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Filosofia Medieval
Rosana de Oliveira
Filosofia Medieval
2
Introdução
Vamos tratar da filosofia medieval, que tem em Deus o seu principal tema. Porém, 
é preciso delimitar primeiro o que se considera como filosofia medieval. Para tanto, 
vamos retornar à filosofia de Aristóteles. Vale destacar que ela não marca o final da 
filosofia grega, pois muitas concepções filosóficas surgiram concomitante e após ela, 
relacionando-se seja por continuidade, seja por refutação com a tradição do Liceu e da 
Academia. Algumas destas escolas foram o epicurismo, o estoicismo e o ceticismo, 
como também, na Antiguidade Tardia, o neoplatonismo, que introduz, com Plotino, 
a filosofia platônica no período medieval. O neoplatonismo foi uma das principais 
influências de um dos maiores pensadores medievais, Agostinho. Da mesma forma 
que, por outro lado, Aristóteles foi a maior influência de outro filósofo medieval 
fundamental, Tomás de Aquino. Em ambos, Agostinho e Aquino, a tradição grega é 
retomada com a finalidade de encontrar uma conciliação no embate entre fé e razão. 
Objetivos da Aprendizagem
• identificar a presença da tradição filosófica grega nos pensadores medievais.
• entender a conexão entre filosofia e religião na metafísica medieval em 
Agostinho e em Tomás de Aquino.
3
Deus é um assunto filosófico?
Para começar, vamos tratar das visões de mundo centradas nas explicações das 
cosmogonias e teogonias. Como você já deve saber, as teogonias tematizavam a 
criação e geração dos deuses, sim, deuses, no plural, uma vez que os gregos eram 
politeístas. Já com a tradição do tronco judaico-cristão, em lugar do politeísmo há um 
monoteísmo, uma crença em um Deus único. No percurso histórico, a religião cristã 
suplanta a orientação religiosa grega e reina o cristianismo, que instaura a crença 
em um Deus único com características como onipotência, onipresença, infinitude, 
bondade e perfeição (BONJOUR; BAKER, 2010). 
Entretanto, ao lado da religião esteve a filosofia que também trilhou um caminho 
das explicações múltiplas para os sistemas que admitiam um princípio único, nas 
cosmologias monistas como as de Tales e Anaximandro. Aristóteles já falava de 
Deus, entendido, na física, como o princípio motor de uma série de causas. Platão 
também falava de um demiurgo, o artífice ou criador. Desta forma, a presença de um 
princípio assemelhado a Deus existia já na filosofia antiga, mas numa acepção muito 
diferente da atual. 
É comum pensarmos a filosofia como um território do ateísmo, da negação da 
existência de Deus e desta forma nos perguntamos como Deus pode ser objeto da 
filosofia. Vale, em primeiro lugar, observar de que modo Deus pode ser tratado na 
filosofia. Na religião a abordagem se dá pelo dogma, pela fé que, por excelência, não 
se pode provar, pois é fruto de revelação e inspiração divina. O tratamento científico-
filosófico, por sua vez, é demonstrativo, progride por refutações, admite argumentação 
e dúvidas e se baseia na análise. 
Na filosofia medieval, há uma tentativa de abordar o tema Deus de acordo com os 
princípios filosóficos de investigação de modo a lidar com os dogmas, que afastariam 
a fé da razão. Ao tratar de Deus, um dos pontos centrais foi o questionamento sobre sua 
existência, a favor da qual foram utilizados raciocínios como o argumento cosmológico, 
o argumento de desígnio e o ontológico (BONJOUR; BAKER, 2010). Vamos entender 
cada um deles. O argumento cosmológico, também chamado de argumento da causa 
primeira ou da primeira causa (SWEETMAN, 2013), parte da existência sensível para, 
questionando a existência do mundo ou de um objeto qualquer, refazer a série de 
causas que culmina na existência de Deus como o incondicionado. O argumento 
de desígnio, conhecido como argumento teleológico (SWEETMAN, 2013), parte da 
existência sensível, com a diferença de que, neste caso, há identificação de algum 
desígnio, isto é, de alguma ordenação para assim refazer a série de causas que 
também irá chegar à existência de Deus como a causa da ordenação do mundo. Já 
4
o argumento ontológico não parte da existência sensível, mas defende que o simples 
fato de podermos pensar em tal conceito de Deus já pesa a favor de sua existência. 
