Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Arquitetura e Urbanismo – Terceiro período Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo III Isabela Mara Gonçalves Alves Professor: Lorette Poços de Caldas 2020 BARROCO I. Contexto Histórico O século XVII foi um período caracterizado por uma variedade de tendências nunca antes experimentadas. A concepção do cosmos tinha sido completamente revolucionada no século anterior, enquanto que as divisões desenvolvidas no interior da Igreja haviam-se tornado símbolo de uma desintegração de um mundo unificado e absoluto. No campo da arte, o sentimento de dúvida e a consequente alienação do indivíduo haviam encontrado expressão no maneirismo. Entre finais do século XVI e princípios do século XVII logo poderia-se observar alterações na atitude humana. O homem voltaria então a perseguir a certeza, escolhendo entre as alternativas que lhe eram oferecidas na época; o novo mundo tornou-se “pluralístico”, oferecendo à este uma variedade de escolhas e alternativas, tanto de carácter religioso como filosófico, econômico e político. Enquanto que o universo renascentista era reservado e estático, a atitude fundamental da época barroca tornou-se, por conseguinte, o de pertencer a um sistema absoluto e integrado, mas ao mesmo tempo aberto e dinâmico. Tal postura foi favorecida pelas grandes viagens de exploração, pela descoberta de um mundo mais amplo, pela colonização e desenvolvimento da pesquisa científica, isto determinou um aumento da especialização da atividade humana. A destruição do velho mundo culminou com a Guerra dos Trinta, que no início do século XVII paralisou parte da Europa Central. Neste período, a reforma protestante difundiu-se por várias partes da Europa, dando início ao desenvolvimento de diversas igrejas reformadas. A consequente Contrarreforma, iniciada pela igreja católica com o Concílio de Trento, teve repercussões significativas nas artes: fomentou importância didática das imagens e foram definidas uma série de normas no campo artístico, acentuando a distinção entre o clero e os fiéis. De fato, no século XVII, a Igreja Católica procurava um compromisso com o poder político, parando de lutar contra as intromissões da realidade histórica e tentando conciliar as questões da fé com as inerentes à vida mundana; por esta razão o barroco tornou-se um estilo capaz de expressar tanto os dogmas da fé como as frivolidades da mundanidade. II. Características As principais características do barroco definem-se como uma reação à simetria e às formas rígidas do Renascimento: utilizam o dinamismo plástico, a suntuosidade e a imponência, reforçados por intensa emotividade conseguida através de sinuosidades, elementos contorcidos e espirais, produzindo diferentes efeitos perspéticos e ilusórios, tanto nas fachadas quanto no desenho das plantas e dos interiores das edificações. A intenção da criação de ilusão do movimento; combinação e abundância de linhas opostas que reforçam o efeito cênico; o uso de jogos de claro-escuro pela construção de massas salientes e reentrantes sendo sinuosas ou lisas. Os elementos construtivos usados como elementos puramente decorativos: uso de colunas torsas, helicoidais, duplas ou triplas e escalonadas; os frontões são compostos ou interrompidos, que reforçam o movimento ascensional das fachadas; o uso de decorações naturalistas convertem-se em elementos característicos do estilo. O Barroco, no entanto, não se limitou a reavaliar novas tendências dos antigos padrões, mas criou uma nova concepção espacial, com a interpenetração das partes resultantes de uma visão espacial unitária, da qual são exemplo as igrejas San Carlo alle Quattro Fontane e Sant’Ivo alla Sapienza de Borromini, ou ainda, a Basílica de Vierzehnheiligen de Johann Balthasar Neumann. Neste contexto, o Barroco foi definido como a libertação espacial, libertação mental das regras dos tratadistas, das convenções, da geometria elementar e da estática. É a libertação da simetria e da antítese entre o espaço e interior e o espaço exterior. O século XVII propusera, contudo, uma multiplicidade de sistemas religiosos, filosóficos e políticos; não é possível, portanto, determinar um conceito unitário da arquitetura barroca. Porém, todos os sistemas barrocos tinham em comum o fato de operarem através da “persuasão”, da “participação”, do “transporte”, que se traduziram em termos de centralização, integração e extensão espacial. III. Principais Representantes da Arquitetura Barroca • Giacomo della Porta e Giacomo Vignola Discípulo de Michelangelo, Giacomo della Porta continuou seu trabalho em Roma, especialmente na fachada da igreja jesuíta Il Gesù. A ideia inovadora de Vignola foi fundir a nave da basílica medieval com o desenho de um edifício planificado típico da Alta Renascença, criando uma estrutura com domo sobre o cruzamento, tornando-se o modelo de futuras igrejas barrocas. A