Buscar

III_Teorico

Prévia do material em texto

Brinquedoteca e suas 
Diferentes Dimensões
As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao 
Desenvolvimento Infantil
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Luciene Diniz e 
Profa. Ms. Maria Helena Aita Kerbej
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco 
5
Un
id
ad
e As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico 
ao Desenvolvimento Infantil
Identificar as possibilidades de interdisciplinaridade nos espaços da brinquedoteca 
e a importância dessa para o desenvolvimento da criança.
Nesta unidade continuaremos a discutir a importância do lúdico no desenvolvimento da criança, 
tendo como foco o uso da brinquedoteca como espaço que possibilita a interdisciplinaridade, 
dessa forma, auxiliando o seu aprendizado. 
Não se esqueça de acessar as sugestões de links e materiais complementares para enriquecer 
seu conhecimento. Fique atento(a) às atividades propostas e aos respectivos prazos.
Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• As dimensões da brinquedoteca: do Ensino 
Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
T
hinkstock/G
etty Im
ages
6
Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
Para iniciarmos esta unidade reflita sobre a seguinte questão:
Os jogos e brincadeiras auxiliam na aprendizagem dos conceitos escolares?
Para embasar sua opinião, assista ao vídeo Alfabetizando com jogos pedagógicos 
por Aline e Tânia Lopes, disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=5t2vLB3C82A> e perceba como essas duas professoras utilizam os 
jogos pedagógicos para trabalhar a alfabetização de seus alunos.
Contextualização
https://www.youtube.com/watch?v=5t2vLB3C82A
https://www.youtube.com/watch?v=5t2vLB3C82A
7
As dimensões da brinquedoteca: do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento 
Infantil
Já entendemos que o brincar e o jogar são importantes para o desenvolvimento integral da 
criança nas esferas motora, cognitiva e afetiva, e verificamos também que a brinquedoteca é um 
dos espaços destinados a esse objetivo.
Na unidade anterior aprofundamos o estudo sobre a importância do lúdico no desenvolvimento 
integral da criança e desenvolvemos os conceitos de brinquedo, jogo e brincadeira.
Nesta unidade vamos continuar a discutir a brinquedoteca como local destinado ao 
desenvolvimento da criança através do lúdico, porém enfatizando a questão das possibilidades 
que esse espaço oferece. 
Nosso objetivo nesta unidade é identificar as possibilidades de interdisciplinaridade que 
ocorrem nos espaços da brinquedoteca.
A princípio se faz necessário que entendamos o conceito de interdisciplinaridade e sua 
importância no processo de aprendizagem da criança.
O movimento da interdisciplinaridade surgiu na Europa em meados da década de 1960. 
Nesta época, as Ciências estavam divididas em muitas disciplinas e alguns professores tentavam 
buscar o rompimento com uma educação fragmentada, desta forma a interdisciplinaridade 
restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas, levando a um saber unificado que preservaria 
a integridade do pensamento. 
Podemos então entender que a interdisciplinaridade busca a construção do conhecimento 
de maneira global, rompendo com as fronteiras das disciplinas, através da relação feita entre 
essas, no momento em que nos deparamos com um objeto de estudo, proporcionando um 
diálogo entre as mesmas, relacionando-as entre si para a compreensão da realidade, evitando a 
fragmentação do conhecimento. Em resumo, a interdisciplinaridade utiliza os conhecimentos de 
várias disciplinas para resolver um problema ou compreender um determinado fenômeno sob 
diferentes pontos de vista.
Figura 1.
 
T
hinkstock/G
etty Im
ages
8
Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
No Brasil, o movimento começou a ganhar forças na década de 1970. A interdisciplinaridade 
começou a ser abordada a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n.º 5.692/71, sendo 
reforçada na LDB n.º 9.394/96. Desde então, sua presença no cenário educacional brasileiro 
tem se tornado mais presente, não só pela influência da legislação, mas também por estar 
presente nas Propostas Curriculares Nacionais (PCN), que pensando no aprendizado do 
aluno, propõe a utilização da interdisciplinaridade como forma de desenvolver um trabalho de 
integração dos conteúdos de uma disciplina com outras áreas de conhecimento. Sendo assim, a 
interdisciplinaridade tornou-se cada vez mais presente no discurso e na prática de professores.
Vale a pena ressaltar que não se trata de eliminar as disciplinas, trata-se de torná-las 
comunicativas entre si. A interdisciplinaridade deve ser compreendida como uma forma de 
trabalhar, no qual a partir de um tema ou de uma ação disparadora se aborda diferentes disciplinas. 
