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LT2_Ética_Direito_23fev2020_8maio20 S

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1 
 
 
 
 
 
 
 
ÉTICA NO DIREITO 
 
 
 
 
 
Políticas judiciais modernas para manutenção da ética 
 
 
 
Prof. Daniel Tobias Leite de Almeida 
 
Unidade II 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR 
 
Daniel Tobias Leite de Almeida é professor convidado na Unidade Paulista – UNIP, 
atuando nas disciplinas comuns e específicas de Teoria Geral, Direito Tributário e 
Direito Civil, para os cursos de Pós-Graduação de Direito, na modalidade ensino à 
distância EAD. 
É bacharel (2010) em Direito pela Unidade Paulista – UNIP, realizando MBA em 
Gestão Pública pela rede LFG – Luiz Flávio Gomes, atual instituição Anhanguera-
UNIDERP (2019). 
Atua como advogado na área do direito privado, especialmente em contratos e 
execuções. 
Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/3489925247258042 
 
 
 
3 
INTRODUÇÃO 
 
Na Unidade II da disciplina Ética no Direito, nos cursos de pós-graduação em Direito, 
modalidade à distância, serão vistas as principais normas e mecanismos modernos, 
instituídos por meio do anseio popular, da atividade legislativa, para coibir e conter 
modalidades de corrupção. 
Dentre essas novidades, serão vistos os institutos criados pela Lei Anticorrupção 
Empresarial (Lei nº 12.846/2013), pela Lei das Organizações Criminosas – colaboração 
premiada (Lei nº 12.850/2013), a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), como os 
principais mecanismos que agilizam a atuação investigativa das autoridades auxiliares do 
Poder Judiciário e estreitam laços com o controle social acerca da condução da gestão 
pública. 
O conteúdo estudado será sempre amparado pelo entendimento jurisprudencial 
proferido pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, e interpretações 
peculiares proferidas pelas demais Cortes de Justiça do país, quando cumprirem uma função 
didática nesse sentido. 
 
 
 
 
4 
1. POLÍTICAS MODERNAS DE COMBATE À CORRUPÇÃO E 
MANUTENÇÃO DA ÉTICA DAS INSTITUIÇÕES 
 
 
1.1 COLABORAÇÃO PREMIADA E ACORDO DE LENIÊNCIA – NOÇÕES 
GERAIS E CONTEXTO POLÍTICO-INSTITUCIONAL BRASILEIRO 
 
 
É notório na história brasileira o foco dado aos escândalos de corrupção que 
assolam o país, principalmente após a redemocratização e a promulgação da Carta 
Política, de 5 de outubro de 1988. 
Em grande parte, tamanha notoriedade foi amparada pelo amadurecimento das 
próprias instituições, por intermédio dos seus órgãos investigativos, seja da Polícia 
Judiciária ou de autoridades que auxiliam na persecução da Justiça, como o Ministério 
Público. 
Não podendo andar no sentido contrário, o advento do massivo acesso à 
informatização e às redes sociais encurtou a ponte entre população civil e as 
instituições constituídas, e assim, os agentes políticos foram se tornando cada vez 
mais próximos do controle social. 
Em períodos recentes, o país foi abalado por estruturados esquemas de 
corrupção, envolvendo empresas públicas de atividade econômica estratégica e a 
própria atividade legislativa, onde emendas parlamentares se tornaram a mais banal 
das negociações políticas. 
No ímpeto de reconstruir as feridas causadas na confiabilidade do Poder 
Público, diversos mecanismos legislativos foram introduzidos ao ordenamento jurídico 
tentando coibir ou desestimular práticas criminosas e outras medidas foram 
incentivadas, principalmente no âmbito processual. 
Como regra, as condutas tipificadas que podem ser mencionadas não se 
referem às modalidades criminosas mais cruéis como vistas no noticiário, como 
homicídio ou roubo, mas sim crimes de ordem financeira. 
E condutas realizadas com a atividade mercadológica podem ser estimuladas 
ou desestimuladas como política de mitigar o anseio pelo enriquecimento ilícito. 
Alguns instrumentos judiciais, como a delação premiada, tornaram-se meios eficientes 
devido ao grau de vantagens que o réu pode auferir caso colabore com indícios para 
 
5 
que as autoridades competentes possam construir outras provas contra os agentes 
que atuaram em concurso ou organizações criminosas. 
Não alheio ao estímulo material ou financeiro, essa negociação acaba sendo 
abarcada pela denominada Teoria dos Jogos, que consiste em testes de origem 
lógico-matemática, onde pessoas são instigadas a tomar decisões com o intuito de 
limitar o grau de prejuízos que possam sofrer. Esse método ainda pode ser 
incorporado em muitas disciplinas e metodologias onde sejam necessárias tomadas 
de decisões, como modelo de gestão de negócios e de atividades financeiras. 
O advento de novos instrumentos normativos não revoga as leis de outrora, 
como a Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992) e fenômenos jurídicos 
como a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica, amplamente prevista 
na seara do Direito Privado, como nas relações trabalhistas e fiscais. 
O Tribunal Federal Regional da 4ª Região leciona que a Norma de Improbidade 
Administrativa tem como finalidade a punição do agente público ímprobo, enquanto a 
Lei Anticorrupção Empresarial atuará para responsabilizar as pessoas jurídicas em 
conluio com aquele (TRF-4 Agravo de Instrumento nº 5023972-66.2017.4.04.0000. 3ª 
Turma. Des. Relatora: Vânia Hack de Almeida. Data de julgamento: 22 ago. 2017. 
Publicação em; 22 ago. 2017). Todavia, as punições da Lei nº 8.429/1992 contemplam 
o terceiro em conluio com o Poder Público em razão das penalidades dispostas. 
O julgado estatui também que: [“Não há impedimentos para que haja 
participação de outros órgãos da administração pública federal no acordo de leniência 
como a Advocacia Geral da União, o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas 
da União, havendo, portanto, a necessidade de uma atuação harmônica e cooperativa 
desses referidos entes públicos.”] 
Infere-se, assim, a intercomunicação entre as diferentes normas para 
adequação aos tipos e hipóteses contemplados para apuração da ilicitude e 
consequente reparação. Doravante, o acordo de leniência em sede de competência 
do CADE continua produzindo efeitos (TRF-3 Apelação nº 1592947 – SP – nº 
0010414-56.2009.4.03.6100. 3ª Turma. Des. Relator Convocado: Silva Neto. Data de 
julgamento: 05 nov. 2015. Publicação em: 12 nov. 2015; e STJ – REsp nº 1.554.986 
– SP. 3ª Turma. Min. Relator: Marco Aurélio Bellizze. Data de julgamento: 08 mar. 
2016. Publicação em: 05 abr. 2016). 
Nesse sentido, a famigerada colaboração premiada não foi novidade após os 
escândalos envolvendo lavagem de dinheiro de partidos políticos por meio da 
 
