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PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
JUNG - BREVE CONTEXTO E OBRAS 
 
 
 
Carl Gustav Jung nasceu em Kesswil, Suíça, em 26 de julho de 
1875, e foi um dos maiores psicoterapeutas que já existiu. Formou-se em 
psiquiatria e desenvolveu a Psicologia Analítica, uma forma de 
conceber a psique humana bastante ampla e aberta, que, inclusive, 
tende a não se contrapor frontalmente a nenhuma outra escola 
psicológica. Isso se deve à sua concepção de que os seres humanos 
podem constituir pontos de vista psicológicos diferentes sobre um 
mesmo objeto. 
 
Minha vida foi singularmente pobre em 
acontecimentos exteriores. Sobre estes não posso 
dizer muito, pois se me afiguram ocos e desprovidos 
de consistência. Eu só me posso compreender à luz 
dos acontecimentos interiores. São estes que 
constituem a peculiaridade de minha vida e é deles 
que trata minha autobiografia. (Jung, XXX, p. xx) 
 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
Jung trouxe à luz conceitos importantíssimos para compreensão do 
desenvolvimento da psique, tais como os tipos psicológicos, com 
destaque para as atitudes fundamentais de orientação da vida - 
extroversão e introversão, termos mundialmente conhecidos; 
apresentou-nos muitos temas importantes, tais como a análise de 
sonhos, de maneira muito mais abrangente do que a de Freud; e 
conceitos fundamentais como arquétipos, inconsciente coletivo, 
individuação – temas centrais que se repetem ao longo do 
desenvolvimento de sua teoria. 
Passou parte do seu tempo dedicado ao estudo comparado das 
mais diversas religiões, mitologias, literaturas e filosofias, assim como da 
alquimia, da astrologia, do gnosticismo, da sociologia, etc. Sua 
dedicação e interesse pelo estudo psicológico dessas questões 
estabeleceu equivocadas atitudes de vários especialistas, que 
passaram a se referir a Jung como um místico. 
Pode-se afirmar que Jung pertencia a um tipo psicológico muito 
estranho para a maioria das pessoas da sua nação. Seus sonhos, visões 
e estranhos fatos descritos em sua autobiografia, Memórias Sonhos e 
Reflexões, nos mostra sua natureza intuitiva herdada de sua mãe. Sua 
natureza questionadora o leva, mais tarde, a investigar as áreas já 
citadas. 
Jung era um menino solitário que gostava de brincar sozinho. Não 
gostava de ser perturbado e ficava profundamente concentrado nas 
brincadeiras, irritando-se se alguém o observasse ou julgasse. Diz-se que 
não suportava críticas e nem pessoas que interferissem em suas 
atividades. De acordo com alguns amigos ele poderia ser considerado 
um monstro antissocial. (JUNG, 2002) 
A introversão de Jung foi percebida logo cedo, o permaneceu por 
toda sua vida. Em torno dos quatro anos, era extraordinariamente 
sisudo, não permitindo influência de qualquer sentimentalismo, 
especialmente com relação à religião. Se servia da comparação dos 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
fatos para tirar as próprias conclusões e se defrontar com as oposições 
da vida. Daí seu excepcional realismo, endossado pelos seus colegas 
da área rural. Desde jovem acostumou-se a ouvir dos próprios pais e 
pais de colegas que “pau é pau e pedra é pedra” (HANNAH, 2003, p. 
33). Os problemas conjugais de seus pais foi uma constante. Seu pai, 
pastor luterano, era de difícil convívio e concentrado nos afazeres 
religiosos. Possuía mais vínculo com sua mãe, que apresentava 
transtornos emocionais e incompreensíveis mudanças de humor, 
levando-o a considerar que possuía duas personalidades (JUNG, 2002). 
Momentos posteriores à sua infância, revelam a natureza de 
dificuldades e poucos recursos de Jung em relação aos seus colegas. 
 
Ingressei no grande mundo, naquele mundo de 
pessoas bem mais poderosas do que meu pai: 
moravam em casa amplas e imponentes, tinham 
caleches tiradas a cavalos magníficos e falavam 
com distinção alemão e francês. Seus filhos, bem 
vestidos, refinados, traziam bastante dinheiro no 
bolso e eram meus colegas de classe. [..). Só nessa 
época compreendi que éramos pobres; meu pai, 
nada mais do que um pobre pastor luterano de 
aldeia, e eu – assistindo com os sapatos furados e as 
meias molhadas seis horas de aulas a fio – o filho 
ainda mais pobre desse pastor! (JUNG, 2002, p. 36) 
 
