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Psicologia Jurídica - AV1

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Atribuições Profissionais do Psicólogo no Brasil 
A Psicologia Jurídica é o campo da psicologia que agrega os profissionais que se dedicam à interação entre a psicologia e o direito. A principal função dos psicólogos no âmbito da justiça é auxiliar em questões relativas à saúde mental dos envolvidos em um processo. Psicologia Jurídica é um dos campos de conhecimento e de investigação dentro da psicologia, com importantes colaborações nas áreas da cidadania, violência e direitos humanos.
O termo Psicologia Forense também é utilizado para designar a psicologia jurídica, embora menos utilizado no Brasil. Um dos campos de atuação dentro da psicologia jurídica é a Psicologia Criminal, que se dedica mais propriamente ao Direito Penal. Este tipo de psicólogo é chamado a atuar em processos criminais de diversas formas, como na avaliação de suspeitos, compreensão das motivações do crime e detecção de comportamentos perigosos.
O objeto de estudo da psicologia jurídica, assim como toda a psicologia, são os comportamentos que ocorrem ou que possam vir a ocorrer, porém não é todo e qualquer tipo de comportamento. Ela atua apenas nos casos onde se faz necessário um inter-relação entre o Direito e a Psicologia, como no caso de adoções, violência doméstica, novas maneiras de atuar em instituições penitenciarias, entre outros.
A Psicologia Jurídica emergiu da Psicologia do Testemunho cuja prática, em âmbito internacional, ajudou a consolidar a Psicologia enquanto ciência, dada a necessidade de sua contribuição na comprovação da fidedignidade de testemunhos, principalmente com o surgimento e aplicação dos testes psicológicos, em meados do século XX, assim como o desenvolvimento de estudos sobre os funcionamentos dos interrogatórios, dos delitos, dos falsos testemunhos e falsas memórias etc., colaborando para a criação dos primeiros laboratórios de Psicologia.
No Brasil, apesar de a prática psicológica jurídica ser reconhecida apenas no ano 2000, pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP, ela teve início junto ao reconhecimento da profissão, em 1960, por meio de trabalhos voluntários na área Criminal, na avaliação de pessoas em situação prisional e de adolescentes infratores. Em torno de 1979, a atuação do psicólogo na esfera jurídica é estendida à área Civil, desenvolvendo trabalho voluntário e informal com famílias em vulnerabilidade econômico-social, no Tribunal de Justiça de São Paulo.
A psicologia jurídica, é uma vertente de estudo da psicologia, consistente na aplicação dos conhecimentos psicológicos aos assuntos relacionados ao Direito, principalmente quanto à saúde mental, quanto aos estudos sócio jurídicos dos crimes e quanto a personalidade da Pessoa Natural e seus embates subjetivos. Por esta razão, a Psicologia Forense tem se dividido em outros ramos de estudo, de acordo com as matérias a que se referirem.
A Psicologia Jurídica tem diversas ramificações: vai desde o cuidado da saúde mental de funcionários de um tribunal ou fórum até casos de verificação de abuso infantil. Apesar de ser uma área muito ampla, são poucos os psicólogos que se dedicam a ela – o que significa mais possibilidades de carreira para quem busca essa qualificação.
Nomeio abaixo alguns objetos de estudo e prática:
· Psicanálise forense (mais genérica e aborda o sistema jurídico como um todo sob perspectivas psicológicas;
· Psicologia criminal;
· Psicologia obrigacional e do consumidor (também denominado de psicologia civil);
· Psicologia da família;
· Psicopatologia trabalhista;
· Psicologia judiciária, que também envolvem os cartórios judiciais e extrajudiciais, devido ao aumento significativo de processos;
· Psicologia e direitos humanos.
O primeiro ramo da psicologia Forense a surgir foi a psicologia criminal, pois realiza estudos psicológicos de alguns dos tipos mais comuns de delinquentes e criminosos em geral, como, por exemplo, os psicopatas. De facto, a investigação psicológica desta subárea apresenta, sobretudo, trabalhos sobre homicídios e crimes sexuais, talvez devido à sua índole grave.
A psicologia forense também tem relações com a psicanálise e em especial a psicanálise forense e a sexologia forense, traçando as causas psíquicas que levam certos indivíduos à sexualidade doentia.
A demanda por esses profissionais tem sido cada vez maior por conta aos altos índices de violência e de encarceramento de pessoas no país. Eles são cada vez mais necessários nos quadros das equipes interdisciplinares dos tribunais, defensorias e varas da Infância, da Juventude e do Idoso.
É de suma importância o papel do psicólogo que atua nessas esferas da justiça, contribuindo para sua efetivação e na busca de possibilidades para o bem-estar e recuperação do indivíduo. Nesse ponto vale chamar a atenção, tendo em vista ser essa uma questão social, pois reflete plenamente na sociedade, na qual, todos, de alguma maneira fazemos parte. Destaca-se ainda que há um longo caminho a trilhar no entendimento e caracterização da área.
A psicologia jurídica brasileira atinge quase a totalidade de seus setores. Porém, ainda temos uma concentração de psicólogos jurídicos atuantes nos setores mais tradicionais, como na psicologia penitenciária, na psicologia jurídica e as questões da infância e juventude, na psicologia jurídica e as questões da família. Por outro lado, permite verificar outras áreas tradicionais pouco desenvolvidas no Brasil, como a psicologia do testemunho, a psicologia policial/militar e a psicologia jurídica e o direito cível.
