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Introdução ao Direito Penal

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DIREITO PENAL 
1 
 
 
 
DIREITO PENAL 
2 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 04 
2. TEORIA DA NORMA PENAL..................................................................................................... 20 
3. TEORIA GERAL DO CRIME ...................................................................................................... 36 
4. FATO TÍPICO ........................................................................................................................... 41 
5. ILICITUDE ................................................................................................................................. 53 
6. CULPABILIDADE ...................................................................................................................... 61 
7. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ................................................................................................. 68 
8. CONCURSO DE PESSOAS ........................................................................................................ 71 
9. CONCURSO DE CRIMES .......................................................................................................... 75 
10. PUNIBILIDADE ....................................................................................................................... 82 
11. PENAS ................................................................................................................................... 86 
12. LIVRAMENTO CONDICIONAL .............................................................................................. 115 
13. EFEITOS DA CONDENAÇÃO ............................................................................................... 117 
14. CRIMES EM ESPÉCIE ........................................................................................................... 123 
15. LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL ............................................................................................ 170 
 
 
 
DIREITO PENAL 
3 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL 
4 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 CONCEITO DE DIREITO PENAL 
Direito Penal é o ramo do direito que trata das regras para aplicação das normas 
incriminadoras, ou seja, aquelas que representam uma seleção dos comportamentos mais 
gravosos para os bens jurídicos, cominando-lhes as respectivas sanções, que, no Brasil, são 
penas ou medidas de segurança. Assim, “o Direito Penal tem por objeto condutas humanas 
descritas em forma positiva (ações) ou em forma negativa (omissão de ações) de tipos legais 
de condutas proibidas”.1 Justifica-se a aplicação do Direito Penal quando meios menos 
eficazes, como os adotados por outros ramos do Direito não são suficientes para proteger 
eficazmente os bens jurídicos, daí extraindo-se que tem – ou deveria ter - caráter secundário 
ou de ultima ratio. 
 
 CARACTERES 
O Direito Penal positivo possui três caracteres principais: valorativo, finalista e 
sancionador. O caráter valorativo se manifesta pela tutela dos valores mais elevados da 
sociedade, uma vez que o Direito Penal os dispõe em uma escala hierárquica e valora os fatos 
de acordo com a sua gravidade. “Quanto mais grave o crime, o desvalor da ação, mais severa 
será a sanção aplicável ao seu autor.” 2 
 
A lei penal é finalista porque pretende prevenir lesões aos bens e interesses jurídicos 
merecedores de tutela mais eficiente, por meio da ameaça legal de aplicação de sanções de 
maior poder intimidativo (a pena). Assim, essa prevenção é a maior finalidade do Direito Penal. 
 
Ainda, o Direito Penal possui caráter sancionador, pois reforça a tutela jurídica dos bens 
já regidos pela legislação extrapenal. No entanto, não podemos esquecer que a lei penal atinge 
também bens jurídicos não tutelados pelas leis extrapenais. 
 
 FUNÇÕES DO DIREITO PENAL 
Seguem abaixo as principais funções do Direito Penal. 
a) proteção de bens jurídicos: A principal função do Direito Penal é de instrumento 
de proteção de bens juridicamente relevantes.4 Não se admite a criação de norma 
incriminadora que não vise à proteção de um bem jurídico; 
 
b) controle social: a ameaça de penalização de condutas danosas, em teoria, 
contribui para a paz pública. No entanto, ante a incerteza da efetiva aplicação da 
norma e da ausência de políticas públicas que visem à redução da criminalidade, não 
se consegue promover um efetivo controle social; 
 
 
1 SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal – Parte Geral. 5ª edição. Florianópolis: Conceito Editorial, 2012. p. 3. 
2 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal. 28ª edição. São Paulo: Atlas, 2012. V. 1, p. 4. 
4 GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos de; BIANCHINI, Alice. Direito penal – introdução e princípios fundamentais. 
São Paulo: RT, 2007. V.1, p. 222. 
DIREITO PENAL 
5 
 
 
c) função ético-social: parte da doutrina entende que o Direito Penal exerce função 
de proteção dos valores elementares da consciência, de caráter ético-social. No 
entanto, o Direito não tem função pedagógica, o que cabe a outros mecanismos de 
controle social, de modo que a adoção dessa perspectiva viola a ideia do Direito 
Penal como “ultima ratio”5; 
 
d) função de garantia: o Direito Penal também tem como função limitar o poder 
punitivo estatal, de modo a garantir ao cidadão que não será alvo de arbitrariedades 
por parte do poder público; 
 
e) função simbólica: é o efeito psicológico que a proibição gera na sociedade. A 
criminalização de uma conduta vem carregada de um simbolismo que visa produzir 
um efeito psicossocial nos cidadãos de que o Estado está agindo efetivamente para 
reprimir determinados comportamentos; 
 
f) função promocional: atribui-se ao Direito Penal uma função de transformação 
social. Para estes autores, a criminalização não depende dos valores da sociedade, 
pois a criação de delitos serve justamente para transformar tais valores; 
 
g) prevenção de vingança privada: o Direito Penal, ao conferir ao Estado o 
monopólio da pretensão punitiva, exerce o papel de evitar que vítimas façam justiça 
com as próprias mãos; 
 
h) função motivadora: por meio da ameaça de uma sanção, o Direito Penal motiva os 
indivíduos a não realizarem determinadas condutas. 
 
 A CIÊNCIA CONJUNTA DO DIREITO PENAL: DOGMÁTICA 
PENAL, POLÍTICA CRIMINAL E CRIMINOLOGIA 
Franz Von Liszt, Penalista Alemão, cunhou a expressão “Ciência Conjunta do Direito 
Penal”, como a integração entre Dogmática Penal, Criminologia e Política Criminal. Estas três, 
entretanto, apesar de serem complementares, são disciplinas autônomas, com características 
e objetos de estudo próprios. 
 
a) Criminologia: é uma ciência empírica, descritiva e interdisciplinar que tem como 
objetos de estudo o crime e suas causas, o criminoso, a vítima e o controle social de 
comportamentos criminosos. Tem como função, entre outras, apontar os problemas 
sócias decorrentes da aplicação do Direito Penal, fornecendo dados para a 
formulação de políticas criminais. 
a.1.) Escola Positiva Italiana: a criminologia surge como criminologia positivista 
(com enorme influência das ciências naturais, como a biologia) e buscava explicar 
as causas naturais do crime (etiologia criminal), entendendo o crime como uma 
doença e o criminoso como um doente que poderia ser tratado. Tem como 
principais expoentes Cesare Lombroso, que desenvolveu a teoria do criminoso 
nato, indivíduo que seria biologicamente predisposto à prática de crimes; Enrico 
Ferri, que fundamentava a responsabilidade penal no determinismo social, 
afastando a tese do livre arbítrio; e Rafaelle Garofalo, que idealizou a teoria 
 
5 BUSATO, Paulo César. Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2013, p. 10. 
DIREITO PENAL 
6 
 
 
psicologicistasegundo a qual os criminosos irrecuperáveis deveriam ser afastados 
do convívio social pela deportação ou pela morte. 
 
a.2.) Criminologia Crítica: a criminologia desenvolveu-se e atualmente as 
correntes mais populares entendem o crime como um fenômeno social que tem 
suas causas não em fatores biológicos, mas em problemas e conflitos sociais, de 
forma que critica a estrutura social, o Direito Penal e o controle institucional de 
crimes, como a atuação das polícias, por exemplo (esta corrente tem diversas 
divisões). 
 
a.3.) Criminologia da Reação Social: é uma corrente de origem norte-americana, 
que entende a sociedade como uma rede de interações sociais que origina 
símbolos (chamada por isso de interacionismo simbólico). O crime é um desses 
símbolos criados pela interação social, de forma que o crime não tem existência 
ontológica (ou natural) e, portanto, o criminoso é alguém que foi etiquetado pela 
sociedade (teoria do etiquetamento ou labelling approach). Tem como principal 
expoente Howard Becker. 
 
b) Política Criminal: é a ciência que estuda e sistematiza estratégias para a prevenção 
e repressão estatal eficiente da criminalidade, de forma a maximizar a segurança 
pública sem violação de direitos fundamentais dos cidadãos (inclusive o criminoso). 
As políticas criminais são papel da política e sua implementação, portanto, depende 
da atuação dos legisladores. Entretanto a Política Criminal enquanto ciência não se 
trata das políticas concretas existentes em um país, mas do estudo de estratégias 
para fazer boas políticas criminais. Ademais, a criminalização de condutas e aumento 
das penas não são os únicos meios recomendados pela Política Criminal para a 
diminuição da criminalidade, sendo preferíveis políticas preventivas e sociais. 
 
c) Dogmática Penal: como já referido, é atividade de interpretação e sistematização 
do direito positivo que busca estabelecer o alcance, os limites e os objetivos das 
normas penais, estabelecendo critérios para sua aplicação. Está mais vinculada ao 
direito positivo do que a Criminologia e a Política Criminal. 
 
 FONTES DO DIREITO PENAL 
Por fonte do Direito deve ser entendida a origem primária do Direito, identificando-a 
com a gênese das normas jurídicas. Nesse sentido, seria todo fator real ou fático que 
condiciona o aparecimento da norma jurídica. Distinguem-se as fontes do Direito Penal em 
materiais (ou de produção) e formais (ou de cognição ou conhecimento). As últimas podem, 
ainda, ser imediatas ou mediatas. 
 
 FONTE MATERIAL OU DE PRODUÇÃO 
Relaciona-se à gênese da norma penal, com respeito ao órgão encarregado de sua 
elaboração. Fonte de produção é o Estado (não os Estados-Membros que compõem a 
Federação brasileira, mas sim esta última). 
 
