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História do Direito 2º semestre Portugal

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Santo Agostinho
Sto. Agostinho, considerado por muitos como “Doutor, Santo Padre da Igreja e Filósofo”, marcou o pensamento medieval, sobretudo até ao séc. XIII. Nasceu em 374 e morreu em 430, oriundo do Norte de África, converteu-se ao cristianismo em 386 d.c. Até essa altura levou uma vida boémia e inquieta seguindo a doutrina maniqueísta. Morreu bispo de Hipona e foi o primeiro político na Igreja.
Entre 397 e 398, Agostinho dedicou-se a escrever “Confissões”, na qual que narra a juventude e a sua conversão, onde revela os caminhos da fé em meio às angústias do mundo. “A verdade e Deus devem ser buscados na alma, e não no mundo exterior”. Em 413 começa a obra “A Cidade de Deus”, escrita para consolar os cristãos após Roma ser saqueada pelos visigodos, em 410. Esta obra de Agostinho tem como seu principal conteúdo a interpretação do mundo à luz da Fé do Cristianismo. Agostinho, na Cidade de Deus, divide a sociedade em dois “partidos” opostos: A Cidade de Deus e a Cidade Terrena. “Com efeito, ambas as Cidades enlaçam-se e confundem-se no século até que o juízo final as separe.” Na cidade de Deus encontramos uma “ordem de Fé” para entendermos o mundo e a própria historia do homem. “Tudo o que aparece no mundo e aparece na história é pertencente à Fé como também a providência divina. A cidade de Deus é superior a cidade terrena e por isso a primeira deve exercer autoridade sobre a segunda. “A respeito da origem, progresso e do fim que as aguarda é que quero desenvolver meus pensamentos, com a divina assistência e para glória da Cidade de Deus, que o cotejo de tantos contrastes há de tornar mais resplandecente.”
Era professor de retórica e teve uma grande formação clássica, justificada pela inserção das ideias platónicas no pensamento cristão. A forma como Sto. Agostinho fala do corpo e da alma reflete o seu platonismo, o corpo é o erro e o mal, a alma é um ímpeto de divindade, a verdade é o fruto da revelação divina. Assim, permanece não monista. Para ele, o bem, o justo e o verdadeiro são ideias que não estão no mundo sensível, mas antes têm uma fonte divina, provêm da vontade de Deus.
Há aqui uma conceção voluntarista e legalista em que a única instância válida ó o direito posto, a vontade do legislador. E quem é o legislador? Para Sto. A gostinho, Deus é o motor do Universo, a vontade divina é a fonte de Direito, o justo é o que Deus quer, sendo Deus o legislador. Assim, a justiça é fruto da vontade de Deus. 
Defende um direito natural cristianizado, através da tripartição do que seja a lei (´´Doutrina Geral da Lei’’) , que se divide em lei eterna, lei natural e lei humana.
A lei eterna é fruto da vontade divina, deve-se à vontade de Deus, a ideia voluntarista da lei, imutável, é justa porque é a vontade de Deus. Está presente uma dualidade entre razão e vontade divina. O verdadeiro direito está consagrado na lei eterna, correspondendo ao direito que se situa em Deus. O Homem tem a possibilidade de chegar a esta lei eterna pela lei natural.
A lei natural é o reflexo da lei eterna sendo também imutável. Todos os Homens nascem na sua consciência racional com o reflexo da lei eterna. É uma forma de participação do ser racional na lei de Deus. Através da razão alcançamos a lei eterna. Esta perspetiva vai evoluindo: a) pré-socráticos-é uma ordem cosmológica, natural, jusnaturalismo cosmológico; b) sofistas- o Homem é a medida de todas as coisas, jusnaturalismo antropológico; c)Sto. Agostinho- lei eterna, Deus é a origem do verdadeiro direito- jusnaturalismo teocêntrico.
A lei humana encontra o seu fundamento na lei natural que por sua vez o faz na lei eterna, havendo aqui uma certa hierarquia. Podem ser mutáveis. A lei humana tem que existir para resolver problemas e preservar a paz e a harmonia numa determinada comunidade.
O pensamento social e político de Sto. Agostinho bebe mais das ideias aristotélicas que das platónicas na medida em que a existência da comunidade é fruto da própria natureza humana. O Homem é, por natureza, um ser social e tal inclina-o para a família e para a sociedade. Sto. Agostinho entendia a sociedade histórico-política pelo dualismo mítico entre duas cidades: a Cidade de Deus e a Cidade do Diabo. A Cidade de Deus ‘’civitas dei’’ é constituída pelos Homens bons de todos os tempos, representando a Igreja e todos os seus Homens bons, justos e isentos de pecado. É uma cidade a que todos devem aspirar, mas à qual poucos chegarão lá. A Cidade do Diabo ‘’civitas diaboli’’ é composta por todos os homens maus, estando destinada a desaparecer por ser uma cidade precária, de pecado, prazeres carnais.
 No entanto, este dualismo/antagonismo entre as duas cidades é alegórico uma vez que a discriminação entre os homens bons e homens maus se realizará no dia do Juízo Final. 
Existe também um sentido antropológico no pensamento de Sto. Agostinho, caracterizada pelo pessimismo. A natureza humana é intrinsecamente má, corrompida e fraca pois o homem nasceu imaculado até ao pecado original. Assim, o que permite levar o Homem para a justiça é a conceção da graça divina, refletindo a subordinação do temporal ao espiritual. A conceção de Estado que deriva da conceção humana, é que o Estado serve para garantir a paz e a segurança limitar a natureza má do Homem.
Santo Agostinho tem uma perspetiva na guerra na qual defenda a teoria da guerra justa, criar guerras para a guerra. A guerra serve para responder a um litigio entre países com intuito de repor a situação anterior. Afirma ser legítimo, aos olhos de Deus, o recurso às armas para repor a ordem, os valores e o próprio direito. 
Depois da morte de Sto. Agostinho, cai o Império Romano do Ocidente. O período que se segue é conturbado, instável, disperso, marcado pela instabilidade política, económica e social. Deste modo, surge uma recolha de cultura aos mosteiros, na medida em que só a Igreja tinha estruturas para se manter estável e edificada. As pequenas escolas, desenvolvidas em torno da Igreja, permitiram a preservação da cultura.
Escolástica
A escolástica pode dividir-se em três períodos: desde a coroação de Carlos Magno até aos finais do séc. XII; ocupa o séc. XII com influências de S. Tomás de Aquino; séculos XIV e XV.
 O método escolástico consistia em leitura critica de obras selecionadas, aprendendo a apreciar as teorias do autor, por meio do estudo minucioso de seu pensamento e das consequências deste. Neste processo, como complemento, eram explorados outros documentos ou obras relacionadas com a obra em questão. A partir da comparação entre o texto da obra e os documentos a ela relacionados, especialmente documentos da igreja e análises de estudiosos anteriores, se produzia as sententiae, curtas sentenças nas quais eram listadas as discordâncias entre fontes diversas, acerca dos temas tratados na obra em estudo. As setentiae podiam incluir também recortes dos textos originais, para comparação e comentário.
No primeiro período, influenciado pelas ideias de Sto. Agostinho, assiste-se a um desprezo total por tudo o que era uma realidade corpórea, pelo mundo sensível que é visto como injusto. A apreensão do conhecimento tem que prescindir a realidade sensível. Desta forma, surge a influência platónica, importante para a evolução do conhecimento. O clero apropria-se do pensamento platónico e substitui a razão do logos grego pela palavra de Deus, a realidade tende para uma realidade divina e há uma superação da realidade humana. A divindade é perfeita, transcendente e permite um conhecimento perfeito.
Exemplo de alguns autores importantes para a escolástica foram Boécio que defendeu o dogma da santíssima Trindade, Cassiodoro que foi importante na literatura escrevendo ‘’ Instituitiones’’, Santo Isidoro de Sevilha e S. Tomás de Aquino.
Santo Isidoro de Sevilha
Foi bispo de Sevilha, viveu entre 560 e 635 d.c e é um autor muito importante do ponto de vista jurídico. As suas obras fundamentais foram ‘’Etimologias’’ e ‘’Sentenças’’. O seu pensamento tem como característica principal o facto de ter recuperado o pensamento jurídico clássico.Trabalhou textos de Ulpiano e de Gaio levando a cabo um trabalho rigoroso do direito romano clássico, imprimindo a este estudo do direito romano um cunho pragmático, ou seja, as situações práticas orientam o seu estudo. A realidade deveria ser estudada de acordo com os nomes que a designavam- é percursor do nominalismo, dá importância às palavras e à linguagem. 
Foi o primeiro a reconhecer que o direito vem da justiça e da ideia de que o direito e a lei não se identificam, a lei é uma espécie de direito e pode ser ponto de partida para o mesmo. A fonte de direito é o costume, o fundamento da própria lei.
Quanto ao direito, realça a importância das leis escritas, do direito positivo. Considera que as leis positivas são costumes passados a escrito. Não é o legislador que cria a lei, é a positivação do costume que o torna lei. Estas leis têm de estar de acordo com a razão e com a religião, devem prever a solução humana e devem ter a função de prevenção geral. Por outro lado, faz uma distinção entre leis punitivas, leis permissivas e leis proibitivas cujo nome é autoexplicativo.
Santo Isidoro vai buscar uma grande parte da sabedoria antiga a partir de Ulpiano, Cícero e Gaio fazendo uma distinção entre o direito natural, o direito civil e o direito ‘gentile’ das gentes
Vai dar uma visão mais prática e realista ao direito natural (direito de matrimonio, direito de procriar), densificando-o com alguns conceitos: direito à legítima defesa fundamental às pessoas em sociedade; também direito à restituição do emprestado, obrigação de devolver o emprestado como garantia da segurança e paz; a ideia de liberdade de cada um; direito à propriedade, à apropriação das coisas.