É compreender, entender as partes de ligação entre as diferentes áreas de conhecimento, 
unindo-se para que ocorra a aprendizagem, resgatando possibilidades e ultrapassando o pensar 
fragmentado. É a busca constante de investigação, na tentativa de superação do saber.
Figura 2.
 
Português Matemática
Química Geogra�a
CiênciasFísica
HistóriaInglês
Sob esse olhar, faz-se necessário que o professor, ao trabalhar com a interdisciplinaridade, 
assuma uma atitude frente ao conhecimento, pois interdisciplinaridade é antes de tudo ação. 
Devemos lembrar que nos dias atuais o professor não é mais um simples provedor de 
conhecimento, agora atua como mediador da aprendizagem. Deve provocar e questionar o 
aluno, levando-o ao sucesso de suas pesquisas e observações. Cabe ao professor o papel de 
orientação e ajuda, visando o objetivo de possibilitar aos alunos a aprendizagem de determinados 
conteúdos. Como mediador da aprendizagem, o professor desempenha papel fundamental na 
organização de atividades e na formulação de situações que propiciem aos alunos oportunidades 
de aprendizagem de forma significativa. 
9
Como vimos nas unidades anteriores, o caráter lúdico nas brincadeiras, jogos e atividades infantis 
são essenciais para o desenvolvimento das crianças e para o processo de ensino e aprendizagem. 
Torna-se então evidente que os professores e os futuros docentes devem tomar consciência disso 
e a partir de então organizar atividades e situações onde o lúdico esteja presente. 
Ao utilizar a brinquedoteca como recurso no processo de ensino-aprendizagem, cria-se uma 
situação favorável ao aprendizado significativo da criança. Esse é um ambiente que propicia isso, 
pois é formado por cores, formas, desenhos, objetos e atividades onde a criança pode soltar a 
imaginação e se sentir livre para se expressar sem preocupação. É fato que as atividades lúdicas 
correspondem a um impulso natural da criança, e neste sentido, satisfazem uma necessidade 
interior, apresentando dois elementos característicos: o prazer e o esforço espontâneo. O 
envolvimento emocional das crianças ao realizar atividades lúdicas torna a aprendizagem uma 
ação com forte teor motivacional. 
Essa relação do lúdico com a aprendizagem proporcionará à criança estabelecer relações 
cognitivas às experiências vivenciadas, de maneira significativa, pois além de aprender, a criança 
desenvolverá a sua criatividade e criará simbolismos conforme procedimentos metodológicos 
compatíveis a essa prática.
Através da atividade lúdica, a criança seleciona ideias, as quais por meio da relação feita com o 
seu mundo, faz desenvolver conceitos e raciocínio lógico de acordo com o seu desenvolvimento, 
além de estimular a sua sociabilização.
A sociabilização entre os alunos é importante no desenvolvimento integral da criança e 
o professor encontra no ambiente da brinquedoteca um campo fértil, não só para o ensino-
aprendizagem de habilidades e conhecimentos, mas também um espaço de interação mútua 
que possibilita levar o aluno a crescer, respeitar-se e respeitar os outros. Através dos jogos e 
brincadeiras que ocorrem na brinquedoteca, o professor tem a possibilidade de elaborar 
objetivos e procedimentos que tenham por meta melhorar ou promover a competênciasocial e 
as relações interpessoais dos alunos.
Na brinquedoteca, além de promover as relações sociais, o professor também leva seus 
alunos, através dos jogos e da brincadeira, a uma aprendizagem eficaz da compreensão da 
realidade em sua complexidade.
Durante o brincar a criança acaba construindo regras para o funcionamento da atividade. Essas 
regras estão intimamente ligadas à realidade em que a criança está inserida e da cultura em que 
se encontra, pois no brincar reproduz o que vive no seu dia a dia. Ao interagirem umas com as 
outras, as crianças acabam criando a própria maneira de agir ao brincar, além de promoverem a 
construção de suas próprias regras, que são elaboradas de comum acordo entre elas.
Ao brincar, a criança acaba criando um espaço de fantasia onde consegue se relacionar 
com as coisas que a norteiam, elaborando novos papéis para si e para os ambientes, ou seja, a 
criança constrói sua própria realidade e percebe as mudanças ocorridas na sociedade na qual 
faz parte. Existe uma compreensão do mundo e do comportamento humano.
