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Brinquedoteca e suas Diferentes Dimensões As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Luciene Diniz e Profa. Ms. Maria Helena Aita Kerbej Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco 5 Un id ad e As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil Identificar as possibilidades de interdisciplinaridade nos espaços da brinquedoteca e a importância dessa para o desenvolvimento da criança. Nesta unidade continuaremos a discutir a importância do lúdico no desenvolvimento da criança, tendo como foco o uso da brinquedoteca como espaço que possibilita a interdisciplinaridade, dessa forma, auxiliando o seu aprendizado. Não se esqueça de acessar as sugestões de links e materiais complementares para enriquecer seu conhecimento. Fique atento(a) às atividades propostas e aos respectivos prazos. Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • As dimensões da brinquedoteca: do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil T hinkstock/G etty Im ages 6 Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil Para iniciarmos esta unidade reflita sobre a seguinte questão: Os jogos e brincadeiras auxiliam na aprendizagem dos conceitos escolares? Para embasar sua opinião, assista ao vídeo Alfabetizando com jogos pedagógicos por Aline e Tânia Lopes, disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=5t2vLB3C82A> e perceba como essas duas professoras utilizam os jogos pedagógicos para trabalhar a alfabetização de seus alunos. Contextualização https://www.youtube.com/watch?v=5t2vLB3C82A https://www.youtube.com/watch?v=5t2vLB3C82A 7 As dimensões da brinquedoteca: do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil Já entendemos que o brincar e o jogar são importantes para o desenvolvimento integral da criança nas esferas motora, cognitiva e afetiva, e verificamos também que a brinquedoteca é um dos espaços destinados a esse objetivo. Na unidade anterior aprofundamos o estudo sobre a importância do lúdico no desenvolvimento integral da criança e desenvolvemos os conceitos de brinquedo, jogo e brincadeira. Nesta unidade vamos continuar a discutir a brinquedoteca como local destinado ao desenvolvimento da criança através do lúdico, porém enfatizando a questão das possibilidades que esse espaço oferece. Nosso objetivo nesta unidade é identificar as possibilidades de interdisciplinaridade que ocorrem nos espaços da brinquedoteca. A princípio se faz necessário que entendamos o conceito de interdisciplinaridade e sua importância no processo de aprendizagem da criança. O movimento da interdisciplinaridade surgiu na Europa em meados da década de 1960. Nesta época, as Ciências estavam divididas em muitas disciplinas e alguns professores tentavam buscar o rompimento com uma educação fragmentada, desta forma a interdisciplinaridade restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas, levando a um saber unificado que preservaria a integridade do pensamento. Podemos então entender que a interdisciplinaridade busca a construção do conhecimento de maneira global, rompendo com as fronteiras das disciplinas, através da relação feita entre essas, no momento em que nos deparamos com um objeto de estudo, proporcionando um diálogo entre as mesmas, relacionando-as entre si para a compreensão da realidade, evitando a fragmentação do conhecimento. Em resumo, a interdisciplinaridade utiliza os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema ou compreender um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista. Figura 1. T hinkstock/G etty Im ages 8 Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil No Brasil, o movimento começou a ganhar forças na década de 1970. A interdisciplinaridade começou a ser abordada a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n.º 5.692/71, sendo reforçada na LDB n.