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1 2 ESTUDANTES DA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO por acesso e permanência, somos resistência! Antony Josué Corrêa Kátila Thaiana Stefanes Jeferson Rodrigo Campana (Revisores) Guilherme Behling (Diagramador) Capa elaborada com a arte de André Soares Pereira, baseada na ilustração de Fabiana Cordeiro dos Santos de Souza. Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Jonathas Troglio – CRB 14/1093 E82 Estudantes da Licenciatura em Educação do Campo [recurso eletrônico] : por acesso e permanência, somos resistência! / Antony Josué Corrêa, Kátila Thaiana Stefanes, Julia Boemer, (Organizadores). – Dados eletrônicos. – Florianópolis : CED/UFSC, 2018. 150 p. : ils., gráfs., tabs. Inclui bibliografia ISBN 978-85-45535-82-9 E-book Disponível em: <https://encontrodeestudantesdaregiaosul-com-br.webnode.com/> 1. Trabalhadores rurais - Educação. 2. Educação rural. I. Corrêa , Antony Josué. II. Stefanes, Kátila Thaiana. III. Boemer, Julia. CDU: 37(816) 4 Antony Josué Corrêa Kátila Thaiana Stefanes Julia Boemer (Organizadores) Florianópolis, 2018 ESTUDANTES DA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO por acesso e permanência, somos resistência! Apoiadores: Índice Capítulo 1 — Pág. 9 Capítulo 4 — Pág. 73 Os Cursos de Licenciatura em Educação do Campo nas instituições públicas Mulheres e feminismo: produções e resistência na universidade Capítulo 5 — Pág. 89Capítulo 2 — Pág. 23 Vidas em Agroecologia: experiências e possibilidades Movimentação Estudantil na Licenciatura em Educação do Campo: Nada sobre nós, sem nós! Capítulo 6 — Pág. 111Capítulo 3 — Pág. 45 O 2º Encontro: Por acesso e permanência, a partir da realidade e experiências! Formação acadêmica: desafios e potencialidades. 7 É com um misto de alegria e responsabilidade que apresentamos o primeiro livro pensado e organizado por estudantes dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) da Região Sul do Brasil. Estudantes da Licenciatura em Educação do Campo: por acesso e permanência, somos resistência! ousa ser diferente. Mais que textos, esta obra ob- jetivou apresentar vidas, sentimentos, vivências, lembranças e aprendizados. Os relatos de experiências, os poemas e as imagens que a integram sistematizam reflexões sobre o acesso, a permanência das educandas e dos educandos da classe trabalhadora popular, no ensino superior universitário. A proposição de um livro produzido no seio do movimento estudantil no 2º Encon- tro, aparece durante o espaço cultural do 1º Seminário de Planejamento, em novembro de 2017, na Ilha de Santa Catarina, no diálogo entre estudantes de diferentes universidades. A proposta é retomada e toma corpo no 2º Seminário de Planejamento, em fevereiro de 2018, em Matinhos, enfatizando o registro e expressão em diferentes linguagens, contendo ISBN, introdução, breve histórico dos cursos de Licenciatura em Educação do Campo da Região Sul, depoimentos e registros diversos feito por estudantes dos cursos e alguns depoimento de docentes. Orçamentos particulares foram apresentadas, ficando a tarefa de organização e recolhimento de trabalhos definida como estadual. O grupo de trabalho do livro é estruturado regionalmente no 3° Seminário de Planeja- mento, em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul, assim como uma chamada de trabalhos mais ampla, com modalidades e especificações para o envio. Os membros da comissão regio- nal no retorno às suas instituições tinham a tarefa de fazer tentativas de orçamento e apoio para publicação do material. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) por meio do seu Centro de Ciências da Educação (CED) no diálogo com o Coletivo de Estudantes e com interlocuções com o Gabinete da reitoria, respondeu com este importante apoio. A Educação do Campo tem por base a formação ampla, libertadora e a luta pela cons- trução de uma nova sociedade. Como destaca Roseli Salete Caldart: “A Educação do campo nasceu como crítica à realidade da educação brasileira, particularmente à situação educacio- nal do povo brasileiro que trabalha e vive no/do campo.” Este livro (1) registra aspectos históricos do movimento estudantil das LEdoC, na construção da autonomia; (2) aponta elementos da realidade de sujeitos dos cursos da Região Sul; (3) fornece dados oficiais, diretrizes e marcos da Educação do Campo; e (4) é fonte de conhecimento sobre a Licenciatura para as pessoas ingressantes. Para muitos estudantes, este livro foi a primeira oportunidade para publicar algo, num APRESENTAÇÃO 8 exercício inicial de escrita e reflexão. Além de sistematizar e compartilhar as experiências e vivências, as páginas seguintes apresentam os olhares das e dos estudantes das Licenciatu- ras, destacando bandeiras de lutas, as quais comprometem-se, sobretudo, com a Educação do Campo para a transformação social. O livro está dividido em seis capítulos. O primeiro é composto por trabalhos que res- gatam a história das Licenciaturas em Educação do Campo, tanto no âmbito geral quanto nas especificidades de algumas instituições da região Sul. O segundo capítulo apresenta a luta das e dos estudantes das LEdoC, do movimento estudantil da Educação do Campo, resgatando documentos de encontros importantes, como a construção do Movimento Estudantil da Educação do Campo do Brasil (MEEC). Os desafios e as potencialidades da formação acadêmica são tocados no terceiro ca- pítulo. Composto por trabalhos sobre experiências de estágios, de disciplinas, tempos co- munidade e universidade, desenvolvimento de projetos no âmbito das bolsas de pesquisa e iniciação à docência, entre outros. Os capítulos quatro e cinco, ainda ligados à formação acadêmica, tratam de questões das mulheres e suas resistências, e as experiências no âmbito da produção alimentar sau- dável e sustentável, nessa respectiva ordem. O tema Mulheres e Resistência traz relatos de experiência de coletivos feministas criados pelas estudantes e professoras dentro das Uni- versidades, abordando também a resistência das mães para permanecerem nos cursos e as vivências de Ciranda Infantil. Na temática Vidas em Agroecologia, que compõe o capítulo quinto, os trabalhos referem-se à Educação Ambiental, às técnicas agroecológicas de produ- ção, às plantas medicinais e à alimentação saudável. O capítulo final sistematiza o histórico do 2º Encontro de Estudantes da Licenciatura em Educação do Campo da Região Sul, ocorrido em Florianópolis, Santa Catarina, entre os dias 12 e 15 de outubro de 2018. O referido encontro foi o marco da realização e concretiza- ção deste livro. Nosso 2º Encontro foi construído frente às demandas de articulação regional e nacional presentes em 2016, no 1ª Encontro de Estudantes da Licenciatura em Educação do Campo da Região Sul nos dias 23, 24 e 25 de outubro, em Tramandaí (RS) e no I Encontro Nacional de Estudantes da Licenciatura em Educação do Campo (I ENELEdoC), de 17 a 21 de dezembro, em Cruz das Almas (BA). Entre os objetivos deste encontro, estavam: (I) a construção de um coletivo regional de estudantes da LEDOC interligado por uma rede de contatos com atuação nas instâncias local, regional e nacional; (II) ser espaço para organização das estratégias de ação na Uni- versidade em torno das pautas de acesso e permanência a partir das nossas realidades e ex- periências; (III) compartilhar documentos e registros históricos deste Movimento estudantil. Para a concretização deste livro, destacamos suporte financeiro da Universidade Fede- ral de Santa Catarina (UFSC). Agradecemos ao Centro de Ciências da Educação (CED), des- 9 ta Universidade, pelo financiamento das impressões. Ao Laboratório de Novas Tecnologias (LANTEC), da UFSC, registramos nosso agradecimento pela formatação e diagramação. Agradecemosao coletivo estudantil do Centro Acadêmico de Licenciatura em Educa- ção do Campo (CaleCampo) da referida universidade, pela tarefa de articulação e realização do diálogo institucional para a concretização deste livro. Em tempos sombrios, esta obra não se faz importante apenas por sua temática, mas também por seu contexto histórico e pelos/as sujeitos que a produziram. Manteremos haste- ada a bandeira da Educação do Campo ao mesmo tempo em que lutamos pela dignidade de ser estudante numa universidade pública A atualidade apresenta um cenário de intensificação das relações capitalistas, as quais expropriam o trabalhador e causam fortemente a deseducação das crianças, jovens e adultos. Vivemos um período de retirada das leis trabalhistas, de cortes aos orçamentos de estudos e pesquisas, de sucateamento da educação públicas, de golpe político, de retrocesso aos direi- tos humanos. Estamos ocupando a universidade e nos apropriando dos espaços acadêmicos que ela nos proporciona. Nossa responsabilidade, enquanto estudantes da classe trabalhado- ra, é fortalecer a luta para que rompamos com a conformidade denunciada nas palavras de Bertold Brecht: “Nós existíamos através da luta de classes. [...] Quando só havia injustiça e não havia revolta”. É preciso revoltar-se! Seguimos persistentes, pacientes, trabalhando e fortalecendo o coletivo, porque se nos calarmos, estudante se torna apenas mais um apêndice da Universidade Pública! Florianópolis, verão de 2018. Antony Josué Corrêa Júlia Boemer Júnior Alberton Kátila Thaiana Stefanes Os Cursos de Licenciatura em Educação do Campo nas instituições públicas Capítulo 1 — LUTAR E RESISTIR Bianca Moreira de Sousa1 1 Educação do Campo pela Universidade Federal do Pará. Baião-PA. E-mail: biancamoreira336@gmail.com 10 Vamos, vamos companheiros e companheiras levantar nossas bandeiras de lutas. Bandeiras estas cheias de significados e lem- branças Que nos lembram quantos precisaram morrer para hoje estarmos aqui. Não podemos nos calar, não podemos nos ca- lar... Educação do campo é o nosso lugar! Um sonho ameaçado porque querem nos tirar. Sonho este, fruto de muitas e muitas lutas de movimentos sociais Fruto de muitas humilhações, discriminações e desvalorizações que passamos ao longo de nossas trajetórias, por ser quem somos: Sujei- tos do Campo. Sujeitos com histórias... Histórias estas que trazem as origens de nos- sas raízes Raízes quilombolas Que gritam por sede de justiça no meu sangue negro! Raízes indígenas Que viram a mãe terra ser estuprada por la- drões, sem ter como se defender ou dizer não. Raízes agricultoras e lavradoras Que viram seu pedaço de chão na mão do grande patrão. Origens que foram escravizadas e comerciali- zadas como um pedaço de pão. Que hoje se levantam e gritam em uma só voz: NÃO! Não ao preconceito Não a escravidão Não ao agronegócio que prega a evolução, mas que só traz a destruição. Resistir e lutar, Resistir e lutar, Resistir e lutar E viva a EDUCAÇÃO POPULAR! 