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Caso julgado de antinomia real

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
1.0701.11.014162-2/005Número do 0141622-Númeração
Des.(a) Márcia De Paoli BalbinoRelator:
Des.(a) Márcia De Paoli BalbinoRelator do Acordão:
13/02/2014Data do Julgamento:
25/02/2014Data da Publicação:
EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO - AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - PRELIMINAR DE NÃO
CONHECIMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO DA RÉ - REJEIÇÃO -
LEGITIMIDADE PASSIVA DA RÉ - CONFIGURAÇÃO - PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS AFASTADA - JULGAMENTO
DO PEDIDO DE INDENIZAÇÃO CONFORME ART. 515, §3º DO CPC -
NEGATIVAÇÃO DO NOME DO CONSUMIDOR - FALHA DO SERVIÇO -
CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA - INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO E
IRREGULARIDADE DA NEGATIVAÇÃO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA
DOS ART. 14 E 29 DO CDC - DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO - DEVER
DE INDENIZAR - VALOR DA INDENIZAÇÃO MORAL - PARÂMETROS E
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO - JUROS DE MORA E CORREÇÃO
MONETÁRIA - INDENIZAÇÃO MATERIAL PELO VALOR PAGO A TÍTULO
DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATADOS - NEXO CAUSAL -
INEXISTÊNCIA - DEVER DE INDENIZAR - NÃO VERIFICAÇÃO -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - FIXAÇÃO NOS TERMOS DO ART. 20, §
3º, DO CPC - CABIMENTO -1º RECURSO PROVIDO EM PARTE. 2º
RECURSO NÃO PROVIDO.
- A apelação manejada em observância ao prazo do art. 508 é tempestiva.
- O prazo de cinco anos previsto pelo art. 27 do CDC tem prevalência sobre o
previsto no art. 206 do CCB/2002, se no caso houver relação de consumo
ainda que por equiparação.
- O termo inicial para a fluência do prazo prescricional só se inicial com a
ciência da parte quanto ao evento danoso, conforme teoria da actio nata est.
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-O § 3º do art. 515 do CPC permite ao Tribunal julgar desde logo a lide se a
causa versar sobre questão exclusivamente de direito ou se já estiver em
condições de imediato julgamento.
- A teor dos art. 14 e 29, do CPC, o fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores, ainda que equiparados, por defeitos relativos à
prestação dos serviços.
- A simples negativação indevida enseja dano moral e direito à indenização
em tese, independente de qualquer outra prova, porque neste caso é
presumida a ofensa à honra e ao bom nome do cidadão.
- O fato de o negócio jurídico ter sido celebrado por fraude de terceiro não
enseja a incidência da excludente de responsabilidade por culpa exclusiva
deste, já que a responsabilidade civil do prestador de serviços é objetiva,
consoante o Código de Defesa do Consumidor, tendo agido este, ainda, com
negligência, ao contratar sem as devidas cautelas, por falha do serviço.
- O valor da indenização por danos morais deve ser fixado de forma
proporcional às circunstâncias do caso, com razoabilidade e moderação.
- Os juros de mora, de 1% a.m. em caso de ilícito extracontratual, devem
incidir desde a data do primeiro evento danoso.
- A correção monetária incide a partir da data da decisão que arbitrar a
indenização por dano moral, nos termos da Súmula nº 362, do STJ.
- A simples contratação de advogado para o ajuizamento de ação judicial não
induz, por si só, a existência de ilícito gerador de danos materiais por
honorários contratados.
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- Tratando-se, pois, de sentença de natureza condenatória, os limites da
fixação dos honorários são os estipulados pelo art. 20 § 3º do CPC.
- Preliminares rejeitadas. Prejudicial de prescrição afastada. 1º Recurso
provido em parte. 2º Recurso não provido.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0701.11.014162-2/005 - COMARCA DE UBERABA
- 1º APELANTE: MARIA LIBERIA DA SILVA BARBANTINI - 2º APELANTE:
ATLÂNTICO FUNDO INVESTIMENTO DIREITOS CREDITORIOS NÃO
PADRONIZADOS - APELADO(A)(S): ATLÂNTICO FUNDO INVESTIMENTO
DIREITOS CREDITORIOS NÃO PADRONIZADOS, MARIA LIBERIA DA
SILVA BARBANTINI
A C Ó R D Ã O
 Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal
de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos
julgamentos em REJEITAR A PRELIMINAR, AFASTAR A PREJUDICIAL DE
PRESCRIÇÃO, DAR PARCIAL PROVIMENTO AO 1º RECURSO E NEGAR
PROVIMENTO AO 2º RECURSO.
DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO
RELATORA.
DESA. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO (RELATORA)
V O T O
 Maria Liberia da Silva Barbantini ajuizou ação declaratória de
inexistência de débito c/c indenização por danos morais contra Atlântico
Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, alegando que foi
surpreendida, em abril de 2011, com a informação de que seu nome havia
sido negativado por solicitação da ré, em 09/07/2006, por dívida no valor de
R$144,80. Aduziu que jamais manteve qualquer relação contratual com a ré
e que a negativação é indevida. Formulou pedido de antecipação de tutela de
cancelamento do apontamento. Ao
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final, requereu a declaração de inexistência do débito, a condenação da ré no
pagamento de indenização por danos materiais referente ao valor pago pela
autora a título honorários advocatícios contratuais a seus patronos e no
pagamento de indenização por danos morais.
 Pela decisão de f. 39, o MM. Juiz deferiu a inversão do ônus da
prova e a antecipação de tutela mediante depósito do valor da negativação.
 Na contestação de f. 74/83, a ré, Atlântico Fundo de Investimento
Multimercado Crédito Privado, suscitou preliminar de ilegitimidade passiva,
ao argumento de que não deu causa aos fatos. Arguiu, ainda, prejudicial de
prescrição, entendendo pela aplicação do art. 206, §3º, IV e V do CCB/2002.
Salientou que o nome da autora foi negativado no ano de 2006 e a presente
ação ajuizada em 2011, ou seja, quando transcorrido mais de 03 anos. No
mérito, asseverou que não foi a responsável pela negativação do nome da
autora. Sustentou que não cometeu qualquer ato ilícito e que a autora não
fez prova de qualquer dano a ensejar sua condenação no pagamento de
indenização. Defendeu que a contratação de advogado representa uma
opção da parte na busca de um reconhecimento pelo seu direito, custo que
não pode ser repassado à parte adversa. Requereu a improcedência dos
pedidos iniciais. Em eventualidade, pediu que o arbitramento do valor da
indenização observasse os pr incíp ios da razoabi l idade e da
proporc ional idade.
 Na impugnação de f. 96/105, a autora refutou a preliminar e
prejudicial argüidas. No mérito, defendeu a procedência de seus pedidos
iniciais.
 Pela sentença de f. 112/114, o MM. Juiz rejeitou a preliminar de
ilegitimidade, acolheu a prejudicial de prescrição quanto ao pedido de
reparação de danos, face aplicação do art. 206, §3º, V, do CCB/2002 e, no
mérito, julgou procedente em parte o pedido inicial para declarar a
inexistência do débito, ao fundamento de que não foi demonstrado pela ré
que o apontamento era legítimo.
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 Constou da sentença:
 "(...) Assim, diante da ilegitimidade da negativação, não há motivos para
manter o nome da autora inscrito nos órgãos de proteção ao crédito.
 À vista do exposto e por tudo mãos que dos autos consta. Julgo
parcialmente procedente o pedido inicial, tão somente para declarar a
inexistência do débito cobrado às fls. 22.
O pedido de reparação por danos morais resta prejudicado, pois prescrito,
eis que decorrido o lapso temporal de 03 anos previsto pelo Código Civil.
Pagará o requerido 70% (setenta por cento) das custas processuais, além de
honorários advocatícios, que fixo em R$1.000,00 (mil reais) nos termos do
art. 20, §4º do CPC, já compensada a sucumbência recíproca.
Os honorários deverão ser corrigidos também pela tabela da CGJ, com
aplicação de juros de 1% (um por cento) ao mês, tudo a partir da citação."
 A autora apresentou recurso de apelação às f. 117/146, alegando
que sua pretensão de reparação de danos não encontra-se prescrita, eis que
a contagem do prazo prescricional inicia-se apenas a partir do conhecimento
do dano e de sua autoria, nos termos do art. 27, do CDC, aplicávelao caso,
e, ainda, por aplicação da teoria da actio nata. Salienta que tomou ciência da
existência da negativação em 12/04/2011. Quanto ao pedido de indenização
moral, alega que não celebrou qualquer contrato com a ré. Aduz que a mera
negativação indevida enseja dano moral. Tece considerações sobre o
quantum indenizatório. Defende o arbitramento dos honorários advocatícios
no patamar de 20% sobre o valor da condenação. Requer, ao final, a reforma
da sentença para que seja declaração a não prescrição de seu
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direito à reparação moral, com a condenação da ré no pagamento de
indenização por danos morais, além da majoração do valor dos honorários
advocatícios.
