Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Douglas Almeida Lima Tatiane Antonovz CONTABILIDADE EMPRESARIAL *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Imagens da capa: © Macrovector; © Bloomicon // Shutterstock. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Copyright Universidade Positivo 2018 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 Presidente da Divisão de Ensino Reitor Pró-Reitor Coordenação Geral de EAD Coordenação de Metodologia e Tecnologia Autoria Parecer Técnico Supervisão Editorial Layout de Capa Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Carlos Longo Prof. Everton Renaud Profa. Roberta Galon Silva Prof. Douglas Almeida Lima Profa. Tatiane Antonovz Prof. Octavio Ribeiro de Mendonça Neto Aline Scaliante Coelho Baggetti Valdir de Oliveira DTCOM DIRECT TO COMPANY Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Imagem de Capa, Design Gráfico e Revisão Textual Ícones Afirmação Contexto Biografia Conceito Esclarecimento Dica Assista Curiosidade Exemplo Sumário Apresentação ..................................................................................................................11 Os autores ........................................................................................................................12 Capítulo 1 Relatórios Contábeis ........................................................................................................15 1.1 Os relatórios contábeis e o seu uso na gestão e avaliação de empresas ...................15 1.1.1 Como instrumento de gestão ................................................................................................................................ 16 1.1.2 No planejamento e no orçamento ........................................................................................................................ 21 1.1.3 Na gestão e no controle da organização ............................................................................................................... 22 1.1.4 Como fonte para mensuração do valor da empresa .............................................................................................. 25 1.2 Relatórios mínimos exigidos para as empresas.........................................................26 1.2.1 Para as Pequenas e Médias Empresas (PME) ........................................................................................................ 26 1.2.2 Para Sociedades de Grande Porte e Sociedades de Capital Aberto ...................................................................... 28 1.3 Relatórios contábeis âmbito dos setores regulados ..................................................30 1.3.1 Instituições Financeiras ...........................................................................................................................................31 1.3.2 Seguradoras........................................................................................................................................................... 32 1.3.3 Concessões públicas .............................................................................................................................................. 32 Referências ......................................................................................................................34 Capítulo 2 Balanço Patrimonial .......................................................................................................37 2.1 Estrutura do Balanço Patrimonial – Ativo Circulante ................................................37 2.1.1 Contexto do balanço patrimonial e suas características de acordo com o porte e o setor de atuação da organização ................................................................................................. 42 2.1.2 Disponível e créditos .............................................................................................................................................. 42 2.1.3 Estoques ................................................................................................................................................................ 44 2.1.4 Despesas Antecipadas ........................................................................................................................................... 46 2.2 Estrutura do Balanço Patrimonial – Ativo Não Circulante ........................................47 2.2.1 Realizável a longo prazo ........................................................................................................................................ 49 2.2.2 Investimentos ........................................................................................................................................................ 50 2.2.3 Imobilizado ............................................................................................................................................................51 2.2.4 Intangível ................................................................................................................................................................51 2.3 Estrutura de Balanço Patrimonial – Passivo .............................................................52 2.3.1 Contas do Passivo Circulante ................................................................................................................................. 54 2.3.2 Passivo Não Circulante .......................................................................................................................................... 56 2.4 Estrutura do Balanço Patrimonial – Patrimônio Líquido ..........................................57 2.4.1 Capital Social.......................................................................................................................................................... 57 2.4.2 Reservas de Capital ............................................................................................................................................... 59 2.4.3 Ajustes de Avaliação Patrimonial .......................................................................................................................... 59 2.4.4 Reservas de Lucros ................................................................................................................................................ 60 Referências .....................................................................................................................62 Capítulo 3 Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) ...........................................................64 3.1 Composição da Demonstração de Resultados ...........................................................64 3.1.1 Contexto da DRE e suas características de acordo com o porte e o setor de atuação da organização .................. 65 3.1.2 Receitas .................................................................................................................................................................. 66 3.1.3 Despesas e Custos .................................................................................................................................................. 68 3.1.4 Receitas operacionais e não operacionais .............................................................................................................. 71 3.2 Estrutura da Demonstração do Resultado ................................................................72 3.2.1 Despesas operacionais e não operacionais ............................................................................................................73 3.2.2 Custo das Mercadorias Vendidas ou CPV .............................................................................................................. 75 3.3 Resultados apurados .................................................................................................77 3.3.1 Lucro bruto ............................................................................................................................................................ 77 3.3.2 LAIR ....................................................................................................................................................................... 79 3.3.3 Resultado Líquido do Exercício.............................................................................................................................. 80 Referências ......................................................................................................................82 Capítulo 4 Demonstração de Resultados Abrangentes (DRA) ........................................................83 4.1 Resultado líquido do período .....................................................................................83 4.1.1 Contexto da DRA e suas características de acordo com o porte da organização e o setor de atuação ................. 84 4.1.2 Estrutura da DRA ................................................................................................................................................... 85 4.1.3 Resultado Líquido do Período ............................................................................................................................... 87 4.2 Outros resultados abrangentes classificados conforme sua natureza .......................89 4.2.1 Classificação conforme natureza ........................................................................................................................... 90 4.2.2 Outros resultados abrangentes ............................................................................................................................. 