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Tribunal de Justiça de Minas Gerais 1.0701.11.014162-2/005Número do 0141622-Númeração Des.(a) Márcia De Paoli BalbinoRelator: Des.(a) Márcia De Paoli BalbinoRelator do Acordão: 13/02/2014Data do Julgamento: 25/02/2014Data da Publicação: EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO DA RÉ - REJEIÇÃO - LEGITIMIDADE PASSIVA DA RÉ - CONFIGURAÇÃO - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS AFASTADA - JULGAMENTO DO PEDIDO DE INDENIZAÇÃO CONFORME ART. 515, §3º DO CPC - NEGATIVAÇÃO DO NOME DO CONSUMIDOR - FALHA DO SERVIÇO - CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA - INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO E IRREGULARIDADE DA NEGATIVAÇÃO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS ART. 14 E 29 DO CDC - DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO - DEVER DE INDENIZAR - VALOR DA INDENIZAÇÃO MORAL - PARÂMETROS E CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO - JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA - INDENIZAÇÃO MATERIAL PELO VALOR PAGO A TÍTULO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATADOS - NEXO CAUSAL - INEXISTÊNCIA - DEVER DE INDENIZAR - NÃO VERIFICAÇÃO - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - FIXAÇÃO NOS TERMOS DO ART. 20, § 3º, DO CPC - CABIMENTO -1º RECURSO PROVIDO EM PARTE. 2º RECURSO NÃO PROVIDO. - A apelação manejada em observância ao prazo do art. 508 é tempestiva. - O prazo de cinco anos previsto pelo art. 27 do CDC tem prevalência sobre o previsto no art. 206 do CCB/2002, se no caso houver relação de consumo ainda que por equiparação. - O termo inicial para a fluência do prazo prescricional só se inicial com a ciência da parte quanto ao evento danoso, conforme teoria da actio nata est. 1 Tribunal de Justiça de Minas Gerais -O § 3º do art. 515 do CPC permite ao Tribunal julgar desde logo a lide se a causa versar sobre questão exclusivamente de direito ou se já estiver em condições de imediato julgamento. - A teor dos art. 14 e 29, do CPC, o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores, ainda que equiparados, por defeitos relativos à prestação dos serviços. - A simples negativação indevida enseja dano moral e direito à indenização em tese, independente de qualquer outra prova, porque neste caso é presumida a ofensa à honra e ao bom nome do cidadão. - O fato de o negócio jurídico ter sido celebrado por fraude de terceiro não enseja a incidência da excludente de responsabilidade por culpa exclusiva deste, já que a responsabilidade civil do prestador de serviços é objetiva, consoante o Código de Defesa do Consumidor, tendo agido este, ainda, com negligência, ao contratar sem as devidas cautelas, por falha do serviço. - O valor da indenização por danos morais deve ser fixado de forma proporcional às circunstâncias do caso, com razoabilidade e moderação. - Os juros de mora, de 1% a.m. em caso de ilícito extracontratual, devem incidir desde a data do primeiro evento danoso. - A correção monetária incide a partir da data da decisão que arbitrar a indenização por dano moral, nos termos da Súmula nº 362, do STJ. - A simples contratação de advogado para o ajuizamento de ação judicial não induz, por si só, a existência de ilícito gerador de danos materiais por honorários contratados. 2 Tribunal de Justiça de Minas Gerais - Tratando-se, pois, de sentença de natureza condenatória, os limites da fixação dos honorários são os estipulados pelo art. 20 § 3º do CPC. - Preliminares rejeitadas. Prejudicial de prescrição afastada. 1º Recurso provido em parte. 2º Recurso não provido. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0701.11.014162-2/005 - COMARCA DE UBERABA - 1º APELANTE: MARIA LIBERIA DA SILVA BARBANTINI - 2º APELANTE: ATLÂNTICO FUNDO INVESTIMENTO DIREITOS CREDITORIOS NÃO PADRONIZADOS - APELADO(A)(S): ATLÂNTICO FUNDO INVESTIMENTO DIREITOS CREDITORIOS NÃO PADRONIZADOS, MARIA LIBERIA DA SILVA BARBANTINI A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos em REJEITAR A PRELIMINAR, AFASTAR A PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO, DAR PARCIAL PROVIMENTO AO 1º RECURSO E NEGAR PROVIMENTO AO 2º RECURSO. DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO RELATORA. DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO (RELATORA) V O T O Maria Liberia da Silva Barbantini ajuizou ação declaratória de inexistência de débito c/c indenização por danos morais contra Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, alegando que foi surpreendida, em abril de 2011, com a informação de que seu nome havia sido negativado por solicitação da ré, em 09/07/2006, por dívida no valor de R$144,80. Aduziu que jamais manteve qualquer relação contratual com a ré e que a negativação é indevida. Formulou pedido de antecipação de tutela de cancelamento do apontamento. Ao 3 Tribunal de Justiça de Minas Gerais final, requereu a declaração de inexistência do débito, a condenação da ré no pagamento de indenização por danos materiais referente ao valor pago pela autora a título honorários advocatícios contratuais a seus patronos e no pagamento de indenização por danos morais. Pela decisão de f. 39, o MM. Juiz deferiu a inversão do ônus da prova e a antecipação de tutela mediante depósito do valor da negativação. Na contestação de f. 74/83, a ré, Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado, suscitou preliminar de ilegitimidade passiva, ao argumento de que não deu causa aos fatos. Arguiu, ainda, prejudicial de prescrição, entendendo pela aplicação do art. 206, §3º, IV e V do CCB/2002. Salientou que o nome da autora foi negativado no ano de 2006 e a presente ação ajuizada em 2011, ou seja, quando transcorrido mais de 03 anos. No mérito, asseverou que não foi a responsável pela negativação do nome da autora. Sustentou que não cometeu qualquer ato ilícito e que a autora não fez prova de qualquer dano a ensejar sua condenação no pagamento de indenização. Defendeu que a contratação de advogado representa uma opção da parte na busca de um reconhecimento pelo seu direito, custo que não pode ser repassado à parte adversa. Requereu a improcedência dos pedidos iniciais. Em eventualidade, pediu que o arbitramento do valor da indenização observasse os pr incíp ios da razoabi l idade e da proporc ional idade. Na impugnação de f. 96/105, a autora refutou a preliminar e prejudicial argüidas. No mérito, defendeu a procedência de seus pedidos iniciais. Pela sentença de f. 112/114, o MM. Juiz rejeitou a preliminar de ilegitimidade, acolheu a prejudicial de prescrição quanto ao pedido de reparação de danos, face aplicação do art. 206, §3º, V, do CCB/2002 e, no mérito, julgou procedente em parte o pedido inicial para declarar a inexistência do débito, ao fundamento de que não foi demonstrado pela ré que o apontamento era legítimo. 4 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Constou da sentença: "(...) Assim, diante da ilegitimidade da negativação, não há motivos para manter o nome da autora inscrito nos órgãos de proteção ao crédito. À vista do exposto e por tudo mãos que dos autos consta. Julgo parcialmente procedente o pedido inicial, tão somente para declarar a inexistência do débito cobrado às fls. 22. O pedido de reparação por danos morais resta prejudicado, pois prescrito, eis que decorrido o lapso temporal de 03 anos previsto pelo Código Civil. Pagará o requerido 70% (setenta por cento) das custas processuais, além de honorários advocatícios, que fixo em R$1.000,00 (mil reais) nos termos do art. 20, §4º do CPC, já compensada a sucumbência recíproca. Os honorários deverão ser corrigidos também pela tabela da CGJ, com aplicação de juros de 1% (um por cento) ao mês, tudo a partir da citação." A autora apresentou recurso de apelação às f. 117/146, alegando que sua pretensão de reparação de danos não encontra-se prescrita, eis que a contagem do prazo prescricional inicia-se apenas a partir do conhecimento do dano e de sua autoria, nos termos do art. 27, do CDC, aplicávelao caso, e, ainda, por aplicação da teoria da actio nata. Salienta que tomou ciência da existência da negativação em 12/04/2011. Quanto ao pedido de indenização moral, alega que não celebrou qualquer contrato com a ré. Aduz que a mera negativação indevida enseja dano moral. Tece considerações sobre o quantum indenizatório. Defende o arbitramento dos honorários advocatícios no patamar de 20% sobre o valor da condenação. Requer, ao final, a reforma da sentença para que seja declaração a não prescrição de seu 5 Tribunal de Justiça de Minas Gerais direito à reparação moral, com a condenação da ré no pagamento de indenização por danos morais, além da majoração do valor dos honorários advocatícios. A ré apresentou embargos de declaração às f. 148/151, que não foram acolhidos pelo MM. Juiz, conforme decisão de f. 152, decisão esta que também recebeu o recurso de apelação da autora. À f. 154, a autora manifestou-se nos autos para ratificar os termos de seu recurso de apelação. Nas contrarrazões de f. 156/159, a ré pediu a manutenção da sentença quanto