11 LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA CONQUISTA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Edson Marcos de Anhaia2 É fundamental iniciar o texto afirmando que o curso de Licenciatura em Educação do Campo foi construído a partir da luta dos movimentos sociais do campo por Reforma Agrária. Tomando como base o exposto por Caldart (2010) na II Conferência por uma Educação do Campo, realizada em 2004, fica evidenciada a opção de se lutar por políticas públicas de educa- ção. A referida conferência contou com ampla participação de movimentos sociais do campo. Destacamos que era o segundo ano do governo Lula e existia a crença em mudanças mais profundas e significativas, tanto no que dizia respeito à Reforma Agrária quanto à Educação do Campo. Além disso, se a primeira Conferência Nacional de Educação Básica do Campo, realizada em 1998, se caracterizou por denunciar a precariedade da realidade do campo brasileiro, a segunda, se caracterizou pela proposição de políticas públicas de Edu- cação do Campo ao Estado, tornando-se este o principal foco das lutas e das articulações. Nesse contexto, a proposição de um Curso de Licenciatura em Educação do Campo gradativamente passou a fazer parte da agenda política dos movimentos sociais do campo, sendo uma ação que se materializou a partir da pressão e luta do Movimento pela Educação do Campo. Segundo Molina e Sá (2012, p. 466), a Licenciatura em Educação do Campo co- meçou a ser vislumbrada efetivamente a partir da II Conferência Nacional por uma Educação do Campo. Após a Conferência foi instituído o Grupo Permanente de Trabalho (GPT)3 com a finalidade de construir uma proposta de Educação do Campo para apresentar à Secretaria de Educação Continuada e Diversidade (SECAD), na proposição ao MEC do que deveria vir a ser um Plano Nacional de Formação de Educadores das escolas do campo. Segundo Santos (2012), em função da correlação de forças presente naquele momento e a partir do acúmulo de experiências conquistadas pelos movimentos sociais na elaboração e participação no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), por meio da realização de dezenas de cursos de Pedagogia da Terra (cuja primeira experiência foi realizada em 1998), os movimentos sociais foram capazes de influir de forma relevante na indicação dos membros integrantes do referido grupo de trabalho. 2 Professor Doutor do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da UFSC. 3 O Grupo Permanente de Trabalho de Educação do Campo (GPT) foi oficializado pela Portaria nº. 1374 de 03 de Junho de 2003, do MEC (BRASIL, 2003), com representações de algumas de suas Secretarias e posterior agrega- ção de movimentos e instituições com ações voltadas à Educação do Campo. 12 Conforme Molina e Sá (2012), em novembro de 2006 a SECAD4 e a Secretaria de Ensino Superior (SESu) do MEC selecionaram sete universidades públicas federais para im- plementar os primeiros cursos de Licenciatura em Educação do Campo como projeto-piloto. Somente quatro universidades conseguiram elaborar e aprovar em seus colegiados o referido projeto, a saber: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Universidade de Brasília (UnB). Tais instituições possuíam experiência em projetos relacionados à Educação do Campo em conjunto com movimentos sociais de luta pela terra. Dessa forma foi instituído o Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (PROCAMPO). Com apenas um ano de execução do projeto-piloto, o MEC lançou o Edital número 02, de 23 de abril de 2008 (BRASIL, 2008), realizando cha- mada pública para a seleção de projetos de instituições de ensino superior para o PROCAM- PO, tendo como um de seus critérios a habilitação dos docentes por área de conhecimento. Neste edital, 26 universidades participaram, ampliando para 30 cursos de Licenciatura em Educação do Campo. Em 2009 o edital foi relançado (BRASIL, 2009), ampliando o número de universidades federais, institutos federais e universidades estaduais na oferta de cursos de Licenciatura em Educação do Campo, com recursos provenientes de convênios entre o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE) e as instituições ofertantes. Em 2012, por meio do Edital de Seleção n.º 02/2012- SESU/SETEC/SECADI/MEC, de 31 de agosto de 2012, o MEC solicitou que universidades públicas em diferentes regiões do país encaminhassem projetos político-pedagógicos para o desenvolvimento de Licencia- turas em Educação do Campo. A previsão era de implementar 40 cursos regulares, com no mínimo 120 vagas para cursos novos e 60 vagas ofertadas em três anos para ampliação de cursos existentes, na modalidade presencial. O edital previa também a liberação de 15 códigos de vagas para contratação de docentes do magistério superior e três para servidores técnico-administrativos. Isto porque houve uma diferenciação dos editais anteriores, já que esse estabeleceu como condição a institucionalizaçãodos cursos nas instituições de ensino superior (BRASIL, 2012). Segundo dados da Coordenação Geral de Educação do Campo5, a partir desse último edital, foram implementados no período de 2013 e 2014, 37 cursos re- gulares de Licenciaturas em Educação do Campo, havendo, portanto, cursos aprovados que nem chegaram a iniciar suas atividades. Ressaltamos porém, que nem todos os cursos dessa 4 Somente com o decreto n. 7.690, de 2 de março de 2012, foi inserida nesta secretaria o eixo “inclusão”, passando a ser chamada de Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI). 5 Dados informados em reunião no MEC em 13/10/2015, na qual participamos na condição de representante da re- gião Sul na “Comissão Especial para acompanhamento, sugestões de aperfeiçoamento e fortalecimento institucio- nal das Licenciaturas em Educação do Campo”, instituída na SECADI/MEC pela Portaria nª 102, de 09/10/2015. 13 modalidade, existentes atualmente nas Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, fo- ram decorrentes dos editais do MEC, sendo a oferta uma escolha autônoma da universidade. Concluímos afirmando que, o curso de Licenciatura não pode ser considerado apenas como um curso de formação de professores e professoras, mas como uma estratégia de construção política que representa os interesses, as vontades e a visão de mundo de uma fração da classe trabalhadora, e que, por isso, se constitui como luta permanente de interes- ses específicos e como possibilidade estratégica de sua prática política para a construção de outra hegemonia. Não podemos esquecer que o processo de construção de direito é histórico e por isso um movimento permanente. Não é porque as demandas das classes sociais estão inscritas no espaço do direito que elas já são transformadas em políticas públicas. É necessário que as demandas da classe trabalhadora, expressas em suas lutas, sejam constituidora de direi- to e que as políticas públicas sejam pensadas como estratégia para a construção de outras bases societárias. Esse processo é um movimento permanente que requer organização contínua, e as demandas quando são colocadas para o Estado sofrem enquadramentos, sejam das forças contrárias dentro do próprio Estado, da burocracia que enquadra a execução das políticas e das disputas dentro da própria sociedade civil para a manutenção da ordem. Não basta garantir acesso à educação formal no campo, é necessário que essa formação contribua para elevar o nível de conhecimento e cultura da classe trabalhadora do campo, a fim de que esta possa compreender as contradições e antagonismos do capital. REFERÊNCIAS BRASIL. Edital nº 2, de 23 de abril de 2008: Chamada pública para seleção de projetos de instituições públicas de ensino superior para o PROCAMPO, Brasília, 2008. BRASIL. Edital de convocação nº 09, de 29 de abril de 2009. Brasília, 2009. BRASIL. Portaria Nº 86, de 1º de fevereiro de 2013. Brasília, 2012. CALDART, Roseli Salete. Educação do Campo: Notas para uma análise de percurso. In: MOLINA, M. Cas- tagna (org.) Educação do Campo e Pesquisa II: questões para reflexão. Molina, M. Castagna, MDA, MEC, BRA- SÍLIA, 2010. MOLINA, Monica; SÁ, Lays. Licenciatura em Educação do Campo. In: CALDART, Roseli et all. Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, São Paulo: Expressão Popular, 2012. 