No fundo, Sto. Isidoro alarga a noção do direito romano dando uma nova arrumação ao direito natural que visa resolver os problemas concretos. Com este enriquecimento da noção de direito natural, Sto. Isidoro acaba por permitir a criação de direitos civis e de liberdades públicas que vão fazer com que ele seja conhecido como o Pai das Liberdades Ibéricas. No contexto da sua época, desenvolve um sistema de direitos e liberdades, um conjunto de princípios que devem reger as relações que vão marcar a visão da monarquia da Península Ibérica, uma vez que será marcada pela convocação de cortes. 
Lançou na História um modelo pré-constitucional, protetor, o modelo das liberdades ibéricas tradicionais. Tem como aspeto fundamental a ideia do bom governo, ideia de que há uma legitimidade formal de quem governa e da necessidade de uma legitimidade material, ou seja, se não respeitar os direitos do povo, não tem condições materiais para continuar a governar. Recupera a velha máxima de Horácio em que a legitimidade do poder fundamentava-se no seu bom exercício ‘ a legitimidade do exercício do poder politico não se aferia só, nem sobretudo, da existência de um titulo válido; dependia também da capacidade de legitimidade material e não formal, isto é, um adequado, justo e correto exercício das funções políticas.’
S. Tomás de Aquino
· Contextualização do seu pensamento:
Após a queda do IR do Ocidente surge um período de decadência. Contudo, o IR do Oriente mantinha-se e havia até uma universidade onde resistia uma autonomização jurídica. 
As doutrinas medievais dividiam-se em: trivium (retórica, dialética, gramática) e quadrivium (astronomia, matemática, geometria e música). Não havia, portanto, o ensino do direito, apenas se estudava a retórica e a argumentação.
As escolas que retomaram o ensino laico do Direito são Ravena e Pavio, sendo que a primeira fazia uma conexão entre as escolas do ocidente e do oriente. Dá-se, então, a recuperação do direito romano que se refere a uma penetração das culturas, ideias, instituições do direito romano no panorama jurídico ocidental que ocorre nos séculos XI até XIV. É neste período que se dá o renascimento do realismo clássico porque se descobre uma parte do digesto, o que vai levar ao surgimento de muitas universidades. Este direito romano divulgado não é o direito romano clássico, uma vez que este foi sofrendo alterações no decurso do tempo.
Um dos primeiros nomes da recuperação do direito justiniano foi Inério (séc. XI e XII) que foi responsável pela criação do stadium civile em Bolonha a partir do qual se desenvolve a primeira universidade europeia que vai estudar o direito romano a partir do Digesto. O método utilizado para interpretar o direito é através das glosas, que dão nome à escola dos gloseadores. A glosa é uma análise literal do texto em questão, são pequenos comentários que visavam uma análise literal e exegética, limitada à análise das palavras. As glosas podiam ser marginais ou interlineares.
Outra figura que se destaca nesta Escola, já numa fase mais tardia (fins do séc. XII) é Acúrsio. Num momento de decadência da escola, Acúrsio procurou compilar todas as glosas que foram criadas nos dois séculos de existência da Escola dos Gloseadores, na chamada Magna Glosa de Acúrsio. Esta teve um efeito semelhante ao Corpus Iuris Civilis.
A dada altura, a decadência acentua-se e estes comentários deixam de incidir sobre o Corpus Iuris Civilis e passam a ser trabalhadas as glosas que existiam sobre este.
No séc. XIII e XIV, faz-se sentir uma influência tomista e de Aristóteles. Todo este fervor metodológico vai levar ao nascimento da ciência jurídica. Verifica-se a decadência da escola de Bolonha e o crescimento da Escola dos Comentadores, havendo uma dinâmica metodológica que os transforma em criadores da ciência jurídica porque são eles a fazer a adaptação do direito romano às necessidades concretas, à harmonização do direito romano ao direito das sociedades europeias. Procuram o sentido das normas harmonizando-as com o direito canónico. 
C0m a escola dos Comentadores dá-se o progressivo desprendimento dos textos potenciados para aquele que é o interesse prioritário da nova orientação metodológica ao estudar o direito romano justiniano: a aplicação prática dos textos de direito romano. A atitude dos comentadores foi de um grande pragmatismo tendo os seus representantes se concentrado na construção de uma dogmática dirigida à solução de questões concretas.
Nos séc. XIII e XIV afirma-se o Sacro- Império romano-germânico e a afirmação das monarquias. Assim, era necessário harmonizar o direito romano com os direitos estaduais bem como com o direito canónico, fundamental para o desenvolvimento jurídico das nações europeias. Tal harmonização deu origem ao utrunque ius, direito comum. Há a necessidade de fortalecer os Estados através de um direito que fortaleça o poder político.
A Igreja não dispunha de um texto que se equiparasse ao corpus iuris civilis que fundamentava o direito romano. Assim, em 1140, o Papa Graciano decide reunir todo o material de direito canónico numa obra única- Decreto de Graciano.
Uma das grandes figuras da Escola dos Comentadores foi Bartólo de Saxoferrata que defendia que a condição para ser bom jurista era usando o método dos comentadores. Compilou todos os comentários da escola que constituiu como fonte de direito nos ordenamentos jurídicos.
O papel da Escola dos Gloseadores e da Escola dos Comentadores foi fundamental para o pensamento político de S. Tomás de Aquino, que foi a figura mais importante da escolástica medieval.
· S. Tomás de Aquino
Tomás de Aquino (1225-1274) foi um frei católico, filósofo e teólogo italiano da Idade Média, da Ordem Dominicana. Viveu numa época de estabilidade política, de desenvolvimento económico e social. Ele auxiliou na reintrodução da filosofia aristotélica no pensamento europeu e atualizou a teologia cristã junto à filosofia medieval, tendo escrito sobre os conflitos entre fé e razão existentes no período.
 Teve influência em Sto. Agostinho, no entanto, tal como este “cristianizou” as ideias de Platão, São Tomás de Aquino foi responsável por ‘’ cristianizar” o estudo de Aristóteles. Reconhecia a existência de duas justiças (evidente influência aristotélica), a justiça geral ou universal estabelecida por Deus e a justiça particular, ou seja, individualizaçãoda justiça geral. S. Tomás de Aquino, tendo um conhecimento do pensamento aristotélico, é chamado a Paris para combater uma forma de aristotelismo que começava a ganhar adeptos em França- averroísmo latino. As teses do averroísmo contrariavam ideias fundamentais da Igreja: a eternidade do Universo; manopsiquismo, a alma humana não é imortal; doutrina dupla verdade, há verdades que são da fé e outras que são da verdade.
Foi um racionalista, para ele Deus é o ser da razão e por isso não pode deixar de querer o justo, a racionalidade de Deus assim o impõe. É responsável pela laicização do direito, retirando-o de um longo período de síncrise normativa. Verifica-se uma restauração, em moldes racionalistas, da autonomia da ciência do direito.
 S. Tomás identifica o Direito com a Justiça, que é uma virtude. Existe uma dicotomia do direito quanto à alteridade e à igualdade. A alteridade tem a ver com o ‘outro eu’, é a compreensão de como nos relacionamos como os outros, a nossa compreensão do outro enquanto ser complexo. A igualdade contempla no conteúdo da alteridade pois só existe igualdade entre duas pessoas.
As obras mais importantes de S. Tomás de Aquino foram ‘Summa contra gentiles’ e ‘Summa theologicae’ talvez a sua obra magna, que não foi concluída, mas representa uma brilhante parte da Teologia Cristã Escolástica, referindo o tratado da lei e o tratado da justiça e do Direito.
A conceção da lei é mais ampla que a conceção de direito pois abarca todas as ordens sociais.
Na teoria da lei, S. Tomás de Aquino é tributário da lei de Sto. Agostinho, a tripartição da lei: lei eterna, lei natural e lei humana. 
A lei eterna é um princípio orientador de toda a criação, de origem divina. No entanto, difere de Sto. Agostinho na medida em que coloca no patamar a perspetiva da fé e da razão. A razão de Deus é responsável por todas as coisas, todavia, o trabalho de Deus não se esgota da criação, mas continua a reger o universo através das leis naturais.
A lei natural é uma lei ética, que se aplica intuitivamente às normas, há uma aceção racional das leis naturais. Na lei natural há princípios: primeiros princípios dizem são universais e imutáveis e dizem respeito a fazer o bem e evitar o mal como os 10 mandamentos, já os segundos princípios são mutáveis e são adições aos primeiros princípios decorrendo deles. A partir da dicotomia bem malm compete ao Homem deduzir tosas as prescrições possíveis e aí origina a lei humana. A lei natural está acima da lei humana e serve de fundamento para esta.
A lei humana ou lei positiva. não é um mal necessário como dizia Sto. Agostinho, mas uma exigência da própria lei natural que pretende uma concretização que oriente o Homem no sentido de fazer o bem e evitar o mal. Há uma revalorização do legislador, que sendo humano, imperfeito e limitado deve alcáçar o bem comum em moldes intelectualizados através da legislação que emana.
Fala ainda de uma lei divina, que difere da eterna. É a lei que Deus formula para orientar ou coadjuvar o Homem na lei humana em questões essenciais. 
Também a forma como S. Tomás de Aquino via a comunidade foi influenciada por Aristóteles, assim como Sto. Agostinho. Para Aquino, a comunidade é fruto da tendência natural do Homem para se agregar, primeiro formando-se a família e a seguir a comunidade. Para ele, o fim do Homem é alcançar a felicidade pela contemplação, mas também pelo racionalismo. 
A conceção da natureza humana em S. Tomás de Aquino é bem mais otimista que a de Sto. Agostinho. Se for um bom cristão, se for uma pessoa que viva em conformidade com as regras de Deus, facilmente chega à civita dei de Agostinho.