à declaração de prescrição da pretensão de indenização moral da autora. A ré, por sua vez, apresentou recurso de apelação às f. 161/165, requerendo a reforma da sentença na parte que entendeu pela sua legitimidade passiva. Aduz que a ação foi ajuizada contra Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados, empresa que, embora homônima, é diversa da apelante, Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado, possuindo CNPJ distintos e administradas por instituições distintas. Sustenta que o comprovante da negativação, de f. 22, consta a denominação Atlântico, referindo-se à empresa Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados e não à recorrente. Pede o provimento de seu recurso para que seja declarada sua ilegitimidade passiva. O MM. Juiz recebeu o recurso da ré como adesivo (f. 182). Nas contrarrazões de f. 185/194, a autora suscitou preliminar de não conhecimento do recurso da ré, ao argumento de que não houve menção ao art. 500, I, do CPC nem à nomenclatura "adesivo". Aduz, demais disto, que o recurso da ré não pode ser recebido como principal porque intempestivo. No mérito, assevera que o documento de f. 22 informa que a negativação de seu nome foi solicitada pela empresa Atlântico, sem especificar se se tratava da 6 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados ou da Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado. Assevera, lado outro, que as empresas pertencem ao mesmo grupo econômico porque possuem o mesmo nome inicial "Atlântico" e porque o registro nos cadastros negativistas aparecem de forma genérica apenas como "Atlântico". Argumenta que a ré não fez prova cabal de que não há ligação entre as empresas citadas, haja vista a inversão do ônus da prova determinada. Pede o não conhecimento do recurso da ré e, em eventualidade, o seu não provimento. É o relatório. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE/PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO DA RÉ: Em sede de contrarrazões, a autora suscitou preliminar de não conhecimento do recurso da ré, ao argumento de que não houve menção ao art. 500, I, do CPC nem à nomenclatura "adesivo". Aduz, demais disto, que o recurso da ré não pode ser recebido como principal porque intempestivo. Sem razão a autora. De fato, nos termos da jurisprudência do STJ, o recurso apresentado como principal não pode ser conhecido como adesivo "RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO INTEMPESTIVA RECEBIDA COMO RECURSO ADESIVO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. PRECEDENTES. - Na linha da orientação jurisprudencial desta Corte, "o princípio da fungibilidade não autoriza que se supere a tempestividade com vistas a receber o recurso principal como recurso adesivo, máxime quando o recorrente não faz qualquer menção ao art. 500, I, do CPC, o que traduz erro grosseiro, consoante jurisprudência deste Tribunal Superior" (AgRg no REsp 1.178.060/MG, Ministro Luiz Fux, DJe de 7 Tribunal de Justiça de Minas Gerais 17.11.2010) . Recurso especial provido. (REsp 1293764/MG, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 04/09/2012). "AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INTERPOSIÇÃO INTEMPESTIVA DE APELAÇÃO. RECEBIMENTO COMO RECURSO ADESIVO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. 1. A jurisprudência desta Corte Federal Superior é firme na compreensão de que o princípio da fungibilidade recursal não autoriza o afastamento de intempestividade com fins de recebimento de recurso principal como adesivo. 2. Agravo regimental improvido. (AgRg nos EDcl no REsp 1228219/PR, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 01/03/2011, DJe 24/03/2011). "PROCESSUAL CIVIL. INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO ESPECIAL. RECURSO ADESIVO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. 1. A intempestividade do recurso especial obsta o próprio cabimento do agravo de instrumento. 2. O princípio da fungibilidade não autoriza que se supere a tempestividade com vistas a receber o recurso principal como recurso adesivo, máxime quando o recorrente não faz qualquer menção ao art. 8 Tribunal de Justiça de Minas Gerais 500, I, do CPC. Agravo regimental improvido. (AgRg nos EDcl no Ag 1185159/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 14/02/2011). Contudo, o recurso apresentado pela ré trata-se de apelação principal e não adesiva. É que, o termo inicial para a interposição de recurso principal contra a sentença iniciou-se após a publicação da decisão que rejeitou os embargos de declaração opostos pela ré. Tal decisão, de f. 152, foi publicada em 14/03/2013 (quinta-feira), conforme certidão de f. 153. A apelação interposta pela ré, de f. 161/165, foi protocolizada em 27/03/2013 (quarta-feira - f. 161v), dentro do prazo quinzenal previsto no art. 508, do CPC. Conquanto a decisão de f. 152 também tenha recebido o recurso de apelação da autora de f. 117/146 ratificado à f. 154, o recurso da ré também trata-se de recurso independente, apresentado tempestivamente, dentro do prazo de 15 dias contados do não acolhimento dos embargos de declaração contra a sentença, e não de recurso adesivo. Cumpre salientar que essa Relatora não está vinculada à admissão do recurso feita no Juízo do 1º grau, em caráter não definitivo, que recebeu o recurso da ré como adesivo. Sobre o tema leciona Misael Montenegro Filho, em sua obra Curso de Direito Processual Civil, São Paulo:Atlas, v. II, 2005, p. 67: "Entre a apresentação da espécie e as sua remessa ao tribunal, assistimos ao pronunciamento do próprio juiz alusivo à análise do 9 Tribunal de Justiça de Minas Gerais preenchimento (ou não) dos requisitos de admissibilidade do recurso, verificando se é tempestivo, se foi providenciado o recolhimento das custas, se há interesse para recorrer e legitimidade da parte, etc. A esse exame atribuímos a denominação de juízo de admissibilidade diferido ou provisório, que não é preclusivo, de modo que os mesmos requisitos deverão ser revistos pelo tribunal antes do enfrentamento da questão de mérito. Com a chegada da espécie à Corte, assistimos à sua distribuição para um relator, que processa o recurso até o instante em que se apresentar pronto para o julgamento do seu mérito, percorrendo as etapas de preparação do relatório; do seu encaminhamento ao Ministério Público (se for a hipótese); da remessa ao revisor (se for a hipótese); da solicitação de dia para julgamento; da publicação da pauta no Diário da Justiça, etc. Durante o iter procedimental, mantém-se o relator como responsável pelo processamento do recurso, devendo logono primeiro contato realizar o exame do preenchimento (ou não) dos requisitos de admissibilidade da espécie, novamente verificando se teria sido apresentado no prazo previsto em lei, se foi providenciado o recolhimento das custas, se o recorrente tem interesse e legitimidade, etc. Esse juízo de admissibilidade (ainda não definitivo) não se vincula ao que foi decidido pelo magistrado do 1º grau de jurisdição, significando que o relator pode negar seguimento ao recurso - impedindo o julgamento do seu mérito -, se deparar com a conclusão de que a espécie foi interposta fora do prazo, por exemplo, não obstante tenha a autoridade processante afirmado que o recurso teria sido tempestivamente manejado. O juízo de admissibilidade do recurso feito pelo relator também não é definitivo, como ressaltado em linhas anteriores, já que a verificação do preenchimento (ou não) dos requisitos de admissibilidade da espécie será mais uma vez realizada por ocasião da sessão de julgamento, antes do enfrentamento do mérito." 10 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Dessa forma, rejeito a preliminar e conheço do recurso da ré como principal (2º recurso de apelação), porque próprio, tempestivo e por ter contado com o preparo, conforme f. 166. Também conheço do recurso de apelação da autora (1º recurso de apelação) porque próprio, tempestivo e por ser isento de preparo, nos termos do art. 12, da Lei 1.060/50 (f. 28). PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA: No 2º recurso a ré resume-se à suscitar preliminar de ilegitimidade passiva. A 2ª apelante argumenta que a ação foi ajuizada contra Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados, empresa que, embora homônima, é diversa da apelante, Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado, possuindo CNPJ distintos e administradas por instituições distintas. Sustenta que o comprovante da negativação, de f. 22, consta a denominação Atlântico, referindo-se à empresa Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados e não à recorrente. Pede o provimento de seu recurso para que seja declarada sua ilegitimidade passiva. Sem razão à ré/2º apelante. Dispõe o art. 3º do CPC: "Art. 3º. Para propor ou contestar a ação é necessário ter interesse e legitimidade." A legitimidade para a causa consiste na qualidade da parte de demandar e ser demandada, ou seja, de estar em juízo. Sobre o tema ensina Cândido Rangel Dinamarco, em Instituições de Direito Processual Civil, 4ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, vol. II, p. 306: 11 Tribunal de Justiça de Minas Gerais "Legitimidade ad causam é qualidade para estar em juízo, como demandante ou demandado, em relação a determinado conflito trazido ao exame do juiz. Ela depende sempre de uma necessária relação entre o sujeito e a causa e traduz-se na relevância que o resultado desta virá a ter sobre sua esfera de direitos, seja para favorecê-la ou para restringi-la. Sempre que a procedência de uma demanda seja apta a melhorar o patrimônio ou a vida do autor, ele será parte legítima; sempre que ela for apta a atuar sobre a vida ou patrimônio do réu, também esse será parte legítima. Daí conceituar-se essa condição da ação como relação de legítima adequação entre o sujeito e a causa." Leciona Humberto Theodoro Júnior, in "Curso de Direito Processual Civil", volume I - Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento -, Editora Forense, Rio de Janeiro, 39ª edição, 2003, página 54: "Destarte, legitimados ao processo são os sujeitos da lide, isto é, os titulares dos interesses em conflito. A legitimação ativa caberá ao titular do interesse firmado na pretensão, e a passiva ao titular do interesse que se opõe ou resiste à pretensão." Vicente Greco Filho, acerca da legitimidade, leciona que: "Consiste a legitimatio ad causam na pertinência subjetiva da ação, no dizer de Alfredo Buzaid, isto é, no fato de estar, aquele que pede, autorizado a demandar sobre o objeto da demanda. Normalmente, tem legitimidade para a causa aquele que é titular ou sujeito da relação jurídica objeto do processo e sofreu a lesão de direito. Diz-se, então, nesse caso, que a legitimação é ordinária. (...). A legitimação, para ser regular, deve verificar-se no pólo ativo e no pólo passivo da relação processual. O autor deve estar legitimado para agir em relação ao objeto da demanda e deve ele propô-la contra o outro pólo da relação jurídica discutida, ou seja, o réu deve ser aquele que, por força da ordem jurídica material, deve, adequadamente, 12 Tribunal de Justiça de Minas Gerais suportar as conseqüências da demanda." (Vicente Greco Filho, Direito Processual Civil Brasileiro. 20ª ed., Vol.1, São Paulo, Ed. Saraiva, 2007, p.43 e 81-82). Vê-se que a questão da legitimidade de parte deve ser analisada com base nos elementos da lide, com relação ao próprio direito de ação, afastando-se do conteúdo da relação jurídica material deduzida, dado que o direito de estar em Juízo caracteriza-se pela abstração. Portanto, basta à parte afirmar seu direito contra quem, supostamente, deve suportá-lo. Entendo que a legitimidade ad causam, conforme teoria da asserção, diz respeito à verificação da pertinência abstrata com o direito material controvertido. Para a teoria da asserção, se em uma análise preliminar for verificado que o pedido do autor podia ter sido dirigido ao réu em razão dos fatos e fundamentos deduzidos na petição inicial, há pertinência subjetiva para o feito e presente está a legitimidade ad causam. Pela teoria da asserção leciona Fredie Didier Jr.: "Sem olvidar o direito positivo, e considerando a circunstância de que, para o legislador, carência de ação é diferente de improcedência do pedido, propõe-se a análise das condições da ação, como questões estranhas ao mérito da causa, fique restrita ao momento de prolação do juízo de admissibilidade inicial ao procedimento. Essa análise, então, seria feita à luz das afirmações do demandante contidas em sua petição inicial (in statu assertionis). "Deve o juiz raciocinar admitindo, provisoriamente, e por hipótese, que todas as afirmações do autor são verdadeiras, para que se possa verificar se estão presentes as condições da ação". O que importa é a afirmação do autor, e não a correspondência entre a afirmação e a realidade que já seria problema de mérito. Não se trata de um juízo de cognição sumária das condições da ação, 13 Tribunal de Justiça de Minas Gerais que permitiria um reexame pelo magistrado, com base em cognição exauriente. O juízo definitivo sobre a existência das condições da ação far-se -ia nesse momento: se positivo o juízo de admissibilidade, tudo o mais seria exame de mérito, ressalvados fatos supervenientes que determinassem a perda de uma condição da ação. A decisão sobre a existência ou não da carência de ação, de acordo com esta teoria, seria sempre definitiva. Chama- se de teoria da asserção ou da prospettazione." (Fredie Didier Jr., Curso de Direito Processual Civil, Bahia, JusPodivm, 2008, Vol.1, 9ª ed., p. 217). Nesse sentido é o entendimento do STJ: "PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL PREQUESTIONAMENTO. VOTO VENCIDO. INEXISTÊNCIA. CONDIÇÕES DA AÇÃO.PRECLUSÃO (ART. 267, § 3º, DO CPC). PRECLUI A DEFESA DE MÉRITO INDEVIDAMENTE QUALIFICADA COMO CONDIÇÃO DA AÇÃO. TEORIA DA ASSERÇÃO. (...) 5. Aplicação da teoria da asserção, que leva em conta, para verificar as condições da ação, o alegado pela parte na inicial. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 668.552/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 02/08/2012, DJe 10/08/2012). "CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. EXTRAVIO DE BAGAGENS DO PREPOSTO CONTENDO PARTITURAS A SEREM EXECUTADAS EM ESPETÁCULO ORGANIZADO PELA EMPRESAAUTORA. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. EQUIPARAÇÃO AO CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE. TEORIA DA ASSERÇÃO. EMPRESA AUTORA BENEFICIÁRIA DO CONTRATO HAVIDO ENTRE O MAESTRO E A RÉ. RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL. (...) 14 Tribunal de Justiça de Minas Gerais 2. A teoria da asserção, adotada pelo nosso sistema legal, permite a verificação das condições da ação com base nos fatos narrados na petição inicial. (...) 5. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido. (REsp 753.512/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 16/03/2010, DJe 10/08/2010). A legitimidade de parte para o processo se configura, ao menos em tese, sempre que houver uma necessária relação entre o sujeito e a causa. No caso, tem a ré/2ª apelante legitimidade para figurar no pólo passivo da lide já que a autora, na inicial, imputa à ela a responsabilidade pela negativação do seu nome no SPC por débito que alega indevido. Saliente-se que o documento de f. 22, revela que a autora teve seu nome negativado pela empresa "Atlântico", denominação esta que consiste no 1º nome da empresa ora ré. Conquanto a ré alegue que a ação foi ajuizada contra Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados, e que a negativação em questão não foi por ela, ré, solicitada, mas por Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados, a ré não fez prova de tais alegações. Os documentos de f. 88/90 e f. 93/94 apenas demonstrem que as empresas Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado e Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados são distintas, com CNPJ e gestores diversos. Contudo, tais documentos não fazem prova de que a 15 Tribunal de Justiça de Minas Gerais negativação discutida nos autos foi realizada por empresa outra que não a ré, de nome homônimo. Ademais, se de nome igual as empresas pertencem a um mesmo grupo, o que favorece a autora segundo Teoria da Aparência. Nesse sentido: "AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SEGURO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. MESMO GRUPO ECONÔMICO. TEORIA DA APARÊNCIA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DE MULTA. 1. A Corte local aplicou a teoria da aparência, entendendo pela legitimidade da instituição financeira pertencente ao mesmo grupo econômico, posicionamento que encontra respaldo na jurisprudência desta Corte Superior. Incidência da Súmula 83/STJ. 2. Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação de multa. (AgRg no AREsp 141.432/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 08/05/2012, DJe 14/05/2012). "APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CONTRATO E DEVOLUÇÃO DE VALORES. CARTÃO DE CRÉDITO. ILEGTIMIDADE PASSIVA. TEORIA DA APARÊNCIA. MESMO GRUPO ECONÔMICO. PRELIMINAR REJEITADA. DEVOLUÇÃO DE VALORES LANÇADOS EM DOBRO NA FATURA. PEDIDO NÃO APRECIADO. SENTENÇA CITRA PETITA. CASSAÇÃO. Segundo jurisprudência do STJ, uma empresa tem legitimidade para responder por obrigação contraída por outra pessoa jurídica, componente do mesmo grupo econômico, tal como no caso da empresa ré, cujo cartão de crédito possui o mesmo nome comercial. (...) 16 Tribunal de Justiça de Minas Gerais (Apelação Cível 1.0145.09.508626-3/002, Relator(a): Des.