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O TRABALHO PRECONCEITO DE GENEROS (1)

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PRECONCEITOS DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL 
 
 
Alex Junior Pereira 
Anna Luiza Maldonado 
Elenice Inácia Rodrigues Interlando 
Luan Cabral Pereira 
Renata Lima da Silva Gomes 
Vanice Umbelina de Sá 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Este trabalho visa compreender, de uma forma geral, as articulações da antropologia e 
ciência referente a homossexualidade no Brasil. Entre fatos científicos e representações 
sociais, o intuito é contribuir na busca por resoluções de problemas e conflitos na vida 
cotidiana do público LGBTT, tendo como base de análise o alto índice de discriminação, 
violência e preconceito existentes no contexto das famílias, do trabalho, da igreja e da 
sociedade. Existem também vários outros agravantes que contemplam as 
especificidades desse público. O preconceito da sociedade à homossexualidade causa 
resultados bastante negativos, com inevitáveis problemas de culpa, vergonha, solidão e 
humilhação. Neste contexto, observa-se que a psicologia clínica constitui instrumento 
para ajudar o público alvo de várias maneiras, mas principalmente fortalecendo-os em 
seus sentimentos e comportamentos assertivos, fazendo com que estes consigam 
entender melhor toda a dinâmica em sua volta. Neste sentido, a psicoterapia pode fazer 
com que o sujeito desenvolva o seu papel singular e único, pois ninguém pode gozar de 
boa saúde separando-se de seu grupo social. Cabe ao profissional de psicologia ajudar 
o indivíduo a exteriorizar seus conflitos, para que este desenvolva competências na vida 
pessoal. Percebe-se que quando a pessoa entende e aceita seus sentimentos mais 
profundos, ao expressá-los, ele se sentirá mais livre, acolhido e amado, e as situações 
de terapias poderão ser uma oportunidade de crescimento e autodesenvolvimento da 
vida humana. Ressaltamos aqui que o objetivo deste trabalho não é apresentar a 
homossexualidade como correta ou não, nem tampouco entrar em questionamentos de 
suas causas e efeitos. Este artigo foi realizado respeitando tanto quem vive na prática 
homossexual, como o papel dos psicólogos, psicoterapeutas, padres, pastores, 
conselheiros, famílias e sociedade em geral. Por meio de referências bibliográficas, foi 
possível investigar como se apresenta a discriminação sexual e seus reflexos na 
subjetivação dos sujeitos envolvidos no processo. Assim sendo, pôde-se analisar como 
esse público se sente em relação a tal tipo de discriminação, quando em busca da 
visibilidade, respeito e proteção legal. O nosso objetivo é compreender as dimensões de 
sofrimentos na vida adquiridos com a invisibilidade e indiferença no âmbito da cultura. 
2 
 
Entendemos que a homossexualidade, ao longo da história, sempre foi um assunto de 
grandes contradições nas igrejas, entre as profissões de psiquiatria, psicologia e na 
sociedade em geral. E, por fim, destaca-se a importância do conhecimento acerca do 
tema, para reflexão dos futuros profissionais de psicologia, pois se trata de uma 
realidade que tem sido palco em toda sociedade. 
 
 
Palavras-chave: Orientação Sexual. Preconceito. Psicologia Clínica. 
 