 A ré apresentou embargos de declaração às f. 148/151, que não
foram acolhidos pelo MM. Juiz, conforme decisão de f. 152, decisão esta que
também recebeu o recurso de apelação da autora.
 À f. 154, a autora manifestou-se nos autos para ratificar os termos
de seu recurso de apelação.
 Nas contrarrazões de f. 156/159, a ré pediu a manutenção da
sentença quanto à declaração de prescrição da pretensão de indenização
moral da autora.
 A ré, por sua vez, apresentou recurso de apelação às f. 161/165,
requerendo a reforma da sentença na parte que entendeu pela sua
legitimidade passiva. Aduz que a ação foi ajuizada contra Atlântico Fundo de
Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados, empresa que,
embora homônima, é diversa da apelante, Atlântico Fundo de Investimento
Multimercado Crédito Privado, possuindo CNPJ distintos e administradas por
instituições distintas. Sustenta que o comprovante da negativação, de f. 22,
consta a denominação Atlântico, referindo-se à empresa Atlântico Fundo de
Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados e não à recorrente.
Pede o provimento de seu recurso para que seja declarada sua ilegitimidade
passiva.
 O MM. Juiz recebeu o recurso da ré como adesivo (f. 182).
 Nas contrarrazões de f. 185/194, a autora suscitou preliminar de
não conhecimento do recurso da ré, ao argumento de que não houve
menção ao art. 500, I, do CPC nem à nomenclatura "adesivo". Aduz, demais
disto, que o recurso da ré não pode ser recebido como principal porque
intempestivo. No mérito, assevera que o documento de f. 22 informa que a
negativação de seu nome foi solicitada pela empresa Atlântico, sem
especificar se se tratava da
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Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados
ou da Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado.
Assevera, lado outro, que as empresas pertencem ao mesmo grupo
econômico porque possuem o mesmo nome inicial "Atlântico" e porque o
registro nos cadastros negativistas aparecem de forma genérica apenas
como "Atlântico". Argumenta que a ré não fez prova cabal de que não há
ligação entre as empresas citadas, haja vista a inversão do ônus da prova
determinada. Pede o não conhecimento do recurso da ré e, em
eventualidade, o seu não provimento.
 É o relatório.
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE/PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO
RECURSO DA RÉ:
 Em sede de contrarrazões, a autora suscitou preliminar de não
conhecimento do recurso da ré, ao argumento de que não houve menção ao
art. 500, I, do CPC nem à nomenclatura "adesivo". Aduz, demais disto, que o
recurso da ré não pode ser recebido como principal porque intempestivo.
 Sem razão a autora.
 De fato, nos termos da jurisprudência do STJ, o recurso
apresentado como principal não pode ser conhecido como adesivo
 "RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO
INTEMPESTIVA RECEBIDA COMO RECURSO ADESIVO. PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. PRECEDENTES.
- Na linha da orientação jurisprudencial desta Corte, "o princípio da
fungibilidade não autoriza que se supere a tempestividade com vistas a
receber o recurso principal como recurso adesivo, máxime quando o
recorrente não faz qualquer menção ao art. 500, I, do CPC, o que traduz erro
grosseiro, consoante jurisprudência deste Tribunal Superior" (AgRg no REsp
1.178.060/MG, Ministro Luiz Fux, DJe de
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17.11.2010) .
Recurso especial provido.
(REsp 1293764/MG, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA
TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 04/09/2012).
 "AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. INTERPOSIÇÃO INTEMPESTIVA DE APELAÇÃO.
RECEBIMENTO COMO RECURSO ADESIVO. PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE.
1. A jurisprudência desta Corte Federal Superior é firme na compreensão de
que o princípio da fungibilidade recursal não autoriza o afastamento de
intempestividade com fins de recebimento de recurso principal como adesivo.
2. Agravo regimental improvido.
(AgRg nos EDcl no REsp 1228219/PR, Rel. Ministro HAMILTON
CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 01/03/2011, DJe
24/03/2011).
 "PROCESSUAL CIVIL. INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO ESPECIAL.
RECURSO ADESIVO. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE RECURSAL.
1. A intempestividade do recurso especial obsta o próprio cabimento do
agravo de instrumento.
2. O princípio da fungibilidade não autoriza que se supere a tempestividade
com vistas a receber o recurso principal como recurso adesivo, máxime
quando o recorrente não faz qualquer menção ao art.
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500, I, do CPC.
Agravo regimental improvido.
(AgRg nos EDcl no Ag 1185159/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 14/02/2011).
 Contudo, o recurso apresentado pela ré trata-se de apelação
principal e não adesiva.
 É que, o termo inicial para a interposição de recurso principal
contra a sentença iniciou-se após a publicação da decisão que rejeitou os
embargos de declaração opostos pela ré.
 Tal decisão, de f. 152, foi publicada em 14/03/2013 (quinta-feira),
conforme certidão de f. 153. A apelação interposta pela ré, de f. 161/165, foi
protocolizada em 27/03/2013 (quarta-feira - f. 161v), dentro do prazo
quinzenal previsto no art. 508, do CPC.
 Conquanto a decisão de f. 152 também tenha recebido o recurso
de apelação da autora de f. 117/146 ratificado à f. 154, o recurso da ré
também trata-se de recurso independente, apresentado tempestivamente,
dentro do prazo de 15 dias contados do não acolhimento dos embargos de
declaração contra a sentença, e não de recurso adesivo.
 Cumpre salientar que essa Relatora não está vinculada à admissão
do recurso feita no Juízo do 1º grau, em caráter não definitivo, que recebeu o
recurso da ré como adesivo.
 Sobre o tema leciona Misael Montenegro Filho, em sua obra Curso
de Direito Processual Civil, São Paulo:Atlas, v. II, 2005, p. 67:
 "Entre a apresentação da espécie e as sua remessa ao tribunal,
assistimos ao pronunciamento do próprio juiz alusivo à análise do
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preenchimento (ou não) dos requisitos de admissibilidade do recurso,
verificando se é tempestivo, se foi providenciado o recolhimento das custas,
se há interesse para recorrer e legitimidade da parte, etc.
A esse exame atribuímos a denominação de juízo de admissibilidade diferido
ou provisório, que não é preclusivo, de modo que os mesmos requisitos
deverão ser revistos pelo tribunal antes do enfrentamento da questão de
mérito. Com a chegada da espécie à Corte, assistimos à sua distribuição
para um relator, que processa o recurso até o instante em que se apresentar
pronto para o julgamento do seu mérito, percorrendo as etapas de
preparação do relatório; do seu encaminhamento ao Ministério Público (se for
a hipótese); da remessa ao revisor (se for a hipótese); da solicitação de dia
para julgamento; da publicação da pauta no Diário da Justiça, etc.
Durante o iter procedimental, mantém-se o relator como responsável pelo
processamento do recurso, devendo logono primeiro contato realizar o
exame do preenchimento (ou não) dos requisitos de admissibilidade da
espécie, novamente verificando se teria sido apresentado no prazo previsto
em lei, se foi providenciado o recolhimento das custas, se o recorrente tem
interesse e legitimidade, etc.
Esse juízo de admissibilidade (ainda não definitivo) não se vincula ao que foi
decidido pelo magistrado do 1º grau de jurisdição, significando que o relator
pode negar seguimento ao recurso - impedindo o julgamento do seu mérito -,
se deparar com a conclusão de que a espécie foi interposta fora do prazo,
por exemplo, não obstante tenha a autoridade processante afirmado que o
recurso teria sido tempestivamente manejado.
O juízo de admissibilidade do recurso feito pelo relator também não é
definitivo, como ressaltado em linhas anteriores, já que a verificação do
preenchimento (ou não) dos requisitos de admissibilidade da espécie será
mais uma vez realizada por ocasião da sessão de julgamento, antes do
enfrentamento do mérito."
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 Dessa forma, rejeito a preliminar e conheço do recurso da ré como
principal (2º recurso de apelação), porque próprio, tempestivo e por ter
contado com o preparo, conforme f. 166.
 Também conheço do recurso de apelação da autora (1º recurso de
apelação) porque próprio, tempestivo e por ser isento de preparo, nos termos
do art. 12, da Lei 1.060/50 (f. 28).
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA:
 No 2º recurso a ré resume-se à suscitar preliminar de ilegitimidade
passiva. A 2ª apelante argumenta que a ação foi ajuizada contra Atlântico
Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados, empresa
que, embora homônima, é diversa da apelante, Atlântico Fundo de
Investimento Multimercado Crédito Privado, possuindo CNPJ distintos e
administradas por instituições distintas. Sustenta que o comprovante da
negativação, de f. 22, consta a denominação Atlântico, referindo-se à
empresa Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não
Padronizados e não à recorrente. Pede o provimento de seu recurso para
que seja declarada sua ilegitimidade passiva.
 Sem razão à ré/2º apelante.
 Dispõe o art. 3º do CPC:
 "Art. 3º. Para propor ou contestar a ação é necessário ter interesse e
legitimidade."
 A legitimidade para a causa consiste na qualidade da parte de
demandar e ser demandada, ou seja, de estar em juízo.