Conforme preceitua o art. 22, I, CF, compete privativamente à União legislar sobre 
direito penal. Assim, cabe tão somente à União, como única fonte de produção, ditar normas 
gerais de Direito Penal, bem como proibir ou impor determinadas condutas (comissivas ou 
DIREITO PENAL 
7 
 
 
omissivas), sob a ameaça de sanção. A Constituição, ao referir-se à competência privativa da 
União, quer dizer que somente a conjugação da vontade do povo, representado pelos seus 
deputados, com a vontade dos Estados, representados pelos seus senadores, e, ainda, com a 
sanção do Presidente da República, é que pode inovar em matéria penal. 
 
Excepcionalmente, porém, prevê o parágrafo único do art. 22, CF, que “lei 
complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias 
relacionadas neste artigo”. Objetivando a regionalização de determinadas questões penais, 
mostra-se, em tese, admissível que a União autorize os Estados-membros a criminalizar 
determinada conduta, prevendo delito peculiar a certa parte do País. Não obstante não se 
tenha notícia de tal prática, o certo é que a norma penal deve possuir alcance nacional, a fim 
de manter a integridade do sistema, sendo impensável a possibilidade de legislação, em 
matéria penal, por parte dos Estados-membros. 
 
 FONTES FORMAIS OU DE COGNIÇÃO OU DE CONHECIMENTO 
Dizem respeito ao modo de exteriorização do Direito Penal e podem ser imediatas (ou 
direta) e mediatas (ou indiretas ou secundárias). 
 
 FONTE FORMAL IMEDIATA 
A única fonte formal imediata é a lei, à qual se recorre para saber se determinada 
conduta praticada por alguém é proibida pelo Direito Penal. Observe-se que somente a lei, em 
sentido estrito, pode criar crimes e cominar penas. 
 
Outras espécies legislativas: 
a) lei complementar: pode legislar sobre matéria penal, uma vez que possui processo 
legislativo mais complexo do que a lei ordinária (ex.: art. 10, LC 105/01, que instituiu 
o crime de quebra de sigilo fora das hipóteses autorizadas na mesma Lei). Há, no 
entanto, posição em contrário6, sustentando que o rol da lei complementar é 
exaustivo na Constituição, não incluindo nenhuma hipótese de criação de lei penal, 
além de que é exigido quorum qualificado para elaborar uma lei complementar, o 
que iria engessar o Congresso Nacional se houvesse necessidade de modificar lei 
penal que fosse criada pelo processo qualificado; 
 
b) lei delegada: é aquela elaborada pelo Presidente da República por delegação do 
Congresso Nacional, não podendo veicular norma penal, pois o art. 68, § 1º, II, CF, 
veda a delegação em matéria de direitos individuais, entre os quais está o Princípio 
da Reserva Legal (art. 5º, XXXIX, CF). Além disso, o procedimento legislativo, que 
exige intenso debate dos congressistas sobre as propostas de alteração da legislação 
penal, restaria enfraquecido, sem trâmite pelas duas Casas Legislativas e sem 
apresentação de emendas; 
 
c) medida provisória: não pode disciplinar matéria penal em face de expressa 
vedação constitucional (art. 62, § 1º, I, b, CF), conforme alteração advinda pela 
Emenda Constitucional n. 32/01. Antes de tal EC, no entanto, a matéria gerava certa 
controvérsia, tendo ocorrido casos de leis penais criadas por MPs, como a Lei 
 
6 CERNICCHIARO, Luiz Vicente; COSTA JR., Paulo José da. Direito Penal na Constituição. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1991, 
p. 46-7. 
DIREITO PENAL 
8 
 
 
7.960/89 (Lei da Prisão Temporária), acrescendo tipo penal à Lei 4.898/65, que trata 
do abuso de autoridade; 
 
d) emenda à constituição: pode, em tese, criar lei penal, já que é fruto do Poder 
Constituinte Derivado ou Reformador, mesmo porque não há vedação expressa a 
respeito. No entanto, a teor do art. 60, § 4º, CF, a EC não poderá restringir direitos e 
garantias individuais. 
 
 FONTES FORMAIS MEDIATAS 
São fontes formais mediatas o costume, os princípios gerais de direito e o ato 
administrativo, embora já tenham sido também elencados os tratados e convenções, a 
equidade, a doutrina, a jurisprudência e até mesmo a analogia.8 
 
 COSTUME 
É a repetição da conduta, de maneira constante e uniforme, em razão da convicção da 
sua obrigatoriedade jurídica. Em virtude do Princípio da Reserva Legal, o costume não pode 
criar crimes e nem cominar penas, embora continue eficaz em outros ramos do Direito, 
principalmente naqueles pautados pela common law. São elementos do costume: 
a) objetivo: a constância e uniformidade dos atos (consuetudo); e 
b) subjetivo: a convicção da obrigatoriedade jurídica (opinio necessitatis). 
 
O costume não se confunde com o hábito, uma vez que neste inexiste a convicção da 
obrigatoriedade jurídica do ato. Como características do costume, pode-se apontar a sua 
uniformidade, pois pressupõe sensível e múltipla repetição da mesma prática; sua constância, 
pois não pode ser interrompido, sob pena de descaracterizar-se como norma jurídica; sua 
publicidade, porque obriga a todos e por todos deve ser conhecido; e sua generalidade, no 
sentido de alcançar todos os atos e todas as pessoas e relações que realizam os pressupostos 
de sua incidência. 
 
 Espécies de costume:a) costume secundum legem: é o chamado costume interpretativo, auxiliando a 
esclarecer o conteúdo de certos elementos do tipo penal; 
b) costume praeter legem: é o chamado costume integrativo, que preenche ausência 
ou lacuna da lei; 
c) costume contra legem: é o chamado costume negativo, que contraria a lei. 
 
Das três espécies, os costumes secundum legem e praeter legem poderão ter validade 
para o Direito Penal, já que não atuam além dos limites do tipo ou em sua oposição, mas agem 
na intimidade da norma para que o seu sentido se ajuste às concepções sociais dominantes. 
 
Atenção: o costume contra legem não revoga a lei penal, em face do que dispõe o art. 
2º, § 1º, LINDB, segundo o qual uma lei só pode ser revogada por outra lei9. 
 
8 Nesse sentido: MAGALHÃES NORONHA, Edgard. Direito Penal (introdução e parte geral). 30ª ed., vol. 1, São Paulo: Saraiva, 1985, 
p. 59. 
9 A propósito: O sistema jurídico brasileiro não admite possa uma lei perecer pelo desuso, porquanto, assentado no princípio da 
supremacia da lei escrita (fonte principal do direito), sua obrigatoriedade só termina com sua revogação por outra lei. Noutros 
DIREITO PENAL 
9 
 
 
 
 PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO 
Tratando das lacunas na lei e demonstrando a completude do direito (sua não-
lacunosidade), dispõe o art. 4º, LINDB: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de 
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. Os princípios gerais de 
direito são premissas éticas que são extraídas, mediante indução, do material legislativo. 
 
As lacunas da lei, ao serem preenchidas pelos princípios gerais de direito, obrigam à 
criação de regras formuladas pelos princípios morais que informam a legislação onde ocorre o 
caso omisso. Tais princípios não podem ser fontes de incriminação de condutas. No entanto, 
no campo das normas não-incriminadoras, poderão ampliar as causas de exclusão da ilicitude 
ou da culpabilidade. No caso da mãe que fura as orelhas da filha para colocar-lhe brincos, não 
obstante a concepção moderna indique uma atipicidade - em face do princípio da adequação 
social -, alguns penalistas10 irão aplicar os princípios gerais de direito para afastar a ilicitude do 
fato. 
 
 ATO ADMINISTRATIVO 
Em algumas normas penais em branco, o complemento da definição da conduta 
criminosa dependerá de um ato da Administração Pública. No delito de omissão de notificação 
de doença, previsto no art. 269, CP, é um ato administrativo11 que irá elencar o rol de doenças 
cuja notificação é compulsória, servindo, dessa forma, como fonte formal mediata do Direito 
Penal. 
 
 PLEBISCITO E REFERENDO COMO FONTES DO DIREITO PENAL 
De acordo com a Constituição, cabe ao Congresso Nacional autorizar referendo e 
convocar plebiscito (art. 49, XV). Tais instrumentos, no entanto, apenas poderão aprovar ou 
rejeitar lei penal a ser criada ou já materializada pelos parlamentares. 
 
 PRINCÍPIOS BÁSICOS PENAIS 
 PRINCÍPIO REITOR: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
Com o advento da Constituição de 1988, a dignidade da pessoa humana foi alçada à 
categoria de princípio fundamental (art. 1º, III). O princípio constitucional da proteção e da 
promoção da dignidade da pessoa humana deve influenciar o 
sistema penal (amplamente considerado), para que ele funcione 
com respeito aos direitos humanos fundamentais e para que se 
baseie, precipuamente, no paradigma humanitário. 
 
Juridicamente, a noção da dignidade humana está ligada 
aos movimentos constitucionalistas modernos, sobretudo aos 
constitucionalismos francês e americano. A constituição 
moderna, de caráter nitidamente liberal, surgiu com a finalidade 
de declarar direitos, de fundamentar a organização do governo e de limitar o poder político, 
 
termos, significa que não pode ter existência jurídica o costume contra legem. STJ, REsp 30.705-7, 6a T., Rel. Min. Adhemar Maciel, 
unânime, DJU 3-04-1995. 
10 Como Mirabete e Damásio de Jesus. 
11 Portaria n.° 104, de 25 de janeiro de 2011, do Ministério da Saúde. 
DIREITO PENAL 
10 
 
 
limitação essa que era o maior anseio dos mentores burgueses setecentistas. Assim, o valor 
moral da dignidade da pessoa humana foi consagrado como preceito constitucional na 
Declaração de Direitos de Virgínia, que precedeu a Constituição americana de 1787, e na 
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, que resultou da Revolução Francesa. 
Apesar de ser possível sua dedução dos textos constitucionais mais antigos que tutelavam as 
liberdades fundamentais, a expressa positivação do ideal da dignidade da pessoa humana é 
bastante recente. Com algumas exceções, somente após sua consagração na Declaração 
Universal da ONU de 1948 é que o princípio foi expressamente reconhecido na maioria das 
Constituições. 
 
