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Direito das Sucessões

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DIREITO DAS SUCESSÕES
Bibliografia
· Maria Berenice Dias: Manual das Sucessões; RT.
· Cláudio Nogueira: Direito das Sucessões; Lumen Iuris.
1. INTRODUÇÃO
O direito das sucessões funda-se na idéia de sucessão.
Sucessão vem da expressão latina sub cedere, que significa um depois dos outros, dando a idéia de suceder.
Sucessão não é um fenômeno apenas do direito das sucessões. Sucessão é a substituição do sujeito ou do objeto de uma relação jurídica. Claro que toda relação jurídica, em linha de princípio, admitirá a substituição, ora do sujeito, ora do objeto. 
As relações personalíssimas, logicamente, não admitem a substituição do sujeito.
Quando pensamos na substituição do objeto da relação jurídica, esse fenômeno se chama sub-rogação real. Ex: artigos 1717 e 1719 ( cuidam da substituição do objeto do bem de família convencional: o bem de família legal (Lei 8009) decorre por força de lei, mas o bem de família convencional depende de um ato do proprietário.
Mas quem vai se valer do bem de família convencional, se todo mundo já tem a proteção da lei? ( É porque o bem de família legal incide sobre o bem de menor valor; quem vai se valer do bem de família convencional é aquela pessoa que tem dois ou mais imóveis e vai escolher o de maior valor. Se por algum motivo o imóvel escolhido estiver se depreciando e o titular desejar vender esse bem de família e deslocar a proteção para outro bem, é possível, desde que haja autorização judicial, ouvido o MP. Nesse caso, sem dúvidas, estará havendo a substituição do objeto da relação jurídica. 
Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.
Ao lado da sub-rogação real, há a sub-rogação pessoal, que é a substituição não do objeto, e sim do sujeito da relação jurídica, por força de um ato inter vivos. Ex: pai que assume a dívida do filho. Essa sub-rogação pessoal revela que somente se pode falar em sub-rogação pessoal quando se tratar de ato inter vivos.
Só que a substituição do sujeito também pode decorrer, não de um ato inter vivos, mas de um ato causa mortis. E quando se tratar da substituição do sujeito em razão da morte do titular, fala-se em Direito das Sucessões.
Direitos das sucessões é a substituição do sujeito da relação jurídica em razão da morte do titular.
O direito das sucessões, portanto, trata de um tipo específico, de uma forma específica de substituição do sujeito da relação jurídica: é a substituição do sujeito da relação jurídica em razão da morte do titular.
Nem toda sucessão é regulada pelo direito das sucessões (guarda interesse para o direito sucessório), mas o direito das sucessões trata de sucessão.
É certo que nem toda relação jurídica admite a substituição do sujeito pela morte do titular, pois existem algumas relações jurídicas intuito personae e é lógico que essas relações jurídicas intuito personae não admite a substituição do sujeito da relação jurídica. Ex: os direitos da personalidade constituem o melhor exemplo de relações personalíssimas.
Assim, de ordinário, somente as relações patrimoniais servem como objeto do direito das sucessões. Somente as relações patrimoniais, porque somente elas admitem a substituição do sujeito passivo em razão da morte do titular.
1.1. EXCEÇÕES AO OBJETO DO DIREITO SUCESSÓRIO
Nós vimos que o objeto do direito sucessório são relações jurídicas patrimoniais. Mas algumas relações patrimoniais estão fora da incidência do direito sucessório; algumas relações são patrimoniais, mas não estarão submetidas ao DIREITO DAS SUCESSÕES.
a. Usufruto, uso e habitação: constituem direito real na coisa alheia e, logicamente, como todo direito real na coisa alheia, possuem inescondível natureza patrimonial. E apesar de sua natureza patrimonial, a morte do titular implica na extinção da relação jurídica: extinguem-se o usufruto, o uso e a habitação com a morte do titular.
b. Enfiteuse: é a transmissão para o foreiro de todos os poderes do domínio, mas essa transmissão se dá sabendo que o foreiro não terá título, que continua com o senhorio. Morrendo o enfiteuta, o direito sobre o bem enfitêutico, ele transmite. Só que quando alguém morre sem deixar herdeiros, a Fazenda Pública arrecada esse bem. Só que se a fazenda arrecadar o direito sobre o bem enfitêutico, o senhorio jamais vai recuperar sua propriedade plena, pois os bens públicos são impenhoráveis, por isso, o art. 692 do CC/16 dispõe que não incidirão as regras do direito sucessório, se o foreiro falecer sem deixar sucessores, obstando, com isso, que a fazenda pública arrecade o bem (exatamente porque se ela arrecadasse, o senhorio jamais iria ter novamente a plenitude).
c. Direito autoral regulado pela Lei 9610/98: esta lei de direito autoral estabelece que, falecendo o autor, a parte patrimonial do direito autoral (já que a feição não patrimonial jamais se transmite) será transmitida aos herdeiros do autor pelo prazo de 70 anos, contados de 1º de janeiro do ano subseqüente ao ano da morte do autor. Depois desse período de 70 anos, a obra cairá em domínio público e no domínio público qualquer pessoa poderá explorar a obra independentemente do pagamento de direito autoral. Detalhe: em se tratando de co-autoria, o prazo de 70 anos para cair no domínio público começa em 1º de janeiro do ano seguinte à morte do último co-autor vivo. 
d. Lei 6858/80 regula pelo Decreto 85845/81 – Lei do Alvará Judicial: alvará judicial é procedimento especial de jurisdição voluntária com a intenção de regulamentar um tipo específico de sucessão – nos procedimentos de jurisdição voluntária (art. 1109 do CPC), o juiz não está adstrito à legalidade estrita, ele pode, na decisão, se valer de equidade (juízo de conveniência e oportunidade) – ele não pode inverter as regras do processo, subverter o procedimento, trata-se de regra de direito material. O alvará judicial regulamenta a sucessão daquela pessoa que faleceu, sem deixar outros bens a partilhar, que não resíduos pecuniários em valor não superior a 500 OTNs (OTN é uma unidade referência que não existe mais – Obrigação do Tesouro Nacional – e que foi paulatinamente sendo substituída por outros índices) – diz respeito a uma importância em torno de 20 mil reais. Que resíduo pecuniário é esse? ( Ex: FGTS, PIS-PASEP, rescisão trabalhista, saldo de conta bancária. Como se trata de procedimento de jurisdição voluntária, no alvará não haverá incidência fiscal, inclusive, porque há previsão legal – as leis estaduais respectivas estão prevendo a ausência de incidência do imposto. Veja que, sendo juízo de jurisdição voluntária, mesmo havendo outros bens, não ultrapassando o limite das 500 OTNs, o juiz, por equidade, poderia aplicar o procedimento de alvará judicial.
Obs. Não confunda alvará judicial com alvará incidental!!! Alvará incidental nada mais é do que tutela antecipada em um inventário – é uma autorização judicial para levantamento de verba pertencente ao espólio.
Portanto, são quatro exceções à incidência do direito das sucessões.
Nós vimos que nem toda relação jurídica admite a incidência do direito sucessório. E mais: os direitos da personalidade não admitem a incidência do direito sucessório, porque a relação jurídica é personalíssima. Logo, imagem, honra, privacidade, integridade física, os direitos da personalidade NÃO são transmissíveis.
Mas nós vimos que, embora os direitos da personalidade não se transmitam, o art. 943 dispõe que, apesar da natureza personalíssima dos direitos da personalidade, há uma transmissão do direito à reparação. Ex: se uma pessoa sofreu um atentado à sua imagem e morreu sem promover a ação reparatória, os herdeiros podem ajuizar uma ação de reparação de danos decorrente da violação a direito da personalidade. Porque, na verdade, o que os herdeiros estão fazendo aqui é receber um direito patrimônio – a reparação do dano causado à personalidade. É claro que os herdeiros só vão poder promoveressa ação de reparação caso não tenha escoado o prazo prescricional. Se quando o falecido morreu já tinham se passado dois anos do conhecimento do dano, por exemplo, os herdeiros vão ter de exercer sua pretensão reparatória em 1 ano.
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
Não confunda a transmissão do direito à reparação do dano – art. 943 do CC – com o art. 43 do CPC, que trata, não de transmissão da relação jurídica, mas apenas da sucessão processual, quando o próprio titular da relação jurídica promoveu a ação e morreu no curso do procedimento. Uma coisa é a transmissão do direito à reparação do dano e outra coisa é a reparação processual. 
