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www.cers.com.br 1 www.cers.com.br 2 UNIÃO ESTÁVEL Prof. Cristiano Chaves de Farias Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia Professor de Direito Civil do CERS 1. Evolução e perspectiva histórica: da família-casamentária (CC/16) para a família plural. Do concubinato à união estável. A evolução do concubinato de união ilegal e ilegítima para a caracterização como entidade familiar. Proibição do concubinato no CC/16. Distinção doutrinária entre o concubinato puro e o concubinato impuro. Tolerância jurisprudencial. Permissividade legal. Proteção especial constitucional. STF 380: “Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.” STF 382: “A vida em comum sob o mesmo teto "more uxorio", não é indispensável à caracterização do concubinato.” Art. 226, CF: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. 2. União estável, concubinato, união livre e poliamorismo. O concubinato enquanto sociedade de fato (CC 1.727) e a união estável putativa. Art. 1.723, CC: “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. § 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. § 2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.” União estável = entidade familiar Concubinato =sociedade de fato União livre = relação puramente obrigacional (possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha entre namorados – STJ, CC 96.532/MG). Poliamorismo = concubinato de boa-fé entre os envolvidos que se aceitam (não necessariamente há o elemento sexual) Vedações ao concubinato: a) Proibição de doação para a concubina, pena de anulabilidade (a questão da separação de fato, STJ, REsp 408.296/RJ) b) Proibição de seguro de vida para a concubina, pena de nulidade c) Proibição de herança ou legado para concubina, pena de nulidade Posição do CC 1.727: concubinato não é família e não produz efeitos familiares ou sucessórios. Posição do STF: concubinato não é família. Não gera benefício previdenciário – STF, RE 397.762/BA. www.cers.com.br 3 Posição do STJ: concubinato não é família. Não gera indenização por serviços prestados – STJ, REsp. REsp 988.090/MS. A união estável putativa e a caracterização de núcleo familiar (MARIA BERENICE DIAS). Posição refratária do STJ, negando natureza familiar à união estável putativa (STJ, REsp. 789.293/RJ). Art. 1.727, CC: “As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubi- nato.” Art. 550, CC: “A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.” Art. 793, CC: “É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.” Art. 1.801, CC: “Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos; II - as testemunhas do testamento; III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos; IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.” 2.1. Requisitos caracterizadores da união estável. Art. 1.723, CC: “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. § 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. § 2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.” Requisitos objetivos e a imprescindibilidade do requisito subjetivo. A distinção entre a união estável e um namoro prolongado. A questão da incidência na união estável dos impedimentos matrimoniais e a relevância da separação de fato. A incidência da monogamia na união estável (STJ, REsp. 1.157.273/RN). A questão da dualidade de sexos (proteção constitucional da união homoafetiva – STF, ADIn 4277/DF). A pos- sibilidade de conversibilidade em casamento homoafetivo (STJ, REsp.1.183.378/RS). A possibilidade de adoção pelo par homoafetivo (STJ, REsp. 1.281.093/SP). O lapso temporal mínimo e a desnecessidade de residir sob o mesmo teto (STF 382). Inexigibilidade de lapso temporal mínimo ou decorrência de prole. A inaplicabilidade das causas suspensivas e o regime de separação obrigatória de bens. O entendimento do STJ de incidência da separação obrigatória na união estável iniciada pelo maior de 70 anos de idade (STJ, REsp 646.259/RS) Requisitos caracterizadores da união estável (CF 226, §3º e CC 1.723) Estabilidade da relação convivencial Publicidade da relação convivencial Inexistência de impedimento matrimonial (exceção: sepa- ração de fato). O Estatuto da Pessoa com Deficiência e a www.cers.com.br 4 nulidade do casamento somente no caso de impedimento matrimonial A questão da dualidade de sexos e a interpretação con- forme a CF emprestada pelo STF (ADIn 