6 
Petrobrás S.A. A Lei nº 12.529/2011, que houvera reestruturado a autarquia federal 
conhecida como Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), criou o 
mecanismo denominado como programa de leniência, como medida colaborativa 
para os processos administrativos instaurados no campo de atuação da entidade. 
O acordo em questão se dava no contexto da norma e quanto à fiscalização 
exercida pela referida autarquia. Com a Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei 
Anticorrupção Empresarial, trouxe o acordo de leniência (Art. 16) para averiguar a 
responsabilidade objetiva, administrativa e civil, de pessoas jurídicas que atentarem 
contra a Administração Pública, nos moldes da lei. 
A fama adveio posteriormente, com a Lei nº 12.850/2013, Norma de Combate 
às Organizações Criminosas, com a colaboração premiada (Art. 3º-A), que foi 
abundantemente aplicada no decorrer dos processos judiciais que constituíram a 
Operação Lava Jato. 
As mencionadas normas estabelecem uma amplitude de requisitos e 
circunstâncias, com o intuito de coibir abusos por parte das autoridades contra o réu-
colaborador, e oportunismos por parte do beneficiário. 
Como são mecanismos recentes, a devida moderação dos usos e a conjugação 
com princípios constitucionais precisarão de parâmetros que serão construídos pela 
jurisprudência e pela doutrina, e este acervo teórico será construído com o passar dos 
anos e das práticas acerca dos acordos mencionados.No âmbito filosófico da ética, discute-se se a construção e provas a partir de 
uma fonte eivada de ilicitude (o agente réu, beneficiário e colaborador), porém, o que 
é significativo no campo pro Direito, a partir da hermenêutica é a colaboração na 
construção de provas: seja por indicação de agentes em concurso, locais ou 
esconderijos e contratos negociais eivados de ilicitude. 
A partir dos indícios, as autoridades buscarão e construirão as provas de 
maneira independente. É observado que o órgão incumbido de interesse na 
investigação poderá suscitar e produzir novos elementos no campo da narrativa 
realizada, sob avaliação do Poder Judiciário (TJ-RJ Agrv. Instr. nº 0050528-
43.2017.8.19.0000. 4ª Câmara Cível. Des. Relator: Reinaldo Pinto Alberto Filho. Data 
de julgamento: 18 out. 2017. Publicação em: 18 out. 2017). 
No campo da Lei das Organizações Criminosas, o Art. 3º-B, §4º, prevê a 
hipótese de que o conteúdo do acordo proposto poderá ser objeto de instrução, para 
 
7 
identificar ou complementar o conteúdo mencionado, como objeto, fatos narrados, 
além de determinar o interesse público ou jurídico da negociação. 
 
1.2 ACORDO DE LENIÊNCIA 
 
Conforme já salientado, na Lei Anticorrupção Empresarial, a construção ilícita 
de provas não é um fator eticamente comprometido, haja vista haver registros 
contábeis ou financeiros de transações com o intuito de fraude ou lavagem ilícita, para 
a maioria dos ilícitos cometidos por sociedades empresariais, bastando a indicação e 
a realização de um acordo com o intuito de delinear o alcance da responsabilização 
das pessoas jurídicas envolvidas. 
Quanto à abrangência das entidades sujeitas à disciplina desta lei, temos os 
parâmetros insculpidos no parágrafo único do Art. 1º, conforme vê-se a seguir: 
 
Art. 1º (...) 
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nesta Lei às sociedades 
empresárias e às sociedades simples, personificadas ou não, 
independentemente da forma de organização ou modelo societário 
adotado, bem como a quaisquer fundações, associações de entidades 
ou pessoas, ou sociedades estrangeiras, que tenham sede, filial ou 
representação no território brasileiro, constituídas de fato ou de direito, 
ainda que temporariamente. 
 
A abrangência destas descrições suscitaria dúvida quanto ao alcance sobre as 
empresas públicas ou sociedades de economia mista, que pela sua distinta natureza, 
não se sujeitam em absoluto ao regime jurídico de direito privado, mas também se 
submetem a normas do direito público. 
Destarte, com a Lei nº 13.303/2016, que dispõe sobre o Estatuto Jurídico das 
Empresas Públicas, das Sociedades de Economia Mista e de suas subsidiárias, no 
âmbito de todos os entes federativos que compõem a República Federativa do Brasil, 
ao fim, pode sugerir um meio de dar fim a esta dúvida, porquanto estipular 
expressamente que a Lei Anticorrupção aplica-se às empresas públicas e às 
sociedades de economia mista, além de suas subsidiárias, especificando sobre as 
sanções, em seu Art. 94. 
 
8 
A menor problematização do assunto sugeriria que apenas as penalidades são 
cabíveis a essas entidades públicas; porém, não se deve olvidar que para tais 
imposições, faz-se necessário o trâmite do processo administrativo de 
responsabilização. 
 Em julgado de similar importância, já foi questionado a sujeição das fundações, 
conforme conceituadas pelo Código Civil, sob a égide da Lei de Anticorrupção 
Empresarial, e o entendimento segue de maneira afirmativa: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO MONITÓRIA. DECISÃO 
AGRAVADA QUE INDEFERIU PEDIDO DE INSTAURAÇÃO DE 
INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA DA ASSOCIAÇÃO AGRAVADA. INTERPRETAÇÃO 
SISTEMÁTICA DO CÓDIGO CIVIL, EM CUJO TÍTULO REFERENTE 
ÀS PESSOAS JURÍDICAS ESTÁ INCLUÍDA A ASSOCIAÇÃO. 
INCIDÊNCIA DA LEI ANTICORRUPÇÃO (ARTS. 1º E 14). 
As pessoas jurídicas de direito privado, dentre as quais se incluem as 
associações, ainda que sem fins lucrativos, são abarcadas pelo 
conceito de abuso da personalidade jurídica, preconizado no art. 50, 
do Diploma Civil. Caso concreto que, por tratar de verbas públicas, 
atrai a incidência da recente Lei Anticorrupção (Lei nº 
12.846/2013) que, em seu art. 1º, parágrafo único, inclui as 
associações entre as pessoas jurídicas alcançadas pela inovação 
legislativa e, em seu art. 14, expressamente estabelece a 
possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica 
quando configurado abuso de direito. Associação agravada que 
além de ter sido declarada inidônea para contratar com o poder público 
municipal, ao ser intimada a pagar o débito, permaneceu inerte e, 
buscada a penhora online, foi constatada a inexistência de valores 
passíveis de constrição, tudo a apontar indícios de atuação abusiva. 
Admissível a instauração do incidente de desconsideração da 
personalidade jurídica. Recurso conhecido e parcialmente provido 
para que seja instaurado o incidente de desconsideração de 
personalidade jurídica, na forma do artigo 133 do Código de Processo 
Civil. 
 
9 
(TJRJ - Agravo de Instrumento nº 0023397-59.2018.8.19.0000. 12ª 
Câmara Cível. Des. Relator: José Acir Lessa Giordani. Data de 
julgamento: 18 dez. 2018. Publicação em: 18 dez. 2018) 
 
Assim, a Lei nº 12.846/2013 dispõe sobre a responsabilização administrativa 
e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, 
nacional ou estrangeira. Já pela ementa do texto legislativo vemos um teor menos 
comprometedor acerca da ilicitude do acordo, haja vista não envolver aspectos de 
responsabilização de caráter penal acerca das pessoas jurídicas envolvidas. 
 Consta na lei, conforme o caput do Art. 3º, que a responsabilização da pessoa 
jurídica não excluirá a responsabilidade individual dos dirigentes ou administradores, 
ou de quaisquer pessoas físicas, que agirem de má-fé ou em coautoria e participação 
com a ilicitude. 
 Uma das finalidades pretendidas pela norma é tirar de foco a observância da 
contaminação patrimonial entre o dirigente ou administrador de má-fé e a própria 
pessoa jurídica, que acaba sendo uma proteção àquele e um obstáculo paras as 
autoridades. Quanto a isto, a norma vai diretamente para a responsabilização da 
pessoa jurídica, e subsidiariamente constituir meios de alcançar a pessoa física 
beneficiária da ilicitude. 
 Por esta perspectiva distinta, objetiva-se a versatilidade na colaboração da 
companhia para diminuir os prejuízos do ilícito, estimulando a entidade a atuar em prol 
da reparação, além de que a sustância financeira de uma companhia pode ser mais 
garantidora sobre as lesões causadas e pelo cumprimento de imposições pecuniárias 
(STJ – REsp nº 1.672.015 - CE. Min. Relator: Sérgio Kukina. Data de julgamento: 20 
fev. 2018. Publicação em: 23 fev. 2018). 
 Tal possibilidade é amplamente aplicável e prevista pelo ordenamento jurídico 
brasileiro, principalmente quando da aplicação do expediente para desconsideração 
da personalidade da pessoa jurídica, que não está mais adstrita às hipóteses do 
Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990) ou conforme o Código Civil (Lei 
nº 10.406/2002). Para ilustrar o exposto, podemos observar o teor do julgado a seguir: 
 
EMENTA: (...) 
(...) 
 