Alguns exemplos destas argumentações serão vistos em Tomás de Aquino.
Antes de adentrarmos nos principais pensadores da filosofia medieval, cabe dizer 
que outros sistemas surgiram entre Aristóteles e Agostinho. Na passagem do período 
clássico da filosofia para a idade média, em que surge a filosofia medieval, as ideias 
de Platão e Aristóteles reverberaram por muito tempo e na esteira delas surgiram os 
esquemas das escolas helenísticas. Uma diferença essencial reside no fato de que as 
escolas helenísticas são uma expressão mais coletiva e não se centram tanto em uma 
figura principal, como ocorreu a Platão e Aristóteles. Outra característica comum a 
elas é a preocupação ética: todas tematizam a busca pela felicidade e pelo bem viver. 
Dentre as principais escolas helenísticas, destacamos o estoicismo, o epicurismo e o 
ceticismo. 
O estoicismo, embora não se resuma a uma só figura, pode ser remetido ao seu 
fundador, Zenão de Cítio (344-262 a.C.). Com os estoicos, a filosofia, tal como se 
conhecia, é dividida de modo tríplice em física, lógica e ética, que se relacionariam 
como numa árvore: a física é a raiz, a lógica (agora em sentido diferente da lógica 
formal aristotélica) é o tronco, e a ética são os frutos. Desta forma, a ética tem de se 
relacionar com a física, com a filosofia natural, para ter êxito. As ações éticas, quando 
em conformidade com os princípios naturais, conduzem à ataraxia, à tranquilidade e 
ausência de perturbação. Alguns dos representantes posteriores do estoicismo foram 
Sêneca e Marco Aurélio.
O epicurismo teve como fundador Epicuro (341-271 a. C.) e retomou teorias atomistas 
como a de Demócrito de Abdera. Tratava-se de uma física materialista e atomista na 
qual há grande valorização do conhecimento sensível. O epicurismo também preza 
pela ataraxia na busca pela felicidade, mas considera que nesta busca é preciso levar 
em conta as paixões sem criar oposição à razão. Embora a doutrina epicurista seja 
vista normalmente como uma busca desenfreada e desmedida pelo prazer, o que 
caracterizaria o hedonismo, ela busca antes um comedimento, uma moderação nos 
prazeres. É uma naturalização das paixões.
Por fim, temos o ceticismo que apresenta várias faces e fases, mas vamos nos 
concentrar aqui especialmente na tradição cética iniciada com Pirro e retomada por 
Sexto Empírico. Os céticos podem ser pensados pela diferenciação em relação a outras 
doutrinas. Enquanto alguns sistemas, denominados dogmáticos, afirmavam saber os 
caminhos para encontrar a verdade, outros afirmavam a impossibilidade de se chegar 
à verdade, numa espécie de dogmatismo ao contrário. O ceticismo representava a 
5
suspensão do juízo (époche) sobre a possibilidade ou impossibilidade de se chegar à 
verdade e em lugar de uma afirmação definitiva, havia a manutenção da investigação. 
Também aqui estaria presente a preocupação com a felicidade: a suspensão dos 
juízos conduziria à ataraxia, na qual seria possível encontrar a felicidade. No sentido 
prático, quanto à capacidade de decisões, ao não ter critério face à suspensão dos 
juízos, se deveria agir orientado pelo razoável. 
As escolas helenísticas perduraram até o fim da república romana e representavam, 
portanto, a passagem da filosofia clássica à filosofia da idade média. Lembrando que 
a Idade Média compreende o período milenar que se estende da queda do Império 
Romano do Ocidente, em 476 d.C., até a queda de Constantinopla, capital do Império 
Romano do Oriente, em 1453.
