Buscar

Obrigações Complexas: Compostas, Divisíveis e Indivisíveis

Prévia do material em texto

Aula45 - Luciano Masson - Obrigações Complexa
1. INTRODUÇÃO
Nesta aula, será dado prosseguimento ao estudo acerca do Direito Civil: Obrigações compostas, Obrigações Divisíveis e Indivisíveis.
2. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
2.1 OBRIGAÇÕES QUANTO A COMPLEXIDADE
As obrigações compostas ou complexas poderão ser:
(a) subjetivamente complexas, quando, na mesma relação obrigacional, há mais de um credor ou mais de um devedor.
2.1.1 OBRIGAÇÕES QUANTO À COMPLEXIDADE DO OBJETO
Trata-se da existência ou não de uma ou mais prestações decorrentes do mesmo vínculo obrigacional, acerca da qual se estabelece a seguinte classificação:
1. Obrigações Simples: em que há única prestação;
2. Obrigações Compostas: quando há pluralidade de prestação no âmbito de uma única obrigação, por exemplo, do mesmo contrato. Nesse sentido, as obrigações compostas, podem ser (a) cumulativa ou conjuntiva, ou (b) alternativa ou disjuntiva, sobre as quais observe as seguintes considerações.
OBRIGAÇÃO COMPOSTA OBJETIVA CUMULATIVA OU CONJUNTIVA
Nesse âmbito, em se tratando de obrigação cumulativa ou conjuntiva, é necessário que o sujeito passivo cumpra todas as prestações pactuadas, sendo caracterizada, portanto, pela conjunção "E". Contudo, tal espécie de obrigação não se encontra prevista no Código Civil, embora não haja ilicitude em convenção semelhante. Como exemplo, citam-se os art, 22 e 23 da Lei 8.245/91 (Lei de Locações), os quais estabelecem obrigações do locador e do locatário.
OBRIGAÇÃO COMPOSTA OBJETIVA ALTERNATIVA OU DISJUNTIVA
Tal modalidade é disciplinada pelos art. 252 a 256 do Código Civil, e abrange duas ou mais prestações, que podem ser de espécies diferentes (pintar o muro ou entregar os materiais, por exemplo), e sobre as quais recai uma escolha, de modo que o devedor poderá cumprir uma ou outra. Tal obrigação, portanto, é caracterizada pela conjunção "OU".
Ademais, nesse âmbito, ocorre a concentração, prevista no art. 252 do Código Civil, a qual consubstancia-se em ato unilateral do devedor, salvo disposição em sentido contrário. Com a escolha, a obrigação alternativa torna-se obrigação simples, com único objeto.
Percebe-se, nesse âmbito, a aplicação do favor debitoris, o qual pontua que, sobre o devedor, enquanto parte mais fraca da relação obrigacional, que deverá cumprir a prestação, recairá o ônus da escolha. Acerca da matéria, observa-se disposição do art. 252 do Código Civil:
Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.
§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.
O §1º determina a prestação de forma integral, de modo que numa obrigação alternativa de entregar 100 sacas de café ou 100 sacas de soja, por exemplo, o credor não pode ser compelido a receber 50 sacas de café e 50 sacas de soja. Ademais, o §2 possibilita o ato de concentração em cada opção nas obrigações periódicas, ou seja, a escolha do devedor em cada período.
Por sua vez, os §§ 3º e 4º determinam que a escolha será feita pelo juiz nos seguintes casos:
· pluralidade de optantes e ausência de consenso entre eles;
· quando o terceiro não realiza a concentração no prazo previsto.
Além disso, o art. 800 do Código de Processo Civil trata da ausência de escolha pelo devedor, em obrigações alternativas, nos seguintes termos:
Art. 800. Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, esse será citado para exercer a opção e realizar a prestação dentro de 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado em lei ou em contrato.
§ 1º Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercer no prazo determinado.
§ 2º A escolha será indicada na petição inicial da execução quando couber ao credor exercê-la.