10 
2. A pessoa jurídica de direito privado, enquanto realidade orgânica, 
não se confunde com os seus integrantes. Ocorre que, diante dos 
abusos por vezes cometidos pelos sócios e administradores dessas 
entidades, surgiu a teoria que encampou a ideia de quebra da 
autonomia da sociedade em relação aos seus membros, qual seja, a 
teoria da desconsideração da personalidade jurídica. 
3. A “Teoria da penetração” possibilita que se adentre na entidade 
societária para responsabilizar os sócios por dívidas assumidas em 
nome da pessoa jurídica. 3.1. O ordenamento jurídico brasileiro 
permite a aplicação dessa teoria em todas as fases do processo de 
conhecimento, no cumprimento de sentençae na execução, conforme 
a disciplina do art. 134 do Código de Processo Civil. Para tanto, exige-
se a ocorrência de abuso de direito, previsto no art. 28 do Código de 
Defesa do Consumidor; ou o abuso da personalidade jurídica, quando 
presente o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial, nos termos 
do art. 50 do Código Civil. Isso sem falar na possibilidade de 
aplicação desse instituto com fundamento na Lei nº 9605/1198 ou 
na Lei nº 12846/2013. 
4. O exame da responsabilidade das pessoas integrantes de um grupo 
econômico deve considerar necessariamente o fato de que, em maior 
ou menor medida, a confusão patrimonial é inerente a todo grupo 
econômico. Demonstrada a existência de grupo econômico, é possível 
a responsabilização dos demais integrantes, preenchidos os requisitos 
e pressupostos dispostos no art. 133 e seguintes do CPC. 
(...) 
(TJDFT - Acórdão nº 0709185-25.2018.8.07.0000. 3ª Turma Cível. 
Des. Relator: Alvaro Ciarlini. Data de julgamento: 18 out. 2018. 
Publicação em: 24 out. 2018) (destaque) 
 
Nesse sentido, traz outros dispositivos compondo as hipóteses acerca dessa 
responsabilização, em caso de subsistência da pessoa jurídica em face de operações 
societárias (Art. 4º §1º), e interdependência entre a responsabilidade dos dirigentes – 
quanto ao grau de sua culpabilidade - e a da pessoa jurídica (Art. 3º, §2º). 
 A norma de combate a práticas corruptivas contra a Administração Pública traz 
o em seu Art. 5º os atos que configuram lesividade contra patrimônio público ou 
 
11 
Administração Pública, nacionais ou estrangeiros, e atentatórios aos compromissos 
internacionais assumidos pela República Federativa do Brasil. 
 As condutas enumeradas são as seguintes: 
 
ATOS LESIVOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NACIONAL OU ESTRANGEIRA 
Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente 
público, ou a terceira pessoa a ele relacionada; 
Financiar, custear, patrocinar ou subvencionar, comprovadamente, e de 
qualquer forma, a prática de atos ilícitos previstos na Lei nº 12.846/2013; 
Recorrer a interposta pessoa física ou jurídica para ocultação ou dissimulação 
dos reais interesses ou da identificação dos beneficiários dos atos praticados pela 
Lei nº 12.846/2013; 
Condutas realizadas no trâmite de licitação ou constância de contratos 
Dificultar atividade investigatórias ou fiscalizatórias de órgãos, entidades ou 
agentes públicos, ou intervir na atuação deles, inclusive no âmbito das Agências 
reguladoras e dos órgãos de fiscalização do Sistema Financeiro Nacional. 
Fonte: Autor, 2020 
 
CONDUTAS REALIZADAS NO TRÂMITE DE LICITAÇÃO OU CONTRATOS 
Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o 
caráter competitivo de procedimento licitatório público; 
Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento 
licitatório público; 
Afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de 
vantagem de qualquer tipo; 
Fraudar licitação pública ou contrato decorrente dela; 
Criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação 
pública ou celebrar contrato administrativo; 
Obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações ou 
prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem 
autorização da lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos 
contratos; 
 
12 
Manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados 
com a Administração Pública. 
Fonte: Autor, 2020 
 
 Observa-se que as condutas mencionadas são de maneira genéricas, podendo 
englobar uma série de atos ou práticas formais, seja em sede de registros contábeis 
ou negócios jurídicos formalizados para ludibriar a fiscalização de órgãos e entidades 
públicos. Daí é plausível constatar a atuação da norma em consonância com outras 
leis, como a tipificação de condutas pela própria Lei de Licitações (Lei nº 8.666/1993) 
e da própria Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992). 
 Ademais, já foi suscita aplicação da Lei Anticorrupção em sede de Ação Civil 
Pública, porém, no contexto trazido aos autos, houve pedido de indisponibilidade de 
bens e cessação de transmissão de radiodifusão da pessoa jurídica beneficiária 
(TRF3 – Agv. Instr. nº 547.912 – SP. Nº 0032307-94.2014.4.03.0000. 4ª Turma. Des. 
Relator: Marcelo Saraiva. Data de julgamento: 23 nov. 2016. Publicação em: 19 jan. 
2017). 
 No corpo positivado da norma, constam de maneira objetivas, as medidas 
punitivas aplicadas em sede de responsabilização administrativa, sendo elas multa, 
variando de 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento) do faturamento bruto 
do último exercício ao da instauração do processo administrativo, sem exclusão de 
tributação sobre a base de cálculo; e publicação extraordinária da decisão 
condenatória. 
 Poderão ser impostas de maneira cumulativa ou isolada, a depender da 
gravidade e da natureza dos atos praticados. O §2º do Art. 6º salienta também não 
haver exclusão da obrigação cível de reparação integral do dano causado. 
 Judicialmente, poderão ser impostas as medidas judiciais dispostas no Art. 19, 
a seguir, ilustrado: 
 
Art. 19. Em razão da prática de atos previstos no art. 5º desta Lei, a 
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio das 
respectivas Advocacias Públicas ou órgãos de representação judicial, 
ou equivalentes, e o Ministério Público, poderão ajuizar ação com 
vistas à aplicação das seguintes sanções às pessoas jurídicas 
infratoras: 
 
13 
I - perdimento dos bens, direitos ou valores que representem 
vantagem ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, 
ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé; 
II - suspensão ou interdição parcial de suas atividades; 
III - dissolução compulsória da pessoa jurídica; 
IV - proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações 
ou empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições 
financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo 
mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos. (destaque) 
 
 Sob o olhar mais atento, observa-se que não há claramente punições de ordem 
cível, porquanto as medidas ressarcitórias se dão no âmbito do processo 
administrativo de responsabilização. Poder-se-á inferir que houve um desalento 
legislativo pela ausência de especificações; porém, as normas cíveis podem ser 
harmoniosamente aplicadas a partir de outras normas, como as já mencionadas Lei 
de Improbidade, e pelo próprio Código Civil de 2002, a Lei nº 10.406/2002, além de 
ações autônomas reparatórias impetradas pelos órgãos de Procuradoria, integrantes 
do Poder Público. 
 O mecanismo inovador da lei se dá pela instauração do processo administrativo 
contra pessoa jurídica potencialmente infratora, que ficará a cargo da autoridade 
máxima de cada órgão ou entidade integrante de quaisquer dos Poderes. O dever 
pode ser exercido de ofício ou mediante provocação, observando sempre os princípios 
magnos que convalidam as garantias constitucionais (Art. 8º, caput). 
 No âmbito da Administração Pública Federal do Poder Executivo, ficará a cargo 
da Controladoria Geral da União (CGU), como incumbência concorrente, a 
instauração dos processos administrativos com base na Lei nº 12.846/2013; e será 
sua competência exclusiva para aferição da responsabilidade e danos quando 
envolver compromissos internacionais lesados por atos perpetrados por pessoa 
jurídica ou pessoa física interessada (Art. 9º). 
 Essa prerrogativa foi adequada a partir da Convenção sobre o Combate da 
Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais 
Internacionais, promulgada, no Brasil, pelo Decreto nº 3.678, de 30 de novembro de 
2000. 
 