1 HOMOSSEXUALIDADE: 
 
1.1 A homossexualidade na visão da psicologia tradicional e moderna 
 
 
A homossexualidade foi considerada uma doença, permanecendo assim 
interpretada até 1974, quando a Organização Mundial de Saúde a excluiu de sua lista 
de enfermidades. Antes disso, em 1973, a Associação Psiquiátrica Norte Americana 
(APA) retirou o termo “homossexualismo” de seu manual oficial, o qual listava todas as 
doenças mentais e emocionais. Várias organizações de saúde apoiaram tal decisão. 
A partir 1990, houve muita polêmica acerca de novas pesquisas nesse campo, 
por apontarem que a homossexualidade existia devido a possível origem genética. 
Atualmente, percebe-se que o assunto sobre homossexualidade ainda está envolto em 
preconceito e muita falta de informação e conhecimento. 
O fato é que descrever a homossexualidade como um simples caso de escolha 
é não dar a devida importância à dor e à preocupação vivenciadas por tantos homens 
e mulheres homossexuais quando descobrem a sua orientação sexual. Deve-se 
acreditar que essas pessoas não escolhem ser expostas e rejeitadas por parte de 
familiares, parentes, amigos e sociedade. 
Até o início dos anos 70, o estudo da homossexualidade estava restrito à área 
da psiquiatria. Existiam diversas teorias referentes às causas da homossexualidade e 
várias delas associavam a homossexualidade com uma psicopatologia. Acreditava-se 
que uma das psicopatologias era desencadeada por uma criança "defeituosa", ou seja, 
tal “defeito” ocorria pelo fato de essa criança ter nascido de uma mãe dominante, de 
um pai ausente, ou pelas duas situações. É nesse período que as pesquisas realizadas 
sobre gays e lésbicas, em todas as áreas de atuação humana, têm origem nas grandes 
universidades. 
 
No Brasil, nas décadas de 1970 e 1980, aparecem estudos 
fundamentais na área das Ciências Sociais que inauguraram novas 
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abordagens desta temática. A emergência desses estudos intimamente 
ligada às mudanças políticas no Brasil e à atuação de nascentes grupos 
feministas e homossexuais. (MUSSKOPF, 2010, p. 253 e 254). 
 
 
O fato é que os cientistas acreditavam e ou ainda acreditam que a orientação 
sexual de uma pessoa, seja esta, heterossexual, homossexual ou bissexual, está 
relacionada a vários fatores, tais como, genéticos, psicológicos ou sociais. Vários deles, 
psicoterapeutas, psiquiatras e psicólogos, que realizaram pesquisas científicas na 
época, concordaram que “se desconhecem as causas exatas da heterossexualidade e 
da homossexualidade e que a orientação sexual de um indivíduo não pode ser 
modificada permanentemente mediante a terapia”. Nesse sentido, Musskopf (2010, p. 
254) lembra que: 
 
Tida como doença nos meios científicos e acadêmicos, além de 
conquistas diversas no campo dos direitos civis, a principal 
consequência das mudanças tanto no campo da pesquisa cientifica 
quanto do movimento de libertação homossexual foi a afirmação de que 
a homossexualidade não é uma doença. Não apenas o movimento 
homossexual passou a afirmar isso, mas organizações como a 
Academia Americana de Psiquiatria (ainda na década de 1970), e a 
própria Organização Mundial de Saúde (já no início da década de 1990) 
e também o Conselho Federal de Psicologia do Brasil deixaram de 
considerar a homossexualidade uma doença. 
 
 
Foi necessária uma mudança “quase que radical”, pois nem mesmo Freud 
considerou a Homossexualidade uma doença e jamais a tratou como opção. 
Atualmente, um dos focos da psicologia está voltado para a compreensão da 
sexualidade e a construção de sentido para a homossexualidade e lesbianidade. 
Segundo Kitzing (1987 apud Borges, 2008) até os anos 1970, os estudos sobre 
lesbianidade eram orientados por modelos teóricos cuja influência remetia à patologia 
e ao desvio fortemente carregado de juízo. De acordo com a autora, só houve um 
rompimento com a visão tradicional a partir do momento em que algumas mulheres 
lésbicas saíram do anonimato e passaram a ser ameaça ao sistema da época. Nessa 
visão, Fadermam e Vinicius (2001; 1993 apud Borges, 2008), defendem que mesmo 
antes de se falar em sexologia, as amizades românticas entre as mulheres não eram 
vistas como ameaças. 
Kitzinger (1987 apud Borges, 2008) apresentou dois pressupostos: um que 
coloca a lesbianidade como patologia e a outra que a define como um estilo de vida 
pessoal. A autora ainda ressalta que após 1970 as pesquisas da psicologia moderna 
sobre lesbianidade passaram a ser desenvolvidas a partir de uma visão liberal, ou seja, 
os princípios como liberdade de expressão, tolerância, oposição a qualquer tipo de 
4 
 