Quando o ato de concentração não é praticado pelo devedor, o credor poderá ajuizar ação, sendo aquele citado para, no prazo de 10 dias, efetuar a escolha e consequente cumprimento da obrigação. Nesse caso, mantendo-se inerte o devedor, ao credor será conferida a possibilidade de escolha, no mesmo período.
2.2. OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS
Previstas nos art. 257 a 263 do Código Civil, tais obrigações pressupõem multiplicidade de sujeitos e unidade de obrigação, e dispõem como consequência a percepção integral da prestação por único credor, o qual deverá indenizar monetariamente os demais credores. Ocorre, por exemplo, quando dois irmãos são credores de um relógio.
O art. 257 do Código Civil conceitua divisibilidade nos termos seguintes:
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.
Logo, o credor somente poderá exigir sua quota e o devedor só responde pelo seu quinhão, de modo que a prestação será rateada, ou seja, dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos aos credores ou devedores. A título de exemplo, observa-se o seguinte caso:
· A e B são credores de R$ 100,00, dos quais é devedor D. Tal obrigação, salvo disposição em sentido contrário, deverá ser quitada nos seguintes moldes:
Em síntese, portanto, na obrigação divisível o objeto é fracionável, o que a doutrina denomina de concurso partes fiunt. São exceções, todavia, ao rateio proporcional a (a) indivisibilidade e a (b) solidariedade.
Recebe todo relógio e devera indenizar outro irmão 
Ademais, a divisibilidade expressa as seguintes consequências jurídicas:
· o credor só exige a sua fração;
· o devedor só responde patrimonialmente por sua cota;
· a quitação de um dos credores não atinge a participação dos demais. Desse modo, no exemplo anterior, a quitação de "A" não exonera "D" de pagar os R$ 50,00 devidos a "B" ;
Portanto, a divisibilidade poderá ser das seguintes espécies:
a) ativa, quando há mais de um credor;
b) passiva, quando há mais de um devedor;
c) mista, quando há, simultaneamente, pluralidade de credores e devedores;
Em contrapartida, as obrigações indivisíveis são conceituadas pelo art. 258, do Código Civil, ipsis litteris:
Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.
Logo, na obrigação indivisível, o objeto é coisa ou fato insuscetível de divisão, em virtude da (a) natureza da obrigação, (b) da vontade da partes, ou (c) da lei (ex. módulo rural legal). Consoante ao art. 259 do Código Civil, cada devedor é obrigado pela totalidade do débito, de modo que poderá ser demandado e responsabilizado patrimonialmente sozinho.
Por exemplo, quando "A" é credor de um relógio numa obrigação em que são devedores "B" e "C", poderá cobrá-lo, integralmente, de qualquer um dos devedores. Nessas circunstâncias, o parágrafo único, do art. 259, do CC, determina que deverá ocorrer a sub-rogação legal do devedor que quitou a obrigação contra os demais, de modo que "B", que entregou o relógio à "A", poderá exigir de "C" a respectiva quota parte (50% do valor do relógio).
Acerca dos limites da sub-rogação, o art. 350 do Código Civil, determina que deverá ocorrer até a soma que tiver desembolsado para desobrigar o outro devedor, com vistas a afastar o enriquecimento ilícito. Ademais, o art. 260 do Código Civil, pontua que havendo pluralidade de credores de obrigação indivisível, o devedor libera-se (quem paga mal, paga duas vezes) pelo pagamento (a) a todos os credores, ou (b) a um só dos credores, dando esse caução de ratificação dos outros.
Outrossim, havendo dúvida acerca da pessoa do credor ou impossibilidade de quitação por um dos credores, caberá ação de consignaçãojudicial. Em suma, consoante art. 261 do CC, quando um credor receber sozinho a totalidade da prestação, deverá ocorrer rateio monetário entre os demais credores, sob pena de enriquecimento ilícito.
Além disso, a remissão (ato de remir, perdão), conforme art. 262 do CC, não atinge o crédito dos demais credores, todavia, o devedor poderá exigir a devolução proporcional ao perdão recebido. Quando o credor "A", perdoa a dívida, um relógio, o credor "B" poderá exigir o objeto, devendo, contudo, indenizar o devedor da parte remitida por "A".