 Sobre o tema ensina Cândido Rangel Dinamarco, em Instituições
de Direito Processual Civil, 4ª ed., São Paulo, Malheiros Editores, vol. II, p.
306:
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 "Legitimidade ad causam é qualidade para estar em juízo, como
demandante ou demandado, em relação a determinado conflito trazido ao
exame do juiz. Ela depende sempre de uma necessária relação entre o
sujeito e a causa e traduz-se na relevância que o resultado desta virá a ter
sobre sua esfera de direitos, seja para favorecê-la ou para restringi-la.
Sempre que a procedência de uma demanda seja apta a melhorar o
patrimônio ou a vida do autor, ele será parte legítima; sempre que ela for
apta a atuar sobre a vida ou patrimônio do réu, também esse será parte
legítima. Daí conceituar-se essa condição da ação como relação de legítima
adequação entre o sujeito e a causa."
 Leciona Humberto Theodoro Júnior, in "Curso de Direito Processual
Civil", volume I - Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de
Conhecimento -, Editora Forense, Rio de Janeiro, 39ª edição, 2003, página
54:
 "Destarte, legitimados ao processo são os sujeitos da lide, isto é, os
titulares dos interesses em conflito. A legitimação ativa caberá ao titular do
interesse firmado na pretensão, e a passiva ao titular do interesse que se
opõe ou resiste à pretensão."
 Vicente Greco Filho, acerca da legitimidade, leciona que:
 "Consiste a legitimatio ad causam na pertinência subjetiva da ação, no
dizer de Alfredo Buzaid, isto é, no fato de estar, aquele que pede, autorizado
a demandar sobre o objeto da demanda. Normalmente, tem legitimidade para
a causa aquele que é titular ou sujeito da relação jurídica objeto do processo
e sofreu a lesão de direito. Diz-se, então, nesse caso, que a legitimação é
ordinária. (...).
A legitimação, para ser regular, deve verificar-se no pólo ativo e no pólo
passivo da relação processual. O autor deve estar legitimado para agir em
relação ao objeto da demanda e deve ele propô-la contra o outro pólo da
relação jurídica discutida, ou seja, o réu deve ser aquele que, por força da
ordem jurídica material, deve, adequadamente,
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suportar as conseqüências da demanda." (Vicente Greco Filho, Direito
Processual Civil Brasileiro. 20ª ed., Vol.1, São Paulo, Ed. Saraiva, 2007, p.43
e 81-82).
 Vê-se que a questão da legitimidade de parte deve ser analisada
com base nos elementos da lide, com relação ao próprio direito de ação,
afastando-se do conteúdo da relação jurídica material deduzida, dado que o
direito de estar em Juízo caracteriza-se pela abstração. Portanto, basta à
parte afirmar seu direito contra quem, supostamente, deve suportá-lo.
 Entendo que a legitimidade ad causam, conforme teoria da
asserção, diz respeito à verificação da pertinência abstrata com o direito
material controvertido.
 Para a teoria da asserção, se em uma análise preliminar for
verificado que o pedido do autor podia ter sido dirigido ao réu em razão dos
fatos e fundamentos deduzidos na petição inicial, há pertinência subjetiva
para o feito e presente está a legitimidade ad causam.
 Pela teoria da asserção leciona Fredie Didier Jr.:
 "Sem olvidar o direito positivo, e considerando a circunstância de que,
para o legislador, carência de ação é diferente de improcedência do pedido,
propõe-se a análise das condições da ação, como questões estranhas ao
mérito da causa, fique restrita ao momento de prolação do juízo de
admissibilidade inicial ao procedimento. Essa análise, então, seria feita à luz
das afirmações do demandante contidas em sua petição inicial (in statu
assertionis). "Deve o juiz raciocinar admitindo, provisoriamente, e por
hipótese, que todas as afirmações do autor são verdadeiras, para que se
possa verificar se estão presentes as condições da ação". O que importa é a
afirmação do autor, e não a correspondência entre a afirmação e a realidade
que já seria problema de mérito.
Não se trata de um juízo de cognição sumária das condições da ação,
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que permitiria um reexame pelo magistrado, com base em cognição
exauriente. O juízo definitivo sobre a existência das condições da ação far-se
-ia nesse momento: se positivo o juízo de admissibilidade, tudo o mais seria
exame de mérito, ressalvados fatos supervenientes que determinassem a
perda de uma condição da ação. A decisão sobre a existência ou não da
carência de ação, de acordo com esta teoria, seria sempre definitiva. Chama-
se de teoria da asserção ou da prospettazione." (Fredie Didier Jr., Curso de
Direito Processual Civil, Bahia, JusPodivm, 2008, Vol.1, 9ª ed., p. 217).
 Nesse sentido é o entendimento do STJ:
 "PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL PREQUESTIONAMENTO. VOTO VENCIDO. INEXISTÊNCIA.
CONDIÇÕES DA AÇÃO.PRECLUSÃO (ART. 267, § 3º, DO CPC). PRECLUI
A DEFESA DE MÉRITO INDEVIDAMENTE QUALIFICADA COMO
CONDIÇÃO DA AÇÃO. TEORIA DA ASSERÇÃO.
(...)
5. Aplicação da teoria da asserção, que leva em conta, para verificar as
condições da ação, o alegado pela parte na inicial.
6. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 668.552/RJ, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 02/08/2012, DJe 10/08/2012).
 "CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. EXTRAVIO
DE BAGAGENS DO PREPOSTO CONTENDO PARTITURAS A SEREM
EXECUTADAS EM ESPETÁCULO ORGANIZADO PELA EMPRESAAUTORA. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. EQUIPARAÇÃO AO
CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE. TEORIA DA ASSERÇÃO. EMPRESA
AUTORA BENEFICIÁRIA DO CONTRATO HAVIDO ENTRE O MAESTRO E
A RÉ. RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL.
(...)
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2. A teoria da asserção, adotada pelo nosso sistema legal, permite a
verificação das condições da ação com base nos fatos narrados na petição
inicial.
(...)
5. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido.
(REsp 753.512/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel. p/
Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
16/03/2010, DJe 10/08/2010).
 A legitimidade de parte para o processo se configura, ao menos em
tese, sempre que houver uma necessária relação entre o sujeito e a causa.
 No caso, tem a ré/2ª apelante legitimidade para figurar no pólo
passivo da lide já que a autora, na inicial, imputa à ela a responsabilidade
pela negativação do seu nome no SPC por débito que alega indevido.
 Saliente-se que o documento de f. 22, revela que a autora teve seu
nome negativado pela empresa "Atlântico", denominação esta que consiste
no 1º nome da empresa ora ré.
 Conquanto a ré alegue que a ação foi ajuizada contra Atlântico
Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados, e que a
negativação em questão não foi por ela, ré, solicitada, mas por Atlântico
Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados, a ré não
fez prova de tais alegações.
 Os documentos de f. 88/90 e f. 93/94 apenas demonstrem que as
empresas Atlântico Fundo de Investimento Multimercado Crédito Privado e
Atlântico Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados
são distintas, com CNPJ e gestores diversos. Contudo, tais documentos não
fazem prova de que a
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negativação discutida nos autos foi realizada por empresa outra que não a
ré, de nome homônimo.
 Ademais, se de nome igual as empresas pertencem a um mesmo
grupo, o que favorece a autora segundo Teoria da Aparência.
 Nesse sentido:
 "AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
SEGURO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. MESMO GRUPO ECONÔMICO.
TEORIA DA APARÊNCIA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL A
QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DE MULTA.
1. A Corte local aplicou a teoria da aparência, entendendo pela legitimidade
da instituição financeira pertencente ao mesmo grupo econômico,
posicionamento que encontra respaldo na jurisprudência desta Corte
Superior. Incidência da Súmula 83/STJ.
2. Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação de multa.
(AgRg no AREsp 141.432/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 08/05/2012, DJe 14/05/2012).
 "APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CONTRATO E DEVOLUÇÃO DE
VALORES. CARTÃO DE CRÉDITO. ILEGTIMIDADE PASSIVA. TEORIA DA
APARÊNCIA. MESMO GRUPO ECONÔMICO. PRELIMINAR REJEITADA.
DEVOLUÇÃO DE VALORES LANÇADOS EM DOBRO NA FATURA.
PEDIDO NÃO APRECIADO. SENTENÇA CITRA PETITA. CASSAÇÃO.
Segundo jurisprudência do STJ, uma empresa tem legitimidade para
responder por obrigação contraída por outra pessoa jurídica, componente do
mesmo grupo econômico, tal como no caso da empresa ré, cujo cartão de
crédito possui o mesmo nome comercial.
(...)
16
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 (Apelação Cível 1.0145.09.508626-3/002, Relator(a): Des.(a) Luciano Pinto ,
17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/03/2012, publicação da súmula em
03/04/2012).