Com o advento da Constituição brasileira de 1988, restou consagrado o valor da 
dignidade da pessoa humana como princípio máximo, elevando, de maneira inconteste, o 
princípio em comento a uma categoria superlativa em nosso ordenamento, na qualidade de 
norma jurídica fundamental. Tal princípio é, portanto, o regente dos demais princípios, sendo 
que toda lei que violar a dignidade da pessoa humana será inconstitucional. 
 
 PRINCÍPIOS PENAIS FUNDAMENTAIS RELACIONADOS AO 
DIREITO PENAL 
 PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DE BENS JURÍDICOS 
O principal objetivo do Direito Penal é efetivamente a proteção de bens jurídicos, uma 
vez que não há crime sem a existência de lesão ou perigo de ofensa a um bem ou interesse 
juridicamente tutelado. A noção de bem jurídico adquiriu, dentro do Direito Penal, uma 
importância particular logo após a Segunda Guerra Mundial. 
 
Neste sentido, seu valor principal foi o de legitimar ou dar validade às normas penais 
com fundamento no princípio que diz não poder haver lei penal sem um bem jurídico para 
tutelar. É exatamente aqui que reside a ideia de princípio da exclusiva proteção de bens 
jurídicos. Isso porque a noção de bem jurídico supõe critérios evidentes de taxatividade e de 
delimitação daquilo que se quer proteger. De tal perspectiva, a noção de bem jurídico buscou 
impedir que se façam difusos ou intangíveis os conteúdos cuja afetação pode ser objeto de 
imputação de consequências penais. 
 
O bem jurídico converteu-se, então, em núcleo do conceito material de crime. Com esse 
conteúdo, o bem jurídico pretendeu ancorar a atividade legislativa da política criminal somente 
a certas realidades ou interesses relevantes para a convivência social, deixando fora dessa 
competência os campos da privacidade e as crenças pessoais. 
 
 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
A Constituição traz um princípio geral de legalidade no inciso II de seu art. 5º, segundo o 
qual: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. 
Do ponto de vista penal, a legalidade assume feição mais estrita, nos termos do inciso XXXIX do 
art. 5º, assim redigido: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia 
cominação legal”, cujo texto é análogo, aliás, ao do art. 1º, CP. 
 
Cuida-se de regra antiga, já consagrada no brocardo latino “nullun crimen, nulla poena 
sine lege”, do qual se retira a tipicidade penal, de modo que o cidadão saiba quais são os 
comportamentos proibidos. 
 
DIREITO PENAL 
11 
 
 
Destarte, o princípio da legalidade proíbe que 
a) a retroatividade da lei penal seja utilizada como meio de criminalização ou 
agravação da pena de fato anterior; 
 
b) o costume seja aplicado como fonte de criminalizações e agravações de penas; 
 
c) a analogia seja empregada como método de criminalização de condutas; e 
 
d) haja indeterminação dos tipos legais e das sanções penais.12 
 
Não há violação do princípio da legalidade: 
a) na interpretação sistemática de váriosdispositivos legais aplicáveis, como no caso 
da orientação “predominante no Supremo Tribunal Federal no sentido de que o 
cometimento de falta grave, durante a execução da PPL, implica, por exemplo, a 
necessidade de reinício da contagem do prazo de 1/6 (um sexto) para obtenção da 
progressão no regime de cumprimento da pena” (STF, HC 99093, Ellen, 2ª. T., u., 
24.11.09); 
 
b) na especialização de vara para julgamento de crimes sexuais contra crianças ou 
adolescentes, por ato administrativo do tribunal (STF, HC 91509, Grau, 2ª. T., u., 
27.10.09); 
 
c) na utilização de medida provisória em favor do réu, como no caso daquelas que: 
“abolem crimes ou lhes restringem o alcance, extingam ou abrandem penas ou 
ampliam os casos de isenção de pena ou de extinção de punibilidade” (STF, RE 
254818, Pertence, Pl., u., 8.11.00). 
 
Há violação do princípio da legalidade: 
a) na Resolução de TRE que afirma caracterizado o crime do art. 347 do Código 
Eleitoral em caso de descumprimento da Resolução, quando o delito exige ordem 
individualizada e dirigida ao agente (STF, ADI 2283, Gilmar Mendes, Pl., m., 15.2.06). 
 
 ANALOGIA 
Analogia é a técnica de colmatação das lacunas da lei consistente na aplicação de uma 
regra legal a uma situação não prevista na norma, mas assemelhada aquela que está 
regulamentada. 
 
Em Direito Penal, admite-se a analogia in bonam partem, ou seja, a favor do réu, desde 
que se trate de uma lacuna involuntária, e não de uma opção deliberada do legislador de dar 
tratamento diverso à matéria (STF, HC 94777, Direito, 1ª. T., u., 5.8.08). É vedada, porém, a 
analogia in malam partem, ou desfavorável ao réu, por violar o princípio da legalidade estrita 
ou tipicidade cerrada, que exige lei formal para a veiculação de normas penais (STF, Inq. 1145, 
Corrêa, Pl., u., 19.12.06). 
 
Não há vedação, porém, à aplicação analógica da lei penal, assim entendido a extensão 
de uma regra a casos assemelhados, com base em expressa autorização legal, como no caso da 
alínea c do inciso II do art. 61, CP, que prevê uma agravante para o crime praticado: “à traição, 
 
12 SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal – Parte Geral. 5ª edição. Florianópolis: Conceito Editorial, 2012. p. 19. 
DIREITO PENAL 
12 
 
 
de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou 
impossível a defesa do ofendido”. Nesse caso é possível, por expressa autorização legal, a 
aplicação da lei penal em caso de utilização de outros recursos que não a traição, a emboscada 
ou a dissimulação, desde que tenham dificultado ou tornado impossível a defesa da vítima. 
 
 NORMA PENAL EM BRANCO 
Norma penal em branco é aquela de conteúdo incompleto, que requer 
complementação por outra norma jurídica, usualmente extra-penal. O fundamento do uso da 
técnica da norma penal em branco é permitir a adequação da norma penal ao conteúdo de 
outros ramos do direito, permitindo, assim, uma atualização automática da norma penal em 
caso de modificação da norma complementar. 
 
Além disso, a técnica confere maior agilidade em caso de necessidade de atualização da 
norma, que poderá ser feita por ato da autoridade administrativa, e não da lei formal, em um 
procedimento mais complexo e moroso, sujeito, ainda, às complexidades políticas inerentes ao 
parlamento. 
 
A norma penal em branco poderá ser: 
 
Modalidade Complemento Exemplo 
Homogênea ou em sentido 
lato 
Lei extra penal art. 237, CP 
Heterogênea ou em sentido 
estrito 
Norma infra-legal (Decreto, 
regulamento, portaria, etc.) 
art. 33, Lei 
11.343/06 
 
 
 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE 
Mas não basta que os comportamentos penais estejam previstos em lei. O art. 5º, XXXIX, 
CF, e o art. 1º, CP, já mencionados, também exigem que a lei penal seja anterior ao fato em 
julgamento, de modo que o cidadão esteja devidamente advertido da ilicitude do seu 
comportamento. 
 
Em caso de norma penal em branco, somente serão consideradas criminosas as 
condutas praticadas depois da entrada em vigor da norma complementar (STF, Inq. 1915, 
Pertence, Pl., m., 5.8.04). 
 
 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE 
Corolário da anterioridade é a irretroatividade da lei penal mais gravosa, pois de nada 
adiantaria estabelecer a anterioridade se esse princípio fosse esvaziado pela possibilidade de 
uma lei penal retroativa, que tornaria ineficaz a garantia13. Bem por isso, assim reza o art. 5º, 
XL, CF: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. 
 
O princípio em exame aplica-se também às normas de execução penal (STF, HC 
68416/DF, Brossard, 2ª. T., u., 8.9.92). Não se pode, então, por exemplo, negar o indulto ao 
delito incluído no rol dos crimes hediondos pela Lei 8.930/94, ainda que o Decreto exclua os 
 
13 NUCCI, Guilherme de Souza. CP Comentado. 7 ed. rev. atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 41. 
DIREITO PENAL 
13 
 
 
crimes hediondos, se o fato em questão foi cometido antes da lei nova mais gravosa (STF, HC 
101238/ SP, Grau, 2ª. T., u., 2.2.10). 
 
O princípio em exame não se aplica às normas processuais penais, que tem vigência 
imediata (STF, AI 177313 AgR-ED/MG, Mello, 1ª. T., u., 18.6.96). 
 
 PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE DA LEI BENÉFICA 
Como visto acima, a vedação da retroatividade da lei penal não se aplica a lei que 
beneficiar o acusado, como explicita, aliás, o parágrafo único do art. 2º, CP, nos seguintes 
termos: “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos 
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. Na mesma 
linha o art. 107, III, CP, que arrola como uma das causas da extinção da punibilidade a: 
“retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso”. 
 
 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA 
Segundo tal princípio, o Direito Penal só intervirá na defesa dos bens jurídicos 
imprescindíveis à coexistência pacífica dos homens, interesses esses que não podem ser 
eficazmente tutelados de forma menos gravosa. 
 
Tem origem na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, que 
determina, no seu art. 8º, que a lei só deve prever as penas estritamente necessárias. A lei 
penal, portanto, só deve intervir como ultima ratio, ou seja, quando absolutamente necessária 
à sobrevivência da comunidade. Isso porque o uso excessivo do Direito Penal – e da própria 
pena – não garante uma maior proteção aos bens, mas, ao contrário, condena o sistema penal 
a uma função meramente simbólica e negativa. 
 