discriminação, seja por orientação sexual seja por raça, etnia, ou outros motivos, 
substituíram a visão de patologia. 
Apesar de que para alguns profissionais da psicologia a conceituação de 
homossexualidade e lesbianidade como patologiaainda persista, essa área passa por 
profundos impactos a partir de 1970. Nesse sentido, após rever seus conceitos, o 
Conselho Federal Brasileiro de Psicologia (CFP), cria uma ementa, na qual estabelece 
normas de atuação para os psicólogos em relação ao uso de suas atribuições legais e 
regimentais pertinentes à questão da Orientação Sexual: 
 
(...) Considerando que o psicólogo é um profissional da saúde; 
considerando que na prática profissional, independentemente da área 
em que esteja atuando, o psicólogo é frequentemente interpelado por 
questões ligadas à sexualidade; considerando que a forma como cada 
um vive sua sexualidade faz parte da identidade do sujeito, a qual deve 
ser compreendida na sua totalidade; considerando que a 
homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem 
perversão; considerando que há na sociedade, uma inquietação em 
torno de práticas sexuais desviantes da norma estabelecida sócio 
culturalmente; considerando que a Psicologia pode e deve contribuir 
com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da 
sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações. 
(RESOLUÇÃO 001/1999 DO CONSELHO FEDERAL DE 
PSICOLOGIA). 
 
 
No entanto, apesar de tal iniciativa ser uma tendência internacional, cada país 
e cultura trata a questão da homossexualidade de maneira diferente. O Brasil, por 
exemplo, por meio do Conselho Federal de Psicologia, deixou de considerar a 
orientação sexual como doença ainda em 1985. 
Nesse contexto, apesar de os cientistas, estudiosos e muitas pessoas da 
sociedade procurarem compreender a opção sexual apenas como uma opção 
individual e não como um problema de saúde, o desafio continua sendo para as culturas 
uma incógnita. 
Partindo desse pressuposto, a Psicologia, nos últimos anos, vem se 
preocupando com a formação do psicólogo, para que esse profissional, ao fazer 
intervenção, possa levar em consideração a realidade na qual o indivíduo está inserido. 
Nesse novo caminho de formação, são realizados trabalhos de pesquisa e 
conhecimento, a fim de estabelecer novos parâmetros a respeito do assunto. 
 
 
1.2 A homossexualidade na visão da Sociedade 
 
 
A homossexualidade tem sido vista de diferentes maneiras por diversas 
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sociedades, como também ocorreu em épocas diferentes. Percebe-se que, assim como 
a sociedade antiga possuiu, a moderna ainda possui certa dificuldade quando o assunto 
é homossexualidade. Ainda há, inconscientemente e ou conscientemente, diversas 
formas de interpretação referentes ao comportamento homossexual. 
Observa-se que na sociedade atual o assunto homossexualidade, muitas vezes, 
é rejeitado ou incentivado. Houve momento na história que algumas sociedades, 
juntamente com as igrejas, apoiaram punições civis de homossexuais, incluindo até 
mesmo a pena de morte. 
Cada cultura possui os seus próprios valores, considerados adequados e 
inadequados, em relação à homossexualidade e sexualidade em geral. Algumas 
pessoas, de diversas culturas, aprovam o amor e as relações sexuais entre pessoas 
do mesmo sexo, ao tempo que a grande maioria reprova tais relacionamentos 
homossexuais entre mulheres e homens. Sabe-se que muitos ainda compreendem a 
homossexualidade como doença. 
O que se deve entender diante deste paradigma é que a Homossexualidade 
não é crime, não é doença e não é contagiosa e que o respeito por essas pessoas deve 
prevalecer. O preconceito é monstruoso, contagioso e destrói. Antes de a pessoa ser 
homossexual, o ser humano é filho (a), tio (a), sobrinho (a), amigo (a) e pode até ser 
pai e mãe, possui uma profissão, ou seja, se dermos importância somente a uma 
característica pessoal, podemos perder o melhor que o homossexual tem a oferecer. É 
fato que só discrimina aquele que não ama e não tem conhecimento. Nesse contexto, 
Cobb Jr. (2008, p. 39) assevera que: 
 