14 Atualmente, as instituições que apresentam o curso de Licenciatura em Educação do Campo: Fonte: CPEC/DPECIRER/SECADI/MEC, 2018. Região UF Sigla Instituição Campus Centro- Oeste DF UnB Universidade de Brasília Planaltina GO UFG Universidade Federal de Goiás Catalão Goiás MS UFGD Universidade Federal da Grande Dourados Dourados UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Campo Grande Nordeste BA UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Amargosa, Feira de Santana MA IFMA Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão São Luís Maracanã UFMA Universidade Federal do Maranhão Bacabal RN UFERSA Universidade Federal Rural do Semi - Árido Mossoró PI UFPI Universidade Federal do Piauí Cinobelina Elvas, Floriano, Picos, Teresina PB UFCG Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande Norte AP UNIFAP Universidade Federal do Amapá Mazagão PA UFPA Universidade Federal do Pará Altamira, Cametá, Abaetetuba UNIFESSPA Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará Marabá RO UNIR Universidade Federal de Rondônia Rolim de Moura RR UFRR Universidade Federal de Roraima Boa Vista Sudeste TO UFT Universidade Federal do Tocantins Arraias, Tocantinópolis ES UFES Universidade Federal do Espirito Santo Goiabeiras, São Mateus MG UFV Universidade Federal de Viçosa Viçosa UFTM Universidade Federal do Triângulo Mineiro Uberaba UFMG Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte UFVJM Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Diamantina RJ UFF Universidade Federal Fluminense St. Antônio de Pádua UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Seropédica Sul PR UFPR Universidade Federal do Paraná Litoral Sul UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná Dois Vizinhos UFFS Universidade Federal da Fronteira Sul Laranjeiras do Sul RS UFFS Universidade Federal da Fronteira Sul Erechim IF Farroupilha Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha Jaguari UNIPAMPA Universidade Federal do Pampa Dom Pedrito FURG Universidade Federal do Rio Grande São Lourenço do Sul UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul Litoral Norte, Porto Alegre SC UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis Fonte: CPEC/DPECIRER/SECADI/MEC, 2018. 15 LANCES DE MEMÓRIA ACERCA DA IMPLANTAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO NA UFSC6 Antônio Munarim7 ANTECEDENTES Em 2007 a SECAD disponibilizou recursos para que quatro universidades, que pre- viamente se dispunham, a iniciar um projeto piloto de implantação do curso nos termos da proposta que resultou do GPT com os ajustes sugeridos no Seminário de 07/04/06. Na prática, deram início imediato (em 2007) a UnB – começando o curso em convênio com o ITERRA – e a UFMG. Esta última, transformando seu curso de “Pedagogia da Terra” (experiência acumulada no Pronera, que serviu de base para a nova proposta) já em an- damento naquela Universidade em Licenciatura em Educação do Campo. As outras duas iniciaram mais tarde. No 1° Edital MEC/PROCAMPO (EDITAL Nº 2, DE 23 DE ABRIL DE 2008), foram selecionados oito projetos – entre os quais o da UFSC, para dar início ao curso em 2009, com vestibulares ainda em 2008. Já não mais se trata de projeto piloto da SECAD, mas de proposta institucional do MEC. CONTEXTO DA APRESENTAÇÃO DO PROJETO DA UFSC AO EDITAL O pessoal técnico da SECAD, ou melhor, o pessoal ligado à Coordenação-Geral de Educação do Campo/SECAD, faz contato direto com professores de algumas universidades para estimulá-los a tomar iniciativa, internamente às suas instituições, no sentido de garantir a apresentação de projetos com potencial de aprovação. Assim, fomos contatados pela SECAD tão logo o edital fora publicado. Uma equipe de três professores do EED/CED (Beatriz Hanff, Terezinha Cardoso e Antônio Munarim) assumiu a elaboração do projeto. Buscou assessoria especial junto a colegas do MEN/CED (Professores Ademir Donizeti Caldeira, Carlos Alberto Marques e Leandro Belinaso Gui- marães) e junto a colegas do Centro de Ciências Agrárias, Wilson Schmidt e Ademir Cazella. Dois fatos se destacam, internamente à UFSC, no ensejo da elaboração e apresentação do projeto ao MEC: a) Disputa de dois projetos no âmbito da Reitoria, com vistas ao encaminhamento de 6 Trechos do texto escrito para o Projeto “Registros da história da criação, implantação e dos primeiros anos da Licenciatura em Educação do Campo da UFSC”, em set/2015 7 Professor Doutor aposentado da Licenciatura em Educação do Campo da UFSC, Florianópolis, SC. E-mail: antoniomunarim@gmail.com 16 um único ao MEC,em nome da instituição. A Reitoria decidiu pelo encaminhamento do projeto do CED. O outro se situava fora do escopo da educação; b) O projeto teve dois encaminhamentos burocráticos paralelos e intercomplementares. De um lado, a UFSC o encaminhou à SECAD/MEC, em resposta ao Edital 2/2008, como fi- zeram outras IFES. Ou seja, seguiu os trâmites oficiais do Edital, com a assinatura do Reitor garantindo o compromisso institucional da UFSC. De outro lado, foi incluído no plano da UFSC para o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universida- des Federais (Reuni). Havia coincidência dos tempos para uma e para outra tramitação nas instâncias da própria universidade, o que tornava possível o cumprimento dos prazos junto ao MEC. Dentro do CED, tal fato (a decisão de assim fazer) gerou certa oposição à ação do grupo que se pôs a tarefa de elaborar o projeto. Partiu dos que eram contra o Reuni. Sem dúvidas, essa “carona” facilitou, contudo, a aprovação do projeto nas instâncias da UFSC. A aprovação no “pacote geral do Reuni” evitou grandes questionamentos às novidades e especificidades apresentadas pelo projeto de Licenciatura em Educação do Campo. E mais: não fosse isso, a EduCampo teria sido aprovada tão somente como um curso especial. Desse modo, o curso da UFSC foi a primeira Licenciatura em Educação do Campo a funcionar na condição de curso regular. Foi alocado na CED, mas com interfaces com o CCA. O apoio financeiro da SECAD significava um aporte suplementar, que permitia a realização de todas as ações inovadoras do curso, tais como o acompanhamento por professores dos tempos co- munidade ou as viagens e estadia completa dos alunos nos Tempos Comunidade. O PRIMEIRO VESTIBULAR NINGUÉM ESQUECE Inicialmente, a Comissão Permanente do Vestibular UFSC (Coperve) exigiu que o vestibular para o curso compusesse o processo de seleção único e unificado da Universidade. Apesar dos alertas dos professores do curso, foi essa a opção que prevaleceu e que resultou em um desastre (tanto no número muito baixo, quanto no perfil inadequado) para a formação da primeira turma. O equívoco foi reconhecido nas seleções seguintes e, já a partir da segun- da turma, a Coperve passou a ser uma boa parceira na estruturação de um vestibular especial e diferenciado. De toda maneira, aberto à participação universal. O CURSO “MAMBEMBE”: UMA MUDANÇA DE ROTA Diante da demanda que se expressava no Fórum Catarinense de Educação do Campo (Focec), especialmente a partir da presença nesse fórum da Secretária de Educação do Mu- nicípio de Canoinhas, que ali representava a União dos Dirigentes Municipais de Educação de Santa Catarina (Undime/SC), o “lugar” do curso foi mudado. Ou seja, a proposta daquela representante da Undime era de que o curso tivesse boa parte de suas atividades, seguindo a Pedagogia da Alternância (Tempos Universidade e Tempos Comunidade), realizada no 17 território rural de origem dos estudantes. Ao mesmo tempo, aquela gestora de educação pu- nha a estrutura da administração municipal de Canoinhas como interessada em estabelecer parceria para tal empreendimento. Na verdade, essa ideia fora exposta ao Focec, em 2008, já no momento em que foi apresentado àquele fórum o primeiro desenho de curso. Contudo, ela foi, temporariamente, “arquivada”. Agora retomada, foi apresentada ao Reitor da UFSC como proposta de “curso itinerante” ou “mambembe”. Ou seja, dentro da proposta de democratização e interiorização da UFSC, a Licenciatura em Educação do Campo iria para os territórios rurais nos quais uma demanda existente seria concentrada e organizada em grau suficiente. Ali permaneceria, ofertando o curso, até satisfazer aquele público, a exemplo do Teatro Mambembe. O Reitor endossou a ideia imediatamente. Determinou que a proposta fosse detalhada e garantiu o aporte institucional necessário para a implementação. Assim, definiu-se pelo que seriam as quatro primeiras turmas fora da sede, para os qua- tro anos que se seguiriam: a) Planalto Norte, com sede em Canoinhas; b) Encosta da Serra Ge- ral, com sede em Santa Rosa de Lima e c) Extremo Oeste (com sede em São Miguel d`Oeste) e Meio Oeste (com sede em Caçador). Tal ordem foi assegurada apenas nos dois primeiros anos. A partir de meados do ano 2012, iniciou-se uma contestação ao formato “itinerante” do curso. Ela se deu internamente ao quadro de docentes do curso e se intensificou em 2013. A proposta de interiorização do curso passou a ser questionada [...] com a alegação de ilegali- dade da oferta de curso regular fora do campus sede. As reclamações principais – que davam base a esta postura – se davam com respeito ao “excesso de viagens” que os professores precisavam cumprir. Como resultado, as turmas de 2014 e 2015 foram formadas para que os Tempos Universidade fossem oferecidos no Campus sede. O que se constatou, novamente, forma dificuldades na composição e no perfil das turmas. SÃO 500 ANOS DE RESISTÊNCIA: INDÍGENAS PRESENTES NA UNIVERSIDADE FEDERAL FRONTEIRA SUL! Maria Eloá Gehlen8 Este relato trata da inserção de estudantes indígenas das etnias Kaingang e Guarani, na Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS-LS), campus de Laranjeiras do Sul, no Paraná, a qual prima por ser uma Universidade Democrática e Popular. 