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Sobre a natureza humana - Roger Scruton - Resumo

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Sobre a natureza humana - Roger Scruton - Resumo
CAPÍTULO 1 - ESPÉCIE HUMANA
	O autor discute a importância de uma analise do ser humano além da biologia, e como pode ser pernicioso se deixamos esse elemento transcendental de lado pondo em prática o cientificismo. Quando surgir uma teoria que una moral com biologia, ela será avaliada perante elementos que os próprios biólogos disseram não fazer sentido ter importância evolutiva. O primeiro ponto a ser atacado são os memes, ideias que pulam de uma mente para outra a principio como os genes fazem para a evolução das espécies. Mas seres humanos tem a capacidade de pensar em ideias que não lhe fazem nenhuma vantagem, por isso memes tem um apelo diferente de genes. Ao tentar reduzir tudo que se refere a mente humana a elementos biológicos, Dawkins não leva em conta o que foi aprendido no século XIX, em outras palavras, que existem outras formas de perseguir o conhecimento além da ciência, como o conhecimento moral, emocional etc.
	Ao concluir sobre os memes, o autor mostra como é bobo dizer que genes vencem porque "escolhem o caminho vencedor". Isso é teleologia pura. Levar essa filosofia fraca para elementos tão importantes do relacionamento humano como o altruísmo pode ser muito destrutivo, criando absurdos como a sociobiologia e destruindo bastiões da humanidade como a religião.
	Scruton faz algumas comparações entre humanos e animais para começar sua analise sobre a intencionalidade. Animais não riem, apenas humanos. Se pensarmos que os humanos desenvolveram isso apenas para a sobrevivência da especie, cairemos na teleologia citada anteriormente. Então se torna mais interessante fazer a analise dessas características próprias dos humanos pelo "Verstehen" que é a compreensão da ação humana em termos de seu significado social, e não da sua causa biológica. Aquis urge a primeira indicação da importância da intencionalidade. Para a compreensão dos seus efeitos, temos a importância da responsabilidade, que é um sentimento que só existe na relação entre seres conscientes. Apenas com a capacidade de julgamento pode surgir ideia como direitos e deveres, por mais que Nietzsche tenha dito ao contrário em seu livro Genealogia da Moral. Para Nietzsche existiam humanos superiores a outros e eles se sentiam mal eventualmente por isso, por aplicar a força. Ele cai em contradição quando o próprio que sofre as mazelas, o escravo, entende que sofre por merecer, sendo que este deveria ser de uma classe de pessoas que não tem qualquer intencionalidade. Não podemos esperar toda essa complexidade de animais, que são sencientes, diferente dos humanos que são conscientes, ou seja, não vivem apenas pela sensação.
	Surge a discussão sobre o Eu de Aristóteles e Aquino, que não é necessariamente o corpo, mas aquilo individualizado no corpo, que é a pessoa. Podemos entender com o exemplo de uma pintura, que por mais que tenha tintas e medidas matemáticas, as pessoas vem naqueles borrões algo além de formas e cores, um rosto. Ou seja, estamos vendo diferente da física, sem medidas objetivas. Começamos a desenhar o caminho da intencionalidade. Para começarmos, notemos a diferenciação que pode ser feito na forma de categorizar um cachorro e um ser humano, o primeiro pode possuir crenças e desejos, o sendo atribui crenças e desejos a si mesmo e aos outros. Essa complexidade não cientifica atribuída só aos humanos e as coisas por eles criadas é que damos o nome de Lebenswelt, o mundo em que vivemos, não o cientifico.
	Supor que existem uma série de processos anteriores a qualquer coisa que a psicologia de hoje em dia estude não é uma forma "mais cientifica" de resolver o problema, pois o pessoal escapa da biologia, da mesma forma que a pintura escapa da teoria dos pigmentos.
	Ao tentar compreender alguém, sempre levamos em conta as categorias em primeira pessoa desse ser, ou seja, é parte do conceito de intenção que alguém saiba imediatamente e sem nenhum embasamento quais são suas intenções. Essa é uma forma de obter conhecimento totalmente diferente da ciência, por isso que conhecer alguém foge do escopo cientifico. Teorias cientificas não levam isso em conta, mas esses elementos humanos (melodia, liberdade entre outros) são necessárias para a relação humana. Roger Scruton finaliza o capítulo avisando da importância de se levar em conta esses elementos não-cientificos, principalmente para as pessoas comuns: Mas tiremos a religião, tiremos a filosofia, tiremos os objetivos mais altos da arte, e privaremos as pessoas comuns dos modos pelos quais podem representar sua singularidade. A natureza humana, outrora algo superior a aspirar, torna-se algo inferior a superar. O reducionismo biológico alimenta essa “inferioridade”, motivo pelo qual tão facilmente as pessoas o apreciam. Torna o cinismo respeitável, e a degeneração, algo chique. Anula nossa espécie, e com ela a nossa bondade.