Também não se confunde o art. 943 do CC com o art. 12, parágrafo único, que fala dos lesados indiretos. O art. 12, parágrafo único incide quando a lesão à personalidade ocorreu depois da morte; é que o dano, embora dirigido ao morto, resvalou em seus parentes vivos.
Art. 12. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente (ou companheiro), ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau (LESADOS INDIRETOS)
Nessa figura do parágrafo único do art. 12, os lesados indiretos são legitimados ordinários, pois estão em juízo em nome próprio, defendendo direito próprio. Já no art. 943, a legitimidade é do espólio para promover a ação na defesa dos interesses do morto.
Nada disso lhe dá direito de pensar que os direitos da personalidade se transmitem com a morte. A conclusão a que chegamos é a de que os direitos da personalidade NÃO se transmitem. O que pode ser transmitido é o direito à reparação de um dano causado à personalidade.
2. CONTEÚDO DO DIREITO DAS SUCESSÕES
O direito das sucessões, com tranqüilidade, é o menor dos ramos do direito civil e o seu conteúdo é extremamente facilitado. O direito das sucessões se compõe de quatro partes:
· Sucessão em geral: são as regras gerais sucessórias; são as regras que se aplicam a toda e qualquer sucessão.
· Sucessão legítima: é aquela que se opera por força de lei. É a sucessão do cônjuge, do companheiro, dos descendentes etc.
· Sucessão testamentária: é estabelecida de acordo com a vontade do autor da herança. 
· Inventário e partilha: são as regras processuais sucessórias. 
3. MOMENTO DE ABERTURA DA SUCESSÃO
Essa regra vem do art. 1.784:
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
O nome dessa regra é droit de saisine
 ou PRINCÍPIO DE SAISINE, que tem origem francesa, que pode ser traduzida juridicamente como transmissão automática. Saisine, para nós, vem do art. 1.784, que consagrando o princípio de saisine, diz que o momento de abertura da sucessão é morte, ou seja, no exato instante da morte transmitem-se posse e propriedade.
O princípio de saisine implica na transmissão automática de todas as relações patrimoniais, de posse e propriedade, do falecido.
O princ de saisine foi desenvolvido pela jurisprudência francesa na idade média; toda vez que o servo falecia sem deixar testamento, o senhor feudal arrecadava os bens. As famílias desses servos apelaram à jurisprudência francesa, que engendrou saisine, dizendo que no exato instante em que o servo morria, transmitia-se a propriedade. É como se no exato instante da morte, o próprio falecido, de mãos próprias, estivesse transmitindo o seu patrimônio.
Simbolicamente saisine representa uma transmissão do patrimônio do falecido automática, ope legis (por força de lei) e ipsu iuris – é uma transmissão patrimonial independente da vontade.
A frase que mais simboliza a saisine é:
Saisine é a mutação subjetiva automática de todas as relações patrimoniais que eram titularizadas pelo falecido.
A saisine impede uma solução de descontinuidade; impede, portanto, que o patrimônio do falecido fique acéfalo; impede a falta de titularidade de relações patrimoniais. 
O direito brasileiro, portanto, acolhe a regra da transmissão automática: falecendo alguém, automaticamente há uma transmissão das relações patrimoniais.
Conclusão: a conseqüência jurídica de saisine é a abertura da sucessão com transmissão automática.
Não confunda mais abertura da sucessão com abertura do inventário, que são momentos totalmente distintos, até porque a abertura da sucessão é automática e a abertura do inventário não é automática. Inclusive, só se pode falar em abertura de inventário com a sucessão já aberta.
Agora, saisine não é apenas a regra da transmissão automática, é mais do que isso: além de gerar abertura da sucessão com transmissão automática, é certo que saisine possui outros efeitos jurídicos.
3.1. Outros efeitos jurídicos decorrentes de saisine
a. Fixação da norma legal que disciplinará a sucessão: saisine fixa a norma jurídica que rege a sucessão. A norma sucessória é aquela que estiver em vigor na data de sua abertura. Então, se uma pessoa faleceu, por exemplo, em dezembro de 2002 e deixou patrimônio, mesmo que seu inventário tenha sido aberto em 2004, a norma aplicável será a do CC/16. A súmula 112 do STF reconhece que alíquota do imposto de transmissão causa mortis deve ser aquela vigente na data da abertura da sucessão, portanto, modificação superveniente na alíquota é irrelevante, seja para maior ou para menor. 
Súmula nº 112 do STF: O imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão.
b. Implica na verificação da capacidade para suceder: o juiz verificará se o herdeiro ou legatório (o sucessor) é capaz no momento da abertura da sucessão. Com isso, podemos afirmar que a modificação na capacidade para suceder é irrelevante. Se o sucessor tem capacidade na abertura da sucessão e se torna incapaz depois é irrelevante, pois o que interessa é sua capacidade para suceder no momento da morte. Não confunda capacidade para suceder, que é verificada no momento da abertura da sucessão, com capacidade testamentária, que é capacidade para elaborar testamento e que deve ser verificada na data da elaboração do testamento. Veja que são momentos distintos de verificação de capacidade.
c. Serve para cálculo de legítima: quem deixa herdeiros necessários, que são aqueles constantes do art. 1845, que são os descendentes, os ascendentes e os cônjuges (com uma interpretação civil-constitucional, pode-se incluir o companheiro), NÃO pode dispor de mais da metade do seu patrimônio, pois sofre a restrição da legítima. A legítima corresponde a 50% do patrimônio líquido transmitido e ninguém pode dispor excedendo a legítima. Em atos de disposição gratuitos – doação e testamento – não se pode ferir a legítima. A questão é saber em que momento será calculado esse patrimônio para fins de legítima. Pois veja que o cálculo da legítima submete-se a uma regra binária: art. 2004, §1º, do CC e art. 1014, parágrafo único, do CPC:
Art. 2.004. O valor de colação dos bens doados será aquele, certo ou estimativo, que lhes atribuir o ato de liberalidade.
§ 1o Se do ato de doação não constar valor certo, nem houver estimação feita naquela época, os bens serão conferidos na partilha pelo que então se calcular valessem ao tempo da liberalidade.
Do jeito como está escrito aí, percebe-se que a legítima deve ser calculada com valor estimado no tempo da liberalidade (tempo que foi feita a doação ou testamento)
Parágrafo único. Os bens que devem ser conferidos na partilha, assim como as acessões e benfeitorias que o donatário fez, calcular-se-ão pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão.
Por esse artigo, o valor do bem será calculado ao tempo da abertura da sucessão.
Você já pode sentir que há uma aparente colisão entre o art. 2004, parágrafo 1º do CC e o art. 1014, parágrafo único do CPC. Mas essa colisão é apenas aparente.
A harmonização dos dois artigos revela o seguinte entendimento: se o bem doado ainda existir, a legítima deve ser calculada pelo valor do bem na abertura da sucessão. Agora, se este bem não mais existir, ele serácalculado pelo valor que tinha ao tempo da liberalidade, devidamente atualizado.
Esse entendimento demonstra que o art. 1014 do CPC não colide com o art. 2004 do CC.
4. LUGAR DA SUCESSÃO
Tem previsão no art. 1.785 do CC:
Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.
Essa regra é muito importante, inclusive para fins processuais, para fixação de competência.
A sucessão abre-se, portanto, no último domicílio do falecido, pois ali presumidamente estarão presentes os seus interesses. 
Problema: não dá para esquecer que o CC consagrou a multiplicidade de domicílios, nos artigos 70, 71 e 72. Ex: médico que trabalha em vários lugares.
Se o de cujos tinha mais de um domicílio, todos podem ser o lugar da sucessão, sendo definida a matéria pela prevenção. 
É lógico que a regra do lugar da sucessão é relevante para fins de competência: fixa-se a competência para processar e julgar o inventário pelo último domicílio falecido.
Essa regra do último domicílio do falecido é de competência relativa, incidindo a súmula 33 do STJ: vai dizer que o juiz não pode conhecer de ofício em competência relativa, portanto, as partes podem prorrogar a competência para processar e julgar inventário. Afinal de contas, estamos falando de competência territorial.
Toda vez que nós falamos em competência no inventário, acende-se um alerta: o art. 89 do CPC estabelece uma regra de competência da justiça brasileira:
Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.
Mesmo que o titular fosse estrangeiro e residisse fora do Brasil, os bens pertencentes a ele situados no Brasil serão partilhados aqui.
Esse art. 89, II, do CPC tem perfeita sintonia com o art. 5º, XXXI, da CF, que fala da norma sucessória mais benéfica:
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus;
Portanto, segundo essa regra, a sucessão de bens de estrangeiro situados no Brasil em favor de cônjuges ou filhos brasileiros se dará de acordo com a norma sucessória mais benéfica. Lembrando que México e Portugal possuem normas sucessórias mais benéficas.