 Conquanto o documento de f. 22 não apresente a indicação do
CNPJ da empresa solicitante da negativação mas apenas a denominação
"Atlântico", a ré/2ª apelante não juntou nos autos qualquer documento que
imputasse a origem da notificação à empresa outra, ônus que lhe incumbia,
já que alegou a ilegitimidade, e, ainda, em razão da inversão do ônus da
prova deferida pelo MM. Juiz à f. 39.
 A meu aviso, pois, a ré Atlântico Fundo de Investimento
Multimercado Crédito Privado é parte legítima para figurar no pólo passivo da
presente ação.
 Dessa forma, rejeito a preliminar de ilegitimidade passiva.
PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO:
 Em suas razões recursais, a autora/1ª apelante insurge contra a
sentença que declarou a prescrição de sua pretensão de reparação de
danos. Defende que contagem do prazo prescricional inicia-se apenas a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria, nos termos do art. 27, do
CDC, aplicável ao caso, e, ainda, por aplicação da teoria da actio nata.
Salienta que tomou ciência da existência da negativação em 12/04/2011.
 Razão assiste à autora/1ª apelante.
 Na sentença, o MM. Juiz acolheu a prejudicial de prescrição
arguida pela ré, ora 1ª apelada, ao fundamento de que o direito da autora à
reparação por danos estaria prescrito conforme art. 206, §3º, V do
CCB/2002, que assim dispõe:
17
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 "Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3º Em três anos:
(...)
V - a pretensão de reparação civil;"
 Pois bem. Inicialmente, necessário ressaltar que a relação
existente entre as partes tem natureza de consumo.
 Para evitar qualquer discussão em torno do tema, mister acentuar
que, na relação que ora se discute, os três requisitos hábeis a ensejar o
enquadramento da demanda na seara consumerista estão presentes: a) a
apelante é fornecedora de produtos varejista, o que está implícito na própria
natureza do fornecimento; b) a apelante é consumidora por suposta
equiparação, por ter seu nome negativado pela apelada, por aquisição de
produtos em seu nome (CDC, art. 29); c) a apelada é pessoa jurídica
fornecedora de produtos. (CDC, art. 3º).
 Sobre o tema ensina a doutrina:
 "As relações de consumo nada mais são do que relações jurídicas por
excelência, pressupondo, por conseguinte, dois pólos de interesse: o
consumidor-fornecedor e a coisa, objeto desses interesses. No caso, mais
precisamente, e consoante ditado pelo CDC, tal objeto consiste em produtos
e serviços.' (José Geraldo Brito Filomeno, Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor - Comentados pelos autores do anteprojeto, 6ª ed., Forense:Rio
de Janeiro, 2000, p. 42).
 Por tal razão, tenho que, no caso, aplica-se o prazo especial
prescricional delineado pelo art. 27 do CDC, e não o prazo geral previsto no
CCB/2002.
18
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Vejamos o ensinamento de Cláudia Lima Marques, em sua obra
Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 4ª ed., São Paulo:RT, 2002:
 "A Constituição Federal de 1988, pela primeira vez na história dos textos
constitucionais brasileiros, dispõe expressamente sobre a proteção dos
consumidores, identificando-os como grupo a ser especialmente tutelado
através da ação do Estado (Direitos Fundamentais, art. 5º, XXXII).
(...)
Atualmente não há mais dúvidas de que a Constituição representa a norma
máxima, o centro do próprio sistema de direito brasileiro. Sendo assim, é
lógico que a Constituição, norma hierarquicamente superior, sirva de guardiã
e de centro irradiador das novas linhas mestras do ordenamento jurídico.
Estas linhas mestras constituem a ordem pública do país, a influenciar as leis
daquele sistema de direito.
O dinamismo e os interesses contraditórios presentes na atual sociedade de
massas desencadearam o aparecimento de um grande número de leis
esparsas, leis especiais, em um fenômeno que os alemães denominaram de
'estilhaçamento' do direito (Zersplcitterung).Frente aos interesses
contraditórios defendidos pelas leis especiais, em face da generalização
excessiva dos Códigos dos sécs. XVIII e XIX, a ciência do direito teve que
buscar a segurança da lei máxima, da lei hierarquicamente superior, para ali
resguardar os valores que considerava mais importantes para aquela
sociedade. A Constituição toma assim o lugar da Codificação maior.
(...)
A Constituição brasileirade 1988 estabeleceu como princípio e direito
fundamental a proteção do consumidor e indicou a elaboração de um Código
de Defesa do Consumidor, demonstrando a sua vontade (e necessidade) de
renovar o sistema.
19
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
Sempre que há a inclusão no sistema legal de um país de um fato novo, um
novo corpo de normas ou de novos princípios cria-se para o aplicador da lei a
necessidade de analisar as contradições entre textos legislativos novos e
antigos ou entre os princípios orientadores da lei atual e da lei anterior,
resguardando assim a lógica do sistema e sua atualização.
(...)
Se a contradição entre os textos legais, suas normas e suas finalidades é tal
que permite a aplicação conjunta, integradora das normas, uma norma, por
exemplo, permite, enquanto a outra expressamente proíbe determinado tipo
de cláusula contratual, uma impõe a renúncia de um direito e a outra proíbe a
renúncia do mesmo direito, estando diante de uma antinomia real, não
solucionável através de simples interpretação das normas.Note-se que a
fonte desta incompatibilidade entre as normas pode estar no valor ou
princípio que inspirou as leis, umas querendo privilegiar determinados grupos
sociais, outras querendo proteger outros grupos sociais, umas querendo
atingir a igualdade entre todos na sociedade (leis gerais), outras querendo
justamente assegurar um tratamento privilegiado, em determinadas matérias,
em determinados contratos, visando um tratamento legal desigual, a
beneficiar determinado grupo na sociedade (leis especiais). Se em um
mesmo ordenamento jurídico temos leis inspiradas em valores contrapostos,
denomina-se essas antinomias de valores em 'antinomias de princípio.
(...)
Em caso de antinomias reais, três são os critérios destacados pela doutrina e
utilizados pela jurisprudência para solucioná-las: o cronológico, o hierárquico,
o da especialidade.' (p. 510/512, 514/515, 520/522)
 No caso em questão, a regra prevista pelo art. 206 § 3º, V do
CCB/2002 não tem correspondência no CCB/1916 e é posterior ao CDC.
Então, pelo critério cronológico ela deve prevalecer. Contudo,
20
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
pelo critério hierárquico, a regra prescricional disposta no CDC se sobrepõe
porque o Código do Consumidor tem sua superioridade assegurada pela
Constituição, eis que materialmente constitucional, tendo natureza de norma
complementar já que guarda princípios fundamentais. Também no critério da
especialidade, o CDC prevalece sobre o NCC porque no caso trata-se de
relação de consumo.
 Nesse sentido:
 "DIREITO DO CONSUMIDOR. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DO SERVIÇO.
PRESCRIÇÃO. CINCO ANOS. ART. 27 DO CDC. SÚMULA N. 83 DO STJ.
DECISÃO MANTIDA.
1. Segundo a jurisprudência desta Corte, o prazo de prescrição para o
consumidor pleitear reparação por falha na prestação do serviço é de cinco
anos, consoante previsto no art. 27 do CDC.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 995.890/RN, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 12/11/2013, DJe 21/11/2013).
 Logo, ao caso aplica-se o prazo prescricional do art. 27 do CDC.
 Cumpre salientar que, no caso, somente com a ciência da autora
quanto a existência da negativação de seu nome é que inicia-se a contagem
do prazo prescricional porque é quando nasceu o direito da parte de postular
judicialmente sua pretensão de reparação de danos, sendo essa a hipótese
da actio nata est.
 Quanto à teoria da actio nata est, leciona Ulderico Pires dos Santos
nos seguintes termos:
21
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 "A prescrição se perfectibiliza com estas particularidades: a) existência de
um direito exigível que pode ser tutelado durante o tempo previsto na lei para
o exercício da ação; b) vontade de seu titular de tutelá-lo, durante o curso do
prazo legal; c) inexistência de obstáculo capaz de impedir o titular do direito
de exercê-lo, se quiser.
A ação nasce com a vontade do credor de proteger o seu direito ou melhor:
p reex is te à sua facu ldade de querer , uma vez que surge ,
concomitantemente, com o di re i to que precisa ser protegido.
Ao nosso ver, a prescrição não significa a morte do direito como afirmou
Câmara Leal. É, isto sim, o germe que a mantém fecundada até
perfectibilizar-se ou definhar com o transcurso do tempo, dentro do qual a
ação pode ser proposta. É a extinção do prazo para o seu exercício que
culmina com a extinção do direito que ela podia proteger. (...)
Como dissemos, há causas que impedem a prescrição e as que, apenas, a
suspendem; a primeira ocorre antes do nascimento da ação.
Quer dizer: embora o titular do direito disponha de ação para fazê-lo valer,
não a exercita porque o curso do prazo da prescrição ainda não começou a
correr, não obstante o princípio da actio nata est, segundo o qual a
prescrição começa o seu curso no momento em que a ação nasce; a
segunda, ou seja, a que suspende o prazo, existe quando a ação já tem vida
exterior ou melhor: quando esse prazo já está correndo porque a causa que
podia impedir o seu curso nasceu somente depois de surgida a ação.
