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Atividade avaliativa Direito Adm

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ – PUCPR
CURSO DE DIREITO – 9° PERÍODO – NOTURNO
DIREITO ADMINISTRATIVO I
CLAUDINÉIA HOINATZ
ATIVIDADE AVALIATIVA – PARECER JURÍDICO
TOLEDO
2020
PARECER JURÍDICO N°
Assunto: Decreto n° 59.298, de 23 de março de 2020.
Protocolo: XXXX
Ementa: Suspende o atendimento presencial ao público em estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços.
Autor do Decreto: Prefeitura do Município de São Paulo.
Parecer/Conclusão: Pela legalidade e validade.
Ilustríssimo Sr. Prefeito Bruno Covas:
I – RELATÓRIO
O município de São Paulo, pelo chefe do executivo municipal, expediu decreto n° 59.298, de 23 de março de 2020, determinando medidas restritivas à circulação e reunião de pessoas, bem como do funcionamento de atividades empresariais com potencial para estimular aglomerações.
Ao mesmo tempo passou a fiscalizar aglomerações e utilização de espaços públicos, determinando à guarda municipal atuação repressiva de tais comportamentos.
Diante disso, solicitou o prefeito, a manifestação da assessoria jurídica acerca da legitimidade e validade do referido decreto.
É o relatório.
II – PARECER/FUNDAMENTAÇÃO
Como é cediço, estamos em meio a uma pandemia mundial, como tal já reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS)[footnoteRef:1], em decorrência da doença causada pelo COVID-19, ou como também é conhecido, pelo novo coronavírus. A situação de emergência, vem exigindo dos governantes, a adoção de medidas urgentes e eficazes, além de políticas públicas na área da saúde e economia, visando a assegurar o direito à saúde, alimentação e demais direitos sociais e econômicos. [1: Fonte: <https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/03/11/proliferacao-de coronavirus-leva-oms-a-declarar-pandemia.htm>.] 
Neste passo, o Município de São Paulo, em 23 de março do corrente ano, editou o decreto 59.298, adequado para lidar com as consequências da disseminação da doença, consignando a suspensão do atendimento presencial ao público em estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços.
· Quanto a competência, observado o art. 84 da CRFB sob a ótica da simetria.
Em regra, conforme o disposto pelo artigo 84, inciso IV, da Constituição Federal, os decretos para sua fiel execução, são de competência privativa, do Presidente da República.
 No entanto, a garantia da simetria, afim de assegurar a convivência harmônica entre a União e os Estados Membros, nos remete a ideia de que os Estados Membros, quando no exercício de suas competências autônomas, devem adotar modelos normativos que são constitucionalmente estabelecidos para a União, mesmo que esses não tenham sido lhes direcionado.
Não obstante, a Constituição Federal, em seu artigo 23, inciso II, estabeleceu que “é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência. ” 
Assim, entende-se que a tutela da saúde é um tema de competência comum, isto é, um assunto que não cabe com exclusividade a apenas um dos entes federativos, mas de modo compartilhado. 
No tocante a este assunto, recentemente o Supremo Tribunal Federal, julgou pedido liminar (ADPF nº. 672)[footnoteRef:2], de Relatoria do Ministro Alexandre de Moraes, reconhecendo a competência concorrente dos governos estaduais, distrital e municipais, vejamos: [2: Fonte: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF672liminar.pdf>.] 