· Pensamento Político:
S. Tomás de Aquino considera que o Estado deve garantir a segurança e também condições políticas, económicas e sociais para que as pessoas tenham uma boa vida. Só dessa forma o ser humano alcança a virtude. É o início da perspetiva política que vai ser defendida pela igreja católica, a origem popular do poder. Todo o poder é de origem divina e esse poder foi entregue nas mãos do povo que o transfere para o soberano se assim o entender. Como consequência, é a comunidade que delega o poder numa ou várias pessoas; outorga o poder por tempo limitado ou ilimitado, este poder delega-se a uma pessoa só ou também aos seus herdeiros; é a comunidade que tem a possibilidade de decidir quem é o verdadeiro titular do poder político. Esta doutrina surge em oposição à doutrina do direito divino dos reis. 
Defende a resistência ativa às leis injustas e à tirania, que pode ser de título ou de exercício. Contudo, essa resistência deve ser feita por quem estiver legitimado na sociedade pois se a tirania não for excessiva as pessoas devem tolerá-la. É contra o tiranicídio. 
Por mais valioso que tenha sido o seu legado, no século seguinte cai no esquecimento pois o séc. XIV é um período de transição para a Idade Moderna (inicia-se em 1453) e vê nascer ideologias como o Nominalismo de Guilherme D’Ockan, no plano jurídico.
Guilherme D’Ockan e Nominalismo
O nominalismo já existia desde os séc. XI e XII com os romanos. Contudo, no domínio jurídico surge apenas com a queda dos Universais: o grande debate entre o realismo tomista e o nominalismo ockamista prende-se com a Quarela dos Universais. 
Para os nominalistas, é tudo é uma questão de nomes. A realidade não passa de nomes e os nomes não passem de conceitos universais, não há uma realidade. Contudo, os realistas dizem que essa realidade universal existe para além do nome e que é anterior ao próprio nome. Existe uma realidade autónoma que tem as características do Homem.
Guilherme D’Ockan foi um autor que teve ideias contrárias às estabelecidas pelo papado. Nega ao Papa qualquer tipo de poder político e opõe-se à ideia de que o Papa é infalível em matéria religiosa. Defende que quem deveria decidir sobre a ortodoxia católica seriam os teólogos e que deveriam existir vários papas. Há um fosso entre o poder temporal e o poder espiritual, entre o Estado e o papado, entre o Estado e a Igreja.
Filosoficamente defende o nominalismo, ou seja, a ideia da existência de uma realidade pré-determinada ou a existência de apenas um nome das coisas. A realidade não passa dos nomes que damos às coisas, uma convenção de entendimento. Esta é uma tese muito importante para a ideia subjetivista do direito. 
Afirma que a vontade de Deus é a lei eterna e a lei natural é o cumprimento do que Deus diz. Racionalmente não se pode provar que a alma é imortal, pode-se é acreditar nisso.
Guilherme D’Ockan, empirista e cepticista, não vai só rejeitar o intelectualismo aristotélico de Aquino como vai tornar-se defensor do voluntarismo de Sto. Agostinho. Acentua a teoria da dupla verdade com o seguinte exemplo: Deus é tão poderoso que nos pode fazer ver estrelas onde elas não existem, ver o bem onde está o mal, o justo onde está o injusto. Em termos morais, cai-se num profundo relativismo/subjetivismo, são tudo jogos de linguagem. É este voluntarismo, estes jogos de palavras, este relativismo, o antecedente remoto do juspositivismo legalista. 
Deus tem a vontade soberana, então ele define o que é bem e mal, tal como o legislador cria e determina as leis, tudo está dependente do legislador. Guilherme D’Ockan cava o fosso entre as razões da fé e da razão. Esta separação entre a fé e a razão permite a própria autonomização das ciências e da razão que se vêm livres dos entraves da fé.
Na época, a propriedade pertencia a Deus e os homens só podiam usar as coisas. A respeito da propriedade privada, Guilherme D’Ockan desenvolveu uma teoria que esteve na origem do desenvolvimento dos direitos subjetivos modernos. Ele vem dizer que se uma pessoa tem direito de propriedade privada, os outros têm obrigação de a respeitar. 
Idade Moderna
A Idade Moderna tem início em 1453 aquando da Queda do Império Romano do Ocidente e teve fim em 1789 com a Revolução Francesa. O séc. XV foi marcado por importantes acontecimentos que marcaram a história da Humanidade: os Descobrimentos, o desenvolvimento tecnológico, a invenção da imprensaa centralização do poder político.
A Idade Moderna ficou marcada por dois movimentos: o Renascimento e o Humanismo. O Renascimento caracteriza-se pela recuperação erudita das artes clássicas e o Humanismo consistiu na recuperação de textos e letras clássicas.
O séc. XV é revolucionário, cheio de originalidades, ambição e novas tentativas de interpretação do cristianismo. Este pensamento moderno leva até às últimas consequências determinados aspetos que já estavam presentes no final da Idade Média. O renascimento constitui um desenvolvimento de todas os elementos de determinadas doutrinas da Idade Média, respetivamente: tendências nominalistas, voluntaristas que se transferem da dimensão teológica para a dimensão politica; existe uma tendência para afirmar a independência da esfera politica do poder espiritual instalando-se um fosso entre as questões da razão e as questões da fé.
A tendência de pleno direito, de autonomizar o direito da Igreja desenvolve-se nesta época. Se na idade Média assistimos à subordinação do Estado à ética cristã, agora assiste-se ao primado dos interesses do Estado, das exigências políticas. Estas novas ideias são condensadas na obra de Nicolau Maquiavel ‘O Príncipe’, onde se relata o primado dos interesses do Estado em detrimento da ética cristã. Maquiavel é responsável pela máxima ‘os fins justificam os meios’ sendo os fins a obtenção e manutenção do poder político. Também, em Maquiavel, temos o desenvolvimento do nominalismo e voluntarismo de Ockan -paganismo maquiavélico. 
 Qual o contributo do Renascimento e do Humanismo para a ciência jurídica? Nesta época desenvolve-se a Escola dos Jurisconsultos Humanistas ou Escola dos Juristas Cultos ou Escola Lugaciana ou, na Alemanha e Holanda, Escola da Jurisprudência Elegante. É uma escola ligada ao tratamento dado ao direito romano e canónico. É uma escola metodológica que pretende substituir a Escola dos Comentadores, acusada de ter já um distanciamento demasiado em relação às fontes originais clássicas e um uso rotineiro das práticas judiciais. A metodologia jurídica humanística dos jurisconsultos denominava-se de ‘mos gallicus’ (costume) que se opunha ao método dos comentadores.
Os jurisconsultos pretenderam recuperar as fontes clássicas através da recuperação do latim clássico e o estudo do direito com valos históricos. É o estudo erudito das fontes de direito romano clássico. 
Porém, na prática, as novas ideias da jurisprudência humanista não vingaram. Até à codificação continuou a vingar a metodologia dos comentaristas, uma vez que as práticas dialéticas estavam mais enraizadas, não havendo facilidades a difusão do conhecimento sendo que os juristas incultos eram uma realidade da época.
A prática rotineira dos Comentadores já era do domínio público e a Escola Lugaciana não consegue responder às necessidades práticas.
A Reforma e a Contra Reforma
O século XVI foi um século inovador a nível religioso, o que vai ter implicações a nível político e jurídico. 
Na origem da Reforma encontra-se uma ação moralista e moralizadora de um certo paganismo que se vai formando nas várias Igrejas da Europa. A Reforma teve como figura central Martinho Lutero, monge da ordem se Sto. Agostinho, viveu entre 1485 e 1456 e deu origem ao protestantismo.
Lutero era, na sua essência um humanista, pois acreditava nas potencialidades do Homem. Era também homem da Igreja e acreditava na capacidade de o homem contribuir para a sua salvação através das boas obras, do cumprimento dos mandamentos ou, nas palavras de S. Tomás de Aquino, fazendo o bem e evitando o mal. A base teológica de Lutero baseava-se em um versículo bíblico que afirmava que “o justo viverá pela fé”. Aqui, Lutero passou a defender a ideia de que não eram as boas ações que salvariam uma pessoa, mas sim a fé.
Inicialmente, Lutero pregava os princípios da Igreja Católica, pelo facto de o Papa Leão X lançar novas indulgências (possibilidade de pagar para os pecados serem perdoados) para obter fundos que financiassem a restauração da Catedral de S. Pedro, por a Igreja passar por uma crise moral onde o papa e a Igreja afastam-se do seu rumo histórico deixando de estar ao serviço dos mais fracos enquanto que o Papa vive em luxo e pecado leva a que Lutero, em 1576 se revolte publicando as sua ‘’95 Teses’ onde criticava fortemente a Igreja Católica.’ e as afixe no Castelo de Wutternberg, na Alemanha.
Outro mecanismo de poder da Igreja foi o monopólio da leitura da Bíblia, que era escrita somente em latim. A intenção era mediar o encontro dos fiéis com o livro sagrado, que deveria ser traduzido pelos padres. Dessa maneira, a Igreja evitava interpretações em relação ao texto sagrado que não se encaixavam com o pensamento do alto escalão do clero. Traduziu o Novo Testamento para alemão de modo a todos terem acesso
 É um revolucionário, um radical chegando a queimar o código do direito canónico.
Afirma que pagar para ter o céu é absurdo, a Igreja estava a enganar os ingénuos. As indulgencias corrompem o homem e confundem os espíritos. São contra a crença do homem contribuir para a sua salvação. 
A existência da imprensa permitiu que em apenas dois meses as 95 teses se difundissem pela Europa, permitindo a difusão dos dogmas reformistas. Lutero é considerado um herege e é excomungado. É perseguido e tem necessidade de se exilar. Por esta razão, Lutero vai alterar a sua perspetiva em relação ao Homem, tornando-se pessimista.