Nestes anos, diminui também seu interesse por religião e outros 
gostos começam a aflorar, sobretudo por filosofia. Esta o coloca em 
contato com novas partes de si, fazendo com que suas dúvidas e 
inquietações comecem a encontrar respostas. Todavia, sua solidão e 
questões que envolviam a totalidade das coisas continuavam. Dessa 
forma, ele busca continuamente o auxílio e companhia dos livros. 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
Aos 19 anos Jung vai à universidade cursar medicina. Uma escolha 
difícil, considerando os vários caminhos que já havia pensado. A 
medicina não apareceu como opção anteriormente, por procurar 
negar o que outros da família já houvessem feito antes. Segundo Jung, 
estava evitando imitar o avô. (HANNAH, 2003) 
Aos 20 anos, é acometido pelo falecimento de seu pai. Diante 
disso, se viu Jung na responsabilidade de cuidar da mãe e da irmã, e 
manter suas despesas com a universidade. Alguns parentes de sua mãe 
aconselharam-no a simplesmente abandonar os estudos e arrumar um 
emprego. Ele sabia que essa não era a solução, que de algum modo 
tinha de achar um meio de continuar com seus estudos e de 
providenciar o sustento da mãe e da irmã. Nesta situação outros 
parentes passam a contribuir com a ajuda financeira necessária para 
Jung manter a família e terminar seus estudos. 
A vida na universidade corre bem. Jung consegue levar seus 
estudos e ainda ler filosofia. Neste período, também se interessa por 
conhecimentos que descrevessem condições mais misteriosas. Algumas 
experiências sem explicação causal ocorrem em sua vida e ele 
começa a ler livros de ocultismo e a frequentar sessões espíritas. Seu 
interesse pelos fenômenos ocultos nunca diminuiu, o que se percebe 
pelo conteúdo do primeiro volume de suas Obras Completas. Neste, 
que também é sua tese de doutoramento, ele nos apresenta uma 
descrição de sua investigação sobre o comportamento de uma 
médium (JUNG, 2002). 
Esse trabalho teve por título “Psicologia e Patologia dos Fenômenos 
Chamados Ocultos”. Trata-se do estudo do caso de uma jovem 
médium espírita. Jung, em 1902, interpreta os numerosos espíritos 
manifestados como personificações de aspectos diferentes e até 
opostos da própria médium e classifica-os em dois grupos: o tipo grave-
religioso e o tipo alegre-libertino (SILVEIRA, 1997, pág. 13). 
Jung morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa à 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
beira do lago de Zurique, em Küshacht, após longa vida produtiva que 
marcou – e tudo leva a crer que ainda marcará mais – a psicologia, a 
antropologia e a sociologia. Jung foi médico, psiquiatra, psicanalista, 
professor, escritor, escreveu vários artigos sobre crítica social, artigos 
sobre como estavam se desenvolvendo os movimentos sociais. 
Construiu uma teoria que abarca um grande número de temas que 
envolvem o humano e a sociedade. 
Seu conhecimento se torna importante haja vista que ele conseguir 
ir além do que é observado concretamente. Seus estudos sobre 
simbolismo e religiões, por exemplo, não se encerram apenas nos 
estudos psicológicos, sendo aproveitados por outras áreas do 
conhecimento como sociologia, antropologia, história, etc. Sua 
intenção de tentar conhecer o máximo possível sobre o que é humano 
o torna um dos grandes pensadores da história (HANNAH, 2003; 
SILVEIRA, 1997) 
Algumas de suas principais e mais populares obras são descritas a 
seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
OBRAS MAIS POPULARES DE JUNG 
Homem e seus símbolos 
 
 
 É um dos livros menos 
complexos de Jung, confeccionadopara ser o mais acessível ao leitor 
leigo, abrangendo a maioria dos 
conceitos que criou. Muitos autores 
dizem que Jung era uma pessoa 
depressiva e que dava muitas voltas 
para falar algo diferente de Freud, o 
qual era claro e didático. Ocorre que 
Jung começou a escrever da mesma 
forma como abordava os sonhos e os 
símbolos das pessoas: rodeando o 
assunto, falando de várias ideias que 
esclareciam o alvo, até que este se 
tornasse mais compreensível, embora 
nunca definitivamente. 
 
Isso porque para ele o homem era um ser em eterna construção e 
crescimento, e nada era definitivo, de nada se pode dizer que temos 
um conhecimento absoluto. As obras de Jung são bastante subjetivas 
pois ele explanava sobre a alma humana, sobre a natureza mais íntima 
do ser humano. Ele negou-se a preparar um livro em que deixasse sua 
psicologia acessível à maioria das pessoas, até que teve um sonho: 
 
Sonhou que, em lugar de sentar-se no seu escritório 
para falar a ilustres médicos e psiquiatras do mundo 
inteiro que costumavam procurá-lo, estava de pé 
num local público dirigindo-se a uma multidão de 
pessoas que o ouviam com extasiada atenção e 
que compreendiam o que ele dizia… (JUNG, 1991, 
p. 10). 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
 
Psicologia do Inconsciente 
 
Jung apresenta uma introdução à Psicologia Analítica, expondo 
conceitos tais como inconsciente pessoal e coletivo, arquétipo, 
complexos, etc., abordando-os de maneira menos técnica, pois dirigiu-
se a profissionais e leigos. Fala sobre a importância do 
autoconhecimento e da volta instintiva a si mesmo, principalmente 
após o grande e terrível evento que sobreveio logo antes de escrevê-lo: 
a 2ª Guerra Mundial. 
 
A Natureza da Psique 
Livro que reúne um conjunto de artigos que fundamentam 
teoricamente a psicologia de Jung: consciência, instintos, símbolos, 
energia psíquica, concepção do mundo, complexos, função 
transcendente, personalidade, interpretação de sonhos e morte são 
alguns dos temas desenvolvidos. Um dos livros mais lidos por aqueles 
que já possuem um conhecimento superficial da psicologia do 
psicólogo. 
 
Tipos Psicológicos 
Neste livro ele começa a delinear cada vez mais profundamente 
sua psicologia, que viria se chamar “Psicologia Analítica”. Começa a 
buscar em entender as diferenças entre os pontos de vista das pessoas, 
porque, apesar de discordar de Freud e outros, percebia que eles 
também expressavam certas verdades, que obtinham resultados. 
Procurou entender por que discordava de outros teóricos, embora 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
reconhecesse sua legitimidade. Chegou ao entendimento de que cada 
pessoa possui apenas uma pequena porção de entendimento sobre o 
mundo e seus elementos. Apenas se as diferentes perspectivas se 
juntarem em uma mais completa, poderão abarcar de modo mais total 
e real o objeto. Neste livro ele começa a definir os tipos de pessoas e 
começa a ter uma preocupação com a consciência. Requer um 
conhecimento mais avançado da Psicologia Analítica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
PRINCIPAIS CONCEITOS 
 
“Aquilo que não fazemos 
aflorar à consciência 
aparece em nossas vidas 
como destino.” 
Jung 
 
Os conceitos expostos a seguir foram traduzidos e editados do 
inglês por Charles A. Resende a partir de Sharp (1991). As citações de 
Jung que seguem não se encontram em destaque, tendo em vista que 
são paráfrases do texto original, em português. Assim, são equivalentes, 
mas nota-se uma linguagem muito menos erudita e mais assimilável do 
que aquela empregada nas obras de Jung na língua portuguesa. 
 