Mas mesmo numa sociedade completamente liberal, os homossexuais 
não chegariam ao ideal. O relacionamento sexual entre homossexuais 
nunca será pleno como o vaginal. Além disso, obviamente, jamais 
poderão gerar seus filhos. Na verdade, porém, ninguém consegue 
alcançar o ideal. Tal falha, de qualquer maneira, faz parte de nossa 
condição humana normal. Quando o ideal é usado para que as pessoas 
sintam remorso por não incorporá-lo, produz mais mal do que bem. É, 
então, simplesmente melhor acentuar a multiplicidade de possíveis 
estilos de vida e ajudar as pessoas em suas escolhas. A sociedade é 
composta de pessoas imperfeitas que viverão melhor se não se 
sentirem condenadas por isso. Em vez de achar que este ou aquele 
estilo de vida é o melhor de todos, convém procurar soluções para as 
limitações existentes. 
 
 
Dessa forma, pode-se entender que a partir dos velhos conceitos, novos 
pensamentos poderão surgir, abolindo ou não os anteriores, visto que os homossexuais 
já conquistaram, relativamente, alguns direitos na sociedade em que vivem. Como nos 
lembra Guacira Lopes Louro, “A sexualidade não é apenas uma questão pessoal, mas 
6 
 
é social e política, (...) ela é “aprendida”. Porém, ainda deve haver discussões e 
pesquisas sobre o assunto, para que se possa fomentar propostas de intervenção 
relacionadas ao tratamento com respeito e amor, por parte da sociedade, para com o 
público LGBTT. 
 
1.3 A homossexualidade na visão da religião 
 
 
Não pretendemos neste trabalho discursar sobre as questões de interpretações 
teológicas e/ou bíblicas. Interessa-nos analisar cuidadosamente os desafios que as 
mulheres lésbicas e suas famílias, bem com os homossexuais em geral, enfrentam 
perante os religiosos. 
Sabe-se que para os cristãos heterossexuais o conceito de homossexualidade 
é de difícil compreensão; no entanto, é preciso refletir sobre como essas pessoas 
afetam e são afetadas pela religião. Na visão tradicional da religião, o conceito de 
família parte do pressuposto de que a sexualidade serve para a reprodução, e que o 
sexo somente por prazer não é bem visto. Essas concepções influenciam o preconceito 
contra gays e lésbicas, fortalecendo o ponto de vista de que essas pessoas são 
pervertidas e anormais, gerando nelas sentimento de culpa e vergonha. Conforme 
afirmação de Davi, que apresenta os princípios do Cristianismo durante a idade Média: 
 
As formas de perceber a homossexualidade, chamada de sodomia, 
passaram a pautar-se sobre as noções de pecado e crime contra a 
natureza. A sodomia, por ser uma heresia que subvertia os valores 
patriarcais ligados à família, como também, a sexualidade voltada para 
a procriação e casamento, foi duramente perseguida e castigada (DAVI, 
2002, p. 45). 
 
 
As concepções religiosas influenciaram o imaginário coletivo da sociedade, 
instigando marcas prejudiciais de preconceito e violência. Há poucas citações bíblicas 
em que supostamente é direcionada, especificamente, a homossexualidade feminina. 
O que existe, na verdade, são insinuações sobre o texto de Rute e Noemi, mas não se 
tem evidências sólidas. No novo testamento, apenas uma passagem é mencionada 
numa das cartas de Paulo aos Romanos. 
Segundo Busin (apud PECHENY, 2005), a lesbianidade requer um sigilo da 
identidade. Nesse sentido, o anonimato caracteriza-se como um recurso fundamental, 
uma vez que a mulher homossexual não encontra pessoas dispostas a compartilhar 
seus problemas, sentimentos e culpas, vivenciados devido à situação que procuram 
ocultar. Busin ressalta (apud MACRE, 2005, p. 299): 
 
7 
 
Os sentimento de culpa e vergonha que oprimem o homossexual são 
constantemente repostos por fatores sociais que os levam a ocultar-se, 
a ter medo do ridículo, da prisão, do desemprego, do ostracismo por 
parte de amigos e familiares. 
 