A morte inventada – Alienação Parental
A alienação parental é um fenômeno cada vez mais reconhecido entre profissionais dos meios jurídicos e psicossociais. Sua manifestação consiste na campanha de difamação, de forma deturpada, como uma lavagem cerebral. Fato esse, que leva a criança a colaborar de maneira simbiótica a essa implantação de falsa memória, promovendo até mesmo o rompimento completo do vínculo. Milhares de pessoas são vítimas desse tipo de violência e ignoram fazer parte dessa estatística, desconhecendo por completo tal perturbação, que pode levar a sérias consequências. Isso acontece em geral após a separação conjugal e como forma de vingança do antigo companheiro, seja por ter sido abandonado, traído ou se frustrado em relação à vida conjugal. O documentário traz depoimentos de pais, filhos, advogados, psicólogos, desembargadores sobre a alienação parental.
É considerada alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores. No documentário, fica claro que os efeitos e as consequências da alienação parental podem ser nefastos aos alienados, visto que é considerada uma forma de abuso psicológico e emocional. Podemos ver no filme o relato de alguns jovens que sofreram essa síndrome.
Após a ruptura da vida conjugal de seus pais, suas vidas também mudaram isso porque após o término do matrimônio, seus pais não conseguiram organizar bem suas vidas, passando a ter um sentimento de rejeição, ódio e desejo de vingança com o antigo parceiro. O grande problema é que eles utilizam seus filhos como instrumento de vingança, induzindo-o a ir contra o pai ou a mãe. A criança toma os sentimentos de raiva do indutor pelo outro, criando uma contradição nos seus sentimentos. O filho muitas vezes se vê obrigado a se afastar, destruindo qualquer vínculo que tinha com o genitor alienado. Todo tipo de informação que lhe é passado a respeito do outro há controversas, é omitido muita coisa, e dessa forma o filho já não consegue aceitar como verdadeiro o que lhe é passado.
A alienação é um processo que consiste em programar uma criança para que odeie um de seus pais sem que isso seja justificado. Karla e Daniela vítimas de alienação parental por parte materna, passaram a ter obstrução a todo contato com o pai, ouviam ainda, relatos que o outro genitor era uma pessoa violenta, que as teria abandonado e não se importava.
Mediante ao fato de duas pessoas não conseguirem manter o convívio de marido-mulher, no momento da separação, em que a guarda do(s)filho(s) é requerida, seja unilateral ou compartilhada, entende-se que efetivamente deve prevalecer o bem-estar dos filhos na convivência familiar, mesmo porque é o que preceitua o artigo 227 da CF/88: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O filme ainda apresenta dois casos de falsas denúncias de abuso sexual, talvez o sintoma mais crítico da alienação parental. Nesses casos, a justiça tem como procedimento afastar o possível abusador, imediatamente, até a conclusão do inquérito. Como, em geral, a investigação é demorada, o vínculo entre o sujeito acusado e o filho é perdido. Percebe-se que, quanto a esta questão, ainda há muito no que avançar, a fim de preservar a integridade da criança, mas também considerando a hipótese da falsidade da denúncia.
As políticas públicas voltadas para as crianças e os adolescentes
No Brasil, há formas diferenciadas de a sociedade compreender e tratar as fases da infância e da adolescência, formas essas dependentes das categorias sociais a que eles pertençam. Referimo-nos a um processo de socialização desigual, pautado em classes sociais. Mannheim (1968) denomina essas fases de desenvolvimento de prolongadas ou abreviadas. A relação da infância e da adolescência com a sociedade é desigual: não há a existência de uma infância e de uma juventude para todos. Desse modo, aqueles pertencentes às classes dominantes vivenciam um desenvolvimento prolongado, enquanto os que pertencem às classes dominadas, de baixo poder aquisitivo, têm um desenvolvimento abreviado.
A história da infância (e da concepção de infância) das classes populares no Brasil variou conforme o desenvolvimento das forças produtivas. Segundo Londoño (1991), do século XVII ao XIX, alteraram-se as representações sociais sobre essas crianças e as formas de lidar com o problema de que eram vítimas – órfãs, enjeitadas, abandonadas e carentes. No século XVIII, predominava o sentimento de pena e o reconhecimento da necessidade de oferecer abrigo, proteção e educação através de entidades caritativas que pudessem preencher, em parte, as lacunas daqueles que tinham sido privados do convívio familiar. No século XIX, o Estado usou como medida ações disciplinares, segundo as quais crianças que ocupavam as ruas eram compreendidas como caso de polícia, devendo ser julgadas e enviadas às casas de detenção para serem punidas e recuperadas.
No século XIX, foram criadas as casas de Educandos e Artífices, voltadas para as crianças e os adolescentes das classes populares, sob o pretexto de se diminuir a criminalidade e vagabundagem, e os Asilos da Infância dos Menores Desvalidos, para recolher órfãos e encaminhá-los às oficinas públicas e particulares, onde deveriam receber instrução primária e aprender ofícios mecânicos (Pillotti, 1995).
No período republicano, os antigos asilos foram se transformando em institutos, escolas profissionais, patronatos agrícolas, reformatórios e escolas premonitórias e corretivas. Configurava-se, assim, o trabalho como um antídoto contra a marginalidade.
No século XX, a conjuntura institucional, aliada a agravantes socioeconômicos, originou uma nova representação social contra essas crianças e adolescentes das classes populares que ocupavam as ruas das grandes cidades. 
Esses menores abandonados passaram a ser vistos como menores infratores que precisavam de reclusão e reeducação, cabendo ao Estado a responsabilidade de criar e manter entidades capazes de afastá-los da comunidade, auxiliando-o, assim, a manter a ordem pública.