O seu grande mestre foi Guilherme D’Ockan e Lutero vem acentuar os dogmas nominalistas, nomeadamente o pessimismo antropológico. Afirma que basta ter fé para se salvar. É a descrença na natureza do Homem e um maior afastamento entre os assuntos da fé e da razão.
A unidade critica contra a Igreja desagrega-se e surgem mais duas fações, o calvinismo e o anglicanismo. Surge uma ideia de subjetivismo em relação à religião, não havendo uma única religião.
Contra-Reforma
Abalada por todos estes movimentos que punham em causa os seus dogmas e motivada pela necessidade de reformas dentro do seu núcleo, a Igreja inicia um processo contra a Igreja luterana, a Contra-Reforma. A Contra-reforma estabeleceu um conjunto de medidas que atuou em duas vias: atuando contra outras denominações religiosas e promovendo meios de expansão da fé católica.
A Contra-Reforma é marrcada pelo Concílio de Trento que decorreu de 1545 a 1563 que consistiu na reunião dos principais líderes da Igreja organizada pelo papa Paulo III, selou o conjunto de medidas tomadas pela Contrarreforma. No Concílio de Trento estabeleceu-se o princípio de infabilidade papal e a declaração do Índex, conjunto de livros proibidos pela Igreja. Além disso, a Vulgata foi estabelecida como versão oficial da Bíblia Sagrada, foi proibida a venda de indulgências e todas as doutrinas católicas foram reafirmadas.
A Igreja teve ao seu dispor três instrumentos para pôr em curso a sua resposta face às outras igrejas emergentes da época. Um desses instrumentos foi o já referido Índex, publicado em 1559, era o conjunto de livros proibidos pela Igreja que incluía obra de Galileu Galilei, Nicolau Copérnico René Descartes. Outro mecanismo era o Tribunal do Santo Ofício, mais conhecido como Inquisição. A criação da Companhia de Jesus (liderada por St. Inácio de Loyola) foi fundamental para a supremacia da Igreja. Os jesuítas dedicavam-se ao ensino e ao missionarismo.
Os últimos dois instrumentos fizeram-se sentir fortemente em Portugal até 1759 aquando D.José I expulsou os jesuítas de Portugal e o Tribunal do Santo Ofício foi extinto após quase 300 anos de funções, em 1821.
Período Barroco: Séc. XVI e XVII 
Foi um período de transição para a Idade Moderna. É um período contraditório entre tendências doutrinais que se desenvolver no Norte e Sul da Europa. 
No Sul da Europa, na Península Ibérica dá-se uma renovação do pensamento tomista e neoescolástica. No Norte da Europa acentuam-se os alicerces dos Jusracionalismo com a Escola Moderna de Direto Natural.
Assim sendo, vemos que o período barroco se desenvolve a dois tempos: um virado parao passado e outro para as correntes nominalistas.
Aquilo que aconteceu na Península Ibérica nos séculos XVI e XVII é de influência da Contra-Reforma. A Neoescolástica foi um movimento levado a cabo por teólogos que tinham como representantes Francisco Suarez que pertencia aos jesuítas e Vitório de Soto que pertencia aos dominicanos. Os seus objetivos eram combater os dogmas da doutrina reformista através da renovação, recuperação e adaptação da filosofia tomista; readquirir a supremacia da Igreja Católica; combater concretamente a doutrina em expansão para outros países europeus, do direito divino dos reis. 
Francisco Suarez afirma que nenhum soberano é uma instituição divina a não ser a Igreja. Pretende harmonizar as pretensões da Igreja com o exercício do poder temporal do Estado. Na sua obra ‘’de Legisbus’’ ele desenvolve a ideia de pacto social, através do qual Deus coloca o poder nas mãos da comunidade política, e é esta comunidade que depois pode delegar esse poder em representantes (origem popular do poder, soberania do popular originária e alienável-poder democrático). Há, deste modo, um pacto de sujeição entre o povo e o monarca. ‘’De Legisbus’’ também tem um grande significado ‘’Deus deixou de ser o grande Deus para ser o grande legislador’’, para Suarez o legislador terreno imana deste grande legislador.
Faz a distinção entre legitimidade de título e legitimidade de exercício, ainda que o título seja legítimo, se o exercício não for ético, a comunidade pode afastá-lo. Esta ideia interessou aos portugueses no contexto do domínio espanhol que culminou na revolução de 1640.
Existe também um acentuar do voluntarismo na conceção da lei: a lei é uma vontade construída pelo Homem, não faz parte daquele espetro da razão divina, ao contrário daquilo que S. Tomás de Aquino defendia. A
A teoria do poder de Suarez também acentua a cisão entre o poder temporal e o poder espiritual, pois segundo ele, o poder não vai nem para o Papa, nem para o monarca.
Jusracionalismo: séc. XVII e séc. XVIII
O jusracionalismo teve como representantes Hugo Grócio, Thomasius e Hobbes e Kant. Pela primeira vez, Deus deixa de ser o fundamento da moral e do direito e passa a ser a natureza racional do Homem. 
Hugo Grócio foi o fundador do jusracionalis. Preconiza a laicização, dando grande importância ao direito natural na razão humana. Afirma que ‘’se por hipótese meramente académica Deus não existisse, o direito natural continuaria a existir’’. Dá-se um corte entre o fundamento da lei com razões teológicas.
Thomasius fundou a primeira doutrina sistematizada e deliberada entre a moral e o direito, Pretendeu criar critérios de distinção entre atos morais e leis jurídicas. Dizia então que o direito pertencia à esfera externa do Homem enquanto que a moral pertencia à esfera interna do Homem. As normas legais são dotadas de coercibilidade e integram-se naquilo que é justo enquanto que as normas morais pertencem ao direito natural e não podem ser impostas pela força. Para Thomasius, o direito é uma questão de justiça e a moral é uma questão de honestidade.
Thomas Hobbes defende que o direito é uma análise linguística dos nomes que o constituem-nominalismo puro. Isto leva ao pessimismo antropológico de Sto. Agostinho. Segundo Hobbes, o Homem é naturalmente mau.
História do Direito Português
Período Primitivo:
O estudo da História do Direito português começa antes da existência de Portugal como nação independente. A nossa cultura foi fortemente influenciada pelo direito romano. Contudo, os romanos só chegaram à Península Ibérica no séc.III a.c. e quando cá chegaram já havia povos a habitar o território, povos esses que tinham uma cultura e hábitos próprios.
Primeiro, há que falar da Península Ibérica e dos variadíssimos povos que aí vivem na dicotomia, unidade ou diversidade, não se impondo uns aos outros, moldando, determinando a natureza do que é hoje o povo português. E, consequentemente, o direito vigente é o prolongamento daquilo a que esses povos foram chamando direito.
A este período que antecede a chegada dos romanos à Península Ibérica dá-se o nome de Período Primitivo ou Período Ibérico. A característica básica a pôr em evidência acerca deste período é a de que a Península estava longe de ter unidade étnica, linguística, cultural, religiosa, política, económica e jurídica. Devido à falta de unidade e da variedade de culturas que se verificavam antes da ocupação romana, há uma dificuldade em conhecer as instituições de alguns sistemas políticos e jurídicos.
No vasto território peninsular poder-se-iam ver algumas diferenças económicas havendo um maior desenvolvimento das zonas costeiras, parte oriental e do Sul que se ocupavam da agricultura, da pecuária, do desenvolvimento mercantil, atividades industriais e mineiras enquanto que as outras populações do interior eram menos desenvolvidas. 
Através da pulverização ética e cultural do território peninsular, é possível reduzir estas populações a 5 grupos fundamentais que se subdividam em diversos povos: os Tartéssios, os Iberos, os Celtas, os Celtiberos e os Franco-Pirenaicos. 
Os Tartéssios situavam-se no sul da Península Ibérica, no que é hoje Andaluzia. Eram o povo mais avançado e culto da Península. Pensa-se que teria havido um governo e terão criado cidades-estado como os gregos.
Os Iberos estavam acantonados na orla oriental da Península Ibérica no que é hoje a região de Aragão e Catalunha. Pertenciam à raça ibérica os Cantabros, por exemplo.
Os Celtas estavam espalhados por quase todo território tendo predominância na zona noroeste e sudoeste e a sul do Tejo. Na zona Minho tomaram também o nome de Galaicos e abarcavam um grande número de povos como os Lucenses.
Os Celtiberos, de que faziam parte os Lusitanos, povos que tinham uma organização tribal, havia uma ascendente comum a várias famílias e que formavam determinada tribo. Era resultante da junção dos celtas com os iberos e estavam situados entre o Douro e o Tejo.
Os Franco Pirenaicos eram um povo que mantendo uma cultura própria situavam-se no território que faz fronteira com França, no extremo norte.
Outros povos que estiveram na Península Ibérica e que se foram fixando ao longo da costa, vindo com intenções mercantis e que contribuíram para a personalidade dos celtiberos foram os fenícios, gregos e cartagineses que eram provenientes da bacia do Mediterrâneo.
Quanto à organização política, é importante salientar que a Península estava longe de constituir uma unidade política. Dentro da mesma etnia chegava a haver múltiplos Estados, com diversos modelos de organização interna, de acordo com o grau de desenvolvimento político. As mais comuns formas de organização política eram os Estado-Tribo (conjugação de várias tribos que se juntavam em função da natureza territorial como os Celtas e os Iberos) e os Estados-cidade (correspondente à ‘’pólis’’ da Antiguidade) constituídos por pessoas que se ligavam por ascendentes familiares havendo um forte domínio religioso e eram as comunidades mais desenvolvidas. Essas unidades políticas eram integradas por clãs e por grupos locais, que se mantinham, uns relativamente aos outros, como círculos fechados. Dentro destas comunidades políticas havia uma fraca coesão social o que levava a guerras internas. Apesar desta conflitualidade entre elas, quando havia ameaças externas, as comunidades moviam-se e formavam confederações com objetivos político-militares para fazer frente aos perigos.
