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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 23ª REGIÃO VARA DO TRABALHO DE BARRA DO GARÇAS ATSum 0000478-02.2019.5.23.0026 RECLAMANTE: JHONNY MACLEITON DA SILVA LOPES RECLAMADO: DIFERRACO INDUSTRIAL FERRO E ACO LTDA-EPP - EPP, S.G. QUINTINO SENTENÇA I. RELATÓRIO Dispensado na forma do art. 852, I, CLT. II. FUNDAMENTAÇÃO CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Pontuo que, no caso dos autos, aplicam-se as alterações promovidas pela Lei 13.467/2017, uma vez que o autor foi contratado após a vigência de tal diploma legal. INCOMPETÊNCIA MATERIAL - CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE SALÁRIOS PAGOS Requer a parte autora seja oficiado Policia Federal, Ministério Público Federal e INSS, para as providências de praxe ao argumento de que houve dedução de valores de INSS no holerite do trabalhador e que os valores não foram repassados à instituição. Sucede que a Justiça do Trabalho possui competência material apenas para executar as contribuições previdenciárias decorrentes das sentenças que proferir, o que não ocorre na hipótese do pedido em questão. Assim, a pretensão de expedição de ofício com relação à ausência de recolhimento das contribuições previdenciárias decorrentes das parcelas já quitadas à parte autora no curso de seu contrato de trabalho é matéria que também ultrapassa os limites da competência da Justiça do Trabalho. Neste sentido, a Súmula n. 368, do TST e Súmula Vinculante n. 53. Em sendo assim, declaro de ofício (art. 337, § 5º do NCPC) a incompetência material e extingo sem resolução do mérito o pedido quanto à expedição de ofícios em razão de sonegação de recolhimentos previdenciários, com fundamento no art. 485, IV, do CPC. MÉRITO DADOS CONTRATUAIS. MOTIVO DA DISPENSA Incontroverso nos autos que o autor foi admitido pela ré em 25/09/2018, tendo laborado como auxiliar de linha de produção, tendo se desligado da empresa em 21/05/2019. A remuneração obreira encontra-se estampada nos holerites adunados aos autos. Alega o autor que foi dispensado sem justa causa. Por sua vez, as rés argumentam que o motivo da dispensa ocorreu por justa causa obreira, aduzindo que "em razão das obrigações da relação de emprego não terem sido cumpridas corretamente pelo reclamante, pois chegava atrasado reiteradamente e faltava ao serviço injustificadamente de forma contínua, provocando prejuízos ao sistema de trabalho nas reclamadas, cometendo infrações que culminaram em várias advertências escritas, num curto período de tempo, isto é, 7(sete) meses de trabalho, o que impediu a continuidade do contrato de trabalho. O reclamante começou a descumprir o contrato de trabalho faltando ao trabalho injustificadamente a primeira vez no dia 07/12/2018, conforme comprova o cartão de ponto, em 11 e 12/03/2019 chegou atrasado ao trabalho, e foi advertido novamente, no dia 26/03/2019, faltou ao trabalho todo o período da tarde, e por isso foi suspenso por dois dias, 27 e 28/03, assinando todas as advertências. Registre-se que quando foi suspenso o reclamante foi cientificado por meio do aviso de advertência que: "(...) tendo o presente o fim de especial de comunicar-lhe que, em atenção a falta pratica por V. Sª. No dia 26/03/2019 e as 02 advertências por escrito e 02 advertências verbal pelos mesmo motivos, como medida disciplinar deliberamos aplicar-lhe uma suspensão de 02 dias, que tem início no dia 27/03/2019 as 08:00hs e término no dia 28/03/2019 as 17:30hs devendo V. Sª reiniciar suas atividades no dia 29/03/2019 as 07:30hs.(...)" Nada obstante, tantos atrasos e faltas reiteradas comprovados pelos espelhos de ponto, o reclamante novamente faltou ao trabalho no dia 20/05/2019, todo o período da tarde, o que nos levar a concluir que era totalmente desidioso no trabalho, o que levou as reclamadas a rescindirem o contrato por justa causa, com base no artigo 482, alínea "e" da CLT. Desta forma, as reclamadas promoveram três advertências escritas, duas verbais, e uma suspensão, e com isso perceberam que as penalidades já aplicadas não surtiram nenhum efeito, tanto que o reclamante novamente transgrediu o contrato de trabalho por outras vezes, embora assinasse as advertências, não se importava com a situação, de todos os atrasos e faltas injustificadas evidenciou-se que as obrigações contratuais não estavam sendo cumpridas, ou seja, as atitudes