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Contratos mercantis Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: descrever o mecanismo de funcionamento dos contratos mercantis. 11 ob jet ivo A U L A Meta da aula Explicar o mecanismo de funcionamento dos contratos mercantis. Pré-requisito Para que você acompanhe com proveito esta aula é necessário que você tenha tido um bom aproveitamento nas aulas que tratam da formação das sociedades empresariais (Aulas 4 e 5). 1 8 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis C E D E R J 9 A U LA 1 1INTRODUÇÃO FA C T O R I N G O U F A T U R I Z A Ç Ã O Necessitando de recursos, a empresa negocia os seus créditos cedendo-os à outra, que se incumbe de cobrá-los, adiantando-lhe o valor desses créditos. Na exploração da atividade empresarial a que se dedica o empresário individual ou a sociedade empresarial celebram-se vários contratos. As obrigações que combinam os fatores de produção nascem principalmente de contratos. Todos os fatores (capital, insumos, mão-de-obra e tecnologia) que envolvem a atividade empresarial estão sujeitos a contratos. Nesta aula, vamos tratar basicamente dos contratos mercantis que são aqueles firmados entre empresários. CONTRATO MERCANTIL Investir capital pressupõe a celebração de contrato bancário, pelo menos o de depósito. Para obtermos insumos, é necessário contratar a aquisição de matéria-prima, eletricidade ou mercadorias para revender. Articular trabalho na empresa significa contratar empregados, prestadores de serviços autônomos ou empresa de fornecimento de mão-de-obra (terceirizada). A aquisição ou criação de tecnologia faz-se por contratos industriais (licença ou cessão de patente, transferência de know-how). Além dessas providências, para organizar o estabelecimento, por vezes, o empresário usa equipamentos e acautela-se com seguro. Ao oferecer os bens ou serviços que produz ou circula, ele igualmente celebra contratos com consumidores ou outros empresários. Ao conceder crédito, normalmente negocia-o com bancos, mediante descontos ou FACTORING (faturização). Os contratos que o empresário contrai podem estar sujeitos a quatro regimes jurídicos diferentes, no Direito brasileiro: administrativo, do trabalho, do consumidor e cível. Dependendo de quem seja o outro contratante, as normas aplicáveis ao contrato são diferentes. Se o empresário contrata com o Poder Público ou concessionária de serviço público, o contrato é administrativo. Por exemplo, se o fabricante de móveis vence LICITAÇÃO promovida por prefeitura, para substituir o mobiliário de uma repartição, o contrato que vier a assinar será desta espécie. Se o outro contratante é empregado, na acepção legal do termo de acordo com a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, Art. 3, o contrato é de trabalho. Se consumidor (ou empresário em situação análoga à de consumidor), a relação contratual está sujeita ao Código de Defesa do Consumidor. Nas demais hipóteses, o contrato é civil e estará regido pelo Código Civil ou por legislação especial. Os contratos são mercantis se os dois contratantes são empresários. LI C I T A Ç Ã O Concorrência a prestar serviços públicos com melhores preços e condições. 8 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis C E D E R J 9 A U LA 1 1Os contratos mercantis podem classificar-se entre os cíveis ou os sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor – CDC – dependendo, uma vez mais, das condições dos contratantes. Se os empresários são iguais, sob o ponto de vista de sua condição econômica (quer dizer ambos podem contratar advogados e outros profissionais antes de assinarem o instrumento contratual, de forma que, ao fazê-lo, estão plenamente informados sobre a exatidão dos direitos e obrigações contratados), o contrato é cível; se desiguais (ou seja um deles está em situação de vulnerabilidade econômica frente ao outro) o contrato será regido pelo Código de Defesa do Consumidor. Quando o banco contrata, com a construtora, a edificação de sua sede, o contrato é mercantil-cível, porque ambos os empresários negociam em pé de igualdade. Mas, quando o mesmo banco concede empréstimo a microempresário, o contrato mercantil está sujeito ao Código de Defesa do Consumidor, já que este último se encontra em situação análoga à de consumidor. O mais adequado seria uma reforma legislativa que disciplinasse especificamente os contratos mercantis (entre empresários), classificando-os de acordo com as condições dos contratantes (iguais e desiguais) e reservando a cada tipo disciplina compatível com a tutela dos interesses, objeto de contrato. Enquanto esta reforma não se realiza, aplica-se o Código Civil de 2002, ou legislação especial aos contratos mercantis cíveis e o Código de Defesa do Consumidor aos mercantis sujeitos a este regime. Fgura 11.1: Dois empresários assinando um contrato. 