O código de Menores promulgado em 1927 é caracterizado por cassab (2001) como a primeira resposta mais consistente à presença incomodativa dos jovens pobres. Incorporava tanto uma visão higienista de proteção do meio e do indivíduo como a visão jurídica repressiva e moralista.
No que se refere à assistência pública, o menor, que vinha sendo tratado pela esfera jurídica através dos Juízes de Menores e pela atuação isolada de alguns estabelecimentos, com o Estado Novo, passou a ser tratado pelo Serviço de Assistência ao Menor (SAM), pelo Departamento da criança (DNCr) e pela Legião Brasileira da Assistência Social (LBA). Em tempos posteriores, datados pelo contexto repressivo da ditadura militar, foi criada a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM), que se propunha a assegurar prioridades aos programas que visassem à integração do menor na comunidade, através de assistência na própria família e da colocação familiar em lares substitutos, mas que acabou se moldando à tecnocracia e ao autoritarismo e se configurando como meio de controle social em nome da segurança nacional.
As experiências de controle social da FUNABEM contribuíram para a reformulação do código de 1927, que dá lugar ao código de Menores de 1979, que recebeu não somente a inspiração da teoria menorista da situação irregular, mas também do regime totalitarista e militarista, então vigente no País, e manteve essas concepções, apesar de elaborado já sob a influência da Declaração dos Direitos da criança, de 1959.
A década de 1980, marcada pela eclosão de movimentos de contestação na sociedade brasileira, que emergiram com o fim do regime militar, produziu uma nova postura no processo de conscientização quanto às crianças e aos adolescentes em situação de risco pessoal e social. O termo risco foi associado aos estudos sobre desenvolvimento humano (Horowitz, 1992). Por situação de risco pessoal e social, entende-se a condição em que se encontram crianças e adolescentes que, por suas circunstâncias de vida, estão expostas à violência, ao uso de drogas e a um conjunto de experiências relacionadas a privações de ordem afetiva, cultural e socioeconômica que desfavorecem o pleno desenvolvimento biopsicossocial (Lescher, 2004, p. 11).
Na década de 1980, surge um movimento de defesa dessas crianças que culminou, em 1985, na constituição do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, organização da sociedade civil, que se tornará o marco e o baluarte pela defesa dos direitos desses pequenos cidadãos. Em 1986, o Movimento promoveu o I Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Em 1988, criou-se o Fórum Nacional Permanente de Entidades Não-Governamentais de Defesa dos Direitos da criança e do Adolescente, que mobilizou várias organizações pró-constituinte, e que, juntos, elaboraram o projeto de que resultou a Lei nº 8.069/1990, denominada Estatuto da criança e do Adolescente.
Segundo costa (1990), o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA) traz um novo ordenamento jurídico para a questão da infância e da juventude, e este, por sua vez, introduz basicamente três tipos de inovação na política de promoção e defesa de direitos:
Mudanças de conteúdo – introduz novos conteúdos de ações e de políticas de atendimento, como defesa jurídico-social, assistência médica e psicossocial às crianças e adolescentes vitimizados, além de agrupar e hierarquizar as políticas.
Mudanças de métodos – substitui as práticas assistencialistas e correcionais–repressivas por práticas socioeducativas. No Judiciário, substitui a doutrina da situação irregular pela concepção garantista, que cria salvaguardas jurídicas que asseguram o respeito à condição de sujeitos de direitos.
Mudanças na gestão – O Estatuto assegura a participação popular, por meio de suas entidades representativas, a formulação das políticas e o controle das ações.
O ECA, concebido como a doutrina da proteção integral, determina a forma de atuação das entidades governamentais e não governamentais no atendimento à criança e ao adolescente e que, segundo o Artigo 86, dar-se-á mediante um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.No Artigo 87 do ECA, são traçadas as linhas de ação da política de atendimento: políticas sociais básicas, políticas e programas de caráter supletivo para os que dela necessitarem, serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão, serviço de identificação e localização de pais e responsáveis, crianças e adolescentes desaparecidos e proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente. É nesse contexto da política de atendimento que tem lugar o papel do psicólogo.
A consolidação, na Constituição Federal, da Doutrina da Proteção Integral regulamenta, além do ECA, outras políticas setoriais, como o Sistema Único de Saúde - SUS, a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB. São políticas que têm como princípios comuns a descentralização política e administrativa e a participação da sociedade.
A organização dessa assistência está prevista na LOAS (Lei nº 8742/93). Na referida Lei, o atendimento assistencial é concebido como proteção social básica e proteção social especial (esta última dividida em média complexidade e alta complexidade). A proteção social básica trata daquilo que é um direito universal, de todos. A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a pessoas ou grupos que se encontram em situação de risco pessoal ou social.
A ideia de que as políticas sociais básicas são imprescindíveis para assegurar a proteção integral levaram os conselhos de Direitos a assumirem a tarefa de operar uma linha de ação no sentido de articular um sistema de garantia de direitos para enfrentar as violações sofridas por crianças e adolescentes, sobretudo aquelas em situações de risco pessoal e social (CONANDA, 2000). Essa articulação comporta a promoção, a defesa e o controle social.
A promoção visa à realização do Direito. Fazem parte do eixo: setores públicos (gestores da saúde, educação, assistência social), conselhos de Direitos da criança e do Adolescente e conselhos Setoriais (assistência social e educação). A defesa visa à responsabilização no caso de omissão, falta ou oferta irregular dos Direitos por parte da família, do Estado ou da sociedade. Fazem parte do eixo: o Ministério Público, o Ministério do Público do Trabalho, o conselho Tutelar, o Judiciário, a Defensoria Pública e os centros de Defesa de Direitos Humanos. O controle social visa ao acompanhamento e à fiscalização do cumprimento dos direitos. Fazem parte do eixo as entidades da sociedade civil, articuladas ou não (cabral, 1999).
