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1 PRECONCEITOS DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL Alex Junior Pereira Anna Luiza Maldonado Elenice Inácia Rodrigues Interlando Luan Cabral Pereira Renata Lima da Silva Gomes Vanice Umbelina de Sá INTRODUÇÃO Este trabalho visa compreender, de uma forma geral, as articulações da antropologia e ciência referente a homossexualidade no Brasil. Entre fatos científicos e representações sociais, o intuito é contribuir na busca por resoluções de problemas e conflitos na vida cotidiana do público LGBTT, tendo como base de análise o alto índice de discriminação, violência e preconceito existentes no contexto das famílias, do trabalho, da igreja e da sociedade. Existem também vários outros agravantes que contemplam as especificidades desse público. O preconceito da sociedade à homossexualidade causa resultados bastante negativos, com inevitáveis problemas de culpa, vergonha, solidão e humilhação. Neste contexto, observa-se que a psicologia clínica constitui instrumento para ajudar o público alvo de várias maneiras, mas principalmente fortalecendo-os em seus sentimentos e comportamentos assertivos, fazendo com que estes consigam entender melhor toda a dinâmica em sua volta. Neste sentido, a psicoterapia pode fazer com que o sujeito desenvolva o seu papel singular e único, pois ninguém pode gozar de boa saúde separando-se de seu grupo social. Cabe ao profissional de psicologia ajudar o indivíduo a exteriorizar seus conflitos, para que este desenvolva competências na vida pessoal. Percebe-se que quando a pessoa entende e aceita seus sentimentos mais profundos, ao expressá-los, ele se sentirá mais livre, acolhido e amado, e as situações de terapias poderão ser uma oportunidade de crescimento e autodesenvolvimento da vida humana. Ressaltamos aqui que o objetivo deste trabalho não é apresentar a homossexualidade como correta ou não, nem tampouco entrar em questionamentos de suas causas e efeitos. Este artigo foi realizado respeitando tanto quem vive na prática homossexual, como o papel dos psicólogos, psicoterapeutas, padres, pastores, conselheiros, famílias e sociedade em geral. Por meio de referências bibliográficas, foi possível investigar como se apresenta a discriminação sexual e seus reflexos na subjetivação dos sujeitos envolvidos no processo. Assim sendo, pôde-se analisar como esse público se sente em relação a tal tipo de discriminação, quando em busca da visibilidade, respeito e proteção legal. O nosso objetivo é compreender as dimensões de sofrimentos na vida adquiridos com a invisibilidade e indiferença no âmbito da cultura. 2 Entendemos que a homossexualidade, ao longo da história, sempre foi um assunto de grandes contradições nas igrejas, entre as profissões de psiquiatria, psicologia e na sociedade em geral. E, por fim, destaca-se a importância do conhecimento acerca do tema, para reflexão dos futuros profissionais de psicologia, pois se trata de uma realidade que tem sido palco em toda sociedade. Palavras-chave: Orientação Sexual. Preconceito. Psicologia Clínica. 1 HOMOSSEXUALIDADE: 1.1 A homossexualidade na visão da psicologia tradicional e moderna A homossexualidade foi considerada uma doença, permanecendo assim interpretada até 1974, quando a Organização Mundial de Saúde a excluiu de sua lista de enfermidades. Antes disso, em 1973, a Associação Psiquiátrica Norte Americana (APA) retirou o termo “homossexualismo” de seu manual oficial, o qual listava todas as doenças mentais e emocionais. Várias organizações de saúde apoiaram tal decisão. A partir 1990, houve muita polêmica acerca de novas pesquisas nesse campo, por apontarem que a homossexualidade existia devido a possível origem genética. Atualmente, percebe-se que o assunto sobre homossexualidade ainda está envolto em preconceito e muita falta de informação e conhecimento. O fato é que descrever a homossexualidade como um simples caso de escolha é não dar a devida importância à dor e à preocupação vivenciadas por tantos homens e mulheres homossexuais quando descobrem a sua orientação sexual. Deve-se acreditar que essas pessoas não escolhem ser expostas e rejeitadas por parte de familiares, parentes, amigos e sociedade. Até o início dos anos 70, o estudo da homossexualidade estava restrito à área da psiquiatria. Existiam diversas teorias referentes às causas da homossexualidade e várias delas associavam a homossexualidade com uma psicopatologia. Acreditava-se que uma das psicopatologias era desencadeada por uma