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MÓDULO 1 - A importância da diversidade musical no contexto escolar e o “Mapa Musical do Brasil”. Sobre o curso Bem-vindo ao curso EAD “Mapa Musical do Brasil! Esse curso tem como objetivo levar você a uma viagem musical pelo Brasil, conhecendo sua riqueza e diversidade cultural. Sabemos que hoje muitas de nossas crianças e jovens não possuem acesso pleno às diversas manifestações musicais presentes no Brasil, muitas vezes ficando restrito ou “refém” apenas ao que é disponibilizado pela mídia de massas ou ao que chamamos de “gosto musical”- o que pode ser deveras questionado e discutido, já que muitas vezes ele nos faz ficar restrito apenas ao que já conhecemos (vide texto "Para que música?" nas próximas páginas). A intenção desse curso é tirá-lo um pouco da zona de conforto, buscando expandir e aprofundar seus conhecimentos sobre a música brasileira e o desafio de levar esse incrível universo para dentro de sala de aula. O ambiente escolar talvez seja um dos poucos locais onde seja possível que a criança entre em contato com essa diversidade de estilos, ritmos, instrumentos, artistas e manifestações que retratam nossa cultura. Este, portanto é o objetivo principal desse curso. A partir do “mapa musical” traçado pelo professor Fabio Bergamini, que passam por todas as regiões de nosso país (além de ‘mapear’ também alguns diálogos com outras culturas como África, Europa, América latina, EUA, entre outras), você entrará em contato com a riqueza e com a complexidade contida em nossa cultura, podendo criar diversos caminhos para aplicar esses conteúdos em suas aulas. Partimos de cinco eixos básicos para a aplicação desse “mapa musical” com os alunos: 1. Apreciação e percepção musical (escuta ativa) 2. A música no corpo (canto, percussão corporal, jogos, brincadeiras de roda e danças) 3. Instrumentos musicais (conhecer, ouvir, construir, explorar e brincar de tocar) 4. Cultura musical (gêneros, estilos, ritmos, instrumentos e artistas do Brasil) 5. Criação musical (buscar vários jeitos de tocar e cantar, construir instrumentos e brincadeiras, criar composições, arranjos ou letras em cima dos gêneros, produzir apresentações, e tudo o mais que surgir ao longo do caminho). Nos três módulos que se seguem, iniciaremos nossa viagem pelo Nordeste e Norte do Brasil, indo para o Sudeste no Módulo 2 e por fim, as regiões Centro-Oeste e Sul. Permeando essas rotas estão alguns textos que servem para questionarmos e para nos apropriarmos dos conteúdos propostos no curso. Vamos iniciar com um texto que discute o porquê de se trabalhar música nas escolas e como aplicar esses conteúdos junto às crianças. 1. A complexidade na música e o “método de investigação musical” Introdução Consideramos a música como uma das atividades mais “complexas” do ser humano, não no sentido de complicada ou difícil, mas sim, no sentido de conter em si uma riqueza sem fim de elementos e significados, que permitem múltiplos caminhos e olhares sobre seu universo e que transcendem apenas o aprendizado de sua linguagem específica, assim como, pode gerar benefícios em várias áreas do desenvolvimento humano, dentre eles: cognitivos, emocionais, sociais e culturais. Podemos citar como referência o conceito de “complexidade” de Edgar Morin: “O pensamento complexo é animado por uma tensão permanente entre a aspiração a um saber não fragmentado, não compartimentado, não redutor, e um reconhecimento do inacabado e da incompletude de qualquer conhecimento” (Edgar Morin). Baseado nessa ideia, podemos pensar que, a partir de uma simples escuta musical podemos desenvolver inúmeros saberes, tanto da linguagem específica da música, como também estabelecendo uma série de inter-relações com outras áreas do conhecimento, como por exemplo: 1. De onde vem essa música? (fazendo relações entre a música e a geografia) 2. De quando é? (obtendo uma visão histórica da música) 3. Quem fez? (analisando os aspectos sociais dos compositores, interpretes e arranjadores) 4. O que diz a letra da canção (se houver)? (estabelecendo inter-relações com a área da linguagem) 5. Existe uma dança característica? (vamos dançar?) 6. Quais as inter-relações com as artes visuais, teatro ou o cinema? Isso tudo sem fugir da linguagem musical propriamente dita, que sempre será o foco principal de nossas ações, na qual podemos nos aprofundar num caminho interminável, em que você coloca o limite até onde quer chegar, trabalhando em questões como: 7. Qual é o gênero e estilo? 8. Quais são os instrumentos presentes? 9. Como é o arranjo, a harmonia e a forma? 10. Como é o ritmo? 11. Como é o ritmo da melodia? 12. Como é relação dos intervalos contidos na melodia (fazendo inter-relações com a harmonia, o arranjo e a letra da canção)? 13. Vamos cantar? 14. O que faz cada instrumento? 15. Vamos tocar? 16. Vamos criar novas formas de tocar e de cantar (arranjo, composição, improvisação, interpretação)? Esse approach ou “método de investigação” para com o objeto de estudo é utilizado em inúmeras abordagens da filosofia, psicologia e pedagogia e em escolas espalhadas pelo mundo que se utilizam do “inquiry based learning” (aprendizagem baseada no questionamento), sobretudo as chamadas IB International Schools. Para quem se interessar há diversos sites (a maioria em inglês) que se aprofundam mais no assunto, dentre eles https://www.ibo.org/about- the-ib/ . Entretanto, não entraremos mais a fundo na questão específica dessa metodologia, mas utilizaremos como base para o desenvolvimento dos projetos musicais em sua escola. Discutiremos agora um pouco sobre “os porquês” do trabalho com a música na educação básica. 1.1 Para que música? Essa segunda parte do texto 1 serve para colocarmos algumas reflexões sobre o universo musical e suas relações com nossa vida cotidiana, para que o professor possa criar um significado mais profundo sobre o trabalho com a música em sala de aula. Em tempos em que nossa sociedade passa por um período altamente utilitarista, individualista e imediatista, além de pouco acesso à diversidade cultural e a arte, fizemos a seguinte pergunta: para que serve a música, num sentido mais amplo do que apenas o de entretenimento ou fundo musical? Observando a pirâmide de Maslow, que contém as necessidades básicas do ser humano, podemos perceber que a arte, ou mais especificamente, a música, não está inserida explicitamente nesta categorização. Contudo, podemos questionar: por que então a música está presente em todas as culturas e épocas que temos conhecimento? https://www.ibo.org/about-the-ib/ https://www.ibo.org/about-the-ib/ Do ponto de vista emocional, sensível e afetivo Para iniciar nossa reflexão, podemos citar um trecho do livro Psicologia da Arte, no qual Vygotsky estabelece uma relação direta entre o surgimento e a existência da música com a dor e a angústia gerada pelo trabalho: "(...) a única peculiaridade desses cantos consiste em que o angustiante e o difícil que a arte deve resolver estão contidos no próprio trabalho(...). Por isso é extremamente interessante a afirmação geral de Bücher: 'Ora, os povos da Antigüidade consideravam os cantos um acompanhamento necessário de qualquer trabalho pesado' (24, p. 229). Em primeiro lugar, isto nos mostra que o canto organizava, era um trabalho coletivo, e, em segundo, dava vazão à tensão angustiante. Quintiliano expressou essa mesma ideia da seguinte maneira: 'E parece que ela (a música) nos foi dada pela própria natureza para melhor suportarmos o trabalho. Por exemplo, o remador também estimula o canto, este é útil não só naquelas atividades em que os esforços de muitos se combinam como também o cansaço de um encontra