Subdivide-se em princípio da fragmentariedade e princípio da subsidiariedade. 
 PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE 
Apenas as condutas mais graves, consideradas socialmente intoleráveis e endereçadas a 
bens efetivamente valiosos, é que podem ser objeto de criminalização. Como fragmento é 
parte de um todo, o Direito Penal, visto como fragmentário, só poderá ocupar-se de ações ou 
omissões que lesem, verdadeiramente, a vida em sociedade. 
 
 PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE 
Só haverá intervenção do Direito Penal quando outros ramos do Direito não resolverem 
de forma satisfatória o conflito. O Direito Penal, portanto, é a ultima ratio. 
 
 PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL 
Concebida por Hans Welzel14, a teoria da adequação social significa que, não obstante 
determinada conduta se amolde formalmente ao modelo legal, não será considerada típica se 
for socialmente adequada ou reconhecida, ou seja, se estiver de acordo com a ordem social da 
vida historicamente condicionada. A ação será socialmente adequada quando realizada 
dentro do âmbito da normalidade admitida pelas regras de cultura do povo. 
 
14 WELZEL, Hans. Derecho penal alemán. Trad. Juan Bastos Ramírez e Sérgio Yáñez Perez. 11a ed., Santiago: Jurídica de Chile, 1997, 
p. 85. 
DIREITO PENAL 
14 
 
 
 
Assim, as pequenas lesões desportivas que advêmda violação de normas cuja 
inobservância é prática corriqueira no jogo, e o corte coativo de cabelo do calouro aprovado no 
vestibular, por exemplo, são comportamentos que, a despeito de serem considerados típicos 
pela lei penal, não afrontam o sentimento social de justiça, ou seja, aquilo que a sociedade tem 
por certo e justo. 
 
Atenção: o STF, no julgamento do HC 104467, entendeu inaplicável o princípio da 
adequação social em relação ao art. 229, CP (“manter, por conta própria ou de terceiro, 
estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não intuito de lucro ou mediação 
direta do proprietário ou gerente”), crime que permanece típico, uma vez que caberia somente 
ao legislador o papel de revogar ou modificar a lei penal em vigor. 
 
 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU BAGATELA 
A introdução do princípio da insignificância no sistema penal deve-se a Claus Roxin15, 
que reconhecia a insignificância como auxiliar interpretativo, e não como característica do 
tipo delitivo, objetivando restringir o teor literal do tipo formal, conformando-o com condutas 
socialmente admissíveis, em decorrência de suas ínfimas lesões a bens juridicamente 
tutelados. 
 
Em face do princípio da insignificância, que Klaus Tiedemann chamou de princípio da 
bagatela, mínimas ofensas a interesses protegidos pela norma penal não justificam a 
incidência do Direito Penal, que se mostra desproporcionado ao castigar fatos de importância 
manifestamente insignificante. É imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade 
da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervenção estatal. 
 
Como a tipicidade penal exige um mínimo de lesividade ao bem juridicamente tutelado, 
sempre que a lesão for insignificante, a ponto de tornar-se incapaz de ofender o interesse 
protegido, não haverá adequação típica. O princípio da insignificância é hoje tomado como 
causa excludente da tipicidade material, impedindo a configuração do injusto típico. 
 
Observações: 
a) natureza jurídica: é causa supralegal de exclusão da tipicidade material; 
 
b) quatro condições essenciais para a aplicação do princípio da insignificância17: 
mínima ofensividade da conduta, inexistência de periculosidade social do ato, 
reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão 
provocada; 
 
c) não cabe em crimes praticados com violência ou grave ameaça contra pessoa, 
como roubo e resistência (Inf. STJ 439 e 441); 
 
d) não cabe no crime de moeda falsa (Inf. STJ 437) e no crime de tráfico de drogas 
(STJ, HC 248652, j. 18/09/2012); 
 
 
15 Roxin fala do princípio da insignificância, pela primeira vez, em 1964, e depois volta a repeti-lo em sua obra Política Criminal y 
Sistema del Derecho Penal, partindo do adágio latino minima non curat praetor. 
17 Segundo STF e STJ 
DIREITO PENAL 
15 
 
 
 PRINCÍPIO DA CONFIANÇA 
O princípio da confiança baseia-se na expectativa de que as outras pessoas ajam de um 
modo já esperado, ou seja, normal. Consiste, portanto, na realização da conduta de uma 
determinada forma na confiança de que o comportamento do outro agente se dará conforme 
o que acontece normalmente. O motorista que, conduzindo seu veículo pela preferencial, 
passa por um cruzamento, confia que o outro automóvel, que se encontra na via secundária, 
aguardará sua passagem, por exemplo; havendo acidente, não terá o primeiro agido com 
culpa. 
 
O princípio da confiança tem sido tratado, hoje, como causa supralegal de exclusão da 
culpa e, por consequência, do próprio fato típico. 
 
 PRINCÍPIO DA CONSTITUCIONALIDADE DAS NORMAS PENAIS 
Decorre do princípio da Supremacia Constitucional, segundo o qual a Constituição está 
no ápice do ordenamento jurídico nacional e nenhuma norma jurídica pode contrariá-la, 
material ou formalmente, sob pena de advir uma inconstitucionalidade. Disso resulta uma 
presunção relativa (juris tantum) no sentido de que todas as normas atinentes a Direito Penal 
estão em consonância plena com a Constituição, sob pena de não serem recepcionadas e, 
como consequência, de serem afastadas pelo ordenamento constitucional superior. 
 
 PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIDADE 
Conforme tal princípio, a conjunção dos princípios constitucionais é que afirma o 
modelo fundamental, no qual se arrima toda a construção jurídico-normativa da sociedade 
estatal, pelo que se caracterizam e pela complementaridade que os anima. Dessa forma, 
embora não estejam expressamente previstos na Constituição, os princípios modernos 
norteadores do Direito Penal – como a intervenção mínima, a insignificância, a ofensividade e 
a proporcionalidade, entre outros – podem ser invocados e reconhecidos no sistema pela 
complementação natural entre eles e o princípio da reserva legal. 
 
 PRINCÍPIOS PENAIS FUNDAMENTAIS RELACIONADOS AO 
DELITO 
 PRINCÍPIO DA EXTERIORIZAÇÃO OU MATERIALIZAÇÃO DO FATO 
O Direito Penal somente poderá intervir quando o agente, por meio da sua conduta 
voluntária, exteriorizar ações ou omissões concretas. Não se pode punir o pensamento, o estilo 
de vida, a orientação sexual, a ideologia, a personalidade. O Direito Penal moderno caracteriza-
se como um direito penal do fato (pune-se o sujeito pelo que fez), e não mais como um direito 
penal do autor (pune-se o sujeito pelo que é). 
 
Atenção: a contravenção penal da vadiagem (art. 59, LCP), embora formalmente vigente, 
é tida por muitos autores como não recepcionada pela CF, já que representaria o indesejável 
direito penal do autor. 
 
 PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE OU LESIVIDADE 
DIREITO PENAL 
16 
 
 
Segundo tal princípio, não se pode conceber a existência de qualquer crime sem ofensa 
ao bem jurídico (nullum crimen sine iniuria). O princípio da ofensividade do fato decorre de 
outro princípio geral de direito, que é o neminem laedere. 
 
O princípio atua em dois âmbitos: ao legislador determina que não pode criminalizar 
condutas em que não haja previsão de uma lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico; ao 
julgador determina que deve interpretar os tipos penais de forma a verificar se houve lesão ou 
perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal, pois apenas neste caso existe de 
fato um crime. A partir da ofensividade discute-se na doutrina brasileira a constitucionalidade 
dos crimes de perigo abstrato, nos quais o perigo é presumido. 
 
Atenção para a arma de fogo desmuniciada: A posição amplamente majoritária no STJ é 
que haverá crime, tanto no porte de arma desmuniciada quanto no porte de munição (STJ, HC 
328697/SP, j. 15/09/201518). No entanto, o mesmo tribunal vem entendendo que, no roubo 
praticado com arma desmuniciada não incide a majorante do emprego de arma, punindo-se o 
agente por roubo simples (STJ, AgRg no REsp 1536939/SC, j. 15/10/201519). 
 
Importante: o bem jurídico atingido deve pertencer a terceira pessoa, ou seja, a prática 
criminosa pressupõe conduta que transcenda a esfera individual do agente. Por isso o princípio 
da ofensividade deve ser complementado pelo princípio da alteridade (altero: o outro) ou 
transcendentalidade, fazendo com que a autolesão e a própria tentativa de suicídio restem 
impuníveis. 
 
Exceção: a autolesão configurará crime em duas hipóteses: se cometida com o fim de 
fraudar seguro caracterizará estelionato (art. 171, § 2º, V, CP), e se praticada para criar 
incapacidade física que inabilite o convocado para o serviço militar, poderá constituir-se em 
crime militar (art. 184, CPM). 
 
 PRINCÍPIOS PENAIS FUNDAMENTAIS RELACIONADOS AO 
SUJEITO 
 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL 
Como o indivíduo só pode ser responsabilizado penalmente pelos próprios atos, 
descabe a aplicação de pena criminal por fato alheio. 
 
 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA 
Para que o agente seja punido penalmente, não basta a mera prática material do fato, já 
que se requer, também, a presença do dolo ou da culpa. Isso significa que não há mais lugar, 
hodiernamente,para a chamada responsabilidade penal objetiva. Observe-se, a propósito, o 
art. 19, CP: “Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o 
houver causado ao menos culposamente”. 
 