(a) Luciano Pinto , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/03/2012, publicação da súmula em 03/04/2012). Conquanto o documento de f. 22 não apresente a indicação do CNPJ da empresa solicitante da negativação mas apenas a denominação "Atlântico", a ré/2ª apelante não juntou nos autos qualquer documento que imputasse a origem da notificação à empresa outra, ônus que lhe incumbia, já que alegou a ilegitimidade, e, ainda, em razão da inversão do ônus da prova deferida pelo MM. Juiz à f. 39. A meu aviso, pois, a ré Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado é parte legítima para figurar no pólo passivo da presente ação. Dessa forma, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva. PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO: Em suas razões recursais, a autora/1ª apelante insurge contra a sentença que declarou a prescrição de sua pretensão de reparação de danos. Defende que contagem do prazo prescricional inicia-se apenas a partir do conhecimento do dano e de sua autoria, nos termos do art. 27, do CDC, aplicável ao caso, e, ainda, por aplicação da teoria da actio nata. Salienta que tomou ciência da existência da negativação em 12/04/2011. Razão assiste à autora/1ª apelante. Na sentença, o MM. Juiz acolheu a prejudicial de prescrição arguida pela ré, ora 1ª apelada, ao fundamento de que o direito da autora à reparação por danos estaria prescrito conforme art. 206, §3º, V do CCB/2002, que assim dispõe: 17 Tribunal de Justiça de Minas Gerais "Art. 206. Prescreve: (...) § 3º Em três anos: (...) V - a pretensão de reparação civil;" Pois bem. Inicialmente, necessário ressaltar que a relação existente entre as partes tem natureza de consumo. Para evitar qualquer discussão em torno do tema, mister acentuar que, na relação que ora se discute, os três requisitos hábeis a ensejar o enquadramento da demanda na seara consumerista estão presentes: a) a apelante é fornecedora de produtos varejista, o que está implícito na própria natureza do fornecimento; b) a apelante é consumidora por suposta equiparação, por ter seu nome negativado pela apelada, por aquisição de produtos em seu nome (CDC, art. 29); c) a apelada é pessoa jurídica fornecedora de produtos. (CDC, art. 3º). Sobre o tema ensina a doutrina: "As relações de consumo nada mais são do que relações jurídicas por excelência, pressupondo, por conseguinte, dois pólos de interesse: o consumidor-fornecedor e a coisa, objeto desses interesses. No caso, mais precisamente, e consoante ditado pelo CDC, tal objeto consiste em produtos e serviços.' (José Geraldo Brito Filomeno, Código Brasileiro de Defesa do Consumidor - Comentados pelos autores do anteprojeto, 6ª ed., Forense:Rio de Janeiro, 2000, p. 42). Por tal razão, tenho que, no caso, aplica-se o prazo especial prescricional delineado pelo art. 27 do CDC, e não o prazo geral previsto no CCB/2002. 18 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Vejamos o ensinamento de Cláudia Lima Marques, em sua obra Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 4ª ed., São Paulo:RT, 2002: "A Constituição Federal de 1988, pela primeira vez na história dos textos constitucionais brasileiros, dispõe expressamente sobre a proteção dos consumidores, identificando-os como grupo a ser especialmente tutelado através da ação do Estado (Direitos Fundamentais, art. 5º, XXXII). (...) Atualmente não há mais dúvidas de que a Constituição representa a norma máxima, o centro do próprio sistema de direito brasileiro. Sendo assim, é lógico que a Constituição, norma hierarquicamente superior, sirva de guardiã e de centro irradiador das novas linhas mestras do ordenamento jurídico. Estas linhas mestras constituem a ordem pública do país, a influenciar as leis daquele sistema de direito. O dinamismo e os interesses contraditórios presentes na atual sociedade de massas desencadearam o aparecimento de um grande número de leis esparsas, leis especiais, em um fenômeno que os alemães denominaram de 'estilhaçamento' do direito (Zersplcitterung).Frente aos interesses contraditórios defendidos pelas leis especiais, em face da generalização excessiva dos Códigos dos sécs. XVIII e XIX, a ciência do direito teve que buscar a segurança da lei máxima, da lei hierarquicamente superior, para ali resguardar os valores que considerava mais importantes para aquela sociedade. A Constituição toma assim o lugar da Codificação maior. (...) A Constituição brasileirade 1988 estabeleceu como princípio e direito fundamental a proteção do consumidor e indicou a elaboração de um Código de Defesa do Consumidor, demonstrando a sua vontade (e necessidade) de renovar o sistema. 19 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Sempre que há a inclusão no sistema legal de um país de um fato novo, um novo corpo de normas ou de novos princípios cria-se para o aplicador da lei a necessidade de analisar as contradições entre textos legislativos novos e antigos ou entre os princípios orientadores da lei atual e da lei anterior, resguardando assim a lógica do sistema e sua atualização. (...) Se a contradição entre os textos legais, suas normas e suas finalidades é tal que permite a aplicação conjunta, integradora das normas, uma norma, por exemplo, permite, enquanto a outra expressamente proíbe determinado tipo de cláusula contratual, uma impõe a renúncia de um direito e a outra proíbe a renúncia do mesmo direito, estando diante de uma antinomia real, não solucionável através de simples interpretação das normas.Note-se que a fonte desta incompatibilidade entre as normas pode estar no valor ou princípio que inspirou as leis, umas querendo privilegiar determinados grupos sociais, outras querendo proteger outros grupos sociais, umas querendo atingir a igualdade entre todos na sociedade (leis gerais), outras querendo justamente assegurar um tratamento privilegiado, em determinadas matérias, em determinados contratos, visando um tratamento legal desigual, a beneficiar determinado grupo na sociedade (leis especiais). Se em um mesmo ordenamento jurídico temos leis inspiradas em valores contrapostos, denomina-se essas antinomias de valores em 'antinomias de princípio. (...) Em caso de antinomias reais, três são os critérios destacados pela doutrina e utilizados pela jurisprudência para solucioná-las: o cronológico, o hierárquico, o da especialidade.' (p. 510/512, 514/515, 520/522) No caso em questão, a regra prevista pelo art. 206 § 3º, V do CCB/2002 não tem correspondência no CCB/1916 e é posterior ao CDC. Então, pelo critério cronológico ela deve prevalecer. Contudo, 20 Tribunal de Justiça de Minas Gerais pelo critério hierárquico, a regra prescricional disposta no CDC se sobrepõe porque o Código do Consumidor tem sua superioridade assegurada pela Constituição, eis que materialmente constitucional, tendo natureza de norma complementar já que guarda princípios fundamentais. Também no critério da especialidade, o CDC prevalece sobre o NCC porque no caso trata-se de relação de consumo. Nesse sentido: "DIREITO DO CONSUMIDOR. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO. CINCO ANOS. ART. 27 DO CDC. SÚMULA N. 83 DO STJ. DECISÃO MANTIDA. 1. Segundo a jurisprudência desta Corte, o prazo de prescrição para o consumidor pleitear reparação por falha na prestação do serviço é de cinco anos, consoante previsto no art. 27 do CDC. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 995.890/RN, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 12/11/2013, DJe 21/11/2013). Logo, ao caso aplica-se o prazo prescricional do art. 27 do CDC. Cumpre salientar que, no caso, somente com a ciência da autora quanto a existência da negativação de seu nome é que inicia-se a contagem do prazo prescricional porque é quando nasceu o direito da parte de postular judicialmente sua pretensão de reparação de danos, sendo essa a hipótese da actio nata est. Quanto à teoria da actio nata est, leciona Ulderico Pires dos Santos nos seguintes termos: 21 Tribunal de Justiça de Minas Gerais "A prescrição se perfectibiliza com estas particularidades: a) existência de um direito exigível que pode ser tutelado durante o tempo previsto na lei para o exercício da ação; b) vontade de seu titular de tutelá-lo, durante o curso do prazo legal; c) inexistência de obstáculo capaz de impedir o titular do direito de exercê-lo, se quiser. A ação nasce com a vontade do credor de proteger o seu direito ou melhor: p reex is te à sua facu ldade de querer , uma vez que surge , concomitantemente, com o di re i to que precisa ser protegido. Ao nosso ver, a prescrição não significa a morte do direito como afirmou Câmara Leal. É, isto sim, o germe que a mantém fecundada até perfectibilizar-se ou definhar com o transcurso do tempo, dentro do qual a ação pode ser proposta. É a extinção do prazo para o seu exercício que culmina com a extinção do direito que ela podia proteger. (...) Como dissemos, há causas que impedem a prescrição e as que, apenas, a suspendem; a primeira ocorre antes do nascimento da ação. Quer dizer: embora o titular do direito disponha de ação para fazê-lo valer, não a exercita porque o curso do prazo da prescrição ainda não começou a correr, não obstante o princípio da actio nata est, segundo o qual a prescrição começa o seu curso no momento em que a ação nasce; a segunda, ou seja, a que suspende o prazo, existe quando a ação já tem vida exterior ou melhor: quando esse prazo já está correndo porque a causa que podia impedir o seu curso nasceu somente depois de surgida a ação. No fundo, as causas ou acontecimentos que estorvam, tolhem ou embargam a marcha ou a evolução do prazo são as mesmas que não permitem que a prescrição se consume ou que continue. A diferença entre ambas está no instante em que nasce a ação e o direito. Numa hipótese, a causa preexiste à ação e, portanto, impede que o prazo da prescrição se inicie; no outro, ele já se iniciou e tem o seu curso impedido. 