No que toca aos regimes políticos, havia o predomínio das monarquias hereditárias ou vitalícias. Quando se adotava o sistema republicano, este assumia uma feição aristocrática pois a eleição dos magistrados ou chefes políticos temporários e o exercício desses cargos estavam reservados a certos privilegiados. Existia também uma assembleia popular, de que fazia parte todos os homens livres da comunidade.
Quanto à organização social, estes povos compunham-se de homens livres que têm estatuto e personalidade jurídica. Dentro destes homens livres há uma hierarquização de classes havendo classesque eram privilegiadas, normalmente as que tinham terras, designadas por ‘’nobiles’’. Havia também escravos e servos que eram considerados meras coisas e não tinham estatuto jurídico. Em virtude das dificuldades económicas, alguns homens livres submetiam-se à proteção dos mais poderosos, motivo pelo qual celebravam os chamados Pactos de clientela que funcionavam como patronos significando que o cliente ficava sob a proteção do patrono implicando deste uma fidelidade muitas vezes militar. Na Península Ibérica há um tipo de pacto de clientela, o ‘’devotio’’ onde há um patrono e um cliente ‘’devotus’’, no qual se houvesse dificuldades, nomeadamente às portas da morte, o cliente poderia oferecer a sua vida em troca da do patrono ( se o patrono morresse no combate, o soldúrio deveria suicidar-se). Ora esta relação de clientela traduzia-se, não poucas vezes, por uma forte limitação da liberdade pessoal. Paralelamente, praticam-se acordos de hospitalidade, que diferiam pelo facto de serem convencionados num plano igualitário. Tais acordos estabeleciam-se entre clãs e povoados.
Em relação ao Direito não houve uniformidade de um direito único. Houve sim um conjunto de ordenamentos locais que regem estes povos primitivos, ou seja, existia uma diversidade jurídica muito grande. Vários aspetos destes ordenamentos prevaleceram até depois da ocupação romana.
Nos direitos destes povos, conhece-se como fonte de direito o costume, a normatividade destes povos surgia destas práticas costumeiras perante os vários problemas e situações sociais, acompanhadas de convicção da sua obrigatoriedade. O costume ia-se atenuando à mercê dos pactos celebrados pelos diversos grupos. Apesar desta base consuetudinária havia também leis escritas em verso resultantes de atos legislativos, para mais fácil memorização, que pertenciam aos lusitanos e os tartéssios. Não se exclui que existissem disposições emanadas pelos órgãos políticos estaduais que devem ter assumido a natureza de simples ordens executivas.
O conhecimento das instituições jurídicas da época é muito precário. Utilizou-se o método comparativo e o método das sobrevivências para se melhor conhecer a época. O primeiro permite a reconstrução das instituições deste período através da análise de comunidades e faz-se a transposição do conhecimento que se tem dessas comunidades que se presumem ter códigos análogos primitivos. O segundo método procura conhecer determinados institutos de uma época através dos vestígios que encontramos dessa época nas épocas posteriores que nos dizem que tudo o que não é romano, germânico ou árabe pertence ao período primitivo. Conhecem-se como instituições jurídicas, embora um conhecimento muito incompleto, o direito familiar onde há uma organização monogâmica do tipo patriarcal ou matriarcal, a lei do ósculo (o beijo dado à noiva exprimia o propósito de casar), a propriedade agrária, o princípio que proibia o testemunho dos mais novos em relação aos mais velhos e as penas do foro penal que eram muito violentas.
Período Romano:
Os romanos entraram na Península Ibérica no séc. III a.C., século esse em que os romanos começaram a expandir-se ao nível militar e político. Por esta altura, os Cartagineses também se expandiam a nível mercantil e comercial.
Estes dois povos estavam em fortalecimento político e económico, o que levou a três guerras entre eles: as guerras púnicas. Os romanos vão empurrando os cartagineses para longe de Roma e, na terceira guerra, os romanos acabam por entrar na Península Ibérica no ano 218 a.C. com o intuito de se expandirem. Entram pelo norte da Catalunha, pelas Ampúrias (com o intuito inicial de combater os cartagineses), e, dada a resistência dos povos locais, só em 19 a.C. é que alcançam o domínio do território hispânico. A conquista das zonas interiores, nomeadamente, foi difícil e vagarosa. Só em 137a.c. foram subjugados os Lusitanos, com a morte de Viriato; ainda se lhe seguirá a sublevação de Sertório, assassinado em 72a.c. Nesta altura, a Península passa a aceitar mais ou menos pacificamente o jugo romano, exceção feita aos cantábrios e ástures, só plenamente vencidos em 19a.c. por Augusto.
Deste modo é possível dividir este período em dois: a conquista e a romanização. Todavia, não se deve encarar a referida divisão em termos absolutos uma vez que ao longo da primeira fase já se assistia à adaptação à civilização romana pelos povos indígenas e durante a segunda fase os romanos não abandonaram as preocupações económicas e militares. A romanização consiste no progressivo conhecimento e assimilação, pelos povos autóctones, das formas de vida, de cultura e de direito dos romanos. Claramente, esta assimilação não é feita do dia para a noite, sendo feita de forma gradual, faz-se de forma mais intensiva a partir do momento em que a paz se estabelece e estabiliza.
Os fatores que mais terão contribuído para este processo foi a ação das legiões, dos funcionários administrativos, a abertura de estradas, a superioridade técnica romana, o desenvolvimento da administração municipal e o culto religioso. Antes e durante o período da romanização temos a ação das legiões, que são autênticos colonos estabelecendo relações com a população peninsular, vão constituindo matrimónio sendo assim bons instrumentos de aglutinação de duas culturas. A ação dos funcionários administrativos que Roma enviava para estabelecer a organização política, social e económica dos territórios conquistados. A abertura de estradas permitiu um acréscimo de população romana e faziam crescer o volume de transações entre o Império Romano e a Península. Inicialmente, estas estradas tinham intuito políticos e militares, mas acabaram por ser uma vantagem a nível do desenvolvimento económico e administrativo porque levaram a cultura romana a todos os pontos da Península. A superioridade da técnica romana era plenamente demonstrada na construção de estradas, pontes, aquedutos, construções das quais faziam parte ativa as populações locais, que iam assim aprendendo as várias técnicas. Os romanos revolucionaram os métodos tradicionais de trabalho em praticamente todos os domínios da produção. O desenvolvimento do regime municipal, ou seja, a introdução de sistemas romanos de administração local estendeu-se pelos povos locais. O culto religioso unia as populações romana e autóctone na observância dos mesmos preceitos litúrgicos. Em primeiro lugar a obediência era devida às divindades greco-latinas, depois ao Imperador e por fim ao cristianismo. O facto de o latim ser a base dos idiomas dos povos da Península Ibérica permitiu a unificação entre os romanos e os povos peninsulares, com exceção dos Bascos.
Dadas as maiores dificuldades de comunicação e a própria natureza dos habitantes, a romanização dá-se mais rapidamente no sul do que no norte.
De uma maneira geral, no entanto, apesar de toda aquela aculturação, os povos da Península Ibérica continuam-se a reger pelos primitivos institutos jurídico-políticos (pelos seus ordenamentos jurídicos autóctones), não gozando das liberdades e regalias dos cidadãos romanos. Daí a importância para o processo de romanização de dois momentos em especial: a concessão da latinidade aos habitantes peninsulares por Vespasiano, em 73-74, e a concessão da cidadania por Caracala em 212 que estende a cidadania a todos os habitantes do Império através do Édito de Caracala.
Vespasiano vai estender à província de P.I. a latinidade. Os povos peninsulares passam a gozar do estatuto de latinos coloniários (parece ter sido a latinidade menor). Isto permite, em domínios limitados, substituir os sistemas jurídicos indígenas pelo sistema jurídico romano. Este passa a poder ser aplicado a todas as suas relações patrimoniais, com a faculdade de litigar perante os tribunais romanos. No tocante ao casamento e à constituição de família, não o podiam fazer nos moldes do ius civile, pelo que se continuavam a reger-se pelos seus direitos tradicionais.
A estas regalias acrescia a da muito maior facilidade em adquirir a cidadania. Com a atribuição da cidadaniaa todo o Império, oferece-se um grande privilégio o que só acontece na fase de decadência do Império. A nível peninsular, a atribuição da cidadania não teve grandes reflexos porque já tinham atingido a latinidade e muitos já tinham alcançado a cidadania. Portanto, se em relação ao império este pode ter sido um importante fator de romanização, em relação à Península foi apenas o coroar de toda uma evolução (não esquecer que 212, início do séc. III, é já um momento em que alguma decadência do Império se começa a fazer sentir…)
O próprio alargamento da cidadania a toda a Península, teoricamente, deveria ter como consequências o desaparecimento dos ordenamentos locais e a aplicação uniforme da lei imperial, romana. Mas na prática o que acontece é que os costumes locais não perdem vigência. Até porque o direito romano é extremamente técnico e sofisticado; os seus práticos estão em Roma, pelo que não era fácil generalizar a aplicação do direito romano aqui na Península; ou porque não era devidamente compreendido, ou porque não se adaptava às necessidades e características da Península. Aquilo a que se assiste é uma assimilação por parte destes direitos locais com figuras, instituições e regras do direito romano.
Tudo isto foi resultando, aqui como noutras partes do império, num aspeto importante. Quando se dão as invasões bárbaras, o sistema jurídico hispânico encontrava-se longe da perfeição do direito romano clássico. O que havia e era aplicado era o chamado direito romano vulgar, com uma estrutura muito mais simples, desvirtuado pela interferência de elementos autóctones, próprios dos vários territórios conquistados. Um direito com um forte sentido pragmático, não perdendo de vista as realidades sociais que o solicitam. Há uma variedade de direitos romanos vulgares.