alívio no canto'(Vygotsky). Portanto, podemos atribuiruma primeira função à música que é a de “dar vazão ao sentimento”. Esse caráter sensível, afetivo, emocional da música é por si só motivo que justifica sua existência. A sublimação da tensão angustiante e o “alívio” que o canto e a expressão através dos sons pode nos trazer, conferem um caráter de sobrevivência, de cura, e de necessidade vital à música. Citando Vitor Hugo: " A música expressa o que não pode ser dito em palavras, mas não pode permanecer em silêncio”. Do ponto de vista Social e Cultural Dentre as mais diversas atribuições e características humanas, uma delas é que o ser humano simplesmente faz música. Sem ela, por definição, o homem ficaria incompleto, perderia seu sentido do todo. Portanto, a música é parte do homem. Para apropriar-se de sua cultura, o homem tem que conhecer sua música, ou melhor, fazer música (no sentido mais amplo do termo). A música como cultura sempre se dá num contexto social específico, trazendo para quem a pratica o sentido de “pertencer”, trazendo noções de identidade, de construção da personalidade e do caráter do indivíduo. Podemos então afirmar que, como parte do homem, a música também é a representação ou o reflexo deste, dentro de um determinado tempo e espaço. Conhecer a música de determinada cultura, é conhecer o homem inserido em seu contexto social, em uma de suas manifestações mais legítimas. Mesmo que cada indivíduo construa seu conjunto de significados em relação aos determinados tipos de música, ela sempre pertence a um grupo e uma época, já que não temos como isolar o homem da cultura na qual ele está inserido. Citando novamente Vygotsky e seu livro “Psicologia da Arte”: “A arte é o social em nós, e, se o seu efeito se processa em um indivíduo isolado, isso não significa, de maneira nenhuma, que suas raízes e essência sejam individuais. É muito ingênuo interpretar o social apenas como coletivo, como existência de uma multiplicidade de pessoas. O social existe até onde há apenas um homem e as suas emoções pessoais." (VYGOTSKY, p. 314, 315 e 316) Portanto, a música pode ser uma chave para o conhecimento de si mesmo e do outro. Quando ouvimos a música de uma determinada cultura, ali estão contidos elementos que refletem o homem daquele espaço e daquele tempo em toda sua complexidade. Como cita o sociólogo francês Jacques Attali: “...A música pode tornar-se um espelho do tempo em que foi produzida e da relação entre homem e sociedade. Como espelho da sociedade, a música é mais que um objeto de estudo em si mesma, é um meio de perceber o mundo, um instrumento de conhecimento. (Jacques Attali). Portanto, a música e a educação musical são fundamentos para uma educação mais integra e mais humana. O mínimo que o trabalho com a música nas escolas poderia fazer é colocar a criança em contato com o maior número de gêneros musicais possíveis, propiciando assim um alargamento de sua cultura e consequentemente do chamado “gosto” musical. Quando damos a oportunidade para que a criança entre em contato com essa riqueza de ritmos, gêneros e estilos, estamos expandindo a sua cultura, alargando as fronteiras de seu território estético e do seu sentido de “pertencer”. Podemos arriscar dizer que o nosso “gosto” é formado pela combinação da gama cultural em que estamos inseridos, com o sentido interno que damos as nossas escolhas estéticas. Podemos citar um trecho do livro “Pedagogia da Música - experiências de apreciação musical”, no qual as organizadoras Esther Beyer e Patrícia Kebach ilustram muito bem nossa discussão: “Ouvir música é uma atividade cotidiana do ser humano(...); os sons invadem o ambiente e nosso cérebro seleciona aquilo que queremos ouvir(...). Temos opção para ouvir aquilo que nos dá prazer, tranquiliza, dá energia, que gostamos em determinados momentos e em outros não, enfim, realizamos nossas escolhas sonoras de acordo com nossos gostos pessoais; essas escolhas estão atravessadas pela cultura à qual pertencemos. Quanto mais fechados para a diversidade, menos amplas serão nossas escolhas, quanto mais abertos à diferença, maiores serão as opções para escolhermos a trilha de nosso dia a dia. Desse modo, as ações humanas estão imersas em uma realidade social, cujas lacunas afetivas e instrumentos materiais e espirituais derivam do contexto de valores culturais, que demandam do sujeito ações e motivações. Essas ações inserem-se em um quadro de possibilidades de objetos e sua época (BEYER e KEBACH, 2011). Do ponto de vista Cognitivo Continuando nossas reflexões a respeito do trabalho com música, podemos afirmar que, do ponto de vista da Cognição, a música é uma das atividades mais complexas do ser humano e a que mais estimula diferentes áreas do cérebro. Podemos citar como referência o livro “A música no seu cérebro”, no qual, o autor Daniel Levitin, descreve o processo cognitivo e neuronal que ocorre quando ouvimos música: “A atividade musical mobiliza quase todas as regiões do cérebro de que temos conhecimento, além de quase todos os subsistemas neurais. Os diferentes aspectos da música são tratados por diversas regiões neurais. (LEVITIN, 2011: p.100). Portanto, a importância em se criar um ambiente musical, tendo como a base a diversidade, recai também sobre o desenvolvimento do aparato perceptual da criança em relação à música; em outras palavras, quanto mais ouvimos ou executamos diferentes tipos de música, mais nosso cérebro tem que criar conexões e sinapses para decodificar aqueles sons e atribuir-lhe significado. O inverso também ocorre, quanto mais restritos ao mesmo tipo de música, mais acomodado fica o cérebro, e menos desenvolvimento este terá. Por isso, temos em mãos uma grande oportunidade para que a criança entre em contato com a diversidade musical e, o ambiente escolar, talvez seja um dos poucos locais onde isso seja possível, pois percebemos hoje que muitos pais não propiciam esse ambiente em casa. Sem entrar em juízo de valores, vivemos nos últimos anos uma enorme capitalização e massificação da cultura e da arte, o que pode levar a criança a ter acesso apenas ao que está na mídia e ao que está na “moda”. Não vemos problemas quanto à isso, mas sim quanto à restrição que ocorre quando a criança não tem acesso ao que lhe seria vital quanto ao desenvolvimento musical. Observamos nos tempos atuais que, se por um lado o acesso a informação permite que as crianças ampliem a quantidade dos saberes, isso não nos garante a qualidade dessas informações e muito menos propiciam vivências ou experiências que sejam significativas para seu desenvolvimento como ser humano. Podemos ainda citar, dentro do contexto da cognição, que a prática musical e o contato com os instrumentos musicais trabalhem diversas regiões do cérebro ao mesmo tempo, despertando por exemplo as partes responsáveis pela motricidade, desenvolvendo a coordenação motora, a lateralidade, a coordenação fina de movimentos, e ainda, os vários tipos de memória (visual, sensorial, afetiva, auditiva, sinestésica, entre outras), os aspectos específicos da linguagem musical e suas correlações com outras áreas como a da linguagem, da matemática, da dança, entre outras. Considerações finais Voltando à pirâmide de Maslow apresentada no início do texto, acreditamos que a música satisfaz um grande número de necessidades ao mesmo tempo, sendo essas, as necessidades sociais, de autoestima e auto realização - se é que ela não satisfaz também, necessidades fisiológicas relativas à necessidades de sentimentos de prazer físico. Para ilustrar, podemos citar um trecho de um artigo encontrado na Revista Superinteressante, que diz: “A primeira hipótese sobre a função da música foi levantada