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1 1 262 Sumário 1 - Títulos de Crédito ......................................................................................................................... 9 1.1. Introdução .............................................................................................................................. 9 1.2. Legislação Aplicável .............................................................................................................. 10 1.3. Conceito ............................................................................................................................... 12 Qual a natureza jurídica do título de crédito? .................................................................................................. 14 O que é teoria da propriedade? ....................................................................................................................... 17 1.4. Funções dos títulos de crédito ............................................................................................... 18 1.5. Características dos títulos de crédito .................................................................................... 18 1.5.1. Bem móvel .............................................................................................................................................. 18 1.5.2. Natureza pro solvendo: ........................................................................................................................... 19 1.5.3. Circulação ............................................................................................................................................... 20 1.5.4. Títulos de apresentação ......................................................................................................................... 21 1.5.5. Obrigação quesível ................................................................................................................................. 21 1.5.6. Título de resgate ..................................................................................................................................... 21 1.5.7. Executividade .......................................................................................................................................... 22 1.5.8. Presunção de liquidez e certeza ............................................................................................................. 22 1.5.9. Formalismo ............................................................................................................................................. 23 1.5.10. Solidariedade cambiária ....................................................................................................................... 25 1.6. Princípios .............................................................................................................................. 27 1.6.1. Cartularidade .......................................................................................................................................... 28 2 2 262 1.6.2. Literalidade ............................................................................................................................................. 30 1.6.3. Autonomia .............................................................................................................................................. 34 1.6.3.1. Abstração ............................................................................................................................................. 39 1.6.3.2. Independência ..................................................................................................................................... 42 1.6.3.3. Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé ......................................................... 45 1.6.4. Exceções em que é possível alegar defesas pessoais ............................................................................. 47 1.7. Atributos dos Títulos de Crédito ............................................................................................ 48 2 - Classificação dos Títulos de Crédito ............................................................................................ 50 2.1. Quanto ao modelo................................................................................................................ 50 2.1.1. Modelos livres ........................................................................................................................................ 50 2.1.2. Modelos vinculados ................................................................................................................................ 50 2.2. Quanto à natureza ............................................................................................................... 50 2.2.1. Ordem de pagamento ............................................................................................................................ 50 2.2.2. Promessa de pagamento ........................................................................................................................ 51 2.3. Quanto à vinculação à relação de origem ............................................................................. 51 2.3.1. Causais .................................................................................................................................................... 51 2.3.2. Não causais ou abstratos ........................................................................................................................ 51 2.4. Quanto à circulação ............................................................................................................. 51 2.4.1. Ao portador ............................................................................................................................................ 51 2.4.2. Nominativos ............................................................................................................................................ 51 3 - Letra de Câmbio ......................................................................................................................... 52 3.1. Partes Intervenientes ............................................................................................................ 52 3.2. Origem da letra de câmbio ................................................................................................... 52 3 3 262 3.3. Lei Uniforme de Genebra ...................................................................................................... 53 3.4. Partes ................................................................................................................................... 59 3.5. Espécies de devedores .......................................................................................................... 61 3.6. Requisitos intrínsecos ........................................................................................................... 63 A ausência de capacidade do sacado-aceitante invalida o título de crédito? .................................................. 63 3.7. Requisitos extrínsecos........................................................................................................... 64 3.8. Declarações cambiárias ........................................................................................................ 74 3.9. Efeitos do Aceite ................................................................................................................... 74 3.10. Forma do aceite.................................................................................................................. 77 3.11. Apresentação para aceite ................................................................................................... 793.12. Apresentação para aceite e desfechos ................................................................................ 82 3.13. Aceite qualificado ............................................................................................................... 84 3.13.1. Recusa do Aceite e cláusula não aceitável ........................................................................................... 86 3.13.2. Cláusula não aceitável .......................................................................................................................... 86 3.13.3. Aceite Parcial ........................................................................................................................................ 87 3.13.4 Saque e requisitos da letra de câmbio .................................................................................................. 88 4 - Nota Promissória ....................................................................................................................... 91 4.1. Requisitos legais ................................................................................................................... 92 Se a assinatura do emitente for escaneada e aposta no título, ela é válida? .................................................. 93 4.2. Regime legal ......................................................................................................................... 95 5 – Endosso na letra de câmbio e nota promissória ........................................................................ 98 5.1. Endosso ................................................................................................................................ 