8 Profa Doutora da Educação do Campo da UFFS - Campus Laranjeiras do Sul, PR. E-mail:maria.gehlen@uffs.edu.br 18 Pode parecer incrível e ao mesmo tempo dramático, o tempo que os estudantes indígenas levaram para ingressar no Ensino Superior e na Pós-Graduação Strictu Sensu. Foram 500 anos de silenciamento e invisibilidade dos Povos Originários, também na Educação Superior. Atualmente, em decorrência da Constituição Federal de 1988, determinar o Direito à Educação para todos, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Legislação Educacional Indígena estabelecer esse direito, há o ingresso e a permanência dos Povos Originários no Ensino Superior. Perto da UFFS-LS existem aldeias indígenas populosas das etnias Guarani e Kain- gang: a Terra Indígena de Rio das Cobras, nos Municípios de Nova Laranjeiras e Espigão Alto do Iguaçu, a Terra Indígena de Mangueirinha em Mangueirinha, Coronel Vivida e Cho- pinzinho, a aldeia de Passo Liso em Laranjeiras do Sul, e a aldeia de Marrecas, nos Municí- pios de Turvo e Guarapuava, todas localizadas no estado do Paraná. A Universidade conta hoje, com novecentos e trinta e dois (932) estudantes com matrí- culas ativa. Desses, setenta (70) são indígenas, sendo sessenta e cinco (65) cursando a Edu- cação do Campo – Ciências Sociais e Humanas e cinco (5) estudantes indígenas nos demais cursos, conforme dados do Serviço de Assistência Estudantil (SAE- LS) da UFFS. Os/as estudantes indígenas ingressam nessa Universidade, no Curso de Licenciatura em Educação do Campo – Ciências Sociais e Humanas, com um vestibular especial para essa graduação, a qual trabalha com a Pedagogia da Alternância, com Tempos na Universi- dade e Tempos na Comunidade. Na última turma a ingressar na Educação do Campo – Ciências Sociais e Humanas, na cidade de Candói, PR, incorporaram-se ao Ensino Superior mais 29 estudantes indígenas, vinte e sete (27) da etnia Kaingang e dois (2) da etnia Guarani. A Universidade já formou na Graduação em Educação do Campo – Ciências Sociais e Humanas quatro (4) estudantes Kaingang da Terra Indígena de Rio das Cobras, dos quais três (3) já estão atuando como professores de História, Geografia, Sociologia e Filosofia, nas Escolas Indígenas das aldeias próximas. Estes estudantes ingressam no ensino superior, da mesma forma, via o Programa de Acesso e Permanência dos Povos Indígenas na UFFS (PIN), nos demais cursos oferecidos pela Universidade com vagas suplementares em vesti- bulares destinados aos indígenas. Inclusive, duas estudantes indígenas Kaingang defenderam sua Dissertação de Mestrado em Agroecologia da UFFS - LS. Suzana Kagmu Mineiro arguiu a respeito “O Papel do Ambiente Escolar na culturaalimentar Kaingang: O Caso da Terra Indígena Rio das Cobras-PR (Kaingang: Vẽnhrán jãfã tá Kanhgág ag vẽjẽn: ẽmã tỹ Rio das Cobras – PR ki). Já a dissertação de Ilda Cornélio, intitulada “Resíduos sólidos domésticos na Terra Indígena Rio das Cobras (Kaingang: Ẽg tỹ nẽn vãvam ti to kãmén kanhgág ag ga tỹ 19 Rio das Cobras tá) realizou a análise da geração e destino dos resíduos domésticos pelas famílias indígenas. Esses/as estudantes aprendem em casa, a língua materna Kaingang ou Guarani e so- mente aos sete (7) anos, quando vão para a escola do Estado é que aprendem o português. Há dificuldades linguísticas no início dos cursos, porém, há uma atuação docente no sentido de serem compreendidos pelos/as estudantes indígenas, nos seus componentes curriculares. É um fenômeno interessante e enriquecedor a interculturalidade que acontece nessa Universidade. São trocas efetuadas entre duas ou três culturas diferentes. É lógico que no começo do ano letivo, há estranhamentos. Porém, com o passar do tempo os estudantes indí- genas e não-indígenas aprendem a conviver com as diferenças, aprendendo e ensinando uns com os outros, respeitando-se e buscando praticar a alteridade. Porém, o fato é auspicioso no início do século XXI: a existência de setenta (70) estu- dantes indígenas presentes na Universidade Federal Fronteira Sul, campus de Laranjeiras do Sul, PR, sendo que destes, sessenta e cinco(65) comprometem-se a serem educadores em suas Terras Indígenas e cinco (5) nas demais graduações. Além de duas (2) indígenas Kain- gang já serem Mestras em Agroecologia. Salientamos que apesar de estarem no Ensino Superior eles permanecem vinculados às suas origens, realizando a interculturalidade com os não-indígenas, aprendendo e ensinando, com respeito as diferenças e a diversidade do outro. REFERÊNCIAS CORNÉLIO, Ilda. Resíduos sólidos domésticos na Terra Indígena Rio das Cobras. Dissertação de Mestrado em Agroecologia, UFFS, campus Laranjeiras do Sul, PR, 2017. MINEIRO, Suzana K. O Papel do Ambiente Escolar na cultura alimentar Kaingang: O Caso da Terra Indíge- na Rio das Cobras-PR. Dissertação de Mestrado em Agroecologia, UFFS, campus Laranjeiras do Sul, PR, 2017. SAE – Serviço de Atendimento Estudantil da UFFS – Campus Laranjeiras do Sul, PR. Dados coletados em 01/11/2018. 20 PINTANDO A UNIVERSIDADE DE POVO José Rafael de Oliveira Batista 9 Leocadia Marta Dalabona10 Historicamente, no campo educacional brasileiro, os Povos do Campo precisam supe- rar diversas dificuldades para poderem exercer o seu direito à Educação Superior. O sistema capitalista é cruel, exemplo disso é o fechamento das Casas Familiares Rurais, em especial no estado do Paraná, o que provoca tanta dor nos povos do campo e traz à tona injustiças na educação, como o fechamento de muitas escolas do campo. Porém, um fato novo trouxe alento aos estudantes do campo que já tinham concluído o Ensino Médio. Frente a essa realidade, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) preocupada e sensibilizada com esses fatos, lança o desafio de construir um curso de gradu- ação no município de Candói no Paraná, com a finalidade de atender estudantes do campo, em nível superior. Partindo desse pressuposto a UFFS - Campus Laranjeiras do Sul e o município de Candói – PR, em sua gestão atual se desafiaram à construir juntos o Curso Interdisciplinar em Educação do Campo - Ciências Sociais e Humanas, na modalidade da Pedagogia da Al- ternância. Os/as estudantes têm o Tempo Universidade com aulas em tempo integral durante os dias da etapa, sendo responsáveis pela alimentação e organização do ambiente escolar de forma autogestionada; e o Tempo Comunidade, no qual os e as estudantes voltam para suas comunidades, desenvolvem estudos que complementam a carga horária das disciplinas e pesquisas de campo. Estão na contramão do sistema que vem fechando as portas da Educação do Campo, os movimentos sociais populares junto a uma universidade democrática e popular buscando a defesa e a efetivação de uma educação pública, gratuita e de qualidade em diálogo com as demandas das comunidades regionais. Surge uma luz na escuridão, pois com o engajamento dessas duas instituições públicas inicia-se a construção dos caminhos a serem trilhados para que o curso se realize em Candói, PR. O governo Municipal responsabilizou-se pela infra- estrutura. A UFFS e professores, iniciaram o trabalho burocrático para atender as demandas legais que regem as universidades públicas. Por fim, se dá início a divulgação da conquista do curso dentro da universidade sendo seu primeiro ato a assinatura do Termo de Cooperação entre a Universidade e o Gestor Mu- nicipal com grande participação da população de Candói no auditório da UFFS. O trabalho 9 Estudante da Educação do Campo-Ciências Sociais e Humana, UFFS, Laranjal, PR, batistajrafa@gmail.com. 10 Estudante da Educação do Campo-Ciências Sociais e Humana, UFFS, Laranjal, PR, leocadiamarta@hotmail.com. 21 segue na preparação do vestibular e divulgação do edital no site da referida universidade. Os professores e professoras ajudaram a difundir o curso na região da Cantuquiriguaçu e nas áreas indígenas, quilombolas, assentamentos da reforma agrária, reassentamentos e nas diferentes comunidades camponesas. Na realização do vestibular inscreveram-se 106 estudantes, sendo 60 vagas oferta- das para ingresso. As aulas iniciaram em Candói em 03 de setembro de 2018 com a presença do Vice-Reitor Antonio Andrioli, que proferiu a aula inaugural dando início ao primeiro Tempo Universidade. A turma é heterogênea, constituindo-se de educandos e educandas de vários municípios: Candói, Foz do Jordão, Reserva do Iguaçu, Dois Vizinhos, Mangueirinha, Honório Serpa, Pato Branco, Rio Bonito do Iguaçu, Nova Laranjeiras, Laranjal e Guara- puava. Os/as estudantes são do campo, filhas(os) de camponeses, indígenas e quilombolas havendo alguns do meio urbano de municípios rurais. Cada qual trouxe o seu sonho e as suas possibilidades como futuros educadores/as de História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Neste contexto, há grande diversidade cultural, assim como há educandos/as com- prometidos com a aprendizagem e a defesa das causas culturais e educacionais das diferen- tes comunidades. A aprendizagem está para além da sala de aula, pois a estrutura do curso permite que ao estudante desenvolver atividades coletivas, conhecimentos culturais, respeito ao outro e as diferenças. Um dos vetores principais é a formação crítica em várias áreas do conhecimento, que faz parte do cotidiano da família rural que nos acolhe. E a história segue o seu rumo. Há a possibilidade real de abrir mais uma turma de graduandos/as em Educação do Campo – Ciências Sociais e Humanas, em Candói, PR, em 2019. Isso significa a vitória dos movimentos sociais populares e de uma Universidade Fede- ral comprometida com os Povos do Campo, onde está situada. 22 LEGISLAÇÃO REFERENTE À EDUCAÇÃO DO CAMPO Lei nº 9.394, de 20/12/1996, Artigos 23, 26, 26-A e 28: prevê a educação para popula- ção rural. https://goo.gl/PQiaD1 Parecer CNE/CEB nº 36, de 04/12/2001: Diretrizes Operacionais para a Educação Bá- sica nas Escolas do Campo. https://goo.gl/xYFbdD Resolução CNE/CEB nº 01, de 03/04/2002: institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, incluindo os deveres dos Poderes Públicos. http:// portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB012002.pdf Parecer CNE/CEB nº 01, de 01/02/2006: trata da Pedagogia da Alternância. https:// goo.gl/eJrLs9 Resolução CNE/CEB nº 04, de 13/07/2010: Estabelece a Educação do Campo como modalidade. https://goo.gl/tj5uWS Decreto nº 7.352, de 04/11/2010: dispõe sobre a Política de Educação do Campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. https://goo.gl/g1oetB Portaria nº 86, de 01/02/2013: institui o Programa Nacional de Educação do Campo (PRONACAMPO). https://goo.gl/WYauC4 Portaria nº 579, de 02 de julho de 2013 institui o Programa Escolada Terra. https://goo. gl/HZrqNT Portaria MEC nº 391, de 10/05/2016: orientações e diretrizes aos órgãos normativos dos sistemas de ensino para o processo de fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. https://goo.gl/jMR9za Lei nº 12.960, de 27/03/2014: altera a Lei nº 9.394/1996, para fazer constar a exigência de manifestação de órgão normativo do sistema de ensino para o fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. https://goo.gl/d4egn5 23 Fonte: Turmas da Licenciatura Em Educação do Campo, UFRGS. 