por Charles Darwin. O biólogo que popularizou o conceito de evolução das espécies dizia que a música é determinantepara a escolha de parceiros sexuais, uma vez que as fêmeas seriam atraídas pelos melhores cantores. "O homem que canta bem, é afinado, expõe melhor seus sentimentos. Parece mais sensível, mais inteligente. E isso agrada as mulheres", e o inverso também é verdadeiro, afirma o jornalista e músico brasileiro Paulo Estêvão Andrade”. Em relação às necessidades sociais, ao cantar ou ao tocar um instrumento em grupo, a necessidade de comunicação, e de pertencer a algo maior, não somente é exercitada como fortalecida. Podemos incluir aqui o caráter sagrado da música encontrado também em inúmeras culturas, em seus cânticos sagrados, seu poder de cura e seu papel mediador perante a determinados santos e deuses existentes nas mais diversas culturas e épocas da história da humanidade. A música e o corpo estão intrinsicamente ligados. A prática musical, assim como a dança, inclui o desenvolvimento de inúmeras habilidades motoras e cognitivas. Através da superação de cada “obstáculo”, (que pode ser motor ou cognitivo, ou de qualquer outra natureza), o caminho do desenvolvimento da linguagem musical contribui imensamente para a necessidade de “gostar de si mesmo” ou seja de possuir autoestima - condição básica para o desenvolvimento do ser humano integral. Quanto às necessidades de auto realização, entendemos que um indivíduo auto realizado, é um ser que almeja e atinge objetivos que considera importantes para seu estado de “felicidade”. O exercício musical é uma forma excelente para desafiarmos os nossos potenciais internos. Aprender música é como aprender a viver. Necessita de motivação, paciência, leveza, planejamento, disciplina, aceitação, objetividade e perseverança, sendo essas algumas das qualidades que pretendemos desenvolver nesse Projeto de Educação Musical da Anacruse. Para encerrarmos momentaneamente as reflexões e discussões sobre o sentido da música e da educação musical no ambiente escolar, podemos citar um trecho do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil que resume bem o que abordamos ao longo desse texto: “a integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical(...). A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas, comemorações, rituais, manifestações. Existe música para adormecer, música para dançar, para chorar, para dar coragem, para pensar e em muitas outras finalidades do nosso cotidiano. Ela faz parte da educação desde há muito tempo, sendo que, já na Grécia antiga era considerada como fundamental para formação de futuros cidadãos, ao lado da matemática e da filosofia. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento do respeito mútuo, do equilibrio emocional, do desenvolvimento da auto estima, além de trazer consigo a concentração, disciplina, coordenação motora, e também um poderoso meio de integração social. Contudo, o que nos move em direção à prática musical é sempre o prazer. Tocar, ouvir, cantar deveria ser sempre muito gostoso, se não o é, algo errado ocorreu ao longo do caminho. O prazer estético e a vivência do “belo” contribui para a formação de um olhar positivo perante a vida. A música (e a arte de maneira geral) pode nos ajudar a construir um belo “óculos” para enxergamos o mundo com mais sentido, significado e beleza. Desejamos então a você, muita música em seu caminho! 2. A música do Nordeste e Norte do Brasil Vamos iniciar nossa primeira viagem indo para o Nordeste e Norte brasileiro. Aqui começa “oficialmente” a história do Brasil desde a chegada dos portugueses na Bahia, a posterior vinda dos africanos e de tantos outros povos que vieram aportar aqui. Entretanto seria um erro abafar a história anterior a essa ‘história oficial’ ignorando tão diversa e rica cultura indígena (como muito se faz). É entre os atritos e negociações dessas tantas culturas presentes em solo brasileiro que nasce a nossa música em suas incontáveis manifestações. Seria impossível aqui falar a fundo sobre todas as manifestações musicais presentes no riquíssimo território cultural nortista brasileiro. Se falarmos apenas do Maranhão por exemplo, podemos listar logo de cara mais de 15 tradições musicais e danças típicas, como o bumba meu boi (e seus cinco sotaques básicos), o tambor de crioula, o tambor de mina, o bloco tradicional, tribo de índio, cacuriá, baralho, dança do lelê (ou péla porco), caroço, coco, festas do divino espirito santo (e as caixeiras do divino), além do famoso reggae do Maranhão. Se isso ocorre em apenas um estado, imagine em todos os 9 estados. Imagine em Pernambuco, o frevo, o maracatu, o caboclinho, o cavalo marinho e a ciranda. A Bahia e seus inúmeros ritmos e blocos afro-brasileiros, e ainda todos os outros estados com suas tradições, danças, instrumentos e manifestações culturais. Dito isso, daremos nesse curso uma pincelada geral em algumas das principais manifestações musicais do Norte e Nordeste, mas cabe a você continuar essa tão prazerosa pesquisa, e cada vez mais se aprofundar em nossa maravilhosa cultura. Vamos começar com o universo do “Forró”, que talvez seja um dos mais amplos e principais representantes da música nordestina em todo o Brasil, contendo em si uma série de idiossincrasias e simbologias tão ricas para nossas discussões e reflexões. O forró é em si um estilo musical com suas próprias características, entretanto, consideraremos aqui (na nossa interpretação), o forró como um gênero (no sentido de geral, ou de generalização de diversos estilos), ou seja, como um enorme ‘guarda chuva’ que abarca inúmeras danças, ritmos, grupos e estilos musicais, dentre eles: o xote, o baião, o xaxado, o coco, o arrasta pé, a quadrilha, o “forró universitário”, o “forró pé de serra”, entre muitos outros. Para falar de forró, nada melhor que tomarmos como ponto de partida talvez o mais significativo nome da música nordestina: Luiz Gonzaga. Iniciaremos com um texto sobre um dos principais estilos musicais nordestinos, que foi praticamente criado e divulgado na voz de Luiz Gonzaga: o Baião. O baião já é considerado como música urbana, nascido no Rio de Janeiro, ligado desde seu início à Rádio Nacional, mas é um estilo que talvez sintetize musicalmente os diversos elementos, símbolos, caminhos e atritos contidos na história do povo nordestino. Depois desse texto sobre o baião, daremos uma rápida passada nos diversos outros gêneros e estilos nordestinos e por fim, e não menos importante, um resumo da música na região Norte do Brasil. 