Assim, na génese deste direito romano vulgar podíamos apontar, entre outros, estes elementos: a descaracterização do sistema romano clássico; a persistência de direitos locais, regionais e o recrescimento de institutos e princípios dos mesmos; a ausência de juristas e órgãos judiciais na Península, que pudesses assegurar uma aplicação uma aplicação sistemática do direito romano na sua pureza; a generalizada decadência do Império, desde o séc. III com a fragilização do poder central.
Tudo isto contribuiu para a vulgarização do direito romano que é aquele que as populações bárbaras vão encontrar quando entrarem no território do Império Romano.
Período Germânico:
A desagregação do Império (476 d.C., vai caindo), bem como a fusão entre as populações romano-germânicas e árabe deve-se muito antes das invasões bárbaras e foi essa aculturação que possibilitaram estas invasões bárbaras.
Os Estados germânicos surgiram a partir da Queda do Império Romano do Ocidente. Na altura em que tomam os 1ºs contactos com o mundo romano, os germanos já não eram nómadas, no entanto, só depois das invasões é que se desenvolvem os verdadeiros estados germânicos, normalmente monarquias eletivas, dentro das antigas províncias romanas. Estes Estados germânicos constituem, a semente dos atuais estados europeus. Os processos de aculturação à volta das fronteiras do Império Romano (bolsas de aculturação sobretudo nas civilizações visigodas, que eram populações muito desenvolvidas e romanizadas) revelaram que muitas destas populações já estavam convertidas ao cristianismo, sobretudo ao arianismo (heresia cristã), deixando assim de serem considerados bárbaros, porque se tornavam muito parecidos com os romanos.
 Os chamados bárbaros invadem a Península por volta do final do séc. IV, séc. V. São várias as divisões étnicas e linguísticas entre eles, e mesmo os mais avançados culturalmente mostram um grau de civilização em tudo inferior ao dos romanos, sobretudo na esfera jurídica, precisamente, e isto mesmo em relação ao direito romano vulgar (sabemos por escritos dos próprios imperadores romanos que desde o séc. I a.c. até à sua chegada à Península, estes povos evoluíram muito, sobretudo aqueles que habitavam zonas de fronteira com o império. Alguns desses grupos étnicos, antes das invasões, tinham-se inclusivamente convertido ao cristianismo, com repercussões importantes a nível das suas conceções e da sua índole. 
De todas as populações bárbaras, aquelas que vão ter mais impacto no desenvolvimento da cultura peninsular são os suevos e os visigodos. 
 Os suevos foram dos primeiros povos a se instalar na Península, juntamente com os Alanos e os Vândalos. Acabam por vir a dominar a quase totalidade do seu território, durante grande parte do séc. V e até quase ao final do séc. VI (sendo que várias “bolsas” suevas se mantém ao tempo da ocupação muçulmana, em inícios do século VIII; enquanto isso, os Alanos e os Vândalos seguem caminho….). Isto com algumas ameaças à sua independência, assumidas sobretudo pelos Visigodos, em algumas alturas de conluio com os próprios romanos. 
É costume observar-se que os suevos deixaram marcas até mais profundas que os visigodos na nossa cultura (visigodos que viriam a assumir o pleno domínio da Península no final do séc. VI), em virtude da maior pureza germânica das suas instituições. Os Visigodos eram talvez o mais romanizado dos povos germânicos. Daí que o desnível cultural que apresentavam quando comparados com os povos peninsulares não fosse tão cavado como era o que opunha peninsulares a suevos.
Das marcas indeléveis deixadas pela monarquia sueca fica o importantíssimo papel representado por S. Martinho de Dume, suevo e cristão que viveu na Península nos meados do séc. VI, deixando uma marca fundamental ao nível do direito. Dois dos vetores de aproximação de invasores e invadidos, germânicos e hispano-românicos, fundem-se nesta figura vindo da Hungria: a religião e a língua. S. Martinho dominava perfeitamente as línguas germânicas e latinas. Os reis suevos converteram-se do arianismo ao catolicismo em meados do séc. V e o papel de S. Martinho vai ser crucial para a conversão da generalidade da população. Foi um defensor do direito canónico participando no Concílio de Braga de 563 d.C. onde defende o direito canónico como principal ordem normativa uma vez que o poder laico é fraco. Mais tarde, tornou.se bispo de Dume e de Braga, tendo sido grande conselheiro dos monarcas suevos católicos, estando na basa da reorganização política do seu reino.
Da mesma forma dos suevos, a conversão ao catolicismo de Recaredo, rei visigodo em 589, no III Concílio de Toledo, vem facilitar largamente a aproximação entre os dois povos e duas culturas.
Todavia, a nível cultural, como as populações autóctones estavam profundamente romanizadas, não houve uma influência tão grande dos povos ocupantes. Já ao nível do Direito houve duas possibilidades que se ofereceram aos povos conquistados: a nacionalidade ou personalidade jurídica; a territorialidade jurídica. A primeira opção pressupõe que existam dentro do mesmo território diferentes ordenamentos jurídicos, cada pessoa rege-se pelo direito da sua raça. A sua hipótese traduz-se na aplicação de um único ordenamento a todos quantos habitam no mesmo território.
Não parece ter existido um nacionalismo jurídico puro na Península Ibérica. As populações romana e germânica viviam, fundamentalmente, de acordo com as instituições jurídicas próprias de cada uma, o que, contudo, não impediu que se fossem gradualmente, e em certos domínios, estabelecendo normas consuetudinárias nascidas da convivência que ente si foram estabelecendo.
Desde cedo, os povos germânicos sempre reconheceram a superioridade do direito romano e foram adotando institutos, princípios, conceitos jurídicos de origem romana e, por isso, vai-se assistir a uma revulgarização do direto romano, assimilando um ou outro princípio germânico. A fusão de uns e outros elementos, sobretudo a nível da prática do direito, foi constituindo um lastro jurídico unificado que se iria manter em vigor até quase ao séc. XII.
As fontes formais dos direitos dos Estados germânicos: até ao séc. V era o costume (direito consuetudinário), a partir da conversão ao cristianismohá uma influência da cultura jurídica romana e católica. Eram fontes de direito: as leis populares ou leis dos bárbaros “legesbabarorum” que era o direito de origem consuetudinária reduzida a escrito; as leis romanas dos bárbaros “legesromanaebarbarorum” eram compilações de direito romano para auxílio na resolução prática das situações; as capitulares eram leis avulsas/soltas promulgadas pelos monarcas que versavam predominantemente o direito público; documentos de aplicação prática do direito que auxiliavam os pseudo-juristas deste tempo na resolução das situações concretas , sobretudo de influência romana.
As fontes materiais de direito visigodo eram imensas: Código de Eurico, leis teodoricianas, o Breviário de Alarico, o Código de Leovigildo e o Código Visigótico. O Código de Eurico do ano de 476, promulgado pelo rei Eurico é uma fonte enquadrada nas leis bárbaras, mas ocupa-se do direito privado e foi a primeira coletânea do direito consuetudinário germânico com uma larga recetividade do direito romano vulgar. As leis teodoricianas são compilações de leis promulgadas pelos monarcas visigodos Teodorico e Teodorico II. O Breviário de Alarico data o ano de 506, denominada também de “Lex Romana Visigothorum. Trata-se de uma compilação do direito romano para ajudar as populações nas questões judiciais Consiste numa seleção de fontes romanas, quer dizer de “iura” e de “leges” adaptada às circunstâncias peninsulares. Fazem-se acompanhar de ‘’interpretationes’’ uma vez que sempre se entendeu necessária a existência de pequenos comentários destinados a esclarecer o conteúdo dos fragmentos transcritos. O Código de Leovigildo de 580, é uma atualização do Código de Eurico, já depois de este ter promulgado a Lei de Teudis que se destinou a reprimir os abusos na cobrança de custas judiciais, integrando esta lei no Código de Leovigildo. O Código Visigótico ou ‘’lex visigotorum’’ ou ‘’forum iudicum’’do ano de 654 vai servir de base a vários contratos de aviamento que vão ser conseguidos nos períodos da reconquista. O Código Visigótico tem várias formulações sendi a primeira do tempo do Rei Recesvindo, a forma recesvindiana com mais importância nos povos peninsulares. A segunda forma surgiu em 681, a forma ervigiana de Ervigídio que adaptou o código Às necessidades concretas e a terceira forma, a vulgata (mais vulgar) de iniciativa privada. Dá-se o nome de vulgata do Código Visigótico a um conjunto de manuscritos diversos, desde a última fase da dominação visigoda até à reconquista. São revisões não oficiais, de origem privada, da autoria de juristas e práticos do direito, com base nas disposições ervigianas, com modificações e acrescentos diversos. Este código contém 12 livros subdivididos em títulos integrados por leis.