ARQUÉTIPO 
 
 
São elementos estruturais 
primordiais da psique humana. 
Arquétipos são sistemas de 
desenvoltura para a ação e, ao mesmo 
tempo, para imagens e emoções. São 
herdados juntamente com a estrutura 
cerebral - na verdade, são seu aspecto 
psíquico. Representam, por um lado, um 
conservadorismo instintivo muito forte, 
enquanto, por outro, são os meios mais 
eficazes concebíveis para a adaptação 
instintiva. Eles são, portanto, essencialmente, a porção ctônica da psique... a 
porção pela qual a psique está ligada à natureza (JUNG, 2011, §53). Não é 
uma questão de idéias herdadas, mas de possibilidades herdadas de idéias. 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
Tampouco são aquisições individuais, mas são, principalmente, partilhados por 
todos, como se pode ver pela sua ocorrência universal (JUNG, 2008d, §136). 
Os arquétipos são irrepresentáveis em si mesmos, mas seus efeitos são 
reconhecíveis em imagens e motivos arquetípicos. 
Arquétipos apresentam-se como idéias e imagens, como tudo o mais que 
se torna conteúdo da consciência (JUNG, 2009, §435). São, por definição, 
fatores e motivos que organizam os elementos psíquicos em certas imagens, 
caracterizadas como arquetípicas, mas de tal modo que só podem ser 
reconhecidas a partir dos efeitos que produzem (JUNG, 1978, §222, nota 2). 
Jung também descreveu os arquétipos como as formas que os instintos 
assumem. Ele ilustrou isso usando o símile do espectro. 
O dinamismo do instinto se apresenta como se estivesse na parte 
infravermelha do espectro, enquanto a imagem instintual ficasse na parte 
ultravioleta. A realização e assimilação do instinto nunca se dá no extremo 
vermelho, isto é, pela absorção na esfera instintiva, mas somente pela 
integração da imagem que significa e ao mesmo tempo evoca o instinto, 
embora de uma forma bem diferente daquela que encontramos no nível 
biológ
ico. 
(JUN
G, 
2009, 
§414). 
 
 
 
Psicologicamente, o arquétipo como imagem do instinto é uma meta 
espiritual para a qual toda a natureza do homem se esforça; é o mar para o 
qual todos os rios se encaminham, o prêmio que o herói obtém da luta com o 
dragão (Ibid., §415). 
Os arquétipos manifestam-se tanto ao nível pessoal, por meio dos 
complexos, como coletivamente, como características de culturas inteiras. 
Jung acreditava que era tarefa de cada época entender novamente seu 
conteúdo e seus efeitos. 
Figura 1: A manifestação do arquétipo e do instinto na atividade 
vital. Ilustração de Charles A. Resende. 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
Jamais podemos nos libertar legitimamente de nossos fundamentos 
arquetípicos a menos que estejamos preparados para pagar o preço de uma 
neurose, assim como não podemos nos livrar de nosso corpo e seus órgãos 
sem cometer suicídio. Se não podemos negar os arquétipos ou neutralizá-los, 
somos confrontados, a cada novo estágio na diferenciação de consciência a 
que a civilização alcança, com a tarefa de encontrar uma nova 
interpretação apropriada a esse estágio, a fim de conectar a vida do passado 
que ainda existe em nós com a vida do presente, que ameaça fugir dele 
(JUNG, 2008d, §267). 
 
A SOMBRA 
 
A sombra inclui 
os aspectos ocultos 
ou inconscientes do 
indivíduo, tanto bons 
quanto maus, que o 
ego reprimiu ou 
nunca reconheceu. 
 
Constitui um problema moral que desafia o eu. Ninguém pode 
tomar consciência de sua realidade, reconhecer os aspectos escuros 
de si mesmo, sem desgastar-se com assuntos morais (JUNG, 2011, §14). A 
responsabilidade pela sombra repousa no ego. É por isso que a sombra 
é um problema moral. Uma coisa é perceber o que é aparente - o que 
somos capazes de fazer. Outra coisa é determinar o que ou com o que 
podemos viver. 
Antes de os conteúdos inconscientes se diferenciarem, a sombra 
personifica todo o inconsciente, e é normalmente representada nos 
sonhos por pessoas do mesmo sexo que o sonhador. 
A maior parte da sombra é composta de desejos reprimidos e 
impulsos não civilizados, motivos moralmente inferiores, fantasias infantis, 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
ressentimentos, etc. - tudo o que as pessoas não se orgulham. Essas 
características pessoais não reconhecidas são freqüentemente 
experimentadas nas outras pessoas por meiodo mecanismo de 
projeção. 
 
Com compreensão e boa vontade, a sombra 
pode ser integrada de algum modo na 
personalidade, enquanto certos traços, como o 
sabemos pela experiência, opõem obstinada 
resistência ao controle moral, escapando 
portanto a qualquer influência. De modo geral, 
estas resistências ligam-se a projeções que não 
podem ser reconhecidas como tais e cujo 
conhecimento implica um esforço moral que 
ultrapassa os limites habituais do indivíduo. Os 
traços característicos da sombra podem ser 
reconhecidos, sem maior dificuldade, como 
qualidades pertinentes à personalidade, mas 
tanto a compreensão como a vontade falham, 
pois a causa da emoção parece provir, sem 
dúvida alguma, de outra pessoa. Talvez o 
observador objetivo perceba claramente que 
se trata de projeções. Mas há pouca 
esperança de que o sujeito delas tome 
consciência. Deve admitir-se, porém, que às 
vezes é possível haver engano ao pretender-se 
separar projeções de caráter nitidamente 
emocional, do objeto. (JUNG, 2011, §16) 
 