Ex: um português casado com uma brasileira e que tem filhos brasileiros, morava em Portugal e tinha bens no Brasil. Morrendo esse português, a sucessão dos bens situados no Brasil é competência exclusiva da justiça brasileira, mas o juiz brasileiro que dirimir o conflito julgará com base na lei sucessória mais favorável e, portanto, o CC de Portugal.
Portanto, a regra de competência do último domicílio do falecido NÃO se aplica quando se tratar de bem de estrangeiro situado no Brasil, pois nesse caso a competência é privativa do juiz do Brasil que, todavia, julgará com base na lei sucessória mais benéfica.
É a combinação de três artigos: 
- Art. 1785 do CC: 
Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.
- Art. 89, II, do CPC:
Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.
- Art. 5o, XXXI, da CF: 
 XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus;
Se o estrangeiro é domiciliado no Brasil, a competência é de seu último domicílio. Se o estrangeiro residir fora do Brasil, a competência é do lugar onde estão situados os bens – o que não impede a aplicação da lei sucessória mais benéfica. Esta é uma exceção ao princípio da territorialidade: é uma hipótese de aplicação da lei estrangeira no território brasileiro.
CASO: ARGENTINO, RESIDENTE E DOMICILIADO EM LONDRES, TEM VÁRIOS BENS NO BRASIL. APÓS SUA MORTE, SABENDO QUE SEUS HERDEIROS TÊM DOMICÍLIO EM PORTUGAL, QUAL O JUÍZO, NO BRASIL, COMPETENTE PARA O PROCESSAMENTO DE INVENTÁRIO E PARTILHA, E QUAL A LEI QUE DEVE SER APLICADA, INCLUSIVE QUANTO A CAPACIDADE PARA SUCEDER?
A capacidade para suceder é a da lei do domicílio do herdeiro (PORTUGAL), mas a lei que irá regular a sucessão é a lei do domicílio do de cujus (LONDRES). Como os bens estão sitos no Brasil, será da justiça brasileira a competência para regular a sucessão desses bens, e como o de cujos não tem domicílio no Brasil, a competência será da comarca da situação dos bens. Caso existam bens em vários lugares teremos: se o óbito ocorreu no Brasil, será o local do óbito o juízo competente, do contrário a competência se dará por prevenção.
	Regras para determinar a lei material que regerá a sucessão
	Regras de determinação de competência para processamento de inventário e partilha
	Regra geral
	Lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
	1ª Regra (competência internacional)
	Independentemente de qualquer coisa, será competente a justiça brasileira para processar e julgar inventário e partilha de bens situados no Brasil;
	Exceção
	Lei material que regula a capacidade sucessória:
- A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder
	2ª Regra (competência interna)
	Regra geral
	Último domicílio do de cujus;
	
	Proteção ao cônjuge e filhos brasileiros.
- A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
	
	Exceção
	Se o de cujus não tem domicílio certo OU seu domicílio é no exterior:
· Lugar da situação dos bens;
OU
· Lugar onde ocorreu o óbito, se existirem bens em diversos lugares
5. CAPACIDADE SUCESSÓRIA
Não há que se confundir capacidade sucessória com capacidade jurídica geral, são coisas diferentes.
A capacidade jurídica geral, a capacidade genérica, é a aptidão para, pessoalmente, praticar atos patrimoniais. Ex: o menor de 18 anos não possui capacidade geral, porque ele não pode praticar pessoalmente os atos patrimoniais.
Capacidade sucessória, por sua vez, é a aptidão para ser herdeiro ou legatário. Em outras palavras: é a aptidão para receber herança ou legado.
É muito interessante notar que a capacidade sucessória, ou seja, a aptidão para ser sucessor será reconhecida não necessariamente a uma pessoa capaz. O menor de 18 anos não tem capacidade jurídica, mas pode ter capacidade sucessória. 
A aptidão para ser sucessor não tangencia a capacidade geral.
Quais são os elementos que permitem a alguém poder figurar como herdeiro ou legatário??
5.1. Elementos da capacidade para suceder
a. Ter título sucessório: é estar contemplado na ordem de vocação hereditária ou ter sido beneficiado por um testamento. 
b. Ter personalidade: é ter vida!! 
O art. 1798 do CC dispõe que “legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou concebidas (= NASCITURO) no momento da abertura da sucessão”. 
Portanto, o segundo elemento da capacidade sucessória é estar vivo ou ter sido concebido no momento da abertura da sucessão. Mas esse rol não termina aí, pois o art. 1799 amplia a capacidade sucessória em se tratando de sucessão testamentária – capacidade sucessória estendida, exclusiva da sucessão testamentária:
*Prole eventual:
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, DESDE QUE VIVAS ESTAS ao abrir-se a sucessão (PROLE EVENTUAL: é o filho que a pessoa vai ter);
Obs. Há o prazo de espera da prole eventual, que é um prazo de 2 anos, contados da data da abertura da sucessão. Esse prazo de espera é um prazo da concepção, pois se fosse prazo para nascer, em verdade, o prazoseria de 1 ano e 3 meses. Nada impede que a prole eventual decorra de adoção, a não ser que o próprio testador diga que aquilo tem que ser oriundo de uma concepção, natural ou artificial, agora, se o testador nada disser, não se pode excluir de saída a adoção.
O Código diz que os pais da prole eventual precisam estar vivos no momento da abertura da sucessão para a validade da cláusula testamentária. A validade da cláusula testamentária em favor de prole eventual depende de que os pais estejam vivos quando da abertura da sucessão. Afasta-se, com isso, a possibilidade de prole eventual decorrente de material genético de pessoa morta.
*Pessoas jurídicas:
II - as pessoas jurídicas;
*Fundações:
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação.
Evidentemente, essa capacidade sucessória estendida é exclusiva da sucessão testamentária.
Problema: o mundo moderno nos defronta com um problema; na forma do art. 1.798 tem capacidade sucessória todo aquele que já foi concebido e daí surge uma discussão: O embrião concebido em laboratório também dispõe de capacidade sucessória? 
A jurisprudência ainda não se manifestou sobre isso.
Posição majoritária: prevalece na doutrina o entendimento de que o art. 1.798 deve ser interpretado conforme a igualdade constitucional entre os filhos e, portanto, o filho já concebido em laboratório dispõe de capacidade sucessória (considerado nascituro). 
Enunciado 267 do CJF - Art. 1.798: A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança.
Mas esse embrião laboratorial ainda não tem condições de se desenvolver; cientificamente, enquanto esse embrião não for implantado num útero, ele não tem capacidade de se desenvolver.
Lembre-se que pelo art. 5º da Lei de Biossegurança dispõe que o embrião somente será guardado pelo médico pelo prazo de 3 anos, sendo, depois disso, descartado para pesquisas com células-tronco.
Mas veja que esse embrião tem capacidade sucessória e, portanto, pode ser reputado herdeiro legítimo, mas terá que reclamar herança, por meio de ação de petição de herança, que está sujeita ao prazo prescricional de 10 anos.
Faltando capacidade sucessória, sequer nascerá o direito à sucessão. Com isso, você acaba de descobrir que não assiste razão ao professor Silvio Rodrigues quando dizia que indignidade e deserdação eram elementos da capacidade sucessória. A indignidade e a deserdação constituem, em verdade, sanções civis, ou seja, a indignidade e a deserdação não geram incapacidade sucessória, porque no lugar do indigno/ deserdado, alguém vai receber como se ele fosse morto. Evidente, portanto, que surgiu o direito sucessório, apenas impede-se alguém de receber. Não há que se falar, portanto, em indignidade e deserdação como causas de incapacidade sucessória. 
6. INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO
Indignidade e deserdação se aproximam e se repelem. 
6.1. ASPECTOS SEMELHANTES
Aproximam-se, porque tanto indignidade quanto deserdação constituem sanção civil contra quem se comportou de maneira ignóbil contra o autor da herança, ou seja, é punição aplicada ao herdeiro ou legatário que se comportou mal. Em se tratando de punição, ambas dependem de decisão judicial e submetem-se ao princípio da intranscendência da pena, que diz que a pena não pode perpassar a pessoa do apenado. E é bem por isso que o indigno ou deserdado não recebe, mas alguém vai receber como se eles estivessem morto. O descendente (não se aplica ao ascendente) do indigno ou deserdado receberá em seu lugar como se morto fosse. E mais: é que o indigno/ deserdado se torna incompatível com aquela herança. 
