhum exemplar humano a ocupar este lugar. 
A ferida do terapeuta pode torná-lo mais sensível, mais apto à escuta e compaixão. Conta muito 
a vocação, esse chamado que vem de um nível transpessoal, do Self. 
 O terapeuta deverá ser uma pessoa neutra, longe da ética que define padrões morais. O 
arquétipo é moralmente neutro e envolve polaridades dos contrários e o “mal” quando convertido 
e sublimado impulsiona o processo de individuação. É o que ocorre quando nos defrontamos 
com a sombra, e a luz pode então surgir. 
 O terapeuta deverá ainda ter aquietado sua mente inquisidora, pois o principal impedimento 
de conhecer o outro é exatamente o desejo de conhecê-lo, evitando a curiosidade que congela, 
aquela que alimenta algo mal vivido do terapeuta ou que se adequaria a algum tipo de gozo. 
 É necessário também saber ouvir: Ouvir ao outro e a se mesmo enquanto ouve o outro e ainda 
estar atento a como e o que ouvir, quando não se deve ouvir, escutar sem ouvir, falar apenas 
 
 
O Self na relação terapêutica 35 
quando o outro estiver ouvindo, etc. Ouvir está relacionado com receptividade e respeito que 
permite ao outro revelar-se pouco a pouco. 
 Neste encontro, que é sempre único, duas psiques estão interagindo e podemos considerar que 
um encontro de almas ocorre. A relação entre ambos, sendo verbal e não-verbal ocorre em vários 
níveis: de ego para ego, de inconsciente para inconsciente, entre o ego do cliente e o inconsciente 
do terapeuta, entre o inconsciente do cliente e o ego do terapeuta, vai além do “conversar” 
tornando possível captar e compartilhar sentimentos. Podemos dizer que o instrumento de cura é 
nosso canal, o que significa dizer nossa própria ferida, necessidade ou vocação. Mas neste 
processo precisamos estar atentos à nossa própria saúde pois corremos o risco de nesse 
mergulho, também adoecermos. 
 Cada um de nós tem o seu próprio espaço. Não se pode esperar a exposição de um problema 
enquanto não for criado um espaço adequado e seguro. Para que o outro possa falar e abrir-se, 
torna-se necessário que o terapeuta faça uma certa retirada. 
 Com a distância o cliente pode se constelar como outro, como diferente, separado, com a dor 
de ser ele mesmo e sozinho. Se o outro for do sexo oposto, a distância enfatiza a polaridade 
sexual. A polaridade então é sentida como atração ou repulsão, e a transferência poderá levar a 
um aprofundamento da relação. 
 “A distância ainda constela dignidade e respeito pelos problemas. Nada oferece maiores 
probabilidades à alma que o silêncio, ela não pode fazer-se ouvir em meio ao ruído. “( Hillman) 
 O espaço terapêutico é um templo de preservação ou temenos, algo como um santuário, que 
dá proteção e que juntamente com a empatia, a receptividade, a confiança, oferecem refúgio 
principalmente contra o medo. Este está presente em todo cliente. Encontramos diversas formas 
de nos defender do amor. O centro desse medo é o medo do amor. As distorções do amor vividas 
criam mecanismos de defesa que dão lugar ao medo no qual o amor se esconde e pode vir a 
constituir um complexo. “Tocar este complexo, mesmo por meio de um aconselhamento cheio 
de afeto, só será terapêutico quando o medo se dissipar e quando isto for feito por alguém cujo 
amor seja perfeito “. Para Hillman só um amor assim pode dar segurança para desfazer o medo. 
 Segundo a mitologia, o amor é experimentado por meio das flechas de Eros. Para Platão ele é 
uma loucura divina, uma mania. O amor sempre esteve de alguma forma associado à dor. O 
encontro humano leva a experienciar 
 