14 
 Assim, foi instrumentalizado o teor do Artigo 4º da mencionada Convenção 
como competência do órgão de controle internodo Poder Executivo Federal, alçado 
ao status de Ministério de Estado: 
Artigo 4 
 
Jurisdição 
 
1. Cada Parte deverá tomar todas as medidas necessárias ao 
estabelecimento de sua jurisdição em relação à corrupção de um 
funcionário público estrangeiro, quando o delito é cometido integral ou 
parcialmente em seu território. 
 
2. A Parte que tiver jurisdição para processar seus nacionais por 
delitos cometidos no exterior deverá tomar todas as medidas 
necessárias ao estabelecimento de sua jurisdição para fazê-lo em 
relação à corrupção de um funcionário público estrangeiro, segundo 
os mesmos princípios. 
 
3. Quando mais de uma Parte tem jurisdição sobre um alegado delito 
descrito na presente Convenção, as Partes envolvidas deverão, por 
solicitação de uma delas, deliberar sobre a determinação da jurisdição 
mais apropriada para a instauração de processo. 
 
4. Cada Parte deverá verificar se a atual fundamentação de sua 
jurisdição é efetiva em relação ao combate à corrupção de 
funcionários públicos estrangeiros, caso contrário, deverá tomar 
medidas corretivas a respeito. 
 
Doravante o escopo voltar-se para a corrupção do agente público que atua na 
seara internacional, pela natureza da corrupção, é plausível construir indícios ou 
meios de prova de formar a oficiar perante as autoridades competentes para a 
impetração das ações reparadoras adequadas, porquanto ser a corrupção uma forma 
delitiva que não se consuma unilateralmente. 
Quanto ao mecanismo judicial do acordo de leniência, seu dispositivo inaugural 
consiste no Art. 16, outrora passível de mudanças em razão da Medida Provisória nº 
703/2015, que teve a vigência encerrada. 
 
15 
De antemão, ela é de propositura espontânea da pessoa jurídica processada, 
conforme um dos elementos condicionantes plasmados no Art. 16, §1º, I, da lei. Com 
lídimo didatismo, o TRF-41 explica que: “[...] o acordo de leniência pressupõe como 
condição de sua admissibilidade que a pessoa jurídica interessada em fazê-lo 
manifeste prima facie sua disposição, reconhecendo expressamente a prática do ato 
lesivo, cessando-o e prestando cooperação com as investigações, além de reparar 
integralmente o dano causado. [...]” 
A perspectiva oriunda do acordo de leniência é no sentido de incentivo de 
acordo para cessação de atos ilícitos, com vistas ao incentivo financeiro de mitigar os 
danos, por parte da pessoa jurídica envolvida com ilicitude. Pode-se conjecturar que 
seja uma dinâmica já aplicável no âmbito do Direito do Trabalho, com o fim de 
incentivar o acordo e diminuir demandas, e pela prioridade de verbas de cunho 
alimentício, dada as devidas proporções nesta comparação. 
Logo, ambas práticas incentivam a eficiência na resolução dos conflitos trazidos 
aos olhos das Instituições, porém de um lado observa-se a tutela do hipossuficiente 
nas relações de emprego; e no outro espectro, a cessação e resolução de práticas 
ilícitas. 
No mesmo julgado, em sua ementa, é proferida a seguinte disposição: 
 
(...) 
3. O Acordo de Leniência é uma espécie de colaboração premiada em 
que há abrandamento ou até exclusão de penas, em face da 
colaboração na apuração das infrações e atos de corrupção, 
justamente para viabilizar maior celeridade e extensão na 
quantificação do montante devido pelo infrator, vis-a-vis a lesão a que 
deu causa, ao tempo em que cria mecanismos de responsabilização 
de co-participantes, cúmplices normalmente impermeáveis aos 
sistemas clássicos de investigação e, por isso, ocultos. Esse o objetivo 
da norma e sua razão de ser, tendo por pano de fundo, obviamente, o 
inafastável interesse público. 
(...) 
 
 
1 TRF-4 Agravo de Instrumento nº 5023972-66.2017.4.04.0000. 3ª Turma. Des. Relatora: Vânia Hack de 
Almeida. Data de julgamento: 22 ago. 2017. Publicação em: 22 ago. 2017. 
 
16 
Salientando a ausência de antinomia do diploma com a Lei nº 8.249/1992, 
quanto aos atos de improbidade administrativa, segue a lição nos seguintes termos: 
 
(...) 
4. Enquanto a Lei de Improbidade Administrativa (LIA) busca, 
primordialmente, punir o agente público ímprobo, alcançando, 
eventualmente, o particular, a Lei Anticorrupção (LAC) tem por objetivo 
punir a pessoa jurídica envolvida em práticas corruptas, podendo 
também, em sentido inverso, identificar agentes públicos coniventes, 
levando-os, por consequência, para o campo de incidência da LIA. 
5. Não há antinomia abrogante entre os artigos 1º e 2º da Lei nº 
8.249/1992 e o artigo 1º da Lei nº 12.846/2013, pois, naquela, 
justamente o legislador pátrio objetivou responsabilizar 
subjetivamente o agente ímprobo, e nesta, o mens legislatoris foi a 
responsabilização objetiva da pessoa jurídica envolvida nos atos de 
corrupção. 
6. No entanto, há que se buscar, pela interpretação sistemática dos 
diplomas legais no microssistema em que inserido, como 
demonstrado, além de unicidade e coerência, atualidade, ou seja, 
adequação interpretativa à dinâmica própria do direito, à luz de sua 
própria evolução. 
7. Por isso, na hipótese de o Poder Público não dispor de elementos 
que permitam comprovar a responsabilidade da pessoa jurídica por 
atos de corrupção, o interesse público conduzirá à negociação de 
acordo de leniência objetivando obter informações sobre a autoria e a 
materialidade dos atos investigados, permitindo que o Estado prossiga 
exercendo legitimamente sua pretensão punitiva. 
(...) 
 