º 9.394/96. Desde então, sua presença no cenário educacional brasileiro tem se tornado mais presente, não só pela influência da legislação, mas também por estar presente nas Propostas Curriculares Nacionais (PCN), que pensando no aprendizado do aluno, propõe a utilização da interdisciplinaridade como forma de desenvolver um trabalho de integração dos conteúdos de uma disciplina com outras áreas de conhecimento. Sendo assim, a interdisciplinaridade tornou-se cada vez mais presente no discurso e na prática de professores. Vale a pena ressaltar que não se trata de eliminar as disciplinas, trata-se de torná-las comunicativas entre si. A interdisciplinaridade deve ser compreendida como uma forma de trabalhar, no qual a partir de um tema ou de uma ação disparadora se aborda diferentes disciplinas. É compreender, entender as partes de ligação entre as diferentes áreas de conhecimento, unindo-se para que ocorra a aprendizagem, resgatando possibilidades e ultrapassando o pensar fragmentado. É a busca constante de investigação, na tentativa de superação do saber. Figura 2. Português Matemática Química Geogra�a CiênciasFísica HistóriaInglês Sob esse olhar, faz-se necessário que o professor, ao trabalhar com a interdisciplinaridade, assuma uma atitude frente ao conhecimento, pois interdisciplinaridade é antes de tudo ação. Devemos lembrar que nos dias atuais o professor não é mais um simples provedor de conhecimento, agora atua como mediador da aprendizagem. Deve provocar e questionar o aluno, levando-o ao sucesso de suas pesquisas e observações. Cabe ao professor o papel de orientação e ajuda, visando o objetivo de possibilitar aos alunos a aprendizagem de determinados conteúdos. Como mediador da aprendizagem, o professor desempenha papel fundamental na organização de atividades e na formulação de situações que propiciem aos alunos oportunidades de aprendizagem de forma significativa. 9 Como vimos nas unidades anteriores, o caráter lúdico nas brincadeiras, jogos e atividades infantis são essenciais para o desenvolvimento das crianças e para o processo de ensino e aprendizagem. Torna-se então evidente que os professores e os futuros docentes devem tomar consciência disso e a partir de então organizar atividades e situações onde o lúdico esteja presente. Ao utilizar a brinquedoteca como recurso no processo de ensino-aprendizagem, cria-se uma situação favorável ao aprendizado significativo da criança. Esse é um ambiente que propicia isso, pois é formado por cores, formas, desenhos, objetos e atividades onde a criança pode soltar a imaginação e se sentir livre para se expressar sem preocupação. É fato que as atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança, e neste sentido, satisfazem uma necessidade interior, apresentando dois elementos característicos: o prazer e o esforço espontâneo. O envolvimento emocional das crianças ao realizar atividades lúdicas torna a aprendizagem uma ação com forte teor motivacional. Essa relação do lúdico com a aprendizagem proporcionará à criança estabelecer relações cognitivas às experiências vivenciadas, de maneira significativa, pois além de aprender, a criança desenvolverá a sua criatividade e criará simbolismos conforme procedimentos metodológicos compatíveis a essa prática. Através da atividade lúdica, a criança seleciona ideias, as quais por meio da relação feita com o seu mundo, faz desenvolver conceitos e raciocínio lógico de acordo com o seu desenvolvimento, além de estimular a sua sociabilização. A sociabilização entre os alunos é importante no desenvolvimento integral da criança e o professor encontra no ambiente da brinquedoteca um campo fértil, não só para o ensino- aprendizagem de habilidades e conhecimentos, mas também um espaço de interação mútua que possibilita levar o aluno a crescer, respeitar-se e respeitar os outros. Através dos jogos e brincadeiras que ocorrem na brinquedoteca, o professor tem a possibilidade de elaborar objetivos e procedimentos que tenham por meta melhorar ou promover a competênciasocial e as relações interpessoais dos alunos. Na brinquedoteca, além de promover as relações sociais, o professor também leva seus alunos, através dos jogos e da brincadeira, a uma aprendizagem eficaz da compreensão da realidade em sua complexidade. Durante o brincar a criança acaba construindo regras para o funcionamento da atividade. Essas regras estão intimamente ligadas à realidade em que a criança está inserida e da cultura em que se encontra, pois no brincar reproduz o que vive no seu dia a dia. Ao interagirem umas com as outras, as crianças acabam criando a própria maneira de agir ao brincar, além de promoverem a construção de suas próprias regras, que são elaboradas de comum acordo entre elas. Ao brincar, a criança acaba criando um espaço de fantasia onde consegue se relacionar com as coisas que a norteiam, elaborando novos papéis para si e para os ambientes, ou seja, a