Aqui vale relembrar que as brincadeiras são ferramentas indispensáveis para o desenvolvimento 
da criança quando se fala em lúdico, pois permite que elas construam a sua visão do mundo. 
Ao brincar a criança cria e utiliza-se de regras, as quais, muitas estão presentes no seu dia a 
dia. Também imita posicionamentos e atitudes dos adultos que a cercam. Dessa maneira e com 
10
Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
o uso de brinquedos ou outros objetos vão dando sentido, de maneira simbólica, ao que está 
vivendo. Ao brincar, a criança está alterando o contexto e a si mesma, pois acaba incorporando 
alguns significados ao representar a sua realidade.
Pode-se então dizer que o brincar envolve aspectos cognitivos, afetivos e sociais e desenvolve 
inúmeras consequências para o desenvolvimento humano.
Vale ressaltar que ao brincar a criança é ativa em seu processo de aprendizagem 
e isso resultará em mudança de comportamento obtido através da experiência 
construída por vários fatores como: emocionais, relacionais, neurológicos 
e ambientais. Assim, concluímos que estamos em um eterno processo de 
aprendizagem e que podemos transformar o outro assim como a nós mesmos.
Dessa forma, ao pensar na brinquedoteca como espaço onde se cria importantes possibilidades 
para o aprendizado da criança, o professor irá ao encontro dos princípios da interdisciplinaridade 
ressaltados por Elen Campos Caiado ([20--]). São eles: noção de tempo, indivíduo ativo na sua 
aprendizagem, totalidade do saber e aprendizagem significativa.
Quando discorre sobre a noção de tempo, Caiado ([20--]) reforça que o aluno não tem tempo 
e nem local certo para aprender. Aprende o tempo todo e não apenas na sala de aula. Dessa 
forma, ao utilizar a brinquedoteca o professor proporcionará ao seu aluno um espaço onde a 
motivação e a possibilidade de troca serão amplas. Ao brincarem as crianças se socializarão e, 
através da atividade lúdica – seja a brincadeira ou o jogo –, trocarão pontos de vistas do mesmo 
evento, pois cada uma possui uma realidade e, como vimos, tanto na brincadeira como no jogo 
a realidade vem à tona através das regras criadas ou do faz de conta que recria o contexto em 
que ela vive.
A autora também afirma que é o indivíduo que aprende. Como já foi dito, o professor é 
um mediador no processo de ensino onde a criança é um ser ativo. Na brinquedoteca, por ser 
um espaço onde ela se sente à vontade devido à aproximação do que conhece e a motiva, a 
aprendizagem é potencializada.
Para a autora o aprendizado envolve emoção e razão no processo de reprodução e 
criação do conhecimento. Dessa forma, tanto a criança, quanto o jovem e o adulto aprendem 
quando o conteúdo do ensino é significativo para si. Se o brinquedo, a brincadeira e o jogo 
possibilitam a reprodução da realidade vivida pela criança, essa criará significados e mudará seu 
comportamento de maneira significativa.
Verifica-se que a criança em qualquer idade mostra uma grande atração pelos jogos 
e brincadeiras e nessas atividades mantém uma atenção prolongada, sendo incansáveis na 
repetição. Essas características: atenção dirigida para a atividade, repetição espontânea e 
prosseguimento são importantes no processo de aprendizagem. De maneira geral, a escola 
se esforça para conseguir estimular essas características através de dinâmicas educativas. Nos 
jogos e brincadeiras essas características desejáveis são espontâneas, mais um motivo para que 
os professores pensem na brinquedoteca como um importante espaço de aprendizagem.
11
Para Piaget a criança que joga desenvolve suas percepções, sua inteligência, suas tendências 
à experimentação, seus instintos sociais etc., porém – e infelizmente – esse teórico verifica que 
o jogo é um caso típico das dinâmicas negligenciadas pela escola tradicional, devido ao fato de 
parecer destituído de significado funcional. Para esse autor o jogo é um meio poderoso para a 
aprendizagem da leitura, do cálculo e da ortografia. 
Ao brincar e jogar a criança é estimulada a trocar ideias com as outras crianças, a experimentar, 
a levantar hipóteses, de modo que o jogo e a brincadeira são instrumentos que favorecem a 
relação entre o pensamento e a realidade, estimulando, assim, o desenvolvimento da cognição.
Através do jogo e da brincadeira, além do professor realizar uma dinâmica motivadora para 
o aprendizado, consegue verificar qual o nível de domínio que a criança tem dos conteúdos 
curriculares para, através dessa observação, agregar mais dados para planejar as atividades 
futuras de suas aulas.