Problema: os filhos menores, os pais têm o direito de usufruto e administração de seu patrimônio, em razão do poder familiar. 
Mas veja que a incompatibilidade do indigno/ deserdado retira dele o direito de usufruto e administração dos bens eventualmente transmitidos para o filho menor.
Imagine que o filho do indigno receba em seu lugar, como se morto fosse, cresce, prospera e morre sem deixar descendentes. O indigno pode receber de volta esses bens? ( NÃO, pois ele se torna incompatível com o patrimônio que foi transferido.
Veja que haverá uma incompatibilização do indigno ou deserdado com aquele patrimônio, ou seja, ele não participará desse patrimônio.
6.2. ASPECTOS DISTINTIVOS
	Indignidade
	Deserdação 
	É matéria de sucessão legítima e testamentária, de sorte que pode atingir qualquer sucessor: herdeiro necessário, ou facultativo, ou legatário. 
	É matéria de sucessão testamentária, sendo exclusiva do herdeiro necessário (descendente, ascendente e cônjuge), pois não se tratando de herdeiro necessário (ex: herdeiro facultativo), basta ao autor fazer outro testamento não o contemplando.
	Diz respeito a um ato praticado ANTES ou DEPOIS da abertura da sucessão e, portanto, da morte. 
	O ato tem de ter sido praticado ANTES da abertura da sucessão. 
	O ato que gerou a indignidade sempre será reconhecido através de uma ação de indignidade.
	A deserção se dará mediante manifestação de vontade do autor da herança no testamento. Mas, para confirmar a causa deserdativa, o juiz precisa homologar esse testamento.
	A ação de indignidade possui um prazo decadencial de 4 anos, contado da data da abertura da sucessão. 
	O direito de alegar a deserdação possui um prazo decadencial de 4 anos, contado da data da abertura do testamento.
	A ação de indignidade é promovida depois do óbito (post mortem).
	
	Legitimidade ativa: qualquer interessado (demais irmãos, cônjuge, até mesmo a fazenda pública, se não houver mais herdeiros).
Obs. Teria legitimidade o MP para promover ação de indignidade? ( Para Cristiano parece que não, pois a ação de indignidade tem cunho patrimonial. Mesmo quando haja incapaz, o interesse é disponível.
Posição majoritária: o entendimento que prevalece, inclusive, assentado no Enunciado 116 da Jornada, reconhecendo a legitimidade do MP para promover a ação indignidade quando presente um dos interesses que despertam sua atuação. 
116 – Art. 1.815: O Ministério Público, por força do art. 1.815 do novo Código Civil, desde que presente o interesse público, tem legitimidade para promover ação visando à declaração da indignidade de herdeiro ou legatário.
	Legitimidade ativa: Só quem pode promover a deserdação é o autor da herança, pois só ele pode fazer o testamento.
	Essa ação não tem procedimento especial, mas procedimento comum ordinário.
	
	Causas de indignidade
· Art. 1.814
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
Precisa sentença penal transitada em julgado? ( NÃO, a prova pode ser produzida diretamente no juízo civil, na forma do art. 935.
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança (denunciação caluniosa) ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
Perceba uma extensão reduzida em relação ao inciso anterior: não estão incluídos os ascendentes e descendentes. 
Precisa sentença penal transitada em julgado? ( SIM: pois diferente do inciso I, o inciso II traz expressa menção a “crime” e só quem pode reconhecer crime é o juiz penal. O inciso I fala em “homicídio”, que é fato jurídico e fato jurídico pode ser reconhecido por qualquer juiz. 
Veja que enquanto não há o trânsito em julgado, não há que se falar em crime, mas apenas em injúria, calúnia ou difamação enquanto fatos jurídicos.
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.
Ex: marido que jogou o cofre contendo o testamento da esposa no mar – ato que impede a manifestação de vontadede produzir efeitos.
Esse art. 1.814 tem natureza sancionatória, portanto, esse rol é taxativo ou exemplificativo?
Se esse rol for taxativo, situações assemelhadas a esses tipos serão admitidas? NÃO – ex: se o sucessor, ao invés de homicídio, praticar instigação, auxílio ou induzimento ao suicídio, não será indigno.
Portanto, nesse particular o STJ adotou a tese da tipicidade finalística: significa que o juiz pode considerar outras hipóteses de indignidade não previstas taxativamente, desde que tenham a mesma finalidade. 
É possível, portanto, ao juiz admitir instigação, auxílio ou induzimento ao suicídio como causa de indignidade, pois tem a mesma finalidade; mas não pode admitir o homicídio culposo como causa de indignidade.
Isso serve também para a deserdação. E mais: isso serve também para o conceito de ingratidão do donatário.
	Causas deserdativas:
· Mesmas da indignidade – art. 1814;
· Hipóteses do art. 1.962;
· Hipóteses do art. 1.963.
Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto – RELAÇÃO ILÍCITA.
IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade – ABANDONO MATERIAL.
São causas deserdativas complementares, pois complementam as causas indignidade.
Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade.
Esses dois artigos estão dizendo que os descendentes podem ser deserdados pelos ascendentes, e os ascendentes podem ser deserdados pelos descendentes. Veja que o Código não menciona a deserdação do cônjuge.
Problema: e o cônjuge, enquanto herdeiro necessário, pode ser deserdado?
Art. 1.961. Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão (art. 1.814).
Conclusão: o cônjuge somente pode ser deserdado nas hipóteses de indignidade. Os descendentes e ascendentes podem ser deserdados nas hipóteses de indignidade e nas causas complementares de indignidade.
Problema: o pai descobre que a sua esposa (não é a mãe) está mantendo relações sexuais com o filho dele. O pai pode deserdar o filho, pois é relação ilícita. A esposa dele pode ser deserdada? NÃO, para ela só há o caminho da separação/ divórcio.
	O certo é que a indignidade diz respeito aos interesses do autor da herança. É por isso que o Código permite a reabilitação do indigno: é o perdão do autor da herança – art. 1818:
Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico.
Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária.
Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão será legitimado a suceder se o autor da herança expressamente o tiver reabilitado.
Esse perdão tem que ser EXPRESSO e é também IRREVOGÁVEL e IRRETRATÁVEL.
O perdão funciona como óbice à procedência da ação de indignidade.
	
7. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS
Tem previsão nos artigos 1.793 a 1.795.
A herança é valor patrimonial, tem natureza econômica. Sendo assim, pela sua natureza econômica, admite circulação. É possível fazer circular a herança e todo e qualquer ato de disposição da herança chama-se cessão.
A herança pode circular e pode circular a título oneroso ou gratuito, no todo ou em parte. Quando a herança circula a título gratuito, se assemelha à doação; quando ela circula a título oneroso, assemelha-se à compra e venda.
7.1. REQUISITOS DA CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS
i. Requisito temporal: o ato de cessão de direitos hereditários deve ser praticado no lapso temporal compreendido entre a abertura da sucessão e a prolação da sentença de partilha. Por que tem de ser nesse período? Antes da abertura da sucessão ninguém pode ceder direitos hereditários, por conta do art. 426 do CC: que diz que é nulo todo contrato que tenha por objeto herança de pessoa viva – nome disso é proibição de pacto sucessório ou proibição de pacta corvina. E até o limite da partilha, porque depois da partilha não existe mais herança, depois da partilha existe direito próprio, portanto, todo ato praticado depois da partilha, vai se chamar compra e venda ou doação.
ii. Requisito subjetivo: capacidade do cedente. O art. 80 do CC diz que a herança é bem imóvel e, portanto, se o cedente for casado, é necessária a outorga do cônjuge, sob pena de anulabilidade (suscitada no prazo de 2 anos, contados do término do casamento). Não se aplica essa exigência quando o casamento estiver sob o regime separação absoluta (STJ entende tratar-se de separação convencional). Lembrando também que quem vive em união estável não precisa dessa autorização. Se o casamento é sob o regime da participação final dos aquestos, o pacto antenupcial poderá dispensar a necessidade de outorga. Obs. Veja que o cessionário assume a posição do cedente e o CPC, no art. 798, diz que o cessionário terá legitimidade para requerer a abertura do inventário.
iii. Requisito formal: escritura pública, sob pena de nulidade, pois se trata de transmissão de bem imóvel. Detalhe: o CC dispensa o registro em cartório de imóveis. A escritura pública é requisito da substância do ato.
iv. Requisito objetivo: a cessão de direitos hereditários sempre tem como objeto uma universalidade, vedada a cessão de bens específicos. Bem específico não pode ser objeto de cessão, porque não se tem certeza que aquele bem sobreviverá, pois ainda serão pagas as dívidas, recolhidos os tributos. 