4277/DF) Inexigibilidade de lapso temporal mínimo ou decorrência de prole Intuito de constituir família (animus familiae) 3. Efeitos patrimoniais da união estável. Regime de bens da união estável: comunhão parcial, salvo contrato escrito em contrário (bens adquiridos a título oneroso ou eventual na constância da relação). Art. 1.725, CC: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”. O contrato de convivência por instrumento particular, sem registro em cartório. Possibilidade de escolher regime em contrário. A questão do regime de separação obrigatória de bens (inaplicabilidade das causas suspensivas). O enten- dimento do STJ de incidência da separação obrigatória na união estável iniciada pelo maior de 70 anos de idade (STJ, REsp 646.259/RS). A questão da inexigibilidade de outorga do companheiro (interpretação restritiva do CC 1.647). Posição do STJ pela desnecessidade da anuência do companheiro: STJ, REsp 1.299.866/DF, salvo se notória a união estável (STJ, REsp. 1.424.275/MS). A questão da citação do companheiro nas ações reais imobiliárias (novo CPC 73). Art. 73, novo CPC: “O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. (...) § 3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.” Outros efeitos patrimoniais: a) Direito à herança. O novo entendimento do STF. Repercussão da nova posição do STF: “Parentes colaterais não são legitimados ativos para a ação de anulação de adoção proposta após o falecimento do adotante, em virtude da inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil declarada pelo Supremo Tribunal Federal.” (STJ, REsp 1.337.420/RS, rel. Min. Luís Felipe Salomão). b) Direito ao benefício previdenciário, mas não a previdência privada (STJ, REsp 1.477.937/MG). c) Direito aos alimentos;d) Direito real de habitação (a posição do STJ, REsp 1.329.993/RS). Efeitos da decisão do STF, RE 878.694/MG. e) Partilha de direitos reais sobre a coisa alheia de bens públicos (“Na dissolução de união estável, é possível a partilha dos direitos de concessão de uso para moradia de imóvel público.” – STJ, REsp 1.494.302/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão). Efeitos patrimoniais da união estável Direito à meação (regime de bens da comunhão parcial, salvo disposição contrária) – CC 1.725 Direito à herança (CC 1.790). O entendimento do STF, RE 878.694/MG, rel. Min. Luís Roberto Barroso Direito ao benefício previdenciário Direito aos alimentos (CC 1.694) Direito real de habitação, em caso de óbito do companheiro (Lei n.9.278/96, art. 7º) Possibilidade de exercício da inventariança http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?origemPesquisa=informativo&tipo=num_pro&valor=REsp1337420 http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?origemPesquisa=informativo&tipo=num_pro&valor=REsp1477937 http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?origemPesquisa=informativo&tipo=num_pro&valor=REsp1494302 www.cers.com.br 5 (novo CPC 616) e legitimidade para os embargos de ter- ceiros (novo CPC 674) 4. Efeitos pessoais da união estável (CC 1.724). 4.1 Efeitos entre os companheiros: basicamente os mesmos efeitos pessoais de um casamento. Efeitos pessoais da união estável Deveres conjugais (lealdade e respeito; mútua assistência e guarda, sustento e educação da prole) Possibilidade de acréscimo de sobrenome do outro Parentesco por afinidade (CC 1.595) Inalterabilidade do estado civil e não emancipação Possibilidade de exercício de curadoria (ausência ou inter- dição) A questão da presunção de paternidade (pater is est). O CC 1.597 e o STJ, REsp.23/`PR e STJ, REsp 1.194.059/SP Art. 1.724, CC: “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos”. Art. 1.566, CC: “São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos.” 4.2. Conversão da união estável em casamento. Mandamento constitucional da facilitação da conversão da união estável em casamento. Duvidosa constitucionalidade do CC 1.726. Art. 1.726, CC: “A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.” Admissibilidade de uso da via administrativa pelo STJ: “Os arts. 1.726, do CC/2002 e 8º, da Lei n. 9.278/96 não impõem a obrigatoriedade de que se formule pedido de conversão de união estável em casamento pela via admi- nistrativa, antes de se ingressar com pedido judicial.” (STJ, REsp 1.685.937/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi). www.cers.com.br 6
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