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EA D Sistema Nervoso 2 1. OBJETIVOS • Conhecer como o sistema nervoso está dividido e orga- nizado. • Compreender as estruturas do sistema nervoso. • Identificar e compreender a importância do sistema ner- voso. • Interpretar os processos pelos quais o sistema nervoso processa os estímulos e gera as respostas necessárias. 2. CONTEÚDOS • Sistema nervoso: estrutura, divisão e organização. • Sistema nervoso periférico. • Sistema nervoso sensorial. • Funções motoras da medula espinhal: reflexos medulares. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada70 • Fadiga sináptica. • Pool neuronal. • Transmissão Sináptica. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos expli- citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema de Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 2) Lembre-se de que os processos biológicos envolvidos possuem relação com a fisiologia celular e, também, com a anatomia do sistema nervoso. Pesquise em livros ou na internet o assunto abordado nesta unidade e, caso encontre algo interessante, disponibilize tal informação para seus colegas na Lista. Lembre-se de que você é pro- tagonista deste processo educativo. 3) Faça anotações de todas as suas dúvidas e tente solucio- ná-las por meio do nosso sistema de interatividade ou diretamente com o seu tutor. Lembre-se de que o nosso organismo age por interação e modulação entre todos os sistemas; por isso, conhecer bem cada um deles é tão importante. 4) Leia os livros da bibliografia indicada para que você am- plie e aprofunde seus horizontes teóricos. Esteja sempre com o material didático em mãos e discuta a unidade com seus colegas e com o tutor. Este é só o início de nos- sa jornada para entender a Fisiologia Humana. Sempre que surgir uma dúvida sobre como o sistema nervoso funciona, volte à Fisiologia Celular, que é a responsável pelos processos biológicos do nosso organismo. 71 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na Unidade 1, você estudou as células e suas estruturas. Agora, nesta unidade, você será convidado a compreender o fun- cionamento do sistema nervoso. Durante a evolução, mesmo os seres mais simples, como a ameba, tiveram a necessidade de se ajustar ao meio ambiente. Para isso, esse ser, que é unicelular, já possuía três propriedades fundamentais: • irritabilidade (permite à célula detectar modificações do meio ambiente); • condutibilidade (permite a condução desse estímulo pelo protoplasma); • contractilidade (é a resposta ao estímulo). Essas propriedades se especializaram muito no decorrer da evolução das espécies. Assim, com o aparecimento de metazoá- rios pluricelulares, as células musculares eram as responsáveis pela contractilidade e ocupavam posição mais profunda. Surgiu, então, a necessidade de células superficiais que captassem as va- riações do meio ambiente e passassem essas informações para o interior do ser. Essas células foram os primeiros neurônios. Outro grande passo da evolução do sistema nervoso foi quando ele deixou de ser difuso e passou a ser centralizado. Sur- giu, a partir daí, o sistema nervoso central (SNC), que veio acom- panhado de neurônios aferentes (levam o impulso ao SNC) e efe- rentes (levam o impulso ao órgão efetuador). Surgiram, também, os arcos reflexos simples, em que o neurô- nio aferente recebe informações do meio externo e faz sinapse com o neurônio eferente, que vai estimular o órgão motor. Arcos reflexos mais complexos surgiram com o aparecimento dos neurônios de as- sociação, que ficam entre o neurônio motor e o sensitivo. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada72 O sistema nervoso continuou evoluindo muito. A soma dos neurônios aferentes começou a ficar situada mais internamen- te nos organismos (talvez, isso possa ter ocorrido devido a uma maior necessidade de proteção), surgindo, assim, os neurônios pseudounipolares. Outro fato marcante foi o aumento do número de neurônios de associação, permitindo a realização de funções mais elaboradas. No homem, o sistema nervoso central (SNC) é o ponto mais alto da evolução e o mais complexo entre os animais. Ele é capaz de, devido à grande quantidade de neurônios de associa- ção, realizar atividades complexas – a chamada função superior. Sua função básica é receber informações sobre as variações ex- ternas e internas e produzir respostas por meio dos músculos e glândulas. Dessa forma, ele contribui, juntamente com o siste- ma endócrino, para a homeostase (equilíbrio) do organismo. Além disso, o sistema nervoso humano possui as chamadas funções superiores, em que se incluem: 1) memória, que corresponde à capacidade de armazenar informações e, depois, resgatá-las; 2) aprendizado; 3) intelecto; 4) pensamento; 5) personalidade. 5. ESTRUTURA, DIVISÃO E ORGANIZAÇÃO Responsável pelo ajuste do organismo ao ambiente, o siste- ma nervoso percebe e identifica as condições ambientais externas e as condições internas do indivíduo, bem como elabora respostas que o adaptem a essas condições. Sua unidade básica é a célula nervosa. A estrutura ou unidade básica do sistema nervoso é a célula nervosa, chamada neurônio. 73 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso O neurônio é uma célula extremamente estimulável, capaz de perceber as pequenas variações que ocorrem ao seu redor e, assim, reagem a eles promovendo uma alteração elétrica que percorre sua membrana, denominada impulso nervoso. As cone- xões entre elas são estabelecidas pelas próprias células nervosas e permitem a transmissão do estímulo recebido a outros neurônios, o que gera uma reação em cadeia. Um neurônio possui três partes: 1) corpo celular; 2) axônio; 3) dendritos. No corpo celular, estão localizados o núcleo e a maior parte das estruturas citoplasmáticas e estão concentrados no sistema nervoso central (SNC); nos gânglios nervosos, estão espalhados pelo corpo. O axônio, que tem a função de transmitir os impulsos nervosos para outras células, é um fino prolongamento, que sai do corpo celular e que geralmente é maior que os dendritos. Os dendritos, filamentos finos e, na maioria das vezes, rami- ficados, são responsáveis por conduzir os estímulos captados do ambiente ou de outras células para o corpo celular. Os dendritos e o axônio são mais conhecidos como fibras nervosas, estão distri- buídos por todo o corpo, bem como conectam os corpos celulares de diferentes neurônios entre si e às células sensoriais, musculares e glandulares. Para sustentar e auxiliar o funcionamento dos neurônios, há as células glia, ou gliais, que constituem cerca da metade do volu- me total do nosso encéfalo. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Lembre-se de que a transmissão dos estímulos recebidos é chamada de Po- tencial de Ação (estudada na Unidade 1), e seu funcionamento e fases estão descritos no decorrer desta unidade. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © Fisiologia Humana Geral e Aplicada74 Nos animais vertebrados, o sistema nervoso pode ser sub- dividido em duas partes básicas de acordo com critérios morfoló- gicos: • central (SNC); • periférico (SNP). O sistema nervoso periférico (SNP), por sua vez, está subdi- vidido em: • somático (SNS); • autônomo (SNA), conforme a Figura 1. Quando a divisão do sistema nervoso é feita pelo critério funcional, ele é subdividido em: • sistema nervoso somático (SNS), que faz a relação do or- ganismo com o ambiente e suas variações; • sistema nervoso visceral (SNV), que faz a relação do meio interno e suas variações com o próprio organismo. Essa classificação pode ser observada na Figura 2. SISTEMA NERVOSO SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO SISTEMA NERVOSO VISCERAL AFERENTE – EFERENTE AFERENTE EFERENTE- Sistema Nervoso Fonte: elaboradopelo próprio autor. Figura 1 Divisão do sistema nervoso pelo critério funcional. 75 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso SISTEMA NERVOSO SISTEMA NERVOSO CENTRAL SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Autônomo Fonte: elaborado pelo próprio autor. Figura 2 Divisão morfológica do sistema nervoso. O sistema nervoso central (SNC) é formado pelo encéfalo, que é um tipo de massa nervosa localizada na caixa craniana, e pela medula espinhal, que é um filamento nervoso que se encon- tra no interior do canal raquidiano da nossa coluna vertebral. O papel desse sistema é analisar as informações e armazená- las em forma de memória, além de elaborar padrões de respostas ou respostas espontâneas. É importante lembrar que o encéfalo é formado basicamente pelas seguintes regiões: • cérebro; • cerebelo; • ponte; • bulbo. Já o sistema nervoso periférico é constituído de uma rede de nervos espalhada ao longo de todo o nosso corpo, sendo respon- sável pela interligação do sistema nervoso central (SNC) a todas as regiões do corpo; ele está localizado fora da caixa craniana e do canal vertebral. Observe as Figuras 3A e 3B: Vale salientar que utilizaremos a divisão morfológica neste Cader- no de Referência de Conteúdo. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada76 Figura 3A Estruturas do encéfalo e medula. Figura 3B Sistema nervoso periférico. O sistema nervoso controla, então, diversas atividades do corpo por meio do controle da contração dos músculos esquelé- ticos, da contração da musculatura lisa dos órgãos internos e da secreção das substâncias produzidas pelas glândulas endócrinas e exócrinas, que irão atuar em diversas partes do corpo. Essas fun- ções são denominadas funções motoras do sistema nervoso, sen- do as glândulas dos músculos chamadas de efetores, pois são as estruturas que efetivamente realizam as funções enviadas pelos impulsos nervosos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Estudamos até aqui as funções e as divisões do nosso sistema nervoso; contu- do, para compreendermos seu funcionamento, precisamos saber como ele está organizado. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A organização do sistema nervoso (SN) pode ser classificada, segundo os mesmos critérios citados anteriormente (morfológico e funcional), em três vias: 77 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso 1) vias aferentes: trazem as informações ao sistema nervo- so central (SNC); 2) vias eferentes: são as vias que levam a resposta que foi elaborada pelo sistema nervoso central (SN) ao órgão efetuador da resposta, que pode ser um músculo ou uma glândula; 3) vias de associação: além de analisar as informações, ar- mazenam-nas sob a forma de memória para elaborar os padrões de respostas ou as respostas espontâneas. Nas vias de associação, quanto maior for o número de neu- rônios, maior será o refinamento e, dessa forma, a precisão da res- posta. Conhecendo a estrutura e a organização básica do nosso sis- tema nervoso, podemos, agora, passar a estudar cada uma das suas divisões e como ocorre o processamento das informações. Vamos lá? 6. O SISTEMA NERVOSO CENTRAL O sistema nervoso central (SNC) possui três níveis principais com significado funcional: 1) medula espinhal; 2) cerebral inferior; 3) cerebral superior ou cortical. Na medula espinhal, os sinais sensoriais são transmitidos pelos nervos espinhais para cada segmento da medula espinhal. Esses sinais podem causar respostas motoras localizadas tanto no segmento que originou a informação sensorial, como em segmen- tos adjacentes. Assim, todas as respostas motoras da medula são automáticas e ocorrem quase que instantaneamente em resposta aos sinais sensoriais. As atividades do organismo que são subconscientes são con- troladas pelas áreas inferiores do encéfalo e do córtex cerebral in- © Fisiologia Humana Geral e Aplicada78 ferior: bulbo, ponte, mesencéfalo, hipotálamo, tálamo, cerebelo e gânglios da base. Portanto, as funções subconscientes, coorde- nadas do corpo, como muitos dos próprios processos vitais, são controladas pelas regiões encefálicas inferiores. Como exemplo, podemos citar a pressão arterial, a respiração, a salivação, o equi- líbrio, entre outros. No nível cerebral superior ou cortical, em que se localiza o córtex cerebral, está a região responsável, sobretudo, pelo arma- zenamento de informações. Nesse local, fica armazenada a maior parte das lembranças passadas, com padrões de respostas moto- ras, as quais funcionam conjuntamente com o cerebral inferior. Conforme explicado anteriormente, o sistema nervoso cen- tral (SNC) é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal, sen- do constituído por células da glia, corpos celulares de neurônios e feixes de dendritos e axônios. Assim, a função do nosso sistema nervoso central é fazer a análise das informações e armazená-las (memória). Além disso, ele é responsável pela elaboração dos pa- drões de respostas ou respostas espontâneas. No encéfalo, temos os centros nervosos, que recebem as informações que chegam de diferentes partes do corpo. Nesses locais, as informações são integradas para que as respostas, gera- das na forma de impulso nervoso, sejam propagadas às partes do corpo efetoras da resposta. Essa propagação ocorre pelas fibras motoras que estão presentes nos nervos cranianos e espinhais. Na sua parte mais externa, de cor cinza, temos, principal- mente, corpos celulares de neurônios. Essa região é chamada cór- tex cerebral, a qual possui mais de quarenta áreas distintas funcio- nalmente, isto é, cada área controla uma atividade específica. Em contrapartida, a sua parte interna é composta mais pelas fibras nervosas (dendritos e axônios) e possui cor branca, provavelmente pela presença das bainhas de mielina. Com exceção das mensagens sensoriais dos receptores do olfato, todas as outras mensagens, antes de chegar ao córtex ce- 79 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso rebral, passam pelo tálamo. Basicamente, o tálamo poderia ser considerado como uma estação retransmissora, conduzindo os impulsos às regiões mais adequadas para serem processadas pelo cérebro. As atividades dos órgãos viscerais são integradas pelo hipo- tálamo, que também é um dos principais responsáveis pela home- ostase corporal. Ele é a ligação entre o sistema endócrino e ner- voso, bem como ativa diversas glândulas endócrinas. Além disso, controla a temperatura do nosso corpo, regula o apetite, o balanço corporal da água e, também, está envolvido no comportamento sexual. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Homeostase corporal: é a condição de equilíbrio do meio interno em relação ao meio externo. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O mesencéfalo, a ponte e a medula oblonga (bulbo) formam o tronco encefálico, que liga o cérebro à medula espinhal, em que as informações são coordenadas e integradas. Várias atividades corporais também são controladas pelo tronco encefálico; por exemplo, certos reflexos são controlados pelo mesencéfalo, e o bulbo tem participação na coordenação dos movimentos corpo- rais. A manutenção do equilíbrio corporal é de responsabilidade do cerebelo e é devido a ele que ações complexas, como andar de bicicleta ou tocar violão, podem ser executadas. Isso ocorre devido às diferentes informações sensoriais (como posição articular e grau de estiramento muscular), auditivas e visuais que chegam ao cére- bro. A elaboração de respostas simplificadas para certos estímulos é a função da medula espinhal. Essas respostas são chamadas de atos reflexos e é devido a eles que podemos reagir rapidamente em situações de perigo ou emergência. Assim como o tálamo, a medula espinhal também atua como um retransmissor de informações para o encéfalo. Essas respos- tas passam pela medula até chegar aos seus destinos (órgãos efe- © Fisiologia Humana Geral e Aplicada80 tores). Externamente, a medula é branca e constituídapor tratos nervosos (feixes de fibras nervosas mielinizadas), que são os res- ponsáveis por conduzir os impulsos de diferentes regiões da me- dula para o encéfalo e vice-versa. Didaticamente, podemos dividir o sistema nervoso central (SNC) em três partes principais para facilitar sua compreensão: • Sistema nervoso sensorial. • Sistema motor. • Sistema integrado. Devemos nos lembrar de que a maior parte das atividades do sistema nervoso (SN) se origina de experiências sensoriais (in- formações-estímulos), como as visuais, as auditivas, as táteis, en- tre outras. Essas experiências sensoriais podem originar reações imediatas ou serem armazenadas na memória por vários anos, dias ou semanas para auxiliar em uma escolha de ações corporais posteriores. Nesse sentido, o sistema sensorial é aquele que transmite essas informações sensoriais, que podem vir de toda a superfície corporal, bem como das estruturas mais profundas, por meio dos nervos espinais e craniais. Assim, a informação é conduzida de uma forma sequencial para a medula espinhal, ocorrendo em todos os níveis; posterior- mente, vai até as regiões basais do cérebro, incluindo bulbo e ponte, e, finalmente, chega às regiões superiores do cérebro, in- cluindo o tálamo e o córtex cerebral. Os estímulos são conduzidos, secundariamente, a outras partes do sistema nervoso (SN) para dar início à análise e ao processamento da informação sensorial. Considerando que a função fundamental do sistema nervo- so (SN) é controlar as atividades corporais, esse controle é feito por meio do sistema nervoso motor. Esse controle é obtido pela contração dos músculos esqueléticos e da musculatura lisa, bem como pelas secreções endócrinas e exócrinas em várias partes do 81 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso corpo. Esse conjunto de processos é chamado de funções motoras do sistema nervoso, o qual é transmitido para os músculos pela placa motora. Nesse sistema, as respostas aos estímulos recebidos podem ter origem na área motora do córtex cerebral, sendo chamadas de movimentos controlados pelos processos de pensamento, bem como nas regiões basais do cérebro e na medula espinhal, sendo chamadas de respostas automáticas do corpo aos estímulos senso- riais. Após a sua produção, as respostas são transmitidas pelos ner- vos motores aos músculos, como você pode observar na Figura 4. A determinação das repostas mais apropriadas para cada informação recebida é a função mais importante do nosso siste- ma nervoso e é feita pelo sistema integrado. Recebemos, a todo o tempo, diversas informações sensoriais e motoras que são des- cartadas pelo nosso cérebro, por entendê-las como irrelevantes e sem importância, como, por exemplo: a pressão da cadeira sobre o nosso corpo, o contato da nossa pele com a nossa roupa. Dessa maneira, a nossa atenção pode ser direcionada para um objeto em um campo visual ou um ruído por exemplo. Quando uma informação sensorial importante excita a nossa mente, esta é rapidamente canalizada para regiões motoras e inte- grativas adequadas do cérebro com o objetivo de gerar as respos- tas desejadas. Esses processos de canalização e processamento das informações são chamados de funções integrativas do sistema nervoso (SN). Dessa forma, ao encostar a mão em algo quente, a resposta instantânea é retirar ou afastar a mão, podendo gerar ou- tros movimentos associados a essa resposta, como mover o corpo para longe do local quente e, até, gritar de dor. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada82 Figura 4 Imagem ilustrativa das vias para a resposta motora. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Mais de 99% de toda a informação sensorial recebida é descartada. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 7. SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO Neste tópico, vamos estudar o sistema nervoso periférico (SNP), que, segundo os critérios morfológicos, está dividido em: • somático; • autônomo. Esse sistema é formado pelos gânglios nervosos, que são aglomerados de corpos celulares de neurônios e que estão fora sistema nervoso central (SNC), e pelos nervos, que são feixes de 83 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso fibras nervosas cobertas de tecido conjuntivo, bem vascularizado, e cujas fibras podem ser axônios ou dendritos, que conduzirão os impulsos nervosos das diversas regiões do corpo ao sistema ner- voso central e vice-versa. O sistema nervoso periférico somático, também chamado de voluntário, tem como principal função reagir a estímulos que chegam do ambiente externo. É formado por fibras motoras que irão conduzir os impulsos nervosos do sistema nervoso central (SNC) aos músculos esqueléticos. Esse sistema controla o múscu- lo esquelético por meio de um único motoneurônio, cujo corpo celular se encontra nos núcleos motores da medula e do tronco encefálico. O sistema nervoso autônomo, como sugere o seu nome, funciona de maneira autônoma, isto é, independentemente de nossa vontade. Sua função é regular o ambiente interno do corpo através do controle das atividades do sistema digestório, cardio- vascular, excretor e endócrino. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– É importante lembrar que o sistema nervoso autônomo (SNA) trabalha coope- rativamente com o sistema endócrino sob a tutela do hipotálamo. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O sistema nervoso autônomo (SNA) possui fibras nervosas que levam os impulsos do sistema nervoso central (SNC) aos mús- culos lisos das vísceras e à musculatura do coração. Essas fibras compõem uma via motora com dois neurônios, sendo um pré-gan- glionar (cujo corpo se encontra no sistema nervoso central) e outro pós-ganglionar (cujo corpo se encontra em gânglios autônomos). O corpo celular do neurônio pré-ganglionar localiza-se den- tro do sistema nervoso central (SNC), e seu axônio vai até um gânglio, em que há a transmissão sináptica do impulso nervoso ao neurônio pós-ganglionar. Em contrapartida, o corpo celular do neurônio pós-ganglionar localiza-se no interior do gânglio nervoso e é seu axônio que conduz o estímulo até o órgão efetuador, que pode ser um músculo liso ou cardíaco. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada84 O sistema nervoso autônomo (SNA) está dividido em três partes: 1) dois ramos nervosos ao lado da coluna vertebral, forma- dos por dilatações pequenas que são chamadas de gân- glios, em um total de 23 pares; 2) conjunto de nervos que faz a ligação dos gânglios ner- vosos aos diversos órgãos de nutrição, como coração, estômago e pulmões; 3) conjunto de nervos que faz a ligação dos gânglios aos nervos raquidianos, chamados de comunicantes, o que permite que o sistema nervoso autônomo (SNA) não seja totalmente independente do sistema nervoso cefa- lorraquidiano. Esse sistema é subdividido em simpático e parassimpático. Esses sistemas diferenciam-se entre si tanto pelas estrutu- ras quanto pela função e levam os sinais eferentes aos diferentes órgãos. Com relação à localização, os neurônios pré-ganglionares pa- rassimpáticos situam-se em núcleos motores do tronco encefálico e na medula sacral, nos segmentos de S2 a S4, na coluna inter- médio-lateral; os gânglios autonômicos parassimpáticos situam-se muito próximo ou no próprio órgão efetuador. A maioria das fibras de origem bulbar está contida no nervo vago (originadas não só no seu núcleo dorsal, como também da formação reticular e do núcleo ambíguo) e, por meio delas, parte a grande maioria da inervação visceral torácica e abdominal. Os neurônios pré-ganglionares do núcleo dorsal possuem semelhan- ças ao intermédio lateral da medula, mas os do núcleo ambíguo lembram os motoneurônios somáticos e são elas que inervam a musculatura branquiomérica da laringe, faringe e esôfago, como você pode observar na Figura 5A. A divisão colinérgica do parassimpático está associada com os aspectos vegetativos da vida diária, como a digestão, a absorção e a excreção. 85Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso Com relação ao sistema nervoso simpático, a sua principal formação anatômica é o tronco simpático, que é formado por uma cadeia de gânglios que são unidos por fibras interganglionares e estão distribuídos em ambos os lados da coluna vertebral, sendo chamados de gânglios paravertebrais. Outra cadeia simpática é a dos gânglios pré-vertebrais (gân- glios celíacos, aórticos mesentérico), que se localizam na parte anterior da coluna vertebral e à aorta abdominal e cujas fibras pré-ganglionares dão origem aos nervos esplâncnicos (Figura 5B). Basicamente, as fibras nervosas do sistema nervoso autônomo (SNA) levam os impulsos do sistema nervoso central (SNC) à mus- culatura lisa das vísceras e ao miocárdio (musculatura do coração), de acordo com o subsistema envolvido. Esse sistema é ativado principalmente pelos centros localizados na medula espinhal, no tronco cerebral e no hipotálamo, além de partes do córtex cere- bral, especialmente o límbico, que pode transmitir os sinais para os centros inferiores, influenciando, assim, o controle autônomo. Fonte: acervo pessoal do autor. Figura 5A Sistema nervoso parassimpático e seus gânglios. Figura 5B Sistema nervo simpático e seus gânglios. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada86 Uma diferença entre os nervos simpáticos e parassimpáti- cos é a secreção de hormônios pelas fibras pós-ganglionares. Os neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso parassimpático secretam acetilcolina e, por isso, são chamados de colinérgicos. Os do sistema nervoso simpático secretam principalmente nora- drenalina e são chamados de neurônios adrenérgicos. Observe a Figura 6. Figura 6 Ilustração dos tipos de neurônios e seus hormônios de acordo com o sistema. As fibras do tipo adrenérgicas ligam o sistema nervoso cen- tral à glândula suprarrenal, o que promove o aumento da secreção de adrenalina, que irá produzir a resposta de “luta ou fuga” em situações de estresse. A acetilcolina (ACh) e a noradrenalina (Nor) possuem a capacidade de excitar alguns órgãos e inibir outros, de maneira antagônica. O sistema nervoso autônomo (SNA) funciona também por meio de reflexos viscerais, que ocorrem por meio da entrada dos sinais subconscientes de um órgão visceral nos gânglios autôno- mos, no tronco cerebral ou no hipotálamo e, então, retornam ao órgão visceral como respostas reflexas subconscientes para con- trolar as suas atividades. 87 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Segundo alguns autores afirmam, fisiologicamente, os sistemas simpáticos e pa- rassimpáticos podem ser chamados de antagônicos para órgãos determinados, pois, na maioria dos casos, um mesmo órgão visceral possui as duas inervações. Contudo, a generalização dessa afirmação não pode ser feita, pois, em casos específicos, a ação resultante é similar para os dois sistemas. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– De um modo geral, as ações que mobilizam energia são esti- muladas pelo Sistema Nervoso Simpático, o que permite ao nosso corpo responder a situações de estresse, como, por exemplo, ace- leração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão sanguínea, aumento da glicemia e ativação do metabolismo geral do corpo. Dessa forma, esse sistema nos prepara para reagirmos aos estímu- los de maneira mais rápida e efetiva. Em contrapartida, atividades relaxantes como a bradicardia (redução do ritmo cardíaco) e da pressão arterial são exemplos de efeitos estimulados pelo sistema nervoso autônomo (SNA) parassimpático. Acompanhe essa expli- cação por meio da Figura 7. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Você sabia que, durante o exercício físico, o metabolismo aumentado nos mús- culos promove a dilatação local dos vasos sanguíneos, o que melhora a sua oxi- genação; simultaneamente, o sistema simpático promove vasoconstrição para a maioria das outras regiões do corpo, exceto no coração e no cérebro, que dará suporte à oxigenação muscular. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © Fisiologia Humana Geral e Aplicada88 Figura 7 Desenho esquemático mostrando de onde derivam os nervos que partem da medula e que regulam o sistema simpático e parassimpático. 8. SISTEMA NERVOSO SENSORIAL No início desta unidade, vimos que o sistema nervoso central tem o papel de controlar as contrações musculares, os fenômenos viscerais e, até, a intensidade das secreções de algumas glândulas endócrinas. Vimos, também, que ele é dividido em três partes de acordo com a função exercida: sensorial; • motor; • integrado. 89 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso Neste tópico, vamos estudar as propriedades gerais dos receptores sensoriais para melhor entendermos os processos de estímulo-resposta do sistema nervoso central (SNC). Vamos lá? –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Percepção é a capacidade de veicular os sentidos a outros aspectos da exis- tência, como comportamento e pensamento. Por exemplo, o sentido da audição permite-nos detectar sons, mas é graças à capacidade de perceber os sons que podemos apreciar uma música ou compreender a linguagem. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A parte responsável pela análise dos estímulos internos e ex- ternos ao organismo é o sistema nervoso sensorial. Essas informa- ções são utilizadas para atender quatro funções: 1) percepção e interpretação; 2) controle do movimento; 3) regulação de funções de órgãos internos; 4) manutenção de consciência. O sistema nervoso sensorial (SNS) exerce a sua função de- tectando aspectos do ambiente por meio de órgãos sensoriais específicos que serão processadas por vias neurais próprias. Esse controle ocorre por meio de um eixo somatossensorial do nosso sistema nervoso. Para que haja a elaboração das respostas, sejam elas moto- ras ou não, os estímulos ambientais estão divididos em modalida- des de sensações distintas, como, por exemplo, a visão, a audição, entre outros, e suas submodalidades, como intensidade, duração e localização. Isso permite uma diversidade de informações senso- riais para ajudar na resposta do sistema nervo (SN). Além disso, o sistema nervoso sensorial (SNS) pode promover experiências sen- soriais de maneira consciente ou inconsciente. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– É importante saber que os neurônios sensoriais periféricos nos animais vertebra- dos, quando estão associados aos receptores, têm seu corpo celular localizado nos gânglios das raízes dorsais dos nervos espinhais, além dos gânglios de al- guns nervos cranianos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © Fisiologia Humana Geral e Aplicada90 Sabe-se que um nervo periférico pode conter várias moda- lidades de fibras sensoriais, que irão conduzir os seus respectivos impulsos gerados e decodificados pelos receptores periféricos. Lembre-se de que, no sistema nervoso central (SNC), os neurônios formam cadeias de neurônios, denominadas vias. A via aferente é aquela que traz as informações sensoriais para o siste- ma nervoso central (SNC), e a via eferente é aquela que conduz os comandos motores para os órgãos efetuadores. A via aferente possui um receptor, que é uma terminação nervosa sensível ao estímulo que caracteriza a via; um trajeto pe- riférico, que pode ser por nervo cranial ou espinhal e seu respecti- vo gânglio sensitivo; um trajeto central, que são outros neurônios centrais que processam a informação e uma área de projeção cor- tical, formada por neurônios corticais que irão interpretar a infor- mação. De acordo com o tipo de receptor, este está preparado para informar o sistema nervoso (SN) sobre os aspectos ou dimensões do meio ambiente; dessa forma, ele funciona como um filtro sen- sorial, sendo muito sensível ao seu tipo de estímulo. Os fotorre- ceptores, por exemplo, são sensíveis à luz (visível), e não a sons. Logo,dentro de cada modalidade, é possível diferenciar as diver- sas qualidades. O sistema nervoso sensorial (SNS) está organizado de acor- do com os seguintes critérios: a categoria da sensibilidade, a ori- gem do estímulo, a sensibilidade mediada e os tipos de receptores periféricos. Essa organização pode ser observada na Tabela 1. Cada uma das modalidades sensoriais possui diferentes qua- lidades; por exemplo, o sentido da visão possui as seguintes qua- lidades: luminosidade, cores, entre outras; já a gustação possui as sensações de amargo, doce, salgado e ácido. Com essas diferentes qualidades, o sistema sensorial pode avaliar vários aspectos de uma mesma modalidade, para que, no cérebro, a percepção cons- ciente e a interpretação das informações ocorram. 91 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso Com as diferentes informações sensoriais que são enviadas ao córtex sensorial, ocorre a constituição completa do meio am- biente, como também se pode observar na Tabela 1. Tabela 1 Organização do sistema sensorial. Categoria da sensibilidade Origem do estímulo Organiz. geral Sensibilidade mediada Receptores periféricos calor e frio (terminações livres) gerais dor (terminações livres) exteroceptivas tato-pressão (corpúsculos de Meissner; corpúsculos de Paccini; corpúsculos de Ruffini; Discos de Merkel; folículos pilosos) SOMÁTICAS visão (retina) audição (órgão de Corti) especiais equilíbrio (cristas ampulares e máculas utricular e sacular) olfação (epitélio olfativo) gustação (botões gustativos) proprioceptivos gerais propriocepcão(cinestesia) (fusos musculares; órgãos tendinosos de Golgi receptores das cápsulas articulares) VISCERAIS interoceptivas sentido visceral (pressorreceptores; osmorreceptores; quimiorreceptores, etc) Fonte: acervo pessoal. Os sentidos ou modalidades, que são um grupo de impres- sões sensoriais semelhantes e percebidas por um órgão sensorial específico, estão descritos na Tabela 2. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada92 Tabela 2 Modalidades sensoriais: estímulo, tipo de receptor e cé- lula ou estrutura receptora. Modalidade Sensorial Estímulo Tipo de receptor Célula Receptora/ Estrutura VISÃO Luz Fotorreceptor Cones e bastonetes AUDIÇÃO Ondas de pressão sonora Mecanorreceptor Células ciliadas da Cóclea EQUILÍBRIO Movimento da cabeça Mecanorreceptor Células ciliadas dos Canais Semicirculares, utrículo e sáculo TATO Pressão Mecanorreceptor Corpúsculos de Pacini, Corpúsculos de Merkel etc. TEMPERATURA Quantidade de calor Termorreceptor Terminações livres dos neurônios aferentes DOR Estímulos intensos e substâncias químicas Nociceptor Terminações livres dos neurônios aferentes PALADAR Subst. químicas Quimiorreceptor Células dos botões gustativos OLFATO Subst. químicas voláteis Quimiorreceptor Células ciliadas do epitélio olfativo Fonte: acervo pessoal. Os sentidos podem também proporcionar outras informa- ções sobre o ambiente, além das modalidades, como: • localização espacial da fonte do estímulo, como, por exemplo, saber de qual lado vem um som; • a intensidade, como, por exemplo, o brilho dos objetos; • a duração do estímulo, isto é, quando ele inicia e quando ele cessa. É importante saber, ainda, que os receptores sensoriais po- dem converter os estímulos físicos e químicos que vêm do ambien- te em impulsos elétricos, funcionando como um transdutor. Os receptores sensoriais são classificados segundo três cri- térios: 93 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso • morfologia; • localização da fonte do estímulo; • estímulo apropriado. De acordo com o critério morfológico, temos os receptores especiais, que se encontram associados a um neuroepitélio, que possui uma célula sensorial secundária associada a um neurônio sensorial primário (figura 8C), e fazem parte dos sentidos especiais localizados na cabeça (visão, gustação, olfação, audição e equilí- brio); e os receptores gerais, que estão presente em todo o corpo, sobretudo na pele, são menos complexos na sua estrutura e po- dem ser classificados em livres (Figura 8A) e encapsulados , como podemos observar na Figura 8. Fonte: acervo pessoal do autor. Figura 8 Tipos de receptores sensoriais, onde A. Livre; B. Encapsulado; C. especiais. Com relação à localização da fonte estimuladora, temos os exteroceptores que se localizam na superfície corporal e que são ativados pelos estímulos externos, como pressão, som, luz, entre outros; os proprioceptores, que se localizam nos tecidos mais pro- fundos do nosso corpo, como músculo, tendões, cápsulas articu- lares e ligamentos, sendo ativados por diversos estímulos mecâni- cos; e os interoceptores ou visceroceptores, localizados nos vasos e órgãos cavitários do corpo, como o intestino. Portanto, com base nesse critério, pode-se concluir que os proprioceptores e os exteroceptores são responsáveis pelas sen- sações somáticas, e os interoceptores, pelas sensações viscerais. Por fim, segundo o critério do estímulo mais apropriado, são receptores que respondem a estímulos específicos, funcionando © Fisiologia Humana Geral e Aplicada94 como um filtro seletivo e específico. Estes podem ser classificados em fotorreceptores, glicorreceptores, eletrorreceptores, entre ou- tros. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Sensação é a capacidade dos animais de codificar certos aspectos da energia física e química do meio ambiente em impulsos nervosos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9. FUNÇÕES MOTORAS DA MEDULA ESPINHAL: RE- FLEXOS MEDULARES A informação sensorial é integrada em todos os níveis do nosso sistema nervoso (SN), que, por sua vez, gera as respostas motoras mais adequadas que se iniciam na medula espinhal, a partir de reflexos relativamente simples, que irão estender-se para o tronco cerebral com respostas mais complexas para, finalmente, chegar ao prosencéfalo, em que as habilidades musculares com- plexas são controladas. O papel do encéfalo é importante, pois é ele que gera os pro- gramas que controlam as atividades sequenciais da medula, que irá promover os movimentos mais finos quando necessário, como, por exemplo, a inclinação do corpo à frente durante a aceleração, quando mudamos o movimento de caminhada para corrida, o con- trole do equilíbrio, entre muitos outros. Neste momento, discutiremos o controle medular da função muscular, pois, sem os circuitos neuronais especiais da medula es- pinhal, até mesmo os sistemas de controle motor mais elaborados do encéfalo não gerariam movimento muscular intencional. Um bom exemplo disso é o movimento alternado das pernas ao andar, que não possui circuito neuronal no encéfalo, pois estes estão na medula. Nesse caso, o encéfalo somente envia sinais de comando para a medula dar início à marcha. Dessa forma, convi- damos você a compreender como ocorrem os chamados reflexos medulares. Vamos lá? 95 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso A área integrativa da medula espinhal para os seus reflexos é a substância cinzenta da medula. Ela está organizada em estrutu- ras que possuem funções específicas. Essas estruturas podem ser observadas na Figura 9. Fonte: acervo pessoal do autor. Figura 9 Organização da substância cinzenta da medula. É por meio das raízes motoras sensoriais posteriores que os sinais sensoriais entram na medula quase exclusivamente. Após sua entrada, cada sinal sensorial percorre por vias se- paradas: • a primeira via é um ramo do nervo sensorial que termina quase imediatamente na substância cinzenta da medula e que irá provocar os reflexos espinhais segmentares locais e outros efeitos locais; • a outra via transmite sinais para níveis superiores da me- dula e para o tronco cerebral, ou mesmo para o córtex cerebral. Como você já pode notar, existem milhões de neurônios na substância cinzenta de cada um dos segmentos da medula espi- nhal (no nível de cada nervoespinhal). © Fisiologia Humana Geral e Aplicada96 Podemos destacar dois tipos: 1) Um tipo são os neurônios motores anteriores, que são maiores que a maioria dos neurônios (50 a 100% maio- res) e que se localizam em cada segmento dos cornos anteriores da substância cinzenta. Eles dão origem às fibras nervosas, que podem ser do tipo Aα ou Aγ, que saem da medula atravessando as raízes ventrais e iner- vam diretamente as fibras musculares esqueléticas. 