 
O Self na relação terapêutica 36 
 esta dor. “Quando duas pessoas se envolvem e esse envolvimento se processa através dos 
sofrimentos da psique, ambas são imediatamente atingidas pela força arquetípica do amor, o que 
fica ainda intenso, se elas esperam durante seus encontros criar juntas uma vida nova como 
resultado de sua união”.(Hillman). 
 Na psicoterapia é preciso que o eixo interior do terapeuta sustente a amplitude e a extensão 
desses envolvimentos ou seja que a ligação vertical com a base de sua existência interior, e com 
o amor por si mesmo esteja formada, caso contrário,o terapeuta despertará um amor que não irá 
agradar. 
 O encontro humano depende dessa conexão interior. Para estar em contato com você é 
preciso que eu esteja em contato comigo mesmo. Se eu não estiver ligado à minha interioridade, 
posso perder minha identidade ou ficar apavorado com a invasão. Numa relação terapêutica, de 
cura, o terapeuta deve estar em sintonia com sua dimensão mais profunda, com seu Self. 
 O encontro humano acontece em dois níveis simultaneamente: um externo, através da 
conversa, do estabelecimento da relação, do compartilhar experiências, e num outro nível que é 
intrapessoal, uma conexão vertical que desce ao interior de cada indivíduo, baseada numa 
conexão com o Self. Quando conseguimos estabelecer esse eixo, podemos estar mais inteiros 
com nossos sentimentos, e abertos ao que vem, porém ancorados e fixos, capaz de estar comigo 
mesmo e ao mesmo tempo estar com o outro. Passamos a nos conhecermos melhor, conhecer 
nossos sentimentos e fantasias. Essa conexão interna é fundamental para que haja discernimento 
entre o que é meu e o que é do outro e estarmos livres para experimentar nossos verdadeiros 
sentimentos. Para Hillman, “não é tanto a ligação horizontal que faz crescer a intimidade entre 
duas pessoas na análise, mas as conexões verticais dentro dos indivíduos pois o outro habita o 
meu mundo interno, como eu habito o dele”. A característica da unidade do Self, aproxima os 
indivíduos conectados com o próprio Self. 
 Se o encontro humano despertar o amor enquanto força arquetípica, surgirão barreiras 
naturais que são as defesas, formas da psique se proteger até que se estabeleça o eixo vertical. 
Esse eixo é a conexão que deverá equilibrar o desenvolvimento das relações no nível externo. 
 “Só quando isto tiver acontecido, quando o acesso ao amor por mim mesmo, como sou, me 
inundar de fé e esperança em mim mesmo tal como sou, poderá então haver um encontro, no 
sentido numinoso da palavra”.
23
 
 
23
 Hillman, James- Uma busca interior em Psicologia e religião,SP,ed Paulus,1985. 
 
 
O Self na relação terapêutica 37 
 A relação terapêutica cumpre seu papel quando ambos, cliente e terapêuta, constroem ou 
consolidam os canais pelos quais a harmonia do Self produz as transformações necessárias para 
haver harmonia também na vida exterior. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Self na relação terapêutica 38 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 7 
O SELF NA RELAÇÃO TERAPÊUTICA 
 
 Quando duas pessoas estão ligadas interiormente, estão comungando entre si, mesmo que 
não o demonstrem. Comunhão não é comunicação, mas refere-se à ligação interior que acontece 
através do contato a partir de dentro da profundidade individual. 
 Para Hilman, há um apoio universal que cada ser tem e que encontra acesso através da 
conexão interior. 
 Encontramo-nos um ao outro quando refletimos o inconsciente coletivo ou quando nos 
expressamos. 
 Esse é um passo para que a cura aconteça e ela depende não só do momento arquetípico e 
da necessidade da alma expressa nesse momento, mas desse encontro que reflete essa 
necessidade. Do encontro consigo mesmo e do encontro com o outro. 
 As crises atuam como fatores de cura porque nos conduzem para mais além da comunicação 
e comiseração pessoal, nos conduzem para este local (mais profundo), onde esse encontro é 
possível 
 Este local, o centro ou a alma, objeto de atenção de longa tradição religiosa, e mais 
recentemente da teologia, da psicologia profunda, do existencialismo e de todas estas correntes 
sugere que se desça ao chão da existência, ao inconsciente Não se trata mais de galgar a 
montanha dos sete patamares na direção do monte Carmelo ou do Sião. Ou como disse Jung, o 
caminho que conduz ao alto é o de baixo e o que conduz para baixo é o de cima. 
 Alguns místicos
24
 afirmam que quando encontramos dificuldades para chegar à Presença 
Divina ascendendo a planos superiores, devemos descer e mergulhar em nossa natureza inferior. 
 