Figura 1 - Mapa histórico do Império Romano
Fonte: Plataforma Deduca (2018). 
Agostinho 
Agostinho (354-480) nasceu em território africano, na cidade de Tagaste. Em sua 
formação, teve influência de Cícero, jurista e filósofo que participou da Academia no 
período já posterior a Platão eque introduziu no latim muitas obras gregas. Agostinho 
foi professor de retórica e desconhecia a língua grega, o que, a principio, limitou seu 
desenvolvimento filosófico. Relativamente tarde, já aos 33 anos, teve contato pessoal 
com a religião e entrou para a vida monástica. Sua trajetória passa pelo maniqueísmo 
6
até chegar ao neoplatonismo, em voga com Plotino, que naquela época fora apropriado 
pela igreja cristã. 
Em Plotino, permanecem algumas contribuições essenciais da filosofia de Platão, 
como a concepção de um mundo das formas ou das ideias. Plotino, em sua filosofia, 
divide o real em um princípio Uno, imóvel, transcendente e eterno, que dá origem a 
diversas emanações; em Nous, intelecto, correspondente ao mundo das ideias; e em 
Alma, na qual estão contidos o movimento e a diversidade. Assim, se relaciona com a 
temática já existente desde Parmênides e Heráclito sobre o ser e o movimento. 
Agostinho passa pelos maniqueístas e pela filosofia de Plotino sem, porém, encontrar 
as respostas que busca, o que só viria a ocorrer na leitura da Bíblia. Para Agostinho, a 
beatitude representava a questão central, isto é, o bem viver. Não se tratava apenas da 
epistemologia ou da ontologia, mas da ética, de como atingir a felicidade. A beatitude 
foi encontrada por Agostinho nas Escrituras, o que motivou sua tentativa de conciliação 
entre fé e razão.
Já naquela época, a filosofia patrística, criada pelos primeiros padres, tentava conciliar 
filosofia e religião, mais especificamente conciliar os dogmas do Novo Testamento, 
que apresentavam uma doutrina simplificada, e a filosofia grega. Com Agostinho essa 
investigação toma ares mais sistemáticos. Ora, mas como é possível conciliar fé e 
razão? Não seriam modos de conhecimento distintos?
Patrística compreende o período do pensamento cristão que inicia 
no século II e se estende até o século VIII. Leva este nome por 
representar o pensamento dos padres da igreja, os mestres da 
doutrina cristã, cujo esforço estava voltado para a conversão dos 
pagãos, o combate às heresias e a justificação da fé cristã.
Atenção
 
Em Agostinho, na relação entre fé e razão, a razão precede e resulta da fé. No que toca 
à teoria do conhecimento, Agostinho se relacionava com a filosofia cética tentando 
refutá-la por meio da reabilitação dos sentidos. Para tanto, baseava-se na concepção 
do homem como ser pensante, no qual corpo e pensamento se diferenciam. Esse 
conceito viria de Platão, de uma transcendência hierárquica entre corpo e alma exposta 
no diálogo “Alcibíades” e retomada por Plotino. 
7
Para reabilitar os sentidos, Agostinho empreende uma investigação sobre a sensação, 
na qual concebe a sensação não como uma paixão que o corpo sofre, mas como 
uma fabricação de imagem, por parte da alma, resultante do fato de que os corpos 
são afetados. Mas as sensações são passageiras e não fornecem conhecimento 
verdadeiro, que só estaria nos princípios imutáveis, como na matemática e nos 
princípios éticos, que seriam incorpóreos e necessários. 
Assim, haveria dois tipos de conhecimento: o dos sentidos, que seria mutável, e o 
inteligível, que seria o verdadeiro. Sua fonte seria um Deus transcendente e, de fato, 
não poderia ser o homem, pois este é mutável. Deus é imutável e transmitiria aos 
homens a verdade por meio da iluminação divina. 