CAPÍTULO 2 - RELAÇÕES HUMANAS
	Scruton desenvolve a importância do ponto de vista da segunda pessoa para o desenvolvimento do Eu e, por consequência, da ética. As pessoas são responsáveis diante de outras pelas suas ações, quando deixamos de fazer algo ruim a alguém, por exemplo, fazemos tanto por nós como pela outra pessoa. Esses pensamentos associados a outras pessoas como ressentimento, culpa etc são estritamente humanos, ou seja, não derivam de comportamento animal.
	Surge uma derivação extremamente elegante da ética em função da relação eu-você. Levamos em conta que a ética surge da relação eu-você, mas também o próprio Eu surge nessa relação. São a partir dessas relações com outros que podemos ter conhecimento em primeira pessoa. Para comprovar isso usasse as filosofias de Wittgenstein, associada a linguagem, e Hegel, associada ao reconhecimento. O argumento da linguagem diz que declarações em primeira pessoa tem certo privilegio (sempre sei quando sou eu que está com dor). Esse conhecimento do Eu se deu a partir da gramática, que surge no domínio de uma língua pública. Hegel por sua vez no argumento do reconhecimento fazer uma dedução complementar a necessária para a ética argumentativa jusracionalista. Ele diz que através do encontro com o outro, que começa numa luta de vida e morta pela sobrevivência, sou forçado a reconhecer que também eu sou o outro para aquele que é o outro para mim. Eventualmente esse encontro gerá um reconhecimento mutuo, e a pessoa se descobre com autoconsciência livre ao reconhecer a autoconsciência livre do outro. Ao mesmo tempo a pessoa toma consciência de si se tomou do outro. Até esse ponto, nada foi comprovado para negar a existência de alguma "entidade escondida" a qual eu me reafirmo como eu, e este oculto a o outro, porém a argumentação chegará nesse ponto. Kant afirmava que a ética nasce na autoidentifica do jeito como um "eu". Mas esse eu não não pode ser um sujeito puro, existindo num nada metafísico, ele só existe pois entra num mundo onde existem outros. O individuo só existe como "eu" enquanto existe também como um você para os outros que compartilham esse mundo. Só reconheço eu, e por consequência o outro, quando sou capaz de dialogo livre com o outro. Ou seja, em cada argumentação está pressuposto a existência do outro, necessitando assim de um eu e um você para tal. Isso resolve o problema da ética argumentativa, a prova ad contrarium, nela se faz a suposição de que se não existir propriedade privada o corpo não tem como se manter, por toda as condições naturais necessárias de se ter meios para manter o corpo. Num "corpo" que não tivesse necessidades, ele ainda precisaria identificar o Eu no outro para existir para si mesmo, e assim cogitar ser dono de alguma propriedade, e para existir para outro é necessário que, de acordo com Kant, haja dialogo livre e controle da minha presença diante da sua presença. Pois um ser que não tem qualquer necessidade para continuar existindo pra sempre é um ser omnipotente, mas até que ponto esses meios podem ou não ser escassos, no caso de não serem, a ética argumentativa ainda vale pois é imperativa para
a existência do Eu e do Outro. Este você também não pode ser visto como um objeto, ele é um ponto de vista sobre o mundo dos objetos, e não um item deste. Ou seja, só pressupondo que o outro é um Eu como o eu que sou, que coisas como responsabilidade, moralidade, lei se constroem.
	Vemos que isso é complexo demais que qualquer derivação de condições animais, como alguns biólogos querem fazer. Se a busca por prazeres humanos fosse apenas um vício como é, grosso modo, para os animais, as pessoas buscariam com a mesma intensidade os simulacros desses vícios. A cada passo percebemos que fica impossível reduzir os prazeres humanos apenas como resquícios evolutivos, pois eles são complexos demais para se igualar a injeções de hormônios. Certas repulsas sexuais como incesto e necrofilia tem bastante apelo biológico, mas isso não explica outros tipos de repulsa como estupro e adultério. As liberdades que promovem isso (e que devem ser controladas pelo homem ético) são a definição kantiana de liberdade.
	Alguns sentimentos humanos o são por nascerem no outro ou na visão do outro sobre mim, a pornografia deturpa isso por fazer ter a sensação física mas não acompanhar com a questão humana. Sentimentos de cunho sexual, os mais fortes para os humanos, são um exemplo, por isso a pornografia faz um desserviço absurdo as pessoas. Se elas moldarem seus relacionamentos sexuais a partir disso, estaremos destinados a experimentar uma grande mudança na natureza das comunidades humanas e nos sentimentos nos quais depende a reprodução social.
CAPÍTULO 3 - A VIDA MORAL
	Roger Scruton procura o equilíbrio perfeito entre a liberdade e a vida em sociedade a partir de deduções filosóficas nessa seção. Levamos em conta para iniciar esse estudo que existe distinção entre materiais e coisas, por mais que em determinadas línguas as duas palavras sejam sinônimos. Um material é aquilo que ontologicamente não perde valor ao ser repartido, como uma pedra. Um animal não é um material, pois ao partir um cavalo, ele não se transforma em dois, ele deixa de ser cavalo, virando apenas material (carne, sangue e ossos). Os seres humanos estão acima disso, pois se identificam como indivíduos através do tempo, assumindo responsabilidades e propondo condições para o futuro. Um limite do ser humano a isso são as crianças, para um individuo plenamente formado promessas são importantes apesar de terem sido feitos contratos ou não, a lei natural segue seu curso, para crianças é natural quebrar promessas, pois estes ainda não são indivíduos por completo.
