Buscar

[folha leitura em sala] jusnaturalismo (passagens escolhidas)

Prévia do material em texto

Marcelo de Araujo 
 
Jusnaturalismo 
 
 
 
HERÁCLITO, fragmento DK 22 B 114 (ca. 540-480 a.C.) 
 
“Todas as leis humanas () nutrem-se de uma única lei divina (<> ).” 
 
 
ANTIPHON, Sobre a Verdade, frag. 44 B (final do séc. 5 a.C.) 
 
“[B1] A justiça () consiste em não transgredir nenhuma das regras () do Estado em que se 
vive como um cidadão. Assim uma pessoa faria uso da justiça do modo mais vantajoso para si própria se, na 
presença de testemunhas, ela tivesse as leis () na mais alta estima; mas, na ausência de testemunhas, ela 
tomasse em alta conta as exigências da natureza (). Pois as exigências das leis são invenções, enquanto as 
exigências da natureza são necessárias; e as exigências das leis são por contrato, e não por natureza, enquanto as 
exigências da natureza são naturais, e não por acordo. [B2] Assim, alguém que transgride as leis está livre de 
vergonha e punição, se não for visto pelos participantes do contrato, mas, se for visto, não. Por outro lado, se 
alguém tenta violar uma das exigências inerentes à natureza – o que é impossível – o prejuízo que se sofre não é 
menor se não for observado por ninguém, e não é maior se for observado por todos, pois se é prejudicado, não 
por força da opinião () das pessoas, mas em verdade ().” 
 
 
PLATÃO, Protágoras (322 BC) 
 
“... no início eles [os homens] viviam em grupos espalhados; não havia cidades. Conseqüentemente eles eram 
devorados por animais selvagens, uma vez que eles eram em todos os sentidos mais fracos, e com uma 
habilidade técnica que, embora suficiente para garantir a própria nutrição, não se estendia ao fazer guerra contra 
os animais selvagens, pois eles não detinham a arte da política, arte à qual também pertence a arte da guerra. 
Eles, portanto, buscaram se salvar aglomerando-se e fundando cidades. Mas quando eles se juntaram em 
comunidades eles se prejudicaram uns aos outros por falta da arte da política, de modo que se espalharam 
novamente e continuaram a ser devorados. Zeus, então, temendo a total destruição de nossa raça, enviou Hermes 
para introjetar nos homens a qualidade do respeito por outros e um sentido de justiça, de modo a trazer ordem às 
nossas cidades e criar um vínculo de amizade e união”. 
 
 
ARISTÓTELES, Retórica 
 
“Descrevemos a injustiça como uma má ação voluntariamente realizada contra a lei. A lei ou é especial ou é 
comum. Por lei especial eu entendo aquela lei escrita que regula a vida de uma comunidade particular; por lei 
comum entendo todas aquelas leis não-escritas que se devem aceitar em toda parte.” (1368b 6 – 1368b 9) 
 
(...) 
 
“Será adequado fazermos agora uma completa classificação das ações justas e das injustas. Podemos começar 
observando que elas foram definidas relativamente a dois tipos de leis, e também relativamente a dois tipos de 
pessoas. Por dois tipos de leis entendo a lei particular e a lei comum. A lei particular é aquela que cada 
comunidade estabelece e aplica aos seus próprios membros. Ela é parcialmente escrita e parcialmente não-
escrita. A lei comum é a lei da natureza. Com efeito, existe realmente uma idéia geral do justo e do injusto que é 
comum a todos, mesmo àqueles que não têm qualquer associação ou contrato uns com os outros. É isto que a 
Antígona de Sófocles claramente quer dizer quando ela diz que o sepultamento de Polinécia foi um ato justo 
apesar da proibição: ela quer dizer que isto era justo por natureza: 
 
Não de hoje ou ontem 
Mas de toda a eternidade: ninguém pode determinar sua origem 
 
 
 
2 
E Empédocles, quando nos exorta a não matar qualquer ser vivente, diz que não se trata de algo justo para 
algumas pessoas enquanto injusto para outras pessoas: 
 
 Não, mas se trata de uma lei que tudo abarca, pelos reinos dos céus 
Inviolável ela se estende pela imensidão da terra (1373 b1– 1373 b18) 
 
(...) 
 