Exceções nas quais se admite a cessão de bens específicos: (a) quando se tratar de cessão de legado; (b) quando houver anuência de todos os herdeiros. Fora dessas hipóteses, a cessão é sempre de uma universalidade. 
Repita-se: o cessionário assume a posição do cedente e a cessão de direitos hereditários é negócio jurídico aleatório, ou seja, sobre ele não incidem vícios redibitórios e evicção, portanto, o cessionário não pode reclamar se eventualmente o valor que lhe couber na partilha, for menor que o valor pago. 
E se houver a superveniência de direitos que não eram conhecidos quando da cessão, a quem esses direitos pertencem? ( AO CEDENTE, porque ninguém pode ceder aquilo que não sabe ter – ninguém pode dar mais do que tem. Portanto, a cessão não alcança os bens ignorados, os bens até então desconhecidos.
8. PETIÇÃO DE HERANÇA
Petição de herança é a ação promovida pelo interessado que foi indevidamente excluído de uma sucessão.
A petição de herança é uma ação condenatória, que visa condenar aquele que está indevidamente na posse e na propriedade da herança, a devolvê-la, no todo ou em parte, a quem de direito.
Ex1: o filho não reconhecido – depois da morte do pai, o filho vai promover a ação de investigação de paternidade cumulada com petição de herança. Nesse caso, os réus da petição de herança, que são os filhos reconhecidos, serão condenados a devolver em parte a herança.
Ex2: filho que promover investigação de paternidade contra os ascendentes – se ele for reconhecido como filho, vai querer condenar seus avós a devolver a posse e propriedade da herança no todo.
Essa ação deve ser promovida no prazo prescricional de 10 anos, contados da abertura da sucessão. Lembrando que não corre prescrição contra o absolutamente incapaz.
A ação de petição de herança pode vir cumulada com outras ações, como a ação de investigação de paternidade, ação de reconhecimento e dissolução de união estável etc.
E mais: a ação de petição de herança, na hipótese de já ter ocorrido a partilha, dispensaa propositura de uma nova ação de inventário e partilha.
8.1. CORRELAÇÃO ENTRE PETIÇÃO DE HERANÇA E HERDEIRO APARENTE
São os artigos 1.827 e 1.828. Herdeiro aparente ou herdeiro putativo é aquele que se apresenta aos olhos de todos como se verdadeiro herdeiro fosse e celebra negócios jurídicos com terceiros. É certo que o herdeiro aparente pode celebrar negócios jurídicos com terceiros de boa-fé. Ex: os pais do falecido vendem imóveis e depois vem ação de investigação de paternidade cumulada com petição de herança.
Haverá um conflito entre o legítimo herdeiro e o terceiro de boa-fé que celebrou negócio com herdeiro aparente. E o Código protege o terceiro de boa-fé que celebrou negócio jurídico com o herdeiro aparente. 
E o herdeiro, fica prejudicado? ( O herdeiro legítimo terá regresso contra o aparente.
Perceba que o CC/02 não protege o herdeiro aparente, e sim o terceiro de boa-fé que celebrou negócio com o herdeiro aparente.
Agora, existe uma hipótese em que o Código protege o próprio herdeiro aparente se ele estiver de boa-fé: se o herdeiro aparente pagar dívidas ou legados do morto de boa-fé, é válido o pagamento e não se aplica a regra de quem paga mal, paga duas vezes. Nesse caso, se o herdeiro legítimo entender que o pagamento foi indevido, ele cobrará diretamente de quem recebeu e não do herdeiro aparente. Nesse caso, a proteção, portanto, é do herdeiro aparente. 
Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro aparente a terceiro de boa-fé.
Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este o direito de proceder contra quem o recebeu.
9. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
9.1. INTRODUÇÃO
É certo que a sucessão testamentária é de pouca incidência por diversos motivos; um, por critério econômico: sucessão testamentária é a transmissão de patrimônio de alguém que dispõe de vasto patrimônio (ninguém vai fazer testamento para deixar um único bem), o que é raro no Brasil; dois, por motivo religioso, pois as pessoas acham que quem faz testamento é porque vai morrer; três, porque a sucessão legítima já beneficia as pessoas que, muito provavelmente, o autor da herança já gostaria de beneficiar.
Curiosamente, apesar de rara a sua incidência, o Código Civil disponibilizou 133 artigos para a sucessão testamentária.
9.2. TESTAMENTO
Testamento é o negócio jurídico pelo qual uma pessoa dispõe de patrimônio para depois da morte. Com isso, você percebe que apesar de alguns autores dizerem que o testamento é a manifestação de vontade do morto, isso é um equivoco, até porque morto não tem vontade. Testamento é a manifestação de vontade de pessoa viva, para produzir efeitos depois de sua morte.
O testamento, sendo manifestação de vontade de pessoa vida, tem natureza negocial.
Testamento é a manifestação de vontade de alguém para produzir efeitos após a sua morte.
O CC/16, no art. (...), conceituava o testamento. Só que não é de bom tom o Código conceituar institutos, pois ele corre o risco de errar. O Novo CC preferiu não conceituar, no que andou melhor, pois o conceito do CC/16 era incompleto. 
Orlando Gomes e Caio Mário já denunciavam a incompletude do conceito de que “Testamento é a manifestação de vontade de alguém para produzir efeitos após a sua morte”. Isso é certo, mas não é só isso. Testamento é negócio jurídico pelo qual se dispõe de patrimônio para depois da morte e se declara outras manifestações de vontade (vontade para outros efeitos).
Quais são essas outras manifestações de vontade? ( Ex: reconhecimento de filho, nomeação de tutor, deserdação.
Submetem-se às regras do testamento, somente as disposições de ordem patrimonial. É dizer: as demais declarações de vontade devem ser interpretadas autonomamente. 
Ex: suponha que num determinado testamento, um homem dispõe de seu patrimônio para depois da morte e reconhece um filho ou nomeia tutor. Suponha ainda que esse testamento seja revogado ou declarado nulo; essa revogação/ invalidade não atingem o reconhecimento de filho, pois as demais declarações de vontade são autonomamente interpretadas.
Deste modo, a eventual revogação ou invalidade da parte patrimonial do testamento não afeta as demais declarações de vontade, porque são vontades autônomas. 
Confira isso no art. 1857:
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
Dúvida não pode existir que o testamento é negócio jurídico:
· Unilateral: ainda que o testamento dependa da aceitação, ele é unilateral, pois ele impõe obrigação a apenas uma das partes.
· Gratuito;
· Revogável a qualquer tempo: a revogabilidade vem da própria essência do testamento. 
Obs. São NULAS as cláusulas derrogativas ou derrogatórias – é aquela cláusula que retira do testador a possibilidade de revogar o testamento – e é da essência do testamento sua revogabilidade.
· Personalíssimo: só quem pode elaborá-lo é o próprio autor da herança (dono do patrimônio). 
Obs. São NULOS os testamentos conjuntivos (art. 1863 do CC: É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo): podem ser simultâneos, recíprocos ou co-respectivos. Testamento conjuntivo, por exemplo, é quando, e.g., marido e mulher fazem o mesmo testamento, ou quando duas pessoas testam uma para a outra, sob condição de serem beneficiárias dos respectivos testamentos.
· Solene: mais solene que o testamento, só o casamento. O testamento é negócio formal, cujas formalidades são previstas em lei. Exceção: o único caso no Brasil que não se exige solenidade para o testamento é o testamento militar nuncupativo, que é o caso do militar que está em combate, ferido de morte e antes de morrer resolve fazer um testamento oral, perante duas testemunhas. Todavia, ele precisa de homologação judicial. Desde o CC/16, Clóvis Beviláqua entendia que esse testamento era de um romantismo exagerado.
· Causa mortis: pois os seus efeitos somente advirão após a morte do titular (abertura da sucessão).
Obs. Não esqueça que esta natureza causa mortis do testamento justifica a proibição de pacto sucessório (ou pacta corvina) no direito brasileiro. A proibição de pacto sucessório é a nulidade de todo e qualquer contrato que tenha por objeto herança de pessoa viva – art. 426:
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Exceção: admite-se, porém, que se disponha sobre a herança de alguém que ainda não morreu na hipótese do art. 2.018, que é o caso de partilha em vida, quando todos os herdeiros são maiores e capazes, não havendo conflito entre eles. 
Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários.