3. O Baião “...percebi que cantar as alegrias e as tristezas do homem da terra é também uma forma de ajudá-lo a conhecer seus problemas” (Luiz Gonzaga) A partir desta frase de Luiz Gonzaga, podemos afirmar que conhecer mais à fundo a música brasileira é sem dúvida uma porta de entrada para conhecermos a nossa própria cultura e consequentemente conhecermos a nós mesmos. Sendo assim, podemos dizer que Luiz Gonzaga tenta sintetizar em sua música toda uma vivência dentro da cultura nordestina com sua riqueza de símbolos, tradições, histórias, ritmos, danças, cheiros, trejeitos, sons, dores e alegrias. No livro “Luiz Gonzaga: a música como expressão do Nordeste”, encontramos a seguinte frase: “constatamos que Luiz Gonzaga e sua obra refletem a sociedade e a cultura do Nordeste brasileiro, pois, tanto a obra de arte, quanto a sociedade, são originadas na relação comum entre o indivíduo e seu meio natural.” (SANTOS,2004) Contudo, o baião consolida-se como gênero popular urbano em meados da década de 40, quando Luiz Gonzaga, o chamado “rei do Baião”, já estava no Rio de Janeiro e conseguiu se adentrar nos meandros da Rádio Nacional, que era oeixo central da música brasileira naquela época. Nascido em Exu, Pernambuco, Gonzagão viaja por todo o Brasil, antes de se consolidar na capital federal da época, o Rio de Janeiro, onde, depois de muita dificuldade, e muitas histórias a serem contadas, tornou-se muito popular, principalmente depois da gravação em 1946 da música Baião, que virou um marco do estilo: Eu vou contar pra vocês Como se dança o baião E quem quiser aprender É favor prestar atenção Apropriando-se de uma série de elementos do chamado ‘folclore’ nordestino (como o xaxado e sua ligação com Lampião, os aboios nordestinos, as bandas de pífanos, os maracatus, ou ainda, toda a tradição da sanfona vinda de Portugal e tão presente no Nordeste e no interior do Brasil), Gonzaga digere, recria e traduz tudo isso em suas músicas, sendo precursor e porta voz da cultura nordestina no Sudeste e posteriormente no Brasil e no mundo. Em entrevista para a Revista Veja de março de 1972, Luiz Gonzaga descreve: “O baião foi ideia minha e do Humberto Teixeira. Quando eu toquei o baião para ele, saiu a ideia de um gênero novo. Mas o baião já existia como coisa do folclore. Eu tirei do bojo da viola do cantador, quando ele faz o tempero para entrar na cantoria e dá aquela batida, aquela cadência no bojo da viola. A palavra também já existia. Uns dizem que vem do baiano e outros que vem de baía grande. O que não existia era uma música que caracterizasse o baião como ritmo, como letra...(Revista Veja, 15 de março de 1972). Nas reminiscências do nacionalismo-populista de Vargas, Luiz Gonzaga tornou-se símbolo da cultura nordestina, tendo seu ápice de 1946 a 1955. O samba ‘tradicional’ andava em baixa nesta época (sobretudo pelo advento do samba-canção mais ‘abolerado’) e Gonzaga chega à Rádio Nacional criando um novo paradigma que representava grande parte da população brasileira que até então era marginalizada e excluída do grande mercado fonográfico brasileiro. Ainda no livro de José Farias dos Santos “as músicas do Rei do Baião formaram veículos significativos que proporcionaram aos Estados do Sul e Sudeste, especificamente São Paulo e Rio de Janeiro, a tomarem conhecimento da cultura, da sociedade e da realidade dramática do Nordeste brasileiro”. Contribuindo para o contexto da valorização da cultura nordestina como continuidade da construção de uma identidade nacional para o Brasil, houve ainda, na literatura, um movimento precedente à música de Gonzaga: os chamados Romances Regionalistas que retratavam a realidade sertaneja, suas paisagens e histórias, como por exemplo, o romance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, publicado em 1938, dentre outros. Instrumentação típica do Baião Falando mais especificamente sobre a instrumentação típica do baião, podemos perceber uma forte influência da música portuguesa, na qual podemos comumente encontrar até hoje o uso da sanfona, dos tambores tradicionais e do triângulo, chamado pelos portugueses de “ferrinhos”. No livro Pequena história da Música Popular, o autor José Ramos Tinhorão cita: “o compositor Luiz Gonzaga afirmaria vinte anos depois, em início de 1972, ter sido também o introdutor do triângulo nesse conjunto típico de sanfona e zabumba, formando assim a composição instrumental mais indicada para produzir o ritmo do novo gênero. Porém, a fotografia de uma banda de música do interior do Estado do Alagoas, publicada pela Revista Ilustração Brasileira, em 1929, já mostrava, ao lado dos tocadores de pífaros, caixa, zabumba e rabeca, um menino segurando um triângulo de ferro”. Talvez não tenha sido Gonzaga que introduziu o triângulo na música nordestina, (visto que o triângulo já era usado anteriormente em outros gêneros, inclusive na própria música folclórica do Nordeste) mas coube a ele estilizar e sintetizar em sua própria sanfona, e em seu trio de forró, as diversas vozes contidas na cultura rítmica, melódica, harmônica e simbólica do Nordeste. Na continuidade desta história podemos citar inúmeros compositores e músicos que levaram a frente, expandindo e inovando a música nordestina pelo mundo. Dentre eles: João do Vale, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Sivuca, Osvaldinho do Acordeon, Hermeto Pascoal, Fagner, Elba Ramalho, Chico César, Lenine, entre tantos outros. Um outro momento histórico importante para a música nordestina foi pós bossa nova, em que músicos como Edu Lobo e Geraldo Vandré voltaram seus olhos para a o Nordeste buscando assim uma ‘verdadeira’ fonte para o que seria a mais ‘genuína’ música brasileira. Esse momento foi retratado inclusive pelos festivais da canção da década de 60 (época em que surge a sigla MPB como gênero), quando músicas como Ponteio, Arrastão, Disparada e Domingo no Parque tiveram grande destaque e traziam de certa forma elementos da cultura nordestina para o eixo central da música brasileira. Hoje em dia encontramos inúmeros grupos que tocam o baião em diversos contextos e instrumentações, desde o forró ‘eletrônico’, feito com teclados e programações, até o chamado forró ‘pé de serra’, que de certa forma tenta manter algumas características da estética criada por Gonzaga. Podemos ainda citar como por exemplo grupos como “Fala Mansa”, do chamado ‘forró universitário’, que inclui a guitarra, baixo, bateria e teclado. Para finalizar, vale ressaltar a importância de músicos como Sivuca e Hermeto Pascoal, que fundem a linguagem do nordeste com outros gêneros musicais como o jazz, levando a música brasileira para os mais altos patamares da música instrumental mundial. Sugestão de atividade Como sugestão de atividade, podemos partir da apreciação musical de alguma canção de Luiz Gonzaga e trabalhar com os alunos: • quais são os instrumentos típicos do baião • qual a temática das letras das canções • cantar e tocar algumas músicas selecionadas • como é a dança do baião e do xote (dançar com eles) • como tocar cada instrumento da percussão • construir ou adaptar objetos do cotidiano para imitar o som da zabumba e do triângulo. • pesquisar quais são as roupas, comidas e costumes dos nordestinos • pode ainda: assistir aos filmes “De pai para filho” https://www.youtube.com/watch?v=TfApzSVuaWo • ou “O mistério de Santa Luzia” que retratam a cultura e a história do baião. • https://www.youtube.com/watch?v=-0DQ7rTGZIk&t=3231s Enfim, podemos expandir e aprofundar a pesquisa e os conhecimentos musicais com foco na aquisição da linguagem musical através da cultura musical em seus vários aspectos, criando projetos educacionais que podem ser muito interessantes e divertidos para os educandos. Sugestão de Apreciação: Luiz Gonzaga, Humberto Martins, Dominguinhos, Sivuca, Hermeto Pascoal, Jackson do Pandeiro. https://www.youtube.com/watch?v=TfApzSVuaWo https://www.youtube.com/watch?v=-0DQ7rTGZIk&t=3231s Links relacionados ao Forró • Dominguinhos Canta e Conta Gonzaga https://www.youtube.com/watch?v=gKVavm_QiZ4 • Ritmos e Danças do Nordeste https://www.youtube.com/watch?v=K- F5Gzx3rE&index=1&list=RDK-F5Gzx3rE • Baião e coco https://www.youtube.com/watch?v=CnzP_z03Ehc https://www.youtube.com/watch?v=G1_Bz6yg9Wo https://www.youtube.com/watch?v=Q871ol8aUKU • Documentário sobre Luiz Gonzaga: http://youtu.be/4R5HG-d-ulk 4. A diversidade musical do Nordeste Nessa parte, faremos uma geral passando por alguns dos principais gêneros da música nordestina. Porém, como dissemos anteriormente, cabe a você continuar sua pesquisa ampliando e aprofundando seu conhecimento sobre a diversidade musical nordestina. • Xote e o xaxado Esses dois gêneros precedem o baião de Luiz Gonzaga e foram amplamente cantados, transformados incorporados em seu próprio repertório. Podemos citar ‘A vida do viajante’ ou ‘Xote das Meninas’ como exemplos de xote e ‘Mulher Rendeira’, Paraíbae Xaxado como exemplos do segundo. O Xote é um ritmo mais lento e procede das danças europeias, sobretudo do schottish, e das danças portuguesas como a chula e o malhão. Segundo o percussionista e pesquisador Ari Colares: “o xote é um ritmo mais cadenciado, isto é, mais lento. Seu nome deriva de uma dança de salão europeia chamada schottish, dançado em par enlaçado” (COLARES, 2011). (Pesquise na internet a dança do schottish e veja a semelhança com o xote). Luiz Gonzaga- Xote ecológico https://www.youtube.com/watch?v=XZdr9LpGJcw https://www.youtube.com/watch?v=gKVavm_QiZ4 https://www.youtube.com/watch?v=K-F5Gzx3rE&index=1&list=RDK-F5Gzx3rE https://www.youtube.com/watch?v=K-F5Gzx3rE&index=1&list=RDK-F5Gzx3rE https://www.youtube.com/watch?v=CnzP_z03Ehc https://www.youtube.com/watch?v=G1_Bz6yg9Wo https://www.youtube.com/watch?v=Q871ol8aUKU http://youtu.be/4R5HG-d-ulk https://www.youtube.com/watch?v=XZdr9LpGJcw Quando falamos em Xaxado, seu nome nos remete diretamente ao bando de Lampião. O termo ‘xaxado’ vem do verbo ‘sachar’, em que agricultores nordestinos faziam o ritmo do xaxado em suas inchadas quando ‘sachavam’ o feijão e roçavam a vegetação rasteira do nordeste. A dança do xaxado é muito característica pelas batidas do pé chão fazendo um ritmo percussivo, arrastando as ´sandálias’ ao embalo do xaxado. Diz a lenda que o bando de lampião quando invadia alguns vilarejos, batiam suas armas no chão no ritmo do xaxado, o que amedrontava toda a população. Segundo o percussionista nordestino Eder Rocha, o xaxado é ritmo mais sincopado e mais rápido que o baião, caracterizado por maiores variações rítmicas e pelo virtuosismo dos zabumbeiros. Xote das Meninas https://www.youtube.com/watch?v=mtqmDejqTho Xaxado https://www.youtube.com/watch?v=KoA7Z32ahpM Gonzaga e Dominguinhos https://www.youtube.com/watch?v=Z91xqCp-kUM • Coco, embolada, repente e aboio Falaremos aqui de mais quatro importantes gêneros musicais que antecedem a música urbana nordestina e nos remetem ao Brasil profundo, de tantas dores e lutas, refletidas tão lindamente em sua música mais rústica e genuína. A origem do Coco é ligada aos cantos e batidas praticados na colheita e na quebra do coco no Nordeste, tendo como uma de suas principais referências o Quilombo dos Palmares em Alagoas. Entretanto, esse é um gênero encontrado em praticamente todo o Nordeste. Apenas dentro do coco podemos citar mais de 10 diferentes estilos, diferenciados por suas regiões, instrumentações, formas de dançar e cantar. Entre eles podemos citar: o coco de embolada, o coco de roda, o coco de umbigada, coco de repente, coco de engenho, coco de praia, coco de ganzá, o coco de Zambê do RN, entre outros. Dentre suas principais características estão as batidas de palmas na mão, sua dança com as batidas dos pés no chão, e seu canto em pergunta e resposta que retrata de forma encantadora a vida cotidiana nordestina. Sua instrumentação varia de acordo com a região, mas podemos citar o pandeiro e o ganzá como principais instrumentos, podendo haver atabaques (coco de Zambê), batidas dos tamancos no chão (Alagoas e Pernambuco), e até viola, sanfona, triângulo, caixa ou zabumba dependendo de seu contexto. Podemos dizer que o coco também tem certo parentesco com o que veio a ser o samba no RJ, em estilos que precederam a música urbana e que tem suas inter-relações com o coco, como o samba-chula, chula arraiada, maxixe, samba de roda, samba rural, partido alto, samba duro, samba-coco e embolada. Podemos citar como um de seus principais representantes o compositor e interprete Jackson do Pandeiro. https://www.youtube.com/watch?v=mtqmDejqTho https://www.youtube.com/watch?v=KoA7Z32ahpM https://www.youtube.com/watch?v=Z91xqCp-kUM Outras duas fortes tradições nordestinas ligadas ao coco, são a Embolada (coco de embolada no pandeiro) e o Repente (mais ligado ao aboio e à viola). A Embolada pode muitas vezes ser considerada um estilo de coco, mas possui suas próprias características, quase sempre havendo improvisação (mas não necessariamente), cantado normalmente em duplas, com muita malícia e senso de humor, aproveitando de situações cotidianas para criarem seus versos. Sua base rítmica é normalmente feita pelo pandeiro com um andamento bem acelerado. Grosso modo é o chamado ‘repente no pandeiro’. Podemos fazer uma comparação da embolada com o RAP, em que dois improvisadores se duelam criando seus versos na hora do desafio. É muito importante ouvir e pesquisar para que você entenda as diferenças e peculiaridades de cada estilo a partir de sua percepção e não apenas do texto escrito. O Repente surge como gênero (muito provavelmente em Teixeira, na Paraíba), a partir da tradição da viola, dos cantos ligados aos aboios, da improvisação e dos versos ligados à literatura de cordel nordestina. O repente tem como instrumento de base a viola, e possui normalmente em seus versos um grande senso de humor e muita criatividade, havendo em outros casos, histórias, rimas e falas que retratam a vida cotidiana do nordestino, sendo usado até para fazer propaganda de lojas ou de políticos locais. Há muitos estilos dentro do repente, como o martelo agalopado ou o galope à beira mar. Vale a pena continuar essa pesquisa e conhecer os diversos tipos de Repente ao redor do Brasil. Para finalizar, podemos citar o Aboio como uma das principais fontes do canto nordestino e também uma das principais influências árabes na música do Brasil. Seu canto dolente, sempre ligado a boiada, a seca e às dificuldades da vida no sertão, lembra o lamento árabe (que também encontrado na música portuguesa e flamenca) com seu canto monocórdico e repetitivo, como um mantra que se repete sem uma forma definida de início, meio e fim. O berrante é um instrumento bastante presente na tradição do Aboio. Vamos ouvir? • Coco de Roda https://www.youtube.com/watch?v=G1_Bz6yg9Wo • Coco Alagoano https://www.youtube.com/watch?v=Q871ol8aUKU • Cantando Coco https://www.youtube.com/watch?v=QvoSOdigkyw • Improvisação na embolada https://www.youtube.com/watch?v=pPlHMPcJziw • Repente (martelo agalopado) https://www.youtube.com/watch?v=TEUGOG6HrFM • Aboio e música árabe https://www.youtube.com/watch?v=lz2WnIr1R5U Bahia Você já foi a Bahia nega, não? Então vá! Continuando nossa viagem, pegaremos agora carona nas caravelas de Cabral para aportar nas terras onde deu-se início a história de nosso país: A Bahia. Existem certos lugares no Brasil onde a tradição africana está muito presente. Certamente a Bahia é um dos principais deles! Nas comidas, nas roupas, na religião, nos costumes e sobretudo na música, a Bahia é um celeiro de tradições afro-brasileiras. Seus blocos afro (como Ilê Ayê, Filhos de Gandhy, Olodum, Timbalada e tantos outros) e seus inúmeros gêneros musicais e artistas tão significativos para nossa música brasileira (Caymmi, Gil, Caetano, Gal, Bethânia, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Armandinho, Margareth Menezes, entre tantos outros) refletem a riqueza e diversidade desse povo que é uma das matrizes musicais mais importantes do Brasil. Vejamos um pouco do Samba de roda e do Ijexá que talvez sejam dois dos mais representativos ritmos baianos e que influenciaram diversos gêneros musicais brasileiros como o samba e a axé music. O samba de roda do recôncavo baiano Um dos mais significativos gêneros musicais da Bahia é sem dúvida o Samba de Roda. Considerado patrimônio imaterial nacional pelo IPHAN, o samba de roda do recôncavo baiano é uma das matrizes do que se tornou mais tarde o samba urbano carioca. Ligado sobretudo à cultura bantu de Angola, o samba de roda tem ligação direta