98 4 4 262 5.2. Endosso em branco e endosso em preto ............................................................................. 100 5.3. Vedação ao endosso parcial ............................................................................................... 103 5.4. Vedação ao endosso condicional ........................................................................................ 104 5.5. Efeitos do endosso .............................................................................................................. 104 5.6. Transferência do direito cambiário contido no título de crédito .......................................... 105 5.7. Responsabilidade do endossante ........................................................................................ 106 5.8. Endosso sem garantia ........................................................................................................ 107 5.9. Endosso X Cessão de Crédito............................................................................................... 108 5.10. Endosso-mandato............................................................................................................. 109 O endossatário-mandatário pode realizar endosso translativo no título recebido por endosso-mandato? . 112 5.11. Desconto bancário ............................................................................................................ 113 5.12. Endosso-caução ................................................................................................................ 113 Se o endossatário-pignoratício prejudicar alguém, quem responde pelos danos? ....................................... 115 5.13. Factoring e endosso .......................................................................................................... 116 5.14. Endosso tardio .................................................................................................................. 118 5.15. Endosso impróprio ............................................................................................................ 120 6 – Aval na letra de câmbio e nota promissória ............................................................................. 121 6.1. Responsabilidade do avalista.............................................................................................. 124 6.2. Espécies de Aval ................................................................................................................. 128 6.2.1. Aval em branco e em preto .................................................................................................................. 128 6.3. Aval antecipado.................................................................................................................. 129 6.4. Avais Simultâneos X Aval Sucessivo .................................................................................... 130 5 5 262 6.5. Direito de regresso ............................................................................................................. 133 6.6. Aval X Fiança ...................................................................................................................... 133 6.7. Aval X Endosso ................................................................................................................... 136 7 – Vencimento ............................................................................................................................. 137 Quando ocorre o vencimento antecipado? .................................................................................................... 141 8 – Prescrição e Protesto............................................................................................................... 143 8.1. Espécies de protesto e seus efeitos ..................................................................................... 144 8.2. Cláusula sem protesto (cláusula sem despesa).................................................................... 150 8.3. Protesto indevido: (i) endosso translativo e (ii) endosso mandato. ...................................... 152 9 – Pagamento .............................................................................................................................. 153 10.1. Tipos de pagamento ......................................................................................................... 154 10.2. Prova do pagamento ........................................................................................................ 155 10.3. Formas atípicas de pagamento ......................................................................................... 156 11 – Cheque .................................................................................................................................. 156 11.1. Partes ............................................................................................................................... 157 11.2. Pressupostos .................................................................................................................... 158 11.3. Natureza jurídica .............................................................................................................. 158 11.4. Legislação......................................................................................................................... 159 11.5. Requisitos legais ............................................................................................................... 159 11.6. Declarações cambiárias no cheque ................................................................................... 161 11.7. Da Emissão e da Forma do Cheque ................................................................................... 161 11.8. Características .................................................................................................................. 164 6 6 262 11.9. Endosso ............................................................................................................................ 167 11.10. Aval ................................................................................................................................169 11.11. Da Apresentação ............................................................................................................ 170 11.12. Pagamento ..................................................................................................................... 174 11.13. Apresentação simultânea de vários cheques ................................................................... 176 11.14. Pagamento de cheque falso ou falsificado ...................................................................... 176 11.15. Devolução do cheque sem pagamento ........................................................................... 176 11.16. Revogação (contraordem) e sustação (oposição) ............................................................ 177 11.17. Cheque Cruzado.............................................................................................................. 178 11.18. Cheque para ser levado em conta ................................................................................... 179 11.19. Cheque Visado ................................................................................................................ 180 11.20. Cheque Administrativo ................................................................................................... 182 11.21. Cheque especial .............................................................................................................. 182 11.22. Cheque de viagem .......................................................................................................... 182 11.23. Cheque pós-datado ........................................................................................................ 183 11.24. Legalidade da pós-datação ............................................................................................. 184 11.25. Natureza jurídica do cheque pós-datado ........................................................................ 184 11.26. Protesto .......................................................................................................................... 189 11.27. Efeitos do protesto de um cheque ................................................................................... 190 11.28. Prazo do protesto do cheque: protesto facultativo e obrigatório..................................... 192 12 - Duplicata ................................................................................................................................ 193 12.1. Características .................................................................................................................. 194 7 7 262 12.2. Partes ............................................................................................................................... 195 12.3. A duplicata como título causal .......................................................................................... 196 12.4. Legislação aplicável .......................................................................................................... 200 12.5. Procedimento de emissão da duplicata............................................................................. 200 12.6. Requisitos legais ............................................................................................................... 202 12.7. Aceite ............................................................................................................................... 