Até meados do séc.XX, pensou-se que os germânicos adaptaram o princípio da personalidade jurídica (o que significa que havia 1 ordenamento jurídico para a população germânica e outro para a população local ), os códigos fundamentais (Eurico e Leovigildo) eram aplicados exclusivamente aos povos germânicos e as populações hispânico-germânicas regiam-se pelo direito romano vulgar. Esta é a tese tradicional. Em 1843, o historiador alemão Eichhorn sustentou, pela 1ª vez a tese da personalidade. Partiu de uma suposta existência de 2 juízes entre os Visigodos: o “thiuphadus” para julgar as causas em que interviessem os Visigodos; e o “iudex” ou “defensor” para julgar as questões romanas. Foi Zeumer quem, nos fins do séc. XIX, através de uma série de estudos, alicerçou cientificamente a doutrina da personalidade, aceita a partir de então, durante mais de 30 anos, pelo comum dos historiadores, tornando-se orientação clássica. De harmonia c/ esse ponto de vista, o Código de Eurico e o Código de Leovigildo aplicavam-se somente aos Visigodos, ao passo que o Breviário de Alarico se destinava apenas aos romanos
No entanto, em oposto é o princípio da territorialidade do direito, segundo o qual se aplica em todo o Estado um único ordenamento jurídico. Mesmo os defensores da tese da personalidade estão de acordo em que no Código de Leovigildo existiu já uma certa tendência para a aplicação territorial, ao menos alguns dos seus preceitos aplicavam-se a toda a população. Garcia Gallo, em meados do século XX vem defender a tese da territorialidade na qual todas as obras de cariz germânico se aplicam a todas as populações da Península e que todas as obras se revogam no tempo sucessivamente. Paulo Merêa também defende a mesma tese, no entanto, afirma que aqueles códigos não tinham uma sucessão linear. Os códigos de Eurico e de Leovigildo aplicam-se a todo o território peninsular. O Breviário viria a servir para os povos germânicos resolverem lacunas através do direito romano. Contudo, na perspetiva de Merêa, o Breviário não vem revogar o código anterior, era antes um direito subsidiário supletivo que viria a resolver as insuficiências do direito germânico. Teve então vigência lado a lado dos Códigos de Eurico e Leovigildo. O Código Visigótico veio revogar o Código de Leovigildo e o Breviário. 
Apesar de terem cada vez mais legislação, o costume continuou a ter primazia nas fontes de direito germânicas. Outra fonte que contribuiu para a confirmação do direito germânico foi o direito canónico. O direito canónico não se prendia apenas com as regras da vida religiosa, mas também com as regras da vida temporal, das pessoas. Nesse período, mercê da dificuldade das comunicações e de outros fatores, a centralização da igreja católica era menos do que na época moderna, daí o que relevo dos concílios nacionais, que reuniam os altos dignitários eclesiásticos de cada Estado Na monarquia visigótica os Concílios de Toledo, desempenharam um papel muito ativo relativamente à criação de preceitos jurídico-canónicos. Em caso de conflito entre o direito romano e o direito canónico, a norma de direito canónico vai prevalecer em alguns momentos da história portuguesa.
Entrada dos árabes na PI:
Em 710, o monarca Vitiza é morto por Rodrigo que chega ao trono. Os filhos de Vitiza tentam vingar o pai e recuperar o trono e, para isso, chamam a ajuda dos árabes. Rodrigo é morto no ano seguinte, na Batalha de Guadalete pelos exércitos de Tarik. Nesta altura, os árabes entram com uma boa intenção, mas acabam por dar conta da desagregação que reinava desde há muitas décadas a monarquia visigótica. Em apenas 5 anos ocuparam praticamente todo o território peninsular, tal era a fragilidade da organização visigótica.
Estiveram na Península Ibérica durante 7 séculos até os reis católicos em Granada os expulsaram definitivamente. Os árabes eram um povo muito evoluído e culto, mas ao mesmo tempo um povo que promoveu uma aproximação às populações autóctones sobretudo a nível jurídico. O seu direito é sobretudo religioso tendo como fonte o Alcorão, a Sharia e o Ijma. Os árabes deixavam que as populações locais se regessem pelos seus próprios direitos. As exceções eram as populações moçárabes, população que vive de acordo com o direito e cultura, mas que para isso pagam um imposto aos árabes. A doutrina islâmica distinguia os pagãos, pessoas sem qualquer crença das gentes do livro, ou seja, os que acreditavam e possuíam livros sagrados, os cristãos e os judeus.
Os árabes adotaram uma perspetiva personalista. Quando se dá a nacionalização, o nosso direito terá poucas marcas árabes, mas terá sempre alguma influência, até porque o direito islâmico era aplicado nas relações mistas e no domínio penal. 
Em 7 séculos de ocupação, os árabes nunca deixaram de ser vistos como invasores para os hispânicos-germânicos. 
Foi nas Astúrias que surgiu a Reconquista Cristã. Da capital Congas de Onis passa para Oviedo com Afonso II e para Leão com Afonso III que reconquistou imensos territórios aos árabes. À sua morte, distribuiu os territórios conquistados pelos seus filhos: Garcia (Reino de Leão), Ordonho (Galícia e Portugal) e Fuela (Reino das Astúrias). Ordonho assume a liderança do Reino de Leão com a morte de Garcia. É deste reino de Leão que se vão desmembraro reino de Castela e Portugal.
Afonso VI, filho de Fernando Magno, é a figura que mais se destaca na luta pela reconquista da terra. Além de ter herdado o Reino de Castela, anexa-lhe o reino de Leão e Galícia, depois de dominar os árabes e os cristãos desses reinos, contando com a ajuda de nobres franceses. Um deles é o conde Henrique de Borgonha.
No final do séc. XI (1093), o Condado Portucalense é entregue aos Condes de Borgonha, Henrique de Borgonha e Teresa de Leão por D. Afonso VI por ajuda na defesa de Castela.
O Condado Portucalense foi entregue, segundo a tese tradicional a dote marital, configuraria um senhorio hereditário. O condado devia de ser governado por D. Henrique e os seus herdeiros deveriam assumir o governo posteriormente. Havia independência e autonomia política face a Castela.
Contudo, Alexandre Herculano veio dizer que D. Afonso VI entregou o condado a D. Henrique a título provisório e que D. Henrique deveria prestar contar ao seu sogro, titular do território portucalense. Já Paulo Merêa defendia a tese conciliatória em que a concessão pode ser vista como dote marital ou como senhorio hereditário havendo alguma vassalagem política de D. Henrique a D. Afonso VI. 
Em 1112 morre D. Henrique e D. Teresa fica com o território portucalense tentando manter a independência. Contudo, começa a parecer aberta à ideia de se unir ao reino de Castela. Isto não agrada ao povo portucalense nem ao seu filho, D. Afonso Henriques que luta contra os mouros a fim de aumentar o seu território e luta contra Castela a fim de manter a independência portuguesa. 
Em 1128 dá-se a Batalha de S. Mamede que opõe D. Teresa e D. Afonso Henriques que levanta armas contra a sua mãe para garantir a independência do Condado. Em 1139 derrota os muçulmanos na Batalha de Ourique. Em 1140 autoproclama-se rei do Condado. Em 1143, Afonso VII, de Espanha, reconhece-se a independência de Portugal no Tratado de Zamora.
O país foi criado através da força das armas e da diplomacia. A data exata varia, mas é seguro afirmar que desde 1128 que esta entidade política e social tem existido, de forma continuada e com um governo próprio (tendo em conta o período de união com Espanha, até 1640, e outras vicissitudes da nossa História.) Outras datas apontadas são 1143 (o reconhecimento da independência pelo reino de Leão) e 1179 (o reconhecimento pelo Vaticano na Bula Manifesto por Alexandre III). 
No entanto, a nível jurídico, Portugal não ganhou um ordenamento jurídico próprio com a independência política.
Desenvolvimento do Direito Português
Numa primeira fase (até séc. XII), a população portuguesa rege-se pelo ordenamento comum com Castela. A partir do séc. XIII até meados do séc. XVIII há um período de receção do direito romano renascido e do direito canónico renovado pelas escolas italianas e escolásticas (do séc. XIII ao XV). Do séc. XV ao séc. XVIII há um período de ordenações e da codificação. Numa terceira fase do direito português, desde meados do séc. XVIII até à atualidade nasce o direito português moderno.
1ºFase:
Neste período pós Reconquista, os monarcas não estão muito preocupados com a criação de um direito próprio, preocupam-se sobretudo com questões militares e de defesa das populações. Várias das fontes jurídicas que caracterizam a ordem jurídica portuguesa são fontes comuns ao reino de Leão e Castela, que continuaram a vigorar mesmo após a queda de Leão. 
As fontes de direito desta fase eram o Código Visigótico; as leis provenientes das Cúrias e Concílios; as Cartas de Privilégio/Forais; o costume; e o direito canónico.
O Código visigótico, permanecia a única legislação geral sistemática que reunia a juriscidade vigente. É um lastro comum ao território peninsular em termos jurídicos.
As leis provenientes da Cúria de Leão em 1017, do Concílio de Coiança em 1055 e do Concílio de Oviedo em 1115 são normas gerais que surgem como fruto de determinadas assembleias solenes como as cúrias e os concílios. As cúrias eram assembleias solenes de natureza política que serviam essencialmente como órgãos consultivos do rei, são antecedentes às cortes. Podiam ser ordinárias quando se tratava de questões de administração do reino ou extraordinárias quando o assunto era de maior gravidade. Os concílios eram assembleias religiosas, convocadas pelas entidades clericais. Para distinguir a cúria do concílio é importante ter ciente estes dois requisitos: a entidade que convoca a assembleia e a matéria a ser tratada nesta e a natureza das sanções a aplicar às infrações
As cartas de Privilégio, ou cartas de foral eram uma fonte de direito local. As cartas de privilégio são diplomas concedidos pelas autoridades (civis ou religiosas) que eram outorgados a uma ou a um conjunto de pessoas, reconhecendo-lhes um regime de favor, um regime de privilégio. As cartas de foral são um tipo de cartas de privilégio outorgadas a populações, concedendo-lhes regalias administrativas. Eram uma espécie de cartas de povoação que atribuíam regalias a determinadas populações em troca do cultivo das terras concedidas. As cartas de foral pretendiam conceder terras fronteiriças a determinadas populações a fim de as fixar nesses territórios e para que elas cultivassem essa terra nacional.
O costume parte das próprias pessoas. É uma criação espontânea de direito. É mais fácil e pacífica a obediência a um costume do que a obediência a um direito legislado, uma vez que o direito legislado provinha do soberano e muitas vezes contrariava o direito consuetudinário. Os costumes são uma prática reiterada e generalizada na convicção da sua obrigatoriedade. Nos finais do séc. XII, por iniciativa das autoridades locais, os costumes foram reduzidos a foros que são códigos de direito local com dimensão mais extensa que os forais e estão ligados ao direito privado. Há uma interligação entre o conteúdo dos foros e dos forais, apesar de serem distintos. Hoje, entende-se que foram os foros que criaram os municípios.