criança constrói sua própria realidade e percebe as mudanças ocorridas na sociedade na qual faz parte. Existe uma compreensão do mundo e do comportamento humano. Aqui vale relembrar que as brincadeiras são ferramentas indispensáveis para o desenvolvimento da criança quando se fala em lúdico, pois permite que elas construam a sua visão do mundo. Ao brincar a criança cria e utiliza-se de regras, as quais, muitas estão presentes no seu dia a dia. Também imita posicionamentos e atitudes dos adultos que a cercam. Dessa maneira e com 10 Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil o uso de brinquedos ou outros objetos vão dando sentido, de maneira simbólica, ao que está vivendo. Ao brincar, a criança está alterando o contexto e a si mesma, pois acaba incorporando alguns significados ao representar a sua realidade. Pode-se então dizer que o brincar envolve aspectos cognitivos, afetivos e sociais e desenvolve inúmeras consequências para o desenvolvimento humano. Vale ressaltar que ao brincar a criança é ativa em seu processo de aprendizagem e isso resultará em mudança de comportamento obtido através da experiência construída por vários fatores como: emocionais, relacionais, neurológicos e ambientais. Assim, concluímos que estamos em um eterno processo de aprendizagem e que podemos transformar o outro assim como a nós mesmos. Dessa forma, ao pensar na brinquedoteca como espaço onde se cria importantes possibilidades para o aprendizado da criança, o professor irá ao encontro dos princípios da interdisciplinaridade ressaltados por Elen Campos Caiado ([20--]). São eles: noção de tempo, indivíduo ativo na sua aprendizagem, totalidade do saber e aprendizagem significativa. Quando discorre sobre a noção de tempo, Caiado ([20--]) reforça que o aluno não tem tempo e nem local certo para aprender. Aprende o tempo todo e não apenas na sala de aula. Dessa forma, ao utilizar a brinquedoteca o professor proporcionará ao seu aluno um espaço onde a motivação e a possibilidade de troca serão amplas. Ao brincarem as crianças se socializarão e, através da atividade lúdica – seja a brincadeira ou o jogo –, trocarão pontos de vistas do mesmo evento, pois cada uma possui uma realidade e, como vimos, tanto na brincadeira como no jogo a realidade vem à tona através das regras criadas ou do faz de conta que recria o contexto em que ela vive. A autora também afirma que é o indivíduo que aprende. Como já foi dito, o professor é um mediador no processo de ensino onde a criança é um ser ativo. Na brinquedoteca, por ser um espaço onde ela se sente à vontade devido à aproximação do que conhece e a motiva, a aprendizagem é potencializada. Para a autora o aprendizado envolve emoção e razão no processo de reprodução e criação do conhecimento. Dessa forma, tanto a criança, quanto o jovem e o adulto aprendem quando o conteúdo do ensino é significativo para si. Se o brinquedo, a brincadeira e o jogo possibilitam a reprodução da realidade vivida pela criança, essa criará significados e mudará seu comportamento de maneira significativa. Verifica-se que a criança em qualquer idade mostra uma grande atração pelos jogos e brincadeiras e nessas atividades mantém uma atenção prolongada, sendo incansáveis na repetição. Essas características: atenção dirigida para a atividade, repetição espontânea e prosseguimento são importantes no processo de aprendizagem. De maneira geral, a escola se esforça para conseguir estimular essas características através de dinâmicas educativas. Nos jogos e brincadeiras essas características desejáveis são espontâneas, mais um motivo para que os professores pensem na brinquedoteca como um importante espaço de aprendizagem. 11 Para Piaget a criança que joga desenvolve suas percepções, sua inteligência, suas tendências à experimentação, seus instintos sociais etc., porém – e infelizmente – esse teórico verifica que o jogo é um caso típico das dinâmicas negligenciadas pela escola tradicional, devido ao fato de parecer destituído de significado funcional. Para esse autor o jogo é um meio poderoso para a aprendizagem da leitura, do cálculo e da ortografia. Ao brincar e jogar a criança é estimulada a trocar ideias com as outras crianças, a experimentar, a levantar hipóteses, de modo que o jogo e a brincadeira são instrumentos que favorecem a relação entre o pensamento e a realidade, estimulando, assim, o desenvolvimento da