“Se a lei escrita depõe contra nosso caso, devemos claramente apelar à lei universal e à eqüidade como sendo 
mais justas. Devemos alegar que o juramento ‘darei meu veredito de acordo com minha mais honesta opinião’ 
significa que não se vai simplesmente seguir a letra da lei escrita. Devemos enfatizar que os princípios da 
eqüidade são permanentes e imutáveis, e que a lei universal também não muda, pois trata-se da lei da natureza, 
enquanto as leis escritas freqüentemente mudam. Este é o sentido das linhas da Antígona de Sófocles, onde 
Antígona alega que, ao ter sepultado seu irmão, ela violou uma lei de Creonte, mas não a lei não-escrita. 
 
 Elas não são nem de hoje ou ontem, 
 Eu não temeria a ira de qualquer homem 
 
Alegaremos que a justiça é, de fato, verdadeira e vatajosa, mas que evitar a justiça não o é, e que, 
conseqüentemente, a lei escrita não é, porque ela não cumpre a função da lei. (...) Ou [alegaremos que] o homem 
bom seguirá e obedecerá a lei não-escrita preferivelmente à lei escrita. Ou talvez [alegaremos que] a lei em 
questão contradiz alguma outra lei altamente estimável, ou se contradiz a si própria.” (1375a 25 – 1375b 10) 
 
 
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco (ca. 350 a. C.) 
 
“Da justiça política uma parte é legal, a outra, natural. Justiça natural é aquela que tem em toda parte a mesma 
força e não existe pelo fato de as pessoas pensarem isto ou aquilo. A justiça legal é aquela que, em sua origem, é 
indiferente. Mas, uma vez que ela tiver sido estabelecida, não é mais indiferente; por exemplo, que o resgate de 
um preso será de uma mina...” (1134b 18 – 1134b 23) 
 
 
 
3 
 
CÍCERO, De Republica, III, xxii, 33 (54-51 a.C) 
 
“A verdadeira lei é a razão correta em consonância com a natureza; ela é de aplicação universal, imutável e 
perpétua; ela evoca uma obrigação pelos seus mandamentos, e alerta contra coisas erradas através de suas 
proibições. E ela não deposita seus comandos ou proibições sobre os bons homens em vão, embora nenhuma 
nem outra tenha seus efeitos sobre os maus. É um erro tentar alterar tal lei, e não é permissível tentar descartar 
uma parte dela, e é impossível aboli-la inteiramente. Não podemos estar livres de suas obrigações pelo Senado 
ou pelos Povos, e não precisamos olharmos para fora de nós mesmos para um expositor ou intérprete desta lei. E 
não haverá leis diferentes em Roma ou Atenas, ou diferentes leis agora e no futuro, mas apenas uma lei eterna e 
imutável será válida para todas as nações e para todos os tempos, e haverá um senhor e um regulador, isto é, 
Deus, sobre todos nós, pois ele é o autor desta lei, seu promulgador, e seu juiz executor.” 
 
 
NOVO TESTAMENTO, Romanos (2, 14-16) 
 
“Quando então os gentios, não tendo a Lei, fazem naturalmente o que é prescrito pela Lei, eles, não a Lei, para si 
mesmos são a Lei; eles mostram a obra da Lei gravada em seus corações, dando disto testemunho suas 
consciência e seus pensamentos...” 
 
 
THOMAS REID, Inquiry and Essays, Indianapolis, Hackett Publishing, 1983, p. 322-323: 
 
“Os primeiros princípios da moralidade são os ditames imediatos da faculdade moral. Eles nos mostram, não o 
que o homem é, mas o que ele deve ser. O que quer que seja percebido imediatamente como justo, honesto, ou 
honrável, na conduta humana, carrega consigo obrigação moral, e o contrário carrega demérito e reprovação; e, 
dessas obrigações morais que são percebidas imediatamente, todas as outras obrigações morais devem ser 
deduzidas. Aquele que julga sobre a cor de um objeto deve consultar os seus olhos, em boas condições de 
iluminação. (...) De modo análogo, aquele que julga sobre os primeiros princípios da moralidade, deve consultar 
sua consciência, ou faculdade moral, quando se está calmo e tranqüilo, não comprometido por interesse, afeto, 
ou costume.”

Continue navegando

Outros materiais