 
18 “É típica a conduta de portar arma de fogo sem autorização ou em desconformidade com determinação legal ou regulamentar, 
ainda que desmuniciada, ‘por se tratar de delito de perigo abstrato, cujo bem jurídico protegido é a incolumidade pública, inde-
pendentemente da existência de qualquer resultado naturalístico’”. 
19 “Conforme o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o emprego de arma de fogo desmuniciada tem o condão de 
configurar a grave ameaça e tipificar o crime de roubo, no entanto não é suficiente para caracterizar a majorante do emprego de 
arma, pela ausência de potencialidade lesiva no momento da prática do crime”. 
DIREITO PENAL 
17 
 
 
 PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE 
A culpabilidade exerce a função de limite material do jus puniendi, sendo vedada a 
responsabilização penal objetiva. Afora isso, a culpabilidade tem graus, exercendo importante 
papel na determinação da pena (art. 59, CP). 
 
Atenção para a tese da coculpabilidade de Zaffaroni: fundamenta-se na possível 
influência do meio social sobre a personalidade do agente, ou seja, seria a “sociedade 
marginalizadora” concorrendo para a prática do crime, podendo ser considerada uma 
atenuante inominada (art. 66, CP). 
 
 PRINCÍPIO DA ISONOMIA OU IGUALDADE 
Está previsto especialmente no art. 5º, CF (“todos são iguais perante a lei, sem distinção 
de qualquer natureza”), impondo a igualdade da lei (a lei não pode fazer qualquer espécie de 
discriminação) e a igualdade perante a lei (não deve haver qualquer discriminação na 
aplicação da lei). É por isso que, no caso do concurso de agentes, a decisão do recurso 
interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente 
pessoal, aproveitará aos outros (art. 580, CPP). 
 
 PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE 
De acordo com o art. 5º, XLV, CF: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, 
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos 
da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio 
transferido”. 
 
Do princípio em referência decorrem as seguintes consequências: 
a) extinção da punibilidade pela morte do agente (CP, art. 107, I); 
b) a impossibilidade de substituição do condenado por terceiro no cumprimento da 
pena, ainda que se trate de PSC (STF, HC 68309, Mello, 1ª. T., 27.11.90). 
 
 PRINCÍPIOS PENAIS FUNDAMENTAIS RELACIONADOS COM A 
PENA 
 PRINCÍPIO DA HUMANIDADE 
O poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa 
humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados. 
 
Estabelecem a Declaração dos Direitos do Homem (1948): “todo indivíduo tem direito à 
vida, à liberdade e à segurança pessoal (art. III), e ninguém será submetido a tortura, nem a 
tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante (art. V)”; o Pacto Internacional dos 
Direitos Civis e Políticos (1966): “ninguém será submetido a tortura, nem a penas ou 
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma 
pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas” (art. 7º); a 
Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes 
(1984) define e pune a tortura (arts. 1º e 4º). 
 
DIREITO PENAL 
18 
 
 
O princípio da humanidade do Direito Penal é, atualmente, o maior entrave para a 
adoção da pena capital e da prisão perpétua, apresentando-se como verdadeira diretriz 
garantidora de ordem material e restritiva da lei penal. 
 
Atenção: com base no princípio da humanidade, as Cortes superiores, em algumas 
decisões recentes, vêm entendendo que o prazo máximo de duração da medida de segurança 
aplicável aos inimputáveis é ou o de trinta anos, previsto no art. 75, CP20 (STF, HC 107432, 
24.5.11), ou o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito (STJ, , HC 91602, 6ª. 
T., 20.9.12). 
 
 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
Não há crime sem lei anterior que o defina e nem pena sem prévia cominação legal (art. 
1º, CP, e art. 5º, XXXIX, CF). 
 
 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE 
Não obstante remonte à Antiguidade, foi com o Iluminismo, especialmente com Cesare 
Beccaria, que o princípio da proporcionalidade se firmou como postulado penal. Em sentido 
amplo, a proporcionalidade pressupõe: 
a) adequação ou idoneidade; 
b) necessidade ou exigibilidade; e 
c) proporcionalidade em sentido estrito. 
 
Gomes Canotilho21 refere que a adequação (chamada por ele também de 
conformidade) trata de controlar a relação de adequação medida-fim; a exigibilidade, por sua 
vez, não põe em crise a adoção da medida (necessidade absoluta), mas sim a necessidade 
relativa da providência, ou seja, perquire se o legislador poderia ter adotado outro meio 
igualmente eficaz e menos desvantajoso para os cidadãos; e a proporcionalidade em sentido 
estrito sopesa as desvantagens dos meios em relação às vantagens do fim. 
 
No âmbito penal, o princípio da proporcionalidade ensina que as penas devem estar 
proporcionadas ou adequadas à intensidade ou magnitude da lesão ao bem jurídico 
representada pelo crime, não tendo cabimento o exagero, de um lado, e a liberalidade 
extrema, de outro. Ofenderia a proporcionalidade punir um latrocínio, por exemplo, com pena 
de multa. 
 
Observações: 
a) sobre individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF), deve ser lembrada a Súmula 471 
do STJ: “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da 
vigência da Lei n.º 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n.º 
7.210/1984 (LEP) para a progressão de regime prisional”. 
 
b) princípio da personalidade, pessoalidade ou intranscendência da pena: de acordo 
com a Constituição (art. 5º, XLV), “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”; 
 
20 Cumpre esclarecer que o tempo máximo de cumprimento de pena privativa de liberdade foi ampliado para 40 anos, conforme 
nova redação do art. 75, CP, dada pela Lei 13.964/19. 
21 GOMES CANOTILHO, José Joaquim. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5a ed., Coimbra: Almedina, 2002, p. 262-3. 
DIREITO PENAL 
19 
 
 
ocorre que há duas exceções: a reparação do dano e a decretação do perdimento de 
bens, que podem ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles 
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; 
 
c) deve-se analisar a necessidade concreta da pena; lembre do perdão judicial (art. 
121, § 5º; art. 129, § 8º), quando o magistrado, mesmo diante da culpabilidade do réu, 
decide pela desnecessidade concreta da pena; 
 
d) deve-se analisar a suficiência da pena alternativa (substituição da PPL por restritiva 
de direitos, na forma do art. 44, CP); 
 
e) princípio da proibição de excesso (Übermassverbott) ou do garantismo negativo: a 
proporcionalidade é utilizada como proteção contra os excessos ou abusos do Estado 
(proibição da pena de morte, por exemplo); 
 
f) princípio da proibição de insuficiência (Untermassverbot) ou do garantismo positivo: 
a proporcionalidade é utilizada como proteção contra a omissão estatal diante dos 
direitos fundamentais (punir o crime de extorsão mediante sequestro com pena mais 
grave que a do homicídio significa violação à necessária tutela do bem vida). 
 
 PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA 
A pena, por imposição constitucional, é individualizada (art. 5º, XLVI, CF), o que 
representa uma manifestação do princípio da proporcionalidade, no sentido de que a pena 
deve ser adequada, em justa relação com o ato e a culpa do agente, sem excesso, sendo que a 
fundamentação individualizada constitui direito subjetivo do sentenciado (STF, HC 72.992, 
Mello,1ª T., u., DJ 14.11.96). O processo individualizador se dá em três fases, a saber: 
a) legislativa, quando são escolhidos os fatos puníveis, as penas aplicáveis, seus 
limites e critérios de fixação; 
 
b) judicial, que se dá na sentença, quando o juiz estabelece as penas previstas dentre 
as cominadas, seus quantitativos e eventuais substituições; 
 
c) executiva, por ocasião do cumprimento da pena. 
 
Corolário lógico do processo de individualização é que, ao final deste, possam ser 
condenados a penas diferentes corréus no mesmo feito (STF, HC 70022/RJ, Mello, 1ª. T., u., 
20.4.93; STF, HC 70.900, M. Alves, RTJ 157/138), conforme variarem as circunstâncias 
referentes a uns e outros, até mesmo por aplicação dos princípios constitucionais da igualdade 
e da proporcionalidade, impondo-se a diferenciação para corréus cuja participação no crime foi 
distinta (TRF4, EIAC 97.04.47112-2, Sarti, 1ª S., m., 2.9.98, DJ 7.10.98).Não há, de outro lado, 
obrigatoriedade de se chegar a penas diferentes. Assim, poderão ocorrer casos em que, 
idênticas as circunstâncias objetivas e subjetivas, impor-se-á a mesma pena (STF, HC 70931/RJ, 
Pertence, 1ª. T., u., 14.12.93; STF, HC 72.992, Mello, 1ª T., u., DJ 14.11.96). Em outras palavras, 
o fato de se cuidar de um processo de individualização não sugere, necessariamente, 
apenamento em quantitativos diferentes. A diferenciação no resultado final dependerá, então, 
da existência de circunstâncias diversas, devidamente referidas na sentença, não sendo 
razoável o tratamento diferenciado dado a corréus, no mesmo processo, sem que tenha sido 
declinado o fundamento para tanto (STJ, REsp. 225.398/PR, Félix Fischer, v.u.u., DJ 28.2.00) ou 
DIREITO PENAL 
20 
 
 
quando o juiz afirma presentes as mesmas circunstâncias (TRF4, AC 2001.04.01.083970-0, 
Penteado, 8ª T., u., 11.6.03). 
 
 PRINCÍPIO DA INCOLUMIDADE FÍSICA E MORAL 
O respeito à integridade física e moral dos acusados, em especial dos presos, é extraída 
dos seguintes incisos do art. 5º, CF: 
Art. 5º (...) 
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
(...) 
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prá-
tica da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os 
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os execu-
tores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; 
(...) 
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; 
 
Sobre o tema, ver o Decreto 8.858/16 e a Súmula Vinculante 11 do STF, que tratam do 
emprego de algemas. 
 