204 12.8. Obrigatoriedade do aceite ................................................................................................ 205 12.9. Recusa do aceite ............................................................................................................... 205 12.10. Formas de prestar o aceite ............................................................................................. 206 12.11. Endosso .......................................................................................................................... 208 12.12. Aval ................................................................................................................................ 209 12.13. Vencimento .................................................................................................................... 209 12.14. Pagamento ..................................................................................................................... 211 12.15. Protesto .......................................................................................................................... 211 12.16. Triplicata ........................................................................................................................ 216 12.17. Duplicata escritural ........................................................................................................ 217 1 – Títulos de crédito impróprios - introdução .............................................................................. 221 1.1. Categorias de Títulos de Crédito Impróprios ................................................................. 221 2 - Cédulas de Crédito ................................................................................................................... 223 2.1. Conceito ............................................................................................................................. 223 2.2. Requisitos ........................................................................................................................... 224 2.2.1. Denominação ........................................................................................................................................ 224 8 8 262 2.2.2. Promessa de adimplemento ................................................................................................................. 224 2.2.3. Forma de pagamento ........................................................................................................................... 225 2.2.4. Indicação do credor .............................................................................................................................. 225 2.2.5. Valor do crédito .................................................................................................................................... 225 2.2.6. Finalidade do financiamento ................................................................................................................ 225 2.2.7. Definição da garantia real ..................................................................................................................... 225 2.2.8. Encargos financeiros ............................................................................................................................. 226 2.2.9. Praça de pagamento ............................................................................................................................. 226 2.2.10. Data, lugar de emissão e assinatura ................................................................................................... 226 2.2.11. Registro ............................................................................................................................................... 226 2.3. Transferência ..................................................................................................................... 227 2.4. Caracteríticas ..................................................................................................................... 228 3 - Cédula De Crédito Imobiliário .................................................................................................. 230 4 - Cédula De Produto Rural .......................................................................................................... 231 5 - Cédulas De Crédito Bancário ....................................................................................................233 6 - Cédula De Produto Rural .......................................................................................................... 236 13 – Questões Comentadas .......................................................................................................... 240 14 - Questões semGabarito ........................................................................................................... 255 15 - Gabarito ................................................................................................................................. 261 16 - Considerações Finais .............................................................................................................. 262 9 9 262 TÍTULOS DE CRÉDITO 1 - TÍTULOS DE CRÉDITO 1.1. INTRODUÇÃO A disciplina dos Títulos de Crédito encontra sua fonte na necessidade de auxílio e simplificação das diversas relações comerciais que envolvem somas em dinheiro, buscando uma circulação segura, rápida e fácil do crédito. A palavra título nos oferece a ideia de um documento em papel: é assim com o título de eleitor ou com o título de um clube. Nesse caso, teremos um título, logo, um documento representativo do crédito. Falando nisso, o que é crédito? O crédito nada mais é do que a consecução de um bem da vida, uma mercadoria ou um empréstimo. Logo, uma antecipação do bem da vida, formalizando em papel o pagamento futuro. Em simples palavras, a troca do bem no presente, pelo dinheiro futuro. Os títulos mais utilizados hoje em dia são a Nota promissória, o Cheque e a Duplicata. A Nota promissória, por exemplo, se esboça com uma pessoa denominada devedora. Esse sujeito emite o título e escreve no documento que pagará certa quantia em dinheiro para uma outra pessoa, a qual se denomina credora. Eis um Título de Crédito. Atualmente, os títulos de crédito são o principal meio de circulação de riquezas e, embora existam inúmeros, constatam-se características, funções e princípios comuns, o que permite falar-se em uma teoria geral de títulos de crédito. Pois bem, o conceito clássico de título de crédito foi elaborado por CESARE VIVANTE, segundo o qual: karin Destacar 10 10 262 “(...) título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado.” (Marlon Tomazette) E esse conceito é praticamente colado no art. 887 do Código Civil: “Art. 887 do CC. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” Em vista dos estudos, os títulos mais importantes são: A letra de câmbio, a nota promissória, p cheque e a duplicata, pois todos os demais títulos derivam destes. Além disso, trataremos dos institutos que os cercam. Os títulos citados neste parágrafo são denominados títulos próprios e serão a base de nosso trabalho. Utilizaremos o Cheque e a Duplicata para os exemplos. 1.2. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL Historicamente, cada um dos principais títulos de crédito sempre tiveram as suas próprias leis especiais, e, atualmente, não é diferente. A Letra de Câmbio e a Nota Promissória são títulos regulados pelo Decreto 57.663/66, também conhecida como Lei Uniforme de Genebra (LU), nascido em vista da Convenção de Genebra de 1964, quando a maioria dos países se reuniram para, entre muitas discussões, uniformizar as regras dos principais títulos de crédito. A Convenção de Genebra tem dois anexos. O primeiro trata dos princípios de Direito Internacional, que, logicamente, não interessam aos nossos estudos. No Anexo II, as regras que regulam institutos muito conhecidos dos diversos certames nas carreiras jurídicas e fiscais, quais sejam a Letra de Câmbio (Artigo 1º); O endosso (Artigo 11); O aval (Artigo 32); a prescrição (Artigo 70), e, enfim, a Nota Promissória em seu artigo 75. O Cheque é regido pela Lei Interna de nº 7.357/85 e a Duplicata pela Lei 5.474/68. Como já dito, os demais títulos derivam destes. karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 11 11 262 A pergunta que agora vem é: “Professor, se cada título é regido por uma lei especial própria para solucionar todas as suas questões, em quais situações devemos utilizar o Código Civil? “Artigo 903. CC Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.” A resposta é dura! “O Código Civil, na matéria dos títulos de crédito não é grande coisa.” Digo desse modo, pois o próprio Código Civil em seu artigo 903, demonstra não ser referência nessa matéria, a seguir: Note, que o Código Civil tira o corpo fora quando o assunto tem relação com os principais títulos de crédito existentes no ordenamento. O artigo 907 do mesmo diploma complementa que a aplicação do Código Civil será apenas subsidiária. Significa dizer que somente nos casos em que o legislador se omitir na legislação especial, é que devemos aplicar o conteúdo dos artigos 887 e seguintes do diploma civil. Cabe dizer que alguns editais de concursos públicos apenas solicitam as temáticas dos Títulos de Crédito que estão presentes no Código Civil, o que, facilmente nos faz perceber que a banca examinadora não foi formada por especialistas na área. Código Civil Cheque Artigos 887, CC Lei 7.357/85 Legislação aplicável karin Destacar 12 12 262 Vamos agora ao conceito de título de crédito. 