Como vimos na unidade II, para Piaget há três tipos de jogos e esses se relacionam com as 
características de desenvolvimento da criança: jogo de exercício, jogo simbólico e jogo de regras. 
No período sensório motor é importante que na brinquedoteca se crie um ambiente com 
diversos tipos de materiais concretos para que as crianças os manipulem, pois é a fase do jogo 
de exercício, permitindo que as crianças formem conceitos práticos dos objetos que as cercam.
Já na fase do jogo simbólico, onde a criança transforma a realidade segundo as suas 
necessidades, representando-as, faz-se necessário que o espaço forneça vários brinquedos que 
lhe permitam utilizar de inúmeras formas, dando-lhes significados diversos. Brinquedos em 
miniaturas que representem objetos do dia a dia da criança, como móveis, carros e/ou pessoas 
são bem interessantes e estimulam a representação da realidade.
Já na fase do jogo de regras, onde o padrão normatiza as ações entre os participantes, deve-
se possibilitar brinquedos e jogos que permitam a exploração e a criação de regras, gerando a 
adaptação de ações individuais às regras do grupo, bem como respeito às diferenças. 
Em resumo, para cada fase de desenvolvimento infantil existe um tipo de jogo que deve 
ser mais explorado e, portanto, faz-se necessário um olhar sobre a escolha do que deve ser 
disponibilizado e escolhido, a fim de que seu uso possibilite a assimilação da realidade e o 
desenvolvimento cognitivo. Nesse enfoque, Vygotsky orienta que a escolha do jogo e da 
brincadeira deve ser planejada pelo professor e que os significados e “aprendizados” que a 
criança retira na situação do brincar devem ser discutidos e trabalhados pelo docente para 
tornarem-se conceitos específicos. 
Para esse autor, a melhor maneira para a criança aprender a ler e a escrever é aquela na 
qual descobre tais habilidades durante situações de brincadeiras. É necessário que as letras e a 
compreensão da escrita se tornem uma necessidade na vida infantil. O processo de transição da 
linguagem falada para a linguagem escrita deveria ter como estágio preparatório o desenhar e o 
brincar como base. Ao desenhar e brincar com as letras surgiria a curiosidade para compreender 
o que está ocorrendo e, dessa forma, a criança estaria motivada a aprender.
Essa ideia é reforçada por Kishimoto (2000) quando afirmaque a atividade lúdica possui 
uma grande motivação interna de quem a realiza e, portanto, a utilização do jogo potencializa 
a exploração e a construção do conhecimento, porém não basta somente isso para que o 
aprendizado ocorra. Quando utilizamos o jogo como um trabalho pedagógico, devemos dispor 
de estímulos externos para que ocorra a sistematização de conceitos aprendidos em outras 
situações que não as do jogo em si.
12
Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
O uso do jogo na aprendizagem remota aos tempos do Renascimento, onde 
se enxergava na brincadeira uma dinâmica que favorecia o desenvolvimento 
da inteligência e facilitava o estudo, pois atendia à necessidade das crianças. A 
partir do século XX a importância dada ao jogo como recurso para o ensino se 
fez mais presente devido ao fato de que o brincar educativo oferecia durante o 
ato de aprendizagem propriedades lúdicas de prazer, de criação, de ação ativa 
e de motivação. 
Nota-se, então, que durante a atividade lúdica o professor atua como mediador do processo 
de aprendizagem e nesse papel, ao longo das situações de jogos e brincadeiras, deve propor 
perguntas e disparadores que agucem a curiosidade da criança. Deve levar a criança a descobrir 
todas as possibilidades oferecidas pelo jogo, porém, sem uma condução direta, ou seja, deve 
sugerir, dar pistas, orientar, mas respeitar o momento de aprendizagem de cada criança, pois 
a dinâmica deve ser enriquecida pelas situações criadas pelas próprias crianças. É nesse meio 
rico de possibilidades e estímulos que os conceitos aparecerão, tornando necessário então um 
reforço por parte do professor, não apenas no momento da atividade, mas também depois, em 
outras situações.
Dessa forma, na brinquedoteca, ao brincar, por exemplo, manipulando as peças de um 
quebra-cabeça, a criança estará diferenciando cores, formas e tamanhos. Esses conceitos podem 
ser explorados e sistematizados nos outros espaços para reforçar o que foi aprendido.