ilícitas não tinham mais limites, e por isso não existiam mais condições para dar continuidade ao contrato de trabalho, diante do histórico disciplinar que só piorava a cada dia. Registre-se que as reclamadas perceberam que nada resolvia o problema, o reclamante continuava com as mesmas atitudes de chegar atrasado e faltar ao serviço quando bem entendia, o que configurava um total desrespeito com a empresa, e as infrações contratuais só aumentavam. Assim, fica evidente que o reclamante por várias vezes descumpriu o artigo 482, alínea "e", isto é, agia com desídia no desempenho de suas funções, pelas faltas e atrasos injustificados, e a alínea h ato de indisciplina ou insubordinação, sendo que a cada vez as atitudes se tornavam mais graves, e diante disso não havia mais condições para continuidade da relação de emprego." Analiso. A justa causa é uma das espécies de punição, decorrente do poder disciplinar, utilizada pelo empregador quando seu funcionário incorre em uma das condutas graves previstas no Art. 482, CLT. O ônus da prova sobre a ocorrência da falta grave obreira é do empregador, nos termos dos artigos 818 da CLT e 373, II, do CPC. Para além da prova do fato aludido como grave, deve-se avaliar se a penalidade imposta é adequada e proporcional. No caso dos autos, é incontroverso que o autor faltou ao labor nos dias apontados pela defesa, a saber, em 07/12/2018, 11 e 12/03/2019 e 26/03/2019. Saliento que não prospera a tese autoral no sentido de que as faltas acima mencionadas foram cometidas em razão de a motocicleta do autor ter estragado sendo que a ré não fornecia vale-transporte. A um porque não há prova acerca do fato alegado, ônus que competia ao autor (art. 818, I, CLT). A dois porque, ainda que houvesse prova do alegado, fato é que não há previsão legal considerando o fato noticiado ausência justificada ao empregado. Logo, reputo as aludidas faltas injustificadas. Considero ainda inconteste que no dia anterior à dispensa, em 20/05/2019, o autor injustificadamente faltou no período da tarde ao labor, haja vista que tal fato não foi impugnado na réplica, sendo certo que tal falta consta anotada no cartão de ponto juntado aos autos. Friso que as rés adunaram aos autos cópias das penas disciplinares de advertências e suspensão aplicadas ao autor em decorrências das faltas acima cometidas. Diante do exposto, reputo de todo válida a resolução do contrato por justa causa entre as partes, por caracterizada "in casu" a desídia do autor no decorrer do vínculo, em razão das cinco faltas injustificadas no labor, sendo observada pela ré a gradação das penalidades antes da pena máxima aplicada ao ex-empregado. Logo, julgo improcedente o pedido de reversão da justa causa e, por corolário, os pleitos de verbas rescisórias, multa de 40% do FGTS, saque dos depósitos fundiários e retificação da baixa na CTPS obreira para constar a projeção do aviso prévio indenizado, por serem incompatíveis com a dispensa por justa causa. DIFERENÇAS SALARIAIS Narra o autor na inicial que "como se constata nos holerites, o autor percebia a remuneração base de R$1.204.40 e não recebia insalubridade. Desrespeitando a garantia da irredutibilidade salarial demonstrada no art. 07, inciso VI da Constituição Federal, no mês de abril/2019 a remuneração base do autor foi reduzida para R$1.004.40 e foi acrescido a insalubridade no valor de R$192.04. Devem as requeridas serem condenadas a pagarem a diferença salarial referente ao mês de abril/2019, com a consequente repercussão dessevalor". As rés se defendem sob o seguinte fundamento: "Inicialmente há que se registrar que em Abril/2019, houve uma mudança significativa no contrato de trabalho do reclamante que foi transferido para a reclamada SG Quintino ME, e também com seu pleno conhecido e concordância foi alterada também a forma de pagamento. Considerando que a última Convenção Coletiva 2017/2018, que não foi renovada em 2019, estipulava como salário normativo a importância de R$ 981,84, (novecentos e oitenta e um reais e oitenta e quatro centavos), conforme Cláusula 4º, parágrafo primeiro. Partindo deste pressuposto e considerando a última convenção coletiva a reclamada SG Quintino ME, atualizou o valor e incluiu o adicional de insalubridade, o que perfez a remuneração de R$ 1.204,00 (hum mil duzentos e quatro reais). Ocorreu uma sucessão trabalhista legal, da empresa Diferraço Industrial