24
 John Pordage,Sophia:The Graceful EternalVirgin ofHolyWisdom(Londres,1675,citado em theosofic 
Correspondence of Louis Claude de saint –Martin(Exeter,1863),pp92-3. 
 
 
O Self na relação terapêutica 39 
 Descer significa caminhar em direção ao inconsciente, num processo de resgate e 
confrontação com tudo o que foi rebaixado. ao longo dos séculos, com as coisas reprimidas, e 
nos defrontarmos com nossos pecados e males. O inconsciente seria a porta através da qual nós 
passamos para encontrar a alma. Encontramos no inconsciente as raízes dos nossos defeitos, 
complexos, limitações e falhas de caráter. Para trilharmos o caminho de perfeição e união com 
Deus, precisamos superar nossas fraquezas e defeitos através do autoconhecimento. Esse 
conhecimento nos dá a chance de desvelar nosso inconsciente, onde estão informações 
importantes sobre nosso passado, que possuem a chave para o entendimento da problemática 
atual. 
 Jung nos explicou que todos os traumas e frustrações da infância, devido a situações não 
resolvidas, são armazenadas em nosso inconsciente sob a forma de mecanismos de defesa, e 
condicionamentos, que passarão a interferir e mesmo comandar nossas reações. 
 Para Jung “A sombra constitui um problema de ordem moral que desafia a personalidade do 
eu como um todo, pois ninguém é capaz de tomar consciência dessa realidade sem despender 
energias morais. Mas nessa tomada de consciência da sombra trata-se de reconhecer que os 
aspectos obscuros da personalidade, tais como existem na realidade. Esse ato é a base 
indispensável para qualquer tipo de autoconhecimento, e por isso, via de regra ele se defronta 
com considerável resistência”.
25
 
 O processo de conhecimento de si mesmo, implica na identificação de nossas dificuldades, 
para que possam ser purificadas e trabalhadas A identificação dessas distorções é muitas vezes 
dolorosa. Aceitando retirar nossas máscaras, desvelamos nossa verdadeira natureza. Esse 
processo corresponde a um desnudamento, que nos fragiliza. 
 Para Hilman “Quanto mais se penetra nesse mundo essencial de Si mesmo, mais se sente que 
os problemas pessoais adquirem uma dimensão humana, e que as verdades essenciais e próprias 
de nossa individualidade se tornam universais, exatamente como as afirmações da Teologia. É 
como se análise profunda conduzisse a um centro estranho e escuro, onde se torna difícil 
distinguir o inconsciente da alma e da imagem de Deus
26
”. 
 Segundo Paul Brunton
27
 ,há dois modos de ir ao encontro da realidade interna: 
 
25
 Aion:Estudo sobre o simbolismo do Si-mesmo,Petrópolis,Ed Vozes,1976. 
 
26
 Hillman, James - Uma busca interior em Psicologia e Religião,São Paulo,Ed Paulus,pág 54. 
27
 Brunton, Paul - Idéias em perspectivas, São Paulo, Ed Pensamento. 
 
 
O Self na relação terapêutica 40 
 caminho longo- fundamentado pelo autoconhecimento, auto perfeiçoamento e no esforço 
humano. 
 caminho breve- fundamentado no completo esquecimento de Si mesmo e no direcionamento 
da mente para o nível transpessoal, através da constante lembrança dele e identificação com 
ele. 
 Geralmente aconselhamos que ambos os caminhos sejam percorridos simultaneamente, ou 
seja que ao mesmo tempo que haja um esforço no sentido do auto aperfeiçoamento, 
mantenhamos viva a lembrança de nossa imortalidade (Eu sou Espírito) e a lembrança constante 
da nossa essência profunda, que com o tempo vai se tornando comunhão. 
 O processo da análise visa a recomposição integral do ser humano, à superação de suas 
fragmentações e ao estabelecimento de uma unidade de consciência, na qual os aspectos

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