10 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis C E D E R J 11 A U LA 1 1CONTRATOS E OBRIGAÇÕES A doutrina afirma que os contratos são fontes de obrigações. Para se entender a relação entre contrato e obrigação, é necessário partir-se da diferença entre o vínculo que une duas ou mais pessoas, no sentido de as autorizar a exigirem determinada prestação uma da outra e o documento comprobatório da existência deste vínculo. Contrato é uma das modalidades de obrigação, ou seja, uma espécie de vínculo entre as pessoas, em virtude do qual são exigíveis prestações. A obrigação é a conseqüência que o direito atribui a um determinado fato. Assim, quem aufere renda, por exemplo, fica obrigado a pagar o respectivo imposto; quem causa culposamente dano a uma pessoa deve indenizá-la; quem adquire a cota não integralizada de uma sociedade limitada será responsável pelas dívidas sociais dentro de um certo limite. A vontade humana está entre os fatos que o direito reconhece como uma das fontes de obrigações. Se uma pessoa, por sua própria determinação, quer se obrigar perante outra em função, ou não, de uma contraprestação desta, o Direito tem reconhecido eficácia a tal desejo, no sentido de pôr à disposição das partes o aparelho estatal de coerção, com vistas a garantir a realização da vontade manifestada. A existência e a extensão de uma obrigação dependem das disposições legais ou da vontade das pessoas diretamente interessadas. Quando são as normas jurídicas (disposições legais) que definem, totalmente, a existência e a intenção do vínculo obrigacional, estamos diante de uma obrigação legal. Nesta categoria, encontram-se os tributos, a pensão alimentícia, a indenização por ato ilícito danoso, os benefícios previdenciários. Porém, quando a definição da existência ou da extensão da obrigação não se encontra exaurida na sua disciplina legal, reservando-se a vontade das pessoas diretamente envolvidas na relação à faculdade de participar desta definição, temos diante de nós uma categoria diversa de obrigação. Se a existência e a extensão da relação obrigacional dependem, exclusivamente, da vontade das pessoas, inexistindo norma jurídica que reconheça eficácia a esta, então o vínculo representa uma simples obrigação natural, como dívida de jogo, o dízimo para entidades religiosas ou a contribuição para obras assistenciais. Tais vínculos não têm caráter jurídico, mas apenas moral. 10 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis C E D E R J 11 A U LA 1 1Em suma, pode-se situar o contrato no conjunto das obrigações em que a existência e a extensão do dever, que certa pessoa tem de dar ou fazer algo para outra, são definidas em parte pela vontade dela mesma. O contrato é uma espécie deste gênero de obrigação. Sempre houve uma determinada disciplina normativa dos contratos. Na Antigüidade Clássica, o Direito Romano reconhecia validade aos contratos reais se tivessem sido contraídos com a observância deum ritual realizado com o uso de uma balança. Na Idade Média, os instrumentos de certos tipos de contrato deveriam conter a chancela de uma autoridade feudal. Mesmo no capitalismo concorrencial, ao contrário do que costumava pregar o liberalismo clássico, nunca existiu uma absoluta liberdade de contratar, tendo o Estado disciplinado normativamente o contrato desde o início. O tema contratos tem crescido progressivamente. Com efeito, não apenas o Estado, cada vez mais, define previamente o conteúdo de determinadas cláusulas contratuais, como, por vezes, torna obrigatório o contrato ou estabelece preços, condições de pagamento etc. Podemos exemplificar invocando os contratos bancários, que não podem ignorar um extraordinário conjunto de regras fixadas pelas autoridades monetárias. A predefinição da existência e da extensão do vínculo em algumas hipóteses é de tal forma exaurida pelas normas jurídicas em vigor, que não resta qualquer margem de atuação para a vontade das partes. Nestes casos, como o do chamado seguro obrigatório, cuja contratação é imposta a todo proprietário de veículo automotor, rigorosamente não se cuida de uma obrigação contratual, mas legal. Para que haja contrato, é indispensável uma participação da vontade do devedor, ainda que mínima, no que se refere às definições atinentes à existência e à extensão do seu dever. 