93 4.3 Parcela dos outros resultados abrangentes de empresas investidas reconhecida por equivalência patrimonial ......................................................................94 4.3.1 Equivalência e outros resultados ........................................................................................................................... 94 4.3.2 Ajustes de reclassificação da DRA ......................................................................................................................... 95 Referências .....................................................................................................................97 Capítulo 5 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) ........................................99 5.1 Resultado abrangente do período ............................................................................99 5.1.1 Contexto da DMPL e suas características de acordo com o porte e o setor de atuação da organização ............ 100 5.1.2 Estrutura da Demonstração e Consolidação de informações ...............................................................................102 5.1.3 Resultado Abrangente do Período ....................................................................................................................... 104 5.1.4 Análise dos Resultados Abrangentes ................................................................................................................... 106 5.2 A conciliação do saldo no início e no final do período ............................................107 5.2.1 Conciliação de Resultados ................................................................................................................................... 107 5.2.2 Análise dos Demonstrativos de Mutações de Patrimônio Líquido ..................................................................... 108 5.2.3 Finalidades e Análises ..........................................................................................................................................112 5.2.4 Utilização em Conjunto para Acionistas ...............................................................................................................112 Referências ...................................................................................................................114 Capítulo 6 Demonstração do Fluxo de Caixa .................................................................................115 6.1 Demonstrativos de Fluxos de Caixa .........................................................................116 6.1.1 Contexto da demonstração do fluxo de caixa e suas características de acordo com o porte e o setor de atuação da organização ....................................................................................................................118 6.1.2 Conceito e finalidade ............................................................................................................................................118 6.1.3 Relação com atividades operacionais, de investimento e financiamento ........................................................... 120 6.2 Fluxo de Caixa Direto: Estrutura, Desenvolvimento e Análise .................................122 6.2.1 Elaboração do demonstrativo de fluxo de caixa direto ....................................................................................... 123 6.2.2 Análise do Demonstrativo de Fluxo de Caixa Direto ........................................................................................... 125 6.3 Fluxo de Caixa Indireto: estrutura, desenvolvimento e análise ...............................125 6.3.1 Elaboração e Análise do demonstrativo de Fluxo de Caixa Indireto ....................................................................126 6.3.2 Análise das Variações Contábeis ..........................................................................................................................128 Referências ....................................................................................................................131 Capítulo 7 Demonstrativos de Valor Adicionado (DVA) ................................................................133 7.1 Finalidades e estruturas do Demonstrativo de Valor Adicionado ............................133 7.1.1 Contexto da DVA e suas características de acordo com o porte e o setor de atuação da organização ............... 134 7.1.2 Finalidades sociais e financeiras do DVA ...............................................................................................................135 7.1.3 Estrutura do relatório de DVA .................................................................................................................................................................................................136 7.1.4 Montagem do relatório de DVA ...........................................................................................................................137 7.2 Distribuição da riqueza da DVA ...............................................................................142 7.2.1 Pessoal e encargos e impostos, taxas e contribuições ..........................................................................................143 7.2.2 Juros e alugueis ....................................................................................................................................................143 7.2.3 Juros sobre o capital próprio (JCP) e dividendos ................................................................................................. 144 7.2.4 Lucros retidos/prejuízos do exercício ....................................................................................................................145 7.3 Análise das informações da DVA .............................................................................145 7.3.1 Análise das informações do fluxode caixa .......................................................................................................... 146 7.3.2 Conciliação de informações do DVA .................................................................................................................... 148 Referências ....................................................................................................................149 Capítulo 8 As Notas Explicativas e outras evidenciações ...............................................................151 8.1 Base de elaboração das demonstrações contábeis e das políticas contábeis específicas .............................................................................151 8.1.1 Bases de elaboração .............................................................................................................................................151 8.1.2 Julgamentos ........................................................................................................................................................ 154 8.1.3 Estimativas ............................................................................................................................................................155 8.2 Gestão de capital .....................................................................................................156 8.2.1 Objetivos .............................................................................................................................................................. 156 8.2.2 Políticas ............................................................................................................................................................... 158 8.2.3 Processos ..............................................................................................................................................................161 8.3 Outras divulgações ..................................................................................................162 8.3.1 Dividendos propostos ou declarados .................................................................................................................. 162 8.3.2 Domicílio, forma jurídica, país e endereço de registro ........................................................................................ 163 8.3.3 Natureza das principais atividades realizadas .................................................................................................... 164 8.4 Outras informações requeridas pelo CPC e por órgãos reguladores .......................165 8.4.1 Informações requeridas pelo CPC que não tenham sido apresentadas nas demonstrações contábeis .............. 165 8.4.2 Informações requeridas por órgãos reguladores que não tenham sido apresentadas nas demonstrações contábeis ............................................................................................................................. 166 Referências ....................................................................................................................168 A disciplina de Contabilidade Empresarial apresenta temas relevantes e uma vi- são detalhada da área, integrando a rotina de quem atua nela. Assim, serão apresen- tadas noções fundamentais de contabilidade, o campo de atuação e as funções, bem como os princípios que a norteiam. Além disso, serão abordadas ferramentas essenciais no contexto contábil, entre as quais se incluem o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração do Fluxo de Caixa e o Demonstrativo do Valor Adicionado. Também serão apresentados o uso estratégico das informações contábeis e do modo como podemos auxiliar os gestores na administração dos recursos empresariais, com o objetivo de auxiliar o exercício profissional. Apresentação Dedico esta obra a meus pais, responsáveis pela primeira formação que carrego comigo até hoje. Os autores O professor Douglas Almeida Lima é Mestre em Contabilidade com foco na produção de informações para usuário interno pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é Especialista em Contabilidade Pública pela Universidade Cândido Mendes (UCAM-RJ) e é Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/3396644115893369> Dedico este trabalho aos meus pais e companheiro, que sempre me apoiaram em minhas decisões. E em especial agradeço à Maria Eduarda, que mesmo com um olhar silencioso me apoia incansavelmente em minha rotina docente. A professora Tatiane Antonovz é mestra em Contabilidade pela Universidade Federal do Paraná (2010), e graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Paraná (2005). Atua na área de Educação à Distância – EaD, elaboração de material, gravação de aulas e banco de questões em diversas instituições de Ensino Superior. Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/6366913720238552> 1 Relatórios Contábeis Tatiane Antonovz Atualmente, a informação é a ferramenta mais eficaz para o adequado geren- ciamento de um negócio. Percebe-se cada vez mais a necessidade de que adminis- tradores e empreendedores conheçam todas as variáveis que afetam seu mercado de atuação no sentido macro, e sua empresa, no sentido micro, permitindo um melhor gerenciamento de todo o ambiente em que elas operam. É possível que grande parte dos problemas que afetam as organizações contem- porâneas seja originada da gestão inadequada de três variáveis estratégicas a qualquer negócio: planejamento, controle e informação. O gestor deve estar preparado para, no mínimo, ler e interpretar informações que contenham dados relativos ao seu negócio, sejam relatórios contábeis, jornais, revistas de negócios, dentre outras. 1.1 Os relatórios contábeis e o seu uso na gestão e avaliação de empresas Neste capítulo, vamos estudar os relatórios contábeis como origem das informa- ções que são usadas na gestão de forma específica, bem como outros aspectos rela- tivos às Demonstrações Contábeis de forma geral. Serão exploradas características específicas relativas à normatização e de alguns setores que são regulados e qual o impacto das normas contábeis em relação à divulgação destes. Será possível compreender quais são as informações mínimas que devem ser apresentadas de forma obrigatória e como os usuários contábeis podem utilizá-las dentro do seu processo de tomada de decisão e qual a relevância destas de acordo com os diferentes interesses destes. Ler um relatório contábil não é difícil, mas o interessado deve dominar conceitos fundamen- tais. Ativo, passivo, patrimônio líquido, receita, custo e despesa precisam ser naturalmente conhecidos, bem como as diferenças entre eles. Os contadores devem incentivar o uso dos re- latórios pelos gestores. O negócio agradece! Contabilidade empresarial 16 A partir do exposto, é importante salientar que há uma relação estreita entre as Demonstrações Contábeis e os aspectos gerenciais das empresas, tendo em vista que as informações contábeis dão suporte aos processos de gestão das empresas. Nesse sentido, compreende-se que é possível perceber a Contabilidade, dentre outros pro- cessos, como um instrumento de gestão. Vamos saber mais a respeito? 1.1.1 Como instrumento de gestão Sabemos que o objetivo da contabilidade é controlar o patrimônio das entidades, estudando sua estrutura e suas variações. O resultado (lucro ou prejuízo de uma enti- dade) é função do desempenho individual de cada atividade executada no dia a dia. Comprar, vender, transportar etc., consome recursos, portanto, a contabilidade deve sempre interagir com as demais áreas/funções da organização, a fim de registrar, con- trolar e informar sobre as transações que são realizadas pela entidade. Essa vinculação, ou seja, da contabilidade ao mundo dos negócios, além de necessária e estratégica, fará com que a informação contábil seja utilizada efetiva-mente como uma ferramenta de gerenciamento do seu negócio. Uma das maneiras de compreender a contabilidade no processo decisório é por meio do uso pelos gestores de relatórios, números e outros índices para que eles possam planejar, implementar e acompanhar o andamento das estratégias sob sua responsabilidade. A contabilidade é mais antiga do que geralmente imaginamos. Ela surgiu como elemento de controle de riquezas há pelo menos 10 mil anos. Assim, a evolução da contabilidade ocorre na esteira da evolução da própria sociedade. Como o nosso obje- tivo, neste momento, não é discorrer longamente sobre aspectos históricos, podemos considerar que um sistema contábil voltado para a gestão da empresa teve sua prática efetivamente levada a efeito a partir da Revolução Industrial, que aconteceu entre os séculos XVIII e XIX. Interessante observar que na sua origem, embora de forma rudimentar, a contabilidade servia a propósitos específicos de controle do patrimônio. Já naquela época a contabilidade prestava a auxiliar o proprietário com informações úteis para suas decisões. Antes do surgimento da moeda como hoje a conhecemos, da propriedade e até mesmo da escrita, o homem já se preocupava em separar e assegurar um domínio sobre elementos que lhes eram essenciais. Iudícibus (2010, p. 30) comenta que “não é descabido afirmar-se que a noção de conta, portanto, de contabilidade seja, talvez, tão antiga quanto a origem do homo sapiens”. Contabilidade empresarial 17 Ricardino (2005) afirma que é difícil precisar quem criou a expressão management accounting, que pode ser traduzida como contabilidade gerencial, embora possamos con- siderar que o termo foi desenvolvido posteriormente à II Guerra Mundial, com o forneci- mento de informações estatísticas para propósitos de planejamento, decisão e controle. Mas é entre o fim do século XIX e início do século XX, nos Estados Unidos, que per- cebemos uma preocupação das corporações com medições e controles para fins geren- ciais. Kaplan e Johnson (1996, p. 132) trazem essa perspectiva quando afirmam que A contabilidade gerencial surgiu pela primeira vez nos Estados Unidos, quando as organi- zações comerciais, em vez de dependerem dos mercados externos para trocas econômi- cas diretas, passaram a conduzir trocas econômicas internas. Dessa forma, pode-se afirmar que a contabilidade gerencial é reconhecida como um enfoque especial, conferido a números e eventos econômicos já reconhecidos e tratados pela contabilidade financeira. Essa abordagem específica no tratamento dos dados contábeis é útil para a tomada de decisões gerenciais e estratégicas da empresa. Ao conceituarmos contabilidade gerencial, não podemos deixar de considerar que se trata de um processo de captação, processamento e distribuição de informações sob uma perspectiva diferente daquela inerente à contabilidade financeira. O própo- sito fundamental da contabilidade gerencial é oferecer ao gestor, ou usuário interno, a possibilidade de se utilizar um conjunto de informações que o habilitem à melhor deci- são. Aí reside a importância da caracterização de um adequado sistema de informação gerencial que dê o devido suporte a esse processo. É importante, igualmente, buscarmos conceitos abordados por diversos autores para que nós nos posicionemos tecnicamente sobre o tema. Umas das maiores autorida- des contemporâneas nessa área, Kaplan et al. (2000, p. 245), define contabilidade geren- cial como o “processo de identificar, men- surar, reportar e analisar informações sobre os eventos econômicos das empresas”. Já para Anthony (1974), ela seria a área que se preocupa com a informação contábil útil à administração. Útil, nesse contexto, traz sempre a conotação de algum propósito para o qual os números devem ser usados. Para Li (1977, p. 43), no clássico livro “Contabilidade Gerencial”, trata-se do resul- tado da interação entre contabilidade e administração. Li foi um dos primeiros autores a definir a contabilidade (no sentido amplo, de ciência) como sendo a “linguagem uni- versal dos negócios”, pois se a linguagem é um meio de expressar e comunicar ideias em geral, a contabilidade é um meio de relatar os resultados da administração. © A fr ic a St ud io / / S hu tt er st oc k Contabilidade empresarial 18 Podemos também compreender a contabilidade gerencial como um processo de identificar, mensurar, acumular, analisar, preparar, interpretar e comunicar informa- ções que auxiliem os gestores a atingirem objetivos organizacionais. Graficamente, podemos expressar da seguinte forma a essência da contabilidade gerencial compara- tivamente à contabilidade financeira ou societária: Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial Demonstrações contábeis Usuários externos e administração Administração Relatórios gerenciais Critérios objetivos de registro e mensuração Critérios objetivos e subjetivos de registro e mensuração Por meio do esquema, é possível perceber que a contabilidade gerencial deve fornecer as informações que os gerentes precisam para o planejamento, o controle e a tomada de decisão. Para quem pretende ser um gerente eficaz, é imprescindível o entendimento de contabilidade gerencial. Então, pelos conceitos obtidos de respeitáveis doutrinadores contábeis, pode- mos perceber que existem certos atributos específicos à contabilidade gerencial e que a caracterizam como instrumento fundamental para uma gestão empresarial criadora de valor. Esses atributos, ou qualidades específicas, serão expostos a seguir, come- çando pelo quadro que demonstra as diferenças existentes entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial. Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial Clientela Externa: acionistas, credores, governo Interna: funcionários, administradores, executivos Propósito Reportar desempenho passado às partes externas; contratos com proprietários e credores Informar decisões internas tomadas pelos fun- cionários e gerentes; feedback e controle sobre desempenho operacional Data Histórica, demonstra os eventos normalmente a valor histórico Atual, orientada para o futuro © D TC O M Contabilidade empresarial 19 Contabilidade Financeira Contabilidade Gerencial Restrições Regulamentada: dirigida por regras e princípios fundamentais da contabilidade e por autorida- des governamentais Desregulamentada: sistemas e informações deter- minadas pela administração para satisfazer a necessidades estratégicas e operacionais. A conta- bilidade gerencial não está sujeita a critérios legais ou fiscais, o que permite a elaboração de relatórios que atendam às necessidades dos gestores Tipo de informação Somente para mensuração financeira Mensuração física e operacional dos processos, tecnologia, fornecedores e competidores Natureza da informação Objetiva, auditável, confiável, consistente, precisa Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, relevante, acurada Escopo Muito agregada; reporta a toda a empresa Desagregada; informa as decisões e ações locais Se observarmos atentamente esse quadro, podemos captar a essência e a utili- dade da informação gerencial, produto da contabilidade gerencial. A seguir, vamos dis- cutir cada um dos itens destacados nele. a. Clientela – há uma nítida separação entre dois públicos interessados na infor- mação contábil. O gestor, que necessita de informações para uso no cotidiano, precisa de uma base informativa que contenha, não raro, atributos estratégi- cos – os relatórios do sistema orçamentário são exemplos disso. Mas informa- ções estratégicas não devem ser disponibilizados ao mercado, pois podem ser utilizadas pela concorrência. b. Propósito – as observações acerca da clientela servem para o propósi- to da informação. Clientes diferentes, propósitos diferentes, informações diferenciadas. c. Mensuração – trata-se de um aspecto importantíssimo para a contabilidade gerencial. Já sabemos que as mensurações utilizadas pela contabilidadefinan- ceira para atribuição de valor aos elementos do patrimônio e do resultado em- presarial estão restritas a normas e princípios contábeis. Vamos a um exemplo. Imagine uma loja de móveis em que o proprietário precisa saber a margem de contribuição do armário modelo “Y”. Ele tem conhecimento da fór- mula da margem de contribuição, que é representada pelo preço de venda deduzido dos custos e despesas variáveis. Portanto, recebe da contabilidade o seguinte relatório: Armário “Y” Preço de venda unitário Custos e despesas variáveis unitários Margem de contribuição unitária R$ 2.400,00 R$ 1.000,00 R$ 500,00 Contabilidade empresarial 20 Com base nessa informação, ele assume o compromisso de fornecer 250 armários para uma escola pelo preço de R$ 2.400,00. Vamos ver agora de onde vieram as informa- ções para composição da margem que consta no relatório, que, ressalte-se, é gerencial. O preço de venda foi negociado com o cliente, portanto não há dúvida quanto a sua veracidade. Porém, o custo da mercadoria foi informado pela contabilidade e não pela área de compras da empresa, que seria o setor mais preparado para fornecer o preço mais atual. Para essa decisão, seria prudente usar o custo de reposição, já que a loja não tem a quantidade suficiente para atendimento do pedido em estoques. Na compra que o proprietário fez para completar seu estoque de armário “Y”, nego- ciou um valor de R$ R$1.150,00. Ou seja, como não poderá renegociar o preço, terá que assu- mir uma margem contribuição de R$ 350,00 nas unidades que precisou adquirir depois. Ou seja, com um decréscimo de R$ 150,00 na margem que havia sido calculada com base na informa- ção anterior (custo unitário da mercadoria em estoque), a qual não era a mais ade- quada para a análise que ele precisava fazer. Armário “Y” Preço de venda unitário Custos variáveis unitários Despesas variá- veis unitárias Margem de contri- buição unitária R$ 2.400,00 R$ 1.150,00 900,00 R$ 350,00 Tudo isso ocorreu porque a informação que serviu de base para a decisão conti- nha um valor de transações passadas, uma vez que essa é a norma contábil vigente na contabilidade financeira e a informação contida no relatório gerencial não foi ajustada para melhor atender a finalidade do gestor. A contabilidade financeira tem como obje- tivo primário proporcionar informação eco- nômico-financeiras a terceiros – investidores, bancos, outros credores e agências governa- mentais. As técnicas, os regulamentos e as con- venções segundo os quais os dados contábeis são coletados e relatados, seguem obrigatória- mente as normas vigentes de contabilidade. © R aw pi xe l.c om / / S hu tt er st oc k © ts yh un / / S hu tt er st oc k Contabilidade empresarial 21 Já o público interessado nos relatórios da contabilidade gerencial é formado por gestores e outros agentes envolvidos diretamente com a condução do negócio. Portanto, é importante que retomar o quadro destacado anteriormente, que mostra as diferenças entre essas duas contabilidades. Uma vez que apresentamos a importância do uso da informação contábil pelos gestores na condução dos negócios e as diferenças fundamentais entre as informações geradas na contabilidade financeira e na gerencial, vamos avançar e estudar com mais detalhes a relação da contabilidade com as algumas funções de gestão de uma enti- dade. É sobre isso que trataremos nos próximos tópicos. 1.1.2 No planejamento e no orçamento As técnicas de contabilidade se aplicam a todas as entidades que necessitem de informações acerca de sua situação econômica e financeira, independentemente de porte, tipo de atividade e regime tributário a que estiverem sujeitas. A contabilidade é essencial para o planejamento empresarial, pois o registro e a evidenciação dos fatos ocorridos e seus impactos na situação econômico-financeira na realidade serão úteis para que a companhia possa pensar e planejar o futuro. As infor- mações contábeis representam uma das bases mais indicadas para se inferir o compor- tamento do negócio nos próximos períodos. O sistema de informações contábeis deve integrar-se ao plano orçamentário, permitindo a comparação entre valores orçados e realizados (extraídos da contabilidade), possibilitando à administração agir rapidamente em caso de não atingimento de qualquer objetivo do planeja- mento empresarial. As informações extraídas da contabilidade podem também ser muito úteis para o planeja- mento tributário, por meio da contabilidade tri- butária, cujo enfoque é o registro contábil das provisões relativas aos tributos a recolher, em obediência aos princípios e regras fiscais. A contabilidade tributária tem a responsa- bilidade de informar, de forma correta e tem- pestiva, os valores das provisões de tributos, ocupando-se também da escrituração dos documentos fiscais em livros fiscais próprios ou registros auxiliares, para apurar e determinar o montante dos tributos a serem recolhidos. © A nd re i_ R / / S hu tt er st oc k Contabilidade empresarial 22 Mas sem dúvida, um dos seus objetivos mais nobres é prestar orientações ade- quadas aos diversos setores da empresa acerca da legislação tributária e suas alte- rações, bem como de possíveis planejamentos fiscais que possam ser feitos e que ofereçam, dentro da legalidade, ganhos para todos os envolvidos, sejam filiais, depar- tamentos ou sociedades participantes de um grupo econômico. Podemos afirmar, por- tanto, que sem contabilidade é muito difícil a empresa planejar de forma objetiva e sistemática suas operações para o futuro. A seguir, veremos como os relatórios contábeis auxiliam na gestão e no controle das organizações. 1.1.3 Na gestão e no controle da organização Os relatórios gerenciais são exposições, sintéticas e analíticas, que servem de instrumentos para subsidiar as decisões dos gestores e auxiliar na mensuração do valor da empresa. Constituem-se em modelos que representam dadas realidades para a condução da gestão empresarial adequada e na formação do valor da empresa. É fundamental que o relatório administrativo ou gerencial seja analítico. Ao identificar as cau- sas prováveis das variações, pode mais facilmente chamar a atenção da administração para as deficiências porventura constatadas e relatadas. A informação contábil tem por objetivo reportar informações acerca de eventos, que, adequadamente mensurados, proporcionam as condições para que o processo decisório atinja a eficácia desejada. Além disso, é pelo uso da informação extraída do processo contábil que se demonstra a comparação entre o desempenho orçado e o realizado pela organização em dado período de tempo. Li (1977) afirma que os relatórios administrativos gerenciais objetivam fornecer pistas úteis para responder às seguintes perguntas: nossos custos estão sob controle? Em caso negativo, em que ponto o custo saiu da linha e onde é necessária atenção? Quem é o responsável? Como podemos remediar a situação? Quem está trabalhando melhor do que o esperado e merece reconhecimento financeiro ou de outra espécie? Veja um modelo de relatório gerencial a seguir, ao qual chamaremos de Demonstração do Resultado Gerencial, que contempla a formação do resultado de uma empresa. O relatório procura demonstrar a formação do resultado, destacando os elementos que se sobressaem como preço, quantidade e custo unitário. É um modelo que permite ao gestor ter um conhecimento mais aprimorado e correto do desempe- nho de sua atividade. Contabilidade empresarial 23 Demonstração do Resultado Custeio Direto e Variável Produto A Produto B Produto C Produto D Produto E Produto F Total Receita de vendas 13.000,00 11.000,00 14.000,00 15.000,00 12.000,00 14.000,00 79.000,00 Preço Unitário 650,00 550,00 700,00 750,00 600,00 700,00 Quantidade 20 20 20 20 20 20 120 Custos Variáveis Materiais Diretos 200,00 300,00 