Por fim, o art. 263 do Código Civil disciplina que a obrigação convertida em perdas e danos transmuda-se de divisível para indivisível. Acerca do tema, observe disposição do Enunciado 540 do CJF/STJ:
Havendo perecimento do objeto da prestação indivisível por culpa de apenas um dos devedores, todos respondem, de maneira divisível, pelo equivalente e só o culpado, pelas perdas e danos.
Sobre a matéria, observa-se as seguintes questões:
QUESTÃO
2018 - TJ-RJ - VUNESP - JUIZ LEIGO
Como modalidades de obrigações, o Código Civil prevê as obrigações de dar, fazer, não fazer, alternativas, divisíveis e indivisíveis e as solidárias. Sobre o tema, assinale as alternativas:
a) Nas obrigações solidárias, a solidariedade pode resultar da lei, da vontade das partes ou de decisão judicial.
b) Nas obrigações de não fazer, praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
c) Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao credor, se outra coisa não se estipulou.
d) A obrigação de dar se divide em dar coisa certa ou incerta. A obrigação de dar coisa incerta abrange os acessórios dela embora não mencionados.
e) A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa não suscetível de divisão por sua natureza, não sendo válida a alegação de ser a coisa indivisível por motivos de ordem econômica.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO
Alternativa A: INCORRETA, na medida em que, nos termos do art. 265 do CC, a solidariedade ou decorre da lei (solidariedade legal) ou da vontade da partes (solidariedade voluntária). Não há solidariedade determinada por decisão judicial.
Alternativa B: CORRETA, consoante art. 251 do Código Civil.
Alternativa C: INCORRETA, visto que, no silêncio das partes, a escolha cabe ao devedor, aplica-se o princípio do favor debitoris (art. 252).
Alternativa D: INCORRETA, pois o princípio da gravitação jurídica aplica-se à obrigação de dar coisa certa, e não na de dar coisa incerta.
Alternativa E: INCORRETA, visto que a coisa pode ser indivisível por razões de ordem econômica, a exemplo do que ocorre com o diamante, conforme art. 258 do Código Civil.
2016 - MA - FCC - PREFEITURA DE SÃO LUIZ - PROCURADOR DO MUNICÍPIO
João deve entregar um colar que vale R$ 300.000,00 a Maria, Paula e Joana, sendo que Maria remitiu o débito. Assim, Paula e Joana exigirão o colar, mas, de outro lado, deverão restituir a João, o montante equivalente ao quantum remitido. Essa situação só pode ocorrer pelo fato de a obrigação em tela ser
a) solidária passiva.
b) subsidiária.
c)indivisível.
d) divisível.
e) solidária ativa.
COMENTÁRIO DA QUESTÃO
Trata-se de obrigação que possui por objeto dar coisa indivisível, em que uma das três credoras perdoou a dívida, de modo que as demais, ao receber o colar, deverão restituir o devedor do quantum remitido. Tem-se, então, obrigação indivisível, nos termos dos arts. 258 e 262 do Código Civil.
1
As quais podem ser aditivas ou alternativas, sendo que, no último caso, o ato de escolha, em regra, caberá ao devedor (que irá cumprir o encargo). Nesse contexto, a doutrina aponta a aplicação do "favor debitoris", de modo que se outorga a possibilidade de escolha ao devedor, salvo previsão em sentido contrário. Ademais, em se tratando de obrigação aditiva, devem ser cumpridas todas as prestações convencionadas.
2
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda. Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.
3
Art. 350. Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão até à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor.
4
Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.
5
Em síntese, tem-se autorização conferida pelos credores, para que apenas um deles receba e dê quitação.
6
Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.
7
Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente. Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão.
Material Complementar
Documento
Aula45_Direito Civil_Obrigações Complexa.pdf
Parabéns, você terminou essa aula!
Para continuar seu estudo prossiga para a próxima aula.
Aula
Direito Civil
Aula46 - Luciano Masson - Das Obrigações Solidárias
Começar

Continue navegando