A atuação do psicólogo nas políticas públicas para crianças e adolescentes
Para fazer frente às situações de risco, as políticas públicas de assistência social precisam do trabalho de profissionais de vários setores, tais como saúde, educação, assistência social e sistema de Justiça. Dentre as áreas de atuação, demandam-se, dentre outros profissionais, os de assistência social e da Psicologia. O ECA traz, para o profissional de Psicologia, papéis a serem desempenhados nas políticas públicas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente.
Sob o paradigma da proteção integral, o juiz não atua mais com exclusividade. Há um reordenamento do atendimento à criança e ao adolescente, uma interdisciplinaridade de profissionais. E a família constitui o foco principal. O papel do psicólogo não é mais o de técnico que só atua do ponto de vista do conhecimento específico, principalmente dos testes. O papel do psicólogo agora é a atenção na proteção integral, e ele deve considerar a criança e ao adolescente sujeitos de sua história, sujeitos de direitos, protagonistas; tem que atuar em rede, interdisciplinarmente (Conselho Federal de Psicologia, 2003).
Dentro da concepção da proteção integral, o papel do psicólogo no sistema de garantias, junto ao de outros profissionais, passa, então, a ser o de um viabilizador de direitos, devendo para tal ter conhecimento profundo da legislação, uma vez que a descentralização lhe exige novas e capacitadas competências, a autonomia política administrativa impõe a participação, e o controle requer um arcabouço teórico-técnico-operativo que visa ao fortalecimento de práticas e espaços de debate, na propositura e no controle de política na direção da autonomia e do protagonismo dos usuários, assim como nas relações entre gestores, técnicos das esferas governamentais, dirigentes e técnicos, prestadoras de serviços, conselheiros e usuários. Mas a atuação desses profissionais deve se dar em rede, ou seja, em complementaridade técnica (Ministério do Desenvolvimento Social, 2004).
Para o conselho Nacional dos Direitos da criança e do Adolescente (CONANDA), ao nos integrarmos nessa rede, vamos nos tornando importantes socialmente e vamos nos tornando necessários para que essa rede funcione plenamente (Conselho Federal de Psicologia, 2003, p. 194).
Para Teixeira e Novaes (2004, p. 293), ampliasse o objeto de intervenção do psicólogo, que passa a abarcar aspectos da vida concreta, cotidiana e seus efeitos na configuração de subjetividades, que são produzidas e realimentadas no entrelaçamento dos indivíduos entre si e com as entidades.
Na operacionalização do sistema de garantias, a atuação do psicólogo dar-se-á nos seguintes eixos: análise da situação, no sentido de diagnosticar a realidade através de pesquisas que possibilitem a análise e o planejamento de ações e recursos para o enfrentamento das situações de risco, mobilização e articulação dos vários segmentos (governamentais, não governamentais, sociedade civil nos níveis nacionais, regionais e locais), promoção, defesa e responsabilização através de mecanismos de exigibilidade dos direitos e humanização dos serviços, promoção, atendimento e prevenção através de ações especializadas de atendimento, com a inclusão social das crianças, adolescentes e suas famílias e promoção de ações que possibilitem aos jovens o empoderamento dos mesmos com vistas ao protagonismo social.
As novas demandas para a atuação do psicólogo nas políticas sociais para crianças e adolescentes requerem um profissional multi-funções, que trabalhe de forma interdisciplinar e em rede. Mas esse novo modelo, que emerge a partir da constituição Federal de 1988 e do Estatuto da criança e do Adolescente, documentos que garantiram àqueles a condição de sujeitos de direitos, não foi suficiente para dar conta da discussão, antiga na Psicologia, realizada por diversas correntes que discutem o modelo de Psicologia adequado às classes trabalhadoras, às populações marginalizadas, às populações sem a experiência da escolarização e às comunidades pobres.  
Violência contra crianças e adolescentes
O Disque 100 - principal meio para comunicar violações de direitos humanos no país - recebeu 142.665 denúncias no último ano, número superior às 133.061 registradas em 2016. Violações contra crianças e adolescentes lideram a lista de denúncias, como ocorre desde a criação do canal, seguidas por violações contra idosos e pessoas com deficiência. Os dados foram divulgados pela Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos.
Em 2017, foram feitas 84.049 denúncias de violações contra crianças e adolescentes - 10% a mais do que o registrado em 2016. Muitas denúncias envolvem mais de um tipo de violação e mais de uma vítima. Foram contabilizadas 130.224 crianças e adolescentes vítimas de violações em 2017 e 166.356 casos de violações.
O maior número de denúncias envolve crianças entre 4 e 7 anos de idade e em 45% das vezes ocorrem na casa da vítima.
O tipo de violação mais reportada foi negligência, com 61.416 casos, seguida de violência psicológica, com 39.561, e violência sexual, com 20.330 casos.
Os dados de 2017 também revelam um aumento de 29,64% no número de denúncias de violações contra pessoas com deficiência. Também cresceu 20% o número de denúncias de violações contra pessoas em restrição de liberdade, que totalizou 4.655 em 2017, frente 3.861 em 2016.