450,00 400,00 150,00 100,00 1.600,00 Materiais Secundários 50,00 80,00 90.00 120,00 100.00150,00 590,00 Embalagem 10,00 10,00 15,00 10,00 20,00 10,00 75,00 Mão de Obra Direta 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 600,00 Encargos sobre MOD 80,00 80,00 80,00 80,00 80,00 80,00 480,00 Custos Variáveis Unitários 440,00 570,00 735.00 710,00 450,00 440,00 Total Custos Variáveis 8.800,00 11.400,00 14.700,00 14.200,00 9.000,00 8.800,00 66.900,00 Margem de contribuição Unitária 210,00 –20,00 –35,00 40,00 150,00 260,00 Margem de contribuição Total 4.200,00 –400,00 –700,00 800,00 3.000,00 5.200,00 12.100,00 Margem de contribuição % 32,31% –3,64% –5,00% 5,33% 25,00% 37,14% Custos fixos Energia Elétrica 800,00 Depreciação 1.500,00 Aluguel 2.500,00 Mão de Obre Indireta 4.500,00 Contabilidade empresarial 24 Demonstração do Resultado Custeio Direto e Variável Produto A Produto B Produto C Produto D Produto E Produto F Total Outros 7.700,00 Total de custos Fixos 17.000,00 Resultado Operacional –6.900,00 O conteúdo do relatório gerencial, são as informações que os gestores devem ter acesso para melhor desempenhar suas atividades. Assim, a informação deve ser opor- tuna e estar disponíveis no momento requerido pelo gestor para apoiar sua decisão. Adicionalmente, recomenda-se que os relatórios sejam comparativos, apresen- tando os desempenhos reais e os esperados, procurando alertar para áreas ou pro- dutos em que as variações sejam mais significativas e em que se necessita mais urgentemente de correções ou ajustes. Anthony (1974) afirma que o período ade- quado de controle é o mais curto espaço de tempo em que a administração pode intervir utilmente e em que sejam prováveis que mudanças significativas ocorram no desempenho da organização. O período é diferente, segundo o autor, para centros de responsabilidades dife- rentes e para itens diferentes nos centros de responsabilidade. Centro de responsa- bilidade é uma divisão da empresa que tem um responsável com nível desejado de autoridade. Os relatórios sobre a visão total da organização, especialmente aqueles que se encaminham para os altos níveis da administração, muitas vezes são mensais, trimestrais, mas em certos casos devem ser diários (ANTHONY, 1974). O relatório também deve ser pertinente, reportando apenas informações a par- tir das quais a gestão da empresa possa agir, bem como ser conciso. A concisão implica que se deve dar ênfase a questões relevantes, economizando tempo de leitura e obtendo melhor compreensão do seu conteúdo. Um aspecto fundamental do uso eficaz da informação contábil como ferramenta de gestão é que os usuários da informação (gestores, alta administração, empresários) tenham conhecimento relativo sobre conceitos de contabilidade financeira, de custos, e, é claro, de contabilidade gerencial. Observe que a relação custo e benefício na cons- trução da informação deve ser favorável, ou seja, o custo para se obter a informação não pode ser maior do que o seu valor para a entidade. Em outras palavras, o preparo e a operacionalização do fluxo da informação contábil para o gestor somente se justi- fica quando a informação for efetivamente usada por esse, visando melhorar a perfor- mance econcômica e financeira da organização. Contabilidade empresarial 25 Vimos neste tópico quão importante é a contabilidade como instrumento de ges- tão. Os relatórios contábeis extraídos da contabilidade financeira e/ ou da gerencial, que são diversos, oferecem aos gestores das entidades informações preciosas que os ajudam na tomada de decisões. Na sequência vamos compreender como a contabili- dade pode ser utilizada como fonte para mensuração do valor da empresa. 1.1.4 Como fonte para mensuração do valor da empresa A contabilidade adicionalmente possui uma característica muito relevante que é a possibilidade de cálculo do valor preditivo, o que é essencial para a avaliação de uma ativo ou de uma organização como um todo. Assim, a contabilidade também pode ser compreendida como um poderoso instrumento como fonte de informações para fins de cálculo do valor do enterprise value ou ainda valor da firma como este conceito também é conhecido. Enterprise value é o valor calculado com base no método do fluxo de caixa descontado e repre- senta o valor pelo qual uma empresa pode ser vendida/ adquirida, porém este pode ser subs- tancialmente diferente do valor que será negociado, dependendo de questões de mercado. Normalmente, podemos dizer que de forma bastante simplificada, o cálculo do valor de uma empresa ou de um ativo leva em consideração a negociação entre seu ven- dedor e o seu comprador. Com isso o valor do ativo será baseado em função de seu valor justo, que é um acordo firmado entre estas partes e que utiliza as perspectivas futuras que o ativo ou a empresa possui de gerar lucros em um determinado período futuro. Porém, nem sempre é fácil determinar esse valor, e é aí que a contabilidade e as Demonstrações Contábeis entram, pois as informações desses relatórios contábeis são utilizadas como base para o cálculo do enterprise value. No cálculo do enterprise value, devem ser consideradas por exemplo as receitas e despesas, o valor das dívidas, e o valor de caixa e equivalentes de caixa da entidade, e todos esses valores podem e devem ser retirados das Demonstrações Contábeis. Agora, vamos compreender quais são os relatórios mínimos exigidos pelas normas brasileiras de contabilidade para cada tipo de empresa, como eles diferem por setor e as informações que podem oferecer aos usuários internos e externos à organização. Contabilidade empresarial 26 1.2 Relatórios mínimos exigidos para as empresas Agora vamos conhecer, de forma efetiva, o conjunto composto pelas Demonstrações Contábeis obrigatórias, a estrutura de cada demonstração, os itens mínimos exigidos por lei e por outros regulamentos, de acordo com o tipo e porte da empresa ou setor que está inserida, e as principais funções de cada um desses rela- tórios contábeis e, consequentemente, o tipo de informação que podemos extrair de cada um deles. Adicionalmente, vamos compreender que estas demonstrações são diferenciadas de acordo com o usuário das informações. Por exemplo, as sociedades anônimas de capital aberto, que são aquelas que buscam recursos por meio do mer- cado de capitais, devem preparar e divulgar mais informações que as Pequenas e Médias Empresas. Alguns setores específicos, como, por exemplo, o setor de seguros, ou ainda empresas que atuam no setor financeiro também serão abordados, e poderemos com- preender que a exigência em relação ao conjunto das Demonstrações Contábeis é dife- renciada e segue normativas específicas. Isto ocorre porque é preciso obedecer a uma série de requisitos de órgãos reguladores, além das normas contábeis vigentes no país. As empresas brasileiras devem seguir as normas de contabilidade e de apre- sentação das Demonstrações Contábeis de acordo com o especificado nas aprova- ções e deliberações do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e demais órgãos reguladores. Neste contexto, para fins de elaboração e apresentação das Demonstrações Contábeis, o CPC PME pode ser usado, por exemplo, por qualquer empresa que não seja de capital aberto ou sociedade de grande porte (faturamento até 300 milhões, conforme definido na Lei 11.638/2007). Já o CPC 26 deve ser observado pelas demais entidades, inclusive as sociedades anônimas de capital aberto, conforme Deliberação CVM 676. Ressalta-se que a Lei 6.404/76 e alterações posteriores, por seu caráter legal, deve ser seguida pelas sociedades anônimas em um primeiro plano. Entretanto, nas questões não divergentes ao requerido na lei societária, devem ser observados os requerimentos dos pronunciamento do CPC. 1.2.1 Para as Pequenas e Médias Empresas (PME) As pequenas e médias empresas no Brasil são responsáveis por boa parte do valor agregado na economia brasileira e, com base nesta e em outras características, pos- suem legislação específicaem diferentes aspectos da sua regulamentação. Desde questões trabalhistas, passando por aspectos tributários e contábeis. Contabilidade empresarial 27 No aspecto contábil, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis emitiu o pronun- ciamento técnico PME – Contabilidade para pequenas e médias empresas – o qual foi convertido na NBC TG 1000 e aprovado pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC pela resolução 1.255/09. De acordo com o CPC PME (2009), as empresas que não tenham negociação de suas ações ou ainda de instrumentos patrimoniais ou de dívida no mercado e que não possuem ativos em condição fiduciária perante um amplo grupo de terceiros, mesmo que tenham que publicar as suas demonstrações, são consideradas pequenas e médias empresas, desde que não sejam enquadradas pela Lei n. 11.638/07 (BRASIL, 2007) como de grande porte. Também as limitadas e as demais sociedades comerciais, não sendo enquadradas pela Lei 11.638/07 como de grande porte, serão consideradas como PME. Conforme o CPC PME (2009, p. 3): O termo empresas de pequeno e médio porte adotado neste Pronunciamento não inclui (i) as companhias abertas, reguladas pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM; (ii) as sociedades de grande porte, como definido na Lei no. 11.638/07; (iii) as sociedades regula- das pelo Banco Central do Brasil, pela Superintendência de Seguros Privados e outras so- ciedades cuja prática contábil é ditada pelo correspondente órgão regulador com poder legal para tanto. As Demonstrações Contábeis que seguem o CPC PME são elaboradas e apre- sentadas para fins gerais, como por exemplo para demonstrar às instituições finan- ceiras sua posição patrimonial e o histórico de seu desempenho econômico durante o processo de avaliação de crédito para a liberação de