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CURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL FAVENI – FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE ESPÍRITO SANTO MEIO AMBIENTE SUMÁRIO 1. O QUE É MEIO AMBIENTE? ......................................................... 2 2. ALGUNS PARADIGMAS DA CIÊNCIA AMBIENTAL ..................... 3 3. PARTICIPAÇÃO SOCIAL ............................................................... 5 4. A POPULAÇÃO E O CONSUMO EXAGERADO ............................ 7 5. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ................................... 10 6. A ÉTICA E O CONSUMO ............................................................. 12 7. O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA MUDANÇA DE PARADIGMA DA SOCIEDADE ATUAL ........................................................................................ 14 8. COMO EVITAR O DESPERDÍCIO E SER UM CONSUMIDOR CONSCIENTE .................................................................................................. 14 9. BIODIVERSIDADE E SEU POTENCIAL ECONÔMICO ............... 22 10. BIODIVERSIDADE E SEU POTENCIAL ECONÔMICO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL .................................................. 23 11. SITUAÇÃO E TENDÊNCIAS DO PAPEL DAS COMUNIDADES . 26 12. SITUAÇÃO E TENDÊNCIAS DE P&D .......................................... 27 13. SITUAÇÃO E TENDÊNCIAS DO PAPEL DOS EMPREENDIMENTOS INDUSTRIAIS E COMERCIAIS .................................. 29 14. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A CONSERVAÇÃO E O APROVEITAMENTO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE ........................ 31 15. APRESENTAÇÃO DO PROBEM ................................................. 33 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................ 36 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 47 1. O QUE É MEIO AMBIENTE? Para esta pergunta poderemos obter as mais diferentes e variadas respostas, que indicam as representações sociais, o conhecimento científico, as experiências vividas histórica e individualmente com o meio natural. Para a realização da educação ambiental popular, é importante termos um conceito que oriente as diferentes práticas. Assim, definimos meio ambiente como o lugar determinado ou percebido onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído. Nesta definição de meio ambiente fica implícito que: 1 - Ele é "determinado": - quando se trata de delimitar as fronteiras e os momentos específicos que permitem um conhecimento mais aprofundado. Ele é "percebido" quando cada indivíduo o limita em função de suas representações sociais, conhecimento e experiências cotidianas. 2 - As relações dinâmicas e interativas indicam que o meio ambiente está em constante mutação, como resultado da dialética entre o homem e o meio natural. 3 - Isto implica um processo de criação que estabelece e indica os sinais de uma cultura que se manifesta na arquitetura, nas expressões artísticas e literárias, na tecnologia, etc. 4 - Em transformando o meio, o homem é transformado por ele. Todo processo de transformação implica uma história e reflete as necessidades, a distribuição, a exploração e o acesso aos recursos de uma sociedade. A definição de meio ambiente acima exige um aprofundamento teórico que conta com a contribuição de diferentes ciências que se aglutinam no que se convencionou chamar de Ciência Ambiental. Tem se tornado cada vez mais claro e consensual que a Ciência Ambiental só se realizará através da perspectiva interdisciplinar. A problemática ambiental não pode se reduzir só aos aspectos geográficos e biológicos, de um lado, ou só aos aspectos econômicos e sociais, de outro. Nenhum deles, isolado, possibilitará o aprofundamento do conhecimento sobre essa problemática. À Ciência Ambiental cabe o privilégio de realizar a síntese entre as ciências naturais e as ciências humanas, lançando novos paradigmas de estudo onde não se "naturalizarão" os fatores sociais e nem se "socializarão" os fatores naturais. Diferentes áreas de estudo de disciplinas diversas podem contribuir para o desenvolvimento da Ciência Ambiental dentro da ideia de interdisciplinaridade. No entanto, esta ideia enfrenta algumas dificuldades para se concretizar, tanto em nível teórico como em nível prático. Se, atualmente, temos cada vez mais trabalhos teóricos que se baseiam no conhecimento acumulado nas diferentes ciências (incluindo as exatas), podemos ainda notar a dificuldade para muitos autores se lançarem nas ciências que não dominam com a mesma profundidade atingida nas suas especialidades. Esses autores não ousam trilhar por ciências onde não terão o mesmo reconhecimento de seus pares e ainda serem alvos fáceis de críticas dos especialistas dessas outras ciências. Devemos também considerar o extremo corporativismo ainda presente nos meios acadêmicos e científicos, que impede a troca de experiências e informações entre cientistas de especialidades diferentes e supostamente antagônicas. A Ciência Ambiental exige dos atores envolvidos conhecimento aprofundado, espírito curioso e modéstia diante do desconhecido. Na sua fase atual, que é de busca da síntese e da perspectiva interdisciplinar, é fundamental a troca de conhecimentos de origens científicas diversas, possibilitando dar algumas respostas às complexas questões que fazem parte do seu quadro teórico. 2. ALGUNS PARADIGMAS DA CIÊNCIA AMBIENTAL Observamos que nos últimos anos o conceito de desenvolvimento sustentado tem substituído na literatura especializada os conceitos de desenvolvimento alternativo e ecodesenvolvimento. Porém, esses conceitos são originados da Conferência de Estocolmo de 1972, sendo que o de desenvolvimento alternativo lhe é anterior. A partir dessa Conferência, o ecodesenvolvimento foi o conceito mais fundido na literatura especializada, até, principalmente, a publicação do Report Brundtland em 1987. Pearce et al (1989) observam que existem diferentes definições de desenvolvimento sustentado que ilustram as diferentes perspectivas apresentadas, sobretudo na segunda metade da década de 80, na literatura anglo-saxônica. À parte esta questão de conceitualização, o que nos parece importante enfatizar é que atualmente as propostas de desenvolvimento econômico que não levam em consideração os fatores ambientais estão condenadas ao esquecimento. As recentes mudanças no cenário político internacional têm mostrado que tanto sob o capitalismo como sob o socialismo a questão ambiental tem um peso político muito grande que interessa tanto a uns quanto a outros. Motivo pelo qual a ideia de desenvolvimento sustentado tem estado presente nos debates e acordos internacionais. Porém, ela não se apresenta de forma homogênea, como já foi assinalado por Pearce et al (1989). Nas sociedades capitalistas periféricas, a ideia de desenvolvimento sustentado não pode se restringir à preservação de recursos naturais, visando o abastecimento de matérias primas às gerações futuras, como tem sido enfatizado nos países de capitalismo avançado. Elementos básicos das necessidades humanas e intimamente dependentes da problemática ambiental, como transportes, saúde, moradia, alimentação e educação, estão longe de terem sido resolvidos. Nos pontos comuns e divergentes entre sociedades capitalistas desenvolvidas e periféricas, podemos considerar que, para a realização do desenvolvimento sustentado em nível global, é de fundamental importância o estabelecimento de uma nova ordem econômica e ecológica, onde países dos hemisférios Norte e Sul possam dialogar em igualdade de condições. Porém, esse diálogo (se ocorrer) não serásem dificuldades, pois a falta de homogeneidade dos países do Terceiro Mundo e a passividade frente ao poderio econômico (e militar) dos países do Norte são duas dificuldades evidentes. Em face disso, qualquer que seja o conceito de desenvolvimento, dificilmente podemos garantir, pacificamente, às gerações futuras de qualquer parte do globo, o patrimônio natural e cultural comum da humanidade. 3. PARTICIPAÇÃO SOCIAL Os movimentos ecológicos surgidos nas sociedades capitalistas desenvolvidas nos anos 70 se caracterizam inicialmente por uma crítica ao modelo de sociedade industrial. A esse início "contracultura", foram se aglutinando tanto os movimentos preservacionistas de espécies animais e vegetais, como movimentos pacifistas e anti-nucleares. O surgimento e a evolução desses movimentos devem ser vistos dentro do contexto da participação civil em sociedades democráticas. A organização de grupos e a posterior constituição de "partidos verdes" só se tornaram possíveis graças à crescente mobilização da população frente a decisões do Estado. Nos países onde a democracia é incipiente, a organização da população se faz com resultados menos satisfatórios, mas não menos combativos. É importante assinalar que a visão de Estado e da participação da sociedade civil nas diferentes ideologias políticas, que se posicionam nos países da América Latina, influi na prática de organizações civis frente à questão ambiental. Se o que aparece com mais frequência é a ideia de autonomia frente ao Estado, no entanto ela apresenta conotações ideológicas muito diferentes. Num primeiro momento, tivemos a influência das ideias autonomistas surgidas nos anos 60, onde se caracteriza a perspectiva crítica ao Estado centralizador e autoritário, às suas opções de desenvolvimento e de saque ao meio ambiente com as suas consequências sociais. No entanto, esta posição mais crítica foi perdendo terreno nos últimos anos a favor de tendências que, embora contrárias à interferência do Estado, se posicionam e atuam no terreno das ideias neo-liberalizantes. A participação da população nas questões ambientais tem basicamente se destacado nos grandes centros urbanos, mas também fora deles, aglutinando diferentes camadas sociais em torno de questões específicas. Inúmeras entidades ecológicas e/ou ambientalistas surgiram no continente nos últimos anos, porém com penetração mais localizada, e muitas delas atreladas a interesses econômicos e políticos nem sempre muito claros. Podemos considerar que essa quantidade de novas organizações ocorre devido ao processo de democratização. A atuação de cada um desses movimentos e a sua continuidade ficará por conta daqueles que: apresentarem respostas aos graves problemas ambientais puderem discuti-las democraticamente e tiverem meios econômicos e técnicos para viabilizá-las. Várias propostas de participação têm sido colocadas à sociedade, porém só a autonomia dos movimentos sociais frente ao Estado, aos partidos políticos, meios de comunicação de massa, monopólios econômicos e seitas religiosas poderá garantir o seu potencial crítico ao modelo de desenvolvimento, favorecendo a consolidação da democracia no continente. Isso não ocorrerá, no entanto, sem o desenvolvimento da consciência de cidadania, possível através da educação popular ambiental. 