24 Fonte: Somos todos girassóis. Desenho de: Luísa Bruna Prestes, UFRGS Porto Alegre. 25 RESISTA11 Karen da Silva Neto12 Resista! Resista ao governo golpista Tentando nos calar Tentando nos tirar de onde é o nosso lugar. Permaneceremos! Se é do povo, então aqui que estaremos. Cuidar do que é nosso porque daqui só sairemos para ensinar aos próximos. Instruir a juventude para que estude e também lute Porque Luto para Educampo é verbo! E já que é pra lutar Vamos questionar Contestar! E pra dimensionar Somos coletividade Na pele sentimos o que é a irmandade! 11 Poema escrito para a mística do 4º seminário de Planejamento para o 2º Encontro, ocorrido no módulo III da Moradia Estudantil da UFSC. 12 Estudante de Licenciatura em Educação do Campo, UFSC, Florianópolis, Santa Catarina, karensnetto98@ gmail.com. Movimentação Estudantil na Licenciatura em Educação do Campo: Nada sobre nós, sem nós! Capítulo 2— 26 A LUTA DOS ESTUDANTES DAS LICENCIATURAS EM EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL Darlene Moraes do Santos 13 Bianca Moreira de Sousa 14 Francisco José da Sousa Rocha15 A criação dos Cursos de Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) nas insti- tuições de ensino superior no Brasil é resultado das lutas dos povos camponeses por uma educação de qualidade no e do campo. Nesse sentido, as formações nas Licenciaturas vêm ampliando a capacidade dos estudantes para o debate e estreitando o diálogo entre diferentes atores espalhados pelo Brasil. O presente trabalho pretende traçar uma linha do tempo na recente história do Mo- vimento Estudantil da Educação do Campo do Brasil (MEEC), refletindo sobre os eventos que marcaram a trajetória de lutas e que vem aos poucos demarcando os rumos da auto- -organização estudantil campesina. Sendo assim, para além de uma breve narrativa sobre acontecimentos pontuais dos últimos quatro anos– período no qual estudantes avançaram nos debates intensificando os encontros – nosso principal objetivo é evidenciar que a cada novo encontro o movimento estudantil da Educação do Campo está construindo nas regiões brasileiras um mosaico da diversidade do campesinato e reafirmando a luta e a resistência diante dos retrocessos na educação. Nesse sentido, é preciso reconhecer a relevância do mo- vimento de auto-organização de estudantes diante do panorama complexo e das pautas de reivindicações das Licenciaturas em Educação do Campo dentro das instituições públicas de ensino superior brasileiras. O presente texto é elaborado pela necessidade de sistematizar as pautas de luta e rei- vindicação presentes nos debates regionais e nacionais do movimento estudantil nos últimos anos, construído a partir da leitura das cartas sínteses e da análise dos relatórios finais de al- guns encontros. É composto como relato de estudantes, articulados em âmbito regional e na- cional, que participaram de importantes momentos dessa construção coletiva que é o MEEC. 13 Graduanda do 5º semestre da Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal de Roraima – LE- DUCARR/UFRR. E-mail: moraesdarelene@hotmail.com. 14 Graduanda do 9° semestre da Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Pará – LEdoC/ UFPA. E-mail: biancamoreira336@gmail.com. 15Graduando do 8° semestre da Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Piauí – LEdoC/ UFPI. E-mail: franzesrocha@gmail.com 27 A partir do histórico de luta por uma Educação do Campo, o IV Seminário Nacional das Licenciaturas em Educação do Campo, realizado em 2014 na Praia Paraíso (Mosqueiro – Belém/PA), foi constituído um Grupo de Trabalho de Discentes das Licenciaturas. Esse grupo debateu sobre as principais demandas das LEDOC e organizou uma Comissão Execu- tiva (provisória) para viabilizar a articulação do primeiro Encontro Nacional de Estudantes do Campo. Nesse momento, as principais pautas eram: concursos públicos específicos para educadores/as e gestores/as do campo, recursos para alojamento, alimentação e bolsas para garantir a permanência dos estudantes nas universidades. No ano seguinte, em 2015, os estudantes voltaram a se encontrar em Laranjeiras do Sul (Paraná), durante o V Seminário Nacional das Licenciaturas em Educação do Campo. No decorrer deste evento, foi viabilizado um espaço para que os estudantes debatessem e relatassem a situação das licenciaturas. Neste mesmo encontro, ocorreu o seminário temáti- co intitulado: Auto-organização Estudantil nas LEdoC. Nesse momento, nos relatos, foram expostas as principais queixas e necessidades estudantis, como a ausência de bolsas e a falta de estrutura física para organizar, desenvolver e compreender a pedagogia da alternância. As vozes presentes em Laranjeiras do Sul reforçaram a imensa urgência de auto-organização do movimento estudantil e da importância da realização do primeiro encontro nacional para concretizar a organização estudantil. Entre os principais encaminhamentos deste evento estava a deliberação, em plenária, para a construção do I Encontro Nacional de Estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo – I ENELEDOC, que inicialmente seria em Brasília no Campus da UnB. Dando segmento ao processo de auto-organização, estudantes de diferentes regiões (UFPA, UFRB, UFPI, UnB, UFFS, UFG, UFRGS, UFSC e UNIFESSPA) se reuniram no auditório da FUP/ UnB (Planaltina-DF), entre 28/04 e 01/05 de 2016, para o planejamento do I ENELEDOC que estava previsto para a segunda quinzena de agosto do referido ano. Como elemento articulador dessa discussão, os estudantes contaram com o possível apoio oferecido pela então gestão da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI/MEC) para cobrir os custos logísticos do Encontro. Porém, com o impeachment da Presidenta Dilma Vana Rousseff “fecharam as portas” da SECADI e a Educação do Campo começou a sentir os efeitos nefastos do Governo de Michel Temer, iniciado em 12 de maio de 2016. Por conta disso, o evento foi adiado para dezembro. O I Encontro Nacional de Estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo acon- teceu na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, entre 16 e 21 de dezembro de 2016, na Cidade de Cruz das Almas. Este momento foi muito importante para dar seguimento ao processo de construção do Movimento Estudantil da Educação do Campo. A jornada de ocu- pações que tomou conta de universidades e escolas em todo o Brasil foi fator marcante para a materialização do encontro. Esse acontecimento ajudou a iniciar/fortalecer a integração 28 entre estudantes das LEdoC e o Movimento Estudantil (ME), pois a Universidade do Recôncavo Baiano (UFRB) estava ocupada e em greve durante o I ENELEDOC. O MEEC participou ativamente de ocupações em diversas universidades do país, trazendo à tona o importante papel que as/os militantes camponesas/es podem cumprir nos processos de organização do Movimento Estudantil, inclusive, na organicidade dentro das ocupações, deixando um legado de aprendizagem mútua e integração entre estudantes do campo e da cidade. Os estudantes elencaram, no ENELEDOC, os principais elementos da crítica sobre a implantação e o funcionamento das LEdoC nas Universidades. A questão mais criticada foi o perfi l das educadoras e educadores que foram/são admitidas/os para as vagas conquistadas a partir do PROCAMPO, tanto para as vagas de servidor docente quanto para as de servidor técnico. Também ficou claro nos argumentos dos estudantes que faltam nas universidadesmateriais didáticos específicos, como por exemplo: livros nas bibliotecas onde os cursos estão funcionando e falta a infraestrutura básica para a maioria das LEdoC (alojamentos, alimentação, salas de aula e laboratórios). No I ENELEDOC, houve deliberação pela realização de eventos regionais, que seriam base da construção do II Encontro Nacional de estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo. Assim, em abril de 2017, estudantes da LEdoC do Piauí realizam o I Encontro Estadual dos Estudantes da Educação do Campo- EDUCAMPO, com o objetivo de avaliar as concepções da Pedagogia da Alternância da Educação do Campo na LEdoC do Piauí, como alternativa viável a permanência dos estudantes do campo na universidade. O evento ocorreu na cidade de Bom Jesus, no Sul do Piauí e foi um espaço de fortalecimento da organização da classe a nível de estado e região, já que o encontro contou com a participação de estudantes da LEdoC da UFRB. Em julho de 2017, o Norte do país realizou o Encontro Regional Norte dos Estudantes de Licenciatura em Educação do Campo – I ERNELEC, que teve como objetivo discutir estratégias para permanência e conclusão dos estudantes que já iniciaram o curso, bem como garantir a oferta permanente de novas turmas e promover interação estudantil, através da socialização de experiências das turmas de Licenciatura em Educação do Campo. No geral, houve um amplo e rico debate sobre a conjuntura nacional e os desafios da Educação do Campo. Consequentemente, o movimento estudantil deliberou participar ativamente dos eventos da educação do campo e fazer parte dos debates locais. No intuito da continuidade da luta pela Educação do Campo, foi apresentada novamente como pauta pelo MEEC a necessidade da inclusão das LEDOC nos concursos públicos e os estudantes participaram na construção da carta final do evento. Outra ação do Movimento Estudantil foi o encaminhamento do processo de escolha de representantes para participar da V Reunião ampliada do Fórum Nacional de Educação do Campo- FONEC, em Brasília, 26 a 28 de setembro de 2017. O Fórum Nacional de Educação 29 do Campo (FONEC) fez o convite para o Movimento Estudantil ocupar assento do Conselho e apresentar a sua pauta de reivindicações. Por meio deste debate, estudantes do Piauí, Pará