 
Essas pessoas encontram-se numa situação constrangedora, pois, de um lado, 
o movimento LGBTT justifica que a homossexualidade não pode ser alterada, e de 
outro lado, enfrentam a mensagem tradicional das igrejas dizendo que a 
homossexualidade é o piordos pecados. 
Existem muitas crianças, adolescentes e jovens do grupo LGBTT que são 
criadas no contexto da igreja e acabam se isolando, por desejar alguém do mesmo 
sexo. Esse indivíduo na maioria das vezes, acaba por se oprimir ao lutar contra os 
“pensamentos íntimos” considerados pecaminosos. Geralmente essas pessoas, que 
não sabem a quem recorrer, buscam sem sucesso se livrar desses pensamentos, e 
muitas vezes esse público acaba ficando doente, desencadeando problemas de 
depressão ou várias outras neuroses. 
É lamentável saber que as igrejas, ao longo dos séculos, apoiaram aqueles que 
puniam cruelmente os homossexuais. Pessoas eram queimadas na fogueira. Tal 
barbárie não acontece nos dias de hoje, mas não podemos esquecer que nossos 
antepassados, conhecidos por cristãos fiéis, incentivavam a referida prática. 
O que se pretende pontuar neste artigo é que a rejeição e opressão social é um 
grande sofrimento para as pessoas homossexuais e que cabe também às igrejas 
acolher esse público e dar-lhes apoio quando solicitadas. 
 
2 DISCRIMINAÇÃO POR ORIENTAÇÃO SEXUAL 
 
 
Por serem desrespeitadas, alvo de piadas, menosprezadas, subestimadas e 
terem suas vidas invadidas, muitas dessas pessoas começam a pensar que são uma 
aberração e, com isso, não conseguem entender tais atitudes por parte da sociedade. 
Portanto, muitos homossexuais, por exemplo, sofrem com a rejeição de muitas pessoas 
e isso tem sido altamente prejudicial em vários aspectos de suas vidas, levando-os até 
mesmo ao suicídio. 
Ao realizar este trabalho, houve muita dificuldade de encontrar dados 
estatísticos sobre a questão de homicídio e suicídio de homossexuais, bem como em 
termos bibliográficos. No entanto, percebe-se que o Brasil é um dos países em que há 
o maior número de assassinatos por orientação sexual. 
A Reportagem de Daniella Jinkings, da Agência Brasil, publicada pelo 
http://www.ecodebate.com.br/9hV
8 
 