O aspecto vantajoso e crucial para tornar o acordo produtivo, tanto para a 
obtenção de informação para subsidiar a instrução administrativa ou judicial e para 
incentivo participativo da companhia envolvida na ilicitude consiste na isenção da 
publicação extraordinária da condenação (Art. 6º, II); da proibição de recebimento de 
incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de órgãos ou entidades 
públicas, além de instituições financeiras públicas ou controladas pelo Poder Público, 
pelo prazo que pode variar por 1 (um) a 5 (cinco) anos (Art. 19, IV); e, por fim, a 
 
17 
redução de 2/3 (dois terços) sobre a multa aplicável – de 0,1% (um décimo por cento) 
a 20% (vinte por cento) do faturamento bruto do exercício anterior ao da instauração 
do processo administrativo de responsabilização (Art. 16, §2º). 
Contudo, como adequar esses dispositivos quanto à proibição de recebimento 
de benefícios de incentivos fiscais ou creditícios perante o Poder Público, descritos 
pelos Incisos I a III do Art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa. 
Acarreta a instrução processual judicial da LIA oficiar à autoridade 
administrativa para que instaure o processo administrativo pertinente e que possa 
ensejar a manifestação pelo acordo de leniência, e assim diminuir os encargos e 
satisfazer a instrução? 
A primeira problemática é corroborada pela menção sobre não afetação dos 
processos e penalidades decorrentes da Lei de Improbidade Administrativa, conforme 
o Inciso I, do Art. 30, da Lei nº 12.846/2013. 
A redação dada pela Medida provisória nº 703/2015 ressalvava a hipótese do 
acordo. 
 O conflito surge pela instauração do processo administrativo instaurado, porque 
o caput do Art. 16 menciona que o acordo dar-se-á em sede de investigações e 
processo administrativo. Caso mencionasse a hipótese do processo judicial, poderia 
haver uma comunicação com a ação de responsabilização com base na LIA, o que 
não é o caso. 
 Ao mencionar processo administrativo, a Lei nº 8.429/1992 comunica com a Lei 
nº 8.112/1990, que dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos Civis Federais, 
com o fim de investigar a conduta praticada pelo agente público. 
 E quanto à penalidade que restringe o acesso do infrator aos benefícios e 
incentivos do Poder Público não seriam aplicados ao agente público, em razão do 
princípio da impessoalidade (e da finalidade), e regras de suspeição e impedimento, 
a depender do cargo públicoocupado. 
 É um caso a ser discutido e trazido à tona pela jurisprudência. Na prática, 
parece ser adequada a linha pela escolha da condução da investigação e do processo 
administrativo pela Lei nº 12.846/2013, pelo viés da eficiência a que se propõe. 
 Entendendo que as duas leis possuam penalidade similar, subentende-se 
também a aplicação do princípio da especialidade da norma para afastar o conflito 
aparente de normas, além da vedação à dupla sanção (bis in idem). 
 
 
18 
 
1.3 COLABORAÇÃO PREMIADA 
 
 
Cumpre também adentrar ao texto da Lei nº 12.850/2013, que alcançou maior 
repercussão dentro das instituições, por prever o instituto da colaboração premiada. 
 O §1º do Art. 1º já nos propõe a definição de Organização Criminosa, sendo, 
portanto, a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e 
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, 
direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de 
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que 
sejam de caráter transnacional. 
 Observa-se, porém, a hipótese residual do conceito trazido, haja vista tratar-se 
da associação de 4 ou mais pessoas e que as infrações penais praticadas possuam 
pena superiores a 4 anos. 
Pois, alheio a este conceito, o Decreto-lei nº 2.848/1940, o Código Penal 
brasileiro, conceitua o tipo penal de Associação Criminosa, crime contra a paz 
pública, consistindo na associação de 3 (três) ou mais pessoas associadas para o fim 
de cometimento de crimes. 
De antemão, a lei genérica trata da associação criminosa de aspecto mais 
simplório, enquanto a lei específica disciplina a associação de natureza mais danosa 
e complexa. 
 O §2º, do Art. 1º, da Lei nº 12.850/2013, estabelece que esta lei também se 
aplicará às infrações penais previstas em Tratado ou Convenções Internacionais, na 
hipótese em que a execução do crime tenha sido iniciada no país, e o resultado tenha 
ocorrido ou deveria ter ocorrido em território estrangeiro; também aplicável para a 
situação inversa; não bastando, também será aplicável em processo ou investigação 
acerca de organizações terroristas, nos termos da lei que definem atos terroristas. 
 A persecução criminal, nos termos da lei, dar-se-á com base nos mecanismos 
a seguir esquematizados: 
 
MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVAS 
Colaboração premiada 
 
19 
Captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos 
Ação controlada 
Acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas; 
Acesso a dados cadastrais de bancos de dados públicos ou privados; 
Acesso a informações eleitorais e comerciais. 
Intercepção de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da 
legislação específica 
Afastamento dos sigilos (financeiro, bancário e fiscal) nos termos da legislação 
específica 
Infiltração em atividades de investigação, por parte dos agentes policiais 
Cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais: 
busca de provas e informações para os fins da investigação ou da instrução criminal 
Fonte: Autor, 2020. 
 
São, portanto, métodos complexos e invasivos para produção de provas em 
contextos de crimes graves e estruturados na égide da associação criminosa, 
necessitando, pois, de disciplina específica sobre o tema. 
 Convém, para nossos estudos, a análise do teor da colaboração premiada, 
tendo como principal norte o Art. 3º-A, sendo definido como negócio jurídico 
processual e meio de obtenção de provas. 
 Pela natureza negocial do acordo, sua propositura, a priori, não é unilateral, 
porquanto estar atrelada ao interesse público e fins da instrução criminal. Pode ser 
instruído pela parte que se pretende colaboradora, como pelas autoridades e agentes 
competentes quanto ao andamento da instrução criminal. 
 Conduto, torna-se oportuno observar que a colaboração premiada não é um 
meio de prova com eficácia em si, não podendo haver condenação com fulcro 
exclusivamente no termo de colaboração, conforme preceitua o Art. 4º, §16, III, da Lei 
de Organizações Criminosas (STF – Inquérito nº 4.118 DF. 2ª Turma. Min. Relator: 
Edson Fachin. Data de julgamento: 08 mai. 2018. Publicação em: 05 set. 2018). 
 Sob o amparo do posicionamento do Supremo Tribunal Federal - STF, a maior 
garantia auferida pelo colaborador (réu ou indiciado) fica abarcada pelo sigilo e 
confidencialidade. Ademais, há um flagrante interesse público e até mesmo atinente 
ao campo da segurança pública, razões suficientes para a manutenção da 
 
20 
confidencialidade do teor compromissado (STF – Inquérito nº 4.619 Agr – DF. 1ª 
Turma. Min. Relator: Luiz Fux. Data de julgamento: 10 set. 2018. Publicação em: 25 
set. 2018). 
 Findas as diligências por parte das autoridades, que necessitariam do sigilo, 
não cumpre mantê-lo por mais tempo, principalmente quando o conteúdo das 
informações também é de conhecimento público (STF – Inquérito nº 4.435 Agr – DF. 
1ª Turma. Min. Relator: Marco Aurélio. Data de julgamento: 12 set. 2017. Publicação 
em: 19 fev. 2018). 
 Não obstante a garantia do sigilo para atendimento do interesse público, deve 
ser acessível quando for indispensável para o exercício do contraditório e ampla 
defesa (STF – Pet. Nº 6.351 Agr – DF. 2ª Turma. Min. Relator: Edson Fachin. Data de 
julgamento: 07 fev. 2017. Publicação em: 21 fev. 2017). 
 O acervo de decisões emanadas pelas Cortes da Justiça Comum denota 
especial zelo pelo atributo do sigilo, haja vista haver de um lado a busca por fatos que 
desestruturem a rede de organização criminosa, e de outro a garantia de presunção 
de inocência, legítima defesa e contraditório, acerca do réu colaborador. Como título 
exemplificativo, podemos constatar o seguinte julgado do Pretório Excelso: 
 
Reclamação. 2. Direito Penal. 3. Delação premiada. “Operação Alba 
Branca”. Suposta violação à Súmula Vinculante 14. Existente. TJ/SP 
negou acesso à defesa ao depoimento do colaborador Marcel Ferreira 
Júlio, nos termos da Lei n. 12.850/13. Ocorre que o art. 7º, § 2º, do 
mesmo diploma legal consagra o “amplo acesso aos elementos de 
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa”, 
ressalvados os referentes a diligências em andamento. É ônus da 
defesa requerer o acesso ao juiz que supervisiona as investigações. 
O acesso deve ser garantido caso estejam presentes dois requisitos. 
Um, positivo: o ato de colaboração deve apontar a responsabilidade 
criminal do requerente (INQ 3.983, rel. min. Teori Zavascki, Tribunal 
Pleno, julgado em 3.3.2016). Outro, negativo: o ato de colaboração 
não deve referir-se à diligência em andamento. A defesa do 
reclamante postulou ao Relator do processo o acesso aos atos de 
colaboração do investigado. 4. Direito de defesa violado. 5. 
Reclamação julgada procedente, confirmando a liminar deferida. 
 