12 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis C E D E R J 13 A U LA 1 1 Classifique se as relações aqui citadas são contratos administrativos, contratos do trabalho, contratos cíveis. Justifique. a. A empresa Comilança Ltda. fornece o almoço para a equipe de limpeza que presta serviço na prefeitura. b. O Sr. Francisco contratou por dois meses 10 trabalhadores para colher a safra de milho daquele ano. c. A empresa Comilança Ltda. fornece as refeições do restaurante do hospital estadual Dr. Orlando Cruz. Respostas Comentadas a. É um contrato cível de prestação de serviço, regido pelo Código de Defesa do Consumidor em que a equipe de limpeza recebe o serviço contratado com a empresa Comilança Ltda. b. É um contrato de trabalho, regido pela CLT, Consolidação das Leis do Trabalho, em que 10 trabalhadores foram contratados pelo Sr. Francisco. c. É um contrato administrativo. O hospital é um órgão do poder executivo do Estado e contratou uma empresa privada. O hospital estadual, para contratar a empresa Comilança Ltda., precisou fazer um processo de seleção chamado licitação. Atividade 1 CONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO CONTRATUAL Dois princípios regem a constituição do vínculo contratual: o do consensualismo e o da relatividade das convenções. O contrato é um acordo, e um acordo pressupõe mais de uma parte. Quando duas ou mais pessoas acordam em constituir, regular ou extinguir uma relação jurídica de índole patrimonial estão celebrando um contrato. Contrato é consenso, aperfeiçoando-se, em regra, pelo encontro de vontades. Então, assim explica-se o princípio do consensualismo. Por princípio da relatividade das convenções entende-se que os efeitos do contrato se circunscrevem apenas às partes que nele se obrigaram. Os contratos são obrigatórios, tanto que as partes acordam sobre o objeto da convenção e o reduzem, por escrito, nos casos em que esta prova é necessária. Contudo, há contratos cuja validade depende da observância de atos, formas e solenidades particulares. Assim, proponente e aceitante vinculam-se, simplesmente, por declarações de vontade, quer dizer, pelo consentimento. A proposta de contrato cria obrigações ao proponente, como você verá a seguir: 12 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis C E D E R J 13 A U LA 1 1 PA C T A S U N T S E R V A N D A As partes devem se submeter ao pactuado no contrato. Os contratos existem para serem cumpridos. A pacta sunt servanda encerra um princípio de Direito no ramo das obrigações contratuais. É o princípio da força obrigatória segundo o qual o contrato faz lei entre as partes. AV E N Ç A S Acordos, convenções entre as partes litigantes para terminar a demanda; ajustes. • quando feita sem prazo, a pessoa presente (inclusive por telefone, fax ou veículo de telecomunicação semelhante), e não for imediatamente aceita; • quando feita sem prazo a pessoa ausente e esta não manifestar-se em tempo hábil; Já para o aceitante, a proposta torna-se obrigatória: • se aceitá-la, tempestivamente, ou seja, no prazo, sem adições, restrições ou modificações; • se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa e a recusa não chegar ao proponente em tempo hábil; • se o proponente dispensar a aceitação expressa e a recusa não chegar a tempo. FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO Ao se vincularem por um contrato, as partes assumem obrigações, podendo uma exigir da outra a prestação prometida. Esta é a regra geral, sintetizada pela cláusula PACTA SUNT SERVANDA, implícita em todas as AVENÇAS. Em outros termos, a ninguém é possível liberar-se, por sua própria e exclusiva vontade, de uma obrigação assumida em contrato. Se o vínculo nasceu de um encontro de vontades, ele somente poderá ser desfeito por desejo de todas as pessoas envolvidas na sua constituição (ressalvadas as hipóteses de desconstituição por fatores externos à manifestação da vontade). Isto significa, especificamente, que todos os contratos têm, implícitas, as cláusulas de irretratabilidade e de intangibilidade. Pela primeira hipótese afasta-se a possibilidade de dissolução total do vínculo por simples vontade de uma das partes; pela outra, revela-se impossível a alteração unilateral das condições, prazos, valores e demais cláusulas contratadas. Em suma, uma vez constituído o nexo contratual, a parte (contratante ou a parte contratada) encontra-se no dever de cumprir as obrigações assumidas e adquire o direito de reclamar o que foi prometido pela outra parte. Pelo contrato, as partes sujeitam-se a um regime obrigacional marcado, geralmente, pela impossibilidade de retratação ou modificação unilateral do que foi pactuado. Ao menos, em princípio, pacta sunt servanda. É nesse sentido que se afirma que “o contrato faz lei entre as partes”. 