Como já foi visto nas outras unidades, em seu artigo A importância da brinquedoteca na 
aprendizagem infantil, Souza ([20--]) classifica a brincadeira como tradicional, faz de conta 
e de construção.
Vimos que a brincadeira tradicional é aquela que está presente na sociedade há muito 
tempo, como amarelinha, pega-pega, empinar pipa, cantigas de roda, entre outras. Essas 
brincadeiras estão ligadas ao folclore, refletem a mentalidade popular e se expressam, 
sobretudo, pela oralidade. Esse tipo de brincadeira perpetua os costumes e valores de um 
povo em um determinado período. O professor pode explorar essas brincadeiras para mostrar 
o contexto histórico, os diferentes tipos de regras para a mesma brincadeira, as diferenças 
entre as pessoas etc.
Por exemplo, a brincadeira de amarelinha possui várias formas de jogar. Nessa, a criança 
pode reforçar os conceitos aprendidos sobre ordem crescente e decrescente dos números. A 
brincadeira consiste basicamente em jogar uma pedrinha (marcador) sobre um trajeto com 
espaços demarcados e numerados de um a dez, que vai do “inferno” ao “céu”. A criança 
percorre esse trajeto saltando em um ou dois pés, inicialmente em ordem crescente e depois 
decrescente, sendo que no trajeto não pode pisar no espaço onde está o marcador. Porém, em 
alguns lugares, além da regra de não pisar na casa onde está o marcador, existe outra, em que 
quem conseguiu chegar ao céu tem o direito de possuir um dos espaços numerados, de modo 
que ao voltar a jogar a pedrinha, no espaço que essa cair ficará marcado o nome da criança 
enquanto as outras não poderão mais pisar nessa nova demarcação nominada. 
13
Figura 3.
T
hinkstock/G
etty Im
ages
Às vezes o que mudará de um local para outro não é a regra, mas a canção, como 
por exemplo, na brincadeira “corre cotia”. Essa brincadeira acontece com as 
crianças sentadas em círculo, cantando uma canção enquanto uma participante 
corre em volta. Ao final da música essa coloca o objeto atrás de um colega e 
esse deve pegar o objeto, levantar-se e tentar pegar a mesma criança que lhe 
colocou o objeto, a qual deverá sentar no local da criança que foi escolhida. 
Além de trabalhar a noção de espaço, lateralidade, entre outros aspectos, pode-
se contextualizar as diferenças da música utilizada como a seguir:
Quadro 1.
Música 1 Música 2 Música 3
Corre cotia Corre cotia Corre cotia de noite e de dia
Atrás da tia Na casa da tia Debaixo da cama da sua tia
Corre cipó Corre cipó Corre cipó na casa da vó
Atrás da vó Na casa da vó Lá tem um cachorrinho chamado totó
Tenho um cachorrinho Lencinho na mão Ele é bonitinho de um lado só
Que chama Totó Caiu no chão É um, é dois, é três
Ele é bonitinho Moça bonita Acabou a sua vez
14
Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
De uma perna só Do meu coração
Corre Tereza Posso jogar?
Atrás da mesa Não!
Corre João Ninguém vai olhar?
Atrás do feijão Não
Lencinho branco Joguei!
Caiu no chão
Moça bonita
Do meu coração
Fonte: <http://www.educasempre.com/2012/08/brincadeiras-folcloricas.html>.
Já na brincadeira do faz de conta a criança usa seu imaginário e sua criatividade para buscar 
ideias e criar seu próprio mundo. A base nessa brincadeira é o simbolismo e a criança imita tudo 
o que vê. O professor pode explorar as ideias que surgirem durante a brincadeira para trabalhar 
questões sociais e símbolos.
Na brincadeira de construção a criança recombina elementos perceptuais e emocionais. Ao 
brincar ela expressa suas emoções e a sua percepção da realidade em que vive. Dessa maneira, 
ela consegue assimilar as regras e os papeis assumidos em uma sociedade de maneira mais fácil 
e significativa. Ela começa a compreender o mundo e o comportamento humano. 
O referencial curricular nacional para a Educação Infantil reforça a ideia da importância de 
se oferecer para as crianças atividades voltadas à brincadeira ou às aprendizagens que ocorrem 
por meio de ação em grupo, pois essa possibilidade amplia o espaço da criança em exercer sua 
capacidade de criação. Ao brincar, a criança recria, pensa e experimenta o mundo.
É importante ressaltar que existe uma diferença entre a situação do jogo, que é a da iniciativa 
infantil e que surge da sua intenção e curiosidade, assim como o jogo com finalidade pedagógica. 