4. A POPULAÇÃO E O CONSUMO EXAGERADO Fonte: www.mamaeeukero.com.br Pode-se afirmar que o rápido crescimento populacional em todo o mundo causa uma necessidade muito grande de bens de consumo. A cada momento, surgem novos modelos, novas tecnologias, novos produtos, sempre aumentando o consumismo. O consumo excessivo, por sua vez, gera desperdício. Existe uma diferença entre o consumo por necessidade e aquele de significado simbólico. O consumo de significado simbólico é aquele pelo qual o cidadão tende a desejar sempre um novo modelo de aparelho ou produto sem ter em vista a sua real finalidade. Cita-se como exemplo, um telefone celular que tem como fim, efetuar e receber ligações. No entanto, existem diversos modelos, cada vez mais modernos, mais avançados e que desempenham não só a sua função principal, mas também inúmeras outras. Juntamente com a mídia e a publicidade, as empresas “criam necessidade” destes bens, induzindo o cidadão ao consumo, muitas vezes, desnecessário. De acordo com Branco (2002): O consumismo é um processo eticamente condenável, pois faz com que as pessoas comprem mais do que realmente necessitam. Por meio de complexos sistemas de propaganda, que envolvem sutilezas psicológicas e recursos espetaculares, industriais e produtores induzem a população a adquirir sempre os novos modelos de carros, geladeiras, relógios, calculadoras e outras utilidades, lançando fora o que já possuem. Organizações internacionais não governamentais calcularam que a extrapolação das taxas de consumo em países desenvolvidos alcançaram índices, que serão necessários três planetas Terra para satisfazer o consumismo. O consumismo exagerado, somado ao aumento populacional no globo terrestre, faz com que existam cada vez maiores indústrias. Estas, por sua vez, consomem grande quantidade de energia elétrica e matérias prima, gerando grandes quantidades de lixo, causando enormes impactos ambientais. Além disto, ocorre um esgotamento de recursos não-renováveis, aqueles que uma vez consumidos não podem ser repostos, como o petróleo e os minérios. O crescimento populacional leva a um grande crescimento industrial e consequentemente a um crescimento das cidades, acarretando poluição. É inegável que a sociedade contemporânea vê o processo de industrialização como um processo positivo, uma vez que gera desenvolvimento econômico e social, e neste contexto pode ser realmente vista como tal. A grande problemática diz respeito aos recursos naturais que são utilizados como se fossem infinitos e a falta de preocupação com os impactos ambientais que são gerados. Uma ótima solução para este problema pode ser encontrada na educação, que diante desta concepção pode mudar o atual paradigma da sociedade atual com o conceito de desenvolvimento sustentável, que será descrito posteriormente. Existe uma informação popular de que as cidades são ecossistemas urbanos. Entretanto, para ser um ecossistema é necessário que ele seja autossuficiente. Isto quer dizer que deve possuir uma fonte primária – ou produtores - representada pelas plantas que tem a função de produzir energia. Deve possuir também uma fonte secundária, representada pelos animais - os consumidores - que consomem a energia produzida pelas plantas, gerando excrementos. Por fim, estes excrementos são decompostos por bactérias e outros microrganismos - os decompositores - que geram componentes essenciais para a vida das plantas. Conforme texto escrito por Branco (2002), a cidade corresponde simplesmente à etapa consumidora do sistema. Ela não canaliza o fluxo de energia, pois recebe elementos químicos, organizados de forma orgânica, de fora. Da lavoura vem os vegetais, e da pecuária, a carne, o leite e outros produtos para o consumo alimentício, das florestas, a madeira; das áreas de mineração toda a fonte de matérias primas. Sobretudo, não há reciclagem, não há retorno desses componentes químicos, uma vez que os resíduos da cidade são soterrados em aterros sanitários de lixo ou simplesmente lançados ao solo, aos rios na forma de esgoto, e na atmosfera, na forma de gases, fumaças e poeiras. Pode-se constatar, diante desta problemática, que o consumo exagerado causa poluição dos rios, do solo e do ar. Afirmar que um ecossistema está poluído é o mesmo que dizer que ele está alterado em sua composição e estrutura por materiais que o ambiente não é capaz de assimilar. Diante de tal situação, o grande desafio é que todo cidadão passe a pensar seriamentena necessidade de reciclar, adotar um novo estilo de vida e de padrões de consumo. Esta missão é um dever de todos: do cidadão, do governo e das empresas. Surge então, o conceito de desenvolvimento sustentável que apareceu pela primeira vez durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 no Rio de Janeiro. 5. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Fonte: revistadominus.com.br Uma das questões mais abordadas relacionadas ao meio-ambiente é a do desenvolvimento sustentável, uma forma de desenvolvimento econômico que prega que se deve atender às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras. O desenvolvimento sustentável não diz respeito a abandonar o consumo para preservar os recursos naturais, o que seria totalmente inviável na sociedade atual, mas sim de mudar hábitos e padrões de consumo e produção para suprir as necessidades da população, como moradia, educação, saúde e alimentação, mas também diminuir o desperdício e o consumismo desenfreado. A educação para o consumo sustentável tem papel fundamental na mudança do paradigma antropocêntrico que prega que o desenvolvimento econômico é mais importante. O grande desafio deste tipo de desenvolvimento é a busca do equilíbrio entre a preservação ambiental e a economia de um país. A dominação e extrapolação devem dar espaço ao zelo, o cuidado e a responsabilidade. Gomes (2006)17, relata em seu artigo: O paradigma antropocêntrico faz com que o crescimento econômico seja visto como a solução de todos os problemas. A questão é que a economia está interligada aos demais subsistemas e é dependente da biosfera finita que lhe dá suporte. Assim, a economia não é um sistema fechado, e todo o crescimento econômico afeta o meio ambiente e é por ele afetado, já que economia e meio ambiente são um sistema único e consequentemente interagem. Deste modo, é preciso mudar a trajetória do progresso e fazer uma transição para a economia sustentável, para que o futuro do planeta não reste comprometido. A sustentabilidade existe para garantir uma melhor qualidade de vida para todas as gerações futuras, combinando interesses ecológicos, sociais oferecendo oportunidades de negócios para empresas que possam melhorar a vida das pessoas e do mundo. Branco (2002)18, relata que: (...) desenvolvimento sustentável, ou desenvolvimento autossustentado, é obtido de forma compatível com a preservação dos recursos naturais de um determinado país. Em outras palavras, trata-se de um desenvolvimento não-predatório. Aconselha-se o planejamento de um país ou região, baseado em um levantamento de todas as suas necessidades, comparando-as com todas as suas potencialidades, isto é, com sua capacidade de fornecimento dessas necessidades, de forma sustentável, sem desgastes, obedecendo à sua capacidade e velocidade de renovação ou reciclagem natural. Outra grande importância do desenvolvimento sustentável é a questão preventiva. Se assim ocorresse, não ocorreriam tantos gastos com medidas corretivas ambientais que são um tanto onerosas. Estima-se que nos Estados Unidos são investidos cerca de 400 dólares per capita, por ano, com a preservação ambiental. Neste contexto, pode-se levantar a questão do consumo sustentável, que segue a mesma linha de pensamento citada anteriormente quando se conceituou o desenvolvimento. O consumo sustentável tem como objetivo a preservação do meio ambiente de modo que o consumidor também é responsável, repensando as atitudes da empresas que fabricam os produtos, as reais necessidades de consumo, evitando o desperdício e a produção excessiva de resíduos sólidos. Além das questões ambientais o consumo sustentável também leva em consideração a questão das desigualdades sociais, a publicidade que cria necessidade com relação a produtos nem tão essenciais assim, além da saúde e segurança do consumidor. O consumidor deve ser incentivado a fazer com que seu ato de consumo seja, também, um ato de cidadania. Cada cidadão deve analisar o que consome e fazê-lo de modo que a coletividade atual ou futura não seja prejudicada. Neste caso deve haver uma maior conscientização através da informação e da educação. Deste modo, a sociedade não mais compactuará com empresas não éticas, que não tem preocupação clara com o meio ambiente, que explorem o trabalho infantil e escravo e que respeitem as leis trabalhistas e ambientais. 