EcoDebate em 5 de abril de 2011, revela o seguinte dado: em 2010, 260 gays, travestis 
e lésbicas foram assassinados no Brasil. De acordo com um relatório do Grupo Gay da 
Bahia (GGB), a cada um dia e meio um homossexual brasileiro é morto. Nos últimos 
cinco anos, houve aumento de 113% no número de assassinatos de homossexuais. 
Apenas nos três primeiros meses de 2011 foram 65 assassinatos. O estudo também 
aponta que o Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos de homossexuais. Nos 
Estados Unidos, foram registrados catorze homicídios de travestis em 2010, enquanto 
no Brasil foram 110 assassinatos. Além disso, o risco de um homossexual ser morto 
violentamente no Brasil é 785% maior que nos Estados Unidos. 
Segundo o estudo, o Nordeste é a região mais homofóbica do país. Essa região 
abriga trinta por cento da população brasileira e registrou 43% dos homossexuais 
assassinados. No Sudeste, ocorreram 27% dos assassinatos, no Sul, 9%, no Centro-
Oeste,10%, e no Norte,10%. O risco de um homossexual do Nordeste ser assassinado 
é aproximadamente oitenta por cento mais elevado que no Sul ou no Sudeste. 
A publicação em 13 de agosto de 2012 no site da Secretaria Nacional da 
Juventude, informa que o governo federal, por meio da Secretaria de Direitos Humanos 
(SDH), mapeou, pela primeira vez, dados sobre a violência homofóbica no Brasil. 
Divulgado no início do mês de agosto de 2012, o relatório, que teve por base o ano de 
2011, revela que nesse período foram registradas cerca de 6,9 mil denúncias de caráter 
homofóbico, ou seja, preconceito à orientação sexual e identidade de gênero 
presumida. As denúncias foram recebidas pelo Disque 100 da SDH; pela Central de 
Atendimento à Mulher (Secretaria de Mulheres); Disque Saúde (Ministério da Saúde) e 
por emails encaminhados ao Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT. 
De acordo com o documento, 67,5% das vítimas são homens e 85,5%, 
homossexuais, enquanto as mulheres representam 26,4% das vítimas. O relatório 
mostra também que do total de vítimas, 69% são jovens, com idade entre 15 e 29 anos. 
O relatório também revelou que 62% das vítimas conheciam seus agressores, sendo 
que 38,2% são familiares e 35,8% vizinhos. O relatório da SDH ainda informa que os 
locais de discriminação são encabeçados pelo ambiente doméstico (42%) e pela rua 
(30,8%), seguidos pelo local de trabalho (4,6%), pelas instituições governamentais 
(5,5%) e outros ambientes (17,1%). Essa pesquisa teve a participação de Marco Aurélio 
Prado, psicólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, que desenvolve 
pesquisas no campo das relações de gênero e da cidadania LGBT. 
A mobilização por parte dos grupos de LGBT acabou por desafiar a agenda 
dos representantes do legislativo, bem como, todas as esferas governamentais, 
nacional e internacional. Musskopf (2010, p. 252) afirma que: 
http://www.ecodebate.com.br/9hV
9 
 
 
Também no Brasil, no final da década de 70, surgiu um movimento 
homossexual organizado e com uma agenda política mais sólida. Sua 
emergência, assim como em outros lugares, esteve relacionada com a 
atuação de outros movimentos sociais (como os movimentos feminista, 
negro e ecológico), os quais tinham em comum a luta contra a 
discriminação e por direitos civis no contexto da ditadura militar. Foi 
justamente com o abrandamento deste regime que grupos e 
instrumentos de atuação política, homossexuais puderam surgir e 
organizar-se mais solidamente. 
 
 
Foi a partir da década de 1990 que outras identidades foram acrescidas a essas 
manifestações, sendo reconhecidas como movimento LGBT, que incluía os bissexuais, 
travestis e transexuais. Atualmente, a sigla mais utilizada pelos movimentos 
homossexuais é LGBTTIS, que significa: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros, 
Transexuais, Intersexuais e Simpatizantes, sendo que o “S” de simpatizantes pode ser 
substituído pela letra “A” de Aliados ou, ainda, acrescida a Letra “Q” de Queer, que, 
embora não muito comum, é utilizada em alguns países e por alguns grupos do 
movimento gay. 
No século XXI, o movimento homossexual se expande e adquire maior 
expressão, passando a conquistar avanços no combate à discriminação. Atualmente, é 
um movimento bem consolidado. Nesse contexto, entende-se que a sexualidade é um 
direito de cada ser humano e que não se restringe e muito menos se confunde com a 
prática sexual. Segundo Foucault: 
 
Não obstante, a ideia de que se deve ter um verdadeiro sexo 
está longe de ser dissipada. Seja qual for a opinião dos biólogos 
a esse respeito, encontramos, pelo menos em estado difuso, 
não apenas na psiquiatria, psicanálise e psicologia, mas também 
na opinião pública, a ideia de que entre sexo e verdade existem 
relações complexas, obscuras e essenciais (FOUCAULT, 1982, p. 
03). 
 