O jogo em situação didática implica em um planejamento por parte do professor para alcançar 
os objetivos pré-determinados. 
Podemos utilizar jogos com regras pré-estabelecidas como atividades didáticas, porém é 
necessário que tenhamos a consciência que, embora os níveis de motivação e envolvimento se 
manifestem, as crianças não estarão brincando livremente nessa situação, diminuindo, assim, o 
grau de criatividade.
Na utilização desses jogos o professor será um mediador entre a criança e o objeto a conhecer, 
organizando e possibilitando situações de aprendizagem que articulem os conhecimentos prévios 
trazidos pelas crianças àqueles que deseja transmitir. 
15
Podemos usar como exemplo os jogos de tabuleiro existentes na brinquedoteca, onde há 
contagem de pontos para determinar o vencedor, aspecto em que o professor pode ensinar 
o sentido de números, a operação de somar etc. Dessa forma, pode reforçar um conceito 
aprendido em sala ou disparar uma base para se trabalhar tais noções em seguida.
Na brinquedoteca não há somente jogos e brinquedos “industrializados”. A utilização de 
diversos materiais, como sucatas e objetos do dia a dia é bem interessante e estimula a criatividade 
infantil. Para o ensino das operações básicas da Matemática podemos reunir os alunos, distribuir 
o material escolhido, que podem ser palitos, grãos de feijão etc. – desde que tais materiais sejam 
iguais entre si – e formular questões com o material, como por exemplo: 2 + 4 = ? (separar 2 
palitos + 4 palitos = 6 palitos), sendo que a montagem ficará visualmente assim: II + IIII = IIIIII. 
Ao manusear um material concreto, a criança terá mais facilidadede compreender o que lhe 
é abstrato. Em uma brincadeira como essa, que é bem simples, podemos trabalhar a adição, a 
subtração, a multiplicação e a divisão.
 Nota-se que os jogos e brincadeiras podem ser utilizados para ajudar os alunos na superação 
de bloqueios que geralmente existem na aprendizagem de conceitos matemáticos, os quais são 
utilizados no dia a dia através da quantificação, da ordenação de objetos, do reconhecimento de 
formas geométricas, da realização de contas etc. Verifica-se em uma criança que demonstra certa 
dificuldade em realizar contas na sala de aula que essa não apresentará a mesma dificuldade 
para, por exemplo, quantificar enquanto está jogando, pois estando motivada, consegue 
constatar quem ganhou e quem perdeu basicamente somando os pontos. 
É comum as crianças terem muita dificuldade em compreender as operações matemáticas 
que envolvem sinais positivos e negativos. É difícil, por exemplo, entender que para solucionar 
operações que envolvam sinais negativos deve-se somar – por exemplo: -4 - -2 = -6. Ao ir para 
a brinquedoteca e jogar Banco imobiliário, onde há situações do jogo que envolvem questões 
financeiras há a promoção desse conceito, ou qualquer outro jogo que estimule tal pensamento, 
a criança terá mais facilidade na compreensão do sentido trabalhado em sala de aula. 
Figura 4.
 
T
hinkstock/G
etty Im
ages
16
Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
Nesse processo é interessante que o professor incentive o aluno a escrever o que está ocorrendo 
durante o jogo. Esse procedimento auxiliará na sistematização do conceito que, até então, era 
difícil de ser assimilado. A criança entenderá o que escreveu no jogo como equivalência às 
contas feitas em sala de aula, ou seja, registrará no papel as mesmas operações matemáticas, 
sistematizando o aprendizado ocorrido no jogo. 
Dessa forma, os jogos foram usados pelos professores como estratégias específicas para 
conduzir a passagem dos conteúdos espontâneos para aqueles escolarizados, pois durante o 
jogo ocorre a troca de informações entre as crianças e entre o professor, o que leva a uma 
reflexão da situação e desenvolve o raciocínio. Nesse processo o professor deve estar atento 
aos erros e acertos e trabalhar as situações para que a criança possa, diante dos conhecimentos 
adquiridos na sala de aula, compreender e construir conceitos mais elaborados.
Como mediador da aprendizagem, durante a utilização de um jogo o professor deve observar 
alguns pontos importantes:
• Seu fator intencional em relação aos processos cognitivos da criança, às necessidades 
dessa e à sua forma de aprender. Isso auxiliará na proposta de atividade;
• A imagem que a criança está construindo de si e dos outros, por meio da relação feita 
sobre a sua capacidade e dos demais envolvidos no jogo. Assim, o professor poderá levá-
la a respeitar as diferenças e estimular atitudes de perseverança e otimismo;
• O nível de motivação e criatividade da criança, pois ao perceber sinais de cansaço o 
professor deve animar ou propor nova atividade à turma.