1.3. CONCEITO O Código Civil prevê em seu artigo 887 que o título de crédito é: “um documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido.” Ocorre que, a doutrina considera que o sentido atribuído à palavra contido é um erro, já que os direitos emergentes no título (direitos de cobrança e de receber o valor mencionado, entre outros), não estão contidos na cártula, mas apenas mencionados. Um pouco mais a frente voltaremos a esse assunto. Artigo 887. CC O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” Letra de câmbio Nota Promissória Cheque Duplicata Decreto 57.663/66 Convenção de Genebra Lei 7.357/85 Lei 5.474/68 Legislação aplicável Artigo 887-926, CC - Aplicação meramente subsidiária karin Destacar 13 13 262 O título de crédito é um documento formal, uma representação gráfica que destina a reproduzir e a provar a existência de uma dívida, e, consequentemente, a vontade de assumir uma obrigação. Além do que, esse documento é importante para que o credor possa exigir o pagamento da dívida mencionada. Note que o conceito exarado no Código Civil traz a ideia de um documento formal, mas não somente isso. Os títulos além de documentados em papel, precisam contar com a literalidade ou o direito literal. O que isso quer dizer? Quer dizer que o documento não bastará, é necessário o preenchimento do título de acordo com os requisitos exigidos na lei. Vamos a um exemplo! Imagine que, enquanto esteja transitando por um “shopping center”, você se depara com o título: “Aceitamos cheque pré-datado e parcelamos qualquer produto em até 6 (seis) vezes”. Aí você pensa: “Vou no cartão de crédito, é mais prático!”. Trata-se de uma loja de calçados, você prova o tênis, mas, ao tentar o pagamento, não há limite de crédito. Imaginou? No caso acima, você abre a carteira e pega o talão de cheques, um título de crédito (documento formal), mas será necessário descrever - literalmente - as condições de pagamento. Assim, ao escrever o valor a que está se obrigando, o nome do beneficiário (lojista), data, local e assinatura, você estará oferecendo literalidade ao título. Agora que você já compreende a Cartularidade (documento formal) e a Literalidade (preenchimento do título), vamos ao último requisito, qual seja, a autonomia. Cartularidade (A literalidadese dá com o preenchimento). karin Destacar karin Destacar karin Destacar 14 14 262 Qual a natureza jurídica do título de crédito? R: Há divergência. Teoria Natureza Jurídica Teoria Contratualista Contrato Teoria Legalista Aparência de vontade do devedor Teoria do Duplo Sentido da Vontade Entre o devedor e credor originários, há um contrato, ao passo que em relação ao devedor originário e os demais credores, uma declaração unilateral de vontade. Teoria da Declaração Unilateral de Vontade (prevalece) Declaração/Ato Unilateral de Vontade “O princípio de que o título de crédito deve a sua eficácia não a um contrato, mas a um ato unilateral da vontade do subscritor, é hoje geralmente admitido.” (Fran Martins) “Reconhecendo-se a vontade como fonte das obrigações cambiárias, mas afastada a natureza contratual dessa manifestação, é certo que o melhor enquadramento para a vontade criadora da obrigação é como uma declaração unilateral de vontade.” (Marlon Tomazette) Em que momento nasce a obrigação cambiária segunda a teoria da declaração unilateral de vontade? R: Existem 3 (três) subteorias a respeito do momento do nascimento da obrigação oriundas da teoria da declaração unilateral de vontade. Teoria da Criação Teoria da Emissão Teoria dos três momentos Simples assinatura do título de crédito Entrega voluntária do título Simples assinatura do título de crédito karin Retângulo karin Retângulo 15 15 262 “A obrigação já existe com a simples assinatura. A forma como o título saiu das mãos do seu criador não interessa para a teoria da criação, o que interessa é apenas a declaração da vontade da criação do título. Assim, se o título assinado pelo emitente foi furtado e chegou às mãos de um credor, este teria o direito de receber o título de crédito.” (Marlon Tomazette) “Por criação entende-se o ato de dar vida ao título, com a sua feitura material, cujo momento decisivo é aquele em que o sacador lança sua assinatura na letra; já a emissão é o ato de pôr a letra em circulação, com a sua transferência ao tomador.” (Fran Martins) “Por essa teoria, a obrigação cambiária do sacador nasce no momento em que apõe a sua assinatura no título, quando, portanto, da sua subscrição.” (Luiz Emygdio Franco da Rosa Jr.) “(...) nessa teoria, a obrigação cambiária só se concretizaria no momento da emissão, entendida como a entrega voluntária do título. A simples assinatura do título não representaria a vontade de se obrigar. Só a vontade concreta de entregar o título é que aperfeiçoaria a obrigação. O título de crédito representaria um negócio jurídico composto, na medida em que dependeria de dois atos: a assinatura do documento e sua entrega voluntária. (...) Assim, se o título foi assinado pelo devedor, mas lhe foi furtado e entregue a um terceiro, a obrigação ainda não teria sido concluída. A obrigação só nasceria quando a declaração de vontade fosse posta em circulação.” (Marlon Tomazette) “Assim, por emissão deve-se entender não o mero ato de se criar materialmente o título com o lançamento pelo sacador da sua assinatura, mas exige-se ainda que o sacador ponha voluntariamente a letra em circulação com a sua transferência ao tomador.” (Luiz Emygdio Franco da Rosa Jr.) “Pontes de Miranda reconhece a natureza de declaração unilateral de vontade nos títulos de crédito, mas não aceita de forma integral a teoria da criação nem a teoria da emissão. Para ele, há uma forma própria de tratar a obrigação originada em um título de crédito, dividindo-a em três momentos. (...) Num primeiro momento, devem-se analisar os planos da existência e da validade para os títulos de crédito. A obrigação cambiária existiria a partir da subscrição do documento, isto é, com a declaração unilateral de vontade do subscritor, a obrigação já existiria no mundo jurídico. (...) O segundo momento do título de crédito ocorreria no plano da eficácia. Uma vez assinado o título e preenchidos todos os requisitos de forma, ele já existe e é válido, mas ainda não é eficaz. A eficácia do título dependeria da posse do título por um credor de boa-fé, (...). Ainda haveria um terceiro momento, no qual a obrigação efetivamente surgiria. O credor de boa-fé, com o título em mãos (a obrigação já existe, é válida e eficaz), apresenta-o ao devedor para pagamento. Nesse ato, ocorre a relação obrigacional (pretensão/obrigação), fazendo com que a obrigação tenha que ser cumprida. Ora, se não houvesse a apresentação, não existiria a obrigação de pagar o título de crédito.” (Marlon Tomazette) Consequência: “A consequência da teoria da criação é severa e grave. O título roubado ou perdido, antes da emissão, mas após a criação, leva consigo a obrigação do subscritor.” (Rubens Requião) Consequência: “Sem emissão voluntária não se forma o vínculo. Se o título foi posto fraudulentamente em circulação, não subsiste a obrigação.” (Rubens Requião) Qual das 3 (três) teorias foi adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro? R: A teoria dos 3 (três) momentos de PONTES DE MIRANDA é meramente teórica, não sendo adotada pelo ordenamento jurídico. Quanto às duas outras, depende da legislação de regência do título de crédito: 16 16 262 “No Brasil, devemos fazer uma separação da legislação cambiária. Em primeiro lugar, devemos analisar a Lei Uniforme de Genebra (LUG), aplicável diretamente às letras de câmbio e notas promissórias, cujas regras acabam sendo um padrão para os títulos típicos. No tocante aos títulos atípicos, devemos analisar as regras do Código Civil que são diferentes das regras dos títulos típicos. No âmbito da LUG, adota-se a teoria da criação. Apesar de um erro de tradução na denominação da seção I, do capítulo I (usou-se “Da emissão e da forma da Letra” para traduzir “De la création et de la forme da letre de change”), as regras da LUG denotam claramente a aplicação da teoria da criação em detrimento da teoria da emissão. A proteção do credor de boa-fé (arts. 16 e 17) em face dos devedores denota claramente o afastamento da teoria da emissão. A LUG protege o credor que recebe de boa-fé o título de crédito, ou seja, ainda que haja um vício na emissão (na saída do título das mãos do devedor), o credor estará protegido. Resguarda-se, assim, a circulação cambial, privilegiando o tráfico jurídico e, consequentemente, protegendo a aquisição de títulos de crédito nos contratos de factoring e de desconto bancário, por exemplo. Entretanto, não se deve se esquecer que essa proteção beneficia apenas o credor de boa- fé, porquanto o credor que não age desse modo não é digno de proteção pelo Direito. No Código Civil, a situação é um pouco diferente, uma vez que temos regras que visam à proteção do credor de boa-fé, mas também que objetivam proteger quem é injustamente desapossado do título de crédito, num evidente conflito. Vemos no Código Civil a infrutífera tentativa de junção das teorias da criação e da emissão. Os arts. 896, 901 e 905, parágrafo único, do Código Civil filiam-se à teoria da criação, protegendo o portador de boa-fé do título de crédito, na medida em que ele teria seus direitos resguardados. O título não poderia ser reivindicado do credor de boa-fé (art. 896), o pagamento feito ao credor de boa-fé seria válido (art. 901) e ele teria direito à prestação mesmo que o título tivesse entrado em circulação contra a vontade do emitente (art. 905, parágrafo único). Em contrapartida, o art. 909 do Código