 
Atentando ao que diz Foucault, ainda que o assunto sexo, sexualidade e ou 
LGBTT tenha tido seu histórico em todos os tipos de sociedade, durante todos os 
tempos, e que tenha sido rotulada de diferentes formas, algumas vezes aceita ou 
rejeitada, conforme os costumes e hábitos sociais, em meio a tantas lutas, pode-se dizer 
que as conquistas desse grupo foram grandes, embora a discriminação ainda permeie 
lentamente por vários âmbitos da sociedade nacional e internacional. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Queer
10 
 
 
Finalizando este artigo, chega-se à conclusão que o preconceito, discriminação 
e violência contra LGBTT, são um fenômeno complexo, sócio-histórico, que deve ser 
analisado pelos profissionais da saúde de uma forma bastante ampla e sem pré-
julgamento. 
Este trabalho também buscou mostrar que se deve respeitar os direitos 
pautados na Constituição Brasileira, onde consta que todo ser humano deve ser 
respeitado e ter seus direitos garantidos, independentemente de cor, credo, raça e 
sexo. Porém, muitos ainda discriminam e até os excluem de seu meio social. Isso 
acontece constantemente na sociedade, mas principalmente nos lares,locais de 
trabalho e igrejas, ambientes esses que são fundamentais para qualquer ser humano 
construir uma vida plena, ter a sua base de vida consolidada. 
Conclui-se que não existe uma causa aplausível para o desamor, mas sim 
vários fatores relacionados ao comportamento da realidade social, que levam muitas 
pessoas a agirem de forma indiferente e até mesmo violenta. 
Portanto, destaca-se aqui a importância da atuação dos profissionais de saúde, 
principalmente aqueles da saúde mental, estamos falando principalmente da psicologia 
clínica, que deve buscar acolher, analisar e tratar com todo cuidado, dedicação e amor, 
cada indivíduo. O profissional da saúde mental eficaz deve ser uma pessoa humana e 
que possa estabelecer um relacionamento genuíno com o paciente, seja qual for a 
instituição e abordagem em que atua. O papel de qualquer profissional é saber ouvir o 
seu paciente sem oprimi-lo nem prejulgá-lo. Faz-se muito necessário que todos os 
profissionais da saúde mental busquem ampliar seus conhecimentos na área da 
homossexualidade. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Catolicismo na construção da autoimagem de Gays e Lésbicas. São Paulo, 2006. 175 
p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião). Pontifícia Universidade Católica 
de São Paulo/PUC. 
 
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2008. 
 
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sobre a homossexualidade nos dias de hoje. In: NEGUEM – Núcleo de estudos de 
Gênero e Pesquisa sobre a Mulher. Revista Universidade Federal de Uberlândia, Nº 
18 – 1º semestre ano 10. Uberlândia MG, 2002. 
 
FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 30ª ed., 2005. 
11 
 
 
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 
Petrópolis: Vozes, 7ª ed., 2004. 
 
MACRAE, Edward. (2005). Em defesa do gueto. In: GREEN, James N; Trindade, 
Ronaldo. Homossexualismo em São Paulo e outros escritos. São Paulo: Editora 
Unesp, p. 291-308. 
 
MATOS et al. Identidade – Projeto de Extensão – Acadêmicas do 7º semestre de 
Serviço Social do Pólo Padrão da Anhanguera Uniderp Interativa. 2011. Campo 
Grande-MS. 
 
MUSSKOPF et al. Bíblia e Sexualidade – Abordagem teológica, pastoral e bíblica. 
São Paulo: Fonte Editorial, 2010. 
 
Sites pesquisados: 
 
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Acesso em: 28 out. 2012. 
 
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com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia- homofobica. 
13.08.2012 - De acordo com relatório da SDH, jovens estão entre principais vítimas 
da violência homofóbica. Acesso em: 26 dez. 2012. 
http://www.crpsp.org.br/portal/orientacao/resolucoes_cfp/fr_cfp_001-99.aspx
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http://www.juventude.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/08/13-08-2012-de-acordo-com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia-homofobica
http://www.juventude.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/08/13-08-2012-de-acordo-com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia-homofobica
http://www.juventude.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2012/08/13-08-2012-de-acordo-com-relatorio-da-sdh-jovens-estao-entre-principais-vitimas-da-violencia-homofobica

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