A realização da sombra é inibida pela persona. Na medida em 
que nos identificamos com uma persona brilhante, a sombra diz respeito 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
à escuridão. Assim, a sombra e a persona mantêm uma relação 
compensatória, e o conflito entre elas está invariavelmente presente nos 
surtos neuróticos. A depressão característica em tais momentos indica a 
necessidade de se perceber que o sujeito não é tudo o que finge ou 
deseja ser. 
Não há uma técnica geralmente eficaz para assimilar a sombra. 
Envolve diplomacia ou política e é sempre uma questão individual. 
Primeiro, é preciso aceitar e levar a sério a existência da sombra. Em 
segundo lugar, é preciso ter consciência de suas qualidades e 
intenções. Isso acontece por meio da atenção cuidadosa sobre os 
humores, fantasias e impulsos. Terceiro, um longo processo de 
negociação é inevitável. 
O primeiro requisito de qualquer método psicológico completo é 
que a consciência seja levada a enfrentar sua sombra. No final, isso 
deve levar a algum tipo de união, embora esta consista, a princípio, em 
um conflito aberto e, muitas vezes, permaneça assim por muito tempo 
(A união aqui se refere à separação anterior entre a sombra, que se 
encontrava no inconsciente, e o eu). É uma luta que não pode ser 
abolida por meios racionais. Quando é reprimida intencionalmente, 
continua no inconsciente e apenas se expressa de forma indireta e 
ainda mais perigosa, de modo que nenhuma vantagem é obtida. A luta 
continua até os oponentes ficarem sem fôlego. Não se pode prever o 
resultado. o certo é que ambos serão modificados. Esse processo de 
chegar a um acordo com o Outro em nós vale a pena, pois assim 
conhecemos aspectos de nossa natureza que não permitiríamos que 
mais ninguém nos mostrasse e que nós mesmos nunca admitiríamos 
(JUNG, 1985b, §514 e 706). 
O confronto com a sombra produz, a princípio, um equilíbrio, uma 
paralisação que dificulta as decisões morais e torna as convicções 
ineficazes ou mesmo impossíveis. Tudo se torna duvidoso (Ibid., §708). 
A sombra não é, no entanto, apenas a parte inferior escura da 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
personalidade. Também consiste em instintos, habilidades e qualidades 
morais positivas que há muito foram enterradas ou nunca foram 
conscientes. A sombra é apenas um pouco inferior, primitiva, 
inadaptada e desajeitada; não totalmente ruim. Contém, ainda, 
qualidades infantis ou primitivas que de certa forma vitalizam e 
embelezam a existência humana, mas que a convenção proíbe! 
(JUNG, 1978, §134). Um surto de neurose constela1 os dois lados da 
sombra: aquelas qualidades e atividades de que não nos orgulhamos e 
novas possibilidades que nunca se sabia estarem presentes. 
Jung distinguiu entre o pessoal e a sombra coletiva ou arquetípica. 
Com um pouco de autocrítica, pode-se perceber a própria sombra - na 
medida em que sua natureza é pessoal, pois isto está dentro dos limites 
das possibilidades humanas. Mas quando a sombra é arquetípica, 
conseguir identificá-la é uma experiência rara e perturbadora, pois aí se 
depara com a face do mal absoluto (JUNG, 2011, §19). 
 
PERSONA 
 
O "eu" abarca normalmente os 
aspectos ideais de nós mesmos, 
que apresentamos ao mundo 
exterior. A persona é um complexo 
funcional que surge por 
necessidade de adaptação do 
indivíduo ou por conveniência 
pessoal (JUNG, 1991e, 
§801). A persona é aquilo que, na realidade, uma pessoa não é, mas 
que ela e os outros pensam ser (JUNG, 2011, §221). 
Originalmente, a palavra persona significava uma máscara usada 
 
1 Isto é, ativa. 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
pelos atores para indicar o papel que desempenhavam. Nesse nível, é 
tanto um verniz protetor quanto uma vantagem na mistura com outras 
pessoas. A sociedade civilizada depende das interações entre as 
pessoas por meio da persona. 
Existem pessoas que não possuem uma persona desenvolvida. 
Tropeçando de um equívoco social a outro, perfeitamente inofensivas e 
inocentes, crianças encantadoras, ou, se são mulheres, Cassandras 
sonhadoras, temidas por sua falta de tato, eternamente 
incompreendidas, nunca sabendo do que se tratava, sempre 
considerando o perdão como garantido, cegas para o mundo, 
sonhadoras sem esperança. Desses exemplos podemos ver como uma 
persona descuidada funciona (JUNG, 1981, §318). 
Antes que a persona tenha sido diferenciada do ego, a persona é 
vivenciada como individualidade. De fato, como uma identidade 
social, por um lado, e uma imagem ideal, por outro, há pouca coisa 
individual ou pessoal nisso. É, como o próprio nome indica, apenas uma 
máscara da psique coletiva, uma máscara que simula a 
individualidade, fazendo com que os outros e a própria pessoa 
acreditem que se é individual, enquanto se está simplesmente atuando 
um papel, por meio do qual a psique coletiva fala. 
Fundamentalmente, a persona não é nada real: é um 
compromisso entre indivíduo e sociedade, quanto ao que alguém 
deveria parecer ser. Ganha-se um nome, um título, exerce-se uma 
função: a pessoa é isso ou aquilo. Em certo sentido, tudo isso é real, mas 
em relação à individualidade essencial do sujeito em questão, é apenas 
uma realidade secundária. Trata-se da formação de um compromisso, 
na qual os outros frequentemente têm uma participação maior do que 
ele (JUNG, 1981, §245f). 
Uma compreensão psicológica da persona como uma função de 
relacionamento com o mundo exterior torna possível assumir e 
abandonar-se à vontade. Mas a satisfação a certa persona implica em 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
o mundo exterior convidar à identificação com ela. Dinheiro, respeito e 
poder vêm para aqueles que conseguem desempenhar um papel 
unilateral e bem social. Por ser uma conveniência útil, portanto, a 
persona pode se tornar uma armadilha e uma fonte de neurose. 
Um homem não pode se livrar de si mesmo em favor de uma 
personalidade artificial sem sofrimento. Mesmo a tentativa de fazê-lo 
provoca, em todos os casos comuns, reações inconscientes na forma 
de mau humor, afetos, fobias, idéias obsessivas, vícios desviantes, etc. O 
"homem forte" na vida social é em sua vida privada muitas vezes uma 
mera criança onde seus próprios sentimento estão embaraçados. As 
exigências de propriedade e boas maneiras são um incentivo adicional 
para assumir uma máscara. O que acontece atrás da máscara é então 
chamado de "vida privada". Essa dolorosa divisão familiar da 
consciência em duas figuras, muitas vezes ridiculamente diferentes, é 
uma operação psicológica incisiva que está fadada a ter repercussões 
no inconsciente (JUNG, 1981, §305, 307). 
Entre as consequências da identificação com uma persona estão: 
perdemos de vista quem somos, permanecendo sem nenhuma 
proteção; nossas reações são predeterminadas pelas expectativas 
coletivas (fazemos, pensamos e sentimos o que nossa pessoa "deveria" 
fazer, pensar esentir); os que estão perto de nós reclamam da nossa 
distância emocional; e não podemos imaginar a vida sem ela. Na 
medida em que a consciência do ego é identificada com a persona, a 
vida interior negligenciada (personificada pela sombra e pela 
anima/animus) é ativada em compensação. As consequências, 
vivenciadas nos sintomas característicos da neurose, podem estimular o 
processo de individuação. 
Seria incorreto, porém, encerrar o assunto, sem 
reconhecer que subjaz algo de individual na 
escolha e na definição da persona; embora a 
consciência do ego possa identificar-se com 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
ela de modo exclusivo, o si-mesmo 
inconsciente, a verdadeira individualidade, não 
deixa de estar sempre presente, fazendo-se 
sentir de forma indireta. Assim, apesar da 
consciência do ego identificar-se inicialmente 
com a persona — essa figura de compromisso 
que representamos diante da coletividade, o si-
mesmo inconsciente não pode ser reprimido a 
ponto de extinguir-se. Sua influência manifesta-
se principalmente no caráter especial dos 
conteúdos contrastantes e compensadores do 
inconsciente. A atitude meramente pessoal da 
consciência produz reações da parte do 
inconsciente e estas, juntamente com as 
repressões pessoais, contêm as sementes do 
desenvolvimento individual, sob o invólucro de 
fantasias coletivas (JUNG, 1981, §247). 
 