22 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Se o seu prazo for suspenso, os dias decorridos serão computados no total estabelecido pela lei, tão logo ele volte a correr. Se foi interrompido, o tempo já decorrido fica sem efeito, começando ex novo, tão depressa desapareça o motivo da interrupção; daí ser contado por inteiro. Vamos insistir nesse assunto que a muitos ainda parece confuso: impede-se a prescrição, evitando-se que ela se consume; suspende-se quando já está correndo. No primeiro caso, ela não atinge seu ápice porque a causa que a impede impossibilita o exercício da ação; no segundo, como já estava com seu ciclo iniciado, a ação fica estancada em conseqüência da causa superveniente que suspende o seu curso." (SANTOS, Ulderico Pires dos, in 'Prescrição - Doutrina, jurisprudência e prática', 2ª ed., Forense:Rio de Janeiro, 1990, p. 04 e 22/23). Sobre a actio nata, eis a jurisprudência do STJ: "PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. APREENSÃO DE VEÍCULO REVERTIDA JUDICIALMENTE. DANOS EMERGENTES. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. PRINCÍPIO DA ACTIO NATA. AÇÕES INDENIZATÓRIAS AJUIZADAS CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. PRAZO PRESCRICIONAL QÜINQÜENAL. 1. O curso do prazo prescricional do direito de reclamar inicia-se somente quando o titular do direito subjetivo violado passa a conhecer o fato e a extensão de suas conseqüências, conforme o princípio da actio nata. Precedentes. (...) 4. Recurso especial não provido. 23 Tribunal de Justiça de Minas Gerais (REsp 1257387/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 17/09/2013). "ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ATO DEMISSIONAL ILEGAL. PRAZO PRESCRICIONAL. TERMO INICIAL. ACTIO NATA. PRESCRIÇÃO CARACTERIZADA. (...) 2. Em conformidade com o Princípio da actio nata, o termo a quo da prescrição surge com o nascimento da pretensão, assim considerado o momento a partir do qual a ação poderia ter sido ajuizada. (...) Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1355467/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/06/2013, DJe 28/06/2013). Na inicial da ação, a autora alegou que teve ciência da negativação havida em 09/07/2006 apenas na data de abril de 2011, sendo que o documento de f. 22, que faz prova de tal apontamento foi emitido em 12/04/2011. Dessa forma,considerando que a ação foi ajuizada em 04/05/2011 (f. 02v), não há que falar em prescrição, eis que não decorrido o prazo de 05 anos previsto no CDC, quer da data da ciência, quer da data da própria negativação. Dessa forma, afasto prejudicial de prescrição acolhida na sentença. MÉRITO: 24 Tribunal de Justiça de Minas Gerais 1ª RECURSO DE APELAÇÃO/DA AUTORA: Passo ao julgamento do mérito da lide, quanto ao pedido de condenação da ré no pagamento de indenização, em razão da prejudicial de prescrição que foi reconhecida pela sentença mas afastada pelo Tribunal, conforme analisa acima, e face a permissão legal contida no art. 515, §3º do CPC: "Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. (...); § 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento." Demais disso, no STJ é pacífico o entendimento de que cabe o julgamento pelo Tribunal se o processo está apto, na hipótese de reforma da sentença que declarar prescrição. Neste sentido: "PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA. PRESCRIÇÃO AFASTADA PELO TRIBUNAL A QUO. CAUSA MADURA. APLICAÇÃO DO ART. 515 DO CPC. NECESSIDADE DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. (...). 2. Em regra, o afastamento da prescrição pelo Tribunal ad quem permite-lhe julgar as demais questões suscitadas no recurso, ainda que não tenham sido analisadas diretamente pela sentença, desde que 25 Tribunal de Justiça de Minas Gerais a causa se encontre suficientemente "madura", sendo certo que a convicção acerca de estar o feito em condições de imediato julgamento compete ao Juízo a quo, porquanto a completitude das provas configura matéria cuja apreciação é defesa na instância extraordinária conforme o teor da Súmula 7 do STJ. Precedentes. (...)." (REsp 1082964/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 05/03/2013, DJe 01/04/2013). No caso, inicial da ação, a autora alegou que foi surpreendida com a informação de que seu nome havia sido negativado por solicitação da ré, em 09/07/2006, por dívida no valor de R$144,80. Aduziu que jamais manteve qualquer relação contratual com a ré e que a negativação é indevida. Requereu a declaração de inexistência do débito, a condenação da ré no pagamento de indenização por danos materiais referente ao valor pago pela autora a título honorários advocatícios contratuais a seus patronos e no pagamento de indenização por danos morais. A ré, por sua vez, alegou em sede de contestação que não foi a responsável pela negativação do nome da autora. Sustentou que não cometeu qualquer ato ilícito e que a autora não fez prova de qualquer dano a ensejar sua condenação no pagamento de indenização. Defendeu que a contratação de advogado representa uma opção da parte na busca de um reconhecimento pelo seu direito, custo que não pode ser repassado à parte adversa. Na sentença, acolheu a prejudicial de prescrição do pedido de reparação de danos, que foi afastada por este Tribunal, conforme acima analisado, e julgou parcialmente procedente o pedido inicial, apenas para declarar a inexistência do deito apontado. Nas razões do seu recurso, a rigor, a autora, ultrapassada a prejudicial de mérito, requer a condenação da ré no pagamento de indenização e a majoração do valor dos honorários advocatícios. 26 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Pois bem. No caso, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, por se tratar de relação de consumo por equiparação, em cuja hipótese a responsabilidade civil da ré é objetiva, não sendo necessária a análise da culpa para sua caracterização. Segundo o Código de Defesa do Consumidor: "Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final." Dispõe também os art. 17 e 29, do CDC: "Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores, todas as vítimas dos eventos." "Art. 29 - Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas". Segundo o art. 14, do CDC, o fornecedor responde independente de culpa pela reparação dos danos causados aos consumidores em decorrência de defeitos relativos à prestação do serviço. "Art. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos." 27 Tribunal de Justiça de Minas Gerais A responsabilidade objetiva se configura independentemente da culpa, como leciona Carlos Roberto Gonçalves, in Responsabilidade Civil, 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 21/22: "Nos casos de responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do agente para que seja obrigado a reparar o dano. Em alguns, ela é presumida pela lei. Em outros, é de todo prescindível, porque a responsabilidade se funda no risco (objetiva propriamente dita ou pura). Quando a culpa é presumida, inverte-se o ônus da prova. O autor da ação só precisa provar a ação ou omissão e o dano resultante da conduta do réu, porque sua culpa já é presumida. Trata-se, portanto, de classificação baseada no ônus da prova. É objetiva porque dispensa a vítima do referido ônus. Mas, como se baseia em culpa presumida, denomina-se objetiva imprópria ou impura. É o caso, por exemplo, previsto no art. 936 do CC, que presume a culpa do dono do animal que venha a causar dano a outrem. Mas faculta-lhe a prova das excludentes ali mencionadas, com inversão do ônus probandi. Se o réu não provar a existência de alguma excludente, será considerado culpados, pois sua culpa é presumida. Há casos em que se prescinde totalmente da prova da culpa. São as hipóteses de responsabilidade independentemente de culpa. Basta que haja relação de causalidade entre a ação e o dano." No caso, o documento de f. 22 revela que a autora teve seu nome negativação por solicitação da empresa "Atlântico", em julho de 2006, por dívida no valor de R$144,80 relativa ao contrato nº 01088619. Conquanto a ré tenha alegado não ser a responsável pela negativação do nome da autora, conforme já analisado na preliminar 28 Tribunal de Justiça de Minas Gerais de legitimidade passiva, a ré não fez prova de sua alegação de que foi empresa outra, de nome homônimo, que efetivou tal apontamento. Assim, imputa-se à ré, Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado a negativação objeto da presente ação. Diante da negativa da autora de que tenha celebrado qualquer contrato com a ré, a legitimar referida negativação, caberia à ela, ré, comprovar que a contratação foi realizada com diligência, e que foi o autor quem contratou, não cabendo ao requerente fazer prova de fato negativo. Não é possível exigir