ao culto dos orixás e também com a capoeira. Seus principais instrumentos são os mesmos utilizados no ritual de candomblé: 3 atabaques (rum, rumpi e lé), o gan (agogô), xequerêe o ganzá (as vezes pandeiro e até surdo). https://www.youtube.com/watch?v=G1_Bz6yg9Wo https://www.youtube.com/watch?v=Q871ol8aUKU https://www.youtube.com/watch?v=QvoSOdigkyw https://www.youtube.com/watch?v=pPlHMPcJziw https://www.youtube.com/watch?v=TEUGOG6HrFM https://www.youtube.com/watch?v=lz2WnIr1R5U O samba de roda do recôncavo também era chamado de samba chula, com seus versos improvisados e sua dança em meio aos instrumentos e à roda de palmas. Existiam ainda muitas denominações e estilos dentro do samba de roda, como: samba corrido, a chula raiada, o samba rural, samba de pernada, samba de viola, samba amarrado, samba duro, samba de kabula, entre muitos outros. O samba de roda da Bahia influenciou diretamente o samba carioca, sobretudo o chamado samba de “Partido alto” cantado hoje em dia por artistas como Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Fundo de Quintal, Dudu Nobre, entre outros. Grupos como 'É o Tchan' e outros do “pagode baiano”, também tem suas raízes no samba de roda. Documentário https://www.youtube.com/watch?v=p9h2rydFT_0 Outros vídeos https://www.youtube.com/watch?v=CSlnL67F4Xk Doc Samba chula https://www.youtube.com/watch?v=H2Z_5wo7X_s Ijexá O ijexá é um gênero que veio diretamente da África Ocidental (cultura Yorubá) e se estabeleceu no Brasil, sobretudo em Salvador, na Bahia. Inicialmente o Ijexá era tocado dentro dos rituais do candomblé, mas aos poucos foi tomando as ruas de Salvador nos chamados “Blocos de Afoxé”. Um dos bloco de afoxé mais representativos atualmente é o “Filhos de Gandhy,” que sai todo ano pelas ruas durante o carnaval da Bahia. Muitos compositores e interpretes da MPB incorporaram Ijexás em seu repertório, dentre eles: Dorival Caymmi, Clara Nunes, Vinícius de Moraes, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan, João Bosco, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Marisa Monte, Maria Bethânia, entre muitos outros. O Ijexá é uma das matrizes do que se transformou na “Axé Music” da Bahia. https://www.youtube.com/watch?v=p9h2rydFT_0 https://www.youtube.com/watch?v=CSlnL67F4Xk https://www.youtube.com/watch?v=H2Z_5wo7X_s Instrumentos: Assim como no samba de roda, os instrumentos originais do Ijexá são os mesmos usados no candomblé. Existem três principais atabaques: o Rum (grave), o rumpi (médio) e o lé (agudo). Há também um agogô chamado Gan (ou Gã) e uma cabaça com miçangas chamada Agbé os Xequerê. Curiosidades (letra, ritmo, dança, vestimentas) Os blocos de Afoxé, também chamados de candomblé de rua, como os Filhos de Gandhy por exemplo, tocam praticamente só Ijexás. Eles saem todos vestidos de branco e cantam em homenagem aos seus orixás. Geralmente um “cantador” entoa a melodia e em seguida todos repetem. As danças afro brasileiras são ainda reminiscências de nossa herança africana no Brasil. Assista abaixo alguns vídeos de músicas e danças no ritmo do IJEXÁ. Links relacionados ao Ijexá (músicas e vídeos interessantes) • Clara Nunes: Ijexá https://www.youtube.com/watch?v=J3TW7zpwS3A • Afoxé Filhos de Gandhy https://www.youtube.com/watch?v=9Y-xBSDotpc https://www.youtube.com/watch?v=5bj_O8S6jhA • Dorival Caymmi: Promessa de Pescador https://www.youtube.com/watch?v=UMMRWuFCX18 • Rita Ribeiro: É D´Oxum https://www.youtube.com/watch?v=KJyvhFa_U20 • Canto de Oxum https://www.youtube.com/watch?v=yJIVLsxa8Sw Vale continuar suas pesquisas sobre a música baiana, estudando seus blocos, ritmos, artistas e seus diálogos com as diversas culturas que formam esse caldeirão cultural baiano. Podemos sugerir alguns temas para que você expanda e aprofunde suas pesquisas, como por exemplo: o Olodum e suas relações com o merengue e o samba reggae (diálogos com ritmos da América latina), a Timbalada e seu projeto social (ver o instrumento Timbal), o Ile Ayê e suas raízes africanas (mantendo a tradição da cultura negra na Bahia), Dodô e Osmar e a invenção do trio elétrico (ver guitarra baiana), Margareth Menezes e a criação da Axé Music, o fenômeno Daniela Mercury (1989), O grupo ‘É o Tchan’ e a industrialização do samba duro, Ivete e o “pop baiano”, e tantos outros temas, bandas, estilos, e artistas que hoje povoam o cenário da música da Bahia. Vamos agora continuar nossas ‘rotas musicais', dando uma pincelada na também riquíssima música pernambucana, formada pelo encontro das culturas portuguesa, holandesa, africana e indígena. Pernambuco Saindo da Bahia e cruzando os estados de Sergipe e Alagoas, nossas rotas musicais aportam agora em outro importante estado: o Pernambuco. Podemos listar sem pestanejar mais de 10 tradições musicais, blocos e ritmos encontrados nas ruas de Olinda e Recife (como o maracatu, o frevo, caboclinho, o coco e a Dona Selma do Coco, a ciranda, os blocos Bacalhau do Batata e o famoso Galo da Madrugada, entre tantos outros). Entretanto, precisamos nos precaver para não virarmos uma enciclopédia com listas de nomes de gêneros, e sim tentarmos apreciar, conhecer, ouvir, sentir, cantar, tocar e assim assimilar e se apropriar do conhecimento aqui oferecido. Vamos começar com talvez os dois mais representativos gêneros musicais de Pernambuco: o maracatu e o frevo. https://www.youtube.com/watch?v=J3TW7zpwS3A https://www.youtube.com/watch?v=9Y-xBSDotpc https://www.youtube.com/watch?v=5bj_O8S6jhA https://www.youtube.com/watch?v=UMMRWuFCX18 https://www.youtube.com/watch?v=KJyvhFa_U20 https://www.youtube.com/watch?v=yJIVLsxa8Sw O Maracatu Assim como o ijexá, o maracatu é uma das tradições afro-brasileiras que marcam os primórdios de nossa música, do qual encontramos relatos desde o século XIX e que continuam ainda hoje muito presentes em nossa cultura. Tipicamente pernambucano, o maracatu é tocado por alfaias, gonguês e gans (agogôs), taróis (caixa), agbés (xequerês), variando um pouco sua instrumentação e seus toques de acordo com cada “nação”. A alfaia e o tarol são instrumentos que tem sua origem europeia, enquanto o gonguê e o xequerê provem da África ocidental. A dança e o ritual do maracatu possui uma grande riqueza de significados, simbolizando a coroação dos reis africanos (rei Congo) em terras brasileiras em contrapartida ao rei branco português (esse ritual é encontrado também nas congadas em todo o Brasil). Ela possui seus personagens típicos entre o Porta-Estandarte, as Damas de Paço (que levam a boneca de madeira chamada Calunga), o Rei, a rainha, as figuras da nobreza, as yabás (baianas), entre outros. Existem dois tipos básicos de maracatu: 1. Baque virado (maracatu nação) mais típico da região metropolitana de Recife e, 2. Baque solto (maracatu rural) mais encontrado na zona da mata de Pernambuco. O maracatu foi estilizado e amplamente divulgado na década de 90 por Chico Science e Nação Zumbi e mantém suas raízes e sua chama acesa até hoje, nas ruas de Recife e Olinda como sendo uma das mais antigas e tradicionais manifestações musicais do Brasil. Vale a pena pesquisar mais a fundo este gênero tão rico e tão presente em nossa cultura, conhecendo suas peculiaridades, suas “nações”, e seus diferentes estilos. Links relacionados ao Maracatu • Maracatu Estrela Brilhante https://www.youtube.com/watch?v=iF4j747M8Hg • Maracatu Nação Porto Rico https://www.youtube.com/watch?v=FXMNm8sxLfc • Maracatu: Dança: https://www.youtube.com/watch?v=iF4j747M8Hg Frevo (Pernambuco) O Frevo é um gênero típico do Pernambuco, mais especificamente do Recife e Olinda, e tem como principal característica os andamentos rápidos e suas melodias bem trabalhadas, e que são muito exigentes para os músicos