Somente a iluminação divina não concede aos homens o conhecimento, uma vez 
que antes é preciso haver um trabalho intelectual. Ora, mas se a iluminação divina 
possibilita aos homens o conhecimento, eles conseguiriam conhecer a própria fonte 
desta iluminação – Deus?
A resposta é: não. Deus é uma essência imutável e inefável aos homens. Deus é o 
ser que conteria em sua unidade a multiplicidade. Basta pensarmos a Santíssima 
Trindade que compreende o Pai, o Filho e o Espírito Santo como consubstanciais. 
O Pai é a essência divina; o filho, o verbo; o Espírito Santo, o amor; expressões que 
correspondem a três faculdades do homem: a memória, a inteligência e a vontade. 
Deus seria o Pai criador de tudo, da matéria e das formas e até daquilo que não era 
visto como criatura: o tempo.
Figura 2 - Na santíssima trindade, o Espírito Santo é representado sob a figura de uma pomba, pois 
assim se teria apresentado aos homens, conforme consta nos relatos bíblicos
Fonte: Plataforma Deduca (2018)
8
“Confissões” é a obra mais conhecida de Agostinho e apresenta sua filosofia em estilo 
biográfico. O Capítulo X, porém, destoa dos demais, pois contém sua reflexão sobre 
o tempo. Ali, Agostinho se questiona sobre o que seria o tempo e sobre como seria 
possível medi-lo, desenvolvendo uma argumentação em que trata da existência e da 
medida do tempo. O ponto de partida é a refutação do questionamento habitual sobre 
o que Deus faria antes da criação. Deus, eterno, teria criado o céu e a terra e nessa 
criação se abriria a possibilidade do como e do por quê.
A resposta de Agostinho consiste em diferenciar dois planos: o da eternidade e o 
do tempo. De acordo com isso, não é possível falar em tempo na eternidade, pois a 
eternidade é justamente a ausência de tempo enquanto limitação de um início e de 
um fim em que se transcorre algo que pode ser medido. A eternidade seria como um 
eterno presente que não foi precedido de passado nem será sucedido pelo futuro, pois 
nada havia antes nem haverá depois. O próprio tempo, afirma Agostinho, é criação 
divina e surgiu com a criação do mundo. Após a criação do mundo, é que os tempos 
começaram a transcorrer e a se diferenciar entre passado, presente e futuro, de modo 
que não há sentido em perguntar o que Deus fazia antes da criação.
Sobre esta divisão tríplice do tempo em passado, presente e futuro, coloca-se a 
dificuldade de falar de sua existência e medida, pois algo que não é mais – como o 
passado – não tem existência, e o mesmo ocorre com aquilo que ainda não existe 
– o futuro. Agostinho defende então que o tempo se resume a uma distensão do 
presente. Rememoramos o passado neste presente e, assim, ele tem existência. 
Temos expectativa pelo futuro e, assim, ele tem existência também. Não é à toa que 
a memória, ao lado da vontade e da inteligência, tenha um papel tão importante na 
constituição da alma. Por fim, essa explicação do tempo, que oscila entre a ontologia 
e a psicologia, pode ser aplicada também à vida toda dos homens e à história da 
humanidade. 
9
Figura 3 - Para Agostinho, a notação musical seria a representação espacial do tempo
Fonte: Plataforma Deduca (2018). 
Como criador, tudo o que existe – inclusive o tempo – vem de Deus. Mas se Deus, de 
acordo com a visão cristã, é essencialmente bom, como explicar a maldade? Este foi 
um problema com o qual Agostinho, no início de sua vida filosófica, se preocupou em 
parte pelo contato com a doutrina maniqueísta, , em parte pela configuração do próprio 
cristianismo. Como nota Ghiraldelli Jr. (2010), a ideia de um pecado original, pelo qual 
se exprimiria o arbítrio humano enquanto vontade, não encontrava um correspondente 
na filosofia grega (2010), e Agostinho teve de solucionar a questão da maldade sem o 
apoio desta tradição.