da parte autora prova de fato negativo, ou seja, prova conhecida como diabólica: Sobre o ônus da prova assim leciona o ilustrado doutrinador Alexandre de Paula: "a doutrina do ônus da prova repousa no princípio de que, visando a sua vitória da causa, cabe à parte o encargo de produzir provas capazes de formar, em seu favor, a convicção do juiz. O fundamento da repartição do ônus da prova entre as partes é, além de uma razão de oportunidade e de experiência, a idéia de equidade resultante da consideração de que, litigando as partes e devendo conceder-se-lhes a palavra igualmente para o ataque e a defesa, é justo não impor só a uma o ônus da prova. Tão-só depois de produzidas ou não as provase de examinadas todas as circunstâncias de fato é que o juiz recebe da lei o critério que há de plasmar o conteúdo de sua decisão" (Código de Processo Civil Anotado, Alexandre de Paula, 6ª edição, vol. II, p.1417). Neste sentido: "APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INCLUSÃO DE NOME EM CADASTRO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA CELEBRAÇÃO DO 29 Tribunal de Justiça de Minas Gerais NEGÓCIO JURÍDICO. PROVA NEGATIVA. ÔNUS. DANOS MORAIS. PRESUNÇÃO. MONTANTE. MINORAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - Por ser negativo o fato controvertido na lide, cabia à ré comprovar a celebração de contrato com o autor, para legitimar a cobrança do débito e, via de conseqüência, a inclusão do nome deste nos cadastros restritivos de crédito. (...) (Apelação Cível 1.0145.13.008082-6/001, Relator(a): Des.(a) Leite Praça , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/11/2013, publicação da súmula em 19/11/2013). "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO - DANOS MORAIS - CONFIGURAÇÃO - NÃO COMPROVAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE AS PARTES - SÚMULA 385, DO STJ - I N A P L I C A B I L I D A D E - Q U A N T U M - R A Z O A B I L I D A D E E PROPORCIONALIDADE - JUROS DE MORA - TERMO A QUO - DATA DO EVENTO DANOSO - ILÍCITO EXTRACONTRATUAL - APELAÇÃO PRINCIPAL PARCIALMENTE PROVIDA; APELAÇÃO ADESIVA, PROVIDA. (...) Se a autora nega a existência de relação jurídica, cabe à ré a comprovação do contrário, trazendo aos autos elementos probatórios que demonstrem ter a primeira celebrado contrato válido. Afinal, seria impossível à requerente comprovar que não contratou com a requerida, eis que se trata de prova de fato negativo, cuja impossibilidade de realização faz com que seja comumente chamada de "prova diabólica". Ausente tal prova, a cargo da ré, deve ser confirmada a sentença, no 30 Tribunal de Justiça de Minas Gerais tópico em que declarou a inexistência do débito de responsabilidade do autor. A fixação da indenização por danos morais deve se pautar pelo princípio da razoabilidade, cabendo ao julgador observar, conjuntamente, a extensão da ofensa sofrida pela vítima, a condição financeira do ofensor, o grau de reprovação da conduta ilícita, as normas de experiência e o grau de sensibilidade do homem médio. Quanto aos juros moratórios, eles devem incidir sobre o valor da condenação, a partir da data da negativação, em observância do disposto na Súmula n. 54, STJ, pois se trata de ilícito extracontratual. Apelação principal parcialmente provida; apelação adesiva, provida. (Apelação Cível 1.0024.08.096040-4/001, Relator(a): Des.(a) Eduardo Mariné da Cunha , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 10/10/2013, publicação da súmula em 22/10/2013). No caso, contudo, a ré não apresentou qualquer documento capaz de provar a existência de relação jurídica entre as partes, em especial o contrato nº 01088619 que deu origem à negativação do nome da autora. Por outro lado é plausível a alegação da fraude de terceiro já que a autora nega que contratou. Contudo, saliente-se que a configuração de fraude de terceiro não isenta a ré de responsabilidade, eis que tal fraude é bastante comum, sendo que esta circunstância apenas influencia na fixação do valor da indenização, já que o fornecedor não pode atribuir a falha da segurança do serviço que presta ao consumidor. O risco de fraude de terceiros é da ré, tratando-se de fortuito interno, conforme entendimento do STJ. 31 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Eis a recente Súmula do STJ: "SÚMULA n. 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias." Neste sentido: "AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CADASTRO DE INADIMPLENTES. INSCRIÇÃO INDEVIDA. FRAUDE PRATICADA POR TERCEIROS. RESPONSABILIDADE. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. PRECEDENTES. DANO MORAL. VALOR. REEXAME. SÚMULA N. 7-STJ. NÃO PROVIMENTO. 1. "O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a pactuação de contrato bancário mediante fraude praticada por terceiro estelionatário, por constituir risco inerente à atividade econômica das instituições financeiras, não elide a responsabilidade destas pelos danos daí advindos." (AgRg no Ag 1148316/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 09/08/2011, DJe 06/09/2011) 2. Admite a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, excepcionalmente, em recurso especial, reexaminar o valor fixado a título de indenização por danos morais, quando ínfimo ou exagerado. Hipótese, todavia, em que o valor foi estabelecido na instância ordinária atendendo às circunstâncias de fato da causa, de forma condizente com os princípios da proporcionalidade e razoabilidade. 3. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no Ag 1318080/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 22/11/2011, DJe 30/11/2011). "AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA A INADMISSÃO DE RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS 32 Tribunal de Justiça de Minas Gerais MORAIS. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA FIRMADO POR TERCEIRO. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM ÓRGÃO DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. DEVER DE INDENIZAR. REEXAME DE PROVAS. JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE QUE RESPONSABILIZA TERCEIRO A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. QUANTUM INDENIZATÓRIO RAZOÁVEL E PROPORCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O acórdão recorrido reconheceu que o contrato de financiamento em que constava o nome do autor como devedor solidário foi pactuado por terceiro e a desconstituição de tal assertiva demandaria o reexame do suporte fático- probatório, tarefa que encontra empeço na Súmula 7/STJ, que dispõe: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial." 2. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a pactuação de contrato bancário mediante fraude praticada por terceiro estelionatário, por constituir risco inerente à atividade econômica das instituições financeiras, não elide a responsabilidade destas pelos danos daí advindos. 3. (...) Tal montante revela-se condizente com os parâmetros adotados pelo STJ, e com as peculiaridades do caso em tela, de sorte a evitar o indesejado enriquecimento sem causa do autor da ação indenizatória, sem afastar o caráter preventivo e repressivo inerente ao instituto da responsabilidade civil. 4. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no Ag 1148316/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 09/08/2011, DJe 06/09/2011). Destarte, não provada a obrigação da autora, o risco da fraude de terceiro não pode lhe ser atribuído. Deve ser mantida, pois, a procedência do pedido da autora, de declaração da inexistência do débito que ensejou o apontamento de f. 22, assim como o cancelamento de tal apontamento. 33 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Demais disto, a ré deve ser condenada no pagamento de indenização por danos morais em favor da autora. É cediço que a simples negativação ou manutenção indevida caracteriza ofensa à imagem e ao bom nome da apelada, ensejando dano moral indenizável, independentemente de qualquer outra prova. Segundo Yussef Said Cahali: "Após a Constituição de 1988, tornou-se definitivamente assentado o entendimento de que responde pela reparação do dano moral a empresa que, de forma errônea, registra o devedor no SPC, sendo dispensável qualquer perquirição quanto à existência, também, de prejuízos patrimoniais" (in "Dano Moral", 2º ed., RT, nº 98, p. 426). Nesse sentido: "CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTA CORRENTE CONJUNTA. EMISSÃO DE CHEQUE SEM PROVISÃO DE FUNDOS POR UM DOS CORRENTISTAS. IMPOSSIBILIDADE DE INSCRIÇÃO DO NOME DO CO-TITULAR DA CONTA, QUE NÃO EMITIU O CHEQUE, EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.OCORRÊNCIA DE DANO MORAL. (...) -A inscrição indevida em cadastros de proteção ao crédito ocasiona dano moral in re ipsa, sendo despicienda, pois, a prova da sua ocorrência. Precedentes. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 981.081/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 23/03/2010, DJe 09/04/2010). "ADMINISTRATIVO - INSCRIÇÃO INDEVIDA NO CADIN - INCABÍVEL A ESTA CORTE A APRECIAÇÃO DE VIOLAÇÃO A DISPOSITIVOS 34 Tribunal de Justiça de Minas Gerais CONSTITUCIONAIS - INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC - DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO - AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO (SÚMULA 211/STJ) - DANO MORAL PRESUMIDO - REVISÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO - REEXAME DE MATÉRIA DE PROVA (SÚMULA 07/STJ). (...) 5. A jurisprudência do STJ entende que a inscrição indevida em cadastros de proteção ao crédito, por si só, justifica o pedido de ressarcimento a título de danos morais, tendo em vista a possibilidade de presunção do abalo moral sofrido. (...) (REsp 1155726/SC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 04/03/2010, DJe 18/03/2010). O dano moral é assim definido: "Danos morais são lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou jurídicas, em certos aspectos de sua personalidade, em razão de investidas injustas de outrem. São aqueles que atingem a moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhe constrangimentos, vexames, dores, enfim, sentimentos e sensações negativas. Contrapõem-se aos danos denominados materiais, que são prejuízos suportados no âmbito patrimonial do lesado. Mas podem ambos conviver, em determinadas situações, sempre que os atos agressivos alcancem a esfera geral da vítima, como, dentre outros, nos casos de morte de parente próximo em acidente, ataque à honra alheia pela imprensa, violação à imagem em publicidade, reprodução indevida de obra intelectual alheia em atividade de fim econômico, e assim por diante. Os danos morais atingem, pois, as esferas íntima e valorativa do lesado, enquanto os materiais constituem reflexos negativos no 35 Tribunal de Justiça de Minas Gerais patrimônio alheio. Mas ambos são suscetíveis de gerar reparação, na órbita civil, dentro da teoria da responsabilidade civil." (Carlos Alberto Bittar, Danos Morais: Critérios para a sua Fixação", artigo publicado no Repertório IOB de Jurisprudência nº 15/93, pág. 293/291). Quanto ao quantum indenizatório, importante ressaltar que o valor da indenização por dano moral deve servir para compensação íntima do ofendido, como leciona Carlos Roberto Gonçalves, citando Maria Helena Diniz. "Em todas as demandas que envolvem danos morais, o juiz defronta-se com o mesmo problema: a perplexidade ante a inexistência de critério uniformes e definidos para arbitrar um valor adequado. (...) Maria Helena Diniz propõe as seguintes regras "a serem seguidas pelo órgão judicante no arbitramento, para atingir homogeneidade pecuniária na avaliação do dano moral: Evitar indenização simbólica e enriquecimento sem justa causa, ilícito ou injusto à vítima. A indenização não poderá ter valor superior ao dano, nem deverá subordinar-se à situação de penúria do lesado; nem poderá conceder a uma vítima rica uma indenização inferior ao prejuízo sofrido, alegando que sua fortuna permitiria suportar o excedente do menoscabo; Não aceitar tari fação, porque esta requer despersonalização e desumanização, e evitar porcentagem do dano patrimonial; Diferenciar o montante indenizatório segundo a gravidade, a extensão e a natureza da lesão; Verificar a repercussão pública provocada pelo fato lesivo e as 36 Tribunal de Justiça de Minas Gerais circunstâncias fáticas; Atentar para as peculiaridades do caso e para o caráter anti-social da conduta lesiva; Averiguar não só os benefícios obtidos pelo lesante como o ilícito, mas também a sua atitude ulterior e situação econômica; Apurar o real valor do prejuízo sofrido pela vítima; Levar em conta o contexto econômico do País; no Brasil não haverá lugar para fixação de indenização de grande porte, como as vistas nos Estados Unidos; Verificar a intensidade do dolo ou o grau de culpa do lesante; Basear-se em prova firme e convincente do dano; Analisar a pessoa do lesado, considerando a intensidade de seu sofrimento, seus princípios religiosos, sua posição social ou política, sua condição profissional e seu grau de educação e cultura; Procurar a harmonização das reparações em casos semelhantes; Aplicar o critério do justum ante as circunstâncias particulares do caso sub judice (LICC, art. 5º), buscando sempre, com cautela e prudência objetiva, a equidade." Concluiu a renomada civilista: "Na quantificação do dano moral, o arbitramento deverá, portanto, ser feito com bom-senso e moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, à gravidade da ofensa, ao nível sócio- econômico do lesante, à realidade da vida e às particularidades do caso sub examine." Pode-se afirmar que os fatores considerados são: a) a condição social, educacional, profissional e econômica do lesado; b) a intensidade de seu sofrimento; c) a situação econômica do ofensor e os benefícios 37 Tribunal de Justiça de Minas Gerais que obteve com o ilícito; d) a intensidade do dolo ou o grau de culpa; e) a gravidade e a repercussão da ofensa; e f) as peculiaridades e circunstâncias que envolveram o caso, atentando-se para o caráter anti-social da conduta lesiva." (Carlo Roberto Gonçalves, Responsabilidade Civil, 8ª ed., São Paul: Saraiva, 2003, p. 569 e 576/577). Apesar de o dano moral ser de difícil aferição, dada a sua subjetividade, deve o julgador atentar para a sua extensão, para o comportamento da vítima, para o grau de culpabilidade do ofensor e para a condição econômica do ofensor, de modo que o ofensor se veja pedagogicamente repreendido a não repetir o ato, e a vítima se veja compensada pelo prejuízo experimentado, sem, contudo, ultrapassar a medida desta compensação, sob pena de provocar o enriquecimento sem causa, e dar causa a desproporcional empobrecimento do ofensor. Segundo entendimento do STJ, o arbitramento da indenização moral deve se pautar nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Nesse sentido: "ADMINISTRATIVO - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO - DANOS MORAIS E ESTÉTICOS - PERDA DE MEMBRO SUPERIOR - INDENIZAÇÃO - VALOR IRRISÓRIO - MAJORAÇÃO. 1. O valor do dano moral deve ser arbitrado segundo os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, não podendo ser irrisório, tampouco fonte de enriquecimento sem causa, exercendo função reparadora do prejuízo e de prevenção da reincidência da conduta lesiva. (...) 38 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Agravo regimental improvido. (AgRg no Ag 1259457/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/04/2010, DJe 27/04/2010). "ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. TORTURA DE MENOR. DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7 DO STJ. VERBA FIXADA COM RAZOABILIDADE.(...) 2. O Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento no sentido de que a revisão do valor de indenização por danos morais somente é possível quando exorbitante ou insignificante a importância arbitrada, em flagrante violação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Tal excepcionalidade não se aplica, contudo, à hipótese dos autos, a ponto de abrandar as regras de conhecimento do recurso especial. Agravo regimental improvido." (AgRg no AREsp 65.904/PB, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe 05/03/2012). Nos termos do art. 944 do CCB: "Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano." Para os casos de negativação indevida, semelhantes aos dos autos, quando autor e parte ré são vítimas da ação de terceiro estelionatário, esta Câmara tem fixado indenização por danos morais, no valor aproximado de 13 salários mínimos. Nesse sentido: 39 Tribunalde Justiça de Minas Gerais "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS - INCLUSÃO DO NOME DA PARTE AUTORA NOS CADASTROS DE NEGATIVAÇÃO AO CRÉUDITO - AUSÊNCIA DE PROVA DA RELAÇÃO NEGOCIAL - FRAUDE DE TERCEIRO - DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO - QUANTUM INDENIZATÓRIO - MITIGAÇÃO - POSSIBILIDADE. (...) IV - Nos termos do entendimento pacificado desta Câmara, a indenização por danos morais em razão de negativação indevida do nome do consumidor deve ser fixada, em observância aos princípios da razoabilidade e moderação, em valor equivalente a, aproximadamente, 13 salários mínimos, notadamente, na hipótese em que empresa responsável pela inscrição foi, assim como o postulante, vítima de fraude perpetrada por terceiro. (Apelação Cível 1.0024.11.196824-4/001, Rel. Des.(a) Luciano Pinto, 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 21/02/2013, publicação da súmula em 04/03/2013) "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO - EXISTÊNCIA DE OUTRA ANOTAÇÃO, MAS POSTERIOR E ILEGÍTIMA, EM FACE DA DEVEDORA - DANOS MORAIS CONFIGURADOS - RECURSO PROVIDO. (....) Observando os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, os princípios orientadores da intensidade da ofensa, sua repercussão na esfera íntima da vítima, as condições do ofensor, o caráter pedagógico da medida, a particularidade de a ré também ter sido vítima de estelionatário e os parâmetros adotados por esta 17ª Câmara Cível, nos casos em que o conjunto probatório não demonstra a existência de culpa em grau elevado da ré, embora lhe fosse possível evitar a fraude ou, ao menos, impedir a negativação dos dados da autora, considero adequado fixar a indenização em R$ 8.086,00, equivalente a 13 salários mínimos vigentes. Recurso provido. (Apelação Cível 1.0024.11.171820-1/001, Rel. Des.