cognição. Através do jogo e da brincadeira, além do professor realizar uma dinâmica motivadora para o aprendizado, consegue verificar qual o nível de domínio que a criança tem dos conteúdos curriculares para, através dessa observação, agregar mais dados para planejar as atividades futuras de suas aulas. Como vimos na unidade II, para Piaget há três tipos de jogos e esses se relacionam com as características de desenvolvimento da criança: jogo de exercício, jogo simbólico e jogo de regras. No período sensório motor é importante que na brinquedoteca se crie um ambiente com diversos tipos de materiais concretos para que as crianças os manipulem, pois é a fase do jogo de exercício, permitindo que as crianças formem conceitos práticos dos objetos que as cercam. Já na fase do jogo simbólico, onde a criança transforma a realidade segundo as suas necessidades, representando-as, faz-se necessário que o espaço forneça vários brinquedos que lhe permitam utilizar de inúmeras formas, dando-lhes significados diversos. Brinquedos em miniaturas que representem objetos do dia a dia da criança, como móveis, carros e/ou pessoas são bem interessantes e estimulam a representação da realidade. Já na fase do jogo de regras, onde o padrão normatiza as ações entre os participantes, deve- se possibilitar brinquedos e jogos que permitam a exploração e a criação de regras, gerando a adaptação de ações individuais às regras do grupo, bem como respeito às diferenças. Em resumo, para cada fase de desenvolvimento infantil existe um tipo de jogo que deve ser mais explorado e, portanto, faz-se necessário um olhar sobre a escolha do que deve ser disponibilizado e escolhido, a fim de que seu uso possibilite a assimilação da realidade e o desenvolvimento cognitivo. Nesse enfoque, Vygotsky orienta que a escolha do jogo e da brincadeira deve ser planejada pelo professor e que os significados e “aprendizados” que a criança retira na situação do brincar devem ser discutidos e trabalhados pelo docente para tornarem-se conceitos específicos. Para esse autor, a melhor maneira para a criança aprender a ler e a escrever é aquela na qual descobre tais habilidades durante situações de brincadeiras. É necessário que as letras e a compreensão da escrita se tornem uma necessidade na vida infantil. O processo de transição da linguagem falada para a linguagem escrita deveria ter como estágio preparatório o desenhar e o brincar como base. Ao desenhar e brincar com as letras surgiria a curiosidade para compreender o que está ocorrendo e, dessa forma, a criança estaria motivada a aprender. Essa ideia é reforçada por Kishimoto (2000) quando afirmaque a atividade lúdica possui uma grande motivação interna de quem a realiza e, portanto, a utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do conhecimento, porém não basta somente isso para que o aprendizado ocorra. Quando utilizamos o jogo como um trabalho pedagógico, devemos dispor de estímulos externos para que ocorra a sistematização de conceitos aprendidos em outras situações que não as do jogo em si. 12 Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil O uso do jogo na aprendizagem remota aos tempos do Renascimento, onde se enxergava na brincadeira uma dinâmica que favorecia o desenvolvimento da inteligência e facilitava o estudo, pois atendia à necessidade das crianças. A partir do século XX a importância dada ao jogo como recurso para o ensino se fez mais presente devido ao fato de que o brincar educativo oferecia durante o ato de aprendizagem propriedades lúdicas de prazer, de criação, de ação ativa e de motivação. Nota-se, então, que durante a atividade lúdica o professor atua como mediador do processo de aprendizagem e nesse papel, ao longo das situações de jogos e brincadeiras, deve propor perguntas e disparadores que agucem a curiosidade da criança. Deve levar a criança a descobrir todas as possibilidades oferecidas pelo jogo, porém, sem uma condução direta, ou seja, deve sugerir, dar pistas, orientar, mas respeitar o momento de aprendizagem de cada criança, pois a dinâmica deve ser enriquecida pelas situações criadas pelas próprias crianças. É nesse meio rico de possibilidades e estímulos que os conceitos aparecerão, tornando necessário então um reforço por parte do professor, não apenas no momento da atividade, mas também depois, em outras situações. Dessa forma, na brinquedoteca, ao