divisão da estrutura por pilastras reflete a parte interna. A maneira pela qual a ordem arquitetônica se ergue para o centro é enfatizada pelo relevo poderoso das superfícies das paredes, com aberturas, pilastras que se adiantam, colunas e cornijas. No interior, cruciforme, o arquiteto criou sem talvez o desejar o protótipo das igrejas romanas. A ênfase especial está posta na nave, que pode acomodar enorme quantidade de fiéis. Com a interseção e a ábside, cria impressão de uma área unificada e as capelas laterais para prece privada. O altar é visível de todas as partes da igreja, para que os fiéis possam seguir a missa. A ornamentação barroca, com jogo de mármores variados, estuques, douramentos, afrescos e esculturas, pouco deixa ver da simples decoração original. As paredes da nave se dividem por estruturas semelhantes às pilastras, iluminadas por lunetas com janelas e as arcadas entre elas dão acesso às capelas laterais. Os arcos da interseção suportam o peso do cilindro que se alça para o domo, que conclui numa calota hemisférica. • Francesco Borromini Entre muitas obras construiu em Roma o San Carlo alle Quattro Fontane. Surge aí a associação entre elementos retos e elementos curvos, utilizando formas ambivalentes. A fachada é visualmente dinâmica, o que não deixa os espectadores parados. Exibe uma complexidade em termos de organização, côncava, convexa e retas; é este dinamismo que o barroco impõe. Cria-se um portal monumental, que joga com várias formas, desloca-se o sino para a zona da fonte, em vez da zona central, destacando assim também a importância da fonte como elemento criativo e funcional integrado na arquitetura. Borromini foi ainda o autor de igreja de Sant’Agnese in Agone, na Piazza Navona, e de Sant’Andrea delle Fratte, ambas em Roma. • Guarino Guarine Um de seus maiores projetos é a Igreja de San Lorenzo de Turim, conhecida por ser a igreja sem fachada, que exceto no topo, não transmite a ideia de um edifício religioso e isso sempre foi debatido, pois, de acordo com várias hipóteses, construir a fachada do templo teria quebrado a simetria da praça. O arquiteto Guarine transforma a planta nativa da cruz latina na planta central, caracterizada por um grande espaço octogonal fechado em uma estrutura quadrada. O espaço possui uma certa taxa de elasticidade e rotação devido a dinâmica das capelas laterais, e, a borda, é composta por oito superfícies curvas que se conectam. O edifício abre em altura com a lanterna e a cúpula, que em seu telhado, por vez, é suportado por colunas serlianas e iluminado por oito janelas elípticas, atravessada por um sistema de nervuras que formam uma estrela de oito pontos. É está cúpula geométrica que deu destaque à igreja. • Louis Le Vau Autor do Château de Vaux-le-Vicomte, considerada como uma dasinfluentes obras da época. A relação pátio jardim é revolucionária. Os jardins, projetados por André Le Nôtre, deixam de ser um mero complemento do edifício e ganham um prolongamento que vai para além da construção do château em si. Os jardins de Le Nôtre, sempre fortemente marcados pela axialidade, tocam, a partir do olhar do observador, no horizonte, realizando o que o autor C. Norberg Schulz chama de experiência de um espaço infinito. ROCOCÓ I. Contexto Histórico O Rococó nasceu em Paris em torno da década de 1720 e perdurou até aproximadamente 1770 como uma reação da aristocracia francesa contra o Barroco suntuoso, palaciano e solene praticado no período de Luís XIV. Da França, onde assumiu sua feição mais típica e onde mais tarde foi reconhecido como patrimônio nacional, o Rococó logo se difundiu pela Europa, mas alterando significativamente seus propósitos e mantendo do modelo francês apenas a forma externa, com importantes centros de cultivo na Alemanha, Inglaterra, Áustria e Itália, com alguma representação também em outros locais, como a Península Ibérica, os países eslavos e nórdicos, chegando até mesmo às Américas. De uma forma geral é possível dizer que o Rococó foi um movimento artístico europeu, aparecendo na França, entre os movimentos do Barroco e do Arcadismo. Visto por muitos como a variação “profana” do barroco, surge a partir do momento em que o Barroco se liberta da temática religiosa e começa a incidir-se na arquitetura de palácios civis. É possível também afirmar que o Rococó era o Barroco levado ao exagero de decoração. O Rococó é também conhecido como o “estilo da luz” devido aos seus edifícios com amplas aberturas e sua relação com o século XVIII. II. Características Cores claras; Tons pastéis e douramento; Representação da vida profana da aristocracia; Representação de Alegorias; Estilo decorativo; Possui leveza na estrutura das construções; Unificação do espaço interno, com maior graça e intimidade; Texturas suaves. Existe uma alegria na decoração carregada, na teatralidade, na refinada artificialidade dos detalhes, sem a dramaticidade