empréstimos e financiamentos. Ainda, podem e devem ser utilizadas pelos usuários internos para fins de gestão. Entre estes estão os proprietários e tomadores de decisão, ou seja, os gestores da empresa. Entretanto, eventualmente autoridades fiscais ou outros órgãos reguladores podem exigir regras contábeis específicas para as empresas que estão sob o seu domínio regu- latório, e tal fato deve sempre ser considerado. De acordo com o CPC PME (2009) o conjunto completo de demonstrações que deve ser divulgado pelas PME são: a. balanço patrimonial ao final do período; b. demonstração do resultado do período de divulgação; c. demonstração do resultado abrangente do período de divulgação; d. demonstração das mutações do patrimônio líquido para o período de divulgação; Contabilidade empresarial 28 e. demonstração dos fluxos de caixa para o período de divulgação; f. notas explicativas, compreendendo o resumo das políticas contábeis significa- tivas e outras informações explanatórias. Tal conjunto de demonstrações visa for- necer, da maneira mais completa possível, as informações relativas às PME, porém, caso exista a necessidade por parte dos usuários internos da contabilidade, as Demonstrações Contábeis poderão ser complementadas por outros relatórios. Dentre os quais estão orça- mentos, relatórios gerenciais, de custos e outros que não são exigidos por lei. Na sequência, veremos as empresas que não se enquadram para uso do CPC PME e que têm outras exigências específicas em relação a preparação e divulgação das suas demonstrações contábeis. 1.2.2 Para Sociedades de Grande Porte e Sociedades de Capital Aberto Para garantir que as informações contábeis cumpram seu objetivo, e que tam- bém permitam a comparabilidade entre demonstrações de períodos anteriores de uma mesma empresa, bem como entre demonstrações de empresas distintas, alguns aspectos devem ser assegurados e preservados durante a elaboração das demonstra- ções contábeis. Para tanto, o CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, determina: a. requisitos gerais para apresentação das demonstrações contábeis; b. direcionamento quanto à estrutura que essas demonstrações devem ter e; c. requisitos que necessariamente deve possuir o conteúdo destas. Segundo o CPC 26 R1 (2011), as demonstrações financeiras devem fornecer os seguintes dados a respeito da entidade: a. ativo; b. passivo; c. patrimônio líquido; d. receitas e despesas, incluindo ganhos e perdas; e. contribuição de proprietários e distribuição a eles, na sua posição como proprietários; f. fluxo de caixa, para o cumprimento da exigência legal. © P or tr ai t i m ag es a si a by N on w ar it / / S hu tt er st oc k Contabilidade empresarial 29 Fica assim determinado pelo CPC 26 que o conjunto completo de demonstrações contábeis é composto pelos relatórios discriminados a seguir. O conjunto completo de demonstrações contábeis inclui: (a) balanço patrimonial ao final do período; (b1) demonstração do resultado do período; (b2) demonstração do resultado abrangente do período; (c) demonstração das mutações do patrimônio líquido do período; (d) demonstração dos fluxos de caixa do período; (e) notas explicativas, compreendendo um resumo das políticas contábeis significativas e outras informações elucidativas; (e) notas explicativas, compreendendo as políticas contábeis significativas e outras informações elucidativas; (Alterada pela Revisão CPC 08) (ea) informações comparativas com o período anterior, conforme especificado nos itens 38 e 38A; (Incluída pela Revisão CPC 03) (f) balanço patrimonial do início do período mais antigo, comparativamente apresenta- do, quando a entidade aplica uma política contábil retrospectivamente ou procede à reapresentação retrospectiva de itens das demonstrações contábeis, ou ainda quando procede à reclassificação de itens de suas demonstrações contábeis; e (f) balanço patrimonial do início do período mais antigo, comparativamente apresenta- do, quando a entidade aplicar uma política contábil retrospectivamente ou proceder à reapresentação retrospectiva de itens das demonstrações contábeis, ou quando pro- ceder à reclassificação de itens de suas demonstrações contábeis de acordo com os itens 40A a 40D; e (Alterada pela Revisão CPC 03) Faz-se necessário ressaltar que a norma exige a apresentação desse conjunto “pelo menos anualmente”. Isso não quer dizer que as demonstrações não possam ser apresentadas para períodos inferiores ou superiores a um ano, desde que divul- gue a razão por assim ter decidido. Neste sentido, a periodicidade destacada foi “do período”, pois se a empresa entender por bem que deve divulgar períodos diferentes ao exigido, está apta para isso. De acordo com a Lei 6.404/76 (BRASIL, 1976), temos o seguinte panorama quanto à obrigatoriedade de publicação para as sociedades anônimas de capital fechado: Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados (DLPA) (que pode ser substituída pela DMPL, já que esta é mais completa) e Demonstração dos Fluxo de Caixa (DFC) no caso de patrimônio líquido superior a R$2.000.000,00 na data de encerramento do balanço, além das notas explicativas. Observa-se que, no CPC 26 é exigido adicional- mente a Demonstração do Resultado Abrangente, bem como um maior nível de deta- lhamento das demonstrações contábeis e notas explicativas. Contabilidade empresarial 30 Já as sociedades anônimas de capital aberto possuem como conjunto obriga- tório de demonstrações contábeis segundo a Lei n. 6.404/76 e atualizações poste- riores o Balanço Patrimonial (BP); Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA); Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); Demonstração do Valor Adicionado (DVA); e Notas Explicativas (BRASIL, 1976). Deve-se lembrar que o CPC 26 também está ligado a todas as sociedades anôni- mas de capital aberto, conforme Deliberação CVM 676. A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) é obrigatória às companhias abertas de acordo com a CVM e substitui a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA),já que esta é inserida em uma de suas colunas, sendo base para o cálculo do dividendo mínimo obrigatório (quando não há a definição no estatuto) e pela distribuição das reservas. Ressaltando que, em se tratando de sociedade de capital aberto que pertence a outro setor regulamentado, como, por exemplo, as instituições financeiras, segurado- ras de capital aberto, além de seguir o disposto nos normativos da CVM e na Lei n. 6.404/76 e suas atualizações posteriores, as demonstrações contábeis deverão igual- mente conter os requerimentos de cada órgão regulador específico. Nas sequência, veremos maiores detalhes sobre requerimentos regulatórios para as demonstrações contábeis de empresas que pertencem a alguns setores regulados. 1.3 Relatórios contábeis âmbito dos setores regulados Neste tópico, vamos entender um pouco mais sobre relatórios contábeis, mas sobre um outro ponto de vista que é o dos setores regulados. Muitos destes setores devem obedecer às regulamentações que já conhecemos, porém existem característi- cas ligadas à atividade de cada grupo em específico. Assim, a atividade de cada negó- cio é essencial para que possamos compreender a legislação adicional que deverá ser observada no caso de suas demonstrações. Veremos de forma específica como funcionam as instituições financeiras no Brasil, que são um setor altamente regulamentado, e que possuem, em alguns casos, características bastante específicas, já que algumas instituições precisam observar, ao mesmo tempo, legislação pertinente ao setor público, ligada ao setor das sociedades anônimas e também do setor financeiro. Existem alguns setores regulados no Brasil que exigem demonstrações especí- ficas, ou ainda estruturas diferenciadas de demonstrações contábeis. Desta forma, é preciso sempre observar a regulamentação vigente para todos os órgãos que regulam a empresa, já que muitas vezes estas informações são bastante complexas, conforme veremos a seguir para melhor compreensão deste tópico. Contabilidade empresarial 31 1.3.1 Instituições Financeiras O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é responsável pela gestão da política mone- tária brasileira e formado tanto por instituições monetárias quanto não monetárias. Um dos principais exemplos de instituição que faz parte do SFN é o Banco Central do Brasil (BCB). Já a instituições financeiras, como bancos, financeiras, cooperativas entre outras, estão regulamentadas sob a supervisão do BCB. De acordo com a Circular 1273 do BCB, tais instituições precisam entregar as seguintes demonstrações: a) mensalmente, no último dia do mês: b) em 30 de junho c) em 31 de dezembro I – Balancete Patrimonial Analítico (documento nº 1); I – Balancete Patrimonial Analítico (documento nº 1); I – Balancete Patrimonial Analítico (documento nº 1); II – Estatística Bancária Mensal (documento nº 13); II – Estatística Bancária Mensal (documento nº 13); II – Estatística Bancária Mensal (documento nº 13); III – Estatística Bancária Global (documento nº 13); III – Estatística Bancária Global (documento nº 13); III – Estatística Bancária Global (documento nº 13); IV – Balancete Patrimonial (documento nº 2); IV – Balanço Patrimonial Analítico (documento nº 1); IV – Balanço Patrimonial Analítico (documento nº 1); V – Balanço Patrimonial (docu- mento nº 2); V – Balanço Patrimonial (docu- mento nº 2); VI – Balanço Patrimonial Analítico Consolidado – Posição Consolidada da Sede e Dependências no Exterior (docu- mento nº 1); VI – Balanço Patrimonial Analítico Consolidado – Posição Consolidada da Sede e Dependências no Exterior (docu- mento nº 1); VIII – Demonstração do Resultado do Semestre (docu- mento nº 8); VII – Demonstração do Resultado do Semestre (documento nº 8); IX – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido do Semestre (documento nº 11); VIII – Demonstração do Resultado do Exercício (docu- mento nº 8); IX – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido do Semestre (documento nº 11); X – Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido do Exercício (documento nº 11). Fonte: RES 1120; RES 1653; RES 1655 RA; RES 1770; CIRC 1273; RES 3604. (Adaptado). Contabilidade empresarial 32 Observa-se que a legislação relativa a estas obriga a entrega mensal de algumas demonstrações, como, por exemplo, balancete e estatística bancária, entre outros demonstrativos contábeis e financeiros preparados de acordo com o Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF), que representa o plano de contas e regras de escrituração que são obrigatórios para as instituições reguladas pelo BCB. Ainda, estas instituições devem observar a entrega semestral e anual das demonstrações contábeis de acordo com as normas internacionais de contabilidade e pronunciamentos do CPC, que é representada por um maior volume de informa- ções, conforme proposto pela Lei 4.595/64 em seu “Art. 31. As instituições financeiras levantarão balanços gerais a 30 de junho e 31 de dezembro de cada ano, obrigatoria- mente, com observância das regras contábeis estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional” (BRASIL, 1976). Agora, vamos explorar o ambiente legal das seguradoras e suas características. 