Ferro e Açõ Ltda para a empresa SG Quintino ME, com alteração na forma da remuneração, com a inclusão do adicional de insalubridade, sem a perda salarial, pelo contrário houve aumento da remuneração, tudo consentido e deliberado contratualmente pelo empregado, vejamos o que estabeleceu o termo devidamente assinado: "(...) Na mesma função mas com alteração da remuneração sem perca salarial, ao colaborador Jhonny Macleiton da Silva Lopes, com inscrição de CTPS/série 26766/0026 MT e CPF nº 048.919.014- 35, com um salário no valor de R$ 1.004,40 (hum mil e quatro reais e quarenta centavos) e mais adicional de insalubridade no valor de R$ 199,60 (cento e noventa e nove reais e sessenta centavos), totalizando R$ 1.204,00 (hum mil duzentos e quatro reais) por mês.(...)" Tal deliberação é perfeita possível, ante os novos preceitos da reforma trabalhista que estabelece que uma das principais mudanças advindas da Reforma Trabalhista ( Lei nº 13.467, de 13 de Julho de 2017) foi que ela instituiu o art. 611- A na CLT, que disciplina que a convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho prevalecem sobre a lei, reconhecendo assim a preponderância do acordado ou negociado sobre o legislado." Pois bem, inicialmente ressalto ser incontroversa a diminuição salarial do autor, no valor de R$ 1.204,40 para R$1.004,40 ao mês. Nesse trilhar, ressalto que o art. 468 da CLT vaticina que "nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia." O dispositivo legal em comento preconiza o princípio da irredutibilidade salarial, que, no caso dos autos, foi desrespeitado, haja vista a redução salarial consubstanciar prejuízo ao obreiro independentemente de autorização individual neste sentido. Ressalto que não prospera a tese defensiva no sentido de que o negociado prevalece sobre o legislado na forma do art. 611-A da CLT, haja vista que tal dispositivo tem aplicação expressa e restrita a acordo e convenção coletiva e não a acordo individual como no caso dos autos. Nem se diga que o fato de a segunda ré ter sucedido a primeira justifique a redução salarial verificada "in casu", pois o art. 10 do Texto Consolidado é claro ao prever que "qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados." Diante do exposto, reputo inválido o acordo individual ajustado entre as partes e julgo procedente o pedido de diferenças salariais a partir de abril de 2019 até o fim do contrato, em 21/05/2019. As diferenças deverão ser apuradas com base no salário base no valor de R$1.004,40 recebido pelo reclamante e aquele devido, no importe de R$1.204,40. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE Segundo consta da inicial "na vigência do contrato as rés sonegaram o pagamento do adicional de insalubridade. Apenas em abril/2019, as rés pagaram o valor de R$192.04 de insalubridade, confessando assim, que o autor estava exposto ao risco insalutífero. Assim, requer seja a requerida condenada ao pagamento do adicional de insalubridade 20%, com repercussão na remuneração obreira para todos os efeitos e acréscimo dos reflexos no DSR, aviso prévio indenizado, horas extras, 13º salário, férias + 1/3 e FGTS, multa de 40%, etc.." Já as rés argumentam o seguinte: "Douto Magistrado a reclamada Diferraço Indústria Ferro e Aço Ltda- EPP, sempre foi cumpridora de seus compromissos legais, e no que refere ao pagamento de insalubridade tanto o PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, como o PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, asseguravam que não havia exposição a agentes nocivos a saúde, portanto, as atividades desenvolvidas pelos empregados não eram insalubres. Nada obstante, o laudo pericial realizado em Dezembro/2018, pelo Engenheiro Rodrigo Ferreira de Azevedo, CREA: 30316-D/MT, no processo nº 0000930- 80.2017.5.23.0026, promovido por Carlos Henrique dos Santos, concluiu que: "(...)através das informações adquiridas no local periciado, confrontadas com as Normas Regulamentadoras vigentes e pesquisas acerca do assunto, há entendimento técnico que o Reclamante CARLOS HENRIQUE DOS SANTOS, no cargo de AUXILIAR DE PRODUÇÃO, executava atividades em ambiente INSALUBRE POR EXPOSIÇÃO AO AGENTE CALOR CONFORME ANEXO Nº3 LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA EXPOSIÇÃO AO CALOR, de maneira Habitual e Permanente, devido ao contato com calor acima dos limites de tolerância estabelecidos pela NR-15 ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES havendo, portanto, enquadramento legal que justifica o adicional de insalubridade EM GRAU MÉDIO (20%).