Os jogos e brincadeiras também são muito utilizados na alfabetização. Nesse espaço podemos 
usar vários jogos que podem ser construídos utilizando os nomes próprios das crianças, tais 
como bingo, jogo da memória e dominó e nos quais imagens ou números são substituídos por 
letras dos nomes dos respectivos alunos, tornando a brincadeira ou o jogo mais significativo 
para a criança.
Podemos também utilizar letras presas na roupa de cada uma das crianças e solicitar que se 
separem em vogais, em consoantes, que formem sílabas e pequenas palavras. Além de auxiliar 
na alfabetização, essa brincadeira também estimula a socialização, pois a criança estará em 
constante movimento e a cada situação se unirá a outras crianças.
Ao utilizar a brinquedoteca como espaço de aprendizagem e ao propor uma atividade lúdica 
com finalidade pedagógica dirigida, o professor deverá ter bem definida qual a finalidade da 
utilização dessa atividade, quais conceitos devem ser apresentados durante a atividade, assim 
como o público e o número de participantes aos quais que se destinam tal atividade. Deverá 
organizar previamente o material, as possíveis adaptações na atividade, tanto nas estratégias 
como nas suas regras e escolher o espaço ideal a ser utilizado. 
Dessa forma, levando em consideração o nível de desenvolvimento da criança, o professor 
poderá escolher a atividade e os brinquedos de acordo com seus objetivos. Como vimos durante 
a leitura desta unidade, através dos exemplos podemos desenvolver vários conceitos com as 
brincadeiras, tais como: 
• Comparações diversas num mesmo brinquedo ou entre vários brinquedos; 
• Composições (brinquedos de montar/desmontar);
17
• Análises diversas (cor, tamanho etc.);
• Associações (também cor, tamanho, modelo etc.);
• Medidas e cálculos;
• Criações, deduções etc.
Como exemplo de brinquedos relacionados com os principais conceitos trabalhados, 
podemos citar:
a) Bloco de construção – auxilia o desenvolvimento do pensamento abstrato; leva ao 
conhecimento das formas geométricas; explora as diferenças de tamanho, forma e 
espaço; desenvolve o reconhecimento de semelhanças e diferenças, auxilia na aquisição 
de conceitos matemáticos – maior do que, menor do que, acima do(a), abaixo do(a) etc.; 
desenvolve a solução de problemas;
b) Pinos mágicos – descrição de cores e construção de formas e figuras;
c) Quebra-cabeça – noção de quantidade, tamanho, forma, cor e ordem;
d) Dominó – noção de quantidade, forma, cor, ordem, letras, silabas, palavras, entre 
outros aspectos;
e) Jogo da memória – vocabulário, números, formas e cores;
f) Jogo de loto – reconhecimento de objetos por semelhança e vocabulário;
g) Jogo de encaixe – discriminação de formas geométricas, comparação de tamanho e de cor;
h) Jogos de numeral e quantidade – leva à associação de números à ideia de quantidade, de 
sequência numérica, contagem e reconhecimento de números; 
i) Jogo de balança – descoberta da relação entre peso e quantidade;
j) Jogo de varetas – identificação de cores e noção de adição;
k) Jogo de boliche – noção de adição;
l) Jogos de esquema corporal – noção de direita e esquerda, conhecimento das partes 
do corpo.
Vale ressaltar que além dos brinquedos – e brincadeiras – escolhidos de acordo com 
a faixa etária, para aprender conceitos necessários existe outro fator importante que ocorre 
na brinquedoteca e que promove o desenvolvimento da aprendizagem: como estudamos 
anteriormente, esse espaço é propício para desenvolver atividades que visem estimular as 
inteligências múltiplas, pois embora cada criança demonstre mais habilidades para uma ou um 
conjunto de inteligências, a forma de como lidar com essa(s) e a maneira de se expressar ao 
mundo dependerá de vários fatores ambientais, culturais e genéticos. Portanto, tais características 
podem ser desenvolvidas com atividades específicas, como mostra o Quadro a seguir:
18
Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
Quadro 2.
Inteligência Habilidade Estímulo
Lógico-matemática
Facilidade em lidar com séries 
de raciocínios, para reconhecer 
problemas e resolvê-los
Quebra-cabeça, trabalhar 
com resoluções de problemas, 
formas geométricas etc.