6. A ÉTICA E O CONSUMO Os hábitos de consumo refletem diretamente na atitude das empresas. O consumo consciente faz com que a responsabilidade social e empresarial aumentem significativamente. Para a empresa conquistar e manter uma boa imagem no mercado, não basta apenas prestar bons produtos ou serviços e pagar seus tributos. Necessita também ter consciência ética e ambiental. Em países onde as desigualdades sociais são evidentes, como no Brasil, a questão da ética no consumo é bastante abordada. Ética é uma palavra difícil de conceituar. No entanto a sua etimologia grega diz respeito a fazer o bem. Por isto, pode-se relacionar ética com o bem coletivo em detrimento ao bem próprio. Uma empresa considerada ética, na sociedade atual, é aquela que, além de prestar bom serviços, fornecer bons produtos e pagar seus impostos, também leva em consideração às questões sociais e o respeito à legislação. Cita-se como questões sociais que devem ser respeitadas, a exploração do trabalho infantil e escravo, boas condições de trabalho para seus funcionários, respeito ao meio ambiente, condições adequadas de segurança, entre outras. No que diz respeito ao consumo, o INMETRO (2002)25, afirma que: Comprar eticamente significa que o consumidor faz suas escolhas de compra de forma consciente, recusando produtos e serviços produzidos que não atuam de forma ética na sociedade – ou seja, não respeitam leis de proteção ao consumidor, ao meio ambiente, trabalhistas, entre outras. Para consumir com ética é necessário que o consumidor procure informação a respeito do produto que está comprando. Estas informações podem ser obtidas no Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da própria empresa, nos Órgãos de Defesa do Consumidor e em outras associações de consumidores. Outra questão fundamental para que a empresa seja ética é o cumprimento do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Este assegura todos os direitos básicos do consumidor em seu art. 6O, como a saúde e segurança do consumidor, a informação e educação, a proteção contra publicidade abusiva e enganosa, entre outros. O CDC também protege o consumidor contra práticas e cláusulas contratuais abusivas, além de assegurar que os produtos viciados sejam substituídos ou ressarcidos. Segundo o INMETRO (2002) (...) empresas que desrespeitam a lei, adulterando instrumentos de medição – balanças, bombas de combustível, taxímetro, ou falseando as informações de peso, metragem e quantidades anunciadas na embalagem dos produtos nunca poderão ter a pretensão de se denominar socialmente responsáveis ou éticas. A preservação do meio ambiente e o cumprimento da legislação direcionada a este assunto também é levada em conta. Neste contexto, as empresas que minimizam as agressões ambientais, economizam energia e água, desenvolvem produtos ou embalagens recicláveis, retornáveis ou biodegradáveis, são consideradas éticas. Infelizmente, ainda existem cidadãos que acreditam que o cuidado de não poluir o ambiente é da empresa. Além disso, nem sempre esta questão é vista como um diferencial na hora de optar por outro fabricante. O consumidor deve dar preferência às empresas que não explorem o trabalho infantil e escravo, e também que tenham preocupação com o meio ambiente, que desenvolvam e apoiem campanhas e projetos educativos voltados para os seus empregados e para a comunidade. O consumidor deve também reclamar seus direitos sempre quese sentir lesados ou ameaçado em seus direitos, não compactuar com a ilegalidade, não consumindo produtos ilícitos ou piratas, entre outras ações. 7. O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA MUDANÇA DE PARADIGMA DA SOCIEDADE ATUAL Segundo Gomes (2006), existe uma grande crise na educação, que tem suas causas no modelo capitalista atual. Dá-se mais valor ao “ter” do que ao “ser”. O consumismo desenfreado, a falta de preocupação como o ser humano e a falta de análise crítica são problemas evidentes entre os jovens. Além disso a mídia e a publicidade incitam o consumidor a ter sempre um produto novo, jogando fora o anterior e assim aumentando a produção de lixo. Esta crise impõe a necessidade de novos modelos que possam substituir as antigas estruturas vigentes que hoje, encontram-se defasadas. Visa-se atualmente, uma educação que enfatize a ética, a preocupação com o meio ambiente e a responsabilidade. As novas dimensões educativas colocam ênfase no componente ético e são orientadas à transformação do indivíduo: educação para a paz, para a saúde, para o consumo e para educação ambiental. A educação ambiental é necessária na formação de indivíduos com uma nova racionalidade ambiental, capaz de superar a crise global presenciada atualmente. A educação ambiental também entra como grande aliada na conscientização do consumo responsável. Ela tem como objetivo fazer com que o ser humano se sinta parte da natureza, utilize o consumo sustentável como recurso, compreenda o meio ambiente como problema e também como o sistema em que se vive e consequentemente, depende-se dele. Tem-se a importância de buscar uma nova ética na educação, focada na ideia do consumo sustentável e da preservação ambiental, uma vez que a saúde e a qualidade de vida da espécie humana estão fortemente ligadas a estas questões. 8. COMO EVITAR O DESPERDÍCIO E SER UM CONSUMIDOR CONSCIENTE Consumo da água A água é um elemento essencial a vida do ser humano e de todas as espécies. Com relação ao corpo humano, cerca de 70% dele é formado por este elemento. A superfície terrestre também apresenta esta proporção. No entanto 97,2% corresponde aos oceanos que possuem apenas água salgada, não podendo ser utilizada como água potável. Sendo assim, apenas 2,8% da água do planeta está disponível para uso do ser humano. Como evidenciado anteriormente, o crescimento populacional vertiginoso levou a um consumo excessivo deste elemento tão importante, essencial para a vida no planeta. Estima-se que em 2010, cerca de 70% da população mundial terá falta de água potável, que é a água própria para ser bebida, geralmente, submetida a processos de tratamento. A maior parte da água consumida é dada pelas indústrias. Somente 10% do consumo é feito pela população em suas residências. Mesmo assim, a economia de água nos domicílios domésticos pode fazer diferença significativa segundo o Instituto Nacional de Metrologia – INMETRO (2002), uma vez que uma pessoa pode chegar ao consumo absurdo de 300 mil litros de água por dia em banho, cuidados com a higiene, comida, lavagem de louça e roupa, etc. Ainda existe o grande problema que diz respeito às águas contaminadas. Segundo o Instituto Nacional de Metrologia – INMETRO (2002): ...“a crescente urbanização provoca a concentração de geração de dejetos humanos, que normalmente, não são coletados para tratamento ou são despejados nos rios in natura. Os rios são vítimas de conceito muito antigo que são elementos de dispersão do esgoto... Há quantidade de lixo, esgoto e produtos químicos, que tornam suas águas contaminadas. Os esgotos domésticos também são uma grande ameaça à saúde pública, e a falta de tratamento adequado é a causa da alta mortalidade infantil nos países subdesenvolvidos.” Pequenas atitudes podem reverter esse quadro. Apoiar e divulgar algumas atitudes e incentivar a população a consumir com responsabilidade este recurso podendo fazer grande diferença. Sugere-se: evitar vazamentos e torneiras pingando; limitar o tempo do banho; não escovar os dentes com a torneira aberta, usar a máquina de lavar com a carga máxima, economizando assim, não só a água, mas também energia elétrica; usar balde em vez de mangueira para lavar carros; exigir que os órgãos de controle ambiental e indústrias se responsabilizem pelos resíduos tóxicos que produzem, entre outros. Geração de resíduos sólidos Fonte: areal.rj.gov.br Como relatado anteriormente, a crescente industrialização e concentração de populações nos grandes centros urbanos, o lixo passou a ser um problema, uma vez que não consideramos o lixo com material reutilizável. Como exemplo, podemos citar os metais, que utilizam grande quantidade de matéria-prima e energia, e logo após o uso são jogados no lixo, poluindo, assim o meio ambiente. O lixo orgânico também apresenta uma séria problemática, pois ocorre muito desperdício. Por isso, existe a necessidade de mudar a cultura do cidadão atual. Deve-se considerar a premissa de que o lixo é um recurso natural a ser novamente utilizado pela natureza, e não como algo que será simplesmente jogado fora. Segundo o Instituto Nacional de Metrologia – INMETRO (2002), a produção de lixo é diretamente proporcional ao nosso consumo. Quanto mais uma população consome, mais recursos naturais são utilizados e muito mais lixo é gerado. O lixo produzido nos grandes centros urbanos tem como destino, os aterros sanitários e os lixões. O lixão é um lugar onde se concentra, a céu aberto, grande parte de resíduos, sem controle ambiental e sanitário algum. Isso gera contaminação do solo, da água, dos animais e da população em geral. O aterro sanitário é onde são depositados os resíduos sólidos e orgânicos em solo impermeabilizado, possibilitando um melhor controle de proteção ambiental e a saúde. Ainda assim os aterros não dão conta de receber tamanha quantidade de lixo e, além disso, as áreas que foram ou estão sendo utilizadas