No fundo, as causas ou acontecimentos que estorvam, tolhem ou embargam
a marcha ou a evolução do prazo são as mesmas que não permitem que a
prescrição se consume ou que continue. A diferença entre ambas está no
instante em que nasce a ação e o direito.
Numa hipótese, a causa preexiste à ação e, portanto, impede que o prazo da
prescrição se inicie; no outro, ele já se iniciou e tem o seu curso impedido.
22
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
Se o seu prazo for suspenso, os dias decorridos serão computados no total
estabelecido pela lei, tão logo ele volte a correr. Se foi interrompido, o tempo
já decorrido fica sem efeito, começando ex novo, tão depressa desapareça o
motivo da interrupção; daí ser contado por inteiro.
Vamos insistir nesse assunto que a muitos ainda parece confuso: impede-se
a prescrição, evitando-se que ela se consume; suspende-se quando já está
correndo.
No primeiro caso, ela não atinge seu ápice porque a causa que a impede
impossibilita o exercício da ação; no segundo, como já estava com seu ciclo
iniciado, a ação fica estancada em conseqüência da causa superveniente
que suspende o seu curso." (SANTOS, Ulderico Pires dos, in 'Prescrição -
Doutrina, jurisprudência e prática', 2ª ed., Forense:Rio de Janeiro, 1990, p.
04 e 22/23).
 Sobre a actio nata, eis a jurisprudência do STJ:
 "PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.
APREENSÃO DE VEÍCULO REVERTIDA JUDICIALMENTE. DANOS
EMERGENTES. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. PRINCÍPIO DA ACTIO
NATA. AÇÕES INDENIZATÓRIAS AJUIZADAS CONTRA A FAZENDA
PÚBLICA. PRAZO PRESCRICIONAL QÜINQÜENAL.
1. O curso do prazo prescricional do direito de reclamar inicia-se somente
quando o titular do direito subjetivo violado passa a conhecer o fato e a
extensão de suas conseqüências, conforme o princípio da actio nata.
Precedentes.
(...)
4. Recurso especial não provido.
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
(REsp 1257387/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
julgado em 05/09/2013, DJe 17/09/2013).
 "ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. ATO DEMISSIONAL ILEGAL. PRAZO
PRESCRICIONAL. TERMO INICIAL. ACTIO NATA. PRESCRIÇÃO
CARACTERIZADA.
(...)
2. Em conformidade com o Princípio da actio nata, o termo a quo da
prescrição surge com o nascimento da pretensão, assim considerado o
momento a partir do qual a ação poderia ter sido ajuizada.
(...)
Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1355467/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 20/06/2013, DJe 28/06/2013).
 Na inicial da ação, a autora alegou que teve ciência da negativação
havida em 09/07/2006 apenas na data de abril de 2011, sendo que o
documento de f. 22, que faz prova de tal apontamento foi emitido em
12/04/2011.
 Dessa forma,considerando que a ação foi ajuizada em 04/05/2011
(f. 02v), não há que falar em prescrição, eis que não decorrido o prazo de 05
anos previsto no CDC, quer da data da ciência, quer da data da própria
negativação.
 Dessa forma, afasto prejudicial de prescrição acolhida na sentença.
MÉRITO:
24
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
1ª RECURSO DE APELAÇÃO/DA AUTORA:
 Passo ao julgamento do mérito da lide, quanto ao pedido de
condenação da ré no pagamento de indenização, em razão da prejudicial de
prescrição que foi reconhecida pela sentença mas afastada pelo Tribunal,
conforme analisa acima, e face a permissão legal contida no art. 515, §3º do
CPC:
 "Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria
impugnada.
(...);
§ 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267),
o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão
exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento."
 Demais disso, no STJ é pacífico o entendimento de que cabe o
julgamento pelo Tribunal se o processo está apto, na hipótese de reforma da
sentença que declarar prescrição.
 Neste sentido:
 "PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA.
PRESCRIÇÃO AFASTADA PELO TRIBUNAL A QUO. CAUSA MADURA.
APLICAÇÃO DO ART. 515 DO CPC. NECESSIDADE DE INSTRUÇÃO
PROBATÓRIA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA.
(...).
2. Em regra, o afastamento da prescrição pelo Tribunal ad quem permite-lhe
julgar as demais questões suscitadas no recurso, ainda que não tenham sido
analisadas diretamente pela sentença, desde que
25
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
a causa se encontre suficientemente "madura", sendo certo que a convicção
acerca de estar o feito em condições de imediato julgamento compete ao
Juízo a quo, porquanto a completitude das provas configura matéria cuja
apreciação é defesa na instância extraordinária conforme o teor da Súmula 7
do STJ. Precedentes.
(...)." (REsp 1082964/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 05/03/2013, DJe 01/04/2013).
 No caso, inicial da ação, a autora alegou que foi surpreendida com
a informação de que seu nome havia sido negativado por solicitação da ré,
em 09/07/2006, por dívida no valor de R$144,80. Aduziu que jamais manteve
qualquer relação contratual com a ré e que a negativação é indevida.
Requereu a declaração de inexistência do débito, a condenação da ré no
pagamento de indenização por danos materiais referente ao valor pago pela
autora a título honorários advocatícios contratuais a seus patronos e no
pagamento de indenização por danos morais.
 A ré, por sua vez, alegou em sede de contestação que não foi a
responsável pela negativação do nome da autora. Sustentou que não
cometeu qualquer ato ilícito e que a autora não fez prova de qualquer dano a
ensejar sua condenação no pagamento de indenização. Defendeu que a
contratação de advogado representa uma opção da parte na busca de um
reconhecimento pelo seu direito, custo que não pode ser repassado à parte
adversa.
 Na sentença, acolheu a prejudicial de prescrição do pedido de
reparação de danos, que foi afastada por este Tribunal, conforme acima
analisado, e julgou parcialmente procedente o pedido inicial, apenas para
declarar a inexistência do deito apontado.
 Nas razões do seu recurso, a rigor, a autora, ultrapassada a
prejudicial de mérito, requer a condenação da ré no pagamento de
indenização e a majoração do valor dos honorários advocatícios.
26
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Pois bem. No caso, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor,
por se tratar de relação de consumo por equiparação, em cuja hipótese a
responsabilidade civil da ré é objetiva, não sendo necessária a análise da
culpa para sua caracterização.
 Segundo o Código de Defesa do Consumidor:
 "Art. 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final."
 Dispõe também os art. 17 e 29, do CDC:
 "Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores,
todas as vítimas dos eventos."
 "Art. 29 - Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos
consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas
nele previstas".
 Segundo o art. 14, do CDC, o fornecedor responde independente
de culpa pela reparação dos danos causados aos consumidores em
decorrência de defeitos relativos à prestação do serviço.
 "Art. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos."
27
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 A responsabilidade objetiva se configura independentemente da
culpa, como leciona Carlos Roberto Gonçalves, in Responsabilidade Civil, 8ª
ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 21/22:
 "Nos casos de responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do
agente para que seja obrigado a reparar o dano. Em alguns, ela é presumida
pela lei. Em outros, é de todo prescindível, porque a responsabilidade se
funda no risco (objetiva propriamente dita ou pura).
Quando a culpa é presumida, inverte-se o ônus da prova. O autor da ação só
precisa provar a ação ou omissão e o dano resultante da conduta do réu,
porque sua culpa já é presumida. Trata-se, portanto, de classificação
baseada no ônus da prova. É objetiva porque dispensa a vítima do referido
ônus. Mas, como se baseia em culpa presumida, denomina-se objetiva
imprópria ou impura. É o caso, por exemplo, previsto no art. 936 do CC, que
presume a culpa do dono do animal que venha a causar dano a outrem. Mas
faculta-lhe a prova das excludentes ali mencionadas, com inversão do ônus
probandi. Se o réu não provar a existência de alguma excludente, será
considerado culpados, pois sua culpa é presumida.
Há casos em que se prescinde totalmente da prova da culpa. São as
hipóteses de responsabilidade independentemente de culpa. Basta que haja
relação de causalidade entre a ação e o dano."
 No caso, o documento de f. 22 revela que a autora teve seu nome
negativação por solicitação da empresa "Atlântico", em julho de 2006, por
dívida no valor de R$144,80 relativa ao contrato nº 01088619.
 Conquanto a ré tenha alegado não ser a responsável pela
negativação do nome da autora, conforme já analisado na preliminar
28
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
de legitimidade passiva, a ré não fez prova de sua alegação de que foi
empresa outra, de nome homônimo, que efetivou tal apontamento.
 Assim, imputa-se à ré, Atlântico Fundo de Investimento
Multimercado Crédito Privado a negativação objeto da presente ação.
 Diante da negativa da autora de que tenha celebrado qualquer
contrato com a ré, a legitimar referida negativação, caberia à ela, ré,
comprovar que a contratação foi realizada com diligência, e que foi o autor
quem contratou, não cabendo ao requerente fazer prova de fato negativo.
