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U N O PA R CO N TA B ILID A D E A PLIC A D A À A D M IN ISTRA Ç Ã O Contabilidade Aplicada à Administração Contabilidade Aplicada à Administração Vânia de Almeida Silva Machado Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Machado, Vânia de Almeida Silva M149c Contabilidade aplicada à administração / Vânia de ISBN 978-85-8482-112-9 1. Análise. 2. Demonstrações. I Título. CDD 657 © 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente: Rodrigo Galindo Vice-Presidente Acadêmico de Graduação: Rui Fava Diretor de Produção e Disponibilização de Material Didático: Mario Jungbeck Gerente de Produção: Emanuel Santana Gerente de Revisão: Cristiane Lisandra Danna Gerente de Disponibilização: Everson Matias de Morais Editoração e Diagramação: eGTB Editora Almeida Silva Machado – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2015. 192 p. Sumário Unidade 1 | Fundamentos da Contabilidade Seção 1 - Origem e Escolas de Pensamentos Contábeis 1.1 | Escola Contista 1.2 | Escola Administrativa 1.3 | Escola Personalista 1.4 | Escola Controlista 1.5 | Escola Norte-americana 1.6 Escola Patrimonialista 1.7 Contabilidade no Brasil Seção 2 - Objeto e Objetivos da Contabilidade Seção 3 - Estrutura Patrimonial e o Processo Contábil 3.1 | Patrimônio 3.2 | Patrimônio líquido 3.3 | Bens 3.4 | Direitos 3.5 | Obrigações 3.6 | Demonstração da estrutura patrimonial 3.7 | Dinâmica patrimonial 3.8 | Processo contábil 3.9 | Plano de contas 3.10 | Princípios contábeis 3.11 | Escrituração contábil 3.12 | Método por demonstrações sucessivas 7 15 11 12 12 12 12 13 13 14 21 21 22 23 23 24 24 26 28 30 32 34 34 Unidade 2 | Demonstrações Contábeis Seção 1 - Principais Demonstrações Contábeis 1.1 | Regime de Caixa e Regime de Competência 1.2 | Características Qualitativas das Demonstrações Contábeis 1.3 | Demonstração da Estrutura Patrimonial: Balanço Patrimonial 51 55 55 57 58 Seção 2 - Lei nº 11.628/07: Alterações e Contribuições para Análise Contábil 2.1 | Estudo da Lei nº 11.638/07 89 89 149 Unidade 4 | Gestão de Custos Seção 1 - Custos como Forma de Análise 145 153Seção 2 - Terminologia e Classificação da Contabilidade de Custos 105 105 Unidade 3 | Análise das Demonstrações Seção 1 - Análise Horizontal e Vertical 1.1 | Análise Horizontal 101 117Seção 2 - Quocientes Financeiros e Índices de Liquidez/Solvência 169Seção 3 - Métodos de Custeio 183Seção 4 - Formação de Preços de Venda Apresentação Caro(a) acadêmico(a), este livro tem como objetivo principal relacionar assuntos pertinentes à Contabilidade Aplicada à Administração, bem como elucidar as ferramentas necessárias para a interpretação dos dados contidos nas principais demonstrações contábeis existentes. O leitor, ao chegar ao final do volume, deve estar apto a responder ao seguinte questionamento: como os usuários podem extrair informações das demonstrações contábeis para auxiliar nas tomadas de decisão? Buscando uma melhor didática e também ofertando a melhor compreensão sobre o assunto, o livro está dividido em quatro unidades. Na primeira unidade, serão abordados os Fundamentos da Contabilidade, apresentando sua origem através do estudo das escolas de pensamento Contábeis. Aprofundaremos o estudo conhecendo o objeto e objetivo da Contabilidade, e também a estrutura patrimonial e o processo contábil. Na segunda unidade, iremos conhecer a estrutura e as informações oferecidas pelas principais demonstrações contábeis: demonstração do patrimônio da empresa, demonstração do resultado do exercício, demonstração do fluxo de caixa, demonstração do valor adicionado, demonstração das mutações do patrimônio líquido e demonstração de lucros ou prejuízos acumulados. A segunda seção destacará a Lei nº 11.628/ 07, um grande marco legislativo para contabilidade, rumo à padronização com as normas internacionais. A terceira unidade apresentará as análises contábeis. A primeira seção abordará os primórdios das análises dos relatórios financeiros: as análises vertical e horizontal. Já a segunda seção apresentará os índices financeiros, que apontam a situação financeira da empresa, bem como os indicadores de solvência, responsáveis por demonstrar a situação econômica da entidade. A quarta unidade abordará a Gestão de Custo, demonstrando na primeira seção uma apresentação sobre os Custos como forma de Análise, dando base para o início da segunda seção, que irá abordar as terminologias da Contabilidade de Custos. Por fim, na seção três trabalharemos os métodos de custeio e fecharemos a unidade com a formação do preço de venda. Todas estas unidades têm a finalidade de oferecer a você, aluno, conhecimentos gerais sobre a Contabilidade Aplicada à Administração, com a pretensão de proporcionar uma formação teórico-prática para capacitá-lo a atuar na área gerencial ou analítica de uma empresa. Excelentes estudos! FUNDAMENTOS DA CONTABILIDADE A contabilidade é uma ciência bastante antiga. Por isso, o estudo de sua história é bastante extenso e rico em fatos. Veremos que houve vários pensamentos contábeis que ocorreram de forma sucessiva ou concomitante, todos propondo um formato e uma concepção para este ramo científico. Importante estudar estes pensamentos para identificar e entender traços existentes na contabilidade moderna, que impulsionaram e desenvolveram a contabilidade. Assim, na primeira unidade será abordado um contexto histórico da ciência contábil, de modo a propiciar uma base para o entendimento da contabilidade e sua função para a humanidade, em especial, para a administração de entidades jurídicas. Seção 1 | Origem e Escolas de Pensamentos Contábeis Objetivos de aprendizagem: O que seria da empresa sem o controle? E como fazer o controle sem a contabilidade? Pode parecer ostentação, mas a contabilidade é tão importante para a empresa quanto a sua própria administração e gestão. Não é apontar o quanto o ramo contábil está ligado ao administrativo, em níveis hierárquicos distintos, porém de relevância comum. Com isso, ao administrador é muito importante entender a contabilidade, sua origem, seus objetivos e suas estruturas. Assim, convido você, caro leitor, a iniciar esta jornada e cumprir os primeiros objetivos desta primeira unidade, entendendo o contexto histórico da contabilidade, bem como seus objetivos e sua estrutura. Vânia de Almeida Silva Machado Unidade 1 Fundamentos da Contabilidade U1 10 Nas seções 1 e 2 foram apresentadas as bases da contabilidade e seu objeto/objetivo. Nesta seção iremos começar a discutir o modo que ela é confeccionada e apresentada para seus clientes, ou seja, a sua estruturação, bem como o processo que envolve sua confecção. Assim, com o encerramento desta seção e unidade, será possível entender todas as outras unidades, e como funciona e o que apresenta cada relatório contábil. Seção 3 | Estrutura Patrimonial e o Processo Contábil Aparentemente, objeto e objetivos podem expressar a mesma coisa. Entretanto, será demonstrado que não é bem assim. Enquanto objeto corresponde a algo, objetivo corresponde a uma meta. Para a contabilidade, seu objeto é o patrimônio da entidade, enquanto seu objetivo é o controle deste patrimônio. Por fim, o controle do patrimônioocorre com a finalidade de fornecer informações financeiras e econômicas acerca da entidade. Estas informações irão auxiliar o gestor na tomada de decisões. Na seção 2 será possível entender o objeto e objetivo da contabilidade. Seção 2 | Objeto e Objetivos da Contabilidade Fundamentos da Contabilidade U1 11 Introdução à unidade Se o indivíduo ou a organização possuem uma identidade, isto se deve à sua história, ou seja, aos fatos que o determinaram e levaram a adotar a postura presente, com todas suas particularidades. Com a contabilidade não seria diferente. As estruturas das demonstrações contábeis que conhecemos atualmente se iniciaram e passaram por vários processos de adaptações. E provavelmente ainda sofrerão adaptações e novas transformações. É importante, dessa maneira, que todo estudo de um assunto seja iniciado por seu contexto histórico, a fim de propiciar um melhor entendimento sobre o tema. Assim, nesta unidade, iniciaremos o estudo da contabilidade entendendo, primeiramente, suas bases históricas. Com o entendimento das bases históricas, na seção 2 serão abordados os objetos e objetivos da contabilidade, diferenciando-os entre si, e explicando-os de modo a proporcionar uma melhor compreensão dessa ciência. Por fim, será iniciada a compreensão da estrutura contábil e seu processo, abordando assim o modo da contabilidade se apresentar e como ela é desenvolvida. Com esta primeira unidade, será possível aprofundar mais os conhecimentos acerca da contabilidade propriamente dita e suas ramificações. Fundamentos da Contabilidade U1 12 Fundamentos da Contabilidade U1 13 Seção 1 Origem e Escolas de Pensamentos Contábeis O estudo da identidade da contabilidade inicia-se por sua história. Desta maneira, é possível entender as evoluções e transformações que ela passou, o que acarretou no seu formato atual. É provável que a contabilidade ainda apresente novas variações, principalmente, em decorrência de novas concepções mercadológicas. Vivenciamos no Brasil a adequação das normas contábeis aos padrões internacionais, resultados de marcos regulatórios que disciplinam e normatizam essa ciência. Assim, nesta primeira seção, é importante que você, caro leitor, entenda a origem da contabilidade e os pensamentos que ocorreram em função desta ciência. Com