A ouvidora nacionaldos Direitos Humanos, Érica Queiroz, explicou que não há elementos que indiquem que o aumento de denúncias seja decorrente, necessariamente, do crescimento da violência contra certos grupos, mas podem indicar um maior conhecimento sobre a existência do Disque 100. “Houve campanhas no último ano, inclusive inserções espontâneas em novelas, por exemplo, que tiveram grande repercussão”, disse Érica.
Formas e expressões de violência. O caso do Brasil
Embora a violência seja um fenômeno de difícil apreensão pelo grau de subjetividade, polissemia, polêmica e controvérsia que contém, podemos analisá-lo em suas formas e expressões. Nesse sentido, buscando contextualizar mais amplamente o que denominamos violência estrutural, delinquência e violência intrafamiliar, aprofundando com algumas informações observadas sobre a questão abordada no vídeo em análise.
Violência estrutural 
Entendemos por violência estrutural, aquela que incide sobre a condição de vida das crianças e adolescentes, a partir de decisões histórico-econômicas e sociais, tornando vulnerável o seu crescimento e desenvolvimento. Por ter um caráter de perenidade e se apresentar sem a intervenção imediata dos indivíduos, essa forma de violência aparece "naturalizada" como se não houvesse nela a ação de sujeitos políticos. Portanto é necessário desvendá-la e suas formas de reprodução através de instrumentos institucionais, relacionais e culturais.
A maior expressão dessa violência pode ser representada pelas 20 milhões de crianças e adolescentes brasileiras de 0 a 17 anos (34,8% do total da faixa etária), que ainda no ano 2000 se encontram em situação de pobreza, vivendo em famílias com renda média mensal familiar de até ½ salário mínimo per capita. Em regiões mais pobres do país, como o Nordeste, este percentual chega a 58,8%, mostrando a gravidade e persistência da enorme desigualdade social, refletida nas precárias condições de vida dessas crianças e adolescentes.14
Agravando essa situação, constata-se a precária condição educacional das crianças e adolescentes brasileiros. Apesar do decréscimo do analfabetismo no país, em 1997 a média de anos de estudo das crianças de 7 a 14 anos de idade foi de apenas 3,4; 8,7% dos adolescentes entre 10 e 14 anos e 5,4% entre 15 e 17 anos foram considerados analfabetos; o analfabetismo funcional (menos de 4 anos de estudo) de adolescentes brasileiros entre 15 e 17 anos foi de 20,2%, enquanto entre os nordestinos observou-se 39,2% de analfabetos funcionais; a defasagem idade/série é muito elevada, sendo o Nordeste mais uma vez a região campeã, com 89,8% dos adolescentes de 14 anos com atraso escolar. Os dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE; 1997: 47)14 o levam a concluir que "... as desigualdades no acesso à escola são marcadas pela condição econômica das famílias [...] confirmando a teoria de que a renda familiar é um determinante da frequência escolar".
Outro elemento que contribui para a naturalização da violência que atinge crianças e adolescentes são os programas dos meios de comunicação, recente alvo de preocupação das instituições de vários países do mundo, pela forma como esse instrumento de alto impacto na cultura moderna tende a banalizar as agressões e as mortes. Pesquisa realizada no Rio de Janeiro, em 1998, com 1.220 jovens de todos os estratos sociais mostra como a violência na mídia é vista pelos jovens. As cenas de agressão física exibidas pela televisão são consideradas uma reprodução da realidade, para cerca de metade dos jovens cariocas. Revelam também que a televisão discrimina os jovens das camadas populares, sobretudo os moradores de favelas e periferias, associando-os à criminalidade e reforçando o estereótipo do jovem negro e favelado. Os jovens informam ainda que a propaganda os influencia ao consumo e que alguns se envolvem com delitos para terem acesso a bens de consumo aos quais, de forma geral, não teriam acesso pela via legal.
Situações como essas, geradas no âmbito da cultura, só incomodam quando as próprias vítimas, através de algum mecanismo de resistência (inclusive a delinquência) ou algum movimento de consciência social, as presentificam em forma de denúncia.
Em um de seus muitos trabalhos sobre a infância pobre no Brasil, Rizzini, comenta que talvez o único efeito positivo das chacinas envolvendo crianças e adolescentes nos últimos anos, em todo o país, seja trazer à tona um problema que vem de longa data sem que a sociedade brasileira o tenha enfrentado. A mão que executa crianças quase sempre está ligada a opções econômicas e políticas que conduziram crescentes parcelas da infância à condição de marginalidade. Buscando datar sua fala, Rizzini17 revela que a trajetória da não-cidadania das crianças brasileiras tem origem no período colonial. Porém no momento de instauração do regime republicano, o país viveu a oportunidade de mudar os rumos da história, quando se debatia a importância de investir na infância. Ao invés de optar por políticas sociais capazes de proporcionar condições equitativas de desenvolvimento, o país criou um complexo sistema de tutela do Estado sobre a infância pobre. Estabeleceu e institucionalizou, assim, a divisão entre infâncias privilegiadas sob o manto protetor das famílias e infâncias marginalizadas, cujo destino passou a ser decidido nos asilos, nas casas de detenção, nos juizados de menores ou no interior das próprias famílias como menores trabalhadores. Tal situação perdura há 100 anos, sendo sempre diagnosticada, a posteriori, como "problema grave", "prioridade" de governos, "escândalo" para a diplomacia internacional, sem que, na verdade, redunde em objeto de convicção ou determinação política.
Em suas expressões, a violência estrutural tem várias formas-limite de manifestação. Três maiores expressões de vulnerabilidade são comentadas a seguir: os chamados "meninos e meninas de rua"; os "meninos e meninas trabalhadores" e as "crianças e adolescentes institucionalizados".