criança "defeituosa", ou seja, tal “defeito” ocorria pelo fato de essa criança ter nascido de uma mãe dominante, de um pai ausente, ou pelas duas situações. É nesse período que as pesquisas realizadas sobre gays e lésbicas, em todas as áreas de atuação humana, têm origem nas grandes universidades. No Brasil, nas décadas de 1970 e 1980, aparecem estudos fundamentais na área das Ciências Sociais que inauguraram novas 3 abordagens desta temática. A emergência desses estudos intimamente ligada às mudanças políticas no Brasil e à atuação de nascentes grupos feministas e homossexuais. (MUSSKOPF, 2010, p. 253 e 254). O fato é que os cientistas acreditavam e ou ainda acreditam que a orientação sexual de uma pessoa, seja esta, heterossexual, homossexual ou bissexual, está relacionada a vários fatores, tais como, genéticos, psicológicos ou sociais. Vários deles, psicoterapeutas, psiquiatras e psicólogos, que realizaram pesquisas científicas na época, concordaram que “se desconhecem as causas exatas da heterossexualidade e da homossexualidade e que a orientação sexual de um indivíduo não pode ser modificada permanentemente mediante a terapia”. Nesse sentido, Musskopf (2010, p. 254) lembra que: Tida como doença nos meios científicos e acadêmicos, além de conquistas diversas no campo dos direitos civis, a principal consequência das mudanças tanto no campo da pesquisa cientifica quanto do movimento de libertação homossexual foi a afirmação de que a homossexualidade não é uma doença. Não apenas o movimento homossexual passou a afirmar isso, mas organizações como a Academia Americana de Psiquiatria (ainda na década de 1970), e a própria Organização Mundial de Saúde (já no início da década de 1990) e também o Conselho Federal de Psicologia do Brasil deixaram de considerar a homossexualidade uma doença. Foi necessária uma mudança “quase que radical”, pois nem mesmo Freud considerou a Homossexualidade uma doença e jamais a tratou como opção. Atualmente, um dos focos da psicologia está voltado para a compreensão da sexualidade e a construção de sentido para a homossexualidade e lesbianidade. Segundo Kitzing (1987 apud Borges, 2008) até os anos 1970, os estudos sobre lesbianidade eram orientados por modelos teóricos cuja influência remetia à patologia e ao desvio fortemente carregado de juízo. De acordo com a autora, só houve um rompimento com a visão tradicional a partir do momento em que algumas mulheres lésbicas saíram do anonimato e passaram a ser ameaça ao sistema da época. Nessa visão, Fadermam e Vinicius (2001; 1993 apud Borges, 2008), defendem que mesmo antes de se falar em sexologia, as amizades românticas entre as mulheres não eram vistas como ameaças. Kitzinger (1987 apud Borges, 2008) apresentou dois pressupostos: um que coloca a lesbianidade como patologia e a outra que a define como um estilo de vida pessoal. A autora ainda ressalta que após 1970 as pesquisas da psicologia moderna sobre lesbianidade passaram a ser desenvolvidas a partir de uma visão liberal, ou seja, os princípios como liberdade de expressão, tolerância, oposição a qualquer tipo de 4 discriminação, seja por orientação sexual seja por raça, etnia, ou outros motivos, substituíram a visão de patologia. Apesar de que para alguns profissionais da psicologia a conceituação de homossexualidade e lesbianidade como patologiaainda persista, essa área passa por profundos impactos a partir de 1970. Nesse sentido, após rever seus conceitos, o Conselho Federal Brasileiro de Psicologia (CFP), cria uma ementa, na qual estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação ao uso de suas atribuições legais e regimentais pertinentes à questão da Orientação Sexual: (...) Considerando que o psicólogo é um profissional da saúde; considerando que na prática profissional, independentemente da área em que esteja atuando, o psicólogo é frequentemente interpelado por questões ligadas à sexualidade; considerando que a forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua totalidade; considerando que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão; considerando que há na sociedade, uma inquietação em torno de práticas sexuais desviantes da norma estabelecida sócio culturalmente; considerando que a Psicologia pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações. (RESOLUÇÃO 001/1999 DO CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA). No entanto, apesar de tal iniciativa ser uma tendência internacional, cada país e cultura trata a questão da homossexualidade de maneira diferente. O