base nisso, será possível identificar os traços que permaneceram ao longo do tempo, influenciando e determinando o formato dessa ciência. Advinda do desenvolvimento humano como uma ciência, a contabilidade tem sua origem em Uruk, uma antiga cidade da Mesopotâmia, através de instrumentos encontrados datados de 8.000 anos a.C. Desde o surgimento, o homem demonstra sua real necessidade, mesmo que primária, de controle de bens e produções (criações e agricultura). Os primeiros sinais encontrados em sítios arqueológicos de Israel, Síria, Iraque, Turquia e Irã deram-se pelas fichas de barro, que eram objetos de diferentes formas, utilizados nas contagens dos itens mencionados. Com o passar dos anos, maneiras alternadas de sistemas de registros eram trabalhadas, surgindo, além da escrita e da contagem, outras ferramentas de auxílio para controles. Considerado como um marco na arte contábil, o Frade Franciscano Luca Pacioli, no ano de 1494, dá início ao pensamento científico da contabilidade, por meio da publicação de sua obra La summa de arithmetica, geometria, proportioni e proportionalitá (SCHMIDT; SANTOS, 2006), a qual destacava o método de registro de Partidas Dobradas (método de Veneza). Cabe lembrar que o italiano Benedetto Cotrugli, em 1458, alavancou o sistema através de seu manuscrito, não obtendo o mesmo impacto social por não ser um livro, concedendo a Pacioli esse mérito. Muito se desenvolveu nos períodos subsequentes. As denominadas Escolas do Pensa mento Contábil tiveram grande influência na sociedade. Ideias principais eram estudadas, desenvolvidas e, muitas vezes, derrubadas. Vamos agora conhecer algumas dessas escolas, que foram importantes para a evolução do Pensamento Contábil. Fundamentos da Contabilidade U1 14 1.1 Escola Contista A Escola Contista foi o alicerce, inaugurando no século XV o primeiro movimento científico-contábil, o qual destacava no processo de escrituração a personificação das contas. Seus principais colaboradores tornaram-se responsáveis pelo pioneirismo dos livros impressos na Itália. A preocupação principal dava-se sobre o processo e as técnicas envolvidas na escrituração e centralização das contas, daí a origem do nome. Devido ao desenvolvimento comercial motivado pelo abandono do feudalismo, as necessidades de registro dessas atividades tornaram-se eviden tes em relação ao que se devia e ao que se tinha de receber (dever e haver). O contismo francês aflorou a teoria das cinco contas, de Edmundo Degranges, embora nem sempre aceita, a qual denominava as mercadorias, o dinheiro, os efeitos a receber, os efeitos a pagar e os lucros ou perdas como fundamentos contínuos de permuta. Após o surgimento da Escola idealizadora da contabilidade como ciência, um amplo período (1494 a 1840), segundo vários estudiosos, provocou a estagnação contábil. A deno minada Idade da Estagnação Contábil, surgida dentre as publicações da obra de Pacioli em 1494, até a publicação de Francesco Villa, foi analisada como a concretização da utilização do Método das Partidas Dobradas no que dizia respeito à escrituração dos fatos. 1.2 Escola Administrativa No ano de 1840, surge a segunda linha de pensamento contábil, a Escola Administrativa ou Lombarda, tendo como principal interesse a administração das entidades, atribuindo a ideia que o contador deveria não só dominar as técnicas de escrituração, mas apresentar profundo conhecimento de gestão. Esse pensamento foi incentivado pela obra de Francesco Villa (La contabilitá applicata alle am ministrazioni private e pubbliche). 1.3 Escola Personalista A escola Personalista teve início com a teoria de Francesco Marchi e foi idealizada por Giuseppe Cerboni. A teoria baseava-se nas contas deveriam ser abertas em nome de pessoas específicas, sendo físicas ou jurídicas. 1.4 Escola Controlista Fábio Besta, especificamente em 1880, através de sua obra La ragioneria, idealiza a Escola Controlista. Com a visão focada no usuário interno. Nesse Fundamentos da Contabilidade U1 15 período teremos também a divisão da contabilidade em termos de conhecimento, na forma de contabilidade geral, aplicada a todos os segmentos, e contabilidade aplicada, ou seja, específica a diferentes tipos de atividades econômicas. Segundo Schmidt e Santos (2006, p. 59), Besta definiu a missão contábil como [...] encarregada de estabelecer um ponto de partida para que seja possível analisar de pronto os resultados da gestão; encarregada de acompanhar a gestão pondo em evidência todos os fatos ocorridos nas entidades que facilitem o julgamento do traba lho administrativo; e encarregada de demonstrar os resultados finais da administração econômica para fins de aprovação ou rejeição da gestão. 1.5 Escola Norte-americana A Escola Norte-americana surge em 1887, iniciada com a criação da AAPA (American Association of Public Accountants). A principal contribuição dessa escola foi a separação da Contabilidade em Gerencial, a qual atendia aos seus usuários internos, e Financeira, na qual as informações eram voltadas aos interesses externos. Segundo Kaplan e Johnson (apud SCHMIDT; SANTOS, 2006, p. 81), a contabilidade gerencial surgiu pela primeira vez nos Estados Unidos, quando as organizações comerciais, em vez de dependerem dos mercados externos para trocas econômicas diretas, passaram a conduzir trocas econômicas internas. 1.6 Escola Patrimonialista Em 1926, através da obra de Vicenzo Masi (Ragioneria Generale),foi criada a Escola Patrimonialista, que tinha por objetivo destacar o patrimônio da entidade como aspecto mais importante ao seu desenvolvimento, sendo a escrituração apenas uma ferramenta do processo contábil. Tal estudo distinguiu-se em três partes: a estática, a dinâmica e a revelação patrimonial. Ao contrário dos neocontistas que abordaram o resultado, para os patrimonialistas a variação do patrimônio representa o objeto de interpretação. Fundamentos da Contabilidade U1 16 1.7 Contabilidade no Brasil No Brasil, a contabilidade pode ser separada em duas fases: antes de 1964 (a intervenção da legislação no desenvolvimento de procedimentos contábeis e a influência das Escolas Italia nas de pensamento contábil) e depois de 1964 (adotado o método didático norte-americano). Na primeira fase destacam-se dois dos principais estudiosos contábeis brasileiros, Francisco D’Auria e Frederico Herrmann Junior, ambos influenciados pela Escola Patrimonialista, na qual o objeto da ciência da contabilidade era o patrimônio e suas mutações. A segunda fase foi liderada pelo professor José da Costa Boucinhas, a partir de 1964, adotando o método ame ricano no ensino contábil. Desse período até os dias atuais, vários estudiosos contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento da contabilidade no Brasil. As modificações da sociedade influenciaram o pensamento contábil? Conheça um pouco mais da história da contabilidade. Acesse o link a seguir: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/historia. htm>. Acesso em: 12 dez. 2014. Aproveite para aprofundar o seu conhecimento sobre a Evolução da Contabilidade e as principais escolas de estudo contábeis, acessando o link: <http://www.avm.edu.br/monopdf/22/LEONARDO%20JOSE%20 SEIXAS%20PINTO.pdf> Acesso em: 12 dez. 2014. 1. Faça um breve relato sobre a origem da ciência contábil. 2. Qual era o principal objetivo da Escola Norte-americana? 3. Qual o objetivo principal da Escola Patrimonialista? Fundamentos da Contabilidade U1 17 Seção 2 Objeto e Objetivos da Contabilidade A maioria das coisas tem objeto e objetivo. No futebol, o objeto é a bola, enquanto o objetivo seria o gol. Para a contabilidade, o objeto seria o patrimônio, enquanto o objetivo seria o controle do patrimônio. É com este objeto e objetivo que devemos entender e estudar todos os relatórios que a contabilidade dispõe. Desta maneira, será possível entender melhor a estruturação destas demonstrações e o quão significativo é para a entidade e sua gestão. É possível ainda entender os usuários da contabilidade e como eles irão desempenhar suas atividades, utilizando os meios que a contabilidade proporciona. E como os relatórios apresentam vários dados financeiros da entidade, é possível a extração de vários tipos de informações, diante da análise que se realiza. Este é o princípio de um grande estudo, que o acompanhará, junto às teorias administrativas, durante todo o processo de formação. De uma forma bem sintetizada pode-se afirmar que o patrimônio das entidades é o objeto da contabilidade, e o controle deste patrimônio e o fornecimento de informações sobre ele aos usuários são o seu objetivo. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras — FIPECAFI (2003, p. 48): “o objetivo principal da contabilidade, portanto, é o de permitir, a cada grupo de usuários, a avaliação da situação econômica e financeira da entidade num sentido estático, bem como fazer inferências sobre suas tendências futuras”. Já Iudícibus (2004, p. 21) afirma que “o objetivo da contabilidade, portanto, pode ser resumido no fornecimento de informações econômicas para os vários usuários, de forma que propiciem decisões racionais”. Sob a ótica defendida por diversos autores a nível nacional e mundial, o objetivo con tábil torna-se praticamente semelhante, mantendo a abordagem em relação à importância das informações geradas através da contabilidade ao atendimento das necessidades de seus usuários, específicos a cada fim. Para melhor compreendermos o objetivo da contabilidade vamos imaginar a seguinte situação: Jorge quer abrir uma empresa do ramo comercial de venda de roupas e procura um contador para discutir o assunto. Fundamentos da Contabilidade U1 18 Fato motivador: Desejo de constituir uma empresa. Jorge: Primeiras dúvidas. O que vai dar suporte para a constituição da minha empresa? O que preciso ter de imediato, em mãos, para que eu tenha condições de constituir um negócio? Contador: Em primeiro lugar você vai precisar de um capital, neste caso, principal mente dinheiro. Vamos supor que Jorge tenha dinheiro suficiente para montar seu negócio. Assim o dinheiro é o seu capital inicial. Jorge: Bom, tenho o dinheiro, qual o próximo passo? Contador: Você deverá adquirir ou alugar um imóvel. Avançando em seu desejo de constituir uma empresa, Jorge vai precisar definir um local para estabelecer seu negócio e poderá fazê-lo de duas formas: adquirindo um imóvel ou através da locação de um. Para darmos continuidade ao nosso exemplo, vamos supor que Jorge formalizou um contrato de locação de um estabelecimento para montar seu negócio. Jorge: Agora tenho um local e capital em dinheiro. O que falta? Contador: Você precisa equipar o seu estabelecimento. Jorge deverá equipar seu estabelecimento com todos os equipamentos necessários a sua atividade comercial como: vitrines, balcões, prateleiras, mesas, cadeiras, máquinas etc. Suponha que Jorge tenha adquirido os equipamentos necessários e que eles já estão em sua loja. Jorge: E as roupas para a venda? Contador: Essa é a próxima etapa, a compra de mercadorias. Uma vez constituída a loja, Jorge deverá adquirir as mercadorias para negociar (mer cadorias é uma expressão que representa todos os bens que uma empresa compra para vender e que, no nosso exemplo, são as roupas). Pois bem, Jorge está com sua loja instalada (montada), neste momento ele já gastou dinheiro, já aplicou seu capital inicial. Jorge ou comprou tudo à vista (pagou em dinheiro, no ato da compra), ou comprou parte à vista e parte a prazo, para pagamento futuro. O importante é que a empresa de Jorge existe e neste momento Fundamentos da Contabilidade U1 19 ele irá abri-la e a colocará em funcionamento. Uma pergunta deve ser feita. Qual o objetivo do seu negócio? A resposta para esta pergunta parece óbvia e certamente Jorge responderá que é a ob tenção de lucros. Para que se tenha o lucro desejado, Jorge terá que vender as mercadorias, sendo assim, podemos imaginar que em sua loja entrarão diariamente pessoas com basica mente duas finalidades: • Fornecer mercadorias para que Jorge possa revendê-las. Essas pessoas são chamadas de fornecedores e certamente Jorge comprará delas à vista ou a prazo. • Comprar as mercadorias à disposição nas vitrines, balcões etc. Essas pessoas são chamadas de clientes e Jorge venderá mercadorias a elas à vista ou a prazo. Observe a figura: Figura 1.1 | Constituição do Patrimônio Fonte: O autor (2014) PATRIMÔNIO Aplicação do Capital Inicial Capital Inicial Clientes Caixa Vendas Fornecedores Estoques Compras Bens A representação acima descreve as operações realizadas pelo Jorge durante a cons- tituição de sua empresa, o que nos leva a entender que ele já possui um patrimônio, o qual está em movimento e função de quatro principais operações — compras, vendas, pagamentos e recebimentos, e que essa movimentação precisa de um controle para que se possa avaliar e verificar se o principal objetivo (lucro) está sendo atingido. É exatamente aí que entra a contabilidade, é ela que com suas técnicas permitirá que o Jorge mantenha um controle sobre o patrimônio de sua empresa. A contabilidade reúne dados de todas as áreasda empresa e transforma Fundamentos da Contabilidade U1 20 esses dados em informações econômicas e financeiras capazes de oferecer aos gestores elementos para análise e avaliação contínua do negócio. Constitui-se num importante e atualizado banco de dados, sendo fonte preciosa de informações sobre o negócio da empresa, necessárias para suprir e avaliar o processo de gestão. Campo de atuação/Usuários O campo de atuação da contabilidade é muito vasto, pois os usuários dos ser- viços contábeis são todas as Pessoas Físicas ou Pessoas Jurídicas que, direta ou indiretamente, tenham interesse na avaliação e no desenvolvimento de sua em- presa ou controle patrimonial particular. Portanto, serão estes os contratantes dos serviços contábeis. Vale lembrar que obrigatoriamente toda empresa deve ter um contador, que é o responsável técnico perante os órgãos governamentais. Esta premissa abrange até mesmo as pessoas de direito público, como a União, os Es- tados, os Municípios, as Autarquias. E quando se faz a contabilidade para a pessoa física ou pessoa jurídica, essa pessoa é denominada entidade contábil. Figura 1.2 | Entidade Contábil Fonte: O autor (2014) Contabilidade Pessoa Física Pessoa Jurídica Entidade Contábil Em uma entidade contábil teremos os usuários das informações geradas pela contabilidade, que são: administradores, sócios e acionistas, governo, bancos, concorrentes, sindicatos, empregados, fornecedores etc. Estes grupos de usuários, os das informações, podem ser classificados em internos e externos, cada um deles com interesse específico pelas informações contábeis. Figura 1.2 | Entidade Contábil Fonte: O autor (2014) Fonte: O autor (2014) Figura 1.3 | Usuários da Informação Contábil Fonte: O autor (2014) Entidade Contábil Usuários Internos Usuários Externos Usuários da Informação Contábil Fundamentos da Contabilidade U1 21 De uma forma mais completa e detalhada podemos dizer que os usuários externos são aqueles que se utilizam dos relatórios formatados pelos órgãos reguladores da profissão: acionistas e investidores; instituições financeiras; fornecedores; órgãos públicos; sindicatos e o mercado em geral. São aqueles que não atuam diretamente na empresa, mas que externamente querem ter conhecimento da situação patrimonial. Já os usuários internos são aqueles que, por atuarem na atividade da empresa, além de utilizarem dos relatórios normalizados, também solicitam e utilizam relatórios específicos: administradores; encarregados; diretoria e pessoal interno em geral. São aqueles que, por estarem fazendo a gestão da entidade, necessitam de informações específicas e detalhadas. O profissional da contabilidade Para atingir os objetivos da contabilidade os profissionais devem ser habilitados e vinculados ao órgão de classe, que além de regulamentar a profissão é responsável pela fiscalização do exercício da profissão. O profissional contábil é denominado contabilista. Ao contabilista, que tem formação acadêmica de Ensino Médio (antigo segundo grau), denomina-se técnico em contabilidade, e ao profissional que concluiu o Ensino Superior chamamos de contador. Importante ressaltar que o aluno concluinte do curso superior de ciências contábeis é chamado bacharel em ciências contábeis; para ser contador e atuar na contabilidade há a necessidade de registro no CRC – Conselho Regional de Contabilidade; está em regulamen tação o exame de suficiência para habilitar o bacharel a ter o registro como contador. Conforme Marion (1998, p. 26), tanto o contador quanto o técnico em contabilidade podem “ser responsáveis pela contabilidade das empresas, analistas de balanços, pesqui sadores contábeis etc.”. Cabe, no entanto, ao contador, algumas atividades que o técnico em contabilidade não pode assumir: auditoria; perícia contábil e professor de contabilidade, esta última com o complemento de, no mínimo, uma especialização. Segundo Marion (2003, p. 25), “a função básica do contador é produzir informações úteis aos usuários da contabilidade para a tomada de decisões.” Marion demonstra da seguinte forma (Quadro 1.1): Fundamentos da Contabilidade U1 22 Reflita sobre o estudo da contabilidade: seus principais conceitos, seu objetivo, usuários, campos de atuação etc. Aprofunde seu conhecimento sobre usuários da contabilidade acessando o link: <www.spell.org.br/documentos/download/15>. Acesso em: 15 dez. 2014. 1. Qual é o objeto de estudo da contabilidade? 2. Qual o objetivo principal da contabilidade? 3. Quem são os usuários da contabilidade? 4. Qual é o campo de ação da contabilidade? Fundamentos da Contabilidade U1 23 Seção 3 Estrutura Patrimonial e o Processo Contábil Nesta última seção serão apresentadas algumas definições de termos que, constantemente, nos deparamos na contabilidade. Logo após, abordaremos a estrutura do patrimônio, onde você, caro aluno, se deparará com o assunto mais extenso desta unidade, e, talvez, o mais relevante. Na sequência, será demonstrado que a contabilidade também ocorre seguindo um procedimento pré-definido, com normas estabelecidas padronizadas, que facilitam o acesso às informações por todos os usuários interessados. 