como aterros não podem ser reutilizadas, sendo totalmente perdidas. O lixo hospitalar e resíduos industriais perigosos, em regra, são mandados para os incineradores, que é a queima do lixo. Na atualidade, uma alternativa para estes métodos, e que hoje em dia é considerada a melhor forma de reaproveitar o lixo é a reciclagem. Segundo INMETRO (2002): A reciclagem reduz o consumo dos recursos naturais, o consumo de energia, o volume de lixo e a poluição do globo terrestre. Além disso, a reciclagem pode ser tornar uma poderosa fonte de lucro. Os resíduos orgânicos podem ser reutilizados na forma de adubos e rações animais pela técnica de compostagem, ou mesmo no uso doméstico. A técnica de compostagem consiste em fazer um composto para adubação com material orgânico, com solo e dimensões apropriadas. Os resíduos sólidos que podem ser reciclados são: · as latas de aço; · embalagens PET, ou seja, as garrafas de plástico utilizadas em refrigerantes, entre outros produtos; · vidro, material 100% reciclável. Uma tonelada de vidro reciclado gera uma tonelada de vidro, economizando 1300 quilos de matéria-prima em minérios; · latas de alumínio, também 100% reciclável. Poupa-se 95% de energia que necessária para produzi-la; · embalagens multicamada conhecidas como “longa vida” ou tetra Pack. Uma tecnologia já desenvolvida permite que esses embalagens possam ser reutilizadas com um substituto da madeira, entre outros materiais: · papel, material que utiliza 2.385 quilos de madeira para sua confecção, além de 44 mil litros de água e 7.600 quilowatts de energia. Sem considerar os poluentes atmosféricos e detritos produzidos. Com sua reciclagem economiza- se 60% da água e 20% de energia utilizada em sua fabricação; · pneus. O Conselho Nacional do Meio Ambiente atribui aos fabricantes de pneus e importadores a responsabilidade pelo destino dos que não tiverem mais condiçõesde uso. A reutilização de pneus pode ser evidenciada no próprio setor automotivo, na construção civil, em parques, entre outros; · pilhas e baterias. A resolução do Conama de julho de 2000 estabelece que as baterias de telefone devem ser destinadas aos postos de coleta dos fabricantes. Energia Fonte: baianafm.com.br Grande parte da energia elétrica utilizada nas cidades provém das Usinas Hidrelétricas. A geração de energia pelas usinas hidrelétricas consiste em aproveitar as quedas de água, que por sua vez, é convertida em tal energia através de turbinas. O aumento do consumo de energia e a falta de investimentos do governo gera crises desde o ano de 2001, os chamados apagões. Nestes casos, drásticas medidas devem ser tomadas. Os reservatórios das hidrelétricas de certas regiões praticamente se esgotaram em épocas de estiagem. Outro fato marcante foi à crise do petróleo ocorrida na década de 70 do século passado. Este acontecimento pôs em alerta os países consumidores devido ao embargo deste produto pelos países produtores. Neste contexto, tanto por causa da crise do petróleo como também por causa dos apagões, toda a mídia e veículos de comunicação iniciaram uma intensa campanha para a redução do consumo de energia elétrica. As lâmpadas comuns foram substituídas pelas fluorescentes, os sistemas elétricos de aquecimento foram substituídos pelos sistemas a gás ou coletores de energia solar, além do consumo consciente de chuveiros elétricos e eletrodomésticos. Outra alternativa é a utilização de fontes de energia renováveis. Pesquisadores brasileiros tem estudado a produção de energia a partir de biomassa de combustíveis, como a energia advinda do bagaço de cana-de- açúcar, gerando álcool. Outras fontes de energia renováveis são o sol, o vento, a água, o carvão vegetal, o álcool e o biogás. É importante que o consumidor de energia elétrica tome pequenas medidas como reduzir o consumo durante os horário de pico que se dá entre as 18h00min e 21h00min, observar o selo de energia Procel dos eletrodomésticos, aproveitar o máximo da luz do sol durante o dia, entre outros. Consumir produtos que contribuam para a conservação das florestas. Deve-se sempre verificar a procedência dos produtos consumidos, verificando se estão de acordo com a legislação ambiental. A ISSO 14000 são regras que tratam da gestão ambiental. A certificação ISSO 14000 significa que a Instituição possui um sistema de gestão documentado. Utilizar a máquina de lavar roupa com sua capacidade máxima. Verificar o consumo de energia pelos eletrodomésticos através do selo de energia Procel, que classifica estes produtos do menos eficientes até o mais eficiente. Procure andar a pé, principalmente quando for a algum lugar que se localize perto da sua casa. Este hábito é saudável e ajuda a conservação de meio ambiente. Procure oferecer carona aos seus colegas, familiares ou amigos. Muitas vezes, não há necessidade de sair de casa com mais de um carro. Imprima suas minutas em rascunhos ou revise-as na tela do computador. A indústria de papel é a que mais degrada o meio ambiente com o corte de árvores, sem falar no consumo excessivo de água e energia. Utilize as folhas frente e verso. Separe o lixo seco do lixo orgânico. Reutilize materiais, plásticos, vidros, papéis e etc. Troque as sacolas plásticas doadas no mercado por uma sacola de pano ou de palha que possam ser utilizadas diversas vezes. Evite desperdícios de comida e de qualquer espécie. Restos de comida representam 60% do lixo que vem dos lares brasileiros. Regule o termostato da geladeira. Prefira lâmpadas led (light emitting diode). Elas conjugam a alta tecnologia de consumo de energia. Lave a seco quando possível. Prefira pilhas recarregáveis. A maioria dos blackouts, no Brasil, ocorre entre 18h30min e 21h30min, por isso, deve-se reduzir o consumo, especialmente nesses horários. Janelas fechadas e paredes pintadas com cores escuras aumentam a necessidade de luz artificial no quarto. Além disso, uma janela grande e aberta faz com que o ar circule mais, propiciando bem-estar e contribuindo com o meio ambiente. Caso necessário deixar o computador ligado todo o tempo (downloads de músicas, vídeos, etc.), lembre-se de deixar o monitor desligado. Esta peça é a responsável por até 70% do consumo de energia. Reutilize. Antes de jogar fora, pergunte a alguém se está interessado, compre coisas usadas quando possível, reaproveite sacos plásticos e materiais de vidro. Mude a dieta. Ao menos uma vez por semana, procure não consumir carne vermelha. A produção deste alimento é responsável por 18% das emissões de gases no planeta e para processar 1 kg de carne vermelha são gastos 200 litros de água. BURGOS (2007) em seu artigo, ressalta a importância da utilização de novas tecnologias, como a utilização de álcool como combustível, uma vez que um motor a álcool chega a emitir menos da metade (56%) de poluentes na atmosfera em comparação com a gasolina. Além disso, cita-se também a utilização da energia eólica em larga escala e energia solar em casos mais imediatos, como o uso de eletrodoméstico. Porém BURGOS enfatiza: A nova receita para salvar o mundo é investir com vontade em novas tecnologias. Algumas foram inventadas, mas precisam de ajustes para se tornarem economicamente atraentes. Já outros desafios para diminuir o impacto negativo do homem no ambiente demandam de pequenas revoluções tecnológicas. De uma forma ou de outra, é preciso muito dinheiro para obter grandes avanços no curto espaço de tempo que temos. A solução apontada pelo autor da matéria está no investimento em pesquisas e oportunidades econômicas que estão gerando lucro para grandes empresas. Tecnologias limpas e “energia verde” prosperarão e serão transformadas em grandes cifras. Além disso, a o comportamento sustentável utilizados por algumas empresas, não só é bom para a publicidade, podendo também minimizar custos. Uma gigante do ramo de higiene pessoal mudou o formato das embalagens de um xampu, economizando o equivalente a 15 milhões de recipientes por ano; várias empresas de coleta de lixo no mundo estão não só reciclando com também transformando dejetos orgânicos em combustível por meio de mini usinas; shoppings estão trocando seus vasos sanitários por novos modelos que consomem 6 litros de água por descarga (cerca de cinco vezes menos que os modelos domésticos). BURGOS (2007), no entanto, não isenta o consumidor de mudar seus hábitos, uma vez que deixar a responsabilidade ambiental apenas nas mãos do governo e das grandes empresas, esperando uma solução milagrosa para a salvação do planeta, até agora, não gerou resultados positivos. 9. BIODIVERSIDADE E SEU POTENCIAL ECONÔMICO Fonte: www.jornaldebrasilia.com.br O Brasil é considerado o primeiro país em biodiversidade do globo. Ainda assim, de acordo com estimativas do Ibama, nem 1% das espécies brasileiras são conhecidas pela ciência. Boa parte dessas espécies podem vir a ser extintas antes mesmo de serem descritas por pesquisadores. A bioprospecção e o desenvolvimento de bioprodutos são alternativas de desenvolvimento socioeconômico que justificam a preservação dos biomas nativos, impulsionando ainda o conhecimento sobre a biodiversidade. No século XXI, o mercado mundial abre perspectivas totalmente inovadoras, nas quais direciona-se grande esforço na busca de novos produtos para fins medicinais, cosméticos, suplementos nutricionais, produtos agrícolas, entre outros, voltados ao prolongamento da vida com qualidade. Exemplos dessas inovações não faltam. Só em 1998, os medicamentos movimentaram 300 bilhões de dólares em todo o mundo, sendo que 40% dos produtos têm origem direta ou indiretamente de fontes naturais. No Brasil, as vendas atingiram a marca de 11 bilhões de dólares, havendoainda um espaço enorme para ampliação desse mercado. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) estimou em pelo menos 2 trilhões de dólares o valor potencial do banco genético brasileiro. Só na floresta tropical, pesquisas recentes apontam para um potencial de mais de trezentos novos bioprodutos, derivados de produtos naturais disponíveis. Dados da Organização Mundial de Saúde apontam para a utilização de plantas na cura de enfermidades por parte de 85% da população mundial (cerca de 4 bilhões de pessoas). Cerca de 20% de todo o faturamento das empresas de produtos farmacêuticos é empregado na descoberta de novas drogas. Dentre estas, o mercado de produtos de higiene pessoal, perfumaria, cosméticos, principalmente no que se refere às lifestyles drugs, drogas que reúnem saúde e rejuvenescimento, vem apostando alto nas inovações, especialmente na diversificação de insumos naturais provenientes das florestas tropicais. O faturamento nacional desse setor atingiu, em 1999, a marca dos 12 milhões de dólares. Dentro desse processo, os produtos farmacêuticos de origem natural ganham terreno e já representam 17% do mercado mundial. As florestas tropicais úmidas são, também, ricas fontes de microrganismos, fontes potenciais de novos compostos de ação antibiótica e de drogas imunodepressoras, as quais, entre outros importantes resultados, aumentam consideravelmente o grau de sucesso de transplantes de órgãos. Outra área de interesse é a pesquisa de toxinas encontradas em venenos e peçonhas de animais. No escritório de Patentes do Governo dos Estados Unidos, foram registradas, recentemente diversas patentes de toxinas de aranhas e escorpiões, sendo algumas de bioinseticidas seletivos, princípios neurobloqueadores e substâncias terápicas para doenças cardíacas; além de registros de patente de toxinas de serpentes, sendo a maioria voltada para o uso em terapias de controle de pressão arterial. 10. BIODIVERSIDADE E SEU POTENCIAL ECONÔMICO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL O futuro do desenvolvimento do país depende da forma como serão administradas suas potencialidades. Pouco vale o desenvolvimento de novos produtos que gerem bilhões de dólares em lucros no mercado internacional se esses lucros não se refletirem em benefícios sociais, principalmente às comunidades locais, e em especial, aquelas que detém o conhecimento tradicional sobre a biodiversidade. Uma política de indução e fomento ao uso sustentável dos componentes da biodiversidade, com o apoio da biotecnologia, deve ser concretizada como um novo norteador de estratégias produtivas, que não favoreçam novas economias de enclave, mas permitam o estabelecimento de cadeias produtivas que unam o interior aos centros urbanos que forem abrigar as atividades finais das cadeias. Nesse sentido, é preciso vencer a distância que separa grande parte das iniciativas extrativistas de hoje, pouco vinculadas ao restante da cadeia produtiva, e a bioindústria emergente, em geral pouco comprometida com as populações da floresta. Para isso, torna-se fundamental vencer o desafio, não solucionado nos ciclos econômicos regionais anteriores, de orquestrar o funcionamento conjunto da ciência com a produção, acoplando às cadeias produtivas as cadeias de conhecimento correspondentes. Apesar do modelo econômico vigente ser predatório, algumas iniciativas contemplam o desenvolvimento econômico de forma sustentável, com o manejo de produtos florestais, principalmente nos estados do Acre, Amapá e Amazonas. No Acre, foram atendidas mais de quatro mil famílias de seringueiros, índios e ribeirinhos, no fortalecimento dos segmentos de cadeias produtivas de produtos da floresta. O processo foi iniciado pela borracha e castanha, e já ampliou o leque de produtos explorados com os estudos de mais treze cadeias produtivas, com o apoio do Probem. Os estímulos do governo levaram mais de três mil famílias a retornarem para essa atividade produtiva, sendo que destas, cerca de mil famílias voltaram a morar na floresta, deixando a periferia de cidades. Aproximadamente 500 famílias manejam hoje a copaíba para extração sustentável de óleo. Outras quinhentas se beneficiam da coleta da castanha de andiroba, que é comercializada para a usina de óleos florestais dos índios Yawanawá. Na Floresta Nacional de Tapajós, a produção de couro ecológico e a extração de óleo de andiroba vêm crescendo a cada ano, possibilitando o aumento da renda familiar em atividades compatíveis com o manejo daquela unidade de conservação. Em parceria com o MMA, a Ong Amigos da Terra montou um banco de dados na internet, onde coloca o produtor amazônico em contato com o comprador. São 20 empreendimentos comunitários e 400 produtos. Para que esta nova política pública seja ampliada para toda a região e alcance resultados até então atingidos por programas em escala demonstrativa, visualizam-se as seguintes demandas, a serem atendidas: Necessidade de fomento ao desenvolvimento de instrumentos que permitam a implantação de novos modelos econômicos, estabelecidos com base na utilização sustentável dos recursos da biodiversidade regional; Direcionamento da atual tendência de crescente uso econômico da biodiversidade, atendendo à necessidade de fomentar o ramo/setor e disciplinar suas atividades, com base em prioridades estabelecidas a partir de políticas públicas direcionadas à equidade social e à sustentabilidade ambiental; Zelo pela geração e repartição de benefícios socioeconômicos e ambientais aos atores sociais participantes; Necessidade de capacitação para o aprimoramento socioeconômico e tecnológico das comunidades e demais atores econômicos que efetiva e potencialmente vivem deste ramo/setor de atividades, para que suas atividades ganhem escala; Importância de se estabelecer estudos e conhecimento sobre as cadeias produtivas de bioprodutos, como base para se estruturar as ações de intervenção das políticas públicas; Atender à necessidade de alavancar a competência e capacitação regional para atender ao atual crescimento da biotecnologia e da bioindústria, principalmente no que se refere a: Manejo e utilização sustentável dos componentes da biodiversidade; Pesquisa e desenvolvimento direcionados à obtenção de bioprodutos; Formação e desenvolvimento de novos empreendimentos (bioempreendimentos). 11. SITUAÇÃO E TENDÊNCIAS DO PAPEL DAS COMUNIDADES Sem dúvida, a utilização sustentável de componentes da biodiversidade constitui o novo desafio a encarar, condição essencial para o progresso na apropriação dos meios de produção, atualmente limitados pela pequena variedade de espécies da floresta manejados e comercializados, o que vem colocando a chamada “economia da floresta em pé” ainda em condições de desvantagem em relação às práticas agrícolas e agroflorestais baseadas na substituição da floresta. Duas dinâmicas econômicas em crescimento, cujos atores são, predominantemente, pequenos produtores, os sistemas extrativistas e a chamada colonização agrícola, necessitam urgentemente de novas alternativas de geração de renda a partir da floresta, de forma a valorizar cada vez mais a biodiversidade ainda presente, ao mesmo tempo em que possibilitem a recuperação econômica de grandes extensões de áreas degradadas, criadas a partir de tecnologias inadequadas às condições naturais existentes. Tal desafio vem esbarrando no despreparo dessas organizações populares para tratar o tema da biodiversidade, cujas nuances envolvem princípios legais e padrões tecnológicos relativamente novos, cujo desenvolvimento e definições ainda não estão completas. Alguns temas, como o acesso ao conhecimento tradicional e a repartição de benefícios derivados, contêm indefinições legais com frentes de discussão ainda abertas no nível internacional. Além disso, a atual legislaçãode regularização de novos produtos, cujo ordenamento é de responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, torna este processo proibitivo para pequenos empreendedores, dados os custos, que alcançam, em média, cerca de dez mil dólares para validação de um novo produto. Para inserir de forma plena estas comunidades no processo de apropriação dos componentes da biodiversidade, constituindo o controle social necessário para evitar a formação de novos enclaves econômicos na região, e garantir a repartição dos benefícios oriundos dessa nova dinâmica, faz-se necessário um amplo processo de capacitação desse segmento social, com base na resolução dos obstáculos à construção de novas cadeias produtivas, sob os aspectos legais, tecnológicos, institucionais e organizacionais. Tal processo precisa ser construído de forma participativa, onde as demandas sejam identificadas pelos próprios atores, com apoio dos especialistas nas diversas áreas a serem abordadas. 