Brasil, por exemplo, por meio do Conselho Federal de Psicologia, deixou de considerar a orientação sexual como doença ainda em 1985. Nesse contexto, apesar de os cientistas, estudiosos e muitas pessoas da sociedade procurarem compreender a opção sexual apenas como uma opção individual e não como um problema de saúde, o desafio continua sendo para as culturas uma incógnita. Partindo desse pressuposto, a Psicologia, nos últimos anos, vem se preocupando com a formação do psicólogo, para que esse profissional, ao fazer intervenção, possa levar em consideração a realidade na qual o indivíduo está inserido. Nesse novo caminho de formação, são realizados trabalhos de pesquisa e conhecimento, a fim de estabelecer novos parâmetros a respeito do assunto. 1.2 A homossexualidade na visão da Sociedade A homossexualidade tem sido vista de diferentes maneiras por diversas 5 sociedades, como também ocorreu em épocas diferentes. Percebe-se que, assim como a sociedade antiga possuiu, a moderna ainda possui certa dificuldade quando o assunto é homossexualidade. Ainda há, inconscientemente e ou conscientemente, diversas formas de interpretação referentes ao comportamento homossexual. Observa-se que na sociedade atual o assunto homossexualidade, muitas vezes, é rejeitado ou incentivado. Houve momento na história que algumas sociedades, juntamente com as igrejas, apoiaram punições civis de homossexuais, incluindo até mesmo a pena de morte. Cada cultura possui os seus próprios valores, considerados adequados e inadequados, em relação à homossexualidade e sexualidade em geral. Algumas pessoas, de diversas culturas, aprovam o amor e as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, ao tempo que a grande maioria reprova tais relacionamentos homossexuais entre mulheres e homens. Sabe-se que muitos ainda compreendem a homossexualidade como doença. O que se deve entender diante deste paradigma é que a Homossexualidade não é crime, não é doença e não é contagiosa e que o respeito por essas pessoas deve prevalecer. O preconceito é monstruoso, contagioso e destrói. Antes de a pessoa ser homossexual, o ser humano é filho (a), tio (a), sobrinho (a), amigo (a) e pode até ser pai e mãe, possui uma profissão, ou seja, se dermos importância somente a uma característica pessoal, podemos perder o melhor que o homossexual tem a oferecer. É fato que só discrimina aquele que não ama e não tem conhecimento. Nesse contexto, Cobb Jr. (2008, p. 39) assevera que: Mas mesmo numa sociedade completamente liberal, os homossexuais não chegariam ao ideal. O relacionamento sexual entre homossexuais nunca será pleno como o vaginal. Além disso, obviamente, jamais poderão gerar seus filhos. Na verdade, porém, ninguém consegue alcançar o ideal. Tal falha, de qualquer maneira, faz parte de nossa condição humana normal. Quando o ideal é usado para que as pessoas sintam remorso por não incorporá-lo, produz mais mal do que bem. É, então, simplesmente melhor acentuar a multiplicidade de possíveis estilos de vida e ajudar as pessoas em suas escolhas. A sociedade é composta de pessoas imperfeitas que viverão melhor se não se sentirem condenadas por isso. Em vez de achar que este ou aquele estilo de vida é o melhor de todos, convém procurar soluções para as limitações existentes. Dessa forma, pode-se entender que a partir dos velhos conceitos, novos pensamentos poderão surgir, abolindo ou não os anteriores, visto que os homossexuais já conquistaram, relativamente, alguns direitos na sociedade em que vivem. Como nos lembra Guacira Lopes Louro, “A sexualidade não é apenas uma questão pessoal, mas 6 é social e política, (...) ela é “aprendida”. Porém, ainda deve haver discussões e pesquisas sobre o assunto, para que se possa fomentar propostas de intervenção relacionadas ao tratamento com respeito e amor, por parte da sociedade, para com o público LGBTT. 