(...)" Por tal razão, as reclamadas vem de forma gradativa e incessante promovendo o pagamento retroativo para todos os seus empregados do adicional de insalubridade no percentual de 20% (vinte por cento), nos termos da perícia, e com o reclamante não foi diferente, em sua rescisão contratual promoveu o pagamento no valor de R$ 1.198,80 (hum mil cento e noventa e oito reais e oitenta centavos), relativa a insalubridade de todo o período, isto é, de 25/09/2018 a 31/03/2019, 6(seis) meses de 20% de adicional por mês, (R$ 199,80 x 6=1.198,80), bem como recolheu INSS e FGTS, deixando de promover o pagamento dos reflexos sobre férias e 13º salário proporcionais, em razão da demissão por justa. Registre-se ainda que as reclamadas concederam os EPI's ao reclamante desde sua admissão 25/09/2019 e permanentemente durante todo o contrato de trabalho, para neutralizar agentes insalubres, conforme comprovam os controles de entrega de equipamento de proteção individual, que neste ato se junta. Ademais, a Reclamada efetua diariamente fiscalização quanto a utilização dos citados EPI´s, bem como a sua preservação e necessidade de troca, sendo que os equipamentos ficam totalmente disponíveis a todos os funcionários, podendo ser retirados sem restrições, portanto, as atividades desenvolvidas pelo trabalhador encontram-se dentro dos limites de tolerância previstos na legislação vigente. Insta salientar que a reclamada sempre prezou pela integridade física de seus funcionários, disponibilizando EPI's e também intervalo para pausas ergonômicas e para banheiro, bem como toda a estrutura física da empresa é voltada para a segurança do trabalhador. A bem da verdade a reclamada neste ato comprova que cumpriu com suas obrigações, estando também provado pelo PPRA e PCMSO, que sempre agiu dentro das normas estabelecidas pela legislação pátria, por isso pagou ao reclamante o adicional de insalubridade no percentual de vinte por cento conforme estabeleceu o laudo pericial realizado, na rescisão contratual. Portanto, não há qualquer diferença a ser paga a este título, pois o adicional que não foi pago de Setembro/2018 a Março/2019, foi quitado na rescisão contratual, e pago normalmente em Abril/2019, e Maio/2019 na rescisão contratual, conforme comprovam os holerites e o TRCT, por isso, impugna-se veementemente,devendo ser julgado inteiramente improcedente. Por fim, rogam as Reclamadas que não há razões para realização de nova prova pericial, eis que a existente é atual e foi totalmente considerada por este juízo, e também diante dos documentos juntados neste ato, que comprovam o pagamento do adicional durante todo o vínculo laboral." Realizada a perícia de insalubridade, entendeu o "expert" que o Reclamante faz jus ao adicional de insalubridade de grau médio (20%) por ter trabalho em condição prejudicial à saúde pela presença do agente "calor" acima dos níveis de tolerância, assim concluindo: "Através das informações adquiridas no local periciado, confrontadas com as Normas Regulamentadoras vigentes e pesquisas acerca do assunto, há entendimento técnico que o Reclamante JHONNY MACLEITON DA SILVA LOPES, no cargo de AUXILIAR DE LINHA DE PRODUÇÃO, executava atividades em ambiente INSALUBRE POR EXPOSIÇÃO AO AGENTE CALOR CONFORME ANEXO Nº3 LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA EXPOSIÇÃO AO CALOR, de maneira Habitual e Permanente, devido ao contato com calor acima dos limites de tolerância estabelecidos pela NR-15 ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES havendo, portanto, enquadramento legal que justifica o adicional de insalubridade EM GRAU MÉDIO (20 %)." Embora tenha a parte ré apresentado parecer técnico para impugnar o laudo, tenho que não logrou êxito em desconstituir a conclusão do perito. Por conseguinte, adoto o laudo pericial como causa de decidir em razão dos argumentos técnicos e entendo que o autor trabalhava exposto a calor acima dos níveis de tolerância. Pontuo ainda que a ré efetuou o pagamento do adicional de insalubridade ao autor após abril de 2019, tendo ainda reconhecido como devido o adicional em período pretérito, conforme consignado no TRCT ID d941131 no valor de R$1.198,80. Julgo, assim, procedente o pedido, para condenar a ré a pagar ao autor adicional de