12. SITUAÇÃO E TENDÊNCIAS DE P&D O Brasil pertence a uma minoria de países que se distingue pelo nível de desenvolvimento da pesquisa científica, que inclui um sistema acadêmico complexo e instituições de pesquisa consolidadas. Para se ter uma ideia da capacidade técnico-científica do país, a publicação de artigos na imprensa especializada internacional cresceu a uma taxa 57% superior à média mundial e o número de doutores no Brasil dobrou, nos últimos anos. No entanto, é importante ressaltar que os rumos do desenvolvimento científico e tecnológico adotados nas últimas décadas não foram suficientemente convergentes para produzir o necessário conhecimento demandado para mudar com agilidade o panorama da ocupação das regiões rurais, sobretudo as amazônicas. O conhecimento da composição da biodiversidade e do funcionamento dos ecossistemas ainda é deficiente, e as informações levantadas encontram-se de forma fragmentada e dispersa. Na atual conjuntura, em que o mundo começa a sofrer uma mudança de paradigma tecnológico de grandes proporções (de commodity para speciality), o país, e sobretudo a Amazônia, ainda sem conseguir resolver os problemas causados pelos antigos paradigmas, vê-se à frente de um grande desafio: adequar suas estruturas de produção econômica, científica e tecnológica às novas estratégias de transformação de recursos naturais. Alguns fracassos ocorreram em tentativas passadas de encontro entre ciência e desenvolvimento regional, como no caso da implantação do Plano de Valorização Econômica da Amazônia - PVEA, que começou a ser implantado no início da década de 50. Tais fracassos foram ocasionados principalmente pela disritmia entre uma estratégia de desenvolvimento mal desenhada e os prazos necessários para geração dos conhecimentos requeridos, que extrapolavam em muito a própria duração prevista do Plano. Assim, um sistema regional de C&T ainda em formação foi desestruturado, cristalizando um divórcio entre as necessidades locais e as prioridades científicas, cujo entendimento é necessário e a reversão, difícil. Em quadros como esse, de pouca sintonia entre produção científica e estratégia de desenvolvimento, a ciência regional desenvolveu-se de forma difusa e no dia-a-dia, foi deixando de lado a concentração e a objetividade que caracterizam os grandes progressos tecnológicos em países do primeiro mundo, onde a ciência sempre andou lado a lado e integrada ao desenvolvimento econômico e sociocultural. Especialmente no campo da biotecnologia, o país já entra, inicialmente, na condição de vagão atrelado a uma locomotiva. Este atrelamento, que agora parece inevitável, abre também um interessante e importante espaço para o país construir caminhos que lhe sejam próprios e peculiares. Este caminho de dupla influência só vai funcionar, entretanto, se dentro de um determinado espaço existir diálogo entre os dois empreendimentos do binômio C&T, ou seja, pode- se estar novamente frente a uma situação recorrente: a inexistência de conhecimentos suficientes nas regiões, e de difícil produção nos prazos requeridos, para sustentação das estratégias de desenvolvimento. Essa pauta de trabalho deve ter a capacidade de mobilizar a ciência regional para um processo de desfragmentação, ou seja, de mobilização e convergência em torno de uma ação de resgate dos fragmentos de conhecimento existentes e sua complementação. Essa ação deve ocorrer no sentido de responder às demandas do processo tecnológico pretendido pela sociedade, em consonância com os princípios da justiça ambiental, contemplando inclusão social. Trata-se de ação complexa e gradual, onde o empreendimento biotecnológico não pretende substituir a estrutura de pesquisa existente no País e, mais especificamente, na região amazônica, mas interligar as diversas competências nacionais. Os resultados desse esforço não se apresentarão imediatamente, o que obrigará a estabelecer alternativas de transição, que atendam às demandas de mais curto prazo. Sem dúvida, alguns avanços ocorridos recentemente precisam ser consolidados e fortalecidos, como a criação de fundos setoriais, uma grande conquista na modernização e fortalecimento do sistema de financiamento da ciência, tecnologia e inovação brasileiras, crescendo a sinergia entre as diversas instâncias de governo, e destas com a sociedade, a partir da proliferação de novas instituições executivas, novos fundos e novos fóruns. Nesse sentido, é preciso fortalecer, cada vez mais, as práticas de projetos cooperados, organizados em redes interdisciplinares, envolvendo empresas e instituições de P&D, capacitando localmente e replicando experiências bem sucedidas. Tais projetos podem ser fortalecidos a partir de sua discussão em fóruns locais que integrem as diversas demandas, estabelecendo instâncias que possibilitem a decisão transparente sobre as prioridades e a viabilização de recursos por meio de ampla participação dos diversos setores envolvidos. O empreendimento biotecnológico carrega em si a necessidade de articular produção, ciência, desenvolvimento tecnológico e ocupação sustentável do espaço, além da necessidade de consolidar-se como uma alternativa concreta às soluções atualmente existentes. Conjugar a construção do espaço regional com o caminhar da ciência é, neste sentido, o principal desafio histórico a ser superado. 13. SITUAÇÃO E TENDÊNCIAS DO PAPEL DOS EMPREENDIMENTOS INDUSTRIAIS E COMERCIAIS Existem entraves reais à locação de bioindústrias em algumas regiões do Brasil, especialmente na Amazônia, cuja superação, embora não seja impossível, necessita enfrentar sérias dificuldades, quais sejam: Ausência de uma rede de centros de pesquisa de excelência, considerada a principal condição para a intensa geração de inovações que esta indústria depende; Ausência de complexa estrutura de serviços à produção, cruciais para a trajetória entre a pesquisa básica e produto, tais como: indústrias de equipamento para desenvolvimento conjunto de processos produtivos; distribuidores, que têm papel decisivo nas relações produtor/usuário; firmas de advocacia especializada em direitos de propriedade intelectual, repartição de benefícios e bioparcerias; firmas especializadas na captação e alocação de capital de risco; rede de hospitais e centros de pesquisa capazes de realizar testes controlados de fármacos e outros produtos; etc. Distância de aglomerados de outras atividades industriais cujos produtos ou processos de produção integram ou são parcialmente paralelos às cadeias produtivas da bioindústria; Baixíssima oferta de capital humano com o espectro de qualificações necessário ao preenchimento dos requisitos da indústria, de pesquisadores de ponta e pessoal de nível médio; Distância dos centros de decisão, matrizes, e mesmo de filiais, das empresas existentes nosdiversos ramos da bioindústria atuantes no território brasileiro. Para enfrentar tais disparidades e dar partida em um processo considerado de fundamental importância na correção de rumos do desenvolvimento regional, há que se trabalhar com atividades cujos padrões tecnológicos podem resultar, com maior grau de sucesso, em geração significativa de renda em empregos em bem mais curto prazo. Tal direção recomenda priorizar, inicialmente, o desenvolvimento de fitoterápicos, cosméticos, bebidas, alimentos e suplementos alimentares, considerando todo o espectro de subsetores, produtos e processos associados a estas cadeias produtivas. Tal estratégia compreende diversas vantagens: A rede de instituições de pesquisa atual tem condições de atuar nas áreas; Trata-se de nichos de mercado adequados às empresas nacionais de pequeno e médio porte, muitas já atuantes na região e no país; Os benefícios em termos de emprego, distribuição e multiplicação da renda por unidade investida são maiores; O potencial de geração de inovações competitivas é elevado; A disseminação ampla de tecnologias permite a elevação posterior dos patamares tecnológicos dos sistemas, por meio de políticas ativas de benchmarking, entre outros fatores. Esse esforço pode ser executado sem, necessariamente, abandonar-se as hipóteses concretas de utilização de tecnologias intensivas em conhecimento, mas em uma etapa intermediária, voltar-se à adaptação ou mesmo imitação de tecnologias bem sucedidas, buscando a compreensão, o uso e a modificação destas tecnologias, promovendo soluções que possam imediatamente ser transferidas para a extensão, inclusive porque as pesquisas destas soluções já partem de problemas concretos. Estes padrões tecnológicos, ao mesmo tempo em que são facilmente assimiláveis pelos produtores, demandam e contribuem para a formação de grande número de técnicos de nível médio. 14. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A CONSERVAÇÃO E O APROVEITAMENTO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE O Ministério do Meio Ambiente (MMA) desenvolve diversas ações voltadas para a prevenção dos danos e riscos ambientais causados, de uma maneira geral, pelo crescimento socioeconômico predatório, e uma má utilização dos recursos naturais, dentre outros fatores. Dentre as principais metas deste Ministério estão a conservação dos recursos naturais e dos ecossistemas, que tem sido concretizada em ações que garantam o controle e a redução das taxas de desmatamento e do extrativismo predatório, poluição dos ecossistemas naturais, entre outros danos ao meio ambiente, assim como a valorização do conhecimento tradicional, no uso e manejo da biodiversidade, realizado pelos povos autóctones brasileiros. Por esses motivos, tradicionalmente, as ações de natureza ambientalista, sejam do governo ou de organizações da sociedade civil se concentram em controlar ou impedir as atividades que causem danos relevantes ao meio ambiente. Atualmente, o MMA tem assumido uma postura mais ativa em ações diretamente relacionadas ao desenvolvimento social e econômico do país, por meio de uma série de políticas transversais voltadas para o desenvolvimento sustentável. Essas ações são baseados em princípios de inclusão social e de justiça ambiental, sendo fomentada a substituição de práticas predatórias ao meio ambiente por práticas de consumo e produção sustentável, e de desenvolvimento social e econômico por meio do aproveitamento sustentável dos recursos naturais, o que pode ser caracterizado como sendo a garantia da manutenção das “florestas em pé”. De uma maneira geral, pode-se dizer que o movimento ambientalista e os órgãos governamentais de meio ambiente estão desenvolvendo uma compreensão, nas últimas décadas, que a melhor estratégia de se evitar a degradação ambiental é a promoção do aproveitamento social e econômico da biodiversidade. Diversos trabalhos nas áreas ambientais têm demonstrado