Se é um negócio jurídico, então está submetido às hipóteses de nulidade e anulabilidade do mesmo. Quanto à nulidade, além daquelas comuns dos negócios jurídicos, o testamento poderá ser nulo se suas disposições também o forem.
Art. 1.900. É NULA A DISPOSIÇÃO:
I - que institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que este disponha, também por testamento, em benefício do testador, ou de terceiro;
II - que se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar;
III - que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a terceiro;
CUIDADO: esse inciso difere do disposto no art. 1.901, I do CC*
IV - que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado;
V - que favoreça as pessoas a que se referem os arts. 1.801 e 1.802.
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado,salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.
Art. 1.901. Valerá a disposição:
I - em favor de pessoa incerta que deva ser determinada por terceiro, dentre duas ou mais pessoas mencionadas pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo, ou a um estabelecimento por ele designado;
Questão interessante diz respeito ao prazo para se pleitear a nulidade (absoluta), que, em princípio, não deveria haver, mas o C.C. traz um prazo de 5 anos, de acordo com o disposto no art. 1.859.
Art. 1.859. Extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro.
Esse registro é aquele feito pelo juiz quando da homologação do testamento.
Outra disposição interessante é a que se refere aos casos de anulabilidade, pois o C.C estabeleceu um termo a quo diferente da regra geral do art. 178, senão vejamos:
Art. 1.909. SÃO ANULÁVEIS as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo ou coação.
Parágrafo único. Extingue-se em quatro anos o direito de anular a disposição, CONTADOS DE QUANDO O INTERESSADO TIVER CONHECIMENTO DO VÍCIO.
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
9.3. PRESSUPOSTOS DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
São condições necessárias à sucessão testamentária; são condições mínimias, essenciais à sucessão testamentária.
i) Observância do limite disponível: esse limite disponível recebe o nome de legítima e corresponde a 50% do patrimônio líquido disponível na abertura da sucessão. Se houver excesso, ou seja, se o testador ultrapassou o limite da legítima, o testamento é nulo naquilo que exceder. Em verdade, em que pese o Código fale em “nulidade”, o caso é de ineficácia. De todo modo, havendo excesso, impõe-se ao juiz a redução testamentária, que é justamente a preservação do limite da legítima. O juiz deve agir, promovendo a redução testamentária, mesmo de ofício. Lembrando que o cálculo da legítima se dá quando da abertura da sucessão. 
Obs. Lembre-se aqui do instituto da colação, que é apresentar no inventário um bem que foi dado ao herdeiro (ex: doação de pai para filho; a não ser que o pai tenha expressamente indicado que o bem saiu da parte disponível – diz o STJ que essa indicação não pode ser posterior – e desde que esse bem não exceda o limite disponível). Colacionar, portanto, significa trazer o bem para o inventário. 
Colacionando esse bem, vamos ter um problema: qual será o valor a ser colacionado? O bem deve ser colacionado pelo valor da data da liberalidade ou pelo valor atual (da data da abertura da sucessão)?
Esta dúvida ganha relevo quando se percebe que o Código Civil e o CPC estão em aparente rota de colisão.
Vejamos o art. 2004, §1º, do CC: “Se do ato de doação não constar valor certo, nem houver estimação feita naquela época, os bens serão conferidos na partilha pelo que então se calcular valessem ao tempo da liberalidade.”
Portanto, está dizendo que os bens serão calculados pelo seu valor ao tempo da liberalidade.
Já o CPC, art. 1014, parágrafo único diz:
Parágrafo único - Os bens que devem ser conferidos na partilha, assim como as acessões e benfeitorias que o donatário fez, calcular-se-ão pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão.
Portanto, de acordo com o CPC, os bens serão calculados pelo valor que possuírem ao tempo da abertura da sucessão.
Haveria um conflito entre o CPC e o CC nesse ponto? ( Quem resolveu o problema foi Enunciado 119 do CJF: para conciliar os dois dispositivos e para respeitar a proibição de enriquecimento sem causa, o valor da colação deverá ser feito com base no seguinte critério: (i) se o bem doado ainda existe, aplica-se a regra do CPC e ele deve ser colacionado pelo valor da data da abertura da sucessão; (ii) se o bem não mais existe (não mais integra o patrimônio do donatário), aplica-se a regra do CC e o bem deve ser colacionado pelo valor à data da liberalidade.
Enunciado 119 – Art. 2.004: para evitar o enriquecimento sem causa, a colação será efetuada com base no valor da época da doação, nos termos do caput do art. 2.004, exclusivamente na hipótese em que o bem doado não mais pertença ao patrimônio do donatário. Se, ao contrário, o bem ainda integrar seu patrimônio, a colação se fará com base no valor do bem na época da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.014 do CPC, de modo a preservar a quantia que efetivamente integrará a legítima quando esta se constituiu, ou seja, na data do óbito (resultado da interpretação sistemática do art. 2.004 e seus parágrafos, juntamente com os arts. 1.832 e 884 do Código Civil).
Em nada isso afeta a regra do cálculo da legítima: esta será calculada na data da abertura da sucessão. 
Para cálculo da legítima, devem ser abatidas: as dívidas e a meação. Isso é importante para fins de valor da causa no inventário. O valor da causa do inventário não é necessariamente o valor dos bens que estão sendo partilhados, devendo-se abater as dívidas e a meação.
ii) Atendimento das formalidades legais: cada espécie de testamento possui formalidades próprias e a violação das formalidades do testamento implica em nulidade. 
iii) Capacidade testamentária ativa: é a capacidade de elaborar o testamento. 
iv) Capacidade testamentária passiva: é a capacidade de receber herança ou legado. Motivo pelo qual, você pode chamar a capacidade testamentária passiva de capacidade sucessória. 
Obs. Não confunda o momento de averiguação (investigação) dessas capacidades. A capacidade testamentária ativa (para elaborar o testamento) deve ser investigada no momento em que o testamento foi elaborado. Já a capacidade testamentária passiva deve ser averiguada no momento da abertura da sucessão. 
A ulterior modificação da capacidade é IRRELEVANTE. Se a capacidade ativa deve ser averiguada no momento da elaboração do testamento, se posteriormente o testador se torna incapaz, isso é irrelevante.
Art. 1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade.
Do mesmo modo, a capacidade testamentária passiva deve ser analisada no momento da abertura da sucessão, sendo irrelevante qualquer modificação ulterior.
9.4. CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA ATIVA
Toda e qualquer pessoa pode elaborar um testamento?
A capacidade testamentária ativa NÃO se confunde com a capacidade jurídica em geral.
A capacidade testamentária ativa é reconhecida para toda e qualquer pessoa maior de 16 anos, que esteja no gozo de suas faculdades mentais. Nós vimos que o testamento é um negócio jurídico solene, formal. Todavia, a despeito de sua formalidade, o testamento pode ser elaborado pelo relativamente incapaz de motivo etário. O maior de 16 anos pode elaborar o testamento independentemente de assistência. O mentalmente incapaz não pode elaborar testamento.
Nós vimos, portanto, que a capacidade se submete a dois critérios: (i) etário: maior de 16 anos; (ii) psíquico: pessoas mentalmente capazes. E mais: a incapacidade mental não reclama sentença proferida em ação de interdição. Mesmo que o incapaz não tenha sido interditado, o testamento pode ser inválido. 
Note que se o menor, entre 16 e 18 anos, pode elaborar testamento, ele também pode ser testemunha testamentária – afinal, quempode o mais (elaborar testamento), pode o menos (servir de testemunha testamentária). 
9.5. CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA PASSIVA
Quem pode receber herança ou legado por testamento?
Vejamos o art. 1798:
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
Regra geral: pessoas nascidas ou já concebidas. Tem capacidade testamentária passiva, é dizer, podem receber herança ou legado, as pessoas nascidas ou concebidas.
Nós vimos que, ao falar das pessoas “nascidas ou concebidas”, o Código está se referindo:
· Ao nascituro; e
· Ao embrião criogenizado (congelado) em laboratório, ainda não implantado.
Ou seja, vem-se entendendo (Maria Berenice Dias e Giselda Hironaka), com base no princípio da igualdade, que a expressão “concebidos” se refere tanto ao nascituro (aquele que foi concebido e que já foi implantado no útero da mulher) como ao embrião criogenizado.
Esse embrião terá o prazo de 10 anos para reclamar a herança – que é o prazo para entrar com ação de petição.
Esse prazo não será problema, pois o art. 5º da Lei de Biossegurança diz que o médico só vai guardar o embrião criogenizado pelo prazo de 3 anos, após o que ele será utilizado em pesquisas científicas.
Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:
       II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.