ANIMA 
O lado feminino interior de um homem. A anima é tanto um 
complexo pessoal quanto uma imagem arquetípica da mulher na 
psique do homem. É um fator inconsciente encarnado de novo em 
cada criança do sexo masculino e responsável pelo mecanismo de 
projeção. Inicialmente identificada com a mãe pessoal, a anima é mais 
tarde experimentada não apenas em outras mulheres, mas como uma 
influência generalizada na vida de um homem. 
A anima é o arquétipo da própria vida. (JUNG, 2008d, §66). Há no 
homem uma imagem não apenas da mãe, mas da filha, da irmã, da 
amada, da deusa celestial. Toda mãe e todo amada são forçadas a se 
tornar portadoras e materializações dessa imagem onipresente e sem 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
idade, que corresponde à realidade mais profunda do homem. 
Pertence a ele esta imagem perigosa da Mulher; ela defende a 
fidelidade que, no interesse da vida, ele deve às vezes renunciar; ela é 
a tão necessária compensação pelos riscos, lutas e sacrifícios que 
terminam em desapontamento; ela é o consolo para toda a amargura 
da vida. E, ao mesmo tempo, ela é a grande ilusionista, a sedutora, que 
o atrai para a vida com suas ilusões (Maya) - e não apenas nos 
aspectos razoáveis e úteis da vida, mas em seus terríveis paradoxos e 
ambivalências onde o bem e o mal, o sucesso e a ruína, esperança e 
desespero, contrabalançam um ao outro. Porque ela é seu maior 
perigo, ela exige do homem o seu máximo. E se ele é capaz disso, ela 
vai recebê-lo (JUNG, 1990b, §24). 
A anima é personificada em sonhos por imagens de mulheres que 
variam de sedutora a guia espiritual. Está associada ao princípio de Eros. 
Portanto, o desenvolvimento da anima de um homem é expresso em 
como ele se relaciona com as mulheres. Dentro de sua própria psique, a 
anima funciona como sua alma, influenciando suas ideias, atitudes e 
emoções. 
A anima intensifica, exagera, falsifica e mitifica todas as relações 
emocionais com o seu trabalho e com outras pessoas de ambos os 
sexos. As fantasias e envolvimentos resultantes são obra sua. Quando a 
anima é fortemente constelada, ela suaviza o caráter do homem e o 
torna sensível, irritável, mal-humorado, invejoso, vaidoso e desajustado 
(JUNG, 2008d, §144). 
Como uma personalidade interior, a anima é complementar à 
persona e mantém uma relação compensatória com ela. A persona, a 
imagem ideal de um homem, tal como ele quer ser, é internamente 
compensada pela fraqueza feminina; e como o indivíduo desempenha 
exteriormente o papel de homem forte, ele se torna interiormente uma 
mulher, isto é, a anima, pois é a anima que reage à persona. Mas 
porque o mundo interior é escuro e invisível, e o homem é menos capaz 
 
 
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de perceber suas fraquezas quanto mais for identificado com a 
persona, a contraparte desta, a anima, permanece completamente no 
escuro e é, por isso, projetada, de modo que nosso herói fica sob o 
domínio da mulher (JUNG, 1991d, §309). 
Portanto, o caráter da anima geralmente pode ser deduzido pela 
natureza da persona; todas as qualidades ausentes da atitude externa 
serão encontradas no interior. 
O tirano atormentado por sonhos ruins, presságios sombrios e 
medos internos é uma figura típica. Externamente implacável, rude e 
inacessível, interiormente fica disponível a qualquer sombra, à mercê 
de todo humor, como se fosse o homem mais fraco e mais 
impressionável. Assim, sua anima contém todas aquelas qualidades 
humanas falíveis que sua persona carece. Se a persona é intelectual, a 
anima certamente será sentimental (JUNG, 1991e, §804). 
Da mesma forma, quando um homem se identifica com a persona, 
ele é, de fato, possuído pela anima, com sintomas associados. 
A identidade com a persona leva automaticamente a uma 
identidade inconsciente com a anima porque, quando o ego não é 
diferenciado da persona, não pode ter uma relação consciente com os 
processos inconscientes. Consequentemente, ele é esses processos, é 
idêntico a eles. Qualquer que seja seu papel externo, sucumbirá 
infalivelmente aos processos internos; ele ou frustrará seu papel externo, 
por absoluta necessidade interna, ou então o reduzirá ao absurdo, por 
um processo de enantiodromia2. Ele não pode mais manter seu 
caminho individual, e sua vida se transforma em uma dificuldade após o 
outra. Além disso, a anima é inevitavelmente projetada sobre um objeto 
real, com o qual ele entra em uma relação de dependência quase 
total (JUNG, 1991e, §807). 
Jung distinguiu quatro amplos estágios da anima. Ele os 
 