brincar, por exemplo, manipulando as peças de um quebra-cabeça, a criança estará diferenciando cores, formas e tamanhos. Esses conceitos podem ser explorados e sistematizados nos outros espaços para reforçar o que foi aprendido. Como já foi visto nas outras unidades, em seu artigo A importância da brinquedoteca na aprendizagem infantil, Souza ([20--]) classifica a brincadeira como tradicional, faz de conta e de construção. Vimos que a brincadeira tradicional é aquela que está presente na sociedade há muito tempo, como amarelinha, pega-pega, empinar pipa, cantigas de roda, entre outras. Essas brincadeiras estão ligadas ao folclore, refletem a mentalidade popular e se expressam, sobretudo, pela oralidade. Esse tipo de brincadeira perpetua os costumes e valores de um povo em um determinado período. O professor pode explorar essas brincadeiras para mostrar o contexto histórico, os diferentes tipos de regras para a mesma brincadeira, as diferenças entre as pessoas etc. Por exemplo, a brincadeira de amarelinha possui várias formas de jogar. Nessa, a criança pode reforçar os conceitos aprendidos sobre ordem crescente e decrescente dos números. A brincadeira consiste basicamente em jogar uma pedrinha (marcador) sobre um trajeto com espaços demarcados e numerados de um a dez, que vai do “inferno” ao “céu”. A criança percorre esse trajeto saltando em um ou dois pés, inicialmente em ordem crescente e depois decrescente, sendo que no trajeto não pode pisar no espaço onde está o marcador. Porém, em alguns lugares, além da regra de não pisar na casa onde está o marcador, existe outra, em que quem conseguiu chegar ao céu tem o direito de possuir um dos espaços numerados, de modo que ao voltar a jogar a pedrinha, no espaço que essa cair ficará marcado o nome da criança enquanto as outras não poderão mais pisar nessa nova demarcação nominada. 13 Figura 3. T hinkstock/G etty Im ages Às vezes o que mudará de um local para outro não é a regra, mas a canção, como por exemplo, na brincadeira “corre cotia”. Essa brincadeira acontece com as crianças sentadas em círculo, cantando uma canção enquanto uma participante corre em volta. Ao final da música essa coloca o objeto atrás de um colega e esse deve pegar o objeto, levantar-se e tentar pegar a mesma criança que lhe colocou o objeto, a qual deverá sentar no local da criança que foi escolhida. Além de trabalhar a noção de espaço, lateralidade, entre outros aspectos, pode- se contextualizar as diferenças da música utilizada como a seguir: Quadro 1. Música 1 Música 2 Música 3 Corre cotia Corre cotia Corre cotia de noite e de dia Atrás da tia Na casa da tia Debaixo da cama da sua tia Corre cipó Corre cipó Corre cipó na casa da vó Atrás da vó Na casa da vó Lá tem um cachorrinho chamado totó Tenho um cachorrinho Lencinho na mão Ele é bonitinho de um lado só Que chama Totó Caiu no chão É um, é dois, é três Ele é bonitinho Moça bonita Acabou a sua vez 14 Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil De uma perna só Do meu coração Corre Tereza Posso jogar? Atrás da mesa Não! Corre João Ninguém vai olhar? Atrás do feijão Não Lencinho branco Joguei! Caiu no chão Moça bonita Do meu coração Fonte: <http://www.educasempre.com/2012/08/brincadeiras-folcloricas.html>. Já na brincadeira do faz de conta a criança usa seu imaginário e sua criatividade para buscar ideias e criar seu próprio mundo. A base nessa brincadeira é o simbolismo e a criança imita tudo o que vê. O professor pode explorar as ideias que surgirem durante a brincadeira para trabalhar questões sociais e símbolos. Na brincadeira de construção a criança recombina elementos perceptuais e emocionais. Ao brincar ela expressa suas emoções e a sua percepção da realidade em que vive. Dessa maneira, ela consegue assimilar as regras e os papeis assumidos em uma sociedade de maneira mais fácil e significativa. Ela começa a compreender o mundo e o comportamento humano. O referencial curricular nacional para a Educação Infantil reforça a ideia da importância de se oferecer para as crianças atividades voltadas à brincadeira ou às aprendizagens que ocorrem por meio de ação em grupo, pois essa possibilidade amplia o espaço da criança em exercer sua capacidade de criação. Ao brincar, a criança recria, pensa e experimenta o mundo. É importante ressaltar que existe uma diferença entre a situação do jogo, que é a da iniciativa infantil e que