14 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis C E D E R J 15 A U LA 1 1 Pacta sunt servanda Por que o governo do Paraná levou à justiça o contrato da usina termelétrica de Araucária? Pacta sunt servanda, os acordos devem ser cumpridos, diz o ditado latino. Mas, qualquer tipo de acordo? Evidentemente, não: o Supremo Tribunal Federal diz que o governante tem obrigação de denunciar à justiça contratos lesivos ao interesse público. E foi por isso que, cumprindo compromisso com o qual foi eleito, o novo governo do Paraná, logo após a posse: 1. determinou que a Copel, sua estatal de eletricidade, suspendesse os pagamentos mensais de R$ 25 milhões que vinham sendo feitos à UEG Araucária (UEGA), por conta da compra de geração da usina de eletricidade dessa empresa; 2. pediu que a justiça examinasse os termos dos contratos entre a Copel e a UEGA, que é controlada pela norte-americana El Paso. São contratos abusivos. A Copel pagava, mas a usina não tinha condições de operação. Figura 11.2: Usina parada: vista das chaminés acopladas às caldeiras e às duas turbinas a gás. EXTINÇÃO DO CONTRATO Os contratos são negócios temporários: surgem, desenvolvem-se e extinguem-se. Uma vez que o contrato é a representação formal de obrigações, sua extinção ocorre naturalmente pelo cumprimento das obrigações dele nascidas. Os contratos podem também ser extintos por outras causas que não o cumprimento das obrigações pactuadas. Se estas causas foram anteriores ou contemporâneas à conclusão do contrato (ex.: a locação de um carro em favor de um louco) fala-se em anulação do contrato. Essas causas afetam a validade ou a eficácia do contrato. Se as causas são posteriores ao contrato(ex.: execução da meta contratual), fala-se em dissolução do contrato. 14 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis C E D E R J 15 A U LA 1 1 Atividades Finais Podem as partes estipular no contrato a faculdade de dissolverem o contrato unilateral ou bilateralmente (distrato); ou então o contrato pode ser resolvido pelo não-cumprimento da obrigação por uma das partes (rescisão). A rescisão do contrato implicará a reparação das perdas e danos sofridos pela parte que não executa a obrigação. CONCLUSÃO No assunto contratos mercantis, notamos as várias formas encontradas para ajustar os interesses das partes, especialmente na sociedade atual de trocas e de economia globalizada. Pelos contratos, circulam as riquezas, compra-se e vende-se, financia-se, transporta-se, segura-se, deposita-se, confia-se, transferem-se bens etc. legislando-se assim o núcleo da atividade empresarial. 1. A empresa JJC Ltda. tem contrato de edição com a imobiliária Morar Bem, para publicar seus anúncios nos meios de comunicação da cidade. Ocorre que a imobiliária Morar Bem desfez-se. Como se classificaria a extinção deste contrato? 2. A empresa JJC Ltda. comprou um imóvel para localização de novo parque industrial comprometendo-se a pagar sinal de 30% do valor da aquisição e o restante em 12 parcelas. Uma vez pago o sinal, outro vendedor oferece à empresa compradora outro imóvel com preço inferior e mais facilidades de pagamento. Pergunta-se: pode a empresa JJC Ltda. simplesmente deixar de cumprir suas obrigações com o primeiro comprador para se livrar do pactuado? Justifique. Respostas Comentadas 1. Se as empresas pactuaram o tempo para as edições e portanto de extinção do contrato, teremos um distrato, uma dissolução do contrato, uma vez que atingiu-se a meta contratual (ex.: publicar por cinco meses em determinados jornais). Se a imobiliária Morar Bem desfez-se durante a vigência do contrato com a JJC, houve uma rescisão unilateral do contrato. Pode-se nesse caso pensar em uma forma de indenização da imobiliária Morar Bem em favor da empresa JJC. 2. Não, tendo em vista o princípio da pacta sunt servanda, em que as cláusulas contratuais são leis entre as partes. 16 C E D E R J Legislação Comercial | Contratos mercantis A polivalência do contrato e a sua vinculação ao consenso ao qual chegam as partes, considerando a importância à palavra dada, justificam tanto a sobrevivência quanto a adaptação desse instrumento rico e flexível, que permite o desenvolvimento racional e pacífico das relações comerciais. Ao Direito cabe apenas regular a forma do contrato e não a vontade dos contratantes. R E S U M O INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, estudaremos compra e venda mercantil e contratos intelectuais.
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