(a) Eduardo Mariné da Cunha, 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/01/2013, publicação da súmula em 08/02/2013) 40 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Do exame das circunstâncias do caso, vejo que a negativação ensejou ofensa de grau médio à autora, eis que seu nome permaneceu negativado desde 2006 até a data 04/04/2012, data do documento de f. 91, apresentado pela ré, de "nada consta". O grau de culpabilidade da ré também foi médio, eis que negativou o nome da autora em decorrência de contratação celebrada sem a devida cautela, tendo ela boa capacidade financeira para indenizar. Lado outro, a dívida apontada era de pequeno valor (R$144,80, f. 22) e a ré também foi vítima da fraude, o que reduz o grau de sua culpabilidade. Dessa forma, arbitro o valor da indenização por danos morais em R$8.000,00, valor condizente com as circunstâncias dos autos, inclusive com a ofensa sofrida pela autora que, saliente-se, com a indenização não pode pretender enriquecer-se sem causa. Sobre o valor da indenização deve incidir juros de mora de 1% ao mês a partir do evento danoso, no caso, da data da negativação indevida, conforme Súmula 54 do STJ: "Súmula 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual." A correção monetária, pelos índices da Corregedoria Geral de Justiça de Minas Gerais deve incidir a partir do arbitramento, conforme Súmula 362, do STJ: Assim dispõe referida Súmula "Súmula 362, do STJ: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento". 41 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Na inicial, a autora também formulou pedido de indenização por danos materiais referente ao valor pago pela autora a título de honorários advocatícios contratuais a seus patronos. Em razão do afastamento da preliminar de prejudicial do pedido de reparação de danos, tenho que tal pretensão inicial da autora, de indenização material, também deve ser analisada pelo Tribunal, nos termos do art. 515, §3º, do CPC. No caso, contudo, tal pedido é improcedente. É que, não se configura nexo causal entre a conduta da ré e o gasto feito pela autora com seu advogado. A ré não participou da relação contratual mantida entre autora e seu patrono, nem interferiu no valor dos honorários contratados, razão pela qual a ré não se vincula a tal contrato. O contrato de honorários, firmado entre cliente e advogado, não cria obrigação para o terceiro, sucumbente da ação, já que não existe relação negocial estabelecida entre eles quanto a tais honorários. Inexiste previsão legal ou contratual capaz de obrigar uma parte a suportar os gastos com advogado da parte ex adversa, de honorários só entre eles contratados. Saliente-se que o art. 389 do CC/2002 se refere a possível reembolso também do que foi gasto com advogado, mas é específico para os casos de inadimplemento de obrigação, o que pressupõe obrigação líquida, clara e positiva, contratada entre as partes, ensejadora de responsabilidade civil contratual, o que não é o caso dos autos. Conquanto haja julgados em contrário, a posição de maioria do STJ é a do não cabimento de tal indenização com espeque no art. 389 do CCB/2002. Nesse sentido: 42 Tribunal de Justiça de Minas Gerais "AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO. DANO MATERIAL NÃO CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REVISÃO. INVIABILIDADE. VALOR RAZOÁVEL. 1. A contratação de advogado, por si só, não enseja danos materiais, sob pena de atribuir ilicitude a qualquer pretensão questionada judicialmente. (...) 4. Decisão agravada mantida pelos seus próprios fundamentos. 5. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (AgRg no REsp 1229482/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe 23/11/2012). "PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL INTERPOSTO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO. JUSTIÇA DO TRABALHO. AUSÊNCIA DE ILICITUDE. DECISÃO MANTIDA. 1. É de ser mantida a decisão monocrática pela qual se nega provimento a recurso especial se as razões do agravo regimental não se apresentam robustas o bastante para alterar o convencimento do julgador. 2. A simples contratação de advogado para o ajuizamento de reclamatória trabalhista não induz, por si só, a existência de ilícito gerador de danos materiais. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1155527/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe 43 Tribunal de Justiça de Minas Gerais 03/05/2011). "CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO NO JULGADO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADA. DANO MORAL. NÃO OCORRÊNCIA. PRETENSÃO DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA N. 07/STJ. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO PARA CUIDAR DE AÇÃO TRABALHISTA. DANO MORAL. NÃO CONFIGURADO. (...) - A contratação de advogado para ajuizamento de ação trabalhista não gera ato ilícito, nem se torna apto e capaz de ensejar direito à indenização por danos morais. - Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido." (REsp 915882/MG, 4ª Turma/STJ, rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro, j. 04.02.2010, DJ. 12.04.2010). O pedido de ressarcimento do valor dos honorários advocatícios contratados, portanto, mostra-se improcedente. Por fim, quanto ao pedido formulado pela autora em sede de recursal, de majoração do valor dos honorários advocatícios para o patamar de 20% sobre o valor da causa, a ser arbitrado nos termos do art. 20, §3º, do CPC, tenho que razão parcial lhe assiste. É que, com as reformas estabelecimento no julgamento da presente apelação, o pedido inicial foi julgado parcialmente procedente para declarar a inexistência do débito, determinar o cancelamento da negativacao e condenar a ré no pagamento de indenização por danos morais. 44 Tribunal de Justiça de Minas GeraisTratando-se, pois, de sentença/acórdão de natureza condenatória, os limites da fixação dos honorários são os estipulados pelo art. 20 § 3º do CPC: Dispõe o art. 20,§3º, do CPC: "Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa própria. (...) § 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos: a) o grau de zelo do profissional; b) o lugar de prestação do serviço; c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço." Portanto, nos termos do art. 20, §3º, do CPC, os honorários deverão ser fixados entre o percentual mínimo de dez por cento (10%) e o máximo de vinte por cento (20%) do valor da condenação, atendidos os parâmetros indicados no dispositivo legal. No caso, lado outro, não cabe o arbitramento do valor dos honorários advocatícios no patamar máximo de 20%. Na hipótese em tela, considerando os parâmetros indicados 45 Tribunal de Justiça de Minas Gerais no citado artigo, entendo que o percentual de 15% sobre o valor da condenação mostra-se suficiente, adequado e razoável a remunerar os procuradores das partes, inclusive levando em conta que a ação é corriqueira, não complexa e que o processo teve uma duração de tramitação razoável. Em razão da sucumbência recíproca, mantenho a distribuição dos ônus processuais arbitrados na sentença, na proporção de 70% pela ré e de 305 pelo autor. 2ª RECURSO DE APELAÇÃO/DA RÉ: Conforme já exposto quando da análise da preliminar de ilegitimidade passiva, o 2º recurso de apelação, da ré, que resumiu-se a alegar tal preliminar, não merece provimento. DISPOSITIVO: Isto posto, rejeito as preliminares, negando provimento ao 2º recurso, da ré. Dou parcial provimento ao 1ª recurso, da autora, para afastar a prejudicial de prescrição reconhecida na sentença e, nos termos do art. 515, §3º, do CPC, julgar parcialmente procedente o pedido inicial para: a) manter a sentença na parte que declarou a inexistência do débito e determinou o cancelamento da negativação; b) condenar a ré no pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$8.000,00 (oito mil reais), com juros de mora de 1% (um por cento) ao mês desde a data do evento danoso e correção monetária pelos índices da CGJMG a partir do arbitramento. c) condenar a ré no pagamento de 70% das custas processuais, inclusive recursais, e de 70% dos honorários advocatícios ora arbitrados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação, cabendo à autora o pagamento dos demais 30% das custas processuais e 30% dos honorários advocatícios. 46 Tribunal de Justiça de Minas Gerais Os honorários deverão ser compensados, conforme Súmula 306 do STJ e artigo 21 do CPC. Em relação ao autor, determino a aplicação do art. 12 da Lei 1.060/50 DES. LEITE PRAÇA (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. EVANDRO LOPES DA COSTA TEIXEIRA - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "PRELIMINARES REJEITADAS. PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO AFASTADA. 1º RECURSO PROVIDO EM PARTE. 2º RECURSO NÃO PROVIDO." 47
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