Em relação aos meninos e meninas de rua, muitos estudos têm sido feitos no país e nós mesmos buscamos, através da literatura existente e de trabalho de campo por amostragem em todas as regiões do país, traçar o seu perfil. Tanto a bibliografia exaustivamente analisada, como a experiência de campo revelaram que a primeira causa de ida para a rua, por parte das crianças e adolescentes, é a miséria e absoluta falta de condições familiares para sua subsistência; e a segunda, que constitui o tópico seguinte de nossa reflexão, são os conflitos familiares. Nas ruas, eles convivem com ameaças a sua vida, indução ao crime, maus tratos praticados por policiais ou por outros, sendo explorados por comerciantes, seguranças, além de serem estigmatizados como "futuros bandidos".
A verdade é que o fenômeno dos meninos de rua não é nem recente e nem privilégio do Brasil. Praticamente todos os países da América Latina apresentam essa forma de violência estrutural;19 e também nos Estados Unidos este fenômeno evidencia-se nos momentos de crise econômica.
Nessas novas formas de organização de trabalho, crianças e adolescentes entram em grupos formados por trabalhadores que se reúnem para prestar serviços às grandes empresas, quase sempre ganhando muito pouco, sem direitos sociais e com intensificação das jornadas.
Um levantamento mais completo mostraria uma abrangência muito maior dessa forma de violência. A exploração do trabalho de crianças e adolescentes vem acompanhando o processo de globalização.
O caso do trabalho infantil no Brasil vem sendo fortemente acompanhado e desestimulado pelas Organizações Não-Governamentais (ONGs) de defesa de direitos e pela Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Igualmente o próprio governo, através do Ministério da Justiça, está monitorando o problema e criando políticas compensatórias que incentivem os pais a colocarem seus filhos e os manterem na escola. Esse investimento coletivo que se intensificou nos últimos três anos explica, em parte, o relativo sucesso mostrado pela diminuição das taxas de empregoinfantil. O monitoramento do problema, porém, não consegue competir integralmente com as situações de miséria relativa e absoluta que permanecem no país e são as verdadeiras produtoras do status de menor trabalhador.
Uma terceira forma de expressão da violência estrutural é a institucionalização de crianças e adolescentes, seja como meio de se contrapor ao abandono, seja por motivos considerados ressocializadores. Toda a história revela não só a ineficácia, mas a total incompetência dessas instituições, asilos, reformatórios, serviços de assistência e de "bem-estar" entre os quais o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) e as Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor (FEBEMs) por exemplo, para prover o crescimento e o desenvolvimento desses seres discriminados. 
Nessas instituições, o sistema disciplinar rigoroso e punitivo castra qualquer expressão de liberdade e autonomia. O caráter do castigo imposto impossibilita a internalização da disciplina, de forma positiva, favorecendo o desenvolvimento de uma personalidade rígida, com baixa autoestima e dependente. 
A vivência dos jovens nas instituições cariocas configura-se como uma etapa de aprendizado do crime. O sentimento de impotência vivido pelos profissionais destas instituições, a histórica precariedade de recursos humanos e materiais e a prática institucional impregnada pelo desrespeito, também comprovam a insanidade do sistema e das políticas públicas.
Violência intrafamiliar
A violência intrafamiliar é aquela exercida contra a criança e ao adolescente na esfera privada. Geralmente se usa dividir em quatro tipos suas expressões mais visíveis.
A violência física que é o uso da força física contra a criança e ao adolescente, causando-lhes desde uma leve dor, passando por danos e ferimentos de média gravidade até a tentativa ou execução do homicídio. Em geral, as justificativas para tais ações vão desde a preocupação com a segurança, a educação, até a hostilidade intensa. O lar aparece como o local privilegiado para tal prática, embora as crianças que vivem nas ruas ou as institucionalizadas sejam também vítimas frequentes. Dados do IBGE27 apontam que, em 1988, 200.000 crianças e adolescentes declararam ter sofrido agressão física, de um total de 1 milhão de queixosos, ou seja, há uma estimativa de 20% dessa população como vítima. Desse total, em 80% dos casos, os agressores eram os próprios pais, parentes e conhecidos.
As consequências mais frequentes de violência física são lesões abdominais, fraturas de membros, mutilações, traumatismos cranianos, queimaduras, lesões oculares e auditivas, muitas delas levando a invalidez permanente, ou temporária, ou até à morte.
A violência sexual que se configura como todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual entre um adulto (ou mais) em uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimulá-los sexualmente e obter estímulo para si ou outrem. Nos estudos sobre tal fenômeno, todos os autores indicam a existência de abuso sexual no âmbito familiar. Os principais agressores são o pai, o padrasto, ou ainda, pessoas conhecidas e do relacionamento familiar com a vítima. Essa forma de abuso costuma ter como consequência a saída do lar, principalmente por parte das meninas. Na rua, os agressores costumam ser policiais e companheiros, quando muitos estupros são relatados pelas adolescentes. Para muitas delas, tais violências resultam em gravidez precoce e indesejada, assim como em casos de aborto.
A quantificação da violência sexual é muito difícil porque, envolvido em tabus culturais, relações de poder nos lares e discriminação das vítimas como culpadas, esse fenômeno aparece subestimado nas estatísticas do sistema de saúde e das secretarias de polícia. Porém alguns exemplos localizados podem ilustrar a sua ocorrência.