insalubridade em grau médio sobre o salário mínimo (súmula vinculante nº4), no período que vai de 25/09/2018 a 31/03/2019. Determino que, do total apurado a título de adicional de insalubridade, seja deduzido o valor pago ao autor a tal título conforme TRCT ID d941131. Por habitual, defiro o pagamento da verba em comento em aviso prévio, nas horas extras efetivamente quitadas conforme holerites adunados aos autos, férias mais 1/3, 13º salário e FGTS. Indefiro a repercussão da verba em destaque em aviso prévio e multa de 40% ante a modalidade de resolução contratual reconhecida "in casu". HORAS EXTRAS E REFLEXOS Narra o autor que laborava, em média, das 07h30 as 18h00 de segunda a sexta-feira, com 02h00 de intervalo. Na média de duas vezes ao mês laborava até as 19h00. Aos sábados laborava das 07h30 as 12h00, sem intervalo. Pugna pela invalidade do sistema de compensação adotado pela parte ré. Assim, requer o pagamento das horas extras e reflexos. As rés, por seu turno, aduz que o autor trabalhou efetivamente na jornada apontada nos cartões de ponto, sendo que, eventualmente, quando trabalhou em sobrelabor, recebeu ou compensou tais horas. Analiso. As rés adunaram aos autos cartões de ponto com horários variáveis e assinados pelo reclamante, de modo que incumbia a este último desconstituir a jornada ali noticiada, nos termos da Súmula 338 do TST. Ocorre que a testemunha do autor em nada auxiliou na elucidação do caso, já que afirmou, ao depor, que "nunca viu o autor conferindo seu cartão ou reclamando". E a testemunha das rés foi categórica ao afirmar que "não havia nenhum tipo de reclamação sobre anotação de ponto, sendo estas digital". Logo, tenho que o autor não se desvencilhou de seu ônus probatório em desconstituir a validade dos cartões de ponto adunados aos autos pelas rés, razão pela qual os reputo fidedignos a demonstrar a real jornada obreira. Acrescento que a ausência de assinatura não invalidada por si só o documento. Revejo posicionamento anteriormente defendido e passo a acompanhar a jurisprudência majoritário do TRT e TST, julgando válidos os cartões apócrifos. Nesse sentido a jurisprudência: "HORAS EXTRAS. CARTÕES DE PONTO APÓCRIFOS. VALIDADE. Uma vez considerados válidos os cartões de ponto juntados pela ré com a contestação, ainda que desprovidos de assinatura do trabalhador, é infrutífera a pretensão recursal de que seja aplicado ao caso o norte fixado na Súmula n. 338 do TST. Dessa forma, não desconstituída a validade dos referidos documentos, cabia ao autor apontar a existência de diferenças de horas extras em seu favor, ônus do qual não se desvencilhou a contento. Diante do exposto, impõe-se manter a sentença por meio da qual se indeferiu o pleito de condenação da ré ao pagamento de horas extras e reflexos. Apelo do autor a que se nega provimento." (TRT da 23.ª Região; Processo: 0000728-81.2017.5.23.0001; Data: 06/07/2019; Órgão Julgador: 2ª Turma-PJe; Relator: MARIA BEATRIZ THEODORO GOMES) "HORAS EXTRAS. CARTÕES PONTO VÁLIDOS. Não se desvencilhando o reclamante do ônus que lhe incumbia, qual seja, comprovar que efetivamente realizava a jornada apontada na petição inicial, por se tratar de fato constitutivo do seu direito, conforme exegese dos artigos 818 da CLT e 373, I do CPC, e tendo a reclamada, com a juntada dos controles de frequência, conforme Súmula nº 338, I do TST, deve prevalecer a jornada neles registrada. Ademais, a apocrifia dos cartões de ponto, por si só, não se mostra suficiente para invalidá-los, mormente diante do fato de que não há previsão legal que estabeleça a assinatura do obreiro como requisito de validade do registro de horário." RECURSO DO AUTOR NÃO PROVIDO. (TRT da 23.ª Região; Processo: 0000491-54.2016.5.23.0107; Data: 08/10/2018; Órgão Julgador: 2ª Turma-PJe; Relator: JOAO CARLOS RIBEIRO DE SOUZA) Por outro lado, caso haja ausência de controle de horário referente a qualquer mês, ou seja, não cumprindo a ré a ônus que lhe pertencia (S. 338 TST), deverá ser observado e utilizado pela contadoria a jornada descrita na exordial. Lado outro, no que tange às horas extras compensadas, friso que restou acima reconhecido que o trabalho do autor era realizado com exposição a condições insalubres, não tendo a parte reclamada comprovado nos autos a obtenção de licença prévia e específica do Ministério do Trabalho e Emprego para exigir o trabalho em sobrejornada, desrespeitando, pois, o