Isso para que não se tenha uma situação inusitada e desproporcional pela qual uma pessoa seria filha, mas não seria herdeira.
Todavia, no que tange à sucessão testamentária, a capacidade testamentária passiva é ampliada no art. 1799.
· Ampliação da capacidade testamentária passiva
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação.
Quando se trata de sucessão testamentária, além das pessoas nascidas e concebidas, também se reconhece capacidade sucessória (capacidade testamentária passiva – também podem receber herança ou legado) a outras pessoas, quais sejam:
· Fundação;
· Pessoa jurídica;
· Prole eventual: é o filho que alguém vai ter. Mas há o prazo de 2 anos, contados da abertura da sucessão, para que a prole eventual seja concebida (e não para nascer). Dentro desse prazo de 2 anos, em observância ao princ constitucional da igualdade, nada impede que a prole eventual seja fruto da adoção; SALVO se o próprio testador indicou expressamente que o filho tinha que ser por concepção biológica. Isso consta do art. 1800, §4º: 
§ 4o Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos.
Obs. Os pais dessa prole eventual têm que estar vivos ao tempo da abertura da sucessão. Admite-se que através do testamento deixe-se herança para filho que pessoa vai ter, todavia, exige-se que os pais da prole eventual estejam vivos quando da abertura da sucessão. Veja:
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos (PROLE EVENTUAL), de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
Portanto, não é possível ao testador deixar um embrião congelado e testamento em favor desse embrião. Isso porque é condição de eficácia da cláusula de benefício da prole eventual que os pais da prole eventual estejam vivos. Ex: não é possível o testador apor a seguinte cláusula: “eu deixo tais bens para o filho de Fulana de Tal com meu sêmen congelado”.
O testador não pode condicionar a disposição testamentária em favor de prole eventual à utilização do seu embrião, caso contrário, a cláusula de benefício da prole eventual será ineficaz.
· Pessoas sem capacidade testamentária
Portanto, essas pessoas não podem ser herdeiras ou legatárias por testamento – são proibidas as nomeações em favor dessas pessoas.
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
É a pessoa que escreveu a rogo o testamento para o analfabeto ou para o cego.
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
A concubina é proibida não só de receber testamento, mas também doação (art. 550) e seguro de vida (art. 793).
Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.
Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.
Detalhe: se você fizer testamento para a concubina implica em NULIDADE; já se você fizer doação para a concubina, gera ANULABILIDADE.
O problema é que o art. 1.723, §1º, do CC diz que a simples separação de fato, independentemente de prazo, já caracteriza a união estável. Esse artigo 1801, III, do CC está em rota de colisão com o próprio Código. 
Harmonizando esses dois dispositivos, chegaremos à conclusão de que, se o testador estiver separado de fato, mesmo que há pouco tempo, ele pode fazer testamento para a pessoa com quem ele está vivendo, pois, segundo o próprio Código, isso já é união estável.
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.
O art. 1.802 diz que também são nulas as disposições testamentárias decorrentes de simulação por pessoa interposta. Ou seja, aquelas nulidades do art. 1801 se estendem a pessoas interpostas simulando. Ex: faço o testamento em favor da concubina.
Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador.
De grande inutilidade é o art. 1803 do CC:
9.6. FORMAS TESTAMENTÁRIAS
Vamos agora tratar das espécies de testamento. O direito brasileiro reconhece diferentes formas testamentárias.
Fundamentalmente, os testamentos se dividem em:
1. Comuns ou Ordinários
2. Especiais ou Extraordinários
Convém chamar atenção para um detalhe relevante: a distinção entre o testamento comum e o testamento especial é a existência de uma situação com potencialidade de comprometimento da vontade. Se há uma situação excepcional, que pode potencialmente comprometer a vontade, o testamento pode ser especial. Caso contrário, o testamento é comum. 
Testamentos COMUNS ( são elaborados em circunstâncias normais e podem ser:
a. Público
b. Cerrado ou Místico
c. Particular
Testamentos ESPECIAIS ( podem ser:
a. Marítima/ aeronáutico
b. Militar 
· TESTAMENTO PÚBLICO
É aquele elaborado pelo testador de “viva voz” perante autoridade com função notarial (função de notas). Autoridade com função notarial é aquele que pode fazer notas, não é apenas o tabelião; os cônsules, por exemplo, também possuem função notarial.
É claro que esse tipo de testamento é proibido ao surdo-mudo e ao mudo (somente testamento cerrado), pois aqui se exige a manifestação verbal. O surdo pode, mas tem um detalhe: nesse caso quem terá que ler o testamentonão será o tabelião, mas sim o próprio surdo, e se não souber ler designará quem o leia em seu lugar.
Por outra via, é a única possibilidade de testamento ao cego e ao analfabeto. Sendo que, nesse caso, além das duas testemunhas, tem que ter mais uma pessoa que leia em voz alta.
Esse testamento terá registro público e, portanto, ele tem conteúdo aberto. E mais, ele tem que ser escrito em vernáculo, em língua portuguesa. 
O testamento público será nulo se ele tiver condução da vontade pelo tabelião, pois essa condução da vontade viola a manifestação pessoal da vontade. Ou seja, é nulo o testamento público por perguntas e respostas.
O único testamento que exige um número maior de testemunhas é o testamento particular que exige 3 testemunhas. Todas as demais espécies de testamento exigem 2 testemunhas, salvo o militar que, se o testador não puder, ou não souber assinar, será preciso 3 testemunhas, caso em que assinará por ele uma delas.
	Surdo e mudo/mudo
	Somente podem testar por testamento cerrado, pois não exige declaração verbal. CUIDADO: o surdo pode testar por testamento público, mas nesse caso que lê é o próprio surdo, ou pessoa designada por ele, e não o tabelião;
	Cego e analfabeto
	Somente podem testar por testamento público, pois aqui o tabelião lê a disposição de última vontade.
Seção II
Do Testamento Público
Art. 1.864. São requisitos essenciais do testamento público:
I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos;
II - lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião (ou pelo testador) ao testador (ao tabelião) e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do oficial;
III - ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião.
Parágrafo único. O testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas todas as páginas pelo testador, se mais de uma.
Art. 1.865. Se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu substituto legal assim o declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas instrumentárias.
Art. 1.866. O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas.
Art. 1.867. Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento.
· TESTAMENTO CERRADO OU MÍSTICO OU SECRETO
O testamento cerrado traz como grande característica o SIGILO – seu conteúdo é sigiloso (só quem conhece é o próprio testador).
As duas testemunhas, no testamento cerrado, são testemunhas meramente instrumentárias do ato – elas apenas compõem o ato. O testamento cerrado é redigido pelo testador sozinho, que o entrega ao tabelião, na presença de duas testemunhas, que vão testemunhar exclusivamente a entrega do testamento. Nem as testemunhas nem o tabelião vão ter acesso ao conteúdo do testamento. O tabelião vai receber, lacrar e cozer o testamento.
O testamento cerrado somente será aberto pelo juiz das sucessões. O dilaceramento indevido do testamento cerrado implica em caducidade, porque a vontade do testador era de que aquele conteúdo fosse sigiloso. Nesse caso, o testador tem que fazer outro testamento.
E se o testador já morreu e alguém abriu antes do juiz? ( Houve dilaceramento indevido, mas não há caducidade. Pois só haverá caducidade se o testador puder elaborar outro. Nesse caso, tratar-se-á de uma mera irregularidade.
O testamento cerrado, por não exigir declaração verbal, pode ser elaborado pelo surdo-mudo. E mais: o testamento cerrado também pode ser escrito em língua estrangeira, sendo que, nesse caso, vai dar mais trabalho aos herdeiros, pois vai exigir tradutor juramentado.
O art. 1.868 traz uma hipótese estranha de testamento cerrado; excepcionalmente, o conteúdo do testamento cerrado pode ser conhecido por mais alguém além do testador, quem seja, aquele que escreverá a rogo. 
O Código permite que o testamento cerrado seja elaborado a rogo do testador quando o testador souber ler, mas não souber ou não puder escrever. Nesse caso, há a intervenção de mais uma pessoa, que é aquele que escreve a rogo. 
Seção III
Do Testamento Cerrado
Art. 1.868. O testamento escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado (testamento cerrado), será válido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes formalidades:
I - que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas;
II - que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado;
III - que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador e testemunhas;
IV - que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo testador.
Parágrafo único. O testamento cerrado pode ser escrito mecanicamente, desde que seu subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas as paginas.
Art. 1.869. O tabelião deve começar o auto de aprovação imediatamente depois da última palavra do testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para ser aprovado na presença das testemunhas; passando a cerrar e coser o instrumento aprovado.