21 
(STF – Rcl. Nº 24.116 – SP. 2ª Turma. Min. Relator: Gilmar Mendes. 
Data de julgamento: 13 dez. 2016. Publicação em: 13 fev. 2017) 
 
 Perante a Justiça Federal, houvera sido perquirido o acesso a documentação 
para construção de provas, sendo contraditado acerca da incomunicabilidade de fatos 
concernentes ao conteúdo do acordo: 
 
HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSO PENAL. ACORDO DE 
COLABORAÇÃO PREMIADA. SIGILO. ACESSO À DEFESA. LEI Nº 
12.850/2003. 
1. Hipótese em que o pedido de acesso a eventuais acordos de 
colaboração premiada foi apreciado pelo Juízo de origem, que 
consignou não haver acordos firmados após a vigência da Lei 
12.850/13 - anterior à denúncia no caso -, e que a exordial está 
fundada apenas nos elementos constantes dos autos e à disposição 
das partes, não havendo menção a provas ou indícios cujo acesso não 
tenha sido outorgado aos acusados e a suas defesas técnicas. 
2. Não demonstrado constrangimento ilegal a ser sanado neste 
momento, e em caso de superveniência de condenação com base em 
eventual acordo decolaboração premiada, a alegação de 
cerceamento de defesa pode ser argüida em preliminar de apelo. 
(TRF4 - HC nº 5021515-61.2017.4.04.0000. 7ª Turma. Min. Relator: 
Márcio Antônio Rocha. Data de julgamento: 04 jul. 2017. Publicação 
em: 04 jul. 2017) 
 
 De acordo com a letra do §4º do Art. 3º-B, os termos de recebimento de 
proposta da colaboração e de confidencialidade serão elaborados pelo celebrante e 
assinados por ele, ou pelo colaborador e seu advogado, ou ainda por defensor público 
com poderes específicos para este fim. 
Qualquer tratativa ou termo não poderá ser realizado sem a presença de um 
advogado constituído ou defensor público; na hipótese de surgir conflito de interesses, 
o celebrante poderá solicitar a atuação de outro advogado ou defensor público. 
 As medidas concessivas em sede da colaboração premiada podem ser o 
perdão judicial, a redução em até 2/3 (dois terços) da pena privativa de liberdade ou 
sua substituição por sanção restritiva de direitos (Art. 4º). Porém, são necessários dois 
 
22 
requisitos: colaboração efetiva e voluntária, com a investigação ou instrução criminal; 
e que a delação realizada acarrete resultados concretos, estes dispostos nos Incisos 
I a V do Art. 4º, a seguir elencados: 
 a) a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa 
e das infrações penais por eles praticadas; 
b) a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização 
criminosa; 
c) a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização 
criminosa; 
d) a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações 
penais praticadas pela organização criminosa; 
 e) a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. 
 A norma salienta que serão levados em consideração para a concessão dos 
benefícios a personalidade do colaborador, a eficácia da colaboração e elementos 
condizentes ao fato criminoso, como a natureza do tipo penal praticado, as 
circunstâncias pertinentes, a gravidade e a repercussão social (Art. 4º, §1º). 
Por iniciativa ex officio, em conformidade com a letra do §2º do mesmo 
dispositivo, a autoridade policial e o membro do Ministério Público poderão requerer 
ao juízo a concessão do perdão judicial, mesmo que não previsto na minuta inicial do 
acordo, resultando até mesmo no arquivamento do inquérito policial, de acordo com o 
Art. 28 do Código de Processo Penal (Decreto-lei nº 3.689/1941), dependendo da 
relevância da colaboração prestada. 
São direitos garantidos ao colaborador aqueles elencados no Art. 5º, sendo 
observável o binômio preservação dos direitos e integridade do colaborador e 
interesse público da investigação: 
a) Usufruir das medidas protetivas previstas em legislação específica; 
b) Manter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais 
preservadas; 
c) Condução, perante o juízo, em separado dos demais coautores e partícipes; 
d) Participação na audiência sem contato visual com os outros acusados; 
e) Garantia de não ter sua identidade revelada em meios de comunicação – 
até mesmo fotografia ou filmagem, exceto quando autorizado por escrito; 
f) Cumprimento de pena ou prisão cautelar em estabelecimento prisional 
diverso dos demais corréus ou condenados. 
 
23 
O Artigo seguinte elenca o conteúdo do termo de acordo de colaboração, 
necessitando conter: 
a) Relato da colaboração e seus possíveis resultados; 
b) Condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia; 
c) Declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor; 
d) Assinaturas dos representantes do Ministério Público ou do delegado de 
polícia, do colaborador e de seu defensor; 
e) Especificações das medidas protetivas ao colaborador e à sua família, 
quando forem necessárias. 
Ao fim da participação beneficiária, a sentença apreciará os termos do acordo 
homologado e sua eficácia (Art. 4º, §11), em todo seu escopo (STF – Pet. Nº 7.074 
Qo – DF. Tribunal Pleno. Min. Relator: Edson Fachin. Data de julgamento: 29 jun. 
2017. Publicação em: 03 mai. 2018). 
Devido ao caráter personalíssimo da negociação, ”[...] Eventual desconstituição 
de acordo de colaboração premiada tem âmbito de eficácia restrito às partes que o 
firmaram, não beneficiando e nem prejudicando terceiros. [...]2” 
Observa-se que antes da mudança proposta pela Lei nº 13.964/2019, 
denominada como Pacote Anticrime, advogava a jurisprudência pela ausência de 
hipóteses de rescisão do acordo celebrado. Com a inovação trazida pela lei, o acordo 
poderá ser rescindido em caso de omissão dolosa de fatos objetos da colaboração 
(Art. 4º, §17); e pela continuidade das práticas delituosas, conforme afastamento da 
presunção mencionada no dispositivo (Art. 4º, §18). 
Pode-se ilustrar que, perante o teor do termo de colaboração, os demais 
envolvidos na associação criminosa ainda poderiam exercer seu direito de 
contraditório frente à narrativa. Nesse sentido, o convencimento por intermédio da 
defesa acarretaria per si a ilegalidade do conteúdo da colaboração premiada? Nesse 
aspecto, tornar-se-ia imperiosa uma análise robusta dos fatos e negócios ocorridos, 
até mesmo pelo interesse da persecução criminal (STJ – AgInt HC nº 392.452 – PR. 
6ª Turma. Min. Relator: Rogerio Schietti Cruz. Data de julgamento: 13 jun. 2017. 
Publicação em: 23 jun. 2017). 
 