2 “passar para o lado oposto" 
 
 
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personificou como Eva, Helena, Maria e Sophia (JUNG, 1990a, §361). 
No primeiro estágio, Eva, a anima é indistinguível da mãe pessoal. 
O homem não pode funcionar bem sem uma ligação próxima com 
uma mulher. No segundo estágio, personificado na figura histórica de 
Helen de Tróia, a anima é uma imagem sexual coletiva e ideal ("Tudo é 
escória que não for Helena" - Marlowe). O terceiro estágio, Maria, se 
manifesta em sentimentos religiosos e na capacidade de 
relacionamentos duradouros. No quarto estágio, como Sophia 
(chamada Sabedoria, na Bíblia), a anima de um homem funciona 
como um guia para a vida interior, mediando para a consciência o 
conteúdo do inconsciente. Ela coopera na busca de significado e é a 
musa criativa na vida de um artista. 
Idealmente, a anima de um homem avança naturalmente por 
meio desses estágios à medida que envelhece. De fato, como uma 
força vital arquetípica, a anima manifesta-se em qualquer forma ou 
formato que seja necessário para compensar a atitude consciente 
dominante. 
Enquanto a anima estiver inconsciente, tudo o que ela representa 
é projetado. Mais comumente, por causa do laço inicialmente estreito 
entre a anima e a imagem da mãe protetora, essa projeção recai sobre 
o parceiro, com resultados previsíveis. 
O ideal de casamento de um homem é tão arranjado que sua 
esposa tem que assumir o papel mágico da mãe. Sob o pretexto de um 
casamento idealmente exclusivo, o homem procura na realidade a 
proteção materna, assim colocando-se sob os caprichos dos instintos 
possessivos de sua esposa. Seu medo do obscuro poder incalculável do 
inconsciente dá à sua esposa uma autoridade ilegítima sobre ele, e 
forja uma união tão perigosamente próxima que o casamento está 
permanentemente à beira da explosão da tensão interna (JUNG, 1981, 
§316). 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
Não importa em que nível o homem esteja em termos de 
desenvolvimento psicológico,ele estará sempre propenso a perceber 
aspectos de sua anima, sua alma, em uma mulher real. O mesmo 
acontece com o animus. Seus aspectos pessoais podem ser integrados 
e seu significado entendido, mas sua natureza essencial não pode ser 
esgotada. 
Embora os efeitos da anima e do animus possam se tornar 
conscientes, eles mesmos são fatores que transcendem a consciência e 
estão além do alcance da percepção e da vontade do indivíduo. 
Portanto, eles permanecem autônomos apesar da integração de seus 
conteúdos e, por essa razão, devem ser constantemente lembrados 
(JUNG, 1981, §40). 
Os mais jovens podem suportar até, supostamente, a perda total 
da anima sem maiores danos. O importante nesse estágio é que o 
homem consiga ser homem. A prioridade psicológica na primeira 
metade da vida, para um homem, é a libertação da fascinação pela 
anima, exercida por meio da mãe. Mais tarde na vida, a falta de uma 
relação consciente com a anima é acompanhada por sintomas 
característicos da "perda da alma". No meio da vida, porém, a perda 
permanente da anima significa uma diminuição da vitalidade, da 
flexibilidade e da bondade humana. O resultado, como regra, é rigidez 
prematura, irritabilidade, estereotipia, fanatismo, obstinação, 
pedantismo, ou então resignação, cansaço, desleixo, irresponsabilidade 
e, finalmente, um infantil amolecimento [irreverência], com tendência 
ao alcoolismo (JUNG, 2008d, §146). 
Uma maneira de um homem se familiarizar com a natureza de sua 
anima é por meio do método da imaginação ativa. Isso é feito 
personificando-a, como uma personalidade autônoma, fazendo 
perguntas e atentando à resposta. 
Entendo isso como uma verdadeira técnica. Sua arte consiste 
apenas em permitir que nosso parceiro invisível se faça ouvir, colocando 
 
 
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o mecanismo de expressão momentaneamente à sua disposição, sem 
se deixar vencer pelo desgosto que naturalmente se sente ao aplicar-se 
a um jogo aparentemente tão ridículo consigo mesmo, ou colocar 
dúvidas à genuinidade da voz do interlocutor (JUNG, 1981, §323). 
Jung sugeriu que, se o encontro com a sombra é uma "obra de 
aprendiz" no desenvolvimento de um homem; chegar a um acordo 
com a anima seria uma "obra-prima" (JUNG, 2008d, §61). O objetivo é a 
sua transformação de uma adversária problemática em uma função de 
relacionamento entre a consciência e o inconsciente. Jung chamou isso 
de "a conquista da anima como um complexo autônomo". 
Conseguindo esse objetivo, torna-se possível desvincular o ego de 
todos os seus envolvimentos com a coletividade e o inconsciente 
coletivo. Através deste processo, a anima perde o poder demoníaco de 
um complexo autônomo; ela não pode mais exercer o poder de posse, 
já que ela é enfraquecida. Ela não é mais a guardiã dos tesouros 
desconhecidos; a mensageira demoníaca do Graal, de natureza meio 
divina e meio animal; já não é a alma a ser chamada de "senhora", mas 
uma função psicológica de natureza intuitiva, semelhante ao que os 
primitivos querem dizer quando afirmam: "Ele foi para a floresta 
conversar com os espíritos" ou "Minha cobra falou comigo" ou, na 
linguagem mitológica da infância, "Um passarinho me disse." (JUNG, 
1981, §374). 
 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
 