 
 
 
TEORIA DA NORMA PENAL 
 
 
 CONCEITO E DISTINÇÃO ENTRE NORMA PENAL E LEI PENAL 
Norma penal é o imperativo ou comando dirigido ao cidadão para realizar 
(mandamento) ou deixar de realizar (proibição) uma determinada conduta. É diferente da lei 
penal, que se trata de um ato formal e escrito por meio do qual os legisladores criam, 
publicizam e tornam obrigatórias as normas. Percebe-se, portanto, que embora sejam 
distintas, norma e lei se relacionam. Por exemplo, no homicídio, a lei penal (art. 121, CP) 
dispõe “Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos”, já a norma penal implícita é “não 
se deve matar”. Note-se: a lei penal apenas descreve uma conduta e vincula a ela uma 
sanção, a norma penal dá um comando (“não se deve”). 
 
 ESTRUTURA DA LEI PENAL INCRIMINADORA 
A lei penal estrutura-se em dois elementos: 
a) Preceito primário ou disposição: descreve a conduta criminosa (ex: “matar 
alguém”). 
b) Preceito secundário ou sanção: fixa a sanção aplicável, sua espécie e os limites 
mínimo e máximo (ex: “reclusão, de seis a vinte anos”). 
 
O imperativo derivado do preceito primário da lei penal (chamado de norma de 
comportamento) dirige-se a todos os cidadãos, impondo o dever de realizar ou deixar de 
realizar uma conduta. O imperativo derivado do preceito secundário (chamado de norma de 
DIREITO PENAL 
21 
 
 
sanção), por outro lado, dirige-se aos julgadores, impondo o dever de punir aqueles que 
realizam a o preceito primário. São eles, portanto, os destinatários da norma de sanção. Este 
não pode se dirigir ao criminoso, pois inexiste dever de autopunição 
 
 CARACTERÍSTICAS 
 A lei penal possui as seguintes características:22 
a) imperativa: é imperativa pois a violação do comando principal acarreta a pena; 
 
b) geral: é geral porque é destinada a todos, inclusive aqueles sujeitos à medida de 
segurança (inimputáveis); 
 
c) impessoal e exclusiva: é impessoal porque não é dirigida a pessoas determinadas 
e exclusiva porque só ela pode definir crimes e respectivas sanções. 
 
 INTERPRETAÇÃO 
A interpretação ou hermenêutica é o meio utilizado para se alcançar o sentido dos 
termos constantes nas normas, sendo conceituada como o processo lógico que busca 
encontrar a vontade contida na norma jurídica. 
 
A seguir, elencamos as espécies de interpretação: 
- Quanto ao sujeito: 
a) autêntica: é a que procede da mesma origem que a lei e tem força obrigatória (por 
ex., a definição de funcionário público do art. 327, CP); 
b) jurisprudencial: é a orientação que os juízos e tribunais dão à norma, sem ter 
força vinculativa; 
c) doutrinária: é o entendimento dado pelos escritores ou comentadores do Direito 
(obviamente, essa interpretação não tem força obrigatória). 
 
- Quanto ao meio empregado: 
a) gramatical (literal): examina-se a “letra da lei”, buscando o significado das 
palavras ou expressões; 
b) lógica: quando a interpretação gramatical não for suficiente, busca-se a vontade 
da lei, por meio de um confronto lógico entre seus dispositivos; 
c) teleológica: apura o valor e a finalidade do dispositivo. 
 
- Quanto aos resultados: 
a) declarativa: ocorre quando o texto não é ampliado nem restringido, encontrando-
se apenas o significado oculto do termo usado pela lei; 
b) restritiva: ocorre quando se reduz o alcance da lei para que se possa encontrar sua 
vontade exata; 
c) extensiva/analógica: ocorre quando se amplia o sentido da lei. 
 
22 MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal. 28ª edição. São Paulo: Atlas, 2012. V. 1, p. 32. 
DIREITO PENAL 
22 
 
 
 
 VIGÊNCIA 
A norma penal é uma norma jurídica, e, como tal, obrigatória, tomando a forma de um 
comando deôntico, a saber, um mandamento ou proibição. Quando elaborada pelo órgão 
legislativo competente, de acordo com as regras constitucionais, essa norma apresenta-se sob 
a forma de uma lei. 
 
A lei é a fonte formal do direito positivo e constitui a fonte principal do direito penal, 
além de ser a única fonte hábil a veicular normas incriminadoras, em razão do já mencionado 
princípio da legalidade. 
 
Como regra geral, as normas penais aplicam-se aos atos cometidos durante a vigência 
da lei que os tipificou, sem retroatividade, como já mencionado, com exceção da lei penal 
mais benéfica, que é retroativa, conforme também já analisado. 
 
A entrada em vigor da lei se dá na data de sua publicação no diário oficial, que conclui 
o processo legislativo, a não ser que a própria lei traga previsão de entrada em vigor posterior, 
o que é usual em se tratando de matérias complexas ou da publicação de um novo código, a 
fim de permitir que a sociedade e os profissionais tenham condições de absorver as 
modificações. O período em que a lei já publicada ainda não vigora é conhecido como vacatio 
legis. 
 
A lei vigora até que seja revogada, de forma expressa, ou seja, quando a lei posterior 
determina expressamente a revogação da anterior; ou tácita, revelada pela incompatibilidade 
entre a lei anterior e a posterior. 
 
Quanto à extensão, a revogação poderá ser: 
a) geral ou total, também chamada de ab-rogação; 
b) parcial, ou derrogação. 
 
 INTEGRAÇÃO 
A integração é a superação de lacunas do ordenamento jurídico. Uma das 
características do ordenamento jurídico é suacompletude, ou seja, ele deve poder dar uma 
resposta a qualquer fato social que aconteça. Portanto, quando existe algum fato social para o 
qual não há regulação expressa, utiliza-se das técnicas de integração. As técnicas de 
integração comumente citadas pela doutrina são a analogia, os costumes e os princípios 
gerais de direito. Todas essas técnicas são explicitamente citadas no art. 4º, LINDB: 
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito. 
 
Os costumes e os princípios gerais de direitos são comumente apontados pela doutrina 
também como fontes formais mediatas do Direito Penal, de forma que já foram analisados em 
tópico acima. Portanto nos ateremos à analogia. 
 
 ANALOGIA 
DIREITO PENAL 
23 
 
 
A analogia é a aplicação de regra prevista para caso semelhante ao caso para o qual 
não há expressa regulamentação legal. O fundamento é o brocardo ubi eadem legis ratio, ubi 
eadem legis dispositio (“onde há a mesma razão legal, aplica-se o mesmo dispositivo”). 
 
Para que seja possível o recurso à analogia, exigem-se dois requisitos: 
a) que o fato não esteja regulado pelo legislador e 
b) que haja norma regulando caso semelhante, cujo fundamento seja compatível 
com o caso não regulado23. 
 
Importante frisar que, por ser a analogia um método de integração do ordenamento 
jurídico pelo julgador, a não regulação deve ser involuntária e não uma opção deliberada do 
legislador de dar tratamento diverso à matéria (STF, HC 94777, Direito, 1ª. T., u., 5.8.08). 
 
 ANALOGIA IN MALAM PARTEM 
O recurso à analogia é vedado em Direito Penal sempre que prejudicial ao réu, seja 
para punir um fato que não está criminalizado ou para agravar a punição de crimes existentes. 
Isso é uma consequência do princípio da legalidade, que em seu corolário da reserva de lei 
determina que crimes e sanções só podem ser fixados por lei. 
 
A 2ª Turma do STF declarou a atipicidade da conduta de condenado pela prática do 
crime descrito no art. 155, § 3º, CP24, por efetuar ligação clandestina de sinal de TV a cabo. 
Reputou-se que o objeto do aludido crime não seria “energia” e ressaltou-se a 
inadmissibilidade da analogia in malam partem em Direito Penal, razão pela qual a conduta 
não poderia ser considerada penalmente típica: 
“EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. ALEGAÇÃO DE ILEGITIMIDADE 
RECURSAL DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. 
INTERCEPTAÇÃO OU RECEPTAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SINAL DE TV A 
CABO. FURTO DE ENERGIA (ART. 155, § 3º, DO CÓDIGO PENAL). 
ADEQUAÇÃO TÍPICA NÃO EVIDENCIADA. CONDUTA TÍPICA PREVISTA NO 
ART. 35 DA LEI 8.977/95. INEXISTÊNCIA DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. 
APLICAÇÃO DE ANALOGIA IN MALAM PARTEM PARA COMPLEMENTAR A 
NORMA. INADMISSIBILIDADE. OBEDIÊNCIA A O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL 
DA ESTRITA LEGALIDADE PENAL. PRECEDENTES. O assistente de acusação 
tem legitimidade para recorrer de decisão absolutória nos casos em que o 
Ministério Público não interpõe recurso. Decorrência do enunciado da 
Súmula 210 do Supremo Tribunal Federal. O sinal de TV a cabo não é 
energia, e assim, não pode ser objeto material do delito previsto no 
art. 155, § 3º, do Código Penal. Daí a impossibilidade de se equiparar o 
desvio de sinal de TV a cabo ao delito descrito no referido dispositivo. 
Ademais, na esfera penal não se admite a aplicação da analogia para suprir 
lacunas, de modo a se criar penalidade não mencionada na lei (analogia in 
malam partem), sob pena de violação ao princípio constitucional da estrita 
legalidade. Precedentes. Ordem concedida.” (HC 97261, Relator (a): Min. 
JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 12/04/2011, DJe-081 
DIVULG 02-05-2011 PUBLIC 03-05-2011 EMENT VOL-02513-01 PP-00029 RTJ 
VOL-00219- PP-00423 RT v. 100, n. 909, 2011, p. 409-415). 
 
