Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
OS VALORES E A EDUCAÇÃO Regina Coeli Barbosa Pereira A vida do homem é pautada em valores. A todo instante está a escolher entre isso e aquilo aferindo valor a tudo que vê, presencia, deseja. Emite valor a certas ações considerando-as justas ou injustas, certas ou erradas, boas ou más, possíveis ou impossíveis. O mundo das coisas se relaciona ao mundo dos valores. Mas, o valor não está “na coisa em si”; está naquele que valora. Por isso, o valor surge sempre da relação entre o sujeito que valora e o objeto valorado. A prática humana é uma prática axiológica. O homem age em função dos valores. Colocar a questão dos valores é colocar também o problema do homem. São inerentes a ele, não podendo existir separados dele, nem com ele absolutamente identificados. “Mas, devem nele fundamentar-se e por ele gerar- se, exatamente como no caso das ideias das qualidades sensíveis” (PITMBO, 1974, p 85). Silva (1986, p. 30), faz referência a Sócrates ao se referir ao homem, porque para esse filósofo é preciso considerar não o que o homem tem, mas o que ele é essencialmente, apesar das circunstâncias e acidentes. “Através das perguntas e respostas, dúvidas e questionamentos sucessivos, formulações conceituais e refutações, o homem se vê conduzido pelo esforço racional ao valor absoluto, universal e permanente - o Bem, fonte de todas as perfeições dignidades e sabedorias”. Atribuir um valor a alguma coisa é não ficar indiferente a ela. Por isso se diz que os valores existem na esfera da afetividade. Somos sempre afetados pelo que acontece ou existe ao nosso redor. Por isso, valorar é uma experiência fundamentalmente humana que tem o homem como seu centro. “A valoração é uma experiência muitas vezes anterior ao próprio ato reflexivo e mesmo à tomada de consciência dos valores enquanto tais: representa, portanto, a possibilidade de “descoberta dos valores”, no sentido de apreensão ou doação de significações” (SILVA, 1986, p.21). Para ARANHA e Martins (1992, p. 106), “a consequência de qualquer valoração é, sem dúvida, dar regras para a ação prática”. A experiência dos valores orienta o agir do homem que procura colocar aquilo que tem valor a seu dispor. Os valores resultam da experiência vivida pelo homem ao se relacionar com o mundo e com os outros homens. Vale ressaltar que essas experiências variam conforme o povo e a época. ”Nosso costume de comer bife escandaliza o indu, para quem a vaca é animal sagrado” (p. 106). Os valores são herdados da cultura e transmitidos de uma geração a outra. Eles existem para que a sociedade subsista; muitas vez esses constituem em regras para manter a integridade e possibilitar o desenvolvimento da sociedade. Faz preservar costumes, estabelecer usos, direcionar comportamentos. A fidelidade à natureza a que pertencemos como partes, embora fracas, exige que acalentemos os nossos desejos e ideias até mesmos à prova da inteligência, examinando os meios e modos pelos quais a natureza torna possível realiza-los. Quando afirmamos sobre o valor de algo estamos expressando nossa não-indiferença diante dele. A não-indiferença provoca tanto atração quanto repulsa. Ela mostra a relação entre os seres e os sujeitos que os aprecia. Garcia Morente (apud ARANHA e MARTINS,2003, p. 300), diz que “Os valores não são, mas valem. Uma coisa é valor e outra coisa é ser). Vale destacar que as coisas só adquirem valor pela apreciação que as pessoas têm delas. Assim, a partir da valoração as pessoas vão se relacionar com a coisa “valorada”, colocando-a a seu dispor. Atribuir um sentido especial às coisas, devida à valoração, exige uma situação concreta. E, ao assumirem a conotação social que lhes atribuímos, estão sujeitos às mais diversas determinações que a realidade apresenta nesta situação. Conforme Garcia (1977, p. 136), “Um valor é sempre uma escolha que comporta novas possibilidades, na medida em que modificações de situações possam conduzir a novas valorações”. Ao longo da história da educação pode-se perceber como o processo valorativo estabeleceu seus rumos, conferindo-lhe padrões de ações que atendessem à realidade imediata, à sociedade em sua evolução. Vale ressaltar que a educação emerge da sociedade. A dimensão axiológica da educação precisa, necessariamente, ser detectada, analisada, situada historicamente. As relações valorativas precisam ser consideradas em suas mais diversas maneiras de apresentação, nos mais diversos momentos do processo educativo, entre e pelos elementos nele envolvidos, isto é, alunos, professores, escola, comunidade, sociedade como um todo. Os valores permeiam toda prática educativo-pedagógica, mas nem sempre são fáceis de serem detectados; encontram-se camuflados por políticas implícitas capazes de garantir a perpetuação do status quo, a reprodução da sociedade vigente. Se o homem não nasce educado, certamente a educação que lhe é oferecida faz com que se modele aos interesses da sociedade vigente. A reflexão filosófica torna-se fundamental, pois “possibilitará ao educador uma leitura crítica da práxis educativa, das orientações teóricas, conjugadas dialeticamente com a ação prática, dando-lhe condições de detectar os valores que, de modo implícito ou explícito, estão norteando o trabalho educativo, presentes (de modo manifesto ou não) nas valorações que aí se operam”(SILVA, 1986, p.22). As bases axiológicas da educação precisam ser conhecidas e esclarecidas por meio de um trabalho reflexivo. Toda e qualquer ação realizada em educação precisa acontecer de forma consciente, intencional, visando resultados mais seguros da tarefa educativa. Educação e valores precisam caminhar de forma articulada, estabelecida pelos agentes responsáveis pela educação. São as causas que produzem os valores. Por isso, é importante estabelecer “o que se quer”, que tipo de homem formar através do processo educativo por suas consequências individuais e sociais. Para formar o “ideal” da educação que realizará com seus alunos, o professor levará em conta aquilo que considera como valor. Seu projeto educativo se baseia em suas aspirações, ideais formativos os quais se encontram radicados em suas valorações, naquilo que estabeleceu como ideal educativo. Muitos educadores versaram sobre Teorias dos Valores em Educação como Saviani, Luckesi, Mizukami, dentre outros, considerando a prática pedagógica como uma prática axiológica e situando seus pressupostos ao longo da história da educação. Qualquer tentativa de organização e operacionalização do fenômeno educativo envolverá o estabelecimento de valores em seu direcionamento.
Compartilhar