e Brasília ocuparam as cadeiras do FONEC e começaram a participar das discussões e delibe- rações desta importante organização. Sem dúvidas, foi um processo de continuidade da teia que o MEEC representa no Brasil. A contextualização feita até aqui contribui para que o seguinte pensamento seja evi- denciado: a partir dos eventos e das articulações nas Universidades, Estados e Regiões, o Movimento Estudantil do Campo iniciou um processo de ocupação nos espaços da Educação do Campo não mais como plateia, mas como sujeitos que contribuem na construção dos pressupostos da Educação do Campo ao organizarem plenárias dentro dos eventos e fortale- cerem os processos organizativos do movimento. A Primeira Plenária Nacional do MEEC já estabelecido e consolidado, foi realizada no dia cinco de dezembro de 2017 em São Luís do Maranhão, no VIII Seminário Nacional da Licenciatura em Educação do Campo, que contou com a participação de representantes dos centros, coletivos e diretórios acadêmicos das Li- cenciaturas em Educação do Campo do Brasil, reunindo aproximadamente 200 estudantes. Vale ressaltar que o MEEC tem uma abrangência geográfica nacional e realiza ações nesse mesmo âmbito. Exemplos são plenárias e reuniões com o Ministério da Educação- MEC ou mesmo as plenárias presenciais ou on-line. O movimento é recente e ainda passa por estruturação e definição de processos organizativos internos. Entretanto, cada Estado, a partir da demanda e das situações vividas, realiza ações e se reconhece enquanto MEEC. Um dos exemplos são os eventos que foram deliberados no ENELEDOC e que continuam sendo realizados pelo MEEC. Sob esse entendimento, é importante mencionar que foi realizado o II Encontro Re- gional Norte dos Estudantes de Licenciatura em Educação do Campo (II ERNELEC) com o Tema: “LEDOCS E OS DESAFIOS ENFRENTADOS: CONCURSO PÚBLICO, VALO- RIZAÇÃO E O CURRÍCULO. O evento ocorreu, entre os dias 13 e 15 de abril de 2018, em Abaetetuba no Pará e teve a presença de mais 200 estudantes. Iniciou-se com um ato de denúncia, por meio de uma caminhada nas organizações públicas do município, como pre- feitura, câmara dos vereadores e praça central da cidade com o objetivo de chamar a atenção para urgência do reconhecimento do curso da Educação do Campo nos Estados. Ao final do evento foi entregue ao promotor de justiça do Ministério Público do Pará, Dr. Frederico Antônio Lima de Oliveira, um documento elaborado pelos docentes das LEdoC do Pará e assinado por todos os estudantes presentes. Nessa compreensão, o MEEC demonstra que preza pela sua autonomia, mas compre- ende a necessidade da somatória de forças na luta com os professores, com as coordenações e reitorias, fortalecendo, desse modo, a luta por Educação do e no Campo, pública, gratuita e contextualizada. 30 Nacionalmente, o MEEC dentro do FONEC, participou da coordenação do encontro “20 anos da Educação do Campo e do PRONERA”, que aconteceu nos dias 12 à 15 de junho de 2018 na cidade de Brasília. Nesse evento, ocorreu uma Segunda Plenária Nacional com estudantes que participavam do encontro, inclusive, esta foi reivindicada nas reuniões de construção do evento. Nesta plenária, as falas eram contempladas por um desejo de unidade dos discentes, sejam eles dos cursos advindos do Procampo ou do PRONERA. No entanto, essa separação é superada dentro do MEEC quando esses estudantes assumem uma identida- de de Estudantes da Educação do Campo. Para tanto, concluímos que a Licenciatura em Educação do Campo, além de formar sujeitos para atuarem nas escolas camponesas, é um curso de formação política desenvolvi- do na práxis pedagógica, através da pedagogia da alternância. Além disso, é um curso que promove a formação humana continuada e, portanto, necessita de reconhecimento societário digno da autonomia conquistada pelos sujeitos participantes deste movimento transformador. REFERÊNCIAS Ata de Criação da Executiva Nacional Provisória dos Estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo. Mosqueiro/PA, 2014. Carta Síntese do I Encontro dos Estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da Região Norte. Marabá/ PA, 2017. Síntese Política do I Encontro Nacional dos Estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo. Cruz das Al- mas/BA, 2016. COMPILADO DE DOCUMENTOS HISTÓRICOS DOMOVIMENTO ESTUDANTIL Estas páginas trazem um breve compilado de documentos históricos do Movimento Estudantil na Licenciatura em Educação do Campo, organizado com base nos arquivos do CaleCampo-UFSC16, proveniente das participações nos eventos e das trocas de informa- ções realizadas entre estudantes de diferentes estados. Estes documentos foram inseridos nesta obra, pela necessidade de compartilhar nossa história, documentos ainda desconhe- cidos por muitos. E para que inspirem aprendizados nos futuros e futuras estudantes in- gressantes desta Licenciatura. 16 CaleCampo: Centro Acadêmico de Licenciatura em Educação do Campo - UFSC 31 ATA DA COMISSÃO EXECUTIVA DOS ESTUDANTES17 ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL FUNDAÇÃO DA EXECUTIVA NACIO- NAL DOS ESTUDANTES DO CAMPO DO BRASIL “ENECAMPO”18 Aos quatro dias, do mês de dezembro do ano de 2014, às 10h30min na Ilha de Mosquei- ro, Distrito de Belém, Estado do Pará, nas dependências do Hotel Fazenda, dentro do IV SE- MINÁRIO NACIONAL – LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO ANO DE 2014. Reuniram-se em assembléia geral, os estudantes do campo dos Estados que compõem o território brasileiro, com o objetivo de fundarem uma Comissão Executivas, que represente os seus interesses a nível nacional. Inicialmente foi eleita para coordenar a assembleia a estu- dante TAMIRES PEREIRA DE FREITAS, graduanda do curso de Licenciatura em edu- cação do campo,habilitação em Ciências humanas e sociais, pela Universidade Federal do sui e sudeste do Pará - UNIFESSPA e a estudante ALICE VIEIRA DA SILVA, graduanda do curso de Licenciatura em educação do campo, habilitação em matemática, pela Universi- dade Federal do Sul e sudeste do Pará - UNIFESSPA para secretariá-la. A coordenadora en- caminhou o único ponto da pauta da referida assembléia, que trata da fundação da COmissão Executiva Nacional dos Estudantes do Campo do Brasil. Abrindo o debate, a coordenadora conduziu a participação de todos os presentes, ao final de maneira consensual surgiu à pro- posta de formação de uma Executiva Nacional de Estudantes do Campo, a qual submetida à votação sendo eleita de maneira democrática e unânime, desta forma foi declarada funda- da, a partir desta data sob a seguinte sigla “ENECAMPO”, tendo a seguinte composição por representações estaduais: TITULARES – ESTADO DO AMAPÁ: CLEDISON DOS SANTOS ROCHA, graduando em Licenciatura em Educação do CAmpo, habilitação em agronomia e biologia, pela Federal do Amapá - UNIFPA, polo Mazagão, AP. ESTADO DA BAHIA: WELLITON DOS REIS SANTOS, graduando em Licenciatura em Educação do Campo, habilitação em ciências agrárias, pela Universidade Federal Rural da Bahia-U- FBA, BA. DISTRITO FEDERAL- BRASÍLIA: THIAGO MORAIS DE OLIVEIRA, graduando em Licenciatura em Educação do Campo, habilitação em ciências da natureza e matemática, pela Universidade de Brasília - UNB; TÁLLYTA ABRANTES DO NASCI- MENTO, graduanda em Licenciatura em Educação do Campo, habilitação em língua, artes 17 Nota da organização: a ata foi extraída dos Anais do IV Seminário Nacional da Licenciatura em Educação do Campo, de 02 a 05 de dezembro de 2014, Belém -Pará, das páginas 97, 98 e 99. Pela baixa qualidade de resolução dos registros, o texto do documento foi transcrito pelo grupo de organizadores deste livro. 18 A Executiva Nacional dos Estudantes do Campo do Brasil denominada no ato de ENECAMPO, popularmente passou a ser chamada pelas redes sociais de ENEC. 32 e literatura pela Universidade de Brasília. ESTADO DE GOIÁS: RAFAEL PINHEIRO CORREIA, graduanando em Licenciatura em Educação do Campo, habilitação em ciências da natureza, pela Universidade Federal de Goiás -UFG; ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL: APARECIDO RODRIGUES SANTADA, graduando em Licenciatura em Edu- cação do CAmpo, habilitação em ciências da natureza, pela Universidade Federal de Grande Dourados-UFGD; ESTADO DE MINAS GERAIS: ROMUALDO JOSÉ DE MACEDO, graduando em Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Ciências da Natu- reza com ênfase em Agroecologia pela Universidade Federal de Viçosa. MARIA ZÉLIA RODRIGUES ALVES, graduanda em Licenciatura em Educação do Campo, habilitação em língua, arte e literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG; ESTADO DO PARÁ: ELI VIANA DOS REIS, graduando em Licenciatura Em Educação do Cam- po, habilitação em ciências agrárias e ciências naturais, pela Universidade Federal do Pará -UFPA. ESTADO DO PIAUÍ: AFRÂNIO MARCOS ALENCAR MOURA, graduando em Licenciatura em Educação do Campo, habilitação em ciências da natureza, pela Univer- sidade Federal do Piauí -UFPI; ESTADO DO PARANÁ: DAVI MELOTO DUARTE JU- NIOR, graduando em Licenciatura em Educação do Campo, pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR; ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: CÍNTIA MELO DA SILVA, graduanda em Licenciatura em Educação do Campo, habilitação em ciências da natureza, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Litoral Norte - UFRGS. ESTA- DO DO RIO DE JANEIRO: SAMUEL DE JESUS, graduando em Licenciatura em Edu- cação do Campo, habilitação em ciências humanas, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ; ESTADO DE SANTA CATARINA: IDALETHÉA ZACANINI19, graduanda em Licenciatura em Educação do Campo, pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC; ESTADO DO TOCANTINS: LETÍCIA PEREIRA DE FREITAS, graduanda em Licenciatura em Educação do Campo, habilitação em artes visuais e música, pela Universidade Federal do Tocantins - Campus de Arraías- UFT, TO. E os SUPLENTES - ESTADO DO AMAPÁ: PATRÍCIA DUARTE PEREIRA;. DISTRITO FEDERAL- -BRASÍLIA: SELMA DE ALMEIDA BERNARDES; ESTADO DE GOIÁS: DANILO FERNANDES LOBATO; ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL: ANA CARLA FER- RAPI; ESTADO DO PIAUÍ: FRANCISCO JOSÉ SOUZA ROCHA: ESTADO DE SAN- TA CATARINA: MARCELLA FARIA DE ANDRADE; ESTADO DO TOCANTINS: NELMA LOPES DE SOUZA. Como último ato da assembléia os membros eleitos foram empossados na referida comissão, para um mandato de 1(um) ano, período 2014/2015. E nada mais havendo a ser tratado a coordenadora encerrou a assembléia e eu, ALICE VIEIRA DA SILVA que secre- 19 Nota da organização: Nome da estudante: Halethea Zacanini. 