Se a maldade não poderia se originar do ser infinitamente bondoso de Deus, teria de vir, 
portanto, do não ser, caracterizando-se como contingente, e assim Agostinho explica a 
existência da maldade. As ações más viriam do livre-arbítrio, da vontade dos homens, 
que não são determinados no exercício de suas ações e podem incorrer em pecado. 
Entretanto, ocorre que neste exercício do livre-arbítrio, alguns homens conseguiriam 
recuperar-se mesmo depois de más ações – estes seriam os predestinados, que 
receberiam a graça divina, um privilégio resguardado apenas aos eleitos. 
A doutrina da predestinação foi usada posteriormente por Calvino 
na formulação de suas teses.
Curiosidade
10
A doutrina da predestinação admitiria também um sentido mais amplo e se mostraria 
na história. Ao analisar os acontecimentos do mundo cristão em Roma, Agostinho 
formula a ideia de duascidades, a cidade terrena, dos homens que não receberam a 
graça divina, mas só castigos, e a cidade de Deus, a ser composta pelos homens que 
receberam a graça divina e para os quais haveria a salvação. 
Tomás de Aquino
Se Agostinho expressava em sua filosofia forte influência de Platão, Tomás de Aquino 
(1225-1274) retoma a outra tradição, a aristotélica. Como veremos nos próximos 
conteúdos, Platão e Aristóteles são duas vertentes que guiarão o desenvolvimento 
da filosofia ocidental. Aquino, com seu sistema denominado tomismo, foi o grande 
representante da filosofia escolástica. 
Aqui vale lembrar que a escolástica designa um saber adquirido nas escolas sob a 
direção de um mestre. O pensamento escolástico alcançou seu auge entre os séculos 
XII e XIII, quando floresceram a filosofia, a literatura, as artes, a teologia.
Na época de Aquino, Aristóteles tinha sido traduzido para o latim, mas suas teses 
causaram polêmica no meio religioso, pois a física aristotélica nega a ideia de um 
Deus criador, pois admitia Deus como primeiro motor imóvel, mas não como atuante 
sobre a natureza; e da imortalidade da alma. A saída foi tentar conciliar a filosofia 
natural de Aristóteles com os dogmas cristãos.
O ponto de partida do tomismo é a distinção aristotélica entre essência e existência. 
Porém, diferentemente de Aristóteles, em que esta distinção é apenas lógica e 
conceitual, para Tomás a distinção entre essência e existência é ontológica, real. 
Assim, a essência de um ente não implica sua existência. Significa dizer que não 
existem coisas por si mesmas, e sim devido a Deus, isto é, por ele criadas. Ora, mas 
valeria essa distinção também ao próprio Deus? Saiba que a resposta é não, pois:
em Deus não há distinção entre essência e existência. Não há em Deus qualquer 
potência ou vir-a-ser, pois Deus é pura existência sem qualquer vestígio de contingência 
ou finitude. Outros seres finitos ganham existência por meio da realização de suas 
potencialidades; eles são o resultado da causação (GHIRALDELLI JR., 2010, p. 96). 
Dessa forma, esta distinção entre essência e existência, da qual Aquino se apropria em 
sentido ontológico, se aplica às criaturas e estará na base de suas provas da existência 
de Deus. Com influência da física aristotélica, tais provas partem, por vezes, do dado 
11
sensível para daí chegar à existência. Assim, o mundo e o conhecimento empírico 
adquirem seu lugar na investigação e são reconhecidos enquanto criação de Deus. 