que as tocam (TELES, 2000, p.35). Apenas para ilustrar, na contracapa do livro Do frevo ao Manguebeat, o autor José Teles cita: Em um depoimento sobre Capiba e Nelson Ferreira,o maestro Guerra Peixe declarou sobre a complexidade do frevo: ´antes de mais nada o compositor de frevo tem que ser músico, tem que entender de orquestração`. Já para o mestre Capiba, o frevo é um dos gêneros da música popular mais criativos do mundo e, em determinada ocasião, se baseou nele para compor uma peça para o Quinteto da Filarmônica de Berlim. Os instrumentistas não conseguiram tocar e responderam: ´infelizamente o senhor escreveu algo muito difícil e rápido demais para nós` (TELES, 2000, contracapa do livro). O nome “Frevo” vem provavelmente do verbo ferver, ou da corruptela do termo “fervo” que designa o ritmo quente, alegre e agitado. Existem diversos estilos de frevo, como o Frevo-Canção (com cantor), o Frevo de Rua (instrumental) e o Frevo de Bloco (com violões, cavaquinhos, e coro). O que mais chama atenção é sua dança que provém dos passos da capoeira e utiliza o famoso guarda chuva colorido. Os dançarinos de frevo são verdadeiros acrobatas pois eles pulam, abaixam, levantam, giram e fazem muitas peripécias com suas sombrinhas coloridas. https://www.youtube.com/watch?v=iF4j747M8Hg https://www.youtube.com/watch?v=FXMNm8sxLfc https://www.youtube.com/watch?v=iF4j747M8Hg Tente aprender alguns passos de frevo e veja se você está em forma para acompanhar essa exigente dança. Conheça os passos de frevo como: o saci-pererê, o ferrolho, a tesoura, entre muitos outros. Um dos mais importantes Blocos de frevo é o Galo da Madrugada, que mantém viva essa tradição que foi considerada pela UNESCO como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Links relacionados Hino do Galo da Madrugada https://www.youtube.com/watch?v=kX7QuO4OrX4 Dança (Frevo) https://www.youtube.com/watch?v=yUzxN5yR8MI Spok Frevo https://www.youtube.com/watch?v=muo6fW2fnwQ Ainda em Pernambuco Caboclinho Referência à cultura indígena (pajelança). Ligados também ao Candomblé. Culto à Jurema ou Catimbó. Instrumentos típicos: Preaca (arco e flecha), maracás (caracachás), inúbia (flauta), e as vezes atabaques, surdos ou tambores menores e até caixa. Ritmos: Guerra, Baião, Perré, Macumba (atabaque) https://www.youtube.com/watch?v=LvAc_GEzLyc https://www.youtube.com/watch?v=ToTYGXB2eiE https://www.youtube.com/watch?v=J5bUlOm2PRM Ciranda Dança em roda e belas melodias. Lia de Itamaracá https://www.youtube.com/watch?v=URDn8x4uRr0 Cavalo Marinho (zona da mata) É o “pai do frevo” e do maracatu rural, dança típica, rápida e muito alegre. https://www.youtube.com/watch?v=EVOZAf4vucY https://www.youtube.com/watch?v=HkXqvDEJOPc Movimento Armorial Antes de irmos para nossa próxima parada, vale ressaltar ainda em Pernambuco a importância do Movimento Armorial, encabeçado por Ariano Suassuna na década de 70 e que teve tantos frutos não só na música como nas artes e na poesia. Suassuna pretendia criar um movimento artístico-cultural baseado nas tradições populares nordestinas. Conheça o Quinteto Armorial, filho desse grande turbilhão cultural que foi o Movimento Armorial: https://www.youtube.com/watch?v=jZxKKPG2A7c https://www.youtube.com/watch?v=wDC2TJRpF_0 https://www.youtube.com/watch?v=kX7QuO4OrX4 https://www.youtube.com/watch?v=yUzxN5yR8MI https://www.youtube.com/watch?v=muo6fW2fnwQ https://www.youtube.com/watch?v=LvAc_GEzLyc https://www.youtube.com/watch?v=ToTYGXB2eiE https://www.youtube.com/watch?v=J5bUlOm2PRM https://www.youtube.com/watch?v=URDn8x4uRr0 https://www.youtube.com/watch?v=URDn8x4uRr0 https://www.youtube.com/watch?v=EVOZAf4vucY https://www.youtube.com/watch?v=HkXqvDEJOPc https://www.youtube.com/watch?v=jZxKKPG2A7c https://www.youtube.com/watch?v=wDC2TJRpF_0 Maranhão Estamos agora rumando para o Norte do Brasil. Embalados pelo “Cavalo Piancó” do Piauí, chegamos ao Maranhão, outro epicentro cultural do Nordeste. Como dissemos anteriormente, seria impossível aqui falarmos sobre todas as tradições do Maranhão, portanto escolhemos duas das principais: o bumba meu boi e tambor de crioula. Bumba meu boi O bumba meu boi é uma das principais manifestações do Maranhão. É uma encenação ecumênica que retrata perfeitamente as diversas tradições culturais e religiosas do Brasil, como o catolicismo europeu, o candomblé africano e a pajelança indígena. Conta a lenda que “Mãe Catirina” ficou grávida e ficou com desejo de comer a língua do melhor boi da fazenda. “Pai Francisco” foi lá e matou o boi, trazendo a língua que Mãe Catirina tanto queria. Visto isso, o dono da fazenda ficou irado e foi atrás de Pai Francisco. Desesperado, ele pediu ajuda aos santos católicos, aos orixás e aos pajés, os quais, unindo suas forças, fizeram o milagre de ressuscitar o boi. A riqueza rítmica do boi do Maranhão é algo indescritível. Sua danças, seu colorido e sua riqueza simbólica traduzem o que temos de melhor na cultura brasileira. Existem cinco sotaques (ou estilos) dentro do gênero bumba meu boi, os quais se diferenciam pelo ritmo, pela instrumentação e sobretudo pelas diferentes regiões do estado. 1. Boi de Matraca e pandeirão (sotaque da Ilha, mais lento, influência indígena, polirritmia 3 contra 2) 2. Boi de Pindaré ou Floresta (sotaque da Baixada, rio Pindaré, personagem Cazumbá, máscara e sininhos de vaca) 3. Boi de orquestra (com sopros, região do rio Munim, mistura de gêneros). Boi da axixá. 4. Boi de Zabumba (mais africano, é muito antigo, localidade: Guimarães, dança com calcanhares) 5. Boi de costa de mão (região litoral oeste do Maranhão, Cururupu, (parece xote), calças de veludo, chapéu de cogumelo, pandeirão pendurado no pescoço) Assistir documentário: https://www.youtube.com/watch?v=5G8gYfk-bBg https://www.youtube.com/watch?v=t_cziTYeoLY https://www.youtube.com/watch?v=5G8gYfk-bBg https://www.youtube.com/watch?v=t_cziTYeoLY Tambor de crioula O tambor de crioula é também uma das mais características manifestações musicais do Maranhão. Vindo diretamente de escravos africanos, seu ritmo é rápido, complexo e contagiante. Normalmente o ritual do Tambor de Crioula são pagamento de promessas a São Benedito e ocorrem durante o ano todo nas ruas de São Luis. A instrumentação básica é feita por três tambores básicos feitos de tronco de árvore escavado e pele de cabra ou de boi; são eles: o tambor grande, o meião e o crivador. Seu canto em perguntas e respostas acompanhado de palmas, a dança das coreiras, com seus passos e umbigadas (punga), e sua complexidade rítmica fazem do tambor de crioula uma das mais autênticas, sofisticadas e belas manifestações musicais do Brasil. https://www.youtube.com/watch?v=RcGSkX5MjEk https://www.youtube.com/watch?v=OBhTBFJDmyo Ainda no Maranhão 1.Tambor de Mina https://www.youtube.com/watch?v=E6oAH-OYvPE https://www.youtube.com/watch?v=9KZ_ieXZxFE (caráter religioso, candomblé/umbanda do Maranhão) 2. Festa do Divino Espirito Santo (caixeras do Divino) https://www.youtube.com/watch?v=o0g6srTle-U https://www.youtube.com/watch?v=0316tq4DZQ4 3. Baralho (bloco) https://www.youtube.com/watch?v=WxHZL4JIutM 4. Cacuriá https://www.youtube.com/watch?v=dos51bOSDlU (sensual, parte profana da Festa do Divino) 5. Bloco tradicional (carnaval) https://www.youtube.com/watch?v=CO9mq8FGLWg https://www.youtube.com/watch?v=F781AQS2Inc (Flavia Bittencourt) 6. Coco https://www.youtube.com/watch?v=wixN4ElCEA8 7. Lelê ou Pela Porco (“samba boi”) https://www.youtube.com/watch?v=cVlZHfyDXts 8. Caroço (Piauí e MA) https://www.youtube.com/watch?v=JxXrF9w10mc https://www.youtube.com/watch?v=RcGSkX5MjEk https://www.youtube.com/watch?v=OBhTBFJDmyo https://www.youtube.com/watch?v=E6oAH-OYvPE