33 tariei e digitei esta ata, assino-a seguida pela coordenadora, os demais presentes assinaram em lista de presença anexada a esta. Ilha de Mosqueiros, Distrito de belém - Pará, 04 de Dezembro de 2014. REGISTRO DE ESTUDANTES PRESENTES NO IV SEMINÁRIO NACIONAL DA LEDOC DURANTE A CRIAÇÃO DA ENECAMPO/ENEC Fonte: arquivo extraído da página nas redes sociais da ENEC, publicado por Danilo F. Lobato, 2014. 5º SEMINÁRIO NACIONAL DAS LICENCIATURAS EM EDUCAÇÃO DO CAMPO, PR, 2015 Nota da organização: Memória da reunião entre estudantes realizada em Laranjeiras do Sul, na quadra de futebol, após o seminário temático: 06. Princípios da auto-organização estudantil na Educação do Campo, com Thaile Lopes (MST PR) e Cintia Mello (UFRGS Litoral Norte e Executiva Nacional), em 09 de dezembro de 2015. As e os estudantes de diversas regiões do Brasil, se mantiveram reunidas(os) após o horário pelo aflorar nas dis- cussões da demanda de organização enquanto movimento estudantil da Educação do Campo e construção do seu primeiro encontro nacional. 34 Memória: 5º Seminário Nacional das Licenciaturas em Educação do Campo20 7 a 11 de dezembro de 2015 - Laranjeiras do Sul, PR Sobre o movimento estudantil das LEdoC’s: Foi viabilizado um espaço dentro do Seminário para que conseguíssemos debater al- guns assuntos e relatar a situação das Licenciaturas em Educação do Campo. Quem ficou à vontade explanou sua angústia e relatou a organização do curso. Esse encontro foi na quarta-feira, com o seminário temático: Auto-organização Estu- dantil nas LEdoC’s. Nesse primeiro momento, a partir dos relatos, há uma discrepância de organização nas Licenciaturas, a qual cada instituição realiza e que acaba prejudicando os estudantes, como por exemplo: a ausência da bolsa, a falta de estrutura para receber, orga- nizar e compreender a Metodologia de Alternância, outro ponto colocado é a necessidade de organização por parte dos estudantes para a criação dos Diretórios Acadêmicos ou Centro Acadêmico, pois a maioria ainda não possui. Esse debate teve continuidade em outro momento; em uma reunião realizada no mes- mo dia, antes da janta. Nesse encontro, os estudantes se encontraram novamente e algumas deliberações e acordos foram realizados: • Criar núcleos setoriais entre os estudantes para uma melhor organização e encaminha- mento das necessidades, como: núcleo setorial para ver a questão da bolsa, criação do DA ou CA; • Criar o Diretório Acadêmico ou Centro Acadêmico; • Realizar pequenos encontros na própria instituição; • Proposto o Encontro Nacional dos Estudantes em Educação do Campo no 1º semestre; • Encaminhar e-mail do calendário de 2016 das aulas TU e TC para a executiva nacional; • Organizar o movimento estudantil para focar, trabalhar e correr atrás; Quatro pontos foram destacados e organizados para que o Movimento Estudantil se organize e faça “a coisa acontecer”: • Fortalecimento de Base: Caique, Gracinete, Rita, Loivo, Juliana • Constituições de Movimentos: Antony, Leonardo, Fidel, Sidnei • I Encontro Nacional (previsto para Maio/2016): Daniel, Juliana, Tamires • Políticas Afirmativas: Sidnei, Laésio, Daniel, Daiane, Juliane, Diego, Faculdade de Viçosa. Esses pontos são a forma de organização escolhida pelosestudantes presente no V Seminário Nacional para fazer com que a movimento não pare, e sim, se fortaleça e cresça em âmbito nacional. 20 Documento extraído do arquivo do CaleCampo/UFSC. 35 UMA BOA LUTA A TODOS E SEGUIMOS NA CAMINHADA Carta: 1º Encontro de Estudantes das Licenciaturas em Educação do Campo da Região Sul -Tramandaí- RS (23 a 25 de outubro de 2016) -“ Educação do Campo: Direito nosso, dever do Estado!” Ilmo. Srº. Reitor desta Universidade. Durante estes três dias, reuniram-se em Tramandaí/RS duzentos (200) estudantes do Curso de Licenciatura em Educação do Campo, representando as suas Universidades Fede- rais, com o objetivo de discutir a conjuntura atual, criar pautas e encaminhamentos relacio- nados à garantia dos direitos conquistados e futuros. Por conta do atual momento político nacional, com reflexos em todos os Estados da Federação, urge ações diretas e pontuais as quais, nós estudantes e futuros profissionais na área da educação, não podemos deixar passar em branco. Manifestamos nossa preocupação, em especial, aos Projetos que tramitam no Congres- so Nacional, como a PEC 241/2016 que estabelece a limitação de gastos do Governo Federal, com a área da Educação e Saúde, por vinte (20) anos; a PLP 257/2016 que segue na linha da Foto 5º Seminário Nacional das Ledoc, 2015. Arquivo do CaleCampo / UFSC. 36 redução dos direitos sociais e prioriza a privatização, com efeitos devastadores. O Projeto de Lei do Senado Federal nº 193/2016 denominado “ Escola sem Partido” que acorrenta e usurpa o direito de livre pensar do educador e, incute uma falsa moral no pensamento do educando. São de extrema gravidade, as mudanças no Ensino Médio que aprofunda o modelo tec- nicista e acarretam graves prejuízos à formação básica dos jovens; a sua profissionalização; a inserção no “mundo do trabalho” e não no mercado de trabalho, em um processo educacional excludente e contramão, a Educação do Campo e a Educação Popular. Nosso compromisso se manifesta na pauta de lutas, resistência avanços, onde defen- demos e lutaremos por: 1. Respeito às especificidades do Curso de Educação do Campo e sua Pedagogia pró- pria, bem como, a modalidade de ingresso diferenciada e calendário oficial; 2. Uma Pedagogia da Alternância que respeite a característica local, adequada aos povos tradicionais; 3. Uma interdisciplinaridade efetiva em sua práxis; 4. Assistência Estudantil: - Bolsa Permanência - Acesso ao Pibid diversidade entre outros 5. Alojamento definitivo, com vaga garantida para o Tempo Universidade e Tempo Comunidade; 6. Professores e professoras com perfil, metodologia e experiência em Educação do Campo ou ligado a ele (movimentos sociais e outros); 7. Transparência nas questões financeiras (verbas) do/para o Curso, com gestão partici- pativa e democrática, inclusive com ressarcimento quando má gestão; 8. Contra o fechamento e sucateamento das Escolas do Campo nos três Estados; 9. Pelo reconhecimento e certificação dos estudantes com a especificação da formação por Área de Conhecimento, quando dá realização de Concurso Público para professores e professoras; 10. Pelo fortalecimento de um espaço político de articulação entre Cursos. Sendo assim, deixamos claro nossa luta constante pela valorização humana, nossa resistência aos golpes e submissão às políticas arbitrarias. A um ensino de qualidade res- peitando as identidades do coletivo, contando com o apoio e colaboração efetiva de Vossa Senhoria e sua equipe. “ Nenhum direito a menos!” Comissão Organizadora do Encontro Tramandaí, 25 de outubro de 2016. I ENELEdoC - Carta ao Movimento Estudantil da Educação do Campo 37 38 39 40 41 42 43 44 ENCONTRO REGIONAL NORTE DOS ESTUDANTES DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO – ERNELEC Bianca Moreira de Sousa21 Francisco José Sousa Rocha22 Os encontros regionais de estudantes foram deliberados no I Encontro Nacional dos Estudantes (ENELEdoC) das Licenciaturas em Educação do Campo (LEdoC), ocorrido em 2015 na Bahia, especificamente na cidade de Cruz das Almas, onde foram realizados alguns encaminamentos e a agenda de luta em nível nacional. Um dos encaminhamentos foi a re- alização dos encontros regionais com periodicidade anual nas regiões norte, nordeste, sul, sudeste e centro oeste. Esses encontros têm por objetivo compartilhar a realidade das LEdoC em seus locais e seus desafios enfrentados. O primeiro Encontro Regional Norte dos/das Estudantes de Licenciatura em Edu- cação do Campo (ERNELEC), aconteceu na cidade de Marabá no Pará, nos dias 30 de junho a 03 de julho de 2017, na Fundação Agro-Ambiental do Tocantins Araguaia – FATA e teve como tema “Educação do Campo: desafios e politicas públicas”. O ERNELEC foi construído e organizado por estudantes das instituições: Uni- versidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Campus Marabá, Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidades Federal do Tocantins (UFT). O segundo Encontro Regional Norte ocorreu na cidade de Abaetetuba no Pará, nos dias 13 à 15 de Abril de 2018, no campus universitário da UFPA. O Centro Acadêmico de Educação do Campo de Cametá (CALEDOC) e estudantes da LEDOC de Abaetetuba tive- ram a iniciativa de organizar o encontro, cujo tema foi “LEDOC e os desafios enfrentados: concurso público, valorização e o currículo”. A organização contou ainda com estudantes de Tocantinópolis (UFT), Universidade Federal de Altamira (UFPA), UNIFESSPA (Campus Marabá). Além disso, teve a participação do Movimento Estudantil da Educação do Campo em nível nacional (MEEC), representado pelo estudante Francisco José Sousa Rocha da Universidade Federal do Piauí; por representantes dos Centro Acadêmicos dos cursos de 21 Educação do Campo Pela Universidade Federal do Pará. Baião-Pá E-mail: biancamoreira336@gmail.com. 22 Educação do Campo Pela Universidade Federal do Piauí. Campus Professora Cinobelina Elvas - Bom Jesus- Piauí E-mail: franzesrocha@gmail.com. 45 Educação do Campo no Pará; fóruns como FORECam; representante do Ministério Público do Estado do Pará na pessoa do Dr. Federico de Oliveira. O ERNELEC permitiu que os e as estudantes pudessem aproximar-se e fazer aná- lises das vivências das LEDOC ś na região Norte, sobre quais pautas eram comuns e quais estratégias seriam adotadas para fortalecer os cursos de Educação do Campo no norte e no país. Podemos concluir que o evento foi um marco na organização dos e das estudantes da região norte. Configurou-se também como um espaço de fortes debates sobre o “Fechamento de escolas do campo”. Registros do Movimento estudantil na Licenciatura em Educação do Campo. Arquivos do CaleCampo. 