23 ESTEFAM, André; GONÇALVES, Victor E. Rios. Direito Penal Esquematizado. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 179. 
24 Art. 155. Subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel: (...) 
§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. 
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11756866/artigo-35-da-lei-n-8977-de-06-de-janeiro-de-1995
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/110300/lei-8977-95
DIREITO PENAL 
24 
 
 
 
A posição consagrada pelo STF não vem sendo seguida pelo STJ, consoante se conclui do 
julgado abaixo colacionado: 
“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CAPTAÇÃO IRREGULAR DE 
SINAL DE TELEVISÃO A CABO. ALEGADA ATIPICIDADE DA CONDUTA. 
AUSÊNCIA DE DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA. NECESSIDADE DE PROVA 
PRÉ-CONSTITUÍDA. EQUIPARAÇÃO À ENERGIA ELÉTRICA. POSSIBILIDADE. 
RECURSO IMPROVIDO. 1. Não há na impetração a cópia da denúncia 
ofertada contra os recorrentes, documentação indispensável para análise da 
alegada atipicidade da conduta que lhes foi atribuída. 2. O rito do habeas 
corpus pressupõe prova pré-constituída do direito alegado, devendo a parte 
demonstrar, de maneira inequívoca, por meio de documentos que 
evidenciem a pretensão aduzida, a existência do aventado constrangimento 
ilegal suportado pelo paciente. 3. Assim não fosse, tomando-se por base 
apenas os fatos relatados na inicial do mandamus impetrado na origem e no 
aresto objurgado, não se constata qualquer ilegalidade passível de ser 
remediada por este Sodalício, pois o sinal de TV a cabo pode ser equiparado 
à energia elétrica para fins de incidência do artigo 155, § 3º, do Código 
Penal. Doutrina. Precedentes. 4. Recurso improvido.” (RHC 30847/RJ, Rel. 
Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 20/08/2013, DJe 
04/09/2013). 
 
 
 
 
RESUMINDO: 
Como caracterizar a conduta de interceptação clandestina de sinal de TV a cabo? 
 Supremo Tribunal Federal: conduta atípica, inadmitindo a analogia in malam 
partem (HC97261). 
 
 Superior Tribunal de Justiça: caracteriza-se como furto simples, a partir da 
interpretação do art. 155, § 3º, CP (RHC 30847/RJ). 
 
 
 
 ANALOGIA IN BONAM PARTEM 
O recurso à analogia, com aplicação de regra semelhante para caso não regulado 
expressamente pelo legislador, é admitida quando favorável ao réu, restringindo o poder 
punitivo do Estado. 
 
A analogia em benefício do réu é muitas vezes necessária para que não se chegue a 
soluções absurdas a casos semelhantes. Portanto, se não é punível a subtração de coisa 
comum fungível, cujo valor não exceda a quota a que tem direito o agente (art. 156, CP), 
igualmente não poderá ser punível o dano de coisa comum fungível nas mesmas 
circunstâncias. 
 
A admissão da analogia in bonam partem e a vedação da analogia in malam partem 
segue uma tendência geral do Direito Penal de sempre, no conflito entre a liberdade individual 
e o poder de punir do Estado, privilegiar a primeira. 
 
DIREITO PENAL 
25 
 
 
 APLICAÇÃO ANALÓGICA DA LEI PENAL 
Admite-se, entretanto, a chamada “aplicação analógica da lei penal”, que ocorre 
quando a própria lei penal autoriza a aplicação de uma regra a casos semelhantes, 
normalmente após um rol exemplificativo. É o que ocorre, por exemplo, no art. 121, § 2º, I, CP, 
segundo o qual o homicídio é qualificado se é cometido “mediante paga ou promessa de 
recompensa, ou por outro motivo torpe”. Ou seja, paga e promessa de recompensa são 
exemplos dados pela lei de motivos torpes, entretanto a lei autoriza o julgador a considerar 
qualificado o homicídio se houver outra motivação torpe, semelhante a essas duas. 
 
 ANALOGIA E PROCESSO PENAL 
A utilização da analogia é comumente admitida no processo penal. O art. 3º,CPP, dispõe 
que: 
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação 
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito. 
 
 
 APLICAÇÃO DA LEI PENAL 
 LEI PENAL NO TEMPO 
 CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO 
Visto o tema da vigência da lei penal, e considerados os princípios da legalidade, 
anterioridade e irretroatividadeda lei penal, com exceção da mais benéfica, é chegado o 
momento de examinar os casos de sucessão de leis penais ou conflito de leis penais no tempo, 
à luz daqueles mesmos princípios. 
 
De considerar, ainda, na matéria, o art. 2º, CP: 
Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória. 
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-
se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada 
em julgado. 
 
Visto isso, podem ser antevistas as seguintes situações: 
 
Situação Conceito Efeito Fundamento 
Lei descriminadora ou 
abolitio criminis 
Lei nova que deixa 
de considerar o fato 
como crime 
Retroativo, 
incluindo 
processos em fase 
de execução penal 
arts. 5º, XL, CF, 2º e 
107, III, CP, e 66, I, LEP 
Novatio legis in 
mellius 
Lei nova que 
favorece o agente. 
Retroativo, 
incluindo 
processos em fase 
de execução 
penal. 
arts. 5º, XL, CF, 2º e 
107, III, CP, e 66, I, LEP 
DIREITO PENAL 
26 
 
 
Lei nova 
incriminadora. 
Tipifica uma 
conduta que não 
era considerada 
criminosa. 
Limitado aos fatos 
posteriores a sua 
entrada em vigor 
arts. 5º, XXXIX, CF, e 
art. 1º, CP 
Novatio legis in pejus 
Lei nova que 
desfavorece o 
agente, 
aumentando, por 
exemplo, o prazo 
prescricional ou o 
tempo necessário 
para a obtenção de 
progressão de 
regime (Lei 
11.464/07). 
Limitado aos fatos 
posteriores a sua 
entrada em vigor 
arts. 5º, XXXIX, CF e 
art. 1º, CP 
 
Não há abolitio criminis quando sobrevém lei nova que dá nova disciplina à matéria, 
mantendo, na essência, a proibição da prática das condutas, embora revogue expressamente a 
lei anterior. Assim, os crimes de tóxicos ocorridos na vigência da Lei 6.368/76 não deixaram de 
ser fatos criminosos em virtude da revogação daquela lei pela superveniência da Lei 
11.343/06, que manteve, em essência, a proibição daquelas condutas. Em casos tais, deve ser 
aplicada a lei anterior em relação aos fatos ocorridos na sua vigência, e a lei nova para os 
fatos ocorridos após a sua entrada em vigor. Afirmar o contrário seria admitir que, com a 
entrada em vigor de um novo Código Penal, a revogação do anterior implicaria em 
descriminação de todos os fatos criminosos ocorridos na vigência do diploma anterior, embora 
as condutas continuem sendo proibidas. Assim também quando a alínea d do art. 95, Lei 
8.212/91, foi substituída pelo art. 168-A, CP, quando foi reconhecida, igualmente, a 
continuidade normativo-típica (STF, RHC 88144, Grau, 2ª. T., u., 4.4.06). 
 
Como se vê: 
1. A lei penal não retroage, exceto em favor do réu; 
2. A lei penal mais favorável tem então, efeito ultrativo, pois continua sendo aplicável 
aos fatos ocorridos durante sua vigência, que não são alcançados pela lei nova mais 
prejudicial. 
 
a) Crimes Permanente e Continuado 
É de ver que, nos termos da Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao 
crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da 
continuidade ou da permanência”. O fundamento da súmula é o fato de que o acusado 
perseverou na prática criminosa, embora advertido da nova penalidade cominada, de modo 
que não haveria, aí, ofensa ao princípio da anterioridade. 
 
 b) Combinação de Leis 
Predomina o entendimento de que não é permitida, nem mesmo em favor do acusado, 
a combinação de dispositivos de leis diversas, com a criação de uma terceira norma (lex tertia) 
por representar violação aos princípios da legalidade, da anterioridade da lei penal e da 
separação de poderes (STF, CJ 5195, Gallotti, Pl., 3.6.70; STF, HC 96844, Barbosa, 2ª. T., u., 
4.12.09). 
 
DIREITO PENAL 
27 
 
 
 Nesse sentido a Súmula 501/STJ: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 
11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais 
favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a 
combinação de leis”. 
 
c) Leis Excepcionais ou Temporárias 
As leis excepcionais ou temporárias seguem sendo aplicadas mesmo depois de 
decorrido seu período de vigência, sendo dotadas de ultratividade, como preceitua o art. 3º, 
CP, do seguinte teor: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua 
duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado 
durante sua vigência”. 
 
A lei excepcional é aquela publicada em razão de uma circunstância específica, como 
guerra, estado de sítio, calamidade pública, estando destinada, portanto, a uma vigência 
temporária, determinada pela persistência, ou não, das circunstâncias que determinaram sua 
aplicação. 
 
A lei temporária é aquela que já traz em seu texto a previsão do período da sua 
aplicação, não sendo necessária lei nova para revogá-las. Ex.: Lei Geral da Copa do Mundo de 
2014 (Lei 12.663/12). 
 
Em ambos os casos, a lei segue sendo aplicável depois de sua vigência, pois, do 
contrário, seria despida de qualquer efeito coercitivo, uma vez que todos saberiam de 
antemão da impossibilidade de sua aplicação com a cessação do prazo de vigência ou das 
circunstâncias excepcionais que autorizaram sua publicação. 
 
d) Norma Penal em Branco 
Em caso de alteração do complemento da norma penal em branco, a modificação 
acidental do complemento não implica descriminação, como no caso da revogação ou 
alteração da tabela de preços em caso de crime contra a economia popular caracterizado pela 
violação do tabelamento (STF, RE 80544, Cordeiro Guerra, 2ª. T., 29.4.75). Quer dizer, somente 
haverá revogação se a modificação for essencial, como segue: “Em princípio, o artigo 3º do CP 
se aplica a norma penal em branco, na hipótese de o ato normativo que a integra ser revogado 
ou substituído por outro mais benéfico ao infrator, não se dando, portanto, a retroatividade. - 
Essa aplicação só não se faz quando a norma, que complementa o preceito penal em branco, 
importa real modificação da figura abstrata nele prevista ou se assenta em motivo 
permanente, insusceptível de modificar-se por circunstâncias temporárias ou excepcionais, 
como sucede quando do elenco de doenças contagiosas se retira uma por se haver 
demonstrado que não tem ela tal característica” (STF, HC 73168, M. Alves, 1ª. T., u., 21.11.95). 
 
e) Jurisprudência 
Não há direito subjetivo à ultratividade da jurisprudência mais favorável, podendo ser 
aplicada o entendimento mais rigoroso aos casos julgados, ainda que a nova orientação tenha 
se firmado depois da prática do fato (STJ, RE 113.601, M. Alves, 12.6.87; STF, HC 75793, 
Pertence, 1ª. T., u., 31.3.98). 
 