 Não é possível exigir da parte autora prova de fato negativo, ou
seja, prova conhecida como diabólica:
 Sobre o ônus da prova assim leciona o ilustrado doutrinador
Alexandre de Paula:
 "a doutrina do ônus da prova repousa no princípio de que, visando a sua
vitória da causa, cabe à parte o encargo de produzir provas capazes de
formar, em seu favor, a convicção do juiz. O fundamento da repartição do
ônus da prova entre as partes é, além de uma razão de oportunidade e de
experiência, a idéia de equidade resultante da consideração de que, litigando
as partes e devendo conceder-se-lhes a palavra igualmente para o ataque e
a defesa, é justo não impor só a uma o ônus da prova. Tão-só depois de
produzidas ou não as provase de examinadas todas as circunstâncias de
fato é que o juiz recebe da lei o critério que há de plasmar o conteúdo de sua
decisão" (Código de Processo Civil Anotado, Alexandre de Paula, 6ª edição,
vol. II, p.1417).
 Neste sentido:
 "APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INCLUSÃO DE
NOME EM CADASTRO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA
CELEBRAÇÃO DO
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
NEGÓCIO JURÍDICO. PROVA NEGATIVA. ÔNUS. DANOS MORAIS.
PRESUNÇÃO. MONTANTE. MINORAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
I - Por ser negativo o fato controvertido na lide, cabia à ré comprovar a
celebração de contrato com o autor, para legitimar a cobrança do débito e,
via de conseqüência, a inclusão do nome deste nos cadastros restritivos de
crédito.
(...)
(Apelação Cível 1.0145.13.008082-6/001, Relator(a): Des.(a) Leite Praça ,
17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/11/2013, publicação da súmula em
19/11/2013).
 "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - INSCRIÇÃO
INDEVIDA NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO - DANOS
MORAIS - CONFIGURAÇÃO - NÃO COMPROVAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE
RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE AS PARTES - SÚMULA 385, DO STJ -
I N A P L I C A B I L I D A D E - Q U A N T U M - R A Z O A B I L I D A D E E
PROPORCIONALIDADE - JUROS DE MORA - TERMO A QUO - DATA DO
EVENTO DANOSO - ILÍCITO EXTRACONTRATUAL - APELAÇÃO
PRINCIPAL PARCIALMENTE PROVIDA; APELAÇÃO ADESIVA, PROVIDA.
(...)
Se a autora nega a existência de relação jurídica, cabe à ré a comprovação
do contrário, trazendo aos autos elementos probatórios que demonstrem ter
a primeira celebrado contrato válido. Afinal, seria impossível à requerente
comprovar que não contratou com a requerida, eis que se trata de prova de
fato negativo, cuja impossibilidade de realização faz com que seja
comumente chamada de "prova diabólica".
Ausente tal prova, a cargo da ré, deve ser confirmada a sentença, no
30
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
tópico em que declarou a inexistência do débito de responsabilidade do
autor.
A fixação da indenização por danos morais deve se pautar pelo princípio da
razoabilidade, cabendo ao julgador observar, conjuntamente, a extensão da
ofensa sofrida pela vítima, a condição financeira do ofensor, o grau de
reprovação da conduta ilícita, as normas de experiência e o grau de
sensibilidade do homem médio.
Quanto aos juros moratórios, eles devem incidir sobre o valor da
condenação, a partir da data da negativação, em observância do disposto na
Súmula n. 54, STJ, pois se trata de ilícito extracontratual.
Apelação principal parcialmente provida; apelação adesiva, provida.
(Apelação Cível 1.0024.08.096040-4/001, Relator(a): Des.(a) Eduardo Mariné
da Cunha , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 10/10/2013, publicação da
súmula em 22/10/2013).
 No caso, contudo, a ré não apresentou qualquer documento capaz
de provar a existência de relação jurídica entre as partes, em especial o
contrato nº 01088619 que deu origem à negativação do nome da autora.
 Por outro lado é plausível a alegação da fraude de terceiro já que a
autora nega que contratou.
 Contudo, saliente-se que a configuração de fraude de terceiro não
isenta a ré de responsabilidade, eis que tal fraude é bastante comum, sendo
que esta circunstância apenas influencia na fixação do valor da indenização,
já que o fornecedor não pode atribuir a falha da segurança do serviço que
presta ao consumidor.
 O risco de fraude de terceiros é da ré, tratando-se de fortuito
interno, conforme entendimento do STJ.
31
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Eis a recente Súmula do STJ:
 "SÚMULA n. 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente
pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos
praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias."
 Neste sentido:
 "AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CADASTRO
DE INADIMPLENTES. INSCRIÇÃO INDEVIDA. FRAUDE PRATICADA POR
TERCEIROS. RESPONSABILIDADE. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
PRECEDENTES. DANO MORAL. VALOR. REEXAME. SÚMULA N. 7-STJ.
NÃO PROVIMENTO.
1. "O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a pactuação de contrato
bancário mediante fraude praticada por terceiro estelionatário, por constituir
risco inerente à atividade econômica das instituições financeiras, não elide a
responsabilidade destas pelos danos daí advindos." (AgRg no Ag
1148316/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
09/08/2011, DJe 06/09/2011) 2. Admite a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça, excepcionalmente, em recurso especial, reexaminar o valor fixado
a título de indenização por danos morais, quando ínfimo ou exagerado.
Hipótese, todavia, em que o valor foi estabelecido na instância ordinária
atendendo às circunstâncias de fato da causa, de forma condizente com os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
3. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no Ag 1318080/SP,
Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
22/11/2011, DJe 30/11/2011).
 "AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA A
INADMISSÃO DE RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO POR DANOS
32
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
MORAIS. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA FIRMADO
POR TERCEIRO. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM ÓRGÃO DE RESTRIÇÃO AO
CRÉDITO. DEVER DE INDENIZAR. REEXAME DE PROVAS.
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE QUE RESPONSABILIZA TERCEIRO A
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. QUANTUM INDENIZATÓRIO RAZOÁVEL E
PROPORCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. O acórdão recorrido reconheceu que o contrato de financiamento em que
constava o nome do autor como devedor solidário foi pactuado por terceiro e
a desconstituição de tal assertiva demandaria o reexame do suporte fático-
probatório, tarefa que encontra empeço na Súmula 7/STJ, que dispõe: "A
pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial." 2. O
Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a pactuação de contrato bancário
mediante fraude praticada por terceiro estelionatário, por constituir risco
inerente à atividade econômica das instituições financeiras, não elide a
responsabilidade destas pelos danos daí advindos.
3. (...) Tal montante revela-se condizente com os parâmetros adotados pelo
STJ, e com as peculiaridades do caso em tela, de sorte a evitar o indesejado
enriquecimento sem causa do autor da ação indenizatória, sem afastar o
caráter preventivo e repressivo inerente ao instituto da responsabilidade civil.
4. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no Ag 1148316/RJ,
Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 09/08/2011, DJe
06/09/2011).
 Destarte, não provada a obrigação da autora, o risco da fraude de
terceiro não pode lhe ser atribuído.
 Deve ser mantida, pois, a procedência do pedido da autora, de
declaração da inexistência do débito que ensejou o apontamento de f. 22,
assim como o cancelamento de tal apontamento.
33
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Demais disto, a ré deve ser condenada no pagamento de
indenização por danos morais em favor da autora.
 É cediço que a simples negativação ou manutenção indevida
caracteriza ofensa à imagem e ao bom nome da apelada, ensejando dano
moral indenizável, independentemente de qualquer outra prova.
 Segundo Yussef Said Cahali:
 "Após a Constituição de 1988, tornou-se definitivamente assentado o
entendimento de que responde pela reparação do dano moral a empresa
que, de forma errônea, registra o devedor no SPC, sendo dispensável
qualquer perquirição quanto à existência, também, de prejuízos patrimoniais"
(in "Dano Moral", 2º ed., RT, nº 98, p. 426).
 Nesse sentido:
 "CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR
DANOS MORAIS. CONTA CORRENTE CONJUNTA. EMISSÃO DE
CHEQUE SEM PROVISÃO DE FUNDOS POR UM DOS CORRENTISTAS.
IMPOSSIBILIDADE DE INSCRIÇÃO DO NOME DO CO-TITULAR DA
CONTA, QUE NÃO EMITIU O CHEQUE, EM CADASTRO DE PROTEÇÃO
AO CRÉDITO.OCORRÊNCIA DE DANO MORAL.
(...)
-A inscrição indevida em cadastros de proteção ao crédito ocasiona dano
moral in re ipsa, sendo despicienda, pois, a prova da sua ocorrência.
Precedentes.
Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 981.081/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
23/03/2010, DJe 09/04/2010).
 "ADMINISTRATIVO - INSCRIÇÃO INDEVIDA NO CADIN - INCABÍVEL A
ESTA CORTE A APRECIAÇÃO DE VIOLAÇÃO A DISPOSITIVOS
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
CONSTITUCIONAIS - INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO
CPC - DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADO - AUSÊNCIA
DE PREQUESTIONAMENTO (SÚMULA 211/STJ) - DANO MORAL
PRESUMIDO - REVISÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO - REEXAME DE
MATÉRIA DE PROVA (SÚMULA 07/STJ).