1.3 A homossexualidade na visão da religião Não pretendemos neste trabalho discursar sobre as questões de interpretações teológicas e/ou bíblicas. Interessa-nos analisar cuidadosamente os desafios que as mulheres lésbicas e suas famílias, bem com os homossexuais em geral, enfrentam perante os religiosos. Sabe-se que para os cristãos heterossexuais o conceito de homossexualidade é de difícil compreensão; no entanto, é preciso refletir sobre como essas pessoas afetam e são afetadas pela religião. Na visão tradicional da religião, o conceito de família parte do pressuposto de que a sexualidade serve para a reprodução, e que o sexo somente por prazer não é bem visto. Essas concepções influenciam o preconceito contra gays e lésbicas, fortalecendo o ponto de vista de que essas pessoas são pervertidas e anormais, gerando nelas sentimento de culpa e vergonha. Conforme afirmação de Davi, que apresenta os princípios do Cristianismo durante a idade Média: As formas de perceber a homossexualidade, chamada de sodomia, passaram a pautar-se sobre as noções de pecado e crime contra a natureza. A sodomia, por ser uma heresia que subvertia os valores patriarcais ligados à família, como também, a sexualidade voltada para a procriação e casamento, foi duramente perseguida e castigada (DAVI, 2002, p. 45). As concepções religiosas influenciaram o imaginário coletivo da sociedade, instigando marcas prejudiciais de preconceito e violência. Há poucas citações bíblicas em que supostamente é direcionada, especificamente, a homossexualidade feminina. O que existe, na verdade, são insinuações sobre o texto de Rute e Noemi, mas não se tem evidências sólidas. No novo testamento, apenas uma passagem é mencionada numa das cartas de Paulo aos Romanos. Segundo Busin (apud PECHENY, 2005), a lesbianidade requer um sigilo da identidade. Nesse sentido, o anonimato caracteriza-se como um recurso fundamental, uma vez que a mulher homossexual não encontra pessoas dispostas a compartilhar seus problemas, sentimentos e culpas, vivenciados devido à situação que procuram ocultar. Busin ressalta (apud MACRE, 2005, p. 299): 7 Os sentimento de culpa e vergonha que oprimem o homossexual são constantemente repostos por fatores sociais que os levam a ocultar-se, a ter medo do ridículo, da prisão, do desemprego, do ostracismo por parte de amigos e familiares. Essas pessoas encontram-se numa situação constrangedora, pois, de um lado, o movimento LGBTT justifica que a homossexualidade não pode ser alterada, e de outro lado, enfrentam a mensagem tradicional das igrejas dizendo que a homossexualidade é o piordos pecados. Existem muitas crianças, adolescentes e jovens do grupo LGBTT que são criadas no contexto da igreja e acabam se isolando, por desejar alguém do mesmo sexo. Esse indivíduo na maioria das vezes, acaba por se oprimir ao lutar contra os “pensamentos íntimos” considerados pecaminosos. Geralmente essas pessoas, que não sabem a quem recorrer, buscam sem sucesso se livrar desses pensamentos, e muitas vezes esse público acaba ficando doente, desencadeando problemas de depressão ou várias outras neuroses. É lamentável saber que as igrejas, ao longo dos séculos, apoiaram aqueles que puniam cruelmente os homossexuais. Pessoas eram queimadas na fogueira. Tal barbárie não acontece nos dias de hoje, mas não podemos esquecer que nossos antepassados, conhecidos por cristãos fiéis, incentivavam a referida prática. O que se pretende pontuar neste artigo é que a rejeição e opressão social é um grande sofrimento para as pessoas homossexuais e que cabe também às igrejas acolher esse público e dar-lhes apoio quando solicitadas. 2 DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL Por serem desrespeitadas, alvo de piadas, menosprezadas, subestimadas e terem suas vidas invadidas, muitas dessas pessoas começam a pensar que são uma aberração e, com isso, não conseguem entender tais atitudes por parte da sociedade. Portanto, muitos homossexuais, por exemplo, sofrem com a rejeição de muitas pessoas e isso tem sido altamente prejudicial em vários aspectos de suas vidas, levando-os até mesmo ao suicídio. Ao realizar este trabalho, houve muita dificuldade de encontrar dados estatísticos sobre a questão de homicídio e suicídio de homossexuais, bem como em termos bibliográficos. No entanto, percebe-se que o Brasil é um dos países em que há o maior número de assassinatos por orientação sexual. A Reportagem de Daniella Jinkings, da Agência Brasil, publicada pelo http://www.ecodebate.com.br/9hV 8 EcoDebate em 5 de abril de 2011, revela o seguinte dado: em 2010, 260 gays, travestis e lésbicas foram assassinados no Brasil. De acordo com um relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada um dia e meio um homossexual brasileiro é morto. Nos últimos cinco anos, houve aumento de 113% no número de assassinatos de homossexuais. Apenas nos três primeiros meses de 2011 foram 65 assassinatos. O estudo também aponta que o Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos de homossexuais. Nos Estados Unidos, foram registrados catorze homicídios de travestis em 2010, enquanto no Brasil foram 110 assassinatos. Além disso, o risco de um homossexual ser