46 Formação acadêmica: desafios e potencialidades. Capítulo 3 — QUANDO SINTO QUE JÁ SEI Beatriz Ferreira Alves Corrêa23 Quando sinto que já sei É um processo de aprendizagem, No qual ouvir, olhar, dividir, ter voz e vez Mais parece uma bobagem. Viver no coletivo Sem estar preso por um muro O que transforma hoje é um motivo Que mudará o nosso futuro. Mas dizem que aluno é alguém sem luz. Não é o que as crianças são... Elas podem passar o conhecimento E mudar a educação. Através delas os professores se formam. Cada um cuidando do outro Em conjunto e construção. Alguém já perguntou o por quê Sair da sala é fazer acontecer ? Que a escola deve ser uma forma de se expressar Que ela é ser livre, saber e sonhar ? 23 Educação do Campo, UFPR Setor Litoral, PR, lucilenepereira514@gmail.com. Eu sei que o errado nem sempre é errar. Se ser livre é o errado Na disciplina vem o aprendizado. Aprendizado em comunhão Força de expressão em respeito É amor pela educação. Quando sinto que já sei Escolher fazer o que é certo Com a liberdade de trazer a comunidade para mais perto. Criança, energia, força de expressão Em respeito mútuo e harmonia Com sua própria autonomia. Repense sua ação. É preciso ouvir as crianças para o conhecimen- to ser compartilhado. Épreciso paciência e coragem, Pois a minha verdade nem sempre será a sua verdade. 47 EGRESSOS DE EJA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO: UM ESTUDO DE CASO Camila Galvão24 Angela Figueira25 O relato tratará da pesquisa realizada com estudantes ingressantes de 2016 na Univer- sidade Federal do Rio do Sul – Campus Litoral Norte. Investigamos se os/as estudantes do curso da Educação Campo: Ciências da Natureza, provenientes da modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), percebem-se com déficit conceitual em relação os conteúdos de Química, Física e Biologia nos componentes de Ciências da Natureza tratados durante o referido curso. METODOLOGIA A metodologia consistiu em um estudo de caso de natureza qualitativa e quantitativa com estudantes ingressantes em 2016 no curso da Educação do Campo: Ciências da Natureza do campus Litoral Norte. Pesquisamos os ingressantes de 2016, oriundos da EJA, se eles/elas se percebem com algumas dificuldades perante os conceitos de Ciências da Natureza. Neste trabalho objetivamos investigar: a) Como as disciplinas da área de ciências eram desenvolvidas durante sua formação na EJA?; b) Os conceitos eram relacionados com o coti- diano?; c) Os conteúdos do ensino médio da EJA são associados com os conhecimentos com- partilhados no curso?; d) Se há dificuldade de aprendizagem e como o estudante proveniente da modalidade faz para supri-las?. De 11 estudantes provenientes da EJA, seis aceitaram fazer a entrevista que teve o intuito de investigar questões referentes ao seu ensino anterior à entrada no Curso de Educação do Campo. RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com cinco estudantes entrevistas, as disciplinas de ciências da natureza na EJA eram desenvolvidas de forma superficial, com aulas teóricas e de maneira tradicional, com aplicações de provas. Apenas uma estudante relatou que havia aulas em laboratórios com pesquisas. 24 Licenciatura em Educação do Campo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ Campus Litoral Norte (UFRGS), Tramandaí, RS. E-mail: camilagalvaoferreira@gmail.com 25 Licenciatura em Educação do Campo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ Campus Litoral Norte (UFRGS), Tramandaí, RS. 48 Sabemos que a Educação de Jovens e Adultos tem sua própria identidade e a função de ser reparadora por buscar igualdade, equalizadora por estabilizar os sujeitos e qualificadora por reconhecer os/as estudantes com suas qualidades e especificidades, formando a partir disso sujeitos críticos, dando-lhes voz para que sejam ouvidos. Porém quando pensamos em uma educação superficial para a EJA preocupa-nos que ela não esteja cumprindo com suas funções perante a sociedade. Entre os seis estudantes entrevistadas, metade afirmou que os conteúdos não eram re- lacionados com o seu cotidiano e sua realidade de vida. Uma relatou que somente havia rela- ção com alguns conteúdos, mas ainda assim era de forma superficial e duas constataram que os conceitos eram relacionados com o seu cotidiano. Compreendemos que o conhecimento compartilhado quando relacionado com a vida do/da estudante é mais valorizado por ele/ela. Quando perguntamos se elas consideram que aprenderam ciências da natureza, metade afirmou que não. Duas afirmaram que sim e uma disse que aprendeu muito pouco somente em alguns conteúdos. Questionamos se a partir da experiência no curso elas conseguem associar a aprendi- zagem adquirida no Ensino Médio com os componentes das Ciências da Natureza. Quatro responderam que não conseguem associar por muitas vezes não ter aprendido no Ensino Mé- dio ou também por ser um conhecimento que não teve importância na vida e foi descartado. Já outra afirmou que consegue associar minimamente. Indagamos se elas têm dificuldades na compreensão das aulas de Ciências da Natureza e o que poderiam fazer para supri-las. A resposta de cinco foi que há dificuldades e elas ten- tam supri-las lendo livros didáticos do Ensino Médio, pesquisando e organizando grupos de estudo. Uma estudante afirmou que não sente dificuldade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa trouxe contribuições significativas, possibilitando aos pesquisadores ob- servar, pesquisar e aprender sobre a modalidade EJA e suas especificidades com o ensino de Ciências da Natureza, conhecer colegas estudantes do Curso de Licenciatura em Educação do Campo e compartilhar experiências. Finalizando, a intenção não foi acabar a discussão acerca do tema proposto, mas, sus- citar a importância da EJA e conhecer o ensino de Ciências da Natureza da modalidade nas diferentes experiências dos colegas de curso. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais: Educação básica/ Brasil. Conselho Nacional de Educação. Brasília- DF,2014. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=- download&alias=13448-diretrizes-curiculares-nacionais-2013-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 20 out2016. 49 PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO: CIÊNCIAS DA NATUREZA. Disponí- vel em: http://www.ufrgs.br/educampofaced/projeto-pedagogico-2/view. Acesso em:20.out.2016 LEI DE DIRETRIZES E BASE DA EDUCAÇÃO LEI No. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei nº 5692 de 11.08.71, capítulo lV, Mec, Brasília, 1974. Disponível em: <http://www.mec.gv.br> Acesso em: 07,out2016. EXPERIÊNCIA COM OS ESTÁGIOS E OS DESAFIOS PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE AULA Rosiclei Vorel26 Desde o início do curso eu já sabia que era esse o caminho que gostaria de seguir, uma educadora que faça a diferença na vida dos estudantes. Como futura docente agora eu sei que esse não é um caminho fácil a ser seguido, pois muitas vezes as frustrações nos fazem pensar se vale a pena continuar, num país que não se prioriza e nem valoriza a educação, tão pouco os profissionais que ali estão. É acreditando em autores grandiosos, que continuamos resistindo e lutando todos os dias. Para transformar uma sociedade é necessário mudar a educação. Meu primeiro contato como docente aconteceu numa escola localizada no centro do município de São Bento do Sul, com 80.000 mil habitantes. A escola tem uma ótima infraes- trutura e conta com sala de informática, sala de vídeo, quadra de esportes, etc. Era ali que eu e meus colegas iríamos vivenciar nossos estágios e observações. Achei muito empolgante entrar como estagiária e estar com os professores enquanto eles elaboravam suas aulas. Percebi como cada um possui uma didática muito diferente do outro. Primeiramente, foram vinte aulas a serem observadas em cada matéria, para depois aplicar as regências, sendo duas aulas de matemática e duas de ciências. As observações foram muito ricas, mas a cada observação, mais perto da regência eu chegava e algo que eu já temia desde o início, aconteceu: eu teria que elaborar planos de aula e administrá-las. Não que eu não estivesse preparada, pois fui muito bem orientada a como fazer um plano, como trazer a realidade do aluno para a sala de aula, mas o nervosismo de cometer erros me assombrava. Presenciar momentos como a elaboração de um plano de aula é muito rico para nós estudantes, mas quando é nossa vez de elaborar queremos colocar tudo que vivenciamos no curso em prática. Entretanto, como colocar em prática tudo aquilo vivenciado, em menos de duas horas? Como trazer para aula a realidade dos alunos se cada um possui realidades 26 Educação do Campo, UFSC, Florianópolis - SC. rosicley,sbs@gmail.com 50 diferentes? Como chamar a atenção de todos/as? Muitas questões surgem no momento e você percebe que tem mais perguntas do que respostas. Comecei a estudar os temas para poder ter o domínio dos conteúdos, para quando en- trar em sala estar preparada. Sabendo que os materiais de apoio ao trabalho docente são de extrema importância no processo de ensino e aprendizagem, pesquisei livros, assisti vídeos, li diversos textos e falei com outros colegas que já haviam passado por essa experiência de elaboração de plano de aula e regência, mas as perguntas persistiam: como ser uma boa professora, saber dialogar
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