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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS GUILHERME GIGEK DE OLIVEIRA IMUNIDADES PARLAMENTARES Análise das perdas de mandatos parlamentares São Paulo Capital 2019 Caso Hipotético Um deputado federal, um deputado estadual e um vereador estão sendo investigados, pois há indícios de que, sem ligação entre si, cometeram crimes no exercício de suas funções. O Ministério Público pede que os parlamentares sejam afastados cautelarmente dos seus mandatos, para evitar que prejudiquem as investigações. Como juiz competente para a causa, considerando as regras constitucionais e as funções das imunidades parlamentares, bem como as posições do Supremo Tribunal Federal a respeito do tema, decida fundamentadamente sobre a possibilidade de afastamento de cada um dos membros do Poder Legislativo, nas três esferas federativas. Decisão Judicial Analisando o pedido feito pelo Ministério Público relativo à suspenção dos mandatos legislativos de um Deputado Federal, um Deputado Estadual e um Vereador, tendo como base as normas constitucionais federais e estaduais relacionadas as Imunidades Parlamentares de âmbito federal, estadual e municipal, outorgo: 1. Que o mandato do deputado federal seja mantido em plena integralidade, uma vez que: a. A Constituição Federal, com a finalidade de garantir a separação dos poderes, a imunidade parlamentar e o respeito à vontade popular declarada em sufrágio, não discorre sobre a possibilidade de suspenção do mandato de parlamentares federais por vias cautelares, mas somente sobre a cassação do mandato parlamentar nos casos previstos no art. 55 CF/88. b. Utilizando-se como preceito o voto do Excelentíssimo Ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Cunha, na ação cautelar de número 4.327, concluo que, assim como erroneamente ocorreu contra o na época senador Aécio Neves, seria uma afronta à democracia a suspenção das funções parlamentares de alguém eleito para a notável função legislativa. Além disso, deve-se considerar que tal ação seria uma interferência ilegal do poder judiciário no poder legislativo, desrespeitando assim o Art. 2° da CF/88, e gerando, por consequência, uma grande instabilidade jurídica no que se trata de Imunidades Parlamentares. c. Ainda com base no voto do supracitado ministro, findo que o cumprimento das funções típicas de um parlamentar - como elaborar e discutir projetos de lei, relacionar-se socialmente com outros políticos e fiscalizar ações do poder executivo – não podem ser utilizados como o fumus boni iuris para a impetração de uma ação cautelar solicitante de suspenção das funções parlamentares federais. Outrossim, a eventual punição contra o parlamentar por qualquer opinião, palavra ou voto contraria a imunidade material do mesmo, essa sendo positivada na constituição em seu Art. 53 caput. d. Mesmo que o CPP/41 disponha, em seu Art. 319 VI, de instrumento para a suspenção do exercício de função pública, o mesmo não possui competência no que é tratante de imunidades parlamentares, uma vez que a medida cautelar, ainda que diversa de prisão preventiva, é medida substitutiva da mesma, com valor muito semelhante, já que ambas – prisão preventiva e sanções cautelares – coercitivamente cerceiam ou excluem direitos fundamentais, tais como o direito de ir e vir (Art. 5° XV CF/88), de reunião (Art.5° XVII CF/88) e de propriedade (Art.5° XXII CF/88). Desse modo, em consideração ao já citado artigo 53 §2° CF/88, somente ocorrerá prisão – bem como, por critério de semelhança, outras sanções penais – a parlamentar federal diplomado se este for pego em flagrante delito de crime inafiançável, ato que não ocorreu, e, portanto, inviabiliza a suspenção das funções parlamentares do réu. 2. Que o mandato do deputado estadual seja mantido em plena integralidade, uma vez que: a. Como parlamentar estadual, esse possui as mesmas imunidades materiais à um parlamentar federal, diferenciando-se somente pelo fato de que nesse caso essas fundamentam-se na constituição estadual, e não na federal. Desse modo, utilizando-se do princípio constitucional da simetria, pode-se considerar que a mesma argumentação utilizada para o caso do deputado federal é válida para o presente caso. Vale ressaltar que, embora os deputados federais e estaduais possuam a mesma imunidade matéria, a imunidade formal do deputado estadual estabelece como foro competente para julgamento o Tribunal de Justiça de seu estado, e não o Supremo Tribunal Federal, que é o foro estabelecido como competente pela CF para os casos envolvendo parlamentares federais (desde que a conduta investigada tenha relação de existência com o exercício da função legislativa federal, seguindo o julgado da AP937 de 2018). 3. Que o mandato do vereador seja suspenso integralmente, uma vez que: a. Embora o vereador possua, segundo o Art. 29 VIII da CF/88 a mesma imunidade material garantida aos parlamentares federais (entretanto, somente dentro da circunscrição de seu município), esse não possui as imunidades formais desses. Desse modo, o mesmo pode ser preso – e, por semelhança, sofrer as sanções cautelas apresentadas no Art. 319 CPP/41 – sem que haja necessidade de flagrante delito de crime inafiançável. b. Em suma, com a função de garantir a celeridade processual penal, bem como impedir que potenciais artimanhas possam prejudicar o andamento das investigações, utilizando-me do Art. 319 VI CPP/41, decreto a suspenção das funções parlamentares do Edil. c. O não respeito a esta decisão pelo edil acarretará imediata prisão preventiva desse, com a função de garantir a ordem e o Estado de Direito, nos termos do Art. 312 parágrafo único do Código de Processo Penal. Publique-se
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