	O autor cita que não existem "leis éticas", tal qual as leis matemáticas, por mais que filósofos de gabinete digam o contrário. Esses leis por vezes são buscadas a partir de dilemas bem ilustrativos, como o dilema do bonde (seria ético desviar um bonde que atropelaria cinco pessoas para uma rota onde atropelaria apenas uma?). Essencialmente todos os tiranos da história da humanidade acreditavam ter solucionado as questões como o dilema do bonde, e por isso deveriam ser obedecidos, a ponto de matar aqueles que não concordassem com o procedimento dessas regras. Contratos surgem da relação transcendental eu-você, mas eles também não são suficientes para resolver problemas éticos, pois parte dos processos civilizatórios (como família e nação) surgem sem estes. Contratos podem causar problemas como o da desproporcionalidade, o que pode deixar a merce os incapazes de se defender. Curiosamente ao criticar a ética dos libertários, Roger Scruton cita que a busca pela liberdade destes é justa, porém não é dado nenhum relato de sua origem ou sua base metafísica, provavelmente disse isso sem conhecer a ética argumentativa hopeana, totalmente fundamentada em metafísica kantiana.
CAPÍTULO 4 - OBRIGAÇÕES SAGRADAS
	A maioria dos filósofos concorda com os procedimentos morais sobre autonomia individual e respeito pelos direitos, mas alguns pontos devem ser levantados. O primeiro ponto é que os ônus morais que os filósofos desenvolveram são difíceis de lidar, afinal cada pessoa age de forma diferente. Também é fato que as nossas obrigações não são nem podem ser reduzidas aquelas que garantem nossa liberdade mútua, em suma, somos ligados por laços que nunca escolhemos. O autor introduz elementos como poluição, tabu, vergonha e necessidade para explicar alguns maus, como o da transgressão sexual, que não estão facilmente limitados pela ética social.
	O sentido de uma mulher estuprada é muito mais complexo que qualquer derivação da biologia animal. O jeito que ela percebe está intrinsecamente ligado ao que o ato é. As definições do individuo existir no momento que se encontra com outro num ambiente metafísico e da necessidade de instituições e de uma lei natural para reger os comportamentos, não é suficiente para lidar com questões de ordens complexas com o que ocorre com uma mulher no ato do estupro, muito menos explica o ato da repulsa. É fato que é um crime extremamente ruim o estupro, mas porque esse ato se diferencia tanto de outro ato forçado, como por exemplo um abraço. É ilustrativo perceber que o contratualismo não é suficiente para lidar com essa dimensão. Hoje em dia é comum homens serem injustamente acusados de estupros em universidades, pois uma relação consensual ocorreu, mas o que as pessoas não levam em conta hoje em dia é que apenas o consenso não é suficiente para que uma relação seja boa. Sartre fez uma descrição importante sobre desejo, ele indica que este tem um caráter metafísico, pois nos elementos que surgem no ato do desejo, o individuo surge. Através de gestos, olhares, rubores e risadas o Eu surge na carne, e o sexo induz a isso, o que pode ser perigoso se este não estiver bem estabelecido. Kantianamente, o individuo é único e esses elementos demonstram isso, por isso a intencionalidade do ato demanda a inexistência dos substitutos, não há equivalência no sexo.
	A piedade ganha importância aqui, sendo o elemento necessário par que, quando as considerações morais não forem suficientes, essa resolva os conflitos. Piedade é uma postura de submissão a autoridades que você nunca escolheu, e devido a isso, esse sentimento que nasce na família acaba criando agremiações maiores, como o estado.
	Existem alguns momentos sagrados na vida (casamento, nascimento) que parecem estar fora do tempo. Alguns filósofos como Girard tentaram explicá-lo, mas acabaram caindo em erros lógicos de supor a premissa no argumento. Um desses processos "sagrados" é a negação do incesto. Freud e os biólogos explicam esse fenômeno de formas contraditórias entre si, mas nenhum deles tenta explicar os pensamentos que causam essa repulsa. Talvez a dificuldade esteja no fato de que eles se apropriam de um elemento extremamente transcendental, que é a malignidade. Essa propriedade que alguns indivíduos tem que, diferente de alguém que é simplesmente ruim, a pessoa maligna realmente se importa com o individuo, a ponto de querer destruí-lo, não comporiamente, mas sim o Eu que existe dentro desse alguém. Percebemos esse fenômeno claramente em campos de concentração, onde a morte do corpo era apenas um passo em comparação a destruição interna que ocorria nas vitimas. Ao nos depararmos com esse tipo de situação, surge em mente a ideia de satânico, e isso ocorre justamente porque a malignidade foge de qualquer escopo material.
	Esses conhecimentos não servem como uma teoria explicita do mundo, é mais um resíduo da existência individual. Ou seja, não dá para usar as palavras de Scruton como regra, pois a vida se mostra fugir das regras, principalmente em obras como as citadas.

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