Civil filia-se claramente à teoria da emissão, uma vez que visa a proteger quem for injustamente desapossado do título. Por esse dispositivo, um credor de boa-fé poderia não receber o crédito, caso quem tiver sido injustamente desapossado do documento assim o queira. A menção à expressão injustamente desapossado envolve claramente um vício na emissão do título de crédito, afetando a vida do credor deboa-fé, demonstrando a opção por essa teoria. O conflito é claro. Não se pode pretender uma junção das teorias formando uma nova. Como se mencionou, não há como conciliar a proteção do portador de boa-fé com a proteção de quem foi injustamente desapossado do título. O ecletismo que existia no Código Civil de 1916 permanece no Código Civil. Tal conflito, a nosso ver, existe especialmente em relação aos títulos ao portador, cuja criação depende de lei específica, uma vez que os arts. 905 e 909 se referem a esses títulos. Já em relação aos demais títulos, prevalece a teoria da criação, tendo em vista o disposto nos arts. 896 e 901 do Código Civil, bem como a legislação especial sobre o assunto.” (Marlon Tomazette) 17 17 262 “A conclusão a tirar é que o Código de 1916 não se filiou puramente a nenhuma das duas teorias, temperando os rigores da teoria da criação com nuanças da teoria da emissão. Tal ecletismo foi mantido no Código de 2002.” (Rubens Requião) Em resumo: Títulos Típicos Títulos Atípicos (Inominados) Teoria da Criação Teoria da Criação e Teoria da Emissão O que é teoria da propriedade? R: As teorias da emissão, circulação e dos três momentos tem como paradigma a figura do devedor do título de crédito. Por outro lado, existem diversas teorias que buscam explicar o direito autônomo dos credores sucessivos em um mesmo título de crédito. Entre elas, a majoritária é a teoria da propriedade, segundo a qual: “(...) a titularidade do direito de crédito decorre da propriedade do título. Os sucessivos titulares do crédito são os sucessivos proprietários do título. A titularidade do direito depende, pois, de uma relação de natureza real, e não de natureza pessoal, não guardando vínculo com o direito dos credores anteriores. É da propriedade do título que decorre o direito de crédito. (...) A aquisição do direito se dá a título originário, e não a título derivado. A inoponibilidade das exceções se justificaria pelo fato de que a titularidade não decorre da transferência do documento, mas sim da propriedade do título. O direito surge autônoma e originariamente nos sucessivos proprietários do título, sem qualquer vinculação ao titular anterior. Em razão dessa fonte do direito existe a autonomia das obrigações cambiárias para o credor. Embora possa ser reconhecida como majoritária, essa teoria é objeto de uma crítica contundente: nem sempre o dono do documento é o titular do crédito. Costuma-se dar o exemplo de um título escrito sobre uma pintura de Leonardo da Vinci. Com efeito, o titular do crédito não seria dono da obra de arte, nem o contrário. Todavia, nesse tipo de situação poderia se separar a propriedade do título de crédito da propriedade da tela, mantendo-se no direito de propriedade a origem do direito de crédito.” (Sérgio Campinho) karin Destacar karin Destacar 18 18 262 1.4. FUNÇÕES DOS TÍTULOS DE CRÉDITO Os títulos de crédito possuem duas funções fundamentais, a saber: (a) constituir um meio técnico para o exercício de direitos de crédito (função econômica); (b) facilitar e agilizar a circulação de riquezas (função de circulabilidade). 1.5. CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO São características dos títulos de crédito: (i) natureza jurídica de bem móvel; (ii) natureza pro solvendo; (iii) circulação; (iv) ser um título de apresentação; (v) conter obrigação quesível; (vi) ser um título de resgate; (vii) executividade; (viii) presunção de liquidez e certeza; (ix) formalismo; e (x) presença de solidariedade cambiária. 1.5.1. Bem móvel O título de crédito é considerado como um bem móvel e, por conta disso, aponta MARLON TOMAZETTE: “(...) está sujeito aos princípios gerais que regem os bens móveis. Assim é que a posse de boa-fé dos títulos de crédito equivale à propriedade (LUG – art. 16, II; Lei n. 7.357/85 – art. 24). Essa natureza móvel simplifica a circulação dos títulos de crédito, agilizando a transmissão das riquezas, o que é essencial para os títulos de crédito.” (Marlon Tomazette) “Art. 16 da LUG (Decreto nº 57.663/66). O detentor de uma letra é considerado portador legitimo se justifica o seu direito por uma serie ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco. Os endossos riscados consideram-se, para este efeito, como não escritos.” “Art. 24, caput, da Lei nº 7.357/85. Desapossado alguém de um cheque, em virtude de qualquer evento, novo portador legitimado não está obrigado a restituí-lo, se não o adquiriu de má-fé.” karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 19 19 262 1.5.2. Natureza pro solvendo: Primeiro, vamos diferenciar a emissão de título de crédito pro solvendo de pro soluto: Pro solvendo Pro soluto O título de crédito é emitido constituindo uma nova obrigação, sem extinguir a obrigação originária que lhe deu causa. O título de crédito é emitido como forma de extinção da obrigação originária, permanecendo apenas a obrigação decorrente do título de crédito. Nessa senda, MARLON TOMAZETTE afirma que, salvo intenção diversa, a emissão do título de crédito é pro solvendo: “Com efeito, salvo intenção diversa das partes, a emissão do título de crédito é pro solvendo, isto é, a simples entrega do título ao credor não significa a efetivação do pagamento. Em outras palavras, a emissão do título não extingue a obrigação que lhe deu origem, de modo que as duas, a obrigação cambial e a originária, coexistem. (...) Com a emissão do título, estamos diante da mesma obrigação, dotada de outra roupagem, a cambial; prova disso é que a perda ou destruição do título não impede que o credor ajuíze uma ação baseada no contrato. Assim, se o cheque emitido pelo comprador, no contrato de compra e venda, for destruído, resta ao vendedor exigir o pagamento do preço com base no contrato.” (Marlon Tomazette) No mesmo sentido, já se manifestou o Superior Tribunal de Justiça: “(...) 1. O cheque (...) sendo, em regra, pro solvendo, de modo que, salvo pactuação em contrário, só extingue a dívida, isto é, a obrigação que a cártula visa satisfazer consubstanciada em pagamento de importância em dinheiro, com o efetivo pagamento. (...).” (STJ, REsp 1199001/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/05/2013, DJe 20/05/2013) Pense, agora, em um contrato de locação não residencial de 6 (seis) meses. O contrato prevê a forma de pagamento com 6 (seis) cheques com caráter pro soluto. Dessa forma, a partir da sua entrega ao locador, o contrato entende-se por adimplido, havendo, a partir daí, apenas a obrigação constante dos cheques. “Novamente, e daí?” Se os cheques forem devolvidos por ausência de fundos, é possível ao locador ingressar com ação de despejo por inadimplemento da locação? Não, pois a obrigação oriunda do contrato de locação entende-se por encerrada com a cláusula pro soluto, de modo que a única saída do locador é ajuizar execução dos títulos: “Imprimindo-se quitação aos termos da convenção, exsurge a solução da dívida, como muito acertadamente demonstra Orlando Gomes: ‘As promissórias constituem, nessa hipótese, outra dívida. Emitidas pro soluto, são títulos autônomos, como de sua natureza karin Retângulo karin Destacar 20 20 262 autêntica. Nenhuma vinculação subsiste entre esses títulos e a obrigação de pagar o preço. Extinta a dívida, não ressurge, não se reativa com o inadimplemento da contraída mediante a cambial. Ao credor somente assiste o direito de promover a cobrança das promissórias, à medida que se vão vencendo. Se o devedor não paga, o credor tem, apenas, ação própria para cobrar as promissórias vencidas, jamais o direito de promover a resolução do contrato de compra e venda. Por outras palavras, o inadimplemento da obrigação cambial não repercute na relação jurídica que determinou seu nascimento. O contrato de venda não pode ser resolvido ou rescindido, em suma, por inexecução da obrigaçãode pagar a dívida conexa, oriunda do negócio abstrato... Promissórias emitidas pro soluto, em razão de contrato bilateral, são títulos autônomos, que operam extinção do débito para cuja solução se emitiram. Não é outro seu alcance quando o credor os recebe, não em pagamento, mas como pagamento’ (Orlando Gomes, Questões de Direito Civil, 3a.edição, Saraiva, 1974, São Paulo, p. 322)” (Arnaldo Rizzardo) “O título de crédito tem natureza pro soluto quando emitido e entregue ao beneficiário visando a extinguir a obrigação que gerou a sua criação, ou seja, quando dado em pagamento da relação causal. Nessa hipótese, o título de crédito opera novação porque extingue a obrigação decorrente da causa debendi contra a assunção pelo devedor de uma obrigação nova, decorrente da emissão do título de crédito. A natureza pro soluto do título de crédito depende da existência de cláusula expressa no instrumento que consubstancia o negócio jurídico que origina o título, em razão da necessidade de existir o animus novandi, porque a novação não se presume (CCB de 2002, art. 361)26. Exemplificando: se na escritura de promessa de compra e venda pactuar-se que o preço é pago mediante a emissão pelo promitente comprador e entrega ao promitente vendedor de nota promissória do valor a ele correspondente, dando o promitente vendedor quitação do preço, o título foi emitido com natureza pro soluto, em pagamento do preço, não obstante só se vencer dentro de dado tempo, ocorrendo novação quanto à relação causal. Nesse caso, não pago o título no vencimento, o promitente vendedor não poderá ajuizar ação de rescisão do compromisso pelo não pagamento do preço porque este ocorreu com a emissão e a entrega do título ao promitente vendedor, só cabendo ação para cobrança do título.” (Luiz Emygdio Franco da Rosa Jr.) 1.5.3. Circulação Como uma de suas funções essenciais é a circulação de riquezas, natural que os títulos de crédito tenham, em regra, condição de circular: karin Destacar 21 21 262 1.5.4. Títulos de apresentação Para exercício do direito contido no título de crédito, ele deve ser apresentado, ou seja, sem a posse da cártula não é possível exercer o direito cambiário. 