O direito canónico foi fonte de direito antes e depois da independência. Por sua vez, as fontes de direito canónico foram a Patrística (textos de st. Agostinho) e o Concílio de Toledo. 
2º Fase:
Em meados do séc. XIII até meados do séc. XIII há uma influência do direito romano renascido e Direito canónico renovado que se vai dividir em dois períodos. Do séc. XIII ao XV, assiste-se à receção do direito romano renascido e do direito canónico renovado fruto das escolas italianas. Do século XV ao séc. XIII há um período de ordenações. 
As fontes de direito caracteristicamente nacional são as leis gerais do reino, os forais, o direito canónico e o costume.
As primeiras leis gerais do Reino emanadas pelo monarca eram poucas. A primeira lei foi de D. Afonso Henriques que regulava situações em que uma mulher se envolvia com um clérigo. A provisão de D. Sancho I que isentava os membros do clero do serviço militar, exceto se houver ameaça de invasão. Contudo, é com Afonso II que começa o período legislativo mais extenso da legislação: na Cúria extraordinária de 1221 em Coimbra sai uma disposição que visa regulamentar os conflitos de direito do reino e do direito canónico. Em caso de conflito dava-se primazia ao direito canónico uma vez que o direito nacional ainda era muito precoce. Da Cúria de Coimbra donde saíram leis como a proibição de casamentos forçados e a defesa da casa como um refúgio sagrado que não deve ser violada, estabelece também a primazia do direito canónico em relação ao direito nacional. Outra tendência revelada pela Cúria é a tendência para eliminar ou mitigar os costumes tido como poucos razoáveis: proibiu-se o direito de vingança privada.
Os forais, fonte de direito público e local de conteúdo administrativo continuavam a ser fonte de direito nacional. 
O direito canónico, como naturalmente havia conflitos com o direito nacional, os monarcas faziam acordos com a Igreja. Nascem as concórdias e as concordatas. As primeiras eram acordos entre o clero nacional e o monarca. As segundas eram acordos entre o papado e o monarca. O direito canónico, poresta altura, está em expansão devido à Queda do Império Romano do Ocidente, no séc. V pois cabe à Igreja preservar os restos de cultura antiga que viria desabrochar novamente na Idade Média. As igrejas peninsulares, até meados do séc. XII mantiveram-se à margem do direito romano. As fontes de direito canónico eram a patrística, os textos sagrados e as decisões \do papado, mas não havia uma obra que juntava toda a produção de direito canónico europeu. A falta de uma legislação geral e sistemática de direito canónico europeu acaba por ter uma maior importância do que as obras compiladas de âmbito local. As compilações de âmbito regional do direito canónico são a Capitula Martini de S. Martinho de Dume e a Colletio Hispana Chronologica. Estas duas compilações são coleções de direito canónico regional da península. Surge a necessidade de proceder a uma compilação de âmbito regional, mas também geral. A primeira compilação geral de direito canónico foi o Decreto de Graciano de 1140 e em 1243, os Decretos de Gregório IX. O decreto de João Graciano, que era um monge que trabalhava em Bolonha, no período das escolas dos gloseadores e dos comentadores aquando da descoberta do Digesto, causa este fervilhar intelectual de estudo do direito romano. 
O direito canónico é aplicado nos tribunais eclesiásticos quer em função da matéria (casamentos) quer em função da pessoa. Tem também aplicação nos tribunais civis. A tendência é para limitar o direito canónico aos tribunais religiosos, contudo a usucapião (instituto de dto civil), diz ser possível adquirir a propriedade de um bem mesmo que houvesse má fé pelo adquirente. Essa posse, possível aos olhos do direito nacional era pecado aos olhos do direito canónico. Desta forma aplicava-se o direito canónico porque se incorria em pecado, mesmo em tribunais civis.
O costume continuava a ser a base da juriscidade. Toda a dimensão política e social acaba por remeter para o costume, principal parcela de direito.
· Renascimento do direito romano:
No séc. III, o direito português, tal como os demais direitos dos Estados Europeus, vai ficar marcada pelo direito romano renascido. Quando falamos no renascimento do direito romano referimo-nos ao estudo sistemático dos textos justinianos de direito romano. Há uma descoberta de fragmentos do Digesto, o que leva ao aparecimento de uma tendência de recuperação da cultura clássica.
 A Igreja vai conseguir preservar o espírito clássico, nomeadamente a ideia de Império que se manteve adormecida durante séculos e volta a ser recuperada nos séc. XII e IX, coma a coroação de Carlos Magno. O nome dado ao Sacro-Império-Romano está relacionado com o facto de desenvolver à luz da Igreja, porque tem como base o direito romano e porque quem o leva a cabo são as monarquias germânicas.
A recuperação do direito romano está relacionada com a nova ideia de Império porque o direito romano gira em torno da noção imperial, é um direito que coadjuva à formação de Império. Quando esta ideia de Império se desenvolve no século IX, surge a necessidade de criar um direito que acompanhe esta noção imperialista, daí a recuperação do direito romano. 
Assim, existem três ordens que se confrontam e influenciam a geopolítica europeia do séc. XIII: o sacerdotium que era o direito canónico e o imperium que era o direito romano e a ius propria que era a regra. O sacerdotium tinha supremacia proveniente da Cúria de Coimbra de 1221 em que o direito português reconhece a primazia do direito canónico. A Igreja era quem falava mais alto porque tinha competência para coroar os soberanos desses estados e de coroar o imperador e de os afastar e demitir e fê-lo com D. Sancho II.
Os vetores de difusão do direito romano renascido é a presença de estudantes estrangeiros e a fundação de universidades. O surto universitário tem muito a ver com o impulso que foi dado pelo imperador do Sacro-império que promoveu os ‘’estudos gerais’’ como a primeira universidade portuguesa. É universidade porque tem autonomia com regras e jurisdição própria, é como se fosse uma congregação à parte. A presença de estudantes estrangeiros nas escolas de direito italianas e francesas tinha como consequência a tendência para estes estudantes de difundirem a uma nova ordem jurídica. A fundação progressiva de universidades ao longo do séc. XIII permitiu a difusão deste direito. Algumas nascem pelo desenvolvimento de universidades originárias como por exemplo Cambridge que nasceu de Oxford-ex consuetudo. Outras nascem por desenvolvimento de outras ex secessione. Outras nascem por ex privilégio, por decisão do monarca. Em Portugal estes dois fatores contribuíram para a divulgação do novo saber jurídico bem como para a receção do direito romano renascido. Os programas de intercambio existiam na altura e era fundamental a circulação de mestres e estudantes pelas universidades europeias e circulação de documentos através da cópia e trazem as novidades que havia. Um exemplo disto é a ação estudantil levada a cabo por João de Deus, que foi estudante em Paris e regressou para ensinar os novos saberes. 
No entanto, o acesso ao direito romano não foi fácil devido à língua, à própria iliteracia das populações e ao facto de o direito romano ser complexo e técnico demais para adaptação às circunstâncias nacionais. É devido a todas estas dificuldades que, em Portugal, surgiram obras decalcadas do direito romano justinieu, obras castelhanas, mas de conteúdo romano-germânico, uma espécie de resumo do Código Justinieu com uma língua mais acessível para as populações e adaptadas às condições peninsulares. Os castelhanos produzirem obras de cariz legislativo com conteúdo de direito romano e Portugal vai adotar esse direito castelhano por trazer o direito romano. O direito castelhano é como um veículo de recessão do direito comum. Essas obras são Flores de Derecho do mestre Jacome das leis e de Afonso X, Fuero Real e Siete Partidas. As duas últimas obras acolheram preceitos que se podem considerar como sendo de liberdades ibéricas tradicionais como a proteção dos órfãos e o dever do rei de justiça e piedade. 
As fontes de direito neste período são as leis gerais do reino, as resoluções régias, os foros e forais, as concórdias e concordatas e o direito subsidiário. Embora não fossem o maior repositório de direito vigente, as leis gerais assumem-se como a principal fonte de criação de direito, sobretudo a partir do reinado de Afonso III. Começa-se a legislar mais e as leis vão dar muita importância às matérias de processo com o recurso a técnicas de direito romano e canónico. surge necessidade de compilação deste material uma sistematização que permita melhor conhecimento do direito em vigor e neste contexto surgem os primeiros antecedentes dos Textos das Ordenações de 1446, que denotam o empenho de racionalização destas fontes. Nesta altura ainda não havia imprensa por isso a divulgação da legislação era vaga e demorosa agravada pelo analfabetismo da população. As resoluções régias são respostas dadas pelo monarca às questões colocadas pelas diferentes ordens socias nas cortes. Os foros e forais tornaram-se pequenos códigos de direito consuetudinário e direito local sendo autênticos manuais de direito público e privado. As concórdias e concordatas continuam a ser fonte de direito, D. Pedro I seguia o Beneplácito Régio, Preceito que mandava que as determinações da Igreja, para terem validade no território de Portugal, tinham de receber a aprovação expressa do monarca. A incompletude do ordenamento jurídico português levava ao uso do direito subsidiário, que é aquele que é utilizado nos casos que o direito comum não contempla. As fontes de direito subsidiário eram o direito romano e o direito canónico. Assistiu-se à decadência do costume enquanto fonte de direito.
Cada vez se foi legislado mais e o amontoar desta legislação avulsa levou à necessidade de compilar/sistematizar o direito vigente. Antes das ordenações surgem duas coletâneas não oficiais que não foram promulgadas: o Livro das Leis e das Posturas

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