que o manejo sustentável dos recursos da biodiversidade dos biomas, preservados ao longo do tempo geológico e ecológico, traz mais retorno sob diversos pontos de vista, tais como: social, econômico, cultural e ambiental. Constata-se, cada vez mais, que o uso predatório da natureza tem trazido benefícios apenas a curto prazo, não sendo garantidas as condições de sustentabilidade para as gerações futuras. Além disso, os benefícios do uso predatório da natureza, de uma maneira geral, são socialmente excludentes, contribuindo para perpetuação das desigualdades. A ação de governo federal, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, no que toca a política de utilização do patrimônio genético, deve se constituir por dois componentes: A normatização e regulamentação; O fomento e a indução. O componente normalização e regulamentação é competência do CGEN, Conselho de gestão do Patrimônio Genético, órgão colegiado ao MMA, que tem sua Secretaria Executiva inserida no DPG, Departamento do Patrimônio Genético, vinculada à Secretaria de Biodiversidade e Florestas (MMA). O principal programa no componente do fomento e indução é o Probem, vinculado à Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável (MMA) 15. APRESENTAÇÃO DO PROBEM O PROBEM - Programa Brasileiro de Bioprospecção e Desenvolvimento Sustentável de Produtos da Biodiversidade é voltado para inserção de projetos e ações relacionados ao aproveitamento sustentável dos recursos da biodiversidade brasileira. Os projetos e ações de desenvolvimento sustentável nessa linha dependem de pesquisas básicas e da articulação com organizações governamentais, organizações sociais e populares, instituições de pesquisa, comunidades, organizações não governamentais e outros segmentos envolvidos nos processos. O Programa visa fomentar e induzir o desenvolvimento econômico e socioambiental no país a partir do acesso e utilização sustentável dos recursos genéticos da biodiversidade. Portanto, deve ser concebido e estruturado com base nas cadeias produtivas, buscando integrar de modo transversal, todas as etapas econômicas, sociais e ambientais que movimentam e direcionam o uso dos recursos da biodiversidade. A concepção de Programa faz com que este seja de natureza fundamentalmente transversal, interagindo com todo um amplo conjunto de atores (governamentais e não-governamentais) envolvidos na cadeia produtiva de bioprodutos – desde o acesso para sua identificação e extração na natureza, passando pela organização social da produção econômica, até a realização econômica de seu valor no mercado, assim como o conjunto de atores envolvidos na cadeia do conhecimento, que é empregado a cada etapa da cadeia produtiva, promovendo a transformação dos recursos em produtos de maior valor agregado. As atividades prioritárias do Probem são voltadas para a articulação de projetos-piloto nos biomas brasileiros, com a priorização do desenvolvimento das cadeias produtivas de recursos estratégicos da biodiversidade. Nesses processos são priorizadas as inovações técnicas, tecnológicas e culturais no aproveitamento da biodiversidade, e do conhecimento tradicional associado. As diretrizes dessas ações incluem um modelo de uso múltiplo e integrado da biodiversidade, com agregação de valor e conhecimento das suas potencialidades, inclusão social, justa repartição dos benefícios e justiça ambiental. Assim, as ações do Programa são adaptadas aos biomas e as comunidades locais de cada polo. Todas as etapas das cadeias produtivas devem se realizar de forma ambientalmente sustentável e socialmente justa, em conformidade com os princípios e diretrizes estabelecidos pela Convenção da Diversidade Biológica e da Agenda 21 Brasileira. Assim, as ações do programa devem contribuir para a conservação dos ecossistemas, com a preservação das espécies e da variabilidade genética. O Programa desenvolve ações e projetosem polos de Bioprospecção e desenvolvimento Sustentável de Produtos da Biodiversidade, onde são implementadas as cadeias produtivas da biodiversidade eleitas como estratégicas com a participação das comunidades e instituições parceiras. Dessa forma os Polos Probem se baseiam em 3 redes interligadas, a fim de se desenvolver integralmente as cadeias produtivas: 1- Rede de Coleta, Inventário e Cultivo; 2 – Rede de Pesquisa e Desenvolvimento; 3 – Rede de Marketing e Comercialização. Diretrizes gerais para o Manejo: deve ser fomentando o desenvolvimento de conhecimento e a implementação de técnicas de manejo que minimizem o impacto e maximizem a produção e o aproveitamento desses recursos. Para tanto, serão estabelecidos sistemas de aproveitamento múltiplo e integrado da biodiversidade, priorizando bioprodutos estratégicos (especialmente os endêmicos), por meio da associação de técnicas de sistemas agroflorestais, agroecologia, permacultura, etc. Diretrizes gerais para o Beneficiamento: o beneficiamento deve ser realizado, numa primeira etapa preferencialmente por cooperativas de produtores para que estes tenham o máximo de autonomia possível, ampliando a renda das comunidades, e evitando a concentração dos lucros pelos atravessadores. Na etapa de beneficiamento biotecnológico (se presente) serão priorizadas as instituições de P&D nacionais, sobretudo aquelas credenciadas nas redes Probem. Diretrizes gerais para o Comércio: os produtos devem ser devidamente certificados pelos órgãos responsáveis, e registrados e autorizados pelo CGEN, quando necessário. Deve ser promovida a educação ambiental e o marketing ecológico. No caso de conhecimento tradicional associado ao bioproduto deve ser implementadas as normas de repartição de benefícios previstas na legislação. O diferencial do Probem, em relação a outras políticas públicas de uso sustentável dos recursos genéticos, é a agregação de valor e conhecimento a biodiversidade. Para tanto, devem estar associadas as etapas das cadeias produtiva e do conhecimento. Deste modo, este Programa deve ter como Objetivos (Macro Objetivos): Promover uma estrutura permanente de análise e promoção de cadeias produtivas de recursos derivados da biodiversidade dos biomas brasileiros, com vistas à sua ampliação e diversificação, com ênfase na sustentabilidade ambiental e na inclusão social; Promover o desenvolvimento das cadeias do conhecimento acerca dos potenciais produtos da biodiversidade brasileira e da tecnologia agregada para a utilização dos recursos genéticos de forma sustentável; Articular projetos-piloto de desenvolvimento de bioprodutos, em especial voltados à inserção das populações tradicionais em processos produtivos derivados da bioprospecção e ao zelo pela justa repartição dos benefícios; Gerar subsídios para a formulação de políticas públicas para a bioprospecção e o uso sustentável do patrimônio genético. LEITURA COMPLEMENTAR Desenvolvimento sustentável: Como aliar meio ambiente e economia Cláudio Mendonça O desenvolvimento da ciência e da tecnologia, no século 20, serviu tanto para promover a melhoria da qualidade da vida do ser humano, quanto para ampliar a sua capacidade de autodestruição. Entre as heranças nefastas do último século, encontram-se o desgaste sem precedentes dos recursos naturais, os efeitos lesivos da poluição do ar e das águas, a destruição das matas e da biodiversidade do planeta. No início da década de 1960, os movimentos ecológicos já advertiam sobre as graves ameaças que estavam impostas à biosfera. As manifestações e discussões naquela década apontavam, também, para a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento baseado no ideal de consumo e crescimento econômico acelerado. Assim, aos poucos, os temas ambientais foram sendo incorporados aos programas de governo das nações, aos partidos políticos e à agenda dos organismos internacionais. Movimentos ambientalistas As Organizações Não-Governamentais (ONGs) começaram a surgir a partir da década de 1960. O WWF ("World Wildlife Fund"), a primeira ONG ambientalista de espectro mundial, foi criada em 1961. Está voltada para a defesa de espécies ameaçadas de extinção, de áreas virgens e ao apoio a educação ambiental. Em 1971, o Greenpeace - criado para impedir um teste nuclear na costa do Alasca, nos Estados - passou a ser o movimento ambientalista de maior projeção internacional. Desse modo, a discussão ambiental ganhou amplitude e adeptos em todo o mundo ao colocar em pauta a questão da própria sobrevivência humana e assinalar a necessidade de mudanças nos nossos valores sociais e culturais, bem como no modelo econômico das nações de um modo geral. http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/alasca-estado-norte-americano.htm Conferência de Estocolmo O primeiro grande debate mundial sobre os temas ambientais tem como referência a Conferência de Estocolmo, promovida pela ONU, na Suécia, em 1972 (1ª Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano). Até então, esse foi o maior evento de dimensão internacional dedicado exclusivamente à avaliação das relações sociedade e natureza. O dia 5 de junho, que marcou o início dos trabalhos da Conferência, foi oficializado pela ONU como o "Dia Mundial do Meio Ambiente". Na década de 1970, o mundo vivia no auge da Guerra fria. Os países socialistas ligados à hoje extinta União Soviética não compareceram ao evento de Estocolmo. Esses países boicotaram a conferência, em solidariedade à Alemanha Oriental, cuja participação foi vetada pela ONU. Sem a presença dos países socialistas, o principal embate do encontro de Estocolmo ocorreu entre os países desenvolvidos do hemisfério Norte e os países subdesenvolvidos do Sul. Enquanto os países do Norte, de modo geral, defendiam a necessidade de implementar políticas ambientais