1.3.2 Seguradoras No Brasil, as atividades de seguro começaram já no ano de 1808, conforme relata a Susep (2018), porém este processo passou por várias fases de desenvolvimento junto com a evolução do próprio país e da regulamentação que era criada na época. As ope- rações de seguro e de resseguro foram regulamentadas no ano de 1966. O Decreto-Lei 73 (BRASIL, 1966), foi responsável pela instituição do Conselho Nacional de Seguros (CNSP), Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e também pela autorização de todas as outras instituições que poderiam trabalhar na área de seguros em território nacional. Sendo que depois de várias mudanças foi criado o Sistema Nacional de Capitalização, constituído pelo CNSP e pela SUSEP e pelas sociedades que são autorizadas a operar na área de capitalização. De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) para as segura- doras as demonstrações que devem ser elaboradas e apresentadas em 31 de Dezembro são: Relatório da Administração, Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Período, Demonstração de Resultado Abrangente, Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, Demonstração dos Fluxos de Caixa, Notas Explicativas e o corres- pondente relatório do auditor independente sobre as demonstrações financeiras. 1.3.3 Concessões públicas Existem especificidades que cada um dos órgãos reguladores dos setores rela- cionados às concessões públicas irão exigir em relação à preparação e divulgação de demonstrações contábeis. As concessões públicas, como, por exemplo, serviços de transportes aéreos, regulamentada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Contabilidade empresarial 33 Esta agência, por exemplo, exige das companhias áreas as seguintes demonstrações contábeis no encerramento do período em 31 de dezembro: • Balanço Patrimonial; • Demonstração do Resultado; • Demonstração dos Fluxos de Caixa; • Notas Explicativas; • Relatório da Administração; e • Relatório do Auditor Independente sobre as demonstrações contábeis anuais apresentadas à ANAC. Existem outras agências que possuem legislação específica acerca das Demonstrações Contábeis e seu conteúdo informacional. Os serviços de telecomunica- ções, energia elétrica e saneamento, são exemplos desta temática e têm suas pautas regu- lamentadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Agência Nacional de Águas (ANA), respectivamente. Nesse sentido, compreende-se que a discussão sobre o conteúdo das Demonstrações Contábeis ou sobre quais delas devem ser elaboradas e publicadas por determinadas empresas é bastante abrangente e deverá observar a legislação especí- fica inerente a tais entidades. Destaca-se,no entanto, que a informação gerada deve sempre respeitar as características qualitativas fundamentais: relevância e informação fidedigna, possibilitando que tal informação seja útil à tomada de decisão. Contabilidade empresarial 34 Referências ANAC. Instruções para a Apresentação de Documentações e Demonstrações Contábeis das empresas áreas brasileiras à ANAC até 2014. Disponível em: <www. anac.gov.br/assuntos/setor-regulado/empresas/envio-de-informacoes/demonstracoes- contabeis-com-referencia-ate-2014>. Acesso em: 23/07/2018. ANTHONY, R. N. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 1974. Banco Central do Brasil. Resolução 1.120 de 04/04/1986. Disponível em: <www.bcb. gov.br/pre/normativos/res/1986/pdf/res_1120_v7_L.pdf>. Acesso em: 07/09/2018 ______. Resolução 1.653 de 26/10/1989. Disponível em: <www.bcb.gov.br/pre/norma- tivos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/41826/ Res_1653_v1_O.pdf>. Acesso em: 07/09/2018 ______. Resolução 1.655 de 26/10/1989. Disponível em: <www.bcb.gov.br/ pre/normativos/ busca/downloadNormativo.asp?arquivo =/ Lis ts/ Normativos/ Attachments/41828/Res_1655_v5_P.pdf>. Acesso em: 07/09/2018 ______. Resolução 1.770 de 28/11/1990. Disponível em: <www.bcb.gov.br/pre/ normativos/res/1990/pdf/res_1770_v2_P.pdf>. Acesso em: 07/09/2018 ______. Circular 1.273 de 29/12/1987. Disponível em: <www.bcb.gov.br/pre/normativos/ circ/1987/pdf/circ_1273_v1_o.pdf>. Acesso em: 07/09/2018 ______. Circular 1.273 de 29/08/2008. Disponível em: <www.bcb.gov.br/pre/normativos/ busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/47835/ Res_3604_v1_O.pdf>. Acesso em: 07/09/2018 BRASIL. Decreto Lei N. 73 de 21 de Novembro de 1973. Disponível em: <www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0073.htm>. Acesso em: 11/08/2018. BRASIL. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 17/03/1964. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Leis/l4320.htm>. Acesso em: 23/07/2018. ______. Lei n. 4.595, de 31 de Dezembro de 1964. Poder Legislativo, Brasília, DF, 31/12/1964. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4595.htm>. Acesso em: 07/09/208. ______. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 16/12/1976. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 21/05/2017. Contabilidade empresarial 35 CPC – COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 26: Apresentação das demonstrações contábeis. In: Pronunciamentos técnicos contábeis, 2012. Disponível em: <static.cpc.mediagroup.com.br/Imagens/Pronunciamentos%20T%C3%A9cnicos%20 Cont%C3%A1beis%202012.pdf>. Acesso em: 21/05/2017. ______. CPC PME. Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas com Glossário. Disponível em: <www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/ Pronunciamento?Id=79>. Acesso em: 06/04/2017. IUDICIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. KAPLAN, R. S.; JOHNSON, H. T. A relevância da contabilidade de custos. 02. ed. São Paulo: Campus, 1996. KAPLAN, R. S. et al. Contabilidade gerencial. 02. ed. São Paulo: Atlas, 2000. LI, D. H. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 1977. RICARDINO, A. Contabilidade gerencial e contabilidade societária: origens e desen- volvimento. São Paulo: Saraiva, 2005. Superintendência de Seguros Privados. Disponível em: <www.susep.gov.br>. Acesso em: 13/12/2018. 2 Balanço Patrimonial Douglas Almeida Lima Quando falamos em balanço, é natural lembrarmos de balança, de equilíbrio, de dois pratos de uma balança alinhados. O termo balanço, de Balanço Patrimonial, trata justamente disso, da igualdade entre os valores de direitos e obrigações de uma enti- dade, conceitos que começaremos a conhecer em profundidade. Por convenção, o balanço é dividido em duas partes, do lado esquerdo ficam os ativos da entidade, do lado direito ficam passivos e patrimônio líquido. Estes grupos de contas podem ser definidos de forma simples, como sendo: • Ativos – os bens e direitos de uma entidade, como, por exemplo, veículos, clientes, marcas, patentes, participações societárias etc. • Passivos – as obrigações com terceiros, como, por exemplo, empréstimos, fi- nanciamentos, salários a pagar etc. • Patrimônio líquido – representa a riqueza própria da entidade. Neste capítulo, vamos estudar o Balanço Patrimonial (BP) e tratar de cada um destes grupos de contas que compõem esta que é considerada a principal demonstra- ção contábil. 