3.1 Patrimônio Ao recorrer ao dicionário (FERREIRA, 1994, p. 488), as primeiras definições para patrimônio são: “Herança paterna. Bens de família.” Mais adiante define como direito: “Complexo de bens, materiais ou não, direito, ações, posse e tudo o mais que pertença a uma pessoa ou empresa e seja suscetível de apreciação econômica”. E como contabilidade: “A parte jurídica e material da azienda.” O Conselho Federal de Contabilidade — CFC (2010, p. 19), no apêndice à resolução sobre os princípios fundamentais de contabilidade, refere-se a dois aspectos do patrimônio: o qualitativo e o quantitativo: [...] entende-se a natureza dos elementos que o compõem como dinheiro, valores a receber ou a pagar expressos em moeda, máquinas, estoques de materiais ou de mercadorias etc. [Por outro lado, o aspecto quantitativo] [...] refere-se à expressão dos componentes patrimoniais em valores, o que demanda que a contabilidade assuma posição sobre o que seja valor. De acordo com Marion (2009), o termo patrimônio significa, a princípio, o con- junto de bens, pertencentes a uma pessoa ou a uma empresa. Compõe-se tam- bém de valores a receber (ou dinheiro a receber). Por isso, em Contabilidade, esses valores a receber são denominados direitos a receber ou, simplesmente, direitos. Fundamentos da Contabilidade U1 24 Patrimônio Relacionando-se, todavia, apenas bens e direitos, não se pode identificar a verda- deira situação de uma pessoa ou empresa. É necessário evidenciar as obrigações (dívidas) referentes aos bens ou direitos. Figura 1.4 | Patrimônio Fonte: O autor (2014) Portanto, em contabilidade, a palavra patrimônio tem sentido amplo: por um lado significa o conjunto de bens e direitos pertencentes a uma pessoa ou empresa; por outro lado, inclui as obrigações a serem pagas. 3.2 Patrimônio líquido Iudícibus (2004), ao falar sobre patrimônio líquido, cita diversas formas de abordagens: teoria do proprietário; teoria da entidade; teoria do acionista ordinário; teoria do fundo; teoria do comando e teoria do empreendimento. Embora não apresente de forma conclu siva qual é a melhor abordagem, cita que para um pequeno empreendimento “[...] a teoria da entidade para o patrimônio líquido está mais de acordo” (IUDÍCIBUS; MARION, 2002, p. 189). Podemos resumir que o patrimônio é composto de bens, direitos e obrigações men suráveis em dinheiro, que pertence a uma pessoa física ou jurídica. A expressão melhor aplicável é patrimônio líquido, uma vez que dos valores dos bens e direitos (parte positiva) deduzem-se asobrigações (parte negativa). Em outra definição, patrimônio líquido é o patrimônio que os sócios ou acionistas investiram na empresa acrescidos dos resultados da própria empresa que não foram dis tribuídos. Também pode ser denominado de situação líquida ou riqueza líquida. Pode-se também representar o patrimônio líquido por duas equações: Fundamentos da Contabilidade U1 25 Patrimônio Líquido = Bens + Direitos (-) Obrigações Patrimônio Líquido = Capital Social + Reservas + Lucros Acumulados Enquanto na primeira equação o patrimônio líquido é encontrado a partir de inventários ou levantamentos da situação da empresa, na segunda é encontrado a partir da soma dos subgrupos do lado direito do balanço patrimonial, após a apuração do resultado. 3.3 Bens São as coisas em geral, que por satisfazerem as necessidades das pessoas e empresas se tornam úteis e são expressas em valor monetário. São considerados itens de riquezas, porque, se são úteis, é possível negociar, vender, trocar, arrendar. As coisas que não forem passíveis de avaliação e mensuração econômica não podem ser consideradas bens. Quanto à forma física, os bens podem ser classificados em tangíveis e intangíveis. Tangíveis são os bens que têm forma física, são palpáveis. Ex.: veículos, máquinas, equi pamentos industriais, móveis, imóveis, instalações etc. Também chamados bens materiais. Intangíveis são os bens que não são materiais, mas que são mensuráveis. Ex.: marcas da empresa registrada, registro de inventos, ponto comercial, carteira de clientes etc. Também chamados bens imateriais. Quanto à mobilidade e facilidade de transferência de um local para outro, os bens podem ser classificados em imóveis e móveis. Bens imóveis são aqueles inseridos ao solo ou a outros bens, que não podem ser transferidos de local sem destruição ou perda de valor. Ex.: terrenos, edifícios, construções, árvores e alguns tipos de instalações e máquinas industriais. Bens móveis são aqueles que podem ser transferidos de local sem destruição ou perda de valor. Alguns dependem de outras pessoas para serem transferidos e outros se movem por si próprios. Ex.: máquinas, equipamentos, animais, veículos, estoques etc. 3.4 Direitos Em contabilidade, nos referimos a direito para os haveres que temos contra alguma pessoa ou empresa, é o poder jurídico de exigirmos alguma coisa ou valor de alguém. São exemplos de direito as duplicatas e títulos a receber, os aluguéis a receber, os impostos recuperáveis, entre outros. Automaticamente, se a sua empresa tem um direito, a outra empresa tem uma obrigação. Fundamentos da Contabilidade U1 26 3.5 Obrigações São dívidas que a pessoa ou empresa tem a pagar a outras pessoas. Dentro das obrigações teremos as Obrigações Exigíveis, que normalmente possuem prazo de vencimento e valor determinado. As Provisões são obrigações com quantia e data de vencimento incerto. A Contingência, que é uma obrigação que será confirmada através de um acontecimento posterior e também as que serão classificadas como Passivos Derivados de Apropriação por Competência (Accruals). Desde 2009, as provisões para 13º salário e férias, Imposto de Renda e Contribuição Social são tratadas como Passivos Derivados de apropriação por competência (accruals). Essa classificação aparece no item 11 do Pronunciamento Técnico do CPC 25 (2014, p. 6): (b) os passivos derivados de apropriações por competência (accruals) são passivos a pagar por bens ou serviços fornecidos ou recebidos, mas que não tenham sido pagos, faturados ou formalmente acordados com o fornecedor, incluindo valores devidos a empregados (por exemplo, valores relacionados com pagamento de férias). Embora algumas vezes seja necessário estimar o valor ou prazo desses passivos, a incerteza é geralmente muito menor do que nas provisões. Mesmo sem o termo “Provisão”, essas contas continuam existindo com as mesmas finalidades anteriores. Ribeiro (2013 p. 350) afirma que: “[...] as mudanças ocorreram apenas nas suas intitulações, nas quais não deve figurar mais o termo ‘provisão’, pois ele somente será empregado nos casos previstos na NBC TG 25”. 3.6 Demonstração da estrutura patrimonial Podemos representar a estrutura do patrimônio assim: ATIVO PASSIVO+PL Bens Obrigações Direitos Patrimônio Líquido Fundamentos da Contabilidade U1 27 A parte positiva do patrimônio, por convenção, será sempre demonstrada do lado esquerdo e a parte negativa do direito. Segundo Saldini (2002, p. 17), “podemos dizer que os bens e os direitos são positivos porque seus recursos estão disponíveis para operacionalizar a empresa, e as obrigações, por se tratarem de dívidas, fazem com que esses recursos diminuam”. Assim, os elementos positivos do patrimônio são chamados de Ativos e os elementos negativos de Passivos. O patrimônio líquido aparece do lado direito, junto aos elementos negativos, por representar a diferença entre a parte positiva e negativa, dando assim o equilíbrio na estrutura patrimonial. O relatório contábil que demonstra a estrutura patrimonial apurada em um determinado momento de forma estática é o Balanço Patrimonial. Exemplificando: Após iniciar a empresa e efetuar as primeiras compras, a empresa Exemplo 1 Ltda. apresentou os seguintes saldos: Capital social 15.000,00 Caixa 50,00 Fornecedores 2.050,00 Empréstimos bancários 5.000,00 Bancos conta movimento 5.000,00 Mercadorias para revenda 15.000,00 Móveis e utensílios 2.000,00 Na empresa Exemplo 1 Ltda. a estrutura patrimonial seria assim representada: ATIVO PASSIVO e PL Bens 17.050,00 Obrigações 7.050,00 Caixa 50,00 Bancos c/ movimento 2.500,00 Mercadorias 13.000,00 Móveis e Utensílios 1.500,00 Fornecedores 1.050,00 Empréstimos Bancários 6.000,00 Direitos Patrimônio Líquido Capital Social 10.000,00 Total do Ativo 17.050,00 Total do Passivo + PL 17.050,00 Na demonstração da estrutura patrimonial, o lado esquerdo será igual ao direito; Fundamentos da Contabilidade U1 28 Veja as ilustrações dessa época acessando o link <http://pt.wikibooks. org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Contabilidade/A_Contabilidade_na_ Idade_M%C3%A9dia>. Acesso em: 12 dez. 2014 O Método das Partidas Dobradas é utilizado quando ocorre um fato contábil na empresa e este fato deve ser contabilizado, a operação irá envolver duas ou mais contas, seguindo sempre o conceito que: Para cada débito existe um crédito e para cada lançamento a crédito irá ocorrer um lançamento a débito. A cada fato contábil existente na entidade, um registro contábil ou lançamento envol vendo duas contas são efetuados. O patrimônio líquido de uma entidade se altera a cada registro de fatos modificativos do patrimônio. Estes fatos são aqueles que envolvem receitas, custos e despesas. Ao abor dar o patrimônio líquido sob a mais antiga abordagem, a teoria do proprietário, Iudícibus (2004, p. 185) diz que “as receitas são consideradas como acréscimos de propriedade e as despesas, como decréscimos. Assim, o lucro líquido, diferença entre receitas e despesas, é adicionado diretamente ao proprietário”. Para melhor entender estas alterações no patrimônio líquido, deve se considerar, além das despesas, os custos das vendas e os impostos. Assim, cada registro de uma receita au mentará o lucro líquido e cada registro dos custos das vendas, impostos e despesas diminuirá o lucro líquido. Como o lucro líquido é de propriedade dos acionistas da empresa e será adicionado na estrutura patrimonial isso se deve ao fato de o patrimônio líquido ser a diferença entre bens e direitos menos as obrigações. Como o patrimônio líquido,na demonstração, é somado às obrigações para obter o total do lado direito, sempre existirá o equilíbrio ou igualdade entre os dois lados, daí a denominação Balanço Patrimonial. 