artigo 60 do Texto Consolidado, indo ainda de encontro com o entendimento recente do TST sobre a matéria, consubstanciado no item VI da Súmula 85: Súmula nº 85 do TST COMPENSAÇÃO DE JORNADA (inserido o item VI) - Res. 209/2016, DEJT divulgado em 01, 02 e 03.06.2016 .... VI - Não é válido acordo de compensação de jornada em atividade insalubre, ainda que estipulado em norma coletiva, sem a necessária inspeção prévia e permissão da autoridade competente, na forma do art. 60 da CLT. Por outro lado, não se tratando de mero não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, mas sim de descumprimento de norma legal, não se aplica ao caso o inciso III da mesma Súmula, já que fica invalidado o acordo. Ante o exposto, condeno a ré a pagar ao reclamante: a) as horas extras, assim consideradas as que ultrapassarem a 8ª diária e 44ª semanal, de forma não cumulativa. Parâmetros: dias e horários efetivamente trabalhados conforme registro de ponto, e na ausência a jornada da inicial; divisor: 220; globalidade salarial (inclusive com a integração do adicional de insalubridade e diferenças salariais reconhecidas acima); evolução salarial; adicional legal de 50% para o labor de segunda a sábado e 100% para eventuais domingos e feriados trabalhados. b) os reflexos das horas extras, nos DSRs, no 13º salário, nas férias acrescidas do 1/3 constitucional e no FGTS. Indefiro os reflexos em aviso prévio e multa de 40% sobre o FGTS ante a dispensa por justa causa reconhecida linhas acima. Na elaboração dos cálculos: 1) deduzir os valores comprovadamente quitadossob a mesma rubrica; 2) desconsiderar os períodos de comprovado afastamento. MULTAS DOS ARTS. 467 E 477 DA CLT Considerando que a rescisão contratual foi reconhecida somente nesta data, quando nasce para o empregador a obrigação de pagamento das verbas rescisórias, indefiro o pleito de aplicação da multa capitulada no artigo 467 da CLT, pois demonstrada a controvérsia. Com relação à multa do art. 477 da CLT, preceitua o §6º deste dispositivo legal, com redação dada pela Lei 13.467/2017 que "a entrega ao empregado de documentos que comprovem a comunicação da extinção contratual aos órgãos competentes bem como o pagamento dos valores constantes do instrumento de rescisão ou recibo de quitação deverão ser efetuados até dez dias contados a partir do término do contrato" . Dessa feita, levando em conta que o término do contrato entre as partes se deu em 21/05/2019 e o pagamento das verbas rescisórias em 30/05/2019 conforme comprovante de transferência bancária ID, ressai ter havido observância do prazo inserto no §6º do art. 477 da CLT, não havendo, pois, falar na multa prevista no §8º do mesmo dispositivo. Julgo improcedente. COMPENSAÇÃO A ré postula a compensação de valores pagos sob idêntico título. Não há que se falar em compensação de valores, uma vez que não comprovado nos autos circunstância que demonstre serem as partes, ao mesmo tempo, credoras e devedoras umas das outras (art. 368 do Código Civil). Apenas para que não paire dúvidas, fica observado que o adicional de insalubridade foi deferido no período de 25/09/2018 a 31/03/2019, período esse que não houve pagamento, e em relação às horas extras acima deferidas, já foi determinada a dedução dos valores pagos e comprovados nos autos. Indefiro o pleito. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DAS RÉS Segundo consta da peça de ingresso, "conforme se constata na documentação anexa e anotações na CTPS, o autor foi contratado pela primeira requerida em setembro de 2018. No holerite de abril/2019, constou a segunda ré, contudo, não houve qualquer comunicação ao empregado ou anotação em sua CTPS, continuando o autor a trabalhar no mesmo local, com os mesmos colegas e mesmos superiores hierárquicos. Considerando a parceria existentes entre as requeridas, resta evidenciado a responsabilidade solidária entre as mesmas, o que deverá ser acatada por esse juízo. Não sendo esse o em entendimento desse juízo, tendo a empresa DI FERRAÇO INDUSTRIAL FERRO E AÇO LTDA, sido sucedida por S. G QUINTINO, configura-se dessa foram uma sucessão empresarial, como assim requer seja reconhecido por esse juízo." Por sua vez, as rés argumentam que a transferência do reclamante para a empresa SG Quintino ME foi totalmente lícita, sendo que o simples fato de seu contrato ter permanecido nas mesmas condições não torna a alteração