A violência psicológica, também denominada tortura psicológica, que ocorre quando os adultos sistematicamente depreciam as crianças, bloqueiam seus esforços de autoestima e realização, ou as ameaçam de abandono e crueldade. Trata-se de um tipo de relação muito pouco estudado entre nós, mas que tem um efeito muito perverso no desenvolvimento infanto-juvenil. 
A última classificação que é importante mencionar são as negligências. Elas representam uma omissão em relação às obrigações da família e da sociedade de proverem as necessidades físicas e emocionais de uma criança. Expressam-se na falta de alimentos, de vestimenta, de cuidados escolares e com a saúde, quando as falhas não são o resultado de circunstâncias fora do controle e alcance dos responsáveis pelos adolescentes e crianças. Trata-se de um tipo de ação difícil de ser quantificado e qualificado, sobretudo quando as famílias estão em situação de miséria. Nos Estados Unidos, hoje se notificam intensamente as negligências, constituindo-se em 45% das agressões contra a infância, nas estatísticas oficiais.
As análises sobre o fenômeno da violência intrafamiliar nos levam a concluir que os lares não são tão sagrados quanto parecem, embora várias experiências mostrem que são espaços passíveis de intervenção para mudanças. Sobretudo porque a violência contra a infância e a adolescência é reconhecida como componente importante da violência social e como elemento propulsor e reprodutor de suas expressões, o campo das intervenções tem que contemplar o âmbito cultural, da prevenção e também, por vezes, a repressão e o castigo de pais que mutilam ou até matam seus filhos.
Violência infanto-juvenil
Em geral a imprensa nacional e mundial se esmera em mostrar o outro lado da violência, ou seja, o da delinquência infanto-juvenil. Esse problema não é apenas nacional. O estudo de Assis e Constantino mostra que no Rio de Janeiro, no ano de 1994, havia 134 jovens de 12 a 7 anos para cada cem mil habitantes da mesma faixa etária, enquanto na cidade de Nova York encontrava-se uma relação de 1.045 jovens de 10 a 17 anos por cada cem mil jovens daquela cidade.
Em todo o país, no ano de 1997, havia 20.352 adolescentes entre 12 e 20 anos cumprindo medidas socioeducativas (internamento, semi-internamento, escolas especiais, serviço à comunidade), em sua maioria do sexo masculino (há uma relação de 12 infratores masculinos para cada feminino). Segundo Volpi, havia no Brasil, nos anos de 1995 e 1996, 4.245 adolescentes privados de liberdade. Observando as informações sobre renda familiar, 25% deles provêm de famílias que recebem menos de um salário mínimo e 34,2% entre 1 e 2 salários mínimos, comprovando a origem social mais pobre dos indivíduos internos em instituições.
Numa sociedade com tantas desigualdades como a brasileira, esse fato necessita ser analisado com maior cuidado, porque aparece quase sempre associado à questão de classe, e como problema dos pobres, crianças de rua ou institucionalizadas. É por isso que propomos tratá-lo articulado à violência estrutural, inclusive porque costuma ser usado, por grupos voltados para a "limpeza social", como álibi para extermínios, execuções e homicídios. Por exemplo, um estudo do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), informa as ocupações das jovens vítimas de homicídios em 1992 e 1993 no Rio de Janeiro como sendo estudantes, aviões/traficantes, e assaltantes, mas 60% dos mortos não tinham nenhuma vinculação com a criminalidade, ou seja, eram simplesmente crianças e adolescentes pobres.
Nesses casos junta-se o preconceito com a situação de precariedade de qualquer projeto de vida. Nos grandes centros urbanos as alternativas são a indústria da droga, o subemprego, ou empregos considerados desqualificados. Tomando como exemplo o Rio de Janeiro, para onde temos informações, uma pesquisa dem1996, da 2ª Vara da Infância e Adolescência, vinculada à Secretaria de Justiça do Estado, oferece alguns dados, segundo os quais 49% dos infratores moram em favelas; o número de infratores tende a crescer; e a maioria dos delitos ocorre na Zona Sul, a Zona considerada mais rica da cidade.
A adesão de crianças e adolescentes ao tráfico de drogasnão deve causar espanto. O tráfico hoje é considerado uma alternativa à exclusão que os jovens pobres e de pouca instrução sofrem no mercado de trabalho formal. Por outro lado, estudos da 2ª Vara da Infância e Adolescência do Rio de Janeiro para o ano de 1999 provam que essas crianças e adolescentes não são tão perigosos como se apregoa. Suas infrações se dirigem contra o patrimônio (32,5%), estão vinculadas a entorpecentes (33,7%), contra a pessoa (12,1%), contravenções (6,7%), contra os costumes (1,4%); e outros crimes (13,6%).
A delinquência infanto-juvenil é proporcionalmente muito menor do que a reação da sociedade contra ela. Segundo o Juiz da 2ª Vara, de janeiro a outubro de 1995, mais de 1.000 menores morreram de forma violenta no Rio de Janeiro, sendo que 60% assassinados, e 40% em óbitos no trânsito e nos chamados "autos de resistência", ou seja, em confronto com a polícia. O mesmo juiz denuncia o aumento de ações de extermínio, cometidas por policiais militares e outras categorias de pessoas.
Essa situação de delinquência, que sem dúvida tem causas sociais, não é problema só do Brasil. Nos Estados Unidos, um relatório do Fundo de Defesa da Criança publicado em junho 1995, aponta que 255 crianças/adolescentes são presas por dia por causa de drogas e 318 por terem abusado do consumo de álcool. No total são 5.504 menores de 18 anos presos diariamente, 327 deles por terem cometido crimes violentos. A situação americana, no entanto, não nos consola, porque se trata de um país onde a violência é tratada como questão importante para política social e onde a notificação é muito séria. Ou seja, se lá a cultura da violência está muito arraigada, aqui necessitamos de muito esforço para tomá-la como questão pública e impedi-la de se tornar um traço forte de nossa cultura.