1.5.5. Obrigação quesível Obrigação quesível Obrigação portável O credor deve se deslocar para cobrar o adimplemento da obrigação do devedor. O devedor deve se deslocar ao credor para adimplir a obrigação. Em razão da possibilidade de circulação dos títulos de crédito e da necessidade de sua apresentação, é natural competir ao credor dirigir-se ao devedor para exigir o cumprimento da obrigação cambiária. “Nos títulos de crédito, há uma obrigação a ser cumprida pelo devedor e recebida pelo credor. Em toda obrigação, uma das duas partes deve tomar a iniciativa para o cumprimento da obrigação. No caso dos títulos de crédito, essa iniciativa compete ao credor, logo, é ele que deve se dirigir ao devedor para exigir o pagamento, e não o contrário.” (Marlon Tomazette) 1.5.6. Título de resgate Conforme ensina MARLON TOMAZETTE acerca dos títulos de resgate: “Uma vez apresentado o título ao devedor, deve haver, a princípio, o pagamento. Ao realizar esse pagamento, o devedor deve ter o cuidado de exigir a entrega do título (LUG – art. 39; CC – art. 901, parágrafo único), para evitar que o título volte a circular, e, “Não se quer dizer, contudo, que os títulos de crédito sempre vão circular. O que se quer deixar registrado é que os títulos nascem para circular, e essa é uma possibilidade que, em regra, se põe à disposição do credor. Outros documentos também podem circular, mas nos títulos essa característica é mais importante.” (Marlon Tomazette) “A necessidade de apresentação do título decorre, entre outros motivos, da possibilidade de circulação simplificada do título. Ora, como o título de crédito pode circular, o devedor só saberá quem é o atual credor com a apresentação do próprio documento. O devedor deve ter a cautela de só efetuar o pagamento a quem seja o portador legítimo do título, evitando o mau pagamento, que geraria o dever de pagar de novo a mesma obrigação (quem paga mal paga duas vezes).” (Marlon Tomazette) karin Destacar karin Destacar karin Retângulo karin Destacar karin Destacar 22 22 262 chegando às mãos de um terceiro de boa-fé, a obrigação lhe seja novamente exigida. Em razão disso, diz-se que o título de crédito é um título de resgate.” (Marlon Tomazette) “Art. 39 da LUG (Decreto nº 57.663/66). O sacado que paga uma letra pode exigir que ela lhe seja entregue com a respectiva quitação. (...).” “Art. 901 do CC. Fica validamente desonerado o devedor que paga título de crédito ao legítimo portador, no vencimento, sem oposição, salvo se agiu de má-fé. Parágrafo único. Pagando, pode o devedor exigir do credor, além da entrega do título, quitação regular.” 1.5.7. Executividade Os títulos de crédito são considerados como títulos executivos extrajudiciais (art. 784 do NCPC) e, consequentemente, não precisam de confirmação judicial para que recaia, sobre eles, a executividade. “Essa é a hipótese dos títulos de crédito, daí falar em eficácia processual abstrata dos títulos, na medida em que eles permitem a realização da execução, sem a necessidade de qualquer nova demonstração da existência do crédito. (...) Quem tem um título de crédito pode requerer de imediato a adoção das medidas satisfativas do seu crédito, isto é, pode ajuizar diretamente um processo de execução. Tal característica não se aplica aos chamados títulos atípicos.” (Marlon Tomazette) 1.5.8. Presunção de liquidez e certeza Os títulos de crédito possuem, em regra, liquidez e (presunção de) certeza, uma vez que o documento é suficiente para atestar a existência do crédito (certeza) e seu valor ou os critérios para se chegar a seu valor estão definidos no título (liquidez). Aliada a característica de executividade, o art. 783 do Novo Código de Processo Civil dispõe que: “Art. 783 do NCPC. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.” karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 23 23 262 Quanto a essas características, pontua MARLON TOMAZETTE: “A exigibilidade vai decorrer do vencimento da obrigação, não representando exatamente um elemento intrínseco do título de executivo. Uma nota promissória ainda não vencida não é exigível, mas não deixa de ser um título executivo. A exigibilidade representará, em última análise, a adequação ao procedimento da execução, a necessidade dessa atuação jurisdicional. A certeza diz respeito à existência da obrigação, que não deve ser entendida como uma certeza absoluta, o que não significa que o direito necessariamente exista, vale dizer, pode haver o reconhecimento posterior de que o direito não existe, por meio de embargos à execução, por exemplo. O que se exige na certeza é o alto grau de probabilidade da existência do crédito. Por fim, a liquidez diz respeito à determinação do objeto da obrigação, isto é, o montante da obrigação já está definido, ainda que mediante simples cálculos aritméticos. É líquida a dívida quando a importância se acha determinada em todos os seus elementos de quantidade (dinheiro) e qualidade (coisas diversas do dinheiro), natureza e espécie (prestação de fato).” (Marlon Tomazette) 1.5.9. Formalismo Uma cártula só pode ser considerada como título de crédito se preencher os requisitos legais. Por outro lado, a não observância dos requisitos NÃO implica nulidade do documento, mas apenas não se reconhece ao documento os efeitos de um título de crédito. “Art. 888 do CC. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem.” “Indispensável se torna que o documento se revista de certas exigências impostas pela lei para que tenha a naturezade título de crédito e assegure ao portador os direitos incorporados no mesmo. É, assim, o formalismo o fator preponderante para a existência do título e sem ele não terão eficácia os demais princípios próprios dos títulos de crédito. Tanto a autonomia das obrigações como a literalidade e a abstração só poderão ser invocadas se o título estiver legalmente formalizado, donde dizerem as leis que não terão o valor de título de crédito os documentos que não se revestirem das formalidades exigidas por ditas leis.” (Fran Martins) karin Destacar 24 24 262 A título de exemplo: “Assim, se uma nota promissória não contiver o nome do seu beneficiário, por exemplo, ela não pode ser tratada como uma nota promissória. Em razão disso, tal documento não pode gozar do tratamento peculiar dado aos títulos de crédito, não sendo, por exemplo, passível de execução. A irregularidade da forma afeta os efeitos do documento como título de crédito. Eventual correção desses vícios de nada adianta, pois, uma vez promovidas as medidas para o exercício do direito de crédito com um título incompleto, fica afastada a condição de título de crédito que não poderá ser adquirida posteriormente.” (Marlon Tomazette) Nesse sentido, o STJ já pontuou que a ausência de data de emissão na nota promissória torna-a inexigível como título de crédito: “(...) A ausência da data de emissão da nota promissória torna-a inexigível, visto tratar-se de requisito formal e essencial à constituição do referido título executivo. (...)” (STJ, EDcl no REsp 1158175/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 14/04/2011, DJe 03/05/2011) Para memorizar: (CESPE – AGU – ADVOGADO DA UNIÃO - 2004). A respeito de títulos de crédito, julgue os seguintes itens. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, invalida o negócio jurídico que lhe der origem. GABARITO COMENTADO INCORRETA. Reprodução do art. 888 do CC. A omissão vai tirar a validade do documento como título de crédito, mas não vai mexer no negócio jurídico que lhe deu origem. Não por outro motivo, o credor pode ajuizar ação de cobrança a partir do negócio jurídico que deu origem ao título. karin Destacar 25 25 262 1.5.10. Solidariedade cambiária Nos títulos de crédito existe uma solidariedade entre os vários coobrigados, de modo que o credor pode exigir de um, alguns ou de todos eles a obrigação integral constante do documento. “Art. 47 da LUG (Decreto nº 57.663/66). Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma letra são todos solidariamente responsáveis para com o portador. O portador tem o direito de acionar todas estas pessoas individualmente, sem estar adstrito a observar a ordem por que elas se obrigaram. O mesmo direito possui qualquer dos signatários de uma letra quando a tenha pago. A ação intentada contra um dos coobrigados não impede acionar os outros, mesmo os posteriores àquele que foi acionado em primeiro lugar.” A solidariedade cambiária é igual à solidariedade civil? R: Não, como apontam FRAN MARTINS e FÁBIO ULHOA COELHO: “Note-se que a solidariedade cambial é diversa da solidariedade comum, pois nesta [solidariedade comum], se um paga a totalidade da dívida, a mesma será repartida entre todos (Código Civil, art. 283), enquanto na solidariedade cambiária se um paga tem o direito de receber a totalidade da dívida dos obrigados anteriores.” (Fran Martins) “(...) de comum entre o regime cambial e a disciplina civil da solidariedade existe apenas o fato de o credor poder exercer seu direito, pelo valor total, contra qualquer um dos devedores. Quando se trata de discutir a composição, em regresso, dos interesses desses devedores, a regra aplicável do direito cambial é diferente da pertinente à solidariedade passiva. É incorreta a afirmação de que os devedores de um título de crédito são solidários. O devedor solidário que paga ao credor a totalidade da dívida pode exigir, em regresso, dos demais devedores a quota-parte cabível a cada um (CC, art. 283). Se são três os obrigados, aquele que adimpliu a obrigação junto ao titular do crédito, pode cobrar a terça parte do valor pago, de cada um dos outros dois codevedores. É o regresso típico da solidariedade passiva, que, no entanto, não se verifica entre devedores cambiais. Em primeiro lugar, nem todos têm direito de regresso: o aceitante da letra de câmbio ou o subscritor da nota promissória, por exemplo, após pagarem o título não poderão cobrá-lo de ninguém mais. Em segundo, nem todos os codevedores respondem regressivamente perante os demais: os devedores anteriores respondem perante os posteriores, mas esses [posteriores] não podem ser acionados por aqueles [anteriores]. karin Destacar karin Destacar karin Destacar 26 26 262 Em terceiro lugar, em regra o regresso cambiário se exerce pela totalidade e não pela quota-parte do valor da obrigação: apenas excepcionalmente, como na hipótese de avais simultâneos, é que se verifica, entre os coavalistas, a partição proporcional da obrigação. São tão significativas as diferenças, no momento do regresso, entre os devedores cambiais e os solidários, que considero mais correto afastar-se o paralelo. A natureza da obrigação cambiária lembra a solidariedade passiva apenas no aspecto externo (a possibilidade de cobrança judicial da dívida por inteiro, de qualquer um dos devedores), e, por isso, revela-se mais adequado estudar o tema por uma perspectiva própria; quer dizer, abstraindo-se totalmente o regime da solidariedade civil. O art. 285 do CC não se aplica às obrigações cambiais, posto que ela interessa a todos os devedores. (...).” (Fábio Ulhoa Coelho) Vamos à tabela: Solidariedade cambiária Solidariedade civil Decorre sempre da lei Pode decorrer da lei ou de convenção A obrigação dos devedores solidários decorre de causas distintas A obrigação de todos os devedores solidários decorre de uma causa comum Pluralidade de prestações Unidade de prestação Nem todo devedor que paga o título de crédito tem direito de regresso. Qualquer codevedor que paga a dívida terá direito de regresso contra os outros codevedores O direito de regresso só pode ser exercido em face dos devedores anteriores O direito de regresso pode ser exercido contra qualquer um dos codevedores O direito de regresso é sobre a dívida toda, e não por cota- parte (art. 49 da LUG) O direito de regresso limita-se ao valor da quota parte dos demais devedores (art. 283 do C) A prescrição é individual, corre ou interrompe-se para cada codevedor. A interrupção da prescrição em face de um devedor afeta os demais devedores (art. 202, § 1º, do CC) A solidariedade cambiária atinge os avais simultâneos? R: Não, como destaca FRAN MARTINS: “Do mesmo modo que acontece com a letra de câmbio, o aval no cheque pode ser dado por uma ou por várias pessoas. Neste último caso, teremos pluralidade de avalistas e em princípio há solidariedade entre eles, donde o portador poder requerer de um só o cumprimento da obrigação total, tendo o pagante o direito de exigir dos demais avalistas a parte que lhes cabe na divisão da dívida. Tais avais são denominados simultâneos, com os efeitos acima mencionados (solidariedade passiva dos avalistas e consequente direito do que paga de exigir dos demais a parte que lhes couber no pagamento da dívida).” (Fran Martins) karin Retângulo karin Destacar 27 27 262 Dessa forma, os avais simultâneos estabelecem entre os coavalistas uma relação fundada na solidariedade de direito comum, e não cambiária. Assim, se um deles pagar a dívida, terá o direito de exigir do outro apenas a quota parte que caberia a este. 1.6. PRINCÍPIOS A doutrina não é unânime a respeito do termo “princípios”, há quem prefira outras como: características, atributos ou até requisitos essenciais. No entanto, o STJ temusado o termo princípio para se referir aos enunciados aqui estudados: “(...) 3. O aceite é ato formal e deve se aperfeiçoar na própria cártula (assinatura do sacado no próprio título), incidindo o princípio da literalidade (art. 25 da LUG). (...).” (STJ, REsp 1334464/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/03/2016, DJe 28/03/2016) “(...) 1. Nas relações cambiárias (norteadas, dentre outros, pelo princípio da cartularidade), (...).” (STJ, REsp 1086969/DF, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 16/06/2015, DJe 30/06/2015) De qualquer modo, apesar de alguns princípios extras, a doutrina converge em relação a pelo menos 3 (três): (a) princípio da cartularidade (ou incorporação); (b) princípio da autonomia; (c) princípio da literalidade. karin Destacar 28 28 262 1.6.1. Cartularidade De acordo com MARLON TOMAZETTE, reproduzindo CESARE VIVANTE: “No conceito de Vivante, diz-se que ‘título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado’. Diz-se que o documento é necessário, ‘porque, enquanto existe o documento, o credor deve exibi-lo para exercitar todo direito, seja principal, seja acessório, que o título porta consigo e não se pode fazer qualquer mudança na posse do título, sem anotá-la nele’.” (Marlon Tomazette) O título de crédito, como já bem vimos, é um documento necessário ao exercício do direito nele mencionado, logo, é preciso apresentá-lo à pessoa indicada para efetuar o pagamento. Art. 887. CC O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” Assim, o princípio da cartularidade é o que exige a exibição original do título de crédito para exercer o direito dele resultante. Na cobrança judicial, por exemplo, o original do título deve ser juntado com a petição inicial. Igualmente para fundamentar requerimento de falência com base na impontualidade. Princípios dos Títulos de Crédito Princípio da Cartularidade ou da Incorporação Princípio da Autonomia Abstração Inoponibilidade de Exceções Pessoais a Terceiros de Boa-fé Princípio da Literalidade karin Retângulo karin Destacar karin Destacar karin Destacar 29 29 262 A posse do título é o pressuposto para alguém exercer o direito nele mencionado. Não basta, porém, a apresentação da fotocópia, ainda que autenticada. É preciso a exibição do título de crédito original, pois só assim se tem a garantia de que não houve sua circulação. Vale ainda ressaltar, que o título de crédito é documento, isto é, um papel escrito, dotado de conteúdo e identificação do signatário (aquele que assim) com valor probatório em uma ação judicial. O escrito, para ser título de crédito, deve ser lançado em papel, não se admitindo gravações, filmagens, nem “pen drive” ou similar. Não existe, também, título de crédito oral. Quais são as aplicações do princípio da cartularidade (da incorporação)? R: O princípio da cartularidade possui diversas aplicações: (a) necessidade de apresentação do título para exercício dos direitos nele referidos; (b) a apresentação do título pelo devedor representa, a princípio, sua quitação; (c) o direito cartular só se transmite com a entrega do título de crédito; (d) exige-se a apresentação do título de crédito original (não cópia autenticada) para instruir demandas judiciais. O princípio da cartularidade comporta exceções? R: Sim, como aponta MARLON TOMAZETTE: “Todavia, tal aplicação da cartularidade ou incorporação vem sendo mitigada, admitindo- se, em determinadas hipóteses, a não apresentação do título original. Por questões de segurança (valor elevado ou risco de perda), ou mesmo por questões de impossibilidade fática de juntada do original (quando este está em outro processo), admite-se a apresentação apenas de cópia autenticada do título, com a assunção da obrigação de mostrar o original quando pedido, ou com a certidão de que o original está em outro processo. Também vem se admitindo o prosseguimento do processo se o original se perdeu no curso do processo e não houve impugnação sobre a legitimidade do documento. Além do exposto, tal princípio encontra algumas variações em relação às duplicatas mercantis ou de prestação de serviços, nas quais alguns direitos podem ser exercidos sem a exibição do título, como o protesto por indicações e a execução baseada no protesto por indicações acompanhada do comprovante de entrega das mercadorias.” (Marlon Tomazette) karin Destacar karin Destacar karin Destacar karin Destacar 30 30 262 Esquematizando as exceções: Sobre as exceções ao princípio da cartularidade, neste momento cumpre mencionar a do §3o do Artigo 889 do Código Civil, a seguir: Artigo 889. [...] “§3.o O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.” Quanto aos títulos eletrônicos, MARLON TOMAZETTE sugere a utilização do termo “incorporação”, já que não há papel nesse caso: “Além disso, é certo que o surgimento dos títulos eletrônicos torna um tanto inadequada a expressão cartularidade, uma vez que inexistirá o papel, sendo melhor falar em incorporação para os títulos eletrônicos. Apesar disso, para os títulos representados em papel, a expressão cartularidade ainda é mais correta, na medida em que não se vale de qualquer metáfora ou imagem plástica.” (Marlon Tomazette) 1.6.2. Literalidade Segundo o princípio da literalidade, quanto ao conteúdo, à extensão e às modalidades do direito cambiário, é decisivo exclusivamente o teor do título. Nossa opinião faz eco com a do grande TARCÍSIO TEIXEIRA: Exceções gerais Questões de segurança (valor elevador ou risco de perda) Impossibilidade fática Perda no curso do processo Exceção na duplicata Protesto por indicação acompanhado do comprovante de entrega karin Destacar karin Destacar karin Destacar 31 31 262 “(...) literal quer dizer que vale apenas o que está escrito, ou seja, o que efetivamente está estampado no título. Assim, somente produzem efeitos jurídicos-cambiários os atos lançados no próprio título de crédito, pois apenas o conteúdo do título é que possui valor.” (Tarcísio Teixeira) Assim, é possível dizer que o direito que, por meio do título de crédito, se pretende exercer, deve estar literalmente nele mencionado. Aliás, qualquer relação jurídica relacionada com o título de crédito só é levada em consideração quando nele constar expressamente. Artigo 887. CC O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” O aval, por exemplo, quando lançado fora do título de crédito, ainda que por escritura pública, não tem a natureza jurídica de aval, embora possa valer como fiança. A quitação lançada em documento separado, isto é, fora do título, não produz efeitos. Igualmente, o endosso em separado não surte efeito algum. Pelo princípio da literalidade, só é levado em consideração o que está escrito no título de crédito, e, por consequência, as obrigações inseridas em separado a ele não se integram. Exceção a esse princípio verifica-se quando estamos diante da duplicata, uma vez que o §1º do artigo 9º da Lei nº 5.474/1968 admite a quitação, pelo legítimo possuidor do título, em documento separado. O princípio da literalidade aplica-se na íntegra às duplicatas? R: Não, como nos lembra MARLON TOMAZETTE: karin Destacar karin Destacar karin Destacar 32 32 262 Do que se trata a literalidade indireta? R: De acordo com MARLON TOMAZETTE, algumas obrigações podem ser exigidas do devedor, embora não constantes do título de crédito, sejapor decorrerem de expressa previsão legal (ex.: juros e correção monetária), seja por terem embasado a própria emissão/saque do título de crédito (ex.: nota promissória vinculada a um contrato bancário). Essa possibilidade de cobrança é a literalidade indireta. O que é o princípio da independência? R: Ainda de acordo com o jurista MARLON TOMAZETTE: “(...) o título vale por si só, não precisando ser completadao por outros documentos.” (Marlon Tomazette) No entanto, o mesmo autor pontua que esse princípio não é aceito por toda a doutrina: “Não se trata de princípio admitido por toda a doutrina, por estar ausente de uma série de títulos. Alguns títulos fazem referência a contratos ou a outros documentos. Portanto, a própria lei afasta a independência de alguns títulos, como nas cédulas de crédito rural que devem ser acompanhadas do orçamento (Decreto-lei n. 167/67 – art. 3º), ou nas cédulas de crédito bancário que devem ser acompanhadas pelos extratos bancários (Lei n. 10.931/04 – art. 28, § 2º, II). Portanto, a independência pode deixar de ser aplicada pela vontade das partes (remissão a contrato) ou pela lei (vinculação legal a algum documento).” (Marlon Tomazette) “Mais uma vez, tal princípio não se aplica integralmente à duplicata. Nesta, são admitidas a quitação em separado (Lei n. 5.474/68 – art. 9º), a compensação de valores não previstos no título (Lei n. 5.474/68 – art. 10) e a assunção de obrigação fora do título, como o chamado aceite presumido.” (Marlon Tomazette) karin Destacar karin Destacar karin Destacar 33 33 262 (QUESTÕES DE PROVA DISCURSIVA - MAGISTRATURA ESTADUAL - TJPR – 2014). Segundo Tarcisio Teixeira (Direito Empresarial Sistematizado: doutrina e prática. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, pp 146/149) são três os princípios do Direito Cambiário, sendo o da autonomia um deles. Levando em conta a linha doutrinária do referido autor, responda: (a) Quais são os dois outros princípios do Direito Cambiário e, em poucas palavras, explique o que significa cada um deles (0,25 ponto). R: Embora o enunciado se refira a um autor específico, não há muita divergência na doutrina em geral quanto aos pontos questionados. “Pelo princípio da cartularidade, o exercício dos direitos representados por um título de crédito pressupõe a sua posse, pois somente quem exibe a cártula (o papel, que representa o título) pode exigir a satisfação do direito que está documentado no título. Assim, em geral, quem não tem a posse do título não pode ser presumido credor. (...) literal quer dizer que vale apenas o que está escrito, ou seja, o que efetivamente está estampado no título. Assim, somente produzem efeitos jurídicos-cambiários os atos lançados no próprio título de crédito, pois apenas o conteúdo do título é que possui valor.” (Tarcisio Teixeira) (b) Sobre o princípio da autonomia (o qual significa que as obrigações representadas num título são autônomas umas em relação às outras), diga quais são os seus dois subprincípios, explicando, da mesma forma (sucintamente) o que significam (0,25 ponto). R: Embora o enunciado se refira a um autor específico, não há muita divergência na doutrina em geral quanto aos pontos questionados. “Vale destacar que o princípio da autonomia é constituído por dois subprincípios: abstração e inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. (...) A abstração ocorre quando o título de crédito circula (é transmitido de uma pessoa à outra), pois nesse caso ele se desvincula do negócio jurídico que lhe deu origem (dito negócio subjacente). Por isso, como regra, deverá ser pago mesmo que haja problemas entre as partes originárias do negócio. (...) Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé: exceção significa defesa. Nesse contexto, o executado, em virtude de um título de crédito, não pode alegar em sua defesa (embargos) matéria estranha à sua relação direta com o exequente (credor), salvo prova de má-fé.” (Tarcisio Teixeira) (QUESTÕES PROVA DISCURSSIVAS - MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL - MPE-SP – 2011). Identifique e explique os princípios informadores dos títulos de crédito, (...). R: São 3 (três) os princípios informadores dos títulos de crédito: princípio da cartularidade, princípio da autonomia e princípio da literalidade. 34 34 262 “Quando se afirma que o título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito nele mencionado, há uma referência clara ao princípio da cartularidade, segundo o qual se entende que o exercício de qualquer direito representado no título pressupõe a sua posse legítima. (...) Quando se diz que o título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal nele representado, faz-se referência expressa ao princípio da literalidade, segundo o qual o título de crédito vale pelo que nele está escrito. Nem mais, nem menos. Em outros termos, nas relações cambiais somente os atos que são devidamente lançados no próprio título produzem efeitos jurídicos perante o seu legítimo portador. (...) O terceiro e mais importante princípio relacionado aos títulos de crédito, considerado a pedra fundamental de todo o regime jurídico cambial, é o princípio da autonomia. Por esse princípio, entende-se que o título de crédito configura documento constitutivo de direito novo, autônomo, originário e completamente desvinculado da relação que lhe deu origem. (...) Decorrentes do princípio da autonomia, há dois outros importantes princípios – ou subprincípios, como preferem alguns autores, uma vez que não trazem nenhuma ideia nova em relação à autonomia, mas apenas uma outra forma de se encarar este princípio. Trata-se dos subprincípios da abstração e da inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa-fé. Segundo o subprincípio da abstração, entende-se que quando o título circula, ele se desvincula da relação que lhe deu origem. (...) O princípio da inoponibilidade das exceções pessoais (a expressão exceção é aqui utilizada em seu sentido técnico-processual, significando defesa) ao terceiro de boa-fé, por sua vez, nada mais é do que a manifestação processual do princípio da autonomia.” (André Luiz Santa Cruz Ramos) (QUESTÕES PROVA ORAL - MAGISTRATURA FEDERAL - TRF4 – 2014). O que seria o princípio da cartularidade? R: Segundo o princípio da cartularidade, a posse do título de crédito é condição para o exercício do direito nele incorporado. 1.6.3. Autonomia Sobre isso, discorre FÁBIO ULHOA COELHO: “Pelo princípio da autonomia das obrigações cambiais, os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem às demais relações abrangidas no mesmo documento.” (Fábio Ulhoa Coelho) O princípio da autonomia, de fato, exige mais atenção, já que é o mais importante princípio para a profunda compreensão dos títulos de Crédito. O título tem autonomia, em no mínimo, 3 (três) karin Destacar 35 35 262 ângulos diferentes de visão, por isso, tal princípio é explicado por intermédio de sub-princípios, a seguir. Artigo 887. CC O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” O princípio da autonomia das obrigações cambiais se desdobra em 2 (dois) outros subprincípios: (a) o da abstração e (b) o da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. “Qualifico-os de subprincípios porque, na verdade, nada acrescentam ao que já se encontra determinado pelo princípio da autonomia. A abstração e a inoponibilidade correspondem a modos diferentes de se reproduzir o preceito da independência entre as obrigações documentadas no mesmo título de crédito.” (Fábio Ulhoa Coelho) Reitero que o princípio da autonomia (e seus subprincípios) somente incide se o título de crédito tiver circulado: “(...) Não obstante sejam a autonomia e a abstração características dos
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