3.7 Dinâmica patrimonial Para começarmos nosso estudo sobre a dinâmica patrimonial, vamos voltar um pouco no tempo. Iremos para o ano de 1494, quando o Frei Luca Pacioli publicou pela primeira vez o método das partidas dobradas. Fundamentos da Contabilidade U1 29 Receita Operacional Bruta 2.000,00 (-) Impostos (240,00) (=) Receita Operacional Líquida 1.760,00 (-) Custo das Vendas (1.000,00) (=) Resultado Operacional Bruto 760,00 (-) Despesas Operacionais Comissão de Venda (20,00) Frete sobre Vendas (50,00) (=) Resultado Operacional Líquido 690,00 da empresa, então a cada registro de um destes fatos o patrimônio vai se alterando para mais e para menos. Considerando que o estoque da empresa é de 13.000 unidades da mercadoria “Única”, vamos exemplificar esta dinâmica patrimonial incluindo na estrutura patrimonial alguns fatos contábeis modificativos do patrimônio: Venda à vista de 1.000 unidades da mercadoria “Única” por $2,00 cada ICMS sobre venda de 12% Comissão de venda de 1% Transporte para entrega das mercadorias vendidas no valor de $50,00 Desnecessário dizer que deve se registrar o custo das vendas, já que as unidades ven didas sairão dos estoques da empresa. Utilizamos para esta apuração do lucro líquido, que modificará o patrimônio líquido da empresa, a Demonstração do Resultado do Exercício — DRE, a qual ficará assim: Vimos, então, que o resultado líquido da empresa, demonstrado acima de forma simpli ficada, é de $690,00, isto quer dizer que o patrimônio líquido da empresa foi aumentado neste valor. Vamos demonstrar esta alteração na Estrutura Patrimonial, partindo da Estrutura Patrimonial e alterando estes fatos que foram demonstrados na DRE: ATIVO PASSIVO e PL Bens 18.050,00 Obrigações 7.360,00 Caixa 2.050,00 Bancos c/ movimento 2.500,00 Mercadorias 12.000,00 Móveis e Utensílios 1.500,00 Fornecedores 1.050,00 Impostos a Pagar 240,00 Comissões a Pagar 20,00 Fretes a Pagar 50,00 Empréstimos Bancários 6.000,00 Direitos Patrimônio Líquido 10.690,00 Capital Social 10.000,00 Lucro Líquido 690,00 Total do Ativo 18.050,00 Total do Passivo + PL 18.050,00 Fundamentos da Contabilidade U1 30 Inicialmente, o total dos recursos utilizados na empresa era de $17.050,00, sendo $7.050,00 recursos de terceiros (fornecedores e bancos) e $10.000,00 recursos próprios (acionistas da empresa). Após os registros dos fatos contábeis decorrentes desta venda (valor da venda, custos de vendas, impostos e despesas), temos então o total dos recursos utilizados na empresa de $18.050,00, sendo $7.360,00 recursos de terceiros (fornecedores, governo e bancos etc.) e $10.690,00 recursos próprios (acionistas da empresa). Estes $10.690,00 são os $10.000,00 investidos inicialmente pelos acionistas, que, em decorrência desta operação, rendeu $690,00, resultado líquido da empresa, conforme demonstrado na DRE. Reflita sobre a estrutura e dinâmica patrimonial — seus componentes, definições e sua posição dentro da estrutura da demonstração contábil. 3.8 Processo contábil Segundo o dicionário (FERREIRA, 1994, p. 530), uma das definições para processo é: “maneira pela qual se realiza uma operação, segundo determinadas normas; método, técnica.” Esta descrição se aplica perfeitamente ao processo contábil. Numa empresa, mesmo numa micro ou uma megaempresa, ocorrem atos e fatos admi nistrativos ou de gestão. Um ato administrativo é uma ação que pode ou não resultar em um fato administrativo, mas em si não motiva um registro contábil. Um fato admi nistrativo é toda ocorrência que se verifica no patrimônio e lhe traz variações, especí ficas ou quantitativas. São fatos suscetíveis de contabilização e por isso denominados fatos contábeis. Os fatos administrativos ou contábeis são diariamente gerados pelas atividades desenvolvidas por todos os departamentos de negócios de uma empresa. Enquanto numa pequena mercearia de bairro os fatos ocorrem em número reduzido, numa grande siderúrgica ocorrem em número elevadíssimo, pois tem departamentos que estão em ação durante o tempo todo, gerando fatos contábeis que precisam ser processados. Fundamentos da Contabilidade U1 31 Exemplo de ato administrativo: assinatura de um contrato de compra e venda que estabelece que a partir do próximo ano uma empresa entregará, por venda, à outra, uma determinada quantidade de produtos. Exemplo de fato administrativo ou contábil: uma operação de venda. Marion (1998) foi muito feliz ao demonstrar, por uma figura, o processo contábil, come çando com a coleta de dados (coleta dos fatos contábeis), processando na contabilidade e resultando nos relatórios contábeis que serão utilizados por usuários específicos com interesses distintos. Os fatos contábeis podem ser: • Permutativos: Apenas trocam recursos entre contas do Ativo e Passivo. • Modificativos: Produz efeito no resultado e, consequentemente, no Patrimônio Líquido. Mistos: Combinação de fato permutativo e modificativo em um único fato contábil. Pode-se dizer que da qualidade do processo depende a qualidade dos relatórios contábeis. Figura 1.5 | Processo Contábil Fonte: Marion (1998, p. 38) Para que este processo contábil (figura 1.5) seja eficaz, há a necessidade de que algumas etapas sejam desenvolvidas com muita eficiência: a) coleta de dados de fatos contábeis com documentação idônea; b) plano de contas adequado; c) escrituração feita por profissionais habilitados; d) observação integral dos princípios contábeis. Fundamentos da Contabilidade U1 32 Figura 1.6 | Plano de Contas PLANO DE CONTAS BÁSICO Código Descrição Nível Saldo 1 ATIVO 1 D 1.1 CIRCULANTE 2 D 1.1.1 Disponibilidades 3 D 1.1.1.1 Caixa 4 D 1.1.1.2 Bancos conta Movimento 4 D 1.1.1.2.1 Banco Palmares S/A 5 D 1.1.2 Créditos (valores a receber) 3 D 1.1.2.1 Clientes 4 D 1.1.2.2 (-) Provisão para créditos de liquidação duvidosa 4 C 1.1.2.3 (-) Duplicatas Descontadas 4 C Desta forma, haverá eficácia na elaboração dos relatórios e na colaboração à tomada de decisões pelos administradores da empresa. 3.9 Plano de contas “Plano de contas é o agrupamento de todas as contas que são utilizadas pela contabi lidade dentro de determinada empresa” (IUDÍCIBUS; MARION, 2002, p. 239). Os fatos contábeis são registrados em contas que os caracterizam, portanto um elenco de contas é fundamental. O plano de contas deve ser customizado para a empresa, a fim de estar adequado para as necessidades dela; deve constar as contas que serão utilizadas no momento e que, posteriormente, serão necessárias em decorrência das operações que a empresa desenvolve ou venha a desenvolver. Numa pequena empresa, não há a necessidade de constar no plano de contas a conta “empréstimos a empresas coligadas”, pois não será utilizada; da mesma forma, uma empresa comercial não precisará da conta IPI a recuperar, IPI a recolher ou IPI sobre faturamento, pois não é, e dificilmente será, contribuinte deste imposto. “Na prática, o Plano de Contas é numerado ou codificado de forma racional, o que facilita a contabilização por meio de processos mecânicos ou processos eletrônicos” (IUDÍCIBUS; MARION, 2002, p. 240). Informações necessárias para entender o Plano de Contas básico: • Código: numeração das contas para uso em sistemas informatizados. • Descrição: expressão que identifica o componente patrimonial. • Nível: 1 Identificaçãodos Recursos; 2 Grupo de Contas; 3 Subgrupos de Contas; 4 Contas; 5 Subcontas. Este nível pode continuar deixando cada vez mais analítico o detalhamento dos lançamentos. • Saldo: identifica a característica do saldo de cada conta: D, saldo devedor; C, saldo credor; e as contas com D/C tanto podem ter saldos Devedores quanto Credores. Fundamentos da Contabilidade U1 33 1.1.2.4 Impostos a recuperar 4 D 1.1.2.4.1 ICMS a recuperar 5 D 1.1.3 Estoques 3 D 1.1.3.1 Mercadorias para Revenda 4 D 1.1.4 Despesas do Exercício Seguinte 3 D 1.1.4.1 Encargos financeiros 4 D 1.1.4.2 Assinaturas de revistas técnicas 4 D 1.2 NÃO CIRCULANTE 2 D 1.2.1 Realizável a Longo Prazo 3 D 1.2.1.1 Clientes 4 D 1.2.1.2 Crédito com pessoas ligadas 4 D 1.2.1.3 Outros ativos 4 D 1.2.2 Investimentos 3 D 1.2.2.1 Aplicações em coligadas e controladas 4 D 1.2.2.2 Aplicações em outras empresas 4 D 1.2.2.3 Imóveis para Renda 4 D 1.2.3 Imobilizado 3 D 1.2.3.1 Terrenos 4 D 1.2.3.2 Construções prediais 4 D 1.2.3.3 Instalações 4 D 1.2.3.4 Máquinas e equipamentos 4 D 1.2.3.5 Móveis e Utensílios 4 D 1.2.3.6 Veículos 4 D 1.2.3.7 Equipamentos de informática 4 D 1.2.3.9 (-) Depreciação acumulada 4 C 1.2.4 Diferido 3 D 1.2.4.1 Gastos pré-operacionais 4 D 1.2.4.9 (-) Amortização acumulada 4 C PLANO DE CONTAS BÁSICO Código Descrição Nível Saldo 2 PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1 C 2.1 CIRCULANTE 2 C 2.1.1 Fornecedores 3 C 2.1.1.1 Fornecedores de Mercadorias 4 C 2.1.2 Empréstimos e Financiamentos 3 C 2.1.2.1 Capital de Giro 4 C 2.1.2.2 Financiamento de Bens 4 C 2.1.3 Obrigações Trabalhistas e Sociais 3 C 2.1.3.1 Salários a Pagar 4 C 2.1.3.2 INSS a recolher 4 C 2.1.3.3 FGTS a recolher 4 C 2.1.3.4 IRRF a recolher 4 C 2.1.3.5 Rescisões a pagar 4 C 2.1.4 Obrigações Fiscais 3 C 2.1.4.1 ICMS a Recolher 4 C 2.1.4.2 PIS a recolher 4 C 2.1.4.3 COFINS a recolher 4 C 2.1.4.4 IRPJ a recolher 4 C 2.1.4.5 CSLL a recolher 4 C 2.1.5 Outras contas a pagar 3 C 2.1.5.1 Comissões a Pagar 4 C 2.1.5.2 Pró-labore a pagar 4 C 2.1.5.3 Outras contas 4 C 2.1.6 Passivos Derivados de Apropriações por Competência 3 C 2.1.6.1 13º Salário 4 C 2.1.6.2 INSS sobre 13º salário 4 C 2.1.6.3 FGTS sobre 13º salário 4 C 2.1.6.1.3 FGTS sobre 