pesada nem a religiosidade do barroco. Tenta-se, pelo exagero, se comemorar a alegria de viver, um espírito que se expressa inclusive nas obras sacras, em que o amor de Deus pelo homem assume agora a forma de uma infinidade de anjos. Tudo é mais leve. O estilo colorido e galante predomina principalmente na decoração do interior de igrejas, palácios e teatros, mas também produz obras inquietantes na pintura e na escultura. As cúpulas das igrejas, menores que as das barrocas, multiplicam-se. A expressão máxima do Rococó na arquitetura palaciana são os pequenos pavilhões e abrigos de caça dos jardins. Construídas para o lazer dos membros da corte, essas edificações, decoradas com molduras em forma de argolas e folhas transmitiam uma atmosfera de mundo ideal, e, para completar, surgiam no teto, imitando o céu, cenas bucólicas em tons pastel. III. Principais Representantes da Arquitetura Rococó • Ange – Jacques Gabriel O Petit Trianon foi projetado e concluído em 1768, pelo renomado arquiteto francês Ange-Jacques Gabriel durante o reinado de Luís XV, no entanto, foi no reinado de Luís XVI que se tornou a residência não oficial da Rainha Consorte. O exterior do castelo é elegante, porém simples se comparado à Versalhes. Sua originalidade é expressa por suas quatro fachadas, cada uma projetada de acordo com a parte da propriedade que estaria localizada. A ordem das colunas, coríntia, é a característica decorativa dominante, com dois pilares destacados e dois semi separados ao lado do jardim francês formal, e pilastras voltadas para o pátio e a área, anteriormente ocupada pelas estufas de Luís XV. Com vista para o antigo jardim botânico do rei, a fachada restante foi deixada à mostra. Ao tomar posse do Petit Trianon em 1774, Maria Antonieta começou a remodelar completamente os jardins que cercavam o castelo. Os antigos jardins foram substituídos por um vasto jardim inglês, mais de acordo com os gostos contemporâneos. Esse jardim abriga um Belvedere, um salão de música, e, um pequeno pavilhão com forma octogonal, coroado por uma cúpula escondida por uma balaustrada, onde as quatro portas se abrem e dão acesso a quatro escadarias guardadas por esfinges. • Pierre – Alexis Delamair O Hotel de Soubise localizado em Paris, na França, foi projetado pelo arquiteto Pierre-Alexis Delamair. Em 1375. Os interiores, projetados pelo arquiteto Germain Boffrand e criados entre 1735 e 1740, estão entre os pontos altos do estilo rococó na França. Eles constituíram os novos apartamentos do Príncipe no piso térreo e o da Princesa no piano nobile, ambos destacados salões ovais olhando para o jardim. Estes quartos têm mudado muito pouco desde o século XVIII, incluindo o quarto do príncipe, o salão oval do príncipe, o quarto de pompa da princesa e o quarto oval da princesa, com talha dourada, espelhos de vidro e telas de teto por François Boucher, Charles-Joseph Natoire e Carle Van Loo. A ornamentação chega a um grau de extravagância quase quebradiça através de ornatos ilusionistas e figuras escultóricas que voam, as paredes quase desaparecem, num efeito mágico de leveza. • Georg Wenzeslaus von Knobelsdorff e Jan Bouman O Palácio de Sanssouci foi projetado e construído por Georg von Venceslau Knobelsdorff entre 1745 e 1747 para atender as necessidades de Frederico, uma residência privada onde ele pudesse relaxar. Este famoso palácio é conhecido por seus interiores de uma beleza e riqueza sem fim e jardins bem cuidados. O castelo foi nomeado Sanssouci – francês para “não se preocupe”. O edifício é constituído por uma cúpula sobre o salão de mármore oval. Em cada lado do lobby, há quatro quartos. O lado sul é decorada com 36 figuras de arenito. O paisagismo foi feito por um jardineiro francês e uma “lagoa” redonda foi posta – este já foi substituído por uma grande fonte. Mais prédios “pitorescos” foram adicionados, como a Casa de Chá chinês, cavernas e ruínas. Há uma galeria no local que abriga obras de arte feitas por artistas como Panini e Watteau. IV. Esculturas Rococó Devido ao grande desenvolvimento decorativo, a escultura ganhou importância e os escultores do rococó abandonaram totalmente as linhas do barroco, com esculturas de tamanho menor. Embora usem o mármore, preferem o gesso e a madeira, que aceitam cores mais suaves. Os motivos são escolhidos em função da decoração. Até artistas famosos, principalmente ligados a manufatura de Sèvres apressam-se a preparar desenhos e modelos. Em função de lembrança, do souvenir, os pequenos grupos representam cenas e narram com linguagem espontânea e cores luminosas, episódios galantes, brincadeiras e jogos infantis. Dentre os principais nomes da escultura no estilo rococó podem ser destacados o italiano Antonio Corradini e os franceses Guillaume Coustou, o jovem Étienne-Maurice Falconet, além do brasileiro conhecido como o Aleijadinho, aprendiz do português José Coelho de Noronha.
Compartilhar