2 STF HC nº 127.483. Tribunal Pleno. Min. Relator: Dias Toffoli. Data de julgamento: 27 ago. 2015. 
Publicação em: 04 fev. 2016 
 
24 
Conforme disciplina o Remédio Constitucional nº 127.483 sob competência do 
STF3, a pertinência quanto ao acesso aos documentos produzidos, deve ser balizada 
frente ao direito de defesa dos agentes mencionados: 
 
(...) 
4. Tratando-se de colaboração premiada contendo diversos 
depoimentos, envolvendo diferentes pessoas e, possivelmente, 
diferentes organizações criminosas, tendo sido prestados em ocasiões 
diferentes, em termos de declaração separados, dando origem a 
diferentes procedimentos investigatórios, em diferentes estágios de 
diligências, não assiste a um determinado denunciado o acesso 
universal a todos os depoimentos prestados. O que a lei lhe assegura 
é o acesso aos elementos da colaboração premiada que lhe digam 
respeito 
(...) 
 
Cumpre mencionar, que pelos demais dispositivos trazidos pela norma de 
2019, o juiz torna-se o gestor da manutenção do acordo, perscrutando o que for 
necessário e limitando o que houver de impertinente, para atendimento da instrução 
processual. Conforme emanado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, os 
vícios materiais ou formais de prova poderão ser arguidos no curso da própria ação 
penal e no campo recursal. 
Poder-se-ia discutir acerca de acarretar morosidade no andamento da máquina 
judicial; porém, objetiva a eficiência em sede de acordo para limitação e contenção da 
atividade ilícita investigada e processada. (TRF-4 - HC nº 5038233-
02.2018.4.04.0000. 8ª Turma. Des. Relator: João Pedro Gebran Neto. Data de 
julgamento: 07 nov. 2018. Publicação em: 07 nov. 2018). 
 Por fim, consta no Art. 7º os expedientes acerca da homologação da 
colaboração, distribuído sigilosamente, contendo apenas informações que não 
possam identificar o colaborador e seu objeto. 
Consta no §2º do dispositivo mencionado, que o acesso aos autos, como regra, 
permanecerá restrito ao Ministério Público e ao delegado de polícia, para garantia do 
êxito das investigações. Admite-se, no entanto, amplo acesso aos elementos de prova 
 
3 Op.cit. 
 
25 
que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de 
autorização judicial. Todavia, são ressalvados os conteúdos que digam respeito à 
manutenção ou êxito das diligências realizadas pela instrução. 
Frente a todo o exposto analisado quanto à lei de organização criminosa,cumpre ao operador do Direito discutir e refletir acerca do amplo acesso midiático às 
proposituras de acordos de delação premiada, no sentido da preservação dos direitos 
do colaborador e se essa exposição pode ou não comprometer o andamento das 
investigações realizadas. 
É um parâmetro ainda a ser traçado, já que a lei ainda é uma novidade 
legislativa, necessitando ser podada e moderada frente às garantias e direitos 
fundamentais do réu-colaborador, porquanto estar protegido pela presunção de 
inocência, até o momento em que assume o delito, e do outro lado a necessidade de 
obter êxito nas investigações e produções de prova decorrentes da narrativa daquele. 
 
 
 
26 
2. LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO E PORTAL DA TRANSPARÊNCIA 
 
 
Com o intuito de dar maior concretude ao direito fundamental de acesso à 
informação sobre os órgãos e entidades públicos dos Três Poderes Constituídos, foi 
promulgada a Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, como modo de 
instrumentalizar a disposição constitucional do Art. 5º, XXXIII, conforme segue: 
 
Art. 5º (...) 
(...) 
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações 
de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão 
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas 
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do 
Estado; 
 
No âmbito das disposições constitucionais concernentes à Administração 
Pública, também ampliou o escopo do Art. 37, §3º, II: 
 
Art. 37 (...) 
(...) 
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na 
administração pública direta e indireta, regulando especialmente: 
(...) 
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações 
sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; 
 
Por fim, a lei possibilita também a análise do acervo patrimonial cultural do país, 
conforme vemos na seguinte norma plasmada no texto constitucional: 
 
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza 
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, 
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos 
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se 
incluem: 
(...) 
 
27 
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da 
documentação governamental e as providências para franquear sua 
consulta a quantos dela necessitem. 
 
Não obstante o teor positivado, também foi oportuna a edição da lei para conter 
o avanço do descontentamento social contra as instituições, em virtude de escândalos 
de corrupção e ineficiência na condução de gastos, seja pela desídia de serviços 
públicos prestados à população ou desconfiança pela situação da carga tributária 
brasileira. 
Desta feita, a lei em comento permitiu que a população em geral pudesse ter 
acesso ao teor econômico-financeiro dos atos realizados pelo Poder Público, inclusive 
podendo consultar o valor de salário e remuneração de agentes públicos. Expediente 
que também facilitou o ofício de profissionais da comunicação e analistas do campo 
econômico. 
Na esfera federal, o Portal da Transparência pode ser acessado pela url: 
http://www.portaltransparencia.gov.br/, e tem um rol extenso de dados de caráter 
público, como orçamento; despesas e receitas; licitações e contratos; cartões de 
pagamento; benefícios a cidadão; emendas parlamentares; dados que dizem respeito 
aos servidores públicos; dentre outros. 
No entendimento exalado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, 
o direito à informação possui natureza jurídica de direito fundamental de quarta 
geração, sendo a publicidade dos atos administrativos o meio de consecução dessa 
garantia.4 
Oportunamente, em respaldo aos ditames constitucionais, já foi registrado o 
ajuizamento de ação civil pública pelo Ministério Público Federal, com o fim de obrigar 
Municipalidade a corrigir e complementar o conteúdo exposto pelo respectivo portal 
de transparência: 
 
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. LEIS DE ACESSO À 
INFORMAÇÃO E DA TRANSPARÊNCIA. OBRIGAÇÃO DE 
 
4 TJ-MG. Remessa Necessária nº 1.0620.17.001555-1/001. 3ª Câmara Cível. Des. Relator: Elias Camilo. 
Data de julgamento: 31 jan. 2019. Publicação em: 06 fev. 2019. 
http://www.portaltransparencia.gov.br/
 
28 
REGULARIZAÇÃO DO PORTAL. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. 
ART. 128, § 5º, INCISO II, ALÍNEA "A", DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL. 
Ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal objetivando 
que o Município de Santana do Livramento/RS proceda à 
regularização de pendências encontradas no sítio eletrônico para o fim 
de promover a correta implantação do Portal da Transparência. 
Incumbe ao Município adotar as medidas necessárias ao cumprimento 
das obrigações que ainda não foram implementadas, para atender aos 
requisitos de transparência da administração pública, nos termos da 
legislação de regência. 
Deve ser mantida a sentença de procedência parcial da demanda a 
fim de que o município réu promova a efetiva regularização de seu 
portal da transparência dando integral cumprimento aos normativos 
legais previstos na Lei nº 12.527/2011 (Lei de acesso à informação) e 
Lei Complementar nº 131/2009 (Lei da Transparência). 
Na dicção do art. 128, § 5º, inciso II, alínea "a", da Constituição 
Federal, é vedado aos membros do Ministério Público receber, a 
qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou 
custas processuais. 
(TRF4 – Apelação/Remessa Necessária nº 5001668-
32.2016.4.04.7106. 4ª Turma. Des. Relatora: Vivian Josete Pantaleão 
Caminha. Data de julgamento: 12 dez. 2018. Publicação em: 12 dez. 
2018) 
 
Salienta-se, inclusive, que o tema da transparência e informação públicas não 
ficam restritos à Lei nº 12.527/2011. Nesse sentido, a Lei Complementar nº 131/2009 
já inovava quando empregava disposições quanto à transparência da gestão pública 
acerca da condução responsável do orçamento público, ao modificar dispositivos da 
Lei Complementar nº 101/2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). 
Objetivando dar exercício ao mencionado direito, o Ministério Público Federal 
também pleiteou que o Estado do Mato Grosso do Sul cumprisse as disposições da 
Lei de Acesso à Informação e da Lei que modificou a LRF (TRF-3 – Apelação nº 
0006710-97.2016.4.03.6000. 6ª Turma. Des. Relatora: Consuelo Yoshida. Data de 
julgamento: 20 set. 2018. Publicação em: 28 set. 2018). 
 