(...)
5. A jurisprudência do STJ entende que a inscrição indevida em cadastros de
proteção ao crédito, por si só, justifica o pedido de ressarcimento a título de
danos morais, tendo em vista a possibilidade de presunção do abalo moral
sofrido.
(...)
(REsp 1155726/SC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado
em 04/03/2010, DJe 18/03/2010).
 O dano moral é assim definido:
 "Danos morais são lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou jurídicas, em
certos aspectos de sua personalidade, em razão de investidas injustas de
outrem. São aqueles que atingem a moralidade e a afetividade da pessoa,
causando-lhe constrangimentos, vexames, dores, enfim, sentimentos e
sensações negativas. Contrapõem-se aos danos denominados materiais,
que são prejuízos suportados no âmbito patrimonial do lesado. Mas podem
ambos conviver, em determinadas situações, sempre que os atos agressivos
alcancem a esfera geral da vítima, como, dentre outros, nos casos de morte
de parente próximo em acidente, ataque à honra alheia pela imprensa,
violação à imagem em publicidade, reprodução indevida de obra intelectual
alheia em atividade de fim econômico, e assim por diante.
Os danos morais atingem, pois, as esferas íntima e valorativa do lesado,
enquanto os materiais constituem reflexos negativos no
35
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
patrimônio alheio. Mas ambos são suscetíveis de gerar reparação, na órbita
civil, dentro da teoria da responsabilidade civil." (Carlos Alberto Bittar, Danos
Morais: Critérios para a sua Fixação", artigo publicado no Repertório IOB de
Jurisprudência nº 15/93, pág. 293/291).
 Quanto ao quantum indenizatório, importante ressaltar que o valor
da indenização por dano moral deve servir para compensação íntima do
ofendido, como leciona Carlos Roberto Gonçalves, citando Maria Helena
Diniz.
 "Em todas as demandas que envolvem danos morais, o juiz defronta-se
com o mesmo problema: a perplexidade ante a inexistência de critério
uniformes e definidos para arbitrar um valor adequado.
(...)
Maria Helena Diniz propõe as seguintes regras "a serem seguidas pelo órgão
judicante no arbitramento, para atingir homogeneidade pecuniária na
avaliação do dano moral:
Evitar indenização simbólica e enriquecimento sem justa causa, ilícito ou
injusto à vítima. A indenização não poderá ter valor superior ao dano, nem
deverá subordinar-se à situação de penúria do lesado; nem poderá conceder
a uma vítima rica uma indenização inferior ao prejuízo sofrido, alegando que
sua fortuna permitiria suportar o excedente do menoscabo;
Não aceitar tari fação, porque esta requer despersonalização e
desumanização, e evitar porcentagem do dano patrimonial;
Diferenciar o montante indenizatório segundo a gravidade, a extensão e a
natureza da lesão;
Verificar a repercussão pública provocada pelo fato lesivo e as
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
circunstâncias fáticas;
Atentar para as peculiaridades do caso e para o caráter anti-social da
conduta lesiva;
Averiguar não só os benefícios obtidos pelo lesante como o ilícito, mas
também a sua atitude ulterior e situação econômica;
Apurar o real valor do prejuízo sofrido pela vítima;
Levar em conta o contexto econômico do País; no Brasil não haverá lugar
para fixação de indenização de grande porte, como as vistas nos Estados
Unidos;
Verificar a intensidade do dolo ou o grau de culpa do lesante;
Basear-se em prova firme e convincente do dano;
Analisar a pessoa do lesado, considerando a intensidade de seu sofrimento,
seus princípios religiosos, sua posição social ou política, sua condição
profissional e seu grau de educação e cultura;
Procurar a harmonização das reparações em casos semelhantes;
Aplicar o critério do justum ante as circunstâncias particulares do caso sub
judice (LICC, art. 5º), buscando sempre, com cautela e prudência objetiva, a
equidade."
Concluiu a renomada civilista: "Na quantificação do dano moral, o
arbitramento deverá, portanto, ser feito com bom-senso e moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, à gravidade da ofensa, ao nível sócio-
econômico do lesante, à realidade da vida e às particularidades do caso sub
examine."
Pode-se afirmar que os fatores considerados são: a) a condição social,
educacional, profissional e econômica do lesado; b) a intensidade de seu
sofrimento; c) a situação econômica do ofensor e os benefícios
37
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
que obteve com o ilícito; d) a intensidade do dolo ou o grau de culpa; e) a
gravidade e a repercussão da ofensa; e f) as peculiaridades e circunstâncias
que envolveram o caso, atentando-se para o caráter anti-social da conduta
lesiva." (Carlo Roberto Gonçalves, Responsabilidade Civil, 8ª ed., São Paul:
Saraiva, 2003, p. 569 e 576/577).
 Apesar de o dano moral ser de difícil aferição, dada a sua
subjetividade, deve o julgador atentar para a sua extensão, para o
comportamento da vítima, para o grau de culpabilidade do ofensor e para a
condição econômica do ofensor, de modo que o ofensor se veja
pedagogicamente repreendido a não repetir o ato, e a vítima se veja
compensada pelo prejuízo experimentado, sem, contudo, ultrapassar a
medida desta compensação, sob pena de provocar o enriquecimento sem
causa, e dar causa a desproporcional empobrecimento do ofensor.
 Segundo entendimento do STJ, o arbitramento da indenização
moral deve se pautar nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
 Nesse sentido:
 "ADMINISTRATIVO - RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO -
DANOS MORAIS E ESTÉTICOS - PERDA DE MEMBRO SUPERIOR -
INDENIZAÇÃO - VALOR IRRISÓRIO - MAJORAÇÃO.
1. O valor do dano moral deve ser arbitrado segundo os critérios da
razoabilidade e da proporcionalidade, não podendo ser irrisório, tampouco
fonte de enriquecimento sem causa, exercendo função reparadora do
prejuízo e de prevenção da reincidência da conduta lesiva.
(...)
38
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
Agravo regimental improvido.
(AgRg no Ag 1259457/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 13/04/2010, DJe 27/04/2010).
 "ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
TORTURA DE MENOR. DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7 DO STJ. VERBA FIXADA COM
RAZOABILIDADE.(...)
2. O Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento no sentido de que
a revisão do valor de indenização por danos morais somente é possível
quando exorbitante ou insignificante a importância arbitrada, em flagrante
violação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Tal
excepcionalidade não se aplica, contudo, à hipótese dos autos, a ponto de
abrandar as regras de conhecimento do recurso especial.
Agravo regimental improvido." (AgRg no AREsp 65.904/PB, Rel. Ministro
HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe
05/03/2012).
 Nos termos do art. 944 do CCB:
 "Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano."
 Para os casos de negativação indevida, semelhantes aos dos
autos, quando autor e parte ré são vítimas da ação de terceiro estelionatário,
esta Câmara tem fixado indenização por danos morais, no valor aproximado
de 13 salários mínimos.
 Nesse sentido:
39
Tribunalde Justiça de Minas Gerais
 "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS -
INCLUSÃO DO NOME DA PARTE AUTORA NOS CADASTROS DE
NEGATIVAÇÃO AO CRÉUDITO - AUSÊNCIA DE PROVA DA RELAÇÃO
NEGOCIAL - FRAUDE DE TERCEIRO - DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO
- QUANTUM INDENIZATÓRIO - MITIGAÇÃO - POSSIBILIDADE. (...)
IV - Nos termos do entendimento pacificado desta Câmara, a indenização por
danos morais em razão de negativação indevida do nome do consumidor
deve ser fixada, em observância aos princípios da razoabilidade e
moderação, em valor equivalente a, aproximadamente, 13 salários mínimos,
notadamente, na hipótese em que empresa responsável pela inscrição foi,
assim como o postulante, vítima de fraude perpetrada por terceiro.
(Apelação Cível 1.0024.11.196824-4/001, Rel. Des.(a) Luciano Pinto, 17ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 21/02/2013, publicação da súmula em
04/03/2013)
 "APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -INSCRIÇÃO INDEVIDA
NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO - EXISTÊNCIA DE
OUTRA ANOTAÇÃO, MAS POSTERIOR E ILEGÍTIMA, EM FACE DA
DEVEDORA - DANOS MORAIS CONFIGURADOS - RECURSO PROVIDO.
(....)
Observando os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, os
princípios orientadores da intensidade da ofensa, sua repercussão na esfera
íntima da vítima, as condições do ofensor, o caráter pedagógico da medida, a
particularidade de a ré também ter sido vítima de estelionatário e os
parâmetros adotados por esta 17ª Câmara Cível, nos casos em que o
conjunto probatório não demonstra a existência de culpa em grau elevado da
ré, embora lhe fosse possível evitar a fraude ou, ao menos, impedir a
negativação dos dados da autora, considero adequado fixar a indenização
em R$ 8.086,00, equivalente a 13 salários mínimos vigentes.