morto violentamente no Brasil é 785% maior que nos Estados Unidos. Segundo o estudo, o Nordeste é a região mais homofóbica do país. Essa região abriga trinta por cento da população brasileira e registrou 43% dos homossexuais assassinados. No Sudeste, ocorreram 27% dos assassinatos, no Sul, 9%, no Centro- Oeste,10%, e no Norte,10%. O risco de um homossexual do Nordeste ser assassinado é aproximadamente oitenta por cento mais elevado que no Sul ou no Sudeste. A publicação em 13 de agosto de 2012 no site da Secretaria Nacional da Juventude, informa que o governo federal, por meio da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), mapeou, pela primeira vez, dados sobre a violência homofóbica no Brasil. Divulgado no início do mês de agosto de 2012, o relatório, que teve por base o ano de 2011, revela que nesse período foram registradas cerca de 6,9 mil denúncias de caráter homofóbico, ou seja, preconceito à orientação sexual e identidade de gênero presumida. As denúncias foram recebidas pelo Disque 100 da SDH; pela Central de Atendimento à Mulher (Secretaria de Mulheres); Disque Saúde (Ministério da Saúde) e por emails encaminhados ao Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT. De acordo com o documento, 67,5% das vítimas são homens e 85,5%, homossexuais, enquanto as mulheres representam 26,4% das vítimas. O relatório mostra também que do total de vítimas, 69% são jovens, com idade entre 15 e 29 anos. O relatório também revelou que 62% das vítimas conheciam seus agressores, sendo que 38,2% são familiares e 35,8% vizinhos. O relatório da SDH ainda informa que os locais de discriminação são encabeçados pelo ambiente doméstico (42%) e pela rua (30,8%), seguidos pelo local de trabalho (4,6%), pelas instituições governamentais (5,5%) e outros ambientes (17,1%). Essa pesquisa teve a participação de Marco Aurélio Prado, psicólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, que desenvolve pesquisas no campo das relações de gênero e da cidadania LGBT. A mobilização por parte dos grupos de LGBT acabou por desafiar a agenda dos representantes do legislativo, bem como, todas as esferas governamentais, nacional e internacional. Musskopf (2010, p. 252) afirma que: http://www.ecodebate.com.br/9hV 9 Também no Brasil, no final da década de 70, surgiu um movimento homossexual organizado e com uma agenda política mais sólida. Sua emergência, assim como em outros lugares, esteve relacionada com a atuação de outros movimentos sociais (como os movimentos feminista, negro e ecológico), os quais tinham em comum a luta contra a discriminação e por direitos civis no contexto da ditadura militar. Foi justamente com o abrandamento deste regime que grupos e instrumentos de atuação política, homossexuais puderam surgir e organizar-se mais solidamente. Foi a partir da década de 1990 que outras identidades foram acrescidas a essas manifestações, sendo reconhecidas como movimento LGBT, que incluía os bissexuais, travestis e transexuais. Atualmente, a sigla mais utilizada pelos movimentos homossexuais é LGBTTIS, que significa: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros, Transexuais, Intersexuais e Simpatizantes, sendo que o “S” de simpatizantes pode ser substituído pela letra “A” de Aliados ou, ainda, acrescida a Letra “Q” de Queer, que, embora não muito comum, é utilizada em alguns países e por alguns grupos do movimento gay. No século XXI, o movimento homossexual se expande e adquire maior expressão, passando a conquistar avanços no combate à discriminação. Atualmente, é um movimento bem consolidado. Nesse contexto, entende-se que a sexualidade é um direito de cada ser humano e que não se restringe e muito menos se confunde com a prática sexual. Segundo Foucault: Não obstante, a ideia de que se deve ter um verdadeiro sexo está longe de ser dissipada. Seja qual for a opinião dos biólogos a esse respeito, encontramos, pelo menos em estado difuso, não apenas na psiquiatria, psicanálise e psicologia, mas também na opinião pública, a ideia de que entre sexo e verdade existem relações complexas, obscuras e essenciais (FOUCAULT, 1982, p. 03). Atentando ao que diz Foucault, ainda que o assunto sexo, sexualidade e ou LGBTT tenha tido seu histórico em todos os tipos de sociedade, durante todos os tempos, e que tenha sido rotulada de diferentes formas, algumas vezes aceita ou rejeitada, conforme os costumes e hábitos sociais, em meio a tantas lutas, pode-se dizer que as conquistas desse grupo foram grandes, embora a discriminação ainda permeie