Resumidamente, as cinco vias ou provas da existência de Deus são: 
1. o movimento que, entendido de acordo com a física aristotélica e remeten-
do à querela entre Heráclito e Parmênides, implica a passagem de algo em 
potência ao ato, de algo que não era, mas estava contido em potência e que 
se atualiza no ato. Mas quando algo se move, é porque há algo que o faz se 
mover. Este algo é Deus; 
2. a causa eficiente que, entendida como aquilo que possibilita a existência de 
algo outro, no caso das coisas materiais, a causa eficiente primeira é Deus; 
3. as categorias do possível e do necessário, conforme as quais, se há coisas 
que podem ou não ser, é porque há algo que é necessário e que possibilita que 
outros o sejam, isto é, Deus; 
4. os graus aplicados a atributos, por exemplo, o mais ou o menos verdadeiro, 
nobre etc, que estão em comparação ao superlativo, aquilo que é sua forma 
máxima. Esta forma máxima é a causa de ser dos outros graus, e essa causa 
da existência só pode ser Deus; 
5. o governo das coisas, isto é, o fato de que há, mesmo nas coisas que não têm 
inteligência, ações ordenadas, não meramente ao acaso. Aquilo que ordena é 
Deus.
Vemos aqui as versões de Aquino para o argumento cosmológico, ou da causa 
primeira, e do argumento teleológico ou do desígnio. Sobretudo o primeiro seria de 
grande contribuição para o debate entre fé e razão:
Isso nos leva ao que muitos consideram o insight mais poderoso do 
argumento cosmológico, envolvendo [...] um recurso a conceitos de ser 
necessário e contingente. A importância desses conceitos, às vezes, é 
ignorada ou minimizada em exposições contemporâneas do argumento, 
mas a essência do argumento cosmológico está na conclusão de que é 
razoável dizer que existe um ser necessário (SWEETMAN, 2010, p. 33). 
Assim, as provas da existência de Deus aceitam, por um lado, certos dogmas 
do cristianismo, mas aplicam a eles a investigação filosófica valendo-se de uma 
argumentação que reabilita os sentidos e o mundo, mas que também consegue incluir 
o metafísico, com o uso da diferenciação entre essência e existência. 
12
Ademais, ao formular as vias da existência de Deus pela filosofia, Aquino consegue 
conciliar fé e razão ao apresentar com sua argumentação a razoabilidade da existência 
de um ser necessário como causa primeira. Nisso consegue superar também a ideia 
de conhecimento revelado, ainda que, no que se trata do conhecimento de Deus, o 
acesso humano seja limitado. 
Além da influência de Aristóteles, Aquino também se valeu do estudo da filosofia 
árabe. A filosofia árabe, cujos maiores representantes foram Avicena e Averrois, foi 
outro caminho de introdução da doutrina de Aristóteles, uma vez que os filósofos 
árabes dedicaram-se à leitura e ao comentário do filósofo grego. 
Figura 4 - Avicena e Averrois pertenciam ao islamismo, cujo livro sagrado é o Alcorão
Fonte: Plataforma Deduca (2018). 
Além de Agostinho e Aquino, a filosofia medieval também contou com outros autores 
como Anselmo de Cantuária (ou Santo Anselmo), Pedro Abelardo e Guilherme de 
Ockham, que se dedicaram a outra investigação, resumida sob o nome de problema 
dos universais, na qual polarizavam o realismo, que acreditava que os universais eram 
reais, e o nominalismo, que via neles apenas a referência, isto é, os universais eram 
nomes, e o real estava no particular. Usando de um exemplo:
O conceito não tem status que não o de ser apenas linguagem. Pode-
se falar dos universais e usá-los pragmaticamente; assim, nada impede 
que se fale sobre “roedores que apreciam cenouras”, mas no mundo 
empírico não existem “roedores comedores de cenouras” que são os 
“coelhos”, porque o mundo empírico não possui noções e conceitos, que 
são universais (GHIRALDELLI JR, 2003, p. 39-40). 
Não vamos nos aprofundar na querela dos universais, basta indicá-la para, desta forma, 
mostrar que não se pode resumir a filosofia medieval somente a Agostinho e Aquino, 
13
pois seria reduzir séculos de produção filosófica a dois autores e desconsiderar as 
outras manifestações filosóficas existentes.
Por muito tempo o período medieval foi intensamente vinculado a 
uma época de estagnação e de desconhecimento na qual reinavam 
apenas os dogmas da Igreja. Considerando o que foi abordado aqui 
sobre o tema da filosofia, bem como o desenvolvimento decisivo 
de técnicas como as arquitetônicas, de navegação e da ciência 
natural, é possível ainda pensar a idade média como Idade das 
Trevas?