Violência contra crianças e adolescentes e a saúde
As mais evidentes manifestações da violência estrutural sobre a saúde infantil expressam-se nas taxas de mortalidade infantil e de crianças menores de cinco anos. Embora nas duas últimas décadas tenha havido significativa redução da mortalidade, ainda hoje o Brasil detém uma taxa média dentre as mais elevadas na América Latina. Enquanto no ano de 1998 o Brasil apresenta uma taxa de 42 óbitos em menores de cinco anos e de 36 entre os menores de um ano de idade, a Argentina e os Estados Unidos (EUA) ostentam taxas bem menores: 22 e 19 no país latino americano e 8 e 7, respectivamente, no país norte americano. As diferenças regionais atingem distintamente a saúde infantil: as crianças nordestinas têm muito mais probabilidade de morrer do que as do restante do país (a taxa de mortalidade infantil nessa região chega a 59, por 1.000 nascidos vivos).
Outro exemplo das consequências da violência estrutural se dá no crescente problema da gravidez na adolescência e de sua vinculação com situações de pobreza. Dados do IBGE mostram que as adolescentes pertencentes aos estratos de menor renda são as que têm mais filhos e em idades mais precoces. Em 1997, 9% das adolescentes brasileiras de 15 a 17 anos com renda familiar per capita até ½ salário mínimo tiveram filhos nascidos vivos. Dentre as adolescentes com renda superior a 2 salários mínimos, este percentual cai para 0,8%.
No campo da saúde pública é na década de 80 que a violência aparece como questão substantiva. Os movimentos de prevenção e de atenção especializada surgem em consequência do reconhecimento da morbimortalidade por violência como um problema muito sério, tanto para a saúde nos seus aspectos sociais, como objeto de atenção primária, secundária e terciária. Também no Brasil, é nos anos 80 que começam a se esboçar diagnósticos e propostas, pari passu com o movimento social que desemboca na Constituição de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Desta forma, hoje já se têm dados de mortalidade e morbidade, ainda que não suficientes, capazes de dar suporte à políticas e estratégias de ação, como se verá a seguir.
Os estudos epidemiológicos revelam como principais resultantes da violência, as fraturas e queimaduras em crianças de baixa idade, e as lesões por agressões físicas e suicídios, esses últimos sobretudo na adolescência. Tais achados têm sido reiteradamente demonstrados na literatura. Deslandes, investigando o atendimento de emergência prestado a 1.748 crianças e adolescentes em dois hospitais públicos do Rio de Janeiro, relata a elevada frequência de "quedas" (39%), principal causa de atendimento de crianças pequenas e as violências interpessoais (agressões, violência doméstica e "balas perdidas") mais comuns entre adolescentes. Informa ainda a presença significativa de violências auto infligidas (suicídio e overdoses de drogas).
A visibilidade, a compreensão e a magnitude da morbidade ainda ficam muito prejudicadas por várias razões. As notificações de agravos por violência ainda não constituem uma cultura internalizada na sociedade brasileira, como mostram os estudos de Deslandes; somente os de média e intensa gravidade chegam aos hospitais ou centros de saúde; e muitos dos eventos que aí chegam, não são diagnosticados como tal pelos profissionais de saúde, seja por falta de formação para esse diagnóstico, seja por falta de interesse de entrar em questões não biológicas. Em geral, a violência intrafamiliar, particularmente, é tratada como problema do âmbito íntimo e privado das famílias.
Há hoje, no Brasil, atuando na área de saúde, na desnaturalização da cultura patriarcal e prevenção, algumas instituições, como os Centros Regionais de Atenção aos Maus Tratos na Infância (CRAMIs) de Campinas e outros municípios de São Paulo, Associação Brasileira de Proteção à Infância e a Adolescência (ABRAPIA) e Associação Brasileira de Crianças Abusadas e Negligenciadas, em Belo Horizonte, o Laboratório da Criança (LACRI) em São Paulo, e no momento a forte presença da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) que merecem destaque. Há igualmente grupos hospitalares e ambulatoriais como o Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, estruturados para este tipo de atendimento. Mas seu âmbito de ação é ainda restrito e pouco visível.
A mortalidade por violência constitui-se atualmente na 2ª causa de morte para a população em geral, a primeira para as crianças e adolescentes de 5 a 19 anos e a segunda entre crianças de 1 a 4 anos, perdendo, nessa última faixa etária, por pouco para as doenças do aparelho respiratório. Para se ter ideia de sua magnitude, em 1996, de todas as mortes de crianças entre 1 e 4 anos, 22,6% se deveram as causas violentas; entre 5 e 9 anos, 48,2% foram por violência (na sua quase totalidade por acidentes de trânsito e homicídios); na faixa de 10 a 14 anos, foram 56,3%; e no grupo de 15 a 19 anos, 72,2%. Ou seja, nosso contingente infanto-juvenil está morrendo mais por conflitos sociais que por doenças.
Essa situação é particularmente preocupante porque nos últimos 15 anos está havendo um deslocamento da incidência dos homicídios (dentre as causas externas de morte, a que mais cresce) para faixas de idade mais jovens.
Esse tipo de mortalidade de crianças e jovens tem causado impacto na dinâmica do atendimento emergencial e é responsável por parte dos elevados custos da violência para a saúde.

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