lentamente por vários âmbitos da sociedade nacional e internacional. CONSIDERAÇÕES FINAIS http://pt.wikipedia.org/wiki/Queer 10 Finalizando este artigo, chega-se à conclusão que o preconceito, discriminação e violência contra LGBTT, são um fenômeno complexo, sócio-histórico, que deve ser analisado pelos profissionais da saúde de uma forma bastante ampla e sem pré- julgamento. Este trabalho também buscou mostrar que se deve respeitar os direitos pautados na Constituição Brasileira, onde consta que todo ser humano deve ser respeitado e ter seus direitos garantidos, independentemente de cor, credo, raça e sexo. Porém, muitos ainda discriminam e até os excluem de seu meio social. Isso acontece constantemente na sociedade, mas principalmente nos lares,locais de trabalho e igrejas, ambientes esses que são fundamentais para qualquer ser humano construir uma vida plena, ter a sua base de vida consolidada. Conclui-se que não existe uma causa aplausível para o desamor, mas sim vários fatores relacionados ao comportamento da realidade social, que levam muitas pessoas a agirem de forma indiferente e até mesmo violenta. Portanto, destaca-se aqui a importância da atuação dos profissionais de saúde, principalmente aqueles da saúde mental, estamos falando principalmente da psicologia clínica, que deve buscar acolher, analisar e tratar com todo cuidado, dedicação e amor, cada indivíduo. O profissional da saúde mental eficaz deve ser uma pessoa humana e que possa estabelecer um relacionamento genuíno com o paciente, seja qual for a instituição e abordagem em que atua. O papel de qualquer profissional é saber ouvir o seu paciente sem oprimi-lo nem prejulgá-lo. Faz-se muito necessário que todos os profissionais da saúde mental busquem ampliar seus conhecimentos na área da homossexualidade. REFERÊNCIAS BUSIN, Valéria Melki. Homossexualidade, Religião e Gênero: a influência do Catolicismo na construção da autoimagem de Gays e Lésbicas. São Paulo, 2006. 175 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC. COBB et al. Homossexualidade – Perspectivas Cristãs. São Paulo: Fonte Editorial, 2008. DAVI, Edmar Henrique D. Entre a visibilidade e a intolerância: algumas considerações sobre a homossexualidade nos dias de hoje. In: NEGUEM – Núcleo de estudos de Gênero e Pesquisa sobre a Mulher. Revista Universidade Federal de Uberlândia, Nº 18 – 1º semestre ano 10. Uberlândia MG, 2002. FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 30ª ed., 2005. 11 LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 7ª ed., 2004. MACRAE, Edward. (2005). Em defesa do gueto. In: GREEN, James N; Trindade, Ronaldo. Homossexualismo em São Paulo e outros escritos. São Paulo: Editora Unesp, p. 291-308. MATOS et al. Identidade – Projeto de Extensão – Acadêmicas do 7º semestre de Serviço Social do Pólo Padrão da Anhanguera Uniderp Interativa. 2011. Campo Grande-MS. MUSSKOPF et al. Bíblia e Sexualidade – Abordagem teológica, pastoral e bíblica. São Paulo: Fonte Editorial, 2010. Sites pesquisados: http://www.crpsp.org.br/portal/orientacao/resolucoes_cfp/fr_cfp_001-99.aspx - Acesso em: 28 out. 2012. http://www.ecodebate.com.br/2011/04/05/homofobia-e-violencia-a-cada-36-horas- um-homossexual-e-morto-no-brasil/. Acesso em: 26 nov.2012. http://www.juventude.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/08/13-08-2012-de- acordo- com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia- homofobica. 13.08.2012 - De acordo com relatório da SDH, jovens estão entre principais vítimas da violência homofóbica. Acesso em: 26 dez. 2012. http://www.crpsp.org.br/portal/orientacao/resolucoes_cfp/fr_cfp_001-99.aspx http://www.ecodebate.com.br/2011/04/05/homofobia-e-violencia-a-cada-36-horas-um-homossexual-e-morto-no-brasil/ http://www.ecodebate.com.br/2011/04/05/homofobia-e-violencia-a-cada-36-horas-um-homossexual-e-morto-no-brasil/ http://www.juventude.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/08/13-08-2012-de-acordo-com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia-homofobica http://www.juventude.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/08/13-08-2012-de-acordo-com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia-homofobica http://www.juventude.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/08/13-08-2012-de-acordo-com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia-homofobica http://www.juventude.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/08/13-08-2012-de-acordo-com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia-homofobica