Não assim, porém, quando a mudança é firme, como nos casos em que o STF publica ou 
revoga uma súmula, ou declara a inconstitucionalidade de uma regra legal desfavorável, casos 
em que a aplicação aos casos anteriores é imperativa, sob pena de violação do princípio da 
DIREITO PENAL 
28 
 
 
igualdade. Assim ocorreu, por exemplo, com a determinação de que os condenados por crime 
hediondo cumprissem a pena em regime integralmente fechado, ainda que já tenha ocorrido o 
trânsito em julgado (STF, RE 534343, Peluso, 2ª. T., u., 16.12.08). 
 
f) Lei Processual Penal 
A lei processual penal tem incidência imediata, podendo ser aplicada aos processos 
relativos a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor, ainda que desfavorável, nos temos 
do disposto no art. 2º do CPP, como é o caso da lei que aumenta os valores da fiança (STF, 
ARE 644.850-ED, Mendes, 18.10.11). 
 
No entanto, se o dispositivo legal for de caráter misto, contendo normas de direito 
material e processual, prevalecerá a parte penal, ainda que desfavorável, de modo que o 
dispositivo somente será aplicado a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor, como 
decidido em relação à alteração do art. 366 do CPP (STF, HC 83.864, Pertence, 1ª. T., 20.4.04). 
 
g) Regra Constitucional 
A regraconstitucional, ainda que disponha sobre matéria penal, como é o caso da 
previsão de perda dos direitos políticos aos condenados imposta pelo inc. III do art. 15 da CF 
aplica-se retroativamente (STF, RE 418.876, Pertence, 1ª. T., 30.3.04). 
 
h) Norma Extradicional 
As normas que regulam a extradição, veiculadas por lei nacional ou tratado 
internacional, aplicam-se mesmo a fatos anteriores a sua entrada em vigor, pois não tem 
natureza material (STJ, Ext 864, Pertence, Pl., 18.6.03). 
 
 DO TEMPO DO CRIME 
 De acordo com o art. 4º, CP: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou 
omissão, ainda que outro seja o momento do resultado”. Como se vê, foi adotada 
expressamente a chamada teoria da atividade, segundo a qual se considera praticado o crime 
no momento da conduta, não importando o momento do resultado. O fundamento dessa 
teoria é a assertiva de que a norma penal atuaria como desestímulo psicológico ao crime, o 
que dar-se-ia no momento da ação e não por ocasião do resultado. 
 
Em caso de crime continuado (art. 171, CP), em que vários fatos são considerados como 
crime único, por ficção legal, considera-se como tempo do crime o período de todas as ações, 
o que dá fundamento à já mencionada Súmula 711/STF. 
 
De notar, porém, que o termo inicial da prescrição é o momento da consumação (art. 
111, I, CP). 
 
 CONTAGEM DO PRAZO 
De acordo com o art. 10, CP: “O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-
se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum”. 
 
Quer dizer, em questões de direito penal material, como, por exemplo, a prescrição, o 
prazo é contado incluindo-se o dia do começo, ao contrário do que se dá no processo penal, 
DIREITO PENAL 
29 
 
 
conforme disposto no art. 798, § 1º, CPP, como segue: “Não se computará no prazo o dia do 
começo, incluindo-se, porém, o do vencimento”. 
 
 CONFLITO APARENTE DE NORMAS PENAIS 
São frequentes os casos em que, à primeira vista, parece possível a aplicação de mais de 
uma norma penal, ambas em vigor, de modo a afastar a possibilidade de conflito de leis no 
tempo, marcado pela revogação, expressa ou tácita, de uma das normas, ou seja, por um 
conflito real de normas. O conflito aparente de normas penais deverá ser resolvido com base 
nos princípios adiante examinados. 
 
a) Princípio da Especialidade 
O princípio da especialidade pode ser assim resumido: a lei especial afasta a aplicação 
da geral (lex specialis derogat legi generalis). Uma norma é especial quando reúne os 
elementos da norma geral, acrescido de outros, chamados especializantes. Assim, por 
exemplo, o ato de “Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu 
relacionamento, para juntos a consumirem” (art. 33, § 3º, Lei 11343/06), é especial em relação 
ao delito do art. 33, caput, da mesma lei. 
 
b) Princípio da Subsidiariedade 
Uma norma é considerada subsidiária quando a conduta nela prevista integra o tipo da 
principal, caso em que somente esta será aplicada. A subsidiariedade pode ser expressa, 
quando a própria norma condicionar a sua aplicação à inocorrência da modalidade mais grave 
(ex.: art. 132, CP) ou tácita, quando o fato previsto em uma norma figurar como elemento 
componente, majorante ou meio prático de execução de outra figura mais grave. 
 
c) Princípio da Consunção 
O princípio da consunção é aplicado quando um crime é considerado meio (crime-meio) 
para o cometimento de outro (crime-fim), sendo aquele absorvido. 
 
Não há absorção, em regra, quando os tipos em conflito aparente protegem bens 
jurídicos diversos, como é o caso do porte ilegal de arma e quadrilha, que tutelam, 
respectivamente, a incolumidade e a paz públicas (STF, RHC 83447, Mello, 2ª. T., u., 17.2.04). 
 
Nesse sentido a Súmula 17/STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais 
potencialidade lesiva, é por este absorvido”. 
 
d) Princípio da Alternatividade 
O princípio da alternatividade é aplicado quando, conforme o caso concreto, uma ou 
outra norma penal podem ser aplicadas. É o que se dá, por exemplo, em relação aos delitos de 
falsificação (arts. 297-299, CP) e uso de documento falso (art. 304,CP), que é punível 
independentemente de determinação da autoria da falsificação, que é prova difícil de ser 
produzida. Os delitos têm uma relação de alternatividade. Quer dizer, ainda que não seja 
comprovada a autoria da falsificação, mas exista prova da utilização, a conduta será típica. 
 
 LEI PENAL NO ESPAÇO 
 LOCAL DO CRIME 
DIREITO PENAL 
30 
 
 
O CP adotou a teoria da ubiqüidade, quanto ao local do crime, como se vê da leitura do 
art. 6º, CP: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no 
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. 
 
Adotada essa teoria, fica resolvido o problema dos crimes à distância, ou seja, aqueles 
nos quais a ação se dá em lugar diferente daquele do resultado, como no exemplo da carta-
bomba. Em tais casos, considera-se local do crime tanto o local da ação quanto aquele do 
resultado, concreto ou buscado pelo agente. 
 
Desse modo, aplica-se a lei brasileira se o crime, de algum modo, tocou o território 
nacional, como nos casos seguintes: 
1. Latrocínio em que a vítima foi sequestrada no Brasil e morta no exterior, tendo sido 
subtraídos seus bens (STJ, HC 41892, Limaa, 5ª. T., 2.6.05); 
2. De uso de passaporte português falso perante o controle de fronteiras do Brasil 
visando o ingresso nos EUA, onde a fraude foi detectada (STJ, CC 119645, Reis, 3ª. S., 
28.3.12). 
 
 TERRITORIALIDADE 
O princípio de direito penal internacional usualmente adotado é o da territorialidade da 
lei penal, que é aplicada, em regra, aos crimes cometidos no território de cada País (STF, Ext 
1077, C. Lúcia, Pl., u., 20.6.07; STJ, HC 231633, Mussi, 5ª. T., 25.11.14), o que decorre da 
própria noção de soberania nacional, bem como de respeito à soberania dos demais países, os 
quais, usualmente, também aplicarão a sua própria lei a fatos ocorridos em seus respectivos 
territórios nacionais. Além disso, haveria dificuldades para investigar e aplicar a lei penal de 
um país a fatos ocorridos fora do seu território. É esse o critério adotado no Brasil, como deixa 
claro o art. 5º, CP. 
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de 
direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 
 
Quer dizer, como regra geral, aplica-se a lei brasileira ao crime cometido em território 
nacional, independentemente da nacionalidade do autor ou da vítima, bem como dos bens 
jurídicos envolvidos. 
 
Além de estabelecer a aplicabilidade da lei brasileira aos crimes cometidos em território 
nacional, o dispositivo delimita o conceito de território nacional para fins penais. 
 
Conforme o art. 1º, Lei 8.617/93: “O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de 
doze milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental 
e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no 
Brasil”. 
 
Quanto ao espaço aéreo, o Brasil adota a teoria da absoluta soberania em relação ao 
espaço sobrejacente ao território nacional e ao mar territorial, como se vê dos seguintes 
dispositivos legais: 
Código Brasileiro de Aeronáutica - Lei 7565/86/Art. 11. O Brasil exerce completa e 
exclusiva soberania sobre o espaço aéreo acima de seu território e mar territorial. 
 
Lei 8.617/93/Art. 2º. A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço 
aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo. 
DIREITO PENAL 
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Com relação às aeronaves, assim dispõe o art. 3º do Código Brasileiro de Aeronáutica: 
Art. 3º Consideram-se situadas no território do Estado de sua nacionalidade: 
I - as aeronaves militares, bem como as civis de propriedade ou a serviço do Estado, 
por este diretamente utilizadas (artigo 107, §§ 1º e 3º); 
II - as aeronaves de outra

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