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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. ADVOGADO, brasileiro, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional sob nº .., portador do RG nº ..., inscrito no CPF sob nº ..., residente e domiciliado à Rua ..., Bairro ..., Cidade . . . , UF .., vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 5º, inciso XV, LIV e LXVIII bem como art. 93, IX, da CRFB/88, além do artigo 648, I, do CPP, e artigo 528, § 2º do CPC, vem impetrar em favor da PACIENTE, Srª MATILDE, portador do RG nº ..., inscrito no CPF sob nº ..., residente e domiciliado na rua..., nº .., Bairro ..., Cidade ..., UF ..., o presente HABEAS CORPUS, com pedido liminar em face da autoridade coatora MD. JUIZ DE DIREITO DA 10ª VARA DE FAMÍLIA DACOMARCA DO RIO DE JANEIRO, situada nas dependências do fórum cível da capital, pelas razões de fato e de direito que se passa a aduzir: I – DOS FATOS A paciente é mãe de Jane e Gilson Pires, menores impúberes, com treze e seis anos respectivamente, representados por seu pai, Gildo na Execução Extrajudicial de Alimentos (art. 911 CPC), que movem contra a paciente, perante o juízo da 10ª Vara de Família da Capital. Os exequentes apresentaram à execução a dívida alimentar de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), correspondente ao período de 5 (cinco) meses de não pagamento da obrigação de Matilde. Devida iminente impossibilidade da executada em adimplir a sua dívida, o juiz da 10ª Vara de Família, ora autoridade coatora, decretou a prisão da mesma, pelo prazo de sessenta dias. Ocorre que, na situação da paciente, a medida de prisão civil por dívida alimentar não pode ser aplicada, pois a mesma tem razoáveis justificativas razoáveis que evidenciam seu involuntário inadimplemento escusável, o que impõe desde logo a necessidade de conceder a ordem ora buscada, para impedir o cumprimento da ordem de prisão e garantir o direito de locomoção, em face de ato ilegal/abusivo praticado por autoridade. II - RAZÕES DE DIREITO A decretação da ordem de prisão está fundamentada na existência de dívida alimentar de R$ 5.000,00 inadimplida por Matilda. Todavia, há que se observar que a paciente lamentavelmente, e contra sua vontade, encontra-se desempregada, logo, não há negligência de sua parte frente à obrigação, e sim absoluta impossibilidade. Estas circunstâncias evidenciam a ilegalidade do ato da autoridade coatora, desafiando o competente remédio constitucional de HABEAS CORPUS. O presente habeas corpus, remédio constitucional que visa à proteção de importantes garantias fundamentais previstas na Constituição da República Federativa do Brasil: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; (...) LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; Ainda, o Código de Processo Penal diz que a impetração do habeas corpus, diante de prisão ilegal como consequência de coação imotivada, sem justa causa, o que se invoca ainda que por analogia: Art. 647 CPP. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. Art. 648 CPP. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; Revelando a plena possibilidade de impetração do remédio, pois se acha a impetrante sob grave ameaça em seu direito constitucional, líquido e certo, de ir e vir, isso em virtude de decisão judicial decretada pela autoridade coatora. Apesar de ter sido demonstrada a real impossibilidade da executada em adimplir a sua dívida, a autoridade coatora ainda assim decretou sua prisão, isto é, desvirtuou a finalidade desta modalidade de prisão, que é coagir ao pagamento, ou seja, não pode ser aplicada com caráter punitivo. Observando a decisão da decretação da prisão, nota-se a sua ilegalidade, porque não atenta para as razões apresentadas pela paciente e ignoradas, que verdadeiramente impedem a paciente de adimplir as obrigações alimentares. Neste sentido, a decisão também fere o que dispõe o art. 93, IX, da CRFB/88, por falta de fundamentação: Art. 93 CRFB/88. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade (...). Ainda, a execução de alimentos foi apresentada na forma prevista no artigo 911 do CPC, que prevê que o juiz deve mandar citar o executado para quitar as parcelas anteriores ao início da ação de execução e das que vierem a vencer no decorrer do processo (art. 528 CPC), ou também apresentar uma justificativa caso não tenha condições de quitar o débito alimentar. É sabido que a prisão civil só poderá ser decretada caso o executado não cumpra com o pagamento do débito ou apresente uma justificativa, a qual deverá ser apreciada pelo juiz, veja-se o que dispõe o artigo 528, § 2º do CPC: Art. 528 CPC. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. (...) § 2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o inadimplemento. A prisão civil por dsívida alimentar constitui uma medida extrema e excepcional, cabível somente quando há voluntário e inescusável inadimplemento, o que não é a situação vivida pela paciente: desempregada há 1 ano, fruto da grave situação econômica em que passa o país, com isso não está conseguindo se inserir novamente no mercado de trabalho e nem possui condições financeiras para quitar a dívida alimentar; tratando de uma depressão profunda, ou seja, acometida de uma séria doença que inclusive é incapacitante para o trabalho e para as relações de convívio social. Devido à explícita demonstração de absoluta impossibilidade justificada por parte da PACIENTE, de cumprir seu dever alimentar, nota-se que a prisão no seu caso específico, não poderia ser decretada, e da forma como o fora, revela unicamente seu caráter punitivo, e não coercitivo. Importante notar que no presente caso, a própria filha da devedora procurou sua avó para comunicar- lhe do iminente perigo, preocupada com suas consequências, o que revela a prejudicialidade da medida também para os filhos. Logo, resta plenamente demonstrado que o requisito fundamental para justificar o decreto de prisão, que é o inadimplemento voluntário e inescusável da obrigação alimentícia, não está atendido na presente situação, portanto, o direito constitucional do paciente está declaradamente afrontado. II.I. PEDIDO LIMINAR Os requisitos para a concessão de liminar, a saber, o fumus boni iuris, e o periculum in mora, estão plenamente configurados no presente caso, e a paciente faz jus à concessão da liminar, para evitar que a paciente seja cerceada injustamente em sua liberdade, constitucionalmente garantida. Quanto ao fumus boni iuris, restou plenamente demonstrado que a paciente goza da proteção legal do habeas corpus, pois encontra-se ameaçada de sofrerviolência ou coação em sua liberdade de locomoção, por força de um ato coator do Juiz de Direito da Vara de Família que decretou sua prisão, ato este demonstrado ilegalidade, seja porque não há justa causa à sua manutenção, seja porque o ato é carecedor de fundamentação da sua decisões (e por isso nula), diante do fato de a paciente ter feito comprovação de fato que justifica a sua impossibilidade absoluta de pagar. Quanto ao periculum in mora, basta constatar que a paciente está na eminência de ter decretada sua ilegal prisão civil, a tanto bastando a expedição do mandado de prisão e o deslocamento de oficial de justiça ao seu encontro, logo, há evidente perigo na demora da apreciação do presente remédio constitucional, cuja finalidade é de previnir o cumprimento da ordem da autoridade coatora. Requer-se, apreciação pelo Egrégio Tribunal de Justiça do pedido de urgente concessão de liminar ao presente remédio constitucional para evitar a coação que se apresenta, questão de extrema relevância apresentada, impedindo que seja tolhido o Direito Constitucional de livre locomoção, pela coação de seu indevido decreto de prisão. III . PEDIDOS Diante do exposto e, do que mais dos autos constar e suprir a elevada consciência jurídica desse D. Juízo, requer-se, recebida e autuada a presente petição: a) seja notificada a autoridade coatora, o Exmo. Dr. Juiz da 10ª Vara de Família da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, para que tome ciência dos fatos narrados e preste as informações que julgue necessárias; b) seja ordenada a intimação do Ministério Público, na forma do Art. 178, II, CPC, por envolver a presente medida, ainda que indiretamente, interesse de incapaz; c) seja deferida a liminar para determinar ao Juízo o recolhimento, independentemente, de cumprimento, do mandado de prisão já expedido, ou, alternativamente, caso já cumprido o mandado, seja determinada a imediata colocação em liberdade da paciente. d) A concessão da ordem de Habeas Corpus Preventivo, com a consequente expedição de Salvo Conduto para a paciente, obstando a grave ameaça em sua liberdade. Nestes termos, pede deferimento. Local, data ADVOGADO/OAB nº
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