irregular, mas, pelo contrário, demonstra que os preceitos constantes nos artigos 10 e 448 da CLT foram literalmente assegurados e respeitados pelas reclamadas. Argumentam que " a reclamada Diferraço Indústrial Ferro e Aço Ltda-EPP optou por organizar melhor e reduzir seus encargos fiscais empresariais e empregatícios, e por isso criou uma nova empresa SG Quintino, passando a existir um pequeno grupo econômico.Uma vez caracterizado o grupo econômico, poderá a transferência ser efetuada, desde que haja anuência dos empregados e que este fato não afronte a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT". Pois bem, tendo as rés admitido pertencerem ao mesmo grupo econômico, forçoso reconhecer a responsabilidade solidária das demandadas nos termos do §2º do art. 2º da CLT. Julgo, pois, procedente o pedido para determinar que ambas as rés arquem,solidariamente, com todas as obrigações oriundas da presente condenação. PEDIDO LÍQUIDO E CERTO. LIMITAÇÃO DA CONDENAÇÃO. ARTS. 141 e 492 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. De acordo com as disposições dos arts. 141 e 492 do CPC, o juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso condenar a parte ré em quantidade superior ao que foi demandado. No caso, considerando que o Autor, em observância ao novo teor do art. 840, §1º, da CLT, delimitou o valor dos pedidos contidos na inicial, pontuo que a liquidação dos pedidos deferidos nesta sentença não poderá ultrapassar o quantum delimitado na inicial, ressalvada a incidência de correção monetária e juros (exegese da Súmula n. 211 do TST). JUSTIÇA GRATUITA Observados os holerites que comprovam a percepção de valores inferiores a 40% do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social e não havendo prova em sentido contrário, reputo atendido o comando do artigo 790, parágrafo 3º da CLT, razão pela qual defiro à parte Reclamante os benefícios da gratuidade da justiça. HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA Considerando a entrada em vigor da Lei 13.467/2017 em 11/11/2017, e tendo a presente ação sido ajuizada em 10/07/2019, forçoso concluir que a questão afeta aos honorários advocatícios aplica-se "in casu" à luz da nova regra consolidada. O artigo 791-A da Consolidação das Leis do Trabalho, inserido pela Lei 13.467/2017, dispõe acerca dos honorários advocatícios de sucumbência, nestes termos: "Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa. § 1 o Os honorários são devidos também nas ações contra a Fazenda Pública e nas ações em que a parte estiver assistida ou substituída pelo sindicato de sua categoria. § 2 o Ao fixar os honorários, o juízo observará: I - o grau de zelo do profissional; II - o lugar de prestação do serviço; III - a natureza e a importância da causa; IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. § 3o Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a compensação entre os honorários. § 4 o Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário. § 5 o São devidos honorários de sucumbência na reconvenção." Em razão da sucumbência total e parcial quanto aos pedidos formulados, e considerando-se o dispositivo legal supramencionado, condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios, no importe equivalente a 5% sobre o valor dos pedidos julgados improcedentes e sobre a diferença entre o valor obtido e o valor postulado, na hipótese de procedência parcial, reversíveis ao procurador da parte ré, ficando, por ora, desobrigada do recolhimento, em face dos benefícios da Justiça Gratuita, que poderão ser revogados, se alterada a condição de hipossuficiência, com o recebimento do crédito. Por outro lado, condeno as rés ao pagamento de honorários advocatícios no importe equivalente a 5% sobre o total da condenação, reversível ao procurador da parte autora. HONORÁRIOS PERICIAIS Em face da sucumbência da reclamada no objeto da perícia técnica, condeno-a ao pagamento dos honorários periciais, nos termos do artigo 790-B da CLT, ora arbitrados em R$1.500,00 (mil e quinhentos reais), observada a complexidade do trabalho, a diligência, o tempo do trabalho desenvolvido e o zelo profissional. III. DISPOSITIVO ISTO POSTO, resolve o juiz titular da VARA DO TRABALHO DE BARRA DO GARÇAS-MT, nos autos dapresente ação reclamatória ajuizada por JHONNY MACLEITON DA SILVA LOPES em face de DIFERRACO INDUSTRIAL FERRO E ACO LTDA-EPP e S.G. QUINTINO: 1) declarar de