[...] não compete ao Poder Executivo federal afastar, unilateralmente, as decisões dos governos estaduais, distrital e municipais que, no exercício de suas competências constitucionais, adotaram ou venham a adotar, no âmbito de seus respectivos territórios, importantes medidas restritivas como a imposição de distanciamento/isolamento social, quarentena, suspensão de atividades de ensino, restrições de comércio, atividades culturais e à circulação de pessoas, entre outros mecanismos reconhecidamente eficazes para a redução do número de infectados e de óbitos, como demonstram a recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde) e vários estudos técnicos científicos (...) Presentes, portanto, a plausibilidade inequívoca de eventual federativo e os evidentes riscos sociais e à saúde pública com perigo de lesão irreparável, CONCEDO PARCIALMENTE A MEDIDA CAUTELAR na arguição de descumprimento de preceito fundamental, ad referendum do Plenário desta SUPREMA CORTE, com base no art. 21, V, do RISTF, para DETERMINAR a efetiva observância dos artigos 23, II e IX; 24, XII; 30, II e 198, todos da Constituição Federal na aplicação da Lei 13.979/20 e dispositivos conexos, RECONHENDO E ASSEGURANDO O EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA CONCORRENTE DOS GOVERNOS ESTADUAIS E DISTRITAL E SUPLEMENTAR DOS GOVERNOS MUNICIPAIS, cada qual no exercício de suas atribuições e no âmbito de seus respectivos territórios, para a adoção ou manutenção de medidas restritivas legalmente permitidas durante a pandemia, tais como, a imposição de distanciamento/isolamento social, quarentena, suspensão de atividades de ensino, restrições de comércio, atividades culturais e à circulação de pessoas, entre outras; INDEPENDENTEMENTE DE SUPERVENIENCIA DE ATO FEDERAL EM SENTIDO CONTRÁRIO, sem prejuízo da COMPETÊNCIA GERAL DA UNIÃO para estabelecer medidas restritivas em todo o território nacional, caso entenda necessário. (STF – ADPF N° 672. Julgado em 8 de abril de 2020. Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES) (Grifo nosso) [...]
Desse modo, tem-se que o Decreto Municipal 59.298, expedido pelo chefe do executivo de São Paulo, não invade a competência de outras entidades da federação. Sendo essencial e imprescindível o fortalecimento da união e a ampliação de cooperação entre os três poderes, no âmbito de todos os entes federativos, na atual situação triste pela qual estamos passando. 
· Quanto as liberdades fundamentais previstas no art. 5º CRFB
Diante de toda essa calamidade pública, por conta do coronavírus (covid-19), os governos em seus atos administrativos para o combate e enfrentamento da doença, acabaram por restringir alguns direitos fundamentais das pessoas, como da locomoção (art.5º, XV), reunião (art.5º, XVI), o exercício de atividade profissional (art.5º, XIII), e até mesmo o direito de propriedade (art.5º, "caput" e XXII e XXIII).
Não é diferente com o presente decreto, pois o mesmo acaba por limitar os direitos acima citados. Lamentável, mas é de extrema necessidade coletiva, pois a dignidade da pessoa humana, o direito à vida e o direito a saúde, são predominantes quanto aos outros direitos fundamentais, e cabe ao Estado, assegurá-los e preservá-los.
Importante mencionar, que essas medidas administrativas, além de temporárias e excepcionais, são razoáveis e proporcionais, não extrapolando o necessário para atender ao interesse público demandado no caso concreto.
Nesse sentido, discorre Maria di Pietro[footnoteRef:3]: [3: .DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 32 ed. São Paulo. Forense, 2019.] 
Para resolver esse conflito, invoca-se o princípio da proporcionalidade (em sentido amplo), que exige observância das regras da necessidade, adequação e proporcionalidade (em sentido estrito). Por outras palavras, a medida deve trazer o mínimo de restrição ao titular do direito, devendo preferir os meios menos onerosos (regra da necessidade); deve ser apropriada para a realização do interesse público (regra da adequação); e deve ser proporcional em relação ao fim a atingir (regra da proporcionalidade em sentido estrito).
· Quanto aos princípios da administração previstos no art. 37 da CRFB.
Em relação a compatibilidade do ato administrativo com os princípios basilares da administração públicas, dispostos no caput do art. 37 da CF, sendo eles: o princípio da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, não há qualquer violação a se discutir.