2) O outro tipo é chamado de interneurônio, que está pre- sente em todas as áreas da substância cinzenta, desde os cornos dorsais até os anteriores. São mais numerosas que o outro tipo em aproximadamente 30 vezes; toda- via, são pequenas, mas altamente excitáveis, exibindo frequentemente atividade espontânea e disparam os si- nais em 1.500 vezes por segundo. Para que haja o controle da função muscular, não basta ape- nas este ser excitado pelos neurônios motores anteriores da me- dula; é preciso haver uma retroalimentação contínua das informa- ções sensoriais, para indicar o estado funcional de cada músculo a cada instante. Por exemplo, deve-se informar qual é a tensão muscular se houve mudanças de velocidade de contração ou no seu comprimento. Para fornecer tais informações sensoriais, os músculos e os tendões possuem receptores sensoriais especiais, os fusos muscu- lares, que se distribuem no ventre muscular e mandam a informa- ção sobre o comprimento ou a velocidade de mudança do compri- mento para o sistema nervoso e o órgão tendinoso de Golgi, que se localizam nos tendões e informam sobre a tensão do tendão ou sobre a velocidade de alteração na tensão muscular. Para exercer sua função plenamente, os fusos musculares são inervados por fibras sensoriais, que possuem dois tipos de receptores: • primários, que são também chamados de anuloespirais, que são fibras nervosas do tipo Ia e que transmitem o si- nal sensorial à medula espinhal em uma velocidade de 70 a 120 m/s; 97 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso • secundários, que é uma fibra nervosa sensorial menor, chamada de tipo 2 e envolve as fibras intrafusais em um dos lados ou em ambos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Todas as informações transmitidas pelos fusos musculares e pelos órgãos ten- dinosos de Golgi são para o controle intrínseco do músculo; eles operam em um nível quase subconsciente. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Muitas das funções do sistema nervoso (SN) resultam de re- flexos. Um reflexo é uma resposta motora que segue um estímulo sensorial por meio de um Arco Reflexo. Esse reflexo é composto por um receptor, uma rede nervosa de transmissão e um efetor. Dos reflexos medulares, podemos destacar quatro tipos: 1) reflexo de estiramento muscular ou mioelétrico – ocor- re pela manifestação mais simples do fuso muscular, isto é, sempre que um músculo é estendido com rapidez, ocorre a excitação dos fusos, que provoca uma contra- ção reflexa das fibras musculares esqueléticas grandes (extrafusais) no mesmo músculo e nos músculos sinérgi- cos com estreita relação. Um exemplo clássico desse tipo de reflexo é o patelar, pois, quando o martelo atinge o tendão do músculo quadríceps, causa um estiramento passivo. O resultado obtido é uma contração re- flexa (extensão da perna), como você pode observar na Figura 10. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada98 Figura 10 Exemplo de reflexo de estiramento. Nesse caso, houve o estímulo direto aos neurônios motores extensores após a detecção do aumento de comprimento muscu- lar pelo fuso. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A ação da gravidade sobre o nosso corpo promove o estiramento constante dos fusos, mesmo o músculo estando em repouso. A contração reflexa promovida por esse estiramento é chamada de tônus muscular de repouso. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 2) Reflexo mioelétrico inverso – quando ocorre variação na tensão muscular, o Órgão Tendinoso de Golgi detecta e envia estímulos à medula pelas fibras IB, excitando as fibras alfa e provocando o relaxamento da musculatura agonista e a contração da antagonista. 99 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso A função desse reflexo é proteger o músculo contra uma contração excessiva, além de controlar o nível de excitação dos motoneurônios. 3) Reflexo de flexão e de retirada – esse reflexo é comu- mente provocado por uma estimulação das terminações para dor; por isso, é também conhecido como nocicepti- vo ou reflexo à dor. Esse reflexo ocorre quando partes do corpo, exceto os mem- bros, são estimuladas dolorosamente; nesse caso, as fibras aferen- tes nociceptivas, por meio da ação de um interneurônio excitatório, estimulam os neurônios motores flexores, causando a contração dos músculos flexores do membro afetado do mesmo lado. Assim, quando colocamos a mão em algo quente, a resposta produzida é a retirada da mão desse local com a flexão do braço; da mesma forma, ao pisarmos em algo, como pedra ou outro obje- to, há a flexão do quadril, para que o contato do pé ao objeto seja desfeito. Veja esse último exemplo na Figura 11: Figura 11 Exemplo de reflexo de retirada. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada100 4) Reflexo de extensão cruzada – esse reflexo ocorre cerca de 0,2 a 0,5 segundos após um estímulo provocar um re- flexo flexor em um membro, promovendo a extensão do membro oposto. Essa extensão pode empurrar o corpo para longe da causa do estímulo de dor (Figura 12). Figura 12 Reflexo de extensão cruzada. 10. FADIGA SINÁPTICA As sinapses, muitas vezes, fadigam-se, o que não acontece com as fibras nervosas. Algumas sinapses fadigam-se mais rapida- mente do que outras, e, se isso não ocorresse, um indivíduo nunca poderia deter um pensamento, uma atividade muscular rítmica ou qualquer outra atividade rítmica prolongada do sistema nervoso (SN). Dessa forma, a fadiga da sinapse é o meio pelo qual o sistema nervoso (SN) permite que uma reação nervosa desapareça para dar lugar a outras. 101 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso Assim, a fadiga é uma característica importante da função sináptica, pois, por meio dela, o excesso de excitabilidade do cére- bro durante uma convulsão epitética pode ser finalmente supera- do para que cesse, por exemplo. Esse mecanismo funciona, principalmente, pela exaustão to- tal ou parcial dos estoques de substâncias transmissoras nos termi- nais pré-sinápticos. Outros mecanismos que levam à fadiga são: • progressiva inativação de muitos dos receptores de mem- brana pós-sinápticos; • lento desenvolvimento de anormalidades na concentra- ção de íons dentro da célula neuronal pós-sináptica. Os fatores que afetam as transmissões sinápticas, como anestésicos e a acidose metabólica, deprimem a transmissão si- náptica; já a cafeína e a alcalose metabólica facilitam a transmis- são sináptica. 11. POOL NEURONAL Os pools neuronais são acumulações de neurônios nas dife- rentes partes do sistema nervoso (SN). Cada pool tem um padrão de organização e que o difere dos outros; dessa forma, executam funções específicas. Um pool neuronal é composto de milhares a milhões de cor- pos celulares neuronais. Nessas organizações, formam-se as zonas de descarga, que são os locais onde ocorrem os potenciais de ação, pois os neurônios localizados no centro dessa formação estão su- pridos com terminais pré-sinápticos em número suficiente e com as zonas de facilitação, em que não se forma o potencial de ação, mas a descarga é suficiente para determinar a facilitação. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada102 12. CIRCUITOS DIVERGENTES, CONVERGENTES E RE- PETIDORES O processo de transmissão e processamento dos sinais neu- ronais, sejam eles inibitórios, sejam excitatórios, possuem uma es- trutura organizacional muito complexa e diversificada, que permi- te que cada grupamento nervoso exerça plenamente seu papel e, consequentemente,o sistema nervoso (SN) funcione bem. Mesmo sendo diferentes em muitos aspectos, os grupamen- tos neuronais possuem princípios de funcionamento semelhan- tes, chamados de circuitos. Esses circuitos podem ser divergentes, convergentes e repetidores. Basicamente, esses circuitos permi- tem que os sinais que entram em um grupamento nervoso sejam amplificados, concentrados ou repetidos. Os circuitos do tipo divergentes são classificados em dois ti- pos: • amplificação; • divergente. No circuito de amplificação, um estímulo aferente de uma única fibra nervosa determina um estímulo eferente de muitas fi- bras, como, por exemplo, o controle dos músculos esqueléticos. Dessa forma, nesse tipo de circuito, uma única fibra aferente esti- mula progressivamente mais e mais fibras à medida que percorre uma via. Os circuitos divergentes permitem que os estímulos de vias aferentes sejam transmitidos em vias separadas, o que permite que a mesma informação seja enviada em diferentes direções ao mesmo tempo. Um exemplo é um membro do corpo movimen- tando-se. Nesse caso, as informações sensoriais das articulações e dos músculos gerados pelo movimento são transmitidas da se- guinte forma: por meio dos pools neuronais, iniciando pelos da medula, indo para os do cerebelo, tálamo, e chegando aos pools do córtex cerebral. 103 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso Nos circuitos convergentes, os sinais de múltiplas entradas são reunidos para excitar um único neurônio. Além disso, essa convergência pode ser de uma mesma fonte, que vai determinar uma forte estimulação, ou de fontes múltiplas, para produzir um mesmo efeito. Como você pode notar, vimos duas características opostas dos circuitos neuronais: uma capaz de amplificar, isto é, reproduzir o sinal do estímulo, e outro capaz de reunir os sinais para promo- ver um mesmo efeito. Além dos circuitos do tipo divergente e convergente, temos um outro tipo de circuito que possui uma característica singular, que é repetir o sinal dentro da via, chamado de repetidores. Esse circuito pode ser subdividido em reverberante, quando um estí- mulo aferente estimula o primeiro neurônio, que estimula o se- gundo e, depois, o terceiro. As ramificações fazem esse estímulo retornar ao primeiro neurônio, estimulando-o novamente. Com isso, os estímulos ficam dando voltas no circuito até que um dos neurônios pare de disparar o sinal, o que ocorre provavelmente por fadiga. Esse tipo de circuito é a base de inúmeras atividades do sistema nervoso central (SNC), como, por exemplo, as atividades musculares rítmicas. O outro tipo de circuito repetidor é o paralelo, em que um único estímulo aferente estimula uma sequência de neurônios que estão em fibras nervosas separadas diretamente de uma célula eferente comum. Devido a uma demora de milissegundos, cada vez que um estímulo cruza uma sinapse, o estímulo do primeiro neurônio chega à célula eferente à frente do segundo nesse inter- valo de tempo, e os próximos estímulos continuam a chegar nesses pequenos intervalos de tempo até que todos os neurônios tenham sido estimulados. Na ausência de sistema de realimentação no cir- cuito, a repetição cessará inteiramente. Observe, na Figura 13, as ilustrações desses circuitos, em que A representa um circuito convergente, B um divergente, C um reverberante, e D um paralelo. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada104 Figura 13 Ilustração de circuitos neuronais. 13. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta unidade, ou seja, compreender os processos pelos quais o sistema nervoso processa os estímulos e gera as respostas necessárias. A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda- dos para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu- cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco- bertas com os seus colegas. Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 105 Claretiano - Centro Universitário © U2 - Sistema Nervoso 1) Nesta unidade, observamos vários aspectos do sistema nervoso (SN); desta forma discorra sobre a importância desse sistema para a evolução do homem. 2) Como o sistema nervoso é dividido? 3) Quais são os principais tipos de receptores sensoriais? 4) Por que a fadiga sináptica é importante? 14. CONSIDERAÇÕES Chegamos ao final de Unidade 2, em que você teve a opor- tunidade de compreender o funcionamento do sistema nervoso, bem como analisar como ele está organizado e quais são as estru- turas que o compõem. Além disso, você pôde entender a impor- tância que esse sistema tem para o controle da homeostase do nosso organismo e para elaborar as respostas de acordo com os estímulos ambientais. Na próxima unidade, você será convidado a estudar a fisiolo- gia muscular e as estruturas desse sistema. Até lá! 15. E-REFERÊNCIAS Lista de figuras Figura 3A – Imagem ilustrativa do encéfalo. Disponível em <http://www. portalsaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema-nervoso/encefalo.php>. Acesso em: 15 jul. 2010. Figura 3B – Ilustração do sistema nervoso periférico. Disponível em: <www.portalimpacto. com.br/docs/00000AlcantaraF4Aula15.pdf>. Acesso em: 13 maio 2010. Figura 4 – Imagem ilustrativa das vias para a resposta motora. Disponível em: <http:// mmspf.msdonline.com.br/pacientes/manual_merck/secao_06/cap_070.html>. Acesso em: 13 maio 2010. Figura 6 – Ilustração dos tipos de neurônios e seus hormônios de acordo com o sistema. Disponível em: <www.ibb.unesp.br/departamentos/Fisiologia/.../12_sistema_nervoso_ autonomo.pdf>. Acesso em: 13 maio 2010. © Fisiologia Humana Geral e Aplicada106 Figura 7 – Desenho esquemático mostrando de onde derivam os nervos que partem da medula e que regulam o sistema simpático e parassimpático. Disponível em: <http:// www.blackwellpublishing.com/matthews/>. Acesso em: 13 maio 2010. Figura 10 – Exemplo de reflexo de estiramento. Disponível em: <www.ibb.unesp. br/.../13_controle_motricidade_medula.ppt>. Acesso em: 13 maio 2010. Figura 11 – Exemplo de reflexo de retirada. Disponível em: <www.ibb.unesp.br/.../13_ controle_motricidade_medula.ppt>. Acesso em: 13 maio 2010. Figura 12 – Reflexo de extensão cruzada. Disponível em: <http://www.blackwellpublishing. com/matthews/>. Acesso em: 13 de maio de 2010. Figura 13 – Ilustração de circuitos neuronais. Disponível em: <http://www.uff.br/ fisiovet/Conteudos/sistema_nervoso.htm#circuitos>. Acesso em: 13 maio 2010. 16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AIRES, M. M. et al. Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. BERNE, R. M.; LEVY, M. N. Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1990. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. Tradução de Barbara de Alencar Martins. 11 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. SCHIMIDT, R. F. (Org.). Neurofisiologia. Tradução de José Franco Altenfelder Silva. São Paulo: EPU, 1979.
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