Reflita
14
Conclusão
Neste conteúdo ampliamos nosso conhecimento sobre a filosofia, agora com foco na 
filosofia medieval. Assim, os principais pontos estudados foram:
• Anterior à filosofia medieval, desenvolveram-se outras concepções filosóficas 
na esteira da tradição platônico-aristotélica como o ceticismo, o estoicismo e 
o epicurismo.
• A filosofia medieval trata de Deus enquanto objeto, sobretudo no que toca à 
sua existência, valendo-se de uma investigação filosófica que se diferencia do 
tratamento religioso por não ser revelada e sim fruto da razão humana, capaz 
de conduzir a fé. Com isso, fé e razão tornam-se tópicos centrais da filosofia 
medieval.
• Agostinho, passando pelo maniqueísmo e pelo neoplatonismo, encontra nas 
escrituras, aliadas à filosofia platônica, a resposta para suas indagações. De 
Platão, retém a separação entre corpo e alma, na qual a alma comanda o cor-
po. Ao corpo é atribuído o conhecimento através dos sentidos, conhecimento 
que não é verdadeiro; o conhecimento verdadeiro reside em Deus atravésda 
iluminação divina a homens escolhidos, que também devem fazer uso de sua 
razão junto à revelação. 
• A ideia de homens escolhidos, os predestinados, conduz também ao proble-
ma do mal, representado no cristianismo pelo pecado original. Agostinho bus-
ca explicar a origem do mal sem contradizer a perfeição de Deus e chega à 
ideia da maldade pelo negativo, isto é, enquanto privação. Nos homens, ela 
exprimiria o arbítrio, a liberdade, que resulta neste caso no pecado. Mas aos 
homens escolhidos, está resguardada a redenção, pois foram abençoados 
com a graça divina. Estes homens serão os que vão compor a cidade de Deus, 
enquanto os demais padecerão na terra. 
• Com Tomás de Aquino, a filosofia aristotélica fornece as bases como ao to-
mar na metafísica, a diferenciação entre essência e existência nas criaturas, e, 
na física, os conceitos de movimento e causas, que resultam na ideia de que 
os seres foram criados e de uma sequência de causas que remete a uma cau-
sa primeira, um motor imóvel, como o aristotélico. A partir disso, é possível 
a Aquino formular as provas da existência de Deus, que se baseiam tanto no 
expediente cosmológico e na experiência e remetem esta experiência à causa 
primeira, eficiente, ao princípio que é Deus; quanto no expediente teleológico, 
de um desígnio divino.
15
• A filosofia medieval ocupou-se também com outra ordem de questões, como 
o problema dos universais, em que antagonizaram os nominalistas e os rea-
listas. 
Para um tratamento detalhado sobre o tempo e a eternidade em 
Agostinho, leia o artigo “Eternidade em Agostinho, interioridade sem 
sujeito”, de Moacyr Novaes, na Revista Analytica. Disponível em: 
https://revistas.ufrj.br/index.php/analytica/article/view/501/456
Saiba mais
 
16
Referências
BONJOUR, L.; BAKER, A. Filosofia: Textos fundamentais comentados. Porto Alegre: 
Artmed, 2010, p. 621-716.
GHIRALDELLI JR, P. Introdução à Filosofia, Barueri, SP: Manole, 2003. p. 37-40.
________. A aventura da filosofia – de Parmênides a Nietzsche. Barueri, SP: Manole, 
2010, p. 53-73; 79-101.
NOVAES, M. Eternidade em Agostinho, interioridade sem sujeito. Analytica – Revista 
de Filosofia. Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, 2005. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/
index.php/analytica/article/view/501/456. Acesso em: 6 mar. 2018. 
SWEETMAN, B. Religião: conceitos-chave em filosofia. Tradução de Roberto Cataldo 
Costa. Porto Alegre: Penso, 2013.

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