Recurso provido. (Apelação Cível 1.0024.11.171820-1/001, Rel. Des.(a)
Eduardo Mariné da Cunha, 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/01/2013,
publicação da súmula em 08/02/2013)
40
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Do exame das circunstâncias do caso, vejo que a negativação
ensejou ofensa de grau médio à autora, eis que seu nome permaneceu
negativado desde 2006 até a data 04/04/2012, data do documento de f. 91,
apresentado pela ré, de "nada consta".
 O grau de culpabilidade da ré também foi médio, eis que negativou
o nome da autora em decorrência de contratação celebrada sem a devida
cautela, tendo ela boa capacidade financeira para indenizar.
 Lado outro, a dívida apontada era de pequeno valor (R$144,80, f.
22) e a ré também foi vítima da fraude, o que reduz o grau de sua
culpabilidade.
 Dessa forma, arbitro o valor da indenização por danos morais em
R$8.000,00, valor condizente com as circunstâncias dos autos, inclusive com
a ofensa sofrida pela autora que, saliente-se, com a indenização não pode
pretender enriquecer-se sem causa.
 Sobre o valor da indenização deve incidir juros de mora de 1% ao
mês a partir do evento danoso, no caso, da data da negativação indevida,
conforme Súmula 54 do STJ:
 "Súmula 54: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em
caso de responsabilidade extracontratual."
 A correção monetária, pelos índices da Corregedoria Geral de
Justiça de Minas Gerais deve incidir a partir do arbitramento, conforme
Súmula 362, do STJ:
 Assim dispõe referida Súmula
 "Súmula 362, do STJ: A correção monetária do valor da indenização do
dano moral incide desde a data do arbitramento".
41
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Na inicial, a autora também formulou pedido de indenização por
danos materiais referente ao valor pago pela autora a título de honorários
advocatícios contratuais a seus patronos.
 Em razão do afastamento da preliminar de prejudicial do pedido de
reparação de danos, tenho que tal pretensão inicial da autora, de
indenização material, também deve ser analisada pelo Tribunal, nos termos
do art. 515, §3º, do CPC.
 No caso, contudo, tal pedido é improcedente.
 É que, não se configura nexo causal entre a conduta da ré e o
gasto feito pela autora com seu advogado.
 A ré não participou da relação contratual mantida entre autora e
seu patrono, nem interferiu no valor dos honorários contratados, razão pela
qual a ré não se vincula a tal contrato.
 O contrato de honorários, firmado entre cliente e advogado, não
cria obrigação para o terceiro, sucumbente da ação, já que não existe
relação negocial estabelecida entre eles quanto a tais honorários. Inexiste
previsão legal ou contratual capaz de obrigar uma parte a suportar os gastos
com advogado da parte ex adversa, de honorários só entre eles contratados.
 Saliente-se que o art. 389 do CC/2002 se refere a possível
reembolso também do que foi gasto com advogado, mas é específico para os
casos de inadimplemento de obrigação, o que pressupõe obrigação líquida,
clara e positiva, contratada entre as partes, ensejadora de responsabilidade
civil contratual, o que não é o caso dos autos. Conquanto haja julgados em
contrário, a posição de maioria do STJ é a do não cabimento de tal
indenização com espeque no art. 389 do CCB/2002.
 Nesse sentido:
42
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 "AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATAÇÃO DE
ADVOGADO. DANO MATERIAL NÃO CONFIGURADO. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. REVISÃO. INVIABILIDADE. VALOR RAZOÁVEL.
1. A contratação de advogado, por si só, não enseja danos materiais, sob
pena de atribuir ilicitude a qualquer pretensão questionada judicialmente.
(...)
4. Decisão agravada mantida pelos seus próprios fundamentos.
5. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(AgRg no REsp 1229482/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe
23/11/2012).
 "PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL INTERPOSTO
CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA. RESPONSABILIDADE CIVIL.
CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO. JUSTIÇA DO TRABALHO. AUSÊNCIA
DE ILICITUDE. DECISÃO MANTIDA.
1. É de ser mantida a decisão monocrática pela qual se nega provimento a
recurso especial se as razões do agravo regimental não se apresentam
robustas o bastante para alterar o convencimento do julgador.
2. A simples contratação de advogado para o ajuizamento de reclamatória
trabalhista não induz, por si só, a existência de ilícito gerador de danos
materiais.
3. Agravo regimental desprovido.
 (AgRg no REsp 1155527/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe
43
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
03/05/2011).
 "CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO NO JULGADO.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONFIGURADA. DANO MORAL.
NÃO OCORRÊNCIA. PRETENSÃO DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA
N. 07/STJ. CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO PARA CUIDAR DE AÇÃO
TRABALHISTA. DANO MORAL. NÃO CONFIGURADO.
(...)
- A contratação de advogado para ajuizamento de ação trabalhista não gera
ato ilícito, nem se torna apto e capaz de ensejar direito à indenização por
danos morais.
- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido."
(REsp 915882/MG, 4ª Turma/STJ, rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro,
j. 04.02.2010, DJ. 12.04.2010).
 O pedido de ressarcimento do valor dos honorários advocatícios
contratados, portanto, mostra-se improcedente.
 Por fim, quanto ao pedido formulado pela autora em sede de
recursal, de majoração do valor dos honorários advocatícios para o patamar
de 20% sobre o valor da causa, a ser arbitrado nos termos do art. 20, §3º, do
CPC, tenho que razão parcial lhe assiste.
 É que, com as reformas estabelecimento no julgamento da
presente apelação, o pedido inicial foi julgado parcialmente procedente para
declarar a inexistência do débito, determinar o cancelamento da negativacao
e condenar a ré no pagamento de indenização por danos morais.
44
Tribunal de Justiça de Minas GeraisTratando-se, pois, de sentença/acórdão de natureza condenatória,
os limites da fixação dos honorários são os estipulados pelo art. 20 § 3º do
CPC:
 Dispõe o art. 20,§3º, do CPC:
 "Art. 20. A sentença condenará o vencido a pagar ao vencedor as
despesas que antecipou e os honorários advocatícios. Esta verba honorária
será devida, também, nos casos em que o advogado funcionar em causa
própria.
(...)
§ 3º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez por cento (10%) e o
máximo de vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação, atendidos:
a) o grau de zelo do profissional;
b) o lugar de prestação do serviço;
c) a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o
tempo exigido para o seu serviço."
 Portanto, nos termos do art. 20, §3º, do CPC, os honorários
deverão ser fixados entre o percentual mínimo de dez por cento (10%) e o
máximo de vinte por cento (20%) do valor da condenação, atendidos os
parâmetros indicados no dispositivo legal.
 No caso, lado outro, não cabe o arbitramento do valor dos
honorários advocatícios no patamar máximo de 20%.
 Na hipótese em tela, considerando os parâmetros indicados
45
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
no citado artigo, entendo que o percentual de 15% sobre o valor da
condenação mostra-se suficiente, adequado e razoável a remunerar os
procuradores das partes, inclusive levando em conta que a ação é
corriqueira, não complexa e que o processo teve uma duração de tramitação
razoável.
 Em razão da sucumbência recíproca, mantenho a distribuição dos
ônus processuais arbitrados na sentença, na proporção de 70% pela ré e de
305 pelo autor.
2ª RECURSO DE APELAÇÃO/DA RÉ:
 Conforme já exposto quando da análise da preliminar de
ilegitimidade passiva, o 2º recurso de apelação, da ré, 	que resumiu-se a
alegar tal preliminar, não merece provimento.
DISPOSITIVO:
 Isto posto, rejeito as preliminares, negando provimento ao 2º
recurso, da ré. Dou parcial provimento ao 1ª recurso, da autora, para afastar
a prejudicial de prescrição reconhecida na sentença e, nos termos do art.
515, §3º, do CPC, julgar parcialmente procedente o pedido inicial para:
 a) manter a sentença na parte que declarou a inexistência do
débito e determinou o cancelamento da negativação;
 b) condenar a ré no pagamento de indenização por danos morais,
no valor de R$8.000,00 (oito mil reais), com juros de mora de 1% (um por
cento) ao mês desde a data do evento danoso e correção monetária pelos
índices da CGJMG a partir do arbitramento.
 c) condenar a ré no pagamento de 70% das custas processuais,
inclusive recursais, e de 70% dos honorários advocatícios ora arbitrados em
15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação, cabendo à autora o
pagamento dos demais 30% das custas processuais e 30% dos honorários
advocatícios.
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Os honorários deverão ser compensados, conforme Súmula 306
do STJ e artigo 21 do CPC.
 Em relação ao autor, determino a aplicação do art. 12 da Lei
1.060/50
DES. LEITE PRAÇA (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).
DES. EVANDRO LOPES DA COSTA TEIXEIRA - De acordo com o(a)
Relator(a).
 SÚMULA: "PRELIMINARES REJEITADAS. PREJUDICIAL DE
PRESCRIÇÃO AFASTADA. 1º RECURSO PROVIDO EM PARTE. 2º
RECURSO NÃO PROVIDO."
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