ofício (art. 337, § 5º do NCPC) a incompetência material e extingo sem resolução do mérito o pedido quanto à expedição de ofícios em razão de sonegação de recolhimentos previdenciários, com fundamento no art. 485, IV, do CPC. 2) No mérito, JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTES os demais pedidos vindicados na inicial, para condenar as rés solidariamente a pagarem ao autor: a) diferenças salariais; b) adicional de insalubridade e reflexos; c) horas extras e reflexos; d) honorários de sucumbência. Em face da sucumbência da reclamada no objeto da perícia técnica, condeno-a ao pagamento dos honorários periciais, nos termos do artigo 790-B da CLT, ora arbitrados em R$1.500,00 (mil e quinhentos reais), observada a complexidade do trabalho, a diligência, o tempo do trabalho desenvolvido e o zelo profissional. Condeno a parte autora ao pagamento de honorários advocatícios, no importe equivalente a 5% sobre o valor dos pedidos julgados improcedentes e sobre a diferença entre o valor obtido e o valor postulado, na hipótese de procedência parcial, reversíveis ao procurador da ré, ficando, por ora, desobrigada do recolhimento, em face dos benefícios da Justiça Gratuita, que poderão ser revogados, se alterada a condição de hipossuficiência, com o recebimento do crédito. De acordo com as disposições dos arts. 141 e 492 do CPC, o juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso condenar a parte ré em quantidade superior ao que foi demandado. No caso, considerando que o Autor, em observância ao novo teor do art. 840, §1º, da CLT, delimitou o valor dos pedidos contidos na inicial, pontuo que a liquidação dos pedidos deferidos nesta sentença não poderá ultrapassar o quantum delimitado na inicial, ressalvada a incidência de correção monetária e juros (exegese da Súmula n. 211 do TST). Tudo isso na forma da fundamentação supra, que integra o presente dispositivo para todos os efeitos. A sentença é líquida. Considerando a vigência da MP 905/2019 na data da prolação desta sentença, aplico a nova sistemática adotada no referido diploma normativo, à luz da teoria do isolamento dos atos processuais adotada no sistema processual pátrio (art. 14 do NCPC). Nesse trilhar, determino que os débitos trabalhistas sejam corrigidos pelo índice IPCA-E, o qual será aplicável até o cumprimento da sentença (artigo 879, §7º, da CLT). Já os juros de mora, incidentes a partir do ajuizamento da ação, devem ser equivalentes ao índice aplicado à caderneta de poupança, pro rata die (artigos 883 da CLT e 39, §1º, da lei 8.177/91). Para fins de atendimento ao disposto no art. 832 da CLT, a natureza das verbas contempladas nesta decisão observará o disposto no art. 28 da Lei 8.212/91. O fato gerador da retenção do imposto de renda ocorre no momento em que o crédito torna-se disponível ao autor, cujo cálculo deverá ser realizado da mesma maneira que o seria se o pagamento tivesse acontecido de forma regular, ou seja, a retenção na fonte deve observar a renda que teria sido auferida mês a mês pelo contribuinte, sob pena de afronta ao princípio da isonomia tributária, não incidindo sobre juros de mora, em face da natureza indenizatória, a cargo do autor, de acordo com os percentuais previstos nas normas tributárias, sendo que a empregadora tem a obrigação legal de proceder à retenção dos valores devidos pelo trabalhador e efetuar o recolhimento das respectivas importâncias, nos prazos legais. As contribuições previdenciárias, observado o teto, serão apuradas mês a mês, devendo o réu comprovar o recolhimento (empregado/empregador), nos prazos legais, sob pena de execução, excluídas as contribuições devidas a terceiros. Para os efeitos do artigo 832, §3º, da CLT, deverá ser observado o artigo 28 da Lei 8212/91. Custas processuais às expensas da reclamada, nos valores constantes da planilha de cálculos anexa à presente decisão, que integra ao dispositivo para todos os fins. A União deverá ser intimada somente no caso de as contribuições previdenciárias apuradas superarem o equivalente a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), conforme Portaria MF nº 582 de 11/12/2013. Depois de juntada a planilha dos cálculos de liquidação, retire-se o sigilo desta decisão e intimem-se as partes. BARRA DO GARCAS, 13 de Fevereiro de 2020. HAMILTON SIQUEIRA JUNIOR Juiz(a) do Trabalho Titular
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