A respeito da legalidade para expedição do decreto, foram observadas várias normativas: Lei nº 13.725, de 9 de janeiro de 2004; Lei Federal nº 13.979, de6 de fevereiro 2020; Portaria MS nº 356, de 11 de março de 2020; o Decreto Federal nº 10.282, de 20 de março de 2020; e o Decreto Estadual nº 64.881, de 22 de março de 2020.
Não há qualquer interesse pessoal no ato administrativo, pois o decreto faz parte da execução de medidas que visem a atenuação dos efeitos causados pela pandemia, podendo, dentre as hipóteses legais e moralmente admissíveis, escolher aquelas que entender como as melhores para o interesse público.
Ademais, o chefe do executivo com base em normativas e estudos técnicos, está se empenhando para obter o melhor resultado possível (eficiência), com o fim de reduzir os evidentes riscos sociais a saúde dos moradores de São Paulo. Publicado o decreto no órgão oficial, dá-se por atendido o princípio da publicidade.
No que concerne aos atributos dos atos administrativos e da discricionariedade, temos a presunção de legitimidade, a imperatividade ou coercibilidade, a exigibilidade e a autoexecutoriedade. 
De acordo com os ensinamentos de Alexandre Mazza[footnoteRef:4], a discricionariedade é a liberdade que o agente público tem para tomar uma decisão, obviamente que dentro dos limites legais. No caso, o chefe do executivo ao expedir o decreto, poderia adotar uma, algumas ou todas as medidas previstas na Lei Federal nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, o qual adotou as que julgou pertinentes frente a particularidade local. Já a autoexecutoriedade confere a própria administração pública através de seus próprios meios, afastar violação jurídica, até mesmo com o uso de força, porque é dispensada autorização judicial, sendo então, totalmente válidas, as disposições contidas no art. 5° e 6°, ao dispor sobre a execução e fiscalização do cumprimento do decreto. [4: MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2019.] 
Ainda seguindo as lições de Mazza, a coercibilidade, são as medidas adotadas pela Administração Pública para exercer o poder de polícia, inclusive admite-se o uso da força, quando o infrator resiste, permitindo que o decreto municipal imponha obrigações a serem respeitadas para o enfrentamento do coronavírus, independente da anuência dos cidadãos, considerando que a vida deve ser colocada em primeiro lugar. Também, a exigibilidade do ato administrativo confere legitimidade para a imposição de restrições de comércio e de circulação, independentemente de autorização judicial tendo em conta a situação de emergência.
· Quanto aos elementos do presente ato administrativo, dispostos na lei 4.717/65.
Finalmente, e não menos importante, se faz viável uma breve análise da Lei Federal nº 4.717/85, mais especificamente sobre o que dispõe o art. 2° da referida lei, afim de demonstrar que o decreto em discussão não possui qualquer vício passível de nulidade:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
 a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Como demonstrado anteriormente, o Município de São Paulo é competente, e nos termos do art. 69 e 70 da Lei Orgânica Municipal de São Paulo, atende aos critérios da formalidade para expedição do decreto.
Quanto ao objeto do decreto, pretende o chefe do executivo proteger a vida, saúde e bem-estar dos seus munícipes, sendo por óbvio, legal. A existência dos motivos, giram em torno da mobilização para conter e superar a pandemia sanitária causada pela proliferação do coronavírus.  
Por fim, não há qualquer desvio de finalidade, tendo em conta a necessidade de imposição de medidas eficazes para a redução do número de infectados e de óbitos, por conta dessa doença que assola o mundo, sendo inclusive, recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde).
É o parecer.
III – CONCLUSÃO
Diante do exposto, entende-se ter restado devidamente demonstrada a legalidade e validade do Decreto n° 59.298, de 23 de março de 2020, de autoria do Poder Executivo do Município de São Paulo, e, portanto, apto a produzir todos seus efeitos. 
São Paulo, 30 de abril de 2020.
Claudinéia Hoinatz
Procuradora Municipal – OAB/SP XXXXXX

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