2.1 Estrutura do Balanço Patrimonial – Ativo Circulante Antes de começarmos a verificar os grupos, subgrupos e contas que compõem o Balanço Patrimonial, é importante que saibamos como ele está estruturado. A elaboração e apresenta- ção deste demonstrativo contábil segue os pre- ceitos da legislação societária, Lei n. 6.404/76 (BRASIL, 1976), e de suas posteriores atuali- zações e do pronunciamento técnico CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis. Para compreender a estrutura básica do balanço patrimonial, vejamos o que diz o CPC 00 (2011, s.p.) sobre os grupos de contas que compõem a estrutura deste demonstrativo: © M ilo us SK // S hu tt er st oc k Contabilidade empresarial 38 • ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade; • passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos; • patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de de- duzidos todos os seus passivos. Percebe como ativos e passivos são resultados de eventos passados? Por exemplo, quando uma empresa adquire um veículo financiado, isso traz como efeito para o balanço uma conta de ativo, “veículos”, e, para o passivo, a conta de “financiamentos”. Essas duas contas irão permanecer no balanço enquanto a entidade ainda detiver a propriedade do veículo e enquanto a obrigação não for totalmente paga, respectivamente. Ao observarmos o balanço, veremos sempre os valores que foram resultado de decisões ou fatos passados. Agora que você já entende as definições básicas, vejamos como ficaria a estru- tura básica do balanço patrimonial: Estrutura básica do Balanço Patrimonial Ativo Passivo Patrimônio Líquido Total Total A KPMG (2018) esclarece que, para uma apresentação adequada, as informações precisam ser representadas de forma fidedigna, ou seja, é necessário que o conjunto de dados presentes no balanço representem apropriadamente a situação financeira e patrimonial da entidade. Para uma melhor representação quanto à realização ou liquidez, ativos e passi- vos são divididos em dois outros grupos: circulante e não circulante. Esta divisão é determinada pelo item 60 do CPC 26 (2011) onde orienta que a “entidade deve apre- sentar ativos circulantes e não circulantes, e’ passivos circulantes e não circulantes, como grupos de contas separados no balanço patrimonial”. Porém, o mesmo item do Contabilidade empresarial 39 pronunciamento faz uma ressalva a essa classificação em circulante e não circulante, destacando que “quando uma apresentação baseada na liquidez proporcionar informa- ção confiável e mais relevante [...] todos os ativos e passivos devem ser apresentados por ordem de liquidez” (CPC 26, 2011, s.p.). Na prática, o que isso significa? Significa que as entidades, ao reportarem suas informações contábeis-financeiras por meio de um balanço, não estão obrigadas a seguirem uma estrutura padrão, mas sim a fornecer informação útil ao usuário. Se a classificação por ordem de liquidez faz com que a informação seja mais relevante que se classificada em circulante ou não circulante, devemos optar pela apresentação que aumente a utilidade da informação. O art. 178 da Lei nº 6.404/1976 (BRASIL, 1976), e o CPC 26 (2011) estabelecem que as contasdo ativo serão apresentadas por grau de liquidez, ou seja, as que são mais facilmente conversíveis em dinheiro são apresentadas pri- meiro, e assim sucessivamente, respeitando a ordem crescente dos prazos de realização. O registro e a apresentação dos itens que constituem o patrimônio de uma enti- dade devem ser feitos de forma ordenada. Essa ordenação se dá por meio das contas contábeis patrimoniais – contas que representam o patrimônio das entidades. Sem essa organi- zação, a informação contábil não seria fidedigna, pois não estaria representando ade- quadamente o patrimônio da entidade. Como recomendação geral, o CPC 26 (2011) orienta que o Ativo Circulante deverá apresentar as seguintes contas: Caixa e equivalentes, Clientes e outros recebíveis, Estoques e Ativos financeiros. Marion (2015) destaca que, para que o ativo não se transforme em um amontoado de contas desconexas, dificultando a correta leitura e interpretação de seus valores, as contas são agrupadas de modo que as que possuem as mesmas características pertençam ao mesmo grupo. Ressalta-se que o CPC 26 (2011, s.p.) dispõe ele próprio de uma informação rele- vante: “Este Pronunciamento Técnico não prescreve a ordem ou o formato que deva ser utilizado na apresentação das contas do balanço patrimonial, mas a ordem legal- mente instituída no Brasil deve ser observada.” Isso implica dizer que o item 54 do CPC 26 (2011) simplesmente lista os itens que são suficientemente diferentes na sua natu- reza ou função para assegurar uma apresentação individualizada no balanço patrimo- nial. Adicionalmente o CPC 26 (2011, s.p.) em seu item 57 determina que “as contas do © D im T ik // S hu tt er st oc k Contabilidade empresarial 40 balanço patrimonial devem ser incluídas sempre que o tamanho, natureza ou função de um item ou agregação de itens similares apresentados separadamente seja rele- vante na compreensão da posição financeira da entidade”. Destaca-se também, que segundo o Pronunciamento CPC 26 (2011, s.p.): a nomenclatura de contas utilizada e sua ordem de apresentação ou agregação de itens semelhantes podem ser modificadas de acordo com a natureza da entidade e de suas transações, no sentido de fornecer informação que seja relevante na compreensão da po- sição financeira e patrimonial da entidade.” Isso significa que as empresas podem usar uma nomenclatura (nomes de contas) que possa traduzir melhor sua situação financeira e patrimonial. Por exemplo, uma ins- tituição financeira pode ter que modificar a nomenclatura das contas no sentido de fornecer informação relevante no contexto das operações de instituições financeiras, pois sua atividade é específica. Para que consiga visualizar essa aplicação na prática, observe o Balanço Patrimonial da empresa Itáu Unibanco S.A do 3.º trimestre de 2018: Ativo Nota 30/09/2018 31/12/2017 01/01/2017 Disponibilidades 29.467 18.749 18.542 Ativos Financeiros 1.396.078 1.330.251 1.246.833 Depósitos Compulsórios no Banco Central do Brasil 85.957 98.837 85.700 Ao Custo Amortizado 1.001.990 905.729 902.289 Aplicações em Depósitos Interfinanceiros 4 28.653 29.048 22.688 Aplicações no Mercado Aberto 4 293.994 244.707 265.050 Títulos e Valores Mobiliários 9 111.091 111.424 102.568 Operações de Crédito e Arrendamento Mercantil Financeiro 10 534.372 497.719 494.851 Outros Ativos Financeiros 18a 68.912 59.568 53.895 (-) Provisão para Perda Esperada (35.032) (36.737) (36.763) Ao Valor Justo por meio de Outros Resultados Abrangentes 48.793 52.149 40.039 Títulos e Valores Mobiliários 8 48.793 52.149 40.039 Ao Valor Justo por meio do Resultado 259.338 273.536 218.805 Títulos e Valores Mobiliários 5 230.671 250.693 194.574 Derivativos 6 e 7 28.667 22.843 24.231 Investimentos em Coligadas e Entidades Controladas em Conjunto 11 11.898 5.055 5.073 Ágio 11.641 10.716 9.675 Imobilizado, Líquido 13 7.219 7.359 8.042 Contabilidade empresarial 41 Ativo Nota 30/09/2018 31/12/2017 01/01/2017 Ativos Intangíveis, Líquidos 14 8.635 8.667 7.381 Ativos Fiscais 46.822 44249 45.081 Imposto de Renda e Contribuição Social - Correntes 1.946 2.336 2.703 Imposto de Renda e Contribuição Social - Diferido 25b 38.265 35.869 38.202 Outros 6.611 6.044 4.176 Bens Destinados à Venda 34.9 788 736 631 Outros Ativos 18a 11.941 10.457 10.056 Total do Ativo 1.524.489 1.436.239 1.351.314 As notas explicativas são parte integrante das demonstrações contábeis consolidadas. Fonte: Itaú Unibanco Holding S.A., 2018 Perceba como seus ativos estão resumidos de forma a agregar ativos financei- ros, investimentos em outras entidades, imobilizado, ativos intangíveis e bens desti- nados à venda. Essa é uma forma de agregação de contas que não cabe a todo tipo de empresa. Uma empresa comercial, por exemplo, teria valores altos de estoque de mer- cadoria para revenda. Uma indústria já sentiria a necessidade de destrinchar a conta de estoques em várias outras, como estoque de matéria-prima, estoque de produtos em processo e estoque de produtos acabados. Já uma instituição financeira, como a citada em nosso exemplo, não apresenta nem seu saldo de estoque. Para compreender melhor os recursos que devem ser classificados como Ativos Circulantes, é importante observar o item 66 do CPC 26 (2011, s.p.), que esclarece o Ativo Circulante como aquele que possui as seguintes características: (a) espera-se que seja realizado, ou pretende-se que seja vendido ou consumido no decur- so normal do ciclo operacional da entidade; (b) está mantido essencialmente com o propósito de ser negociado; (c) espera-se que seja realizado até doze meses após a data do balanço; ou (d) é caixa ou equivalente de caixa (conforme definido no Pronunciamento Técnico CPC 03 – Demonstração dos Fluxos de Caixa), a menos que sua troca ou uso para liquidação de passivo se encontre vedada durante pelo menos doze meses após a data do balanço. Todos os outros ativos que não contemplarem tais características aqui elencadas devem ser classificados, conforme o CPC 26, como ativos não circulantes.nos aprofun- daremos mais sobre as contas que compõem o ativo circulante e sobre ativo não circu- lante mais adiante. No próximo tema, iremos compreender o contexto do balanço patrimonial em entidades de setores de atuação distintos. Acompanhe. Contabilidade empresarial 42 2.1.1 Contexto do balanço patrimonial e suas características de acordo com o porte e o setor de atuação da organização O Balanço Patrimonial se apresenta como uma das mais importantes, senão a mais importante demonstração contábil de uma empresa. A elaboração por parte das empresas é obrigatória, conforme o disposto nas normas brasileiras de contabilidade. Mesmo aquelas que possuem menor tamanho e estrutura, como é o caso das pequenas e médias empresas, devem elaborá-lo, seja por força do código civil ou por exigência da receita federal para fins de apuração da base de cálculo dos tributos devi- dos pela empresa. No entanto, a estrutura, contas mínimas obrigatórias e demais características peculiares do BP dependem do porte e setor de atuação da entidade. As concessionárias de serviços públicos, por exemplo, recebem regulamentações diretas das agências nacionais reguladoras, como a Agência Nacional de Águas (ANA), Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) sobre a elaboração e divulgação do BP por parte desse tipo de empresa. De uma forma geral, pode-se dizer que o Balanço Patrimonial é obrigatório para todas as entidades constituídas em território nacional. Porém, há de se lembrar que essa demonstração é relevante não apenas para cumprir normas e regras, mas sobretudo é um demonstrativo essencial para compreender a situação financeira e patrimonial das entidades. Para ampliarmos nossa compreensão sobre o ativo circulante, veremos em detalhes as contas representativas deste grupo. A começar pelas contas de disponível e créditos. 2.1.2 Disponível
Compartilhar