Linguística
Facilidade para usar a 
linguagem a fim de transmitir 
ideias
Contar histórias, fantoches etc.
Corporal-cenestésica
Facilidade em resolver situações 
ou produzir resultados usando 
parte ou todo o corpo
Jogos e atividades motoras, 
teatro, mímica etc.
Musical
Facilidade para entender, 
apreciar, compor ou reproduzir 
uma musica
Cantar, manusear instrumentos 
etc.
Espacial-visual
Facilidade para perceber o 
mundo visual e espacial de 
forma precisa
Jogos para a lateralidade, 
noção de acima, abaixo etc.
Intercomunicação
Facilidade em se relacionar e 
autoconhecimento
Teatro, criar histórias etc.
Fonte: elaborado pela conteudista.
A brinquedotecaé um espaço importante para a aprendizagem do aluno, pois 
proporciona a criança um ambiente onde a motivação e a possibilidade de troca 
é ampla, o que potencializará a exploração e a construção do conhecimento. 
Porém, como trabalho pedagógico, devem ser ofertados estímulos externos e 
também ocorrer à sistematização de conceitos aprendidos em outras situações 
que não as do jogo. Dessa forma, ao brincar, além de compreender os conceitos 
trabalhados em sala ou desenvolvê-los, também serão estimuladas as múltiplas 
inteligências da criança.
19
Material Complementar
• Jogos e brincadeiras para a Educação Infantil disponíveis em: 
<http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/jogos-brincadeiras.
shtml>. Neste site você conferirá tudo sobre o jogar e o brincar para crianças 
da creche e da pré-escola. Ideias para usar com a turma, reportagens, vídeos, 
jogos online e muito mais. Boa diversão! 
• Brincadeiras folclóricas são jogos populares passados de geração 
a geração. São importantes porque fazem com que hábitos e costumes 
sejam transmitidos na sociedade, mantendo as características e marcas 
de uma comunidade. No site disponível em: <http://www.educasempre.
com/2012/08/brincadeiras-folcloricas.html> você encontrará uma lista de 
brincadeiras folclóricas e como essas são realizadas. 
• Os jogos e brincadeiras auxiliam na aprendizagem de conceitos escolares. 
Através do jogo da amarelinha, por exemplo, somos levados a compreender 
a ordenação e escrita numérica, estimulamos a inteligência corporal-
cenestésica, entre outros fatores. Dessa forma, assista ao vídeo disponível 
em: <http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/video-
diferentes-maneiras-pular-amarelinha-599895.shtml> e analise a motivação 
da criança, assim como o papel docente. 
 
• No livro A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica, a autora 
Maria Cristina Trois Dorneles Rau tem como objetivo tratar questões relativas 
à ludicidade como atitude pedagógica, seu uso, além do papel do professor, 
entre outros assuntos. Você encontra essa publicação na biblioteca virtual 
deste curso. 
http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/jogos-brincadeiras.shtml
http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/jogos-brincadeiras.shtml
http://www.educasempre.com/2012/08/brincadeiras-folcloricas.html
http://www.educasempre.com/2012/08/brincadeiras-folcloricas.html
http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/video-diferentes-maneiras-pular-amarelinha-599895.shtml
http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/video-diferentes-maneiras-pular-amarelinha-599895.shtml
20
Unidade: As Dimensões da Brinquedoteca: Do Ensino Lúdico ao Desenvolvimento Infantil
Referências
CAIADO, E.; CAMPOS, C. Promovendo a interdisciplinaridade na escola. [20--]. Disponível 
em: <http://educador.brasilescola.com/orientacoes/promovendo-interdisciplinaridade-na-
escola.htm>. Acesso em: 11 dez. 2014. 
CÓRIA-SABINI, M. A.; LUCENA, R. F. Jogos e brincadeiras: na educação infantil. 
Campinas, SP: Papirus, 2004.
CUNHA, N. H. S. Brinquedos: desafios e descobertas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre, RS: Artmed, 2000.
KISHIMOTO, T. M. (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: 
Cortez, 2000.
SANTOS, S. M. P. (Org.). Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. 2. ed. Petrópolis, 
RJ: Vozes, 2001.
SOUZA, G. S. R. B. A importância da brinquedoteca na aprendizagem infantil. [20--]. 
Disponível em: <http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/4584a86a3539cd9e-
1930286ea5397579_1577.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2014.
21
Anotações

Continue navegando