surge da sua intenção e curiosidade, assim como o jogo com finalidade pedagógica. O jogo em situação didática implica em um planejamento por parte do professor para alcançar os objetivos pré-determinados. Podemos utilizar jogos com regras pré-estabelecidas como atividades didáticas, porém é necessário que tenhamos a consciência que, embora os níveis de motivação e envolvimento se manifestem, as crianças não estarão brincando livremente nessa situação, diminuindo, assim, o grau de criatividade. Na utilização desses jogos o professor será um mediador entre a criança e o objeto a conhecer, organizando e possibilitando situações de aprendizagem que articulem os conhecimentos prévios trazidos pelas crianças àqueles que deseja transmitir. 15 Podemos usar como exemplo os jogos de tabuleiro existentes na brinquedoteca, onde há contagem de pontos para determinar o vencedor, aspecto em que o professor pode ensinar o sentido de números, a operação de somar etc. Dessa forma, pode reforçar um conceito aprendido em sala ou disparar uma base para se trabalhar tais noções em seguida. Na brinquedoteca não há somente jogos e brinquedos “industrializados”. A utilização de diversos materiais, como sucatas e objetos do dia a dia é bem interessante e estimula a criatividade infantil. Para o ensino das operações básicas da Matemática podemos reunir os alunos, distribuir o material escolhido, que podem ser palitos, grãos de feijão etc. – desde que tais materiais sejam iguais entre si – e formular questões com o material, como por exemplo: 2 + 4 = ? (separar 2 palitos + 4 palitos = 6 palitos), sendo que a montagem ficará visualmente assim: II + IIII = IIIIII. Ao manusear um material concreto, a criança terá mais facilidadede compreender o que lhe é abstrato. Em uma brincadeira como essa, que é bem simples, podemos trabalhar a adição, a subtração, a multiplicação e a divisão. Nota-se que os jogos e brincadeiras podem ser utilizados para ajudar os alunos na superação de bloqueios que geralmente existem na aprendizagem de conceitos matemáticos, os quais são utilizados no dia a dia através da quantificação, da ordenação de objetos, do reconhecimento de formas geométricas, da realização de contas etc. Verifica-se em uma criança que demonstra certa dificuldade em realizar contas na sala de aula que essa não apresentará a mesma dificuldade para, por exemplo, quantificar enquanto está jogando, pois estando motivada, consegue constatar quem ganhou e quem perdeu basicamente somando os pontos. É comum as crianças terem muita dificuldade em compreender as operações matemáticas que envolvem sinais positivos e negativos. É difícil, por exemplo, entender que para solucionar operações que envolvam sinais negativos deve-se somar – por exemplo: -4 - -2 = -6. Ao ir para a brinquedoteca e jogar Banco imobiliário, onde há situações do jogo que envolvem questões financeiras há a promoção desse conceito, ou qualquer outro jogo que estimule tal pensamento, a criança terá mais facilidade na compreensão do sentido trabalhado em sala de aula. Figura 4. T hinkstock/G etty Im ages 16 Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil Nesse processo é interessante que o professor incentive o aluno a escrever o que está ocorrendo durante o jogo. Esse procedimento auxiliará na sistematização do conceito que, até então, era difícil de ser assimilado. A criança entenderá o que escreveu no jogo como equivalência às contas feitas em sala de aula, ou seja, registrará no papel as mesmas operações matemáticas, sistematizando o aprendizado ocorrido no jogo. Dessa forma, os jogos foram usados pelos professores como estratégias específicas para conduzir a passagem dos conteúdos espontâneos para aqueles escolarizados, pois durante o jogo ocorre a troca de informações entre as crianças e entre o professor, o que leva a uma reflexão da situação e desenvolve o raciocínio. Nesse processo o professor deve estar atento aos erros e acertos e trabalhar as situações para que a criança possa, diante dos conhecimentos adquiridos na sala de aula, compreender e construir conceitos mais elaborados. Como mediador da aprendizagem, durante a utilização de um jogo o professor deve observar alguns pontos importantes: • Seu fator intencional em relação aos processos cognitivos da criança, às necessidades dessa e à sua forma de aprender. Isso auxiliará na proposta de atividade; • A imagem