Parágrafo único. Se não houver espaço na última folha do testamento, para início da aprovação, o tabelião aporá nele o seu sinal público, mencionando a circunstância no auto.
Art. 1.870. Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do testador, poderá, não obstante, aprová-lo.
Art. 1.871. O testamento pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por outrem, a seu rogo.
Art. 1.872. Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem não saiba (ANALFABETO) ou não possa ler (CEGO).
Art. 1.873. Pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo, contanto que o escreva todo, e o assine de sua mão, e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas, escreva, na face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe pede.
Art. 1.874. Depois de aprovado e cerrado, será o testamento entregue ao testador, e o tabelião lançará, no seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue.
Art. 1.875. Falecido o testador, o testamento será apresentado ao juiz, que o abrirá e o fará registrar, ordenando seja cumprido, se não achar vício externo que o torne eivado de nulidade ou suspeito de falsidade.
· TESTAMENTO PARTICULAR
O testamento particular tem forma livre; ele é elaborado de acordo com a manifestação de vontade do testador, perante 3 testemunhas.
O testamento particular é altamente inseguro, pois o testador elabora do jeito que ele quiser, não tem formalidade.
A única exigência é que o testamento seja lido na presença das três testemunhas. Esse testamento pode ser feito em língua estrangeira, desde que as testemunhas entendam.
O alto grau de insegurança presente no testamento particular impôs ao legislador exigir a homologação judicial: o juiz ouvirá as testemunhas para averiguar/confirmar a declaração de vontade.
Ao lado dos testamentos comuns, estão os testamento especiais.
Seção IV
Do Testamento Particular
Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico.
Conhecido como HOLÓGRAFO, já que é redigido de próprio punho sem a participação de um tabelião. É também AUTÓGRAFO, ou seja, deve ser escrito pelo próprio testador. Note que o testamento particular é o único que não pode ser escrito a rogo. Todas as outras formas de testamento exigem 2 testemunhas, apenas o testamento particular e o militar,se o testador não puder, ou não souber assinar é que exigem 3.
§ 1o Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e assinado por quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever.
§ 2o Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o subscreverão.
Art. 1.877. Morto o testador, publicar-se-á em juízo o testamento, com citação dos herdeiros legítimos.
Art. 1.878. Se as testemunhas forem contestes sobre o fato da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura perante elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do testador, o testamento será confirmado.
Parágrafo único. Se faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma delas o reconhecer, o testamento poderá ser confirmado, se, a critério do juiz, houver prova suficiente de sua veracidade.
Art. 1.879. Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular de próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do juiz.
Art. 1.880. O testamento particular pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que as testemunhas a compreendam.
· TESTAMENTO MARÍTIMO OU AERONÁUTICO
É o testamento elaborado a bordo de embarcações ou aeronaves que estejam em curso de viagem. Isso porque, se a embarcação ou aeronave estiver em solo, não há a excepcionalidade.
O Testamento marítimo é feito perante o comandante da embarcação e o testamento aeronáutico perante pessoa designada pelo comandante.
O testamento marítimo/ aeronáutico pode ter forma pública ou cerrada.
Seção II
Do Testamento Marítimo e do Testamento Aeronáutico
Art. 1.888. Quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante, pode testar perante o comandante, em presença de duas testemunhas, por forma que corresponda ao testamento público ou ao cerrado.
Parágrafo único. O registro do testamento será feito no diário de bordo.
Art. 1.889. Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode testar perante pessoa designada pelo comandante, observado o disposto no artigo antecedente.
Art. 1.890. O testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob a guarda do comandante, que o entregará às autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional, contra recibo averbado no diário de bordo.
Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico, se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias subseqüentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro testamento.
Art. 1.892. Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito no curso de uma viagem, se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o testador pudesse desembarcar e testar na forma ordinária.
· TESTAMENTO MILITAR
É aquele realizado por quem está servindo às Forças Armadas, seja civil (ex: médico) ou militar, em tempo de guerra ou praça sitiada. 
Do mesmo modo, esse testamento militar pode ser público ou cerrado. Se ditar de viva voz é público; se entregar pronto, é cerrado.
Esses testamentos especiais exigem homologação judicial, porque a vontade nessas circunstâncias pode não ser livre. Portanto, exige-se homologação judicial para a averiguação da livre manifestação de vontade.
E mais, esses testamentos trazem uma causa especial de caducidade: se o testador não falecer durante a situação excepcional, ele dispõe do prazo de 90 para ratificar o testamento, sob pena de caducidade. Atente que esse prazo de 90 dias para ratificação pressupõe a possibilidade de manifestação de vontade. 
Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico, se o testador não morrer na viagem, nem nos noventa dias subseqüentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro testamento.
O testamento militar do militar que está em combate pode ser nuncupativo, ou seja, feito oralmente perante duas testemunhas, também dependendo de homologação judicial.
Questão de concurso: Indique a espécie de testamento que não admite escrita a rogo:
a) Testamento público (pode ser escrito a rogo quando for o caso de cego ou analfabeto) 
b) Testamento cerrado (pode ser a rogo, quando a pessoa sabe ler, mas não sabe ou não pode escrever)
c) Testamento aeronáutico/ militar (podem ser a rogo)
d) Testamento particular (é o único que não pode ser, em nenhuma hipótese, escrito a rogo).
Seção III
Do Testamento Militar
Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das Forças Armadas em campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja de comunicações interrompidas, poderá fazer-se, não havendo tabelião ou seu substituto legal, ante duas, ou três testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar, caso em que assinará por ele uma delas.
FORMA PÚBLICA
§ 1o Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo destacado, o testamento será escrito pelo respectivo comandante, ainda que de graduação ou posto inferior.
§ 2o Se o testador estiver em tratamento em hospital, o testamento será escrito pelo respectivo oficial de saúde, ou pelo diretor do estabelecimento.
§ 3o Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento será escrito por aquele que o substituir.
FORMA CERRADA
Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de seu punho, contanto que o date e assine por extenso, e o apresente aberto ou cerrado, na presença de duas testemunhas ao auditor, ou ao oficial de patente, que lhe faça as vezes neste mister.
Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o testamento se apresente notará, em qualquer parte dele, lugar, dia, mês e ano, em que lhe for apresentado, nota esta que será assinada por ele e pelas testemunhas.
Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que, depois dele, o testador esteja, noventa dias seguidos, em lugar onde possa testar na forma ordinária, salvo se esse testamento apresentar as solenidades prescritas no parágrafo único do artigo antecedente.
ÚNICO TESTAMENTO NUNCUPATIVO
Art. 1.896. As pessoas designadas no art. 1.893, estando empenhadas em combate, ou feridas, podem testar oralmente, confiando a sua última vontade a duas testemunhas.
Parágrafo único. Não terá efeito o testamento se o testador não morrer na guerra ou convalescer do ferimento.
9.7. CODICILO
O Brasil é uma das poucas legislações que mantém a possibilidade de codicilo.
Codicilo é pequeno testamento; pequena disposição de vontade.
Codicilo é o ato pelo qual se dispõe (se declara vontade) de pequenos legados (ex: deixar determinado objeto de usos pessoal para alguém) ou disposições para o enterro ou funeral (ex: despesas com o funeral).
A dúvida que se põe é a seguinte: aquilo que pode representar pequeno legado pode não representar pequeno legado para outra. A depender do patrimônio de uma pessoa, o pequeno legado pode variar.
Assim, o STJ fixou o entendimento de que o limite do codicilo varia em conformidade com o patrimônio do titular, jamais podendo exceder 10% do patrimônio líquido.
Ou seja, o pequeno legado não pode comprometer o patrimônio, senão deixaria de ser codicilo para ser testamento.
Só pode realizar o codicilo quem tem capacidade testamentária ativa.
E mais: o codicilo dispensa testemunhas e tem forma livre (o titular do patrimônio pode elaborar o codicilo como entender).
Como o codicilo e o testamento possuem objetos distintos, respectivamente, disposição de pequenos legados e disposições acerca do funeral e disposição do patrimônio para depois da morte, nada impede a coexistência de codicilo e testamento.
O codicilo pode revogar o testamento e vice-versa. A diferença é só uma: o testamento pode revogar o codicilo no todo ou em parte; ao passo que o codicilo somente revogará o testamento em parte, em face do seu objeto mais restritivo.
9.8. CLÁUSULAS TESTAMENTÁRIAS
O coração do testamento são as cláusulas testamentárias, que nada mais são que as disposições contidas

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