ANIMUS 
O lado masculino interior de uma mulher. Como a anima em um 
homem, o animus é tanto um complexo pessoal quanto uma imagem 
arquetípica. 
A mulher é compensada por um elemento masculino e, portanto, 
seu inconsciente tem, por assim dizer, um traço masculino. Isso resulta 
em uma diferença psicológica significativa entre homens e mulheres e, 
consequentemente, chamei o fator de projeção na mulher de animus, 
que significa mente ou espírito (JUNG, 2011, §28). 
O animus é como se fosse um depósito de todas as experiências 
ancestrais da mulher sobre o homem. Não apenas isso, ele também é 
um ser criativo e gerador, não no sentido de criatividade masculina, 
mas no sentido de que ele pode evocar... a palavra que concebe, que 
projeta (JUNG, 1981, §336). 
A anima em um homem funciona como uma alma, o animus de 
uma mulher é mais como uma mente inconsciente. Ele se manifesta 
negativamente em ideias fixas, opiniões coletivas e inconscientes, 
suposições a priori que reivindicam a verdade absoluta. Em uma mulher 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
identificada com o animus (isto é, “possuída pelo animus”), Eros3 
geralmente fica em segundo lugar em relação ao Logos4. 
Uma mulher possuída pelo animus está sempre em perigo de 
perder sua feminilidade (JUNG, 1981, §337). 
Não importa o quão amigável e complacente seja o Eros de uma 
mulher, nenhuma lógica na terra pode abalá-la se ela for dominada 
pelo animus... Um homem não sabe que esta situação altamente 
dramática chegaria instantaneamente a um fim banal e 
desinteressante se ele se retirasse do campo e deixasse uma segunda 
mulher continuar a batalha (sua esposa, por exemplo, se ela mesma 
não fosse o cavalo de guerra). Esta ideia agradável raramente ou 
nunca ocorre, porque nenhum homem pode conversar com um animus 
por alguns minutos sem se tornar vítima de sua própria anima (JUNG, 
2011, §29). 
O animus torna-se um fator psicológico útil quando uma mulher 
pode dizer a diferença entre as ideias geradas por esse complexo 
autônomo e o que ela realmente pensa. 
Como a anima, o animus tem um aspecto positivo. Por meio da 
figura do pai, ele expressa não apenas a opinião, mas igualmente o 
que chamamos de "espírito", ideias filosóficas ou religiosas em particular, 
ou melhor, a atitude resultante delas. Assim, o animus é um 
psicopompo, um mediador entre o consciente e o inconsciente e uma 
personificação deste último (JUNG, 2011, §33). 
Jung descreveu quatro etapas do desenvolvimento do animus em 
uma mulher. Ele aparece pela primeira vez nos sonhos e na fantasia 
como a personificação do poder físico, um atleta, um homem 
musculoso ou um bandido. No segundo estágio, o animus proporciona 
a ela iniciativa e capacidade de ação planejada. Ele está por trás do 
desejo de independência e de uma carreira própria de uma mulher. No 
 
3 Função de relacionamento. 
4 O princípio da lógica e da estrutura, tradicionalmente associado ao espírito. 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
estágio seguinte, o animus é a "palavra", muitas vezes personificada em 
sonhos como professor ou clérigo. No quarto estágio, o animus é a 
encarnação do significado espiritual. No nível mais alto, do mesmo 
modo que a anima “Sophia”, o animus medeia entre a mente 
consciente de uma mulher e o inconsciente. Na mitologia, esse aspecto 
do animus aparece como Hermes, mensageiro dos deuses; nos sonhos 
ele é um guia útil. 
Qualquer um desses aspectos do animus pode ser projetado em 
um homem. Tal como acontece com a projeção da anima, isso pode 
levar a expectativas irrealistas e a amargura nos relacionamentos. 
Como a anima, o animus é um amante ciumento. Ele gosta de 
colocar, no lugar do homem real, uma opinião sobre ele, cujos 
fundamentos extremamente duvidosos nunca são submetidos a críticas. 
As opiniões do animus são invariavelmente 
coletivas, e elas substituem indivíduos e juízos 
individuais exatamente da mesma maneira 
que a anima impulsiona suas previsões 
emocionais e projeções entre marido e 
mulher (JUNG, 1981, §334). 
A existência do complexo contrasexual 
(anima/animus) significa que em qualquer 
relação entre um homem e uma mulher há 
pelo menos quatro personalidades 
envolvidas. As possíveis linhas de 
comunicação são mostradas pelas setas no 
diagrama (JUNG, 1990a, §422). 
Enquanto a tarefa de um homem em assimilar os efeitos da anima 
envolve descobrir seus verdadeiros sentimentos, uma mulher se 
familiariza com a natureza do animus questionando constantemente 
suas idéias e opiniões. 
Figura 2: Relação dos egos 
do homem e da mulher com 
as figuras de anima e de 
animus. Ilustração extraída 
de Sanford (2004, p.27).PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
A técnica de chegar a um acordo com o animus é a mesma, em 
princípio, que a do caso da anima; só que aqui a mulher deve aprender 
a criticar e manter suas opiniões à distância; não para reprimi-las, mas 
para investigar suas origens, para penetrar mais profundamente no 
pano de fundo, onde então descobrirá as imagens primordiais, assim 
como o homem faz em suas relações com a anima (JUNG, 1981, §336). 
 