rigorosas, os países do Sul reclamavam o direito de perseguir o desenvolvimento econômico e investir na industrialização. O mundo subdesenvolvido não demonstrou nenhum interesse em adotar mecanismos de proteção ambiental que bloqueassem as suas metas de crescimento econômico. Os representantes desses países argumentavam que o crescimento econômico era prioritário e necessário para modificar a condição social precária em que vivia boa parte dos povos do mundo. Uma conclusão contraditória Essas divergências levaram a resultados práticos pouco promissores. Para contemplar as diversas posições, a "Declaração de Estocolmo" estabeleceu uma carta de princípios em que os países desenvolvidos concordavam com a necessidade de transferir tecnologia e dar apoio financeiro aos países dispostos a adotarem medidas ambientais corretas. Contudo, em contradição com o próprio princípio e objetivo da conferência, considerava que http://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/reino-da-suecia-pais-da-europa.htm http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/guerra-fria---inicio-da-segunda-guerra-mundial-as-primeiras-hostilidades.htm http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/urss---o-fim-boris-ieltsin-e-o-fim-do-regime-socialista-na-russia.htm a conquista do desenvolvimento econômico era uma meta tão prioritária quanto a preservação do meio ambiente. Nesse sentido, a posição brasileira na Conferência de Estocolmo foi tristemente exemplar, ao declarar que o país abria as suas portas para a instalação das indústrias poluidoras que tanto incomodavam a população dos países do Norte. Deixava clara a ideia de que o Brasil preferia promover o crescimento econômico a qualquer custo a se dedicar a políticas ambientais. Na verdade, o grande avanço de Estocolmo foi o de sensibilizar a sociedade mundial para os graves problemas ambientais que podiam e ainda podem colocar em risco a sobrevivência da humanidade. A criaçãodo PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - foi um de seus resultados concretos. O PNUMA passou a ser a agência da ONU responsável pela promoção de ações internacionais e nacionais relacionadas à proteção do meio ambiente. Visões de meio ambiente Pelo menos três concepções sobre a relação da sociedade humana com o meio ambiente, foram bem estabelecidas nessa primeira grande discussão internacional. Para começar, podemos citar o desenvolvimentismo, que defende o crescimento econômico a qualquer custo e não considera os danos ambientais nem a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais. Essa concepção confunde crescimento econômico com desenvolvimento e estimula o consumo crescente de energia e de recursos naturais. Em um lado totalmente oposto, encontra-se o preservacionismo, amparado na ideia de que -no atual estágio do desenvolvimento da produção - é necessária uma postura radical de preservação ambiental. Essa corrente teve origem nos Estados Unidos, na verdade, ainda no século 19. Ela foi responsável pela criação de importantes parques nacionais destinados à salvação da natureza original, como são os casos do Parque Nacional de Yellowstone (1872), do Sequoia Park (1890) e muitos outros. Em outras palavras, o preservacionismo defende a proteção integral de determinado ecossistema com o objetivo de garantir a sua intocabilidade. Já o conservacionismo é um meio termo entre as duas correntes anteriores. Admite a exploração dos recursos naturais, de forma racional e eficiente. Conservar significa, portanto, utilizar a natureza, mas garantindo a sua sustentabilidade. Não significa guardar os recursos naturais e sim consumir adequadamente: atender às necessidades do presente, levando em consideração a necessidade do uso desses recursos no futuro. A visão conservacionista tem caracterizado a maioria dos movimentos ambientalistas e tornou-se consenso entre a maioria dos países, sendo o princípio que norteia a política de desenvolvimento sustentável. Recursos renováveis e não-renováveis Tanto preservacionistas quanto conservacionistas consideram que a questão ambiental não está restrita aos tipos de recursos utilizados - renováveis ou não-renováveis - e sim aos recursos naturais em geral. Recursos renováveis são aqueles que, uma vez utilizados, podem ser recuperados, como a vegetação, a água, o ar e o solo. Os recursos não-renováveis são aqueles que se esgotam, ou seja, que não podem ser repostos, como os minérios: o petróleo, o carvão, o ferro, o manganês, o alumínio e outros. De fato, essa classificação encontra limitações, pois a exploração intensa de uma floresta, a utilização de extensas áreas para produção agropecuária ou a poluição de um rio pode levar à destruição irreversível de um ecossistema. É também o caso do ar, cuja qualidade tem sido comprometida com a emissão de gases que alteram a sua composição natural e tem provocado alterações climáticas em todo o planeta. Portanto, apesar de serem classificados como renováveis, alguns recursos não podem ser utilizados de forma inadequada sem uma atitude que vise a sua conservação em longo prazo. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Em 1973, um ano após a Conferência de Estocolmo foi elaborado o conceito de ecodesenvolvimento, mencionado pela primeira vez por Maurice Strong, Secretário Geral da Estocolmo/72. O ecodesenvolvimento - cujos princípios básicos foram formulados posteriormente por Ignacy Sachs - valoriza as possibilidades de um desenvolvimento capaz de criar um bem-estar social, a partir das particularidades e anseios das populações locais. É contra a padronização do modelo de desenvolvimento dos países ricos ocidentais, baseado na sociedade de consumo. Propõe também a necessidade de um modelo de desenvolvimento apoiado na preservação dos recursos naturais. Em 1983 a ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela primeira-ministra norueguesa, Gro Harlem Brundtland. Essa comissão realizou uma ampla avaliação dos problemas ambientais relacionadas ao desenvolvimento econômico. Seu trabalho resultou na publicação de um extenso relatório intitulado "Nosso Futuro Comum", publicado em 1987 (Relatório Brundtland). Nele, ficou consolidado o conceito de desenvolvimento sustentável, apoiado em políticas conservacionistas capazes de promover o desenvolvimento, sem a dilapidação dos recursos do planeta. Enfim, um modelo de desenvolvimento que garanta a qualidade de vida hoje, mas que não destrua os recursos necessários às gerações futuras. Algumas de suas recomendações propunham a redução do uso de matérias-primas e energia, uso de fontes de energia renováveis, limitação do crescimento populacional, combate à fome, preservação dos ecossistemas, industrialização ecologicamente equilibrada, satisfação de necessidades básicas para toda a humanidade, modificação dos valores e padrões da sociedade de consumo e a responsabilidade do Estado na implementação de políticas baseadas na justiça e equidade social. A sua viabilização depende da inclusão de políticas ambientais no processo de tomada de decisões econômicas. O conceito de desenvolvimento sustentável, apoiado numa visão ética indiscutível, comprometida em preservar a natureza para as gerações futuras, tornou-se consensual em quase todo o mundo. No entanto, a sua viabilidade prática ainda precisa ser avaliada, pois é difícil definir até que ponto a exploração econômica é compatível com a manutenção de um ambiente saudável. Na tentativa de chegar ao DS, sabemos que a Educação Ambiental é parte vital e indispensável, pois é a maneira mais direta e funcional de se atingir pelo menos uma de suas metas: a participação da população. A preocupação da comunidade internacional com os limites do desenvolvimento do planeta data da década de 60, quando começaram as discussões sobre os riscos da degradação do meio ambiente. Tais discussões ganharam tanta intensidade que levaram a ONU a promover uma Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo (1972). No mesmo ano, Dennis Meadows e os pesquisadores do "Clube de Roma" publicaram o estudo Limites do Crescimento. O estudo concluía que, mantidos os níveis de industrialização, poluição, produção de alimentos e exploração dos recursos naturais, o limite de desenvolvimento do planeta seria atingido, no máximo, em 100 anos, provocando uma repentina diminuição da população mundial e da capacidade industrial. O estudo recorria ao neo-malthusianismo como solução para a iminente "catástrofe". As reações vieram de intelectuais do Primeiro Mundo (para quem a tese de Meadows representaria o fim do crescimento da sociedade industrial) e dos países subdesenvolvidos (já que os países desenvolvidos queriam "fechar a porta" do desenvolvimento aos países pobres, com uma justificativa ecológica). Em 1973, o canadense Maurice Strong lançou o conceito de ecodesenvolvimento, cujos princípios foram formulados por Ignacy Sachs. Os caminhos do desenvolvimento seriam seis: satisfação das necessidades básicas; solidariedade com as gerações futuras; participação da população envolvida; preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas; programas de educação. Esta teoria referia-se principalmente às regiões subdesenvolvidas, envolvendo uma crítica à sociedade industrial. Foram os debates em torno do ecodesenvolvimento que abriram espaço ao conceito de desenvolvimento sustentável. Outra contribuição à discussão veio com a Declaração de Cocoyok, das Nações Unidas. A declaração afirmava que a causa da explosão demográfica era a pobreza, que também gerava a destruição desenfreada dos recursos naturais. Os países industrializados contribuíam para esse quadro com altos índices de consumo.
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