13º salário 5 C 2.1.6.2 Férias 4 C 2.1.6.3 INSS sobre férias 4 C 2.1.6.4 FGTS sobre férias 4 C 2.2 NÃO CIRCULANTE 2 C 2.2.1 Empréstimos e Financiamentos 3 C 2.2.1.1 Capital de Giro 4 C 2.2.1.2 Financiamento de Bens 4 C Fundamentos da Contabilidade U1 34 2.3 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 2 C 2.3.1 Capital Social 3 C 2.3.1.1 Capital Subscrito 4 C 2.3.1.2 (-) Capital a Integralizar 4 D 2.3.2 Reservas de Lucros 3 C 2.3.2.1 Reservas para Contingências 4 C 2.3.2.2 Reserva Legal 4 C 2.3.3 Lucros ou Prejuízos Acumulados 3 C 2.3.3.1 Lucros do Exercício 4 C 2.3.3.2 Prejuízos do Exercício 4 C 2.3.9 (-) Ações em Tesouraria 3 D PLANO DE CONTAS BÁSICO Código Descrição Nível Saldo 3 CONTAS DE RESULTADO 1 D/C 3.1 Vendas Brutas 2 C 3.2 Deduções da receita bruta 2 D 3.2.1 Devoluções 3 D 3.2.2 Abatimentos 3 D 3.2.3 Impostos sobre vendas 3 D 3.2.3.1 ICMS sobre vendas 4 D 3.2.3.2 PIS sobre vendas 4 D 3.2.3.3 COFINS sobre vendas 4 D 3.3 Custos das Vendas 2 D 3.3.1 Custos das Mercadorias Vendidas (CMV) 3 D 3.4 Despesas com vendas 2 D 3.4.1 Comissões sobre vendas 3 D 3.4.2 Propaganda 3 D 3.4.3 Salários 3 D 3.4.4 Transporte 3 D 3.4.5 Encargos 3 D 3.5 Despesas administrativas 2 D 3.5.1 Depreciação 3 D 3.5.2 Alugueis 3 D 3.5.3 Pró-labore 3 D 3.5.4 Salários 3 D 3.5.5 Encargos 3 D 3.5.6 Materiais de escritório 3 D 3.5.7 Serviços de terceiros 3 D 3.6 Despesas Financeiras 2 D 3.6.1 Juros pagos 3 D 3.6.2 Variação Cambial 3 D 3.6.3 Descontos concedidos 3 D 3.7 Receitas Financeiras 2 C 3.7.1 Juros recebidos 3 C 3.7.2 Variação Cambial 3 C 3.7.3 Descontos obtidos 3 C 3.8 Impostos sobre Lucro 2 D 3.8.1 IRPJ 3 D 3.8.2 CSLL 3 D 3.9 Apuração do resultado 2 D/C Fonte: O autor (2014) 3.10 Princípios contábeis O Brasil é um país de dimensões continentais e naturalmente convivemos com uma diversidade de costumes, religiões, culturas e formações profissionais, além disso, as opi niões divergiriam caso não existissem regras e normas específicas. Para haver conformidade entre as demonstrações contábeis das entidades, principal mente para fins de comparabilidade, há a necessidade de que todos os profissionais das mais diferentes regiões do país sigam as mesmas regras no Fundamentos da Contabilidade U1 35 processo contábil e, conse quentemente, na elaboração das demonstrações. Nesse sentido, o Conselho Regional de Contabilidade (CRC) emitiu em 1981 a Re solução nº 530, publicada em 26 de janeiro de 1982, revogada pela Resolução nº 750, publicada em 31 de dezembro de 1993, que incorporou as alterações naturais ocorridas e trata dos Princípios Fundamentais da Contabilidade (PFC). Em 1986, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou pela Deliberação CVM nº 29, de 05 de fevereiro de 1986, a Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Contadores (IBRACON). Nessa estrutura estabelece hierarquiza ção entre os princípios fundamentais de contabilidade: postulados, princípios e convenções, e dá um tratamento diferenciado aos princípios fundamentais de contabilidade para um melhor entendimento e aplicabilidade (CVM, 2006). Em 02 de junho de 2010, novas alterações apresentadas na Resolução CFC 1.282/2010 foram realizadas e os Princípios Fundamentais de Contabilidade PFC passaram a denominar-se apenas Princípios de Contabilidade – PC. Princípios de Contabilidade (PC) Diz a já citada Resolução nº 1.282/2010 (CFC, 2010, p. 1): A observância dos Princípios de Contabilidade é obrigatória no exercí cio da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabi lidade (NBC). Na aplicação dos Princípios de Contabilidade, há situações concretas, e a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais. Diz ainda que os Princípios Contábeis contemplam o entendimento do mundo científico e profissional do país, e evidenciam que o objeto da contabilidade é o patrimônio das entidades. É no artigo 3º dos Princípios Contábeis, que estes são apresentados: Art. 3º São Princípios Fundamentais de Contabilidade: o da ENTIDADE; o da CONTINUIDADE; Fundamentos da Contabilidade U1 36 Conhecer as particularidades dos Princípios Contábeis será de grande importância para a continuação do estudo da Ciência Contábil. Leia a Resolução Atualizada no site: <http://www.oas.org/juridico/ portuguese/res_750.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2014 3.11 Escrituração contábil Utilizando o plano de contas previamente definido e considerando todos os princípios con tábeis, pode-se então fazer a escrituração contábil que resultará nas demonstrações contábeis. Neste material, vamos exemplificar a escrituração contábil de uma empresa comercial, passo a passo para melhor entendimento. Fatos contábeis Valor 1. Constituição da sociedade 100.000,00 2. Recebimento do capital dos sócios em dinheiro 100.000,00 3. Aquisição à vista de móveis 5.000,00 4. Depósito no banco 90.000,00 5. Aquisição à vista de mercadorias para revenda 30.000,00 6. Aquisição a prazo de mercadorias para revenda 20.000,00 7. Venda à vista de mercadorias 5.000,00 8. Custo das vendas 3.000,00 9. ICMS sobre vendas 600,00 10. Venda a prazo de mercadorias 3.000,00 11. Custo das vendas 1.800,00 12. ICMS sobre vendas 360,00 3.12 Método por demonstrações sucessivas O método por demonstrações sucessivas, também chamado de Contabilidade por Balanços Sucessivos, consiste na elaboração de demonstrações contábeis a cada registro de um fato contábil. o da OPORTUNIDADE; o do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL; o da COMPETÊNCIA; o da PRUDÊNCIA. Fundamentosda Contabilidade U1 37 Tabela 1.1 | Balanço Patrimonial – Fato 1 Fonte: O autor (2014) A cada registro dos fatos contábeis vamos elaborar as demonstrações, demonstrando assim, de forma dinâmica, como os saldos das contas vão se formando. • Fato 1: Constituição da sociedade: $100.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 1. • Fato 2: Recebimento do capital dos sócios em dinheiro, $100.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 2. Tabela 1.2 | Balanço Patrimonial – Fato 2 Fonte: O autor (2014) • Fato 3: Aquisição à vista de móveis, $5.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 3. Tabela 1.3 | Balanço Patrimonial – Fato 3 Fonte: O autor (2014) Fundamentos da Contabilidade U1 38 • Fato 5: Aquisição à vista de mercadorias para revenda, $30.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 5. • Fato 4: Depósito no banco, $90.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 4. Tabela 1.4 | Balanço Patrimonial – Fato 4 Fonte: O autor (2014) Tabela 1.5 | Balanço Patrimonial – Fato 5 Fonte: O autor (2014) • Fato 6: Aquisição a prazo de mercadorias para revenda, $20.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 6. Tabela 1.6 | Balanço Patrimonial – Fato 6 Fonte: O autor (2014) Fundamentos da Contabilidade U1 39 Tabela 1.6 | Balanço Patrimonial – Fato 6 Tabela 1.7 | Balanço Patrimonial – Fato 7 Fonte: O autor (2014) • Fato 7: Venda à vista de mercadorias, $5.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 7: Tabela 1.8 | Demonstração do Resultado – Fato 7 Fonte: O autor (2014) Neste fato contábil existe a modificação do patrimônio porque é uma geração de re ceitas, um determinado bem foi vendido gerando resultado positivo para a entidade. O resultado líquido da Demonstração do Resultado é automaticamente transferido para o grupo patrimônio líquido no Balanço Patrimonial. • Fato 8: Custo das Vendas, $3.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 8. Fundamentos da Contabilidade U1 40 Tabela 1.9 | Balanço Patrimonial – Fato 9 Fonte: O autor (2014) Tabela 1.10 | Demonstração do Resultado – Fato 8 Fonte: O autor (2014) Neste fato contábil existe a modificação do patrimônio porque é um custo das receitas geradas, um determinado bem foi vendido gerando resultado positivo para a entidade (fato 7), mas estes bens vendidos tinham custos de aquisição que até esse momento faziam parte dos ativos da empresa, ao serem vendidos devem ser baixados do Ativo. • Fato 9: ICMS sobre vendas, $600,00. Demonstração após o registro do fato contábil 9. Tabela 1.11 | Balanço Patrimonial – Fato 9 Fonte: O autor (2014) Fundamentos da Contabilidade U1 41 Tabela 1.12 | Demonstração do Resultado – Fato 9 Fonte: O autor (2014) Sobre estes bens vendidos incidiram impostos sobre venda que serão pagos em prazo estabelecido, gerando então, até ser pago, uma obrigação a pagar. • Fato 10: Venda a prazo de mercadoria, $3.000,00. Demonstração após o registro do fato contábil 10. Tabela 1.13 | Balanço Patrimonial – Fato 10 Fonte: O autor (2014) Fundamentos da Contabilidade U1 42 Tabela 1.14 | Demonstração do Resultado – Fato 10: Fonte: O autor (2014) • Fato 11: Custo das Vendas, $1.800,00. Demonstração após o registro do fato contábil 11. Tabela 1.15 | Balanço Patrimonial – Fato 11 Fonte: O autor (2014) Tabela 1.16 - Demonstração do Resultado – Fato 11 Fonte: O autor (2014) Fundamentos da Contabilidade U1 43 Tabela 1.15 | Balanço Patrimonial – Fato 11 • Fato 12: ICMS sobre vendas, $360,00. Demonstração após o registro do fato contábil 12. Tabela 1.17 | Balanço Patrimonial – Fato 12 Fonte: O autor (2014) Tabela 1.18 | Demonstração do Resultado – Fato 12 Fonte: O autor (2014) Embora seja de fácil entendimento, somente é aplicável didaticamente porque na prática o número de registros diários inviabiliza a sua aplicabilidade. No entanto, didaticamente, demonstram de forma dinâmica as modificações que ocorrem nas demonstrações, Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado a cada fato contábil