SI-MESMO 
O arquétipo da inteireza e o centro regulador da psique; um poder 
transpessoal que transcende o ego. 
Como conceito empírico, o Si-mesmo designa toda a gama de 
fenômenos psíquicos no homem. Ele expressa a unidade da 
personalidade como um todo. Mas, na medida em que a 
personalidade total, por causa de seu componente inconsciente, pode 
ser apenas parcialmente consciente, o conceito do Si-mesmo é, em 
parte, apenas potencialmente empírico e é, nessa medida, uma 
hipótese. Em outras palavras, abrange tanto o experienciável quanto o 
não vivenciado (ou o ainda não experimentado)... É um conceito 
transcendental, pois pressupõe a existência de fatores inconscientes em 
bases empíricas e, portanto, caracteriza uma entidade que só pode ser 
descrita em parte (JUNG, 1991e, §789). 
O Si-mesmo não é apenas o centro, mas também toda a 
circunferência que envolve o consciente e o inconsciente; é o centro 
dessa totalidade, assim como o ego é o centro da consciência (JUNG, 
1990c, §44). 
Como qualquer arquétipo, a natureza essencial do Si-mesmo é 
incognoscível, mas suas manifestações são o conteúdo do mito e da 
lenda. 
O Si-mesmo aparece em sonhos, mitos e contos de fadas na figura 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
da "personalidade supraordenada", como um rei, herói, profeta, 
salvador, etc., ou na forma de um símbolo de totalidade, como o 
círculo, o quadrado, quadratura do círculo, cruz, etc. Quando 
representa uma união de opostos, também pode aparecer como uma 
dualidade conectada, na forma, por exemplo, de tao como a 
interação de yang e yin, ou dos irmãos hostis ou do herói e seu 
adversário (arqui inimigo, dragão), Fausto e Mefistófeles, etc. 
Empiricamente, portanto, o eu aparece como um jogo de luz e sombra, 
embora concebido como uma totalidade e unidade na qual os opostos 
estão unidos (JUNG, 1990c, §790). 
A realização do Si-mesmo como um fator psíquico autônomo é 
freqüentemente estimulada pela invasão de conteúdos inconscientes 
sobre os quais o ego não tem controle. Isso pode resultar em neurose e 
uma subsequente renovação da personalidade, ou em uma 
identificação inflada com o poder maior. 
O ego não pode deixar de perceber que o afluxo de conteúdos 
inconscientes tem vitalizado a personalidade, enriquecido e criado uma 
figura que de alguma forma supera o ego em vontade e intensidade… 
Naturalmente, nessas circunstâncias, existe a maior tentação de 
simplesmente seguir o instinto de poder e identificar o ego com o eu 
absoluto, a fim de manter a ilusão do domínio do ego... Mas o Si-mesmo 
só possui um significado funcional quando pode agir 
compensatoriamente para com a consciência do ego. Se o ego é 
dissolvido em identificação com o Si-mesmo, origina-se um tipo de 
super-homem vago com um ego inchado (JUNG, 2009, §430). 
As experiências com o Si-mesmo possuem a mesma característica 
de numinosidade das revelações religiosas. Por isso, Jung acreditava 
que não havia diferença essencial entre o Si-mesmo como realidade 
experiencial, psicológica, e o conceito tradicional de uma divindade 
suprema. 
O Si-mesmo pode ser igualmente chamado de "o Deus dentro de 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
nós" (JUNG, 1981, §399). 
 
AUTORREGULAÇÃO DA PSIQUE 
Um conceito baseado na relação compensatória entre a 
consciência e o inconsciente. 
A psique não reage meramente, dá sua própria resposta 
específica às influências que atuam sobre ela (JUNG, 1993, §665). 
O processo de auto-regulação ocorre o tempo todo na psique. Só 
se torna perceptível quando a consciência do ego tem particular 
dificuldade em se adaptar à realidade externa ou interna. Esse é 
frequentemente o início de um processo, seguindo as linhas delineadas 
a seguir, que pode levar à individuação. 
1. Dificuldade de adaptação. Pouca progressão da energia 
psíquica. 
2. Regressão de energia (depressão, falta de energia descartável). 
3. Ativação de conteúdos inconscientes (fantasias, complexos, 
imagens arquetípicas, função inferior, atitude oposta, sombra, 
anima/animus, etc.). Compensação. 
4. Sintomas de neurose (confusão, medo, ansiedade, culpa, humor, 
emoção extrema, etc.). 
5. Conflito inconsciente ou semiconsciente entre o ego e os 
conteúdos ativados no inconsciente. Tensão interna. Reações 
defensivas. 
6. Ativação da função transcendente, envolvendo o eu e os 
padrões arquetípicos da totalidade. 
7. Formação de símbolos (numinosidade, sincronicidade). 
8. Transferência de energia entre conteúdos inconscientes e 
consciência. Ampliação do ego, progressão de energia. 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
9. Assimilação de conteúdos inconscientes. Individuação. 
 
A consciência e o inconsciente raramente concordam quanto ao 
seu conteúdo e suas tendências. As atividades autorreguladoras da 
psique, manifestadas em sonhos, fantasias e experiências sincronísticas, 
tentam corrigir qualquer desequilíbrio significativo. Segundo Jung, isso é 
necessário por vários motivos: 
(1) A consciência possui um limiar de intensidade que seu 
conteúdo deve ter atingido, de modo que todos os elementos mais 
fracos permanecem no inconsciente. 
(2) A consciência, por causa de suas funções dirigidas, exerce uma 
inibição (que Freud chama de censura) em todo material incompatível, 
cujo resultado é a imersão no inconsciente. 
(3) A consciência constitui um processo momentâneo de 
adaptação, enquanto o inconsciente contém não apenas todo o 
material esquecido do passado do indivíduo, mas todos os traços de 
comportamento herdados que constituem a estrutura da mente [isto é, 
arquétipos]. 
(4) O inconsciente contém todas as combinações de fantasia que 
ainda não atingiram a intensidade do limiar, mas que, ao longo do 
tempo e sob condições adequadas, ingressarão na luz da consciência 
(JUNG, 2009, §132). 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICOLOGIA ANALÍTICA 
 
 
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E-book escrito por Diogo Oliveira e Charles Alberto Resende para o 
Instituto Freedom. 
 
Contato@institutoFreedom.com.br 
11-2275-6424 
 
http://www.psychceu.com/jung/sharplexicon.html
 
 
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