que a criança está construindo de si e dos outros, por meio da relação feita sobre a sua capacidade e dos demais envolvidos no jogo. Assim, o professor poderá levá- la a respeitar as diferenças e estimular atitudes de perseverança e otimismo; • O nível de motivação e criatividade da criança, pois ao perceber sinais de cansaço o professor deve animar ou propor nova atividade à turma. Os jogos e brincadeiras também são muito utilizados na alfabetização. Nesse espaço podemos usar vários jogos que podem ser construídos utilizando os nomes próprios das crianças, tais como bingo, jogo da memória e dominó e nos quais imagens ou números são substituídos por letras dos nomes dos respectivos alunos, tornando a brincadeira ou o jogo mais significativo para a criança. Podemos também utilizar letras presas na roupa de cada uma das crianças e solicitar que se separem em vogais, em consoantes, que formem sílabas e pequenas palavras. Além de auxiliar na alfabetização, essa brincadeira também estimula a socialização, pois a criança estará em constante movimento e a cada situação se unirá a outras crianças. Ao utilizar a brinquedoteca como espaço de aprendizagem e ao propor uma atividade lúdica com finalidade pedagógica dirigida, o professor deverá ter bem definida qual a finalidade da utilização dessa atividade, quais conceitos devem ser apresentados durante a atividade, assim como o público e o número de participantes aos quais que se destinam tal atividade. Deverá organizar previamente o material, as possíveis adaptações na atividade, tanto nas estratégias como nas suas regras e escolher o espaço ideal a ser utilizado. Dessa forma, levando em consideração o nível de desenvolvimento da criança, o professor poderá escolher a atividade e os brinquedos de acordo com seus objetivos. Como vimos durante a leitura desta unidade, através dos exemplos podemos desenvolver vários conceitos com as brincadeiras, tais como: • Comparações diversas num mesmo brinquedo ou entre vários brinquedos; • Composições (brinquedos de montar/desmontar); 17 • Análises diversas (cor, tamanho etc.); • Associações (também cor, tamanho, modelo etc.); • Medidas e cálculos; • Criações, deduções etc. Como exemplo de brinquedos relacionados com os principais conceitos trabalhados, podemos citar: a) Bloco de construção – auxilia o desenvolvimento do pensamento abstrato; leva ao conhecimento das formas geométricas; explora as diferenças de tamanho, forma e espaço; desenvolve o reconhecimento de semelhanças e diferenças, auxilia na aquisição de conceitos matemáticos – maior do que, menor do que, acima do(a), abaixo do(a) etc.; desenvolve a solução de problemas; b) Pinos mágicos – descrição de cores e construção de formas e figuras; c) Quebra-cabeça – noção de quantidade, tamanho, forma, cor e ordem; d) Dominó – noção de quantidade, forma, cor, ordem, letras, silabas, palavras, entre outros aspectos; e) Jogo da memória – vocabulário, números, formas e cores; f) Jogo de loto – reconhecimento de objetos por semelhança e vocabulário; g) Jogo de encaixe – discriminação de formas geométricas, comparação de tamanho e de cor; h) Jogos de numeral e quantidade – leva à associação de números à ideia de quantidade, de sequência numérica, contagem e reconhecimento de números; i) Jogo de balança – descoberta da relação entre peso e quantidade; j) Jogo de varetas – identificação de cores e noção de adição; k) Jogo de boliche – noção de adição; l) Jogos de esquema corporal – noção de direita e esquerda, conhecimento das partes do corpo. Vale ressaltar que além dos brinquedos – e brincadeiras – escolhidos de acordo com a faixa etária, para aprender conceitos necessários existe outro fator importante que ocorre na brinquedoteca e que promove o desenvolvimento da aprendizagem: como estudamos anteriormente, esse espaço é propício para desenvolver atividades que visem estimular as inteligências múltiplas, pois embora cada criança demonstre mais habilidades para uma ou um conjunto de inteligências, a forma de como lidar com essa(s) e a maneira de se expressar ao mundo dependerá de vários fatores ambientais, culturais e genéticos. Portanto, tais características podem ser desenvolvidas com atividades específicas, como mostra o Quadro a seguir: 18 Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil Quadro 2. Inteligência Habilidade Estímulo Lógico-matemática Facilidade em lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los Quebra-cabeça, trabalhar com resoluções de problemas, formas geométricas etc. Linguística Facilidade para usar a linguagem a fim de transmitir ideias Contar histórias, fantoches etc. Corporal-cenestésica Facilidade em resolver situações ou produzir resultados usando parte ou todo o corpo Jogos e atividades motoras, teatro, mímica etc. Musical Facilidade para entender, apreciar, compor ou reproduzir uma musica Cantar, manusear instrumentos etc. Espacial-visual Facilidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa Jogos para a lateralidade, noção de acima, abaixo etc. Intercomunicação Facilidade em se relacionar e autoconhecimento Teatro, criar histórias etc. Fonte: elaborado pela conteudista. A brinquedotecaé um espaço importante para a aprendizagem do aluno, pois proporciona a criança um ambiente onde a motivação e a possibilidade de troca é ampla, o que potencializará a exploração e a construção do conhecimento. Porém, como trabalho pedagógico, devem ser ofertados estímulos externos e também ocorrer à sistematização de conceitos aprendidos em outras situações que não as do jogo. Dessa forma, ao brincar, além de compreender os conceitos trabalhados em sala ou desenvolvê-los, também serão estimuladas as múltiplas inteligências da criança. 19 Material Complementar • Jogos e brincadeiras para a Educação Infantil disponíveis em: <http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/jogos-brincadeiras. shtml>. Neste site você conferirá tudo sobre o jogar e o brincar para crianças da creche e da pré-escola. Ideias para usar com a turma, reportagens, vídeos, jogos online e muito mais. Boa diversão! • Brincadeiras folclóricas são jogos populares passados de geração a geração. São importantes porque fazem com que hábitos e costumes sejam transmitidos na sociedade, mantendo as características e marcas de uma comunidade. No site disponível em: <http://www.educasempre. com/2012/08/brincadeiras-folcloricas.html> você encontrará uma lista de brincadeiras folclóricas e como essas são realizadas. • Os jogos e brincadeiras auxiliam na aprendizagem de conceitos escolares. Através do jogo da amarelinha, por exemplo, somos levados a compreender a ordenação e escrita numérica, estimulamos a inteligência corporal- cenestésica, entre outros fatores. Dessa forma, assista ao vídeo disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/video- diferentes-maneiras-pular-amarelinha-599895.shtml> e analise a motivação da criança, assim como o papel docente. • No livro A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica, a autora Maria Cristina Trois Dorneles Rau tem como objetivo tratar questões relativas à ludicidade como atitude pedagógica, seu uso, além do papel do professor, entre outros assuntos. Você encontra essa publicação na biblioteca virtual deste curso. http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/jogos-brincadeiras.shtml http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/jogos-brincadeiras.shtml http://www.educasempre.com/2012/08/brincadeiras-folcloricas.html http://www.educasempre.com/2012/08/brincadeiras-folcloricas.html http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/video-diferentes-maneiras-pular-amarelinha-599895.shtml http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/video-diferentes-maneiras-pular-amarelinha-599895.shtml 20 Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil Referências CAIADO, E.; CAMPOS, C. Promovendo a interdisciplinaridade na escola. [20--]. Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/orientacoes/promovendo-interdisciplinaridade-na- escola.htm>. Acesso em: 11 dez. 2014. CÓRIA-SABINI, M. A.; LUCENA, R. F. Jogos e brincadeiras: na educação infantil. Campinas, SP: Papirus, 2004. CUNHA, N. H. S. Brinquedos: desafios e descobertas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre, RS: Artmed, 2000. KISHIMOTO, T. M. (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2000. SANTOS, S. M. P. (Org.). Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. SOUZA, G. S. R. B. A importância da brinquedoteca na aprendizagem infantil. [20--]. Disponível em: <http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/4584a86a3539cd9e- 1930286ea5397579_1577.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2014. 21 Anotações
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