registrado. Fundamentos da Contabilidade U1 44 Figura 1.7 | Razonetes Fonte: O autor (2014) Nesse momento as demonstrações contábeis terão os mesmos saldos do método por demonstrações contábeis sucessivas, visto que apenas alterou-se o método de contabilização. Ficando assim: Método por razões analíticos ou razonetes “Razão é um livro atualmente obrigatório, [...] é indispensável em qualquer tipo de empresa [...] O registro no razão é realizado em contas individualizadas; tem-se assim um controle por conta” (MARION, 1998, p. 146). O razonete “é uma representação gráfica em forma de T bastante utilizada pelos contadores. É um instrumento didático para desenvolver o raciocínio contábil” (MARION, 1998, p. 111). Registram-se os mesmos fatos contábeis utilizando os razonetes. Fundamentos da Contabilidade U1 45 Tabela 1.19 | Balanço Patrimonial Fonte: O autor (2014) Tabela 1.20 - Demonstração do Resultado Fonte: O autor (2014) Relatórios Contábeis Os relatórios contábeis devem evidenciar informações diferenciadas para cada tipo de usuário. O Accounting Research Study nº 1, editado pelo AICPA - American Institut of Certified Public Accountants, em 1961, citado por Iudícibus (2004, p. 123) diz que “os demonstrativos contábeis deveriam evidenciar o que for necessário, a fim de não torná-los enganosos.” A evidenciação (disclosure) tem como meta atingir os objetivos da Contabilidade sendo o principal deles o de prover informação útil para a tomada de decisões econômicas. Conforme Braga (1995, p. 38), “a contabilidade é o grande banco de dados históricos da empresa. O registro sistemático desses dados permite à administração Fundamentos da Contabilidade U1 46 conhecer, através dos saldos das contas, a posição patrimonial e os resultados alcançados em cada período”. Pode-se classificar as demonstrações em dois grupos para fins de estudo: demonstrações gerenciais para uso interno e demonstrações contábeis para divulgação externa. Enquanto os usuários externos utilizam demonstrações formatadas legalmente, aos internos deve ter, também, à disposição, quaisquer relatórios que possam auxiliar na tomada de decisão. Embora alguns relatórios não são obrigatórios legalmente, para uma boa evidenciação externa das informações são de grande importância. Enumera-se os seguintes relatórios ou demonstrações contábeis: 1) Balanço Patrimonial. 2) Demonstração do Resultado. 3) Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados. 4) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. 5) Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. 6) Demonstração do Fluxo de Caixa. 7) Demonstração do Valor Adicionado. 8) Notas Explicativas. Balancete de verificação O Balancete de verificação não é propriamente uma demonstração, pois faz parte ainda do processo contábil da escrituração. Após efetuada a escrituração em razões analíticas ou razonetes, conta a conta, emite-se uma relação de contas com os saldos extraídos dos registros contábeis em determinada data. Assim sendo, o Balancete de verificação será referente a uma data específica e, assim como o balanço patrimonial, é uma demonstração estática. Fundamentos da Contabilidade U1 47 Athar (2005, p. 35) descreve que: “o balancete, uma espécie de diminutivo de balanço, verifica a correção da aplicação do método das partidas dobradas.” Ribeiro (2013, p. 113) conceitua Balancete como: “Balancete é uma relação de contas extraídas do Livro Razão (ou dos razonetes), com seus respectivos saldos devedores e credores.” O grau de detalhamento e ordem das contasdeverá ser de acordo com a sua finalidade e quando entregue a usuários externos devem conter o nome e assinatura do contabilista responsável, categoria profissional e número de registro no CRC. O Balancete de verificação da escrituração exemplificada neste material seria assim exposto: Tabela 1.21 | Balancete de Verificação Fonte: O autor (2014) 1. A empresa Bambolê Ltda. apresentou ao final do exercício social um ativo de R$ 182.000,00 e um passivo de R$ 150.000,00. Qual o valor do Patrimônio Líquido dessa empresa? a) R$ 182.000,00. b) R$ 150.000,00. c) R$ 112.000,00. d) R$ 32.000,00. e) R$ 332.000,00. Fundamentos da Contabilidade U1 48 2. O Patrimônio de uma entidade é composto por: a) Apenas de Bens. b) Apenas de Bens e Direitos. c) Apenas de Obrigações. d) Receitas e Despesas. e) Bens, Direitos e Obrigações. 3. No mês de dezembro. a empresa ALM Ltda. apresentou o saldo final das suas contas: - Bens R$ 125.000,00 - Obrigações R$ 115.000,00 - Direitos R$ 120.000,00 De acordo com as informações acima, o Patrimônio Líquido da empresa é de: a) R$ 245.000,00. b) R$ 130.000,00. c) R$ 125.000,00. d) R$ 360.000,00. e) R$ 115.000,00 Nesta unidade apresentamos um pouco da história da Contabilidade, através do estudo de algumas escolas do pensamento contábil. Conhecendo como surgiram os principais pensamentos contábeis. passamos a conhecer como trabalhar a Contabilidade dentro de uma entidade, apresentando conceitos importantes para seu estudo. Na primeira seção o estudo foi voltado para a Evolução da Contabilidade, dando embasamento para o estudo da seção 2, onde foram apresentados o objeto e o objetivo de estudo da Contabilidade, finalizando o estudo, na seção 3, apresentando a Estrutura Patrimonial e o Processo Contábil. Fundamentos da Contabilidade U1 49 Nesse nosso processo de ensino, em que todos estão cientes da responsabilidade perante o aprendizado, em que é exigido do acadêmico uma dedicação muito grande e disciplina no tempo. A contabilidade tem papel vital na gestão das empresas e por isso o seu aprendi zado deve ser encarado com muita seriedade. Pelo seu dinamismo, que acompanha as modificações e crescimento tecnológico, por sua abrangência por alcançar todo tipo de empresa e por estar sujeita às mudanças constantes da lei, desejamos que seu estudo em contabilidade não se limite apenas a este material, mas que avance pela ciência contábil, pois todos os itens aqui abordados carecem de aprofundamento nos estudos para que se tenha um conhecimento científico maior. Aprofunde seus estudos através de leituras das Normas Brasileiras de Contabilidade, que podem ser facilmente encontradas no site do Conselho Federal de Contabilidade. Que todos possamos ter nossos conhecimentos ampliados ao final deste estudo. 1. Defina Patrimônio. 2. O que é Patrimônio Líquido? 3. Analise as informações abaixo: I - Gerente é um usuário Interno. II - Encarregado é um usuário Externo. III - Investidores são usuários Externos. IV – Fornecedor é um usuário Interno. a) Somente as alternativas I e IV estão corretas. b) Somente as alternativas I e II estão corretas. c) Somente as alternativas I e III estão corretas. Fundamentos da Contabilidade U1 50 d) Somente as alternativas II e IV estão corretas. e) Somente a alternativa IV é correta. 4. No mês de dezembro a empresa ALM Ltda. apresentou o saldo final das suas contas: - Bens R$ 125.000,00 - Obrigações R$ 115.000,00 - Direitos R$ 120.000,00 De acordo com as informações acima, o Patrimônio Líquido da empresa é de: a) R$ 245.000,00. b) R$ 130.000,00. c) R$ 125.000,00. d) R$ 360.000,00. e) R$ 115.000,00 Observe abaixo o razonete da conta Duplicata a Receber: É correto o que se afirma em: a) Duplicata a Receber tem saldo credor de R$ 267.600,00. b) Duplicata a Receber tem saldo devedor de R$ 321.000,00. c) Duplicata a Receber teve mais saídas do que entradas. d) Duplicata a Receber tem saldo devedor de R$ 114.800,00. e) Duplicata a Receber tem saldo credor de R$ 191.200,00. U1 51Fundamentos da Contabilidade Referências ATHAR, Raimundo Aben. Introdução à contabilidade. São Paulo: Prentice Hall, 2005. BRAGA, Roberto. Fundamentos e técnicas de adminis tração financeira. São Paulo: Atlas, 1995. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Plano estratégico: 2005-2007. [s.l.]: Comissão de Valores Mobiliários, 2006. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/ port/relgest/planoestrat2005.pdf>. Acesso em: 24 out. 2007. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Prin cípios e normas brasileiras de contabilidade. Bra sília: CFC, 2010. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. FIPECAFI. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. IUDÍCIBUS, Sérgio; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da contabilidade. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004. MARION, José Carlos. Contabilidade básica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1998. MARION, José Carlos. Contabilidade básica. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2009. MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2003. PRONUNCIAMENTO técnico do CPC 25. Comitê de Pronunciamentos de Contábeis. Disponível em: <http://static.cpc.mediagroup.com.br/Documentos/304_ CPC%2025.