https://www.youtube.com/watch?v=9KZ_ieXZxFE https://www.youtube.com/watch?v=o0g6srTle-U https://www.youtube.com/watch?v=0316tq4DZQ4 https://www.youtube.com/watch?v=WxHZL4JIutM https://www.youtube.com/watch?v=dos51bOSDlU https://www.youtube.com/watch?v=CO9mq8FGLWghttps://www.youtube.com/watch?v=F781AQS2Inc https://www.youtube.com/watch?v=wixN4ElCEA8 https://www.youtube.com/watch?v=cVlZHfyDXts https://www.youtube.com/watch?v=JxXrF9w10mc 5. A música da região Norte Deixando a região Nordeste e entrando um pouco nos mistérios da cultura Amazonense, não podemos de falar sobre a importância da cultura indígena nessa região. Teríamos que dedicar um curso extra apenas para falarmos da diversidade cultural indígena no Brasil. Só para termos uma ideia, quando os portugueses chegaram haviam em torno de 5 milhões de indígenas no Brasil; hoje não passam de 800 mil. De 1200 povos fomos para 230. Ainda assim são faladas mais de 150 línguas indígenas no Brasil hoje. Quem disse que o Brasil fala uma língua, está muito enganado. Essa história é muito mal contada e os povos indígenas são até hoje marginalizados e excluídos de nossa sociedade. Veja algumas de nossas línguas originais do Brasil: Tronco Tupi: tupi-guarani, arikém, aweti, juruna, mawé, mondé, puroborá, mundukuru, ramarama, tupari. Tronco Macro Jê: bororo, krenak, guató, jê, karajá, maxakali, rikbaksá, ofayé e yatê. Alguns instrumentos musicais de índios brasileiros Os tambores não são muito usados pelas culturas indígenas brasileiras, havendo muitos instrumentos de sopro e de percussão leve, com destaque para o maracá, encontrado em praticamente todas as culturas, já que era também um instrumento de cura utilizado pelos pajés. KWORO KANGO (letra e vídeo) canto dos índios KAYAPÓ https://www.youtube.com/watch?v=TQNMkjnjq-w Doc. https://www.youtube.com/watch?v=n10Wrks2HXI https://www.youtube.com/watch?v=ScaUURAJkC0 Canto https://www.youtube.com/watch?v=zFjxKEOQsc4 Dança do bate pau MT https://www.youtube.com/watch?v=W7A7ELRGWVU https://www.youtube.com/watch?v=7ojK6Bb8Dlw A cultura Amazonense e o Boi de Parintins A cultura do Amazonas de modo geral tem por base a cultura indígena, porém sofre muita influência da cultura Nordestina e afro-brasileira. Podemos iniciar falando do boi de Parintins que é um dos maiores espetáculos da cultura brasileira, em que dois principais ‘bois folclóricos’ disputam a melhor apresentação – o Garantido e o Caprichoso. Essa disputa acirrada encanta nossos olhos e pois seguem critérios rígidos a serem analisados, dentre eles: A música (toada): que é tocada por volta de duas horas e meia, acompanhada por um grupo de mais de 400 ritmistas e as letras das canções resgatam o passado de mitos e lendas da floresta amazônica. O ritual dos Bumbás, que assim como no Maranhão, mostra a lenda de Pai Francisco e Mãe Catirina que conseguem, com a ajuda do Pajé, fazer reviver o boi do patrão. O Apresentador marca o centro do espetáculo, conduzindo o tema com sua voz. Precisa ter afinação, dicção, timbre e técnica de canto. O Levantador de toadas que precede à batucada. Todas as músicas que fazem a trilha sonora das apresentações são interpretadas pelo levantador de toadas. Trata-se de uma figura importante, já que a técnica, a força e a beleza de sua interpretação não só valem pontos como ajudam a trazer à tona a emoção dos brincantes. O Amo do Boi, com seu jeito caboclo, exalta a originalidade e a tradição do folclore, fazendo soar o berrante e tirando o verso em grande estilo. Outros personagens da festa são: a Sinhazinha da Fazenda que é a filha do dono da fazenda, e precisa ter graça, desenvoltura, simplicidade, alegria, saudando o boi e o público. A Porta Estandarte, que representa o símbolo do Boi em movimento. Ela deverá ter garra, desenvoltura, elegância, alegria, sincronia de movimentos entre o bailado e o estandarte. A Cunhã Poranga, que representa a moça bonita, uma sacerdotisa, guerreira e guardiã. Expressa a força através da beleza. Deve possuir desenvoltura e incorporar a personagem. https://www.youtube.com/watch?v=TQNMkjnjq-w https://www.youtube.com/watch?v=n10Wrks2HXI https://www.youtube.com/watch?v=ScaUURAJkC0 https://www.youtube.com/watch?v=zFjxKEOQsc4 https://www.youtube.com/watch?v=W7A7ELRGWVU https://www.youtube.com/watch?v=7ojK6Bb8Dlw https://pt.wikipedia.org/wiki/Floresta_amaz%C3%B4nica https://pt.wikipedia.org/wiki/Bumba_meu_boi https://pt.wikipedia.org/wiki/Bumba_meu_boi https://pt.wikipedia.org/wiki/Paj%C3%A9 https://pt.wikipedia.org/wiki/Levantador_de_toadas https://pt.wikipedia.org/wiki/Caprichosos https://pt.wikipedia.org/wiki/Berrante A Rainha do Folclore, que representa a expressão do poder, pela manifestação popular. Deve possuir graça, movimentos com desenvoltura, incorporação e indumentária. E por fim o Boi Bumbá Evolução que é o símbolo da manifestação popular. Motivo e razão de ser do festival. Deve ter geometria idêntica, leveza, alegria, evolução, encenação, coreografia e movimentos de um boi real. Como vimos é uma manifestação complexa, cheia de simbolismos, influências e retrata tão lindamente os diversos aspectos de nossa cultura. • Boi de Parintins: garantido e caprichoso • https://www.youtube.com/watch?v=nd17N_VD7L8 • https://www.youtube.com/watch?v=YQpwWTDVm0I Pará Iremos agora para o Pará e falaremos um pouco sobre suas principais manifestações, dentre elas: o carimbó, a guitarrada, a lambada e a música atual paraense (brega/melody). Carimbó Como nas diversas culturas amazonenses, o Carimbó tem como base a cultura indígena visto que é originalmente uma dança de roda e suas letras refletem diretamente essa influência, muito ligada à natureza, à pesca e ao plantio. Entretanto, já é uma manifestação miscigenada com as tradições africanas, dada a sensualidade e complexidade rítmica, e também com a cultura europeia, que trouxe os instrumentos de cordas e sopro presentes no Carimbó, sendo chamado também de “pau e corda” ou siriá. O carimbó originalmente é tocado em um tambor chamado curimbó, entretanto passou pelo processo de “industrialização” sendo criado também o carimbó urbano, com o uso de guitarra, bateria e teclados eletrônicos. O Carimbó influenciou diretamente na criação de outros gêneros ligados a cultura paraense, como a lambada, a guitarrada e o calipso. É interessante notar os diálogos com outras músicas da América latina, sobretudo do Caribe, como a cumbia, o calipso, o merengue e o reggae da Jamaica. ‘Dona Maria que dança é essa, que a gente dança só, Dona Maria que dança é essa, é Carimbó é Carimbó’. Doc Carimbó https://www.youtube.com/watch?v=yNSHKqbgW84 https://www.youtube.com/watch?v=3tRbQd2i-ow Guitarrada https://www.youtube.com/watch?v=dAv4gwoPmxo https://www.youtube.com/watch?v=nd17N_VD7L8 https://www.youtube.com/watch?v=YQpwWTDVm0I https://www.youtube.com/watch?v=yNSHKqbgW84 https://www.youtube.com/watch?v=3tRbQd2i-ow https://www.youtube.com/watch?v=dAv4gwoPmxo Lambada https://www.youtube.com/watch?v=csaUvkYOkLY O “Brega” e o Melody (tecno brega e tecno melody) https://www.youtube.com/watch?v=2K5uyhPWS7E Outras manifestações da região Norte Gambá de Mauê (pai do carimbo) https://www.youtube.com/watch?v=6vdDbYgLD44 Marabaixo (Amapá – Macapá) Comunidade Curiaú https://www.youtube.com/watch?v=Eed-mF-DQSU Ligação com o forte de Mazagão no Marrocos- história muito interessante https://www.youtube.com/watch?v=4nQJxpQs0x4 https://www.youtube.com/watch?v=csaUvkYOkLY https://www.youtube.com/watch?v=2K5uyhPWS7E https://www.youtube.com/watch?v=6vdDbYgLD44 https://www.youtube.com/watch?v=Eed-mF-DQSU https://www.youtube.com/watch?v=4nQJxpQs0x4 Referências Bibliográficas SANTOS, José Farias. 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