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2014 RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade geral fácil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. SALDINI, Renato Nogueira. Contabilidade introdutória: para a área de gestão em cursos técnicos e de qualificação profissional. São Paulo: Textonovo, 2002. SCHMIDT, Paulo; SANTOS, José L. Fundamentos de controladoria. São Paulo: Atlas, 2006. Nesta seção serão apresentadas e discutidas as principais demonstrações contábeis externas. Alguns destes relatórios são de confecção obrigatória por todos os tipos de empresas, enquanto algumas são restritas a empresas de capital aberto. As demonstrações abordadas são: • Balanço Patrimonial. • Demonstração da Estrutura Patrimonial. • Demonstração do Resultado do Exercício. • Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL). • Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA). • Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). • Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Seção 1 | Principais Demonstrações Contábeis Objetivos de aprendizagem: O objetivo primordial desta unidade é conhecer a estrutura e as informações oferecidas pelas principais demonstrações contábeis. Serão abordadas, também, as recentes mudanças legislativas que influenciaram na composição dos relatórios financeiros, e os resultados esperados em decorrência dessas modificações. Vânia de Almeida Silva Machado Unidade 2 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Demonstrações Contábeis U2 54 A Lei nº 11.628/07 (BRASIL, 2007b) representa um grande avanço para as demonstrações contábeis, pois foi o primeiro passo para adaptação com as normas internacionais. Do ponto de vista econômico, ela simplifica as relações do capital externo com as empresas nacionais, auxiliando, assim, na captação de recursos de investidores externos. Seção 2 | Lei nº 11.628/07: alterações e contribuições para análise contábil Demonstrações Contábeis U2 55 Introdução à unidade As demonstrações contábeis podem ser consideradas como relatórios que apontam a situação financeira da empresa. O objetivo primordial de sua realização é mensurar o patrimônio da entidade. Outras motivações também podem ser apontadas, tais como: verificar a evolução da empresa; apurar o lucro real; servir de fundamento para novos planejamentos; verificar erros/acertos gerenciais; atrair investimentos; conquistarfinanciamentos; entre outros. Todavia, as demonstrações não expressam, de forma clara, todos os dados passíveis de serem extraídos delas. A correta análise das informações ali expostas é de suma importância para se atingir o objetivo almejado. Por exemplo, considere-se na posição de um Gerente Bancário, na situação de avaliador quanto à concessão de um empréstimo à determinada empresa do ramo industrial. A empresa almeja o crédito para ampliação de suas instalações. Prudente, você solicita as demonstrações contábeis dos últimos três anos. A simples leitura das informações prestadas nas demonstrações apresentadas pela empresa não renderá a conclusão almejada: ceder ou não o financiamento. Faz-se necessário que você, como Gerente Bancário, avalie o risco em conceder o empréstimo. Para tanto, é importante saber realizar a análise das demonstrações apresentadas. Mais importante ainda é saber como funciona as estruturas das demonstrações contábeis. Outro exemplo que podemos abordar consta do seguinte: você. como Administrador de uma determinada empresa de capital fechado, é questionado pelos proprietários, que apesar do relatório apontar lucro, eles não verificaram o montante informado nos caixas/bancos etc. Para onde foi o dinheiro? Ora, é natural que muitos empresários não possuam formação ou conhecimento da área financeira. E é provável que os proprietários estejam se baseando no lucro apurado pelo relatório contábil Demonstração do Resultado do Exercício para cobrar o destino do dinheiro informado pela demonstração. Cabe a você apurar através de outro relatório contábil a Demonstração do Fluxo de Caixa, como foi a evolução do caixa no exercício e relatar aos proprietários a veracidade das informações e a razão das diferenças verificadas. Demonstrações Contábeis U2 56 Em toda área administrativa financeira, portanto, é significante o conhecimento contábil, uma vez que são os relatórios contábeis que irão relatar a situação financeira das empresas. Nesta unidade, iremos abordar a estrutura das principais demonstrações contábeis, a fim de que você, aluno, consiga atingir o domínio das informações relacionadas nesses relatórios, para, posteriormente, conseguir fazer um dos passos mais importantes da Gestão Financeira e Estratégica: a Análise das Demonstrações Contábeis. Demonstrações Contábeis U2 57 Seção 1 Principais Demonstrações Contábeis As demonstrações contábeis são relatórios de certo grau de complexidade, porém de alta relevância para um bom funcionamento da empresa, tanto no âmbito gerencial como comercial. Para uma gestão de qualidade, é imprescindível ao administrador o perfeito domínio destes relatórios. Abordaremos, portanto, os principais relatórios contábeis, de forma separada e mais aprofundada, porém antes iremos abordar um pressuposto básico para a elaboração das demonstrações contábeis: o regime de competência e regime de caixa. Para iniciar nosso estudo, vamos aprender primeiramente sobre a Contabilização de duas formas diversas: Regime de Caixa e Regime de Competência. 1.1 Regime de Caixa e Regime de Competência De acordo com o CPC (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2011, p. 2): Um pressuposto básico para a elaboração das Demonstrações Contábeis é o da apropriação das receitas e das despesas, com suas mutações nos ativos e passivos e, consequentemente, no patrimônio líquido, com fundamento nos momentos em que seus fatos geradores contábeis ocorrem, e não apenas quando de seus reflexos no caixa. Isso caracteriza o Regime de Competência. Por outro lado, esses fatos geradores devem estar fundamentados economicamente, mas respaldados em fluxos de caixa já acontecidos ou em pagamentos e recebimentos por acontecer, mas desde que estes últimos sejam derivados de fatos geradores já ocorridos. O Regime de Competência exige também a confrontação das despesas com as receitas a que se relacionam. Demonstrações Contábeis U2 58 1.1.1 Regime de competência Esse regime é universalmente adotado, aceito e recomendado pelo Imposto de Renda. Segundo esse sistema, as despesas e receitas são reconhecidas pela contabilidade independente do seu pagamento (desencaixe) ou recebimento (encaixe) respectivamente. No caso das RECEITAS: Imaginem que determinada empresa realizou uma venda a prazo no dia 02/08/XX para recebimento em 45 dias. Pelo regime de competência, esta receita será reconhecida e, portanto, contabilizada no mesmo dia, 02/08/XX, independente de não ter havido a entrada de valores no caixa (encaixe). No caso das DESPESAS: Imaginem que na empresa acima citada, houve a compra de materiais de escritório no dia 05/08/XX e o seu pagamento será efetuado apenas no final do mês. Pelo regime de competência, essa despesa (compra) será reconhecida e, portanto, contabilizada no mesmo dia da aquisição, 05/08/XX, mesmo que ainda não tenha sido efetuado o pagamento (desencaixe). 1.1.2 Regime de caixa Este regime implica numa forma simplificada da contabilidade, na qual irá reconhecer uma despesa ou receita quando efetivamente houver a entrada de valores (encaixe) ou a saída de valores (desencaixe), respectivamente. No caso das RECEITAS: Apenas será contabilizada no momento em que haja o seu recebimento. Uma venda a prazo, para recebimento em 45 dias, somente será registrada na contabilidade quando do seu efetivo recebimento. No caso das DESPESAS: Será alvo de contabilização aquela despesa efetivamente paga. Uma compra a prazo, por exemplo, a aquisição de materiais para escritório, só será reconhecida pela contabilidade quando o seu pagamento for realizado. 1.1.3 Apuração de resultado obedecendo ao regime de caixa e regime de competência Para melhor entender a diferença na aplicação do Regime de Competência e Regime de Caixa, segue o exemplo. A empresa Ciranda das Máquinas Ltda. efetuou uma venda no dia 09/07/20XX no valor de R$ 50.000,00, houve recebimento, no ato, de R$ 28.000,00 e o restante mediante uma duplicata a receber para 09/08/20XX. No mesmo período a empresa incorreu em despesas num valor de R$ 19.000,00, dos quais apenas R$ Demonstrações Contábeis U2 59 11.000,00 foram pagos e o restante será liquidado em 30/60 e 90 dias. De acordo com cada regime apresentado, o resultado assim seria evidenciado: Quadro 2.1 | Comparativo entre regime de competência x regime de caixa Fonte: O autor (2014) Apuração do Resultado – DRE Regime de COMPETÊNCIA Regime de CAIXA Receita 50.000,00 28.000,00 ( - ) Despesas (19.000,00) (11.000,00) ( = ) Resultado 31.000,00 17.000,00 Pelo Regime de Competência, não importa se houve o recebimento ou pagamento para apuração do resultado. Pelo Regime de Caixa, observa-se que o resultado encontrado é o confronto daquilo que realmente foi recebido e pago no ato. 1.2 Características Qualitativas das Demonstrações Contábeis Na elaboração das demonstrações contábeis devem obrigatoriamente apresentar quatro características qualitativas: Compreensibilidade, Relevância, Confiabilidade e Comparabilidade. A Compreensibilidade se baseia no objetivo do pronto entendimento por parte do usuário que tenha as seguintes características apresentadas no pronunciamento técnico, do CPC (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2011, p. 3): [...] presume-se que os usuários das Demonstrações Contábeis tenham um conhecimento razoável dos negócios, atividades econômicas e de contabilidade e a disposição de estudar as informações com razoável diligência. Mas a complexidade de qualquer assunto não deve levar à falta de registro, de registro apropriado ou de evidenciação sob o argumento de eventual dificuldade de entendimento por parte desse usuário. A Relevância apresenta a influência de uma informação contábil na tomada de decisões, ajudando os usuários a avaliar
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