29 
A postura ativa da ação cominatória de iniciativa do Parquet se mostra 
constante (TRF-2 Processo nº 0152658-58.2015.4.02.5119. 8ª Turma Especializada. 
Des. Relator: Marcelo Pereira da Silva. Data de julgamento: 09 nov. 2018. Publicação 
em: 26 nov. 2018; e TRF-4 Apelação nº 5002301-95.2016.4.04.7121. 4ª Turma. Des. 
Relator: Luís Alberto D’azevedo Aurvalle. Data de julgamento: 22 ago. 2018. 
Publicação em: 22 ago. 2018). 
Sujeitam-se, assim, ao alcance da norma de transparência e acesso à 
informação os entes federativos do Brasil, seus órgãos públicos, integrantes da 
administração direta dos Três Poderes, incluindo os Tribunais de Contas, e os órgãos 
que atuam perante o Poder Judiciário, como o Ministério Público; e as entidades que 
compõem a administração indireta da União, estados, DF e municípios. 
Aplica-se o conteúdo legiferante às entidades privadas sem fins lucrativos que 
recebam recursos públicos diretamente do orçamento ou mediante subvenções 
sociais, contrato de gestão, termo de parceria, convênios, acordos, ajustes ou 
instrumentos contratuais similares, com o fim de realizar sua atividade de interesse 
público (Art. 2º, caput). O dispositivo abarca a maioria das formas de parceria público-
privadas (PPP) que se dão no país. 
Conforme estipula o Art. 3º, os procedimentos da lei destinam-se a asseguração dodireito fundamental de acesso à informação e necessitam ser executados em harmonia com 
os princípios da Administração Pública, obedecendo às diretrizes a seguir: 
a) observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção; 
b) divulgação de informações de interesse público, independentemente de 
solicitações; 
c) utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da informação; 
d) fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência na administração pública; 
e) desenvolvimento do controle social da administração pública. 
Como escopo da política de acesso à informação, a gestão transparente da 
informação, com amplitude e acessibilidade de seu teor (Art. 6º, I). Nesse sentido, tornou-se 
de conhecimento comum o Portal da Transparência do governo federal, posteriormente 
replicado nas esferas estaduais e municipais. 
Conforme o Art. 7º, a informação acessível compreenderá os seguintes direitos: 
a) orientação sobre os procedimentos para a consecução de acesso, bem como sobre 
o local onde poderá ser encontrada ou obtida a informação almejada; 
b) informação contida em registros ou documentos, produzidos ou acumulados por 
seus órgãos ou entidades, recolhidos ou não a arquivos públicos; 
 
30 
c) informação produzida ou custodiada por pessoa física ou entidade privada 
decorrente de qualquer vínculo com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse vínculo já 
tenha cessado; 
d) informação primária, íntegra, autêntica e atualizada; 
e) informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e entidades, inclusive as 
relativas à sua política, organização e serviços; 
f) informação pertinente à administração do patrimônio público, utilização de recursos 
públicos, licitação, contratos administrativos; e 
g) informação relativa à implementação, acompanhamento e resultados dos 
programas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem como metas e indicadores 
propostos; e ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas de contas 
realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, incluindo prestações de contas relativas 
a exercícios anteriores. 
Por razões de segurança ou funcionalidade das instituições e de projetos políticos, a 
norma comporta exceções quanto ao acesso e disponibilidade, como o teor de projetos de 
pesquisa e desenvolvimento científicos ou tecnológicos, cujo sigilo torna-se imperioso para a 
segurança da sociedade e do Estado (Art. 7º, §1º). 
Quanto a documentos que mantenham pertinência ao cidadão que solicitar o acesso, 
este poderá pleitear a parcela não afetada pelo sigilo (Art. 7º, §2º). 
Oportunamente, manifesta-se algum entendimento adotado por Tribunal de que a 
mera exposição de informações ao alcance da população por intermédio de um sítio de 
internet não corrobora suficientemente o direito de acesso à informação, necessitando, pois, 
o requerimento especificado pela Lei para o devido acesso e conferência de dados (STJ – 
REsp nº 1.661.697 – AM. 2ª Turma. Min. Relator: Herman Benjamin. Data de julgamento: 19 
out. 2017. Publicação em: 19 dez. 2017). 
Contudo, há abrangência de distintas visões quanto àquela informação de caráter 
obrigatória e outras que possam estar sujeitas ao juízo discricionário do Gestor Público: 
 
REMESSA NECESSÁRIA DE OFÍCIO - RECURSO VOLUNTÁRIO - 
AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DIVULGAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DE 
INFORMAÇÕES NO PORTAL DA TRANSPARÊNCIA - DADOS 
RELATIVOS À FROTA DE VEÍCULOS DO MUNICÍPIO - 
INOCORRÊNCIA - ROL DE OBRIGATORIEDADE DE DIVULGAÇÃO 
PREVISTA NO §1º DO ART. 8º DA LEI 12.527/2011 - SENTENÇA 
REFORMADA - RECURSO VOLUNTÁRIO PREJUDICADO. 
1. Incumbe ao judiciário, no julgamento das demandas propostas, 
delimitar, o máximo possível, qual é a tênue linha divisória das 
 
31 
competências administrativa e jurisdicional, para não se tornar um 
ordenador de linha para a administração pública. 
2. O art. 8º, §1º, da Lei de Acesso à Informação elenca uma série de 
informações que devem ser, obrigatoriamente, disponibilizadas via 
internet, independentemente da realização de qualquer requerimento. 
3. Não sendo a divulgação e a atualização, no sítio eletrônico do 
"Portal da Transparência", de informações referentes à frota de 
veículos do Ente Público Municipal não é medidas obrigatórias, não há 
falar na omissão ou negligência do ente estadual porquanto se trata 
de medida eminentemente discricionária da Administração Pública, a 
qual poderá ser adotada de acordo com a conveniência e 
oportunidade. 
(TJMG - Apelação nº 1.0035.17.015047-4/001. 2ª Câmara Cível. Des. 
Relator Convocado: Lailson Braga Baeta Neves. Data de julgamento: 
13 nov. 2018. Publicação em: 26 nov. 2018) 
 
Por oportuno, é de fundamental observância, quanto à jurisprudência já 
consolidada, que acesso à informação de remuneração ou salário de funcionário 
público é direito do cidadão; porém, dados alheios a essa esfera, como situação 
matrimonial, número de identidade e outros documentos acabam por lesar o direito à 
intimidade do agente público consultado (STJ – REsp nº 1.395.623 – DF. 2ª Turma. 
Min. Relator: Herman Benjamin. Data de julgamento: 01 set. 2015. Publicação em: 11 
nov. 2015). 
Nos autos perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, discutiu-se, 
inclusive, que para o acesso a informações acerca do agente público consultado, 
tornar-se-ia pertinente o cadastramento ou escrutínio quanto ao cidadão consulente 
do Portal de Transparência, em obediência ao princípio de boa-fé e igualdade entre 
requerente e consultado (TJ-SP Apelação nº 1009710-20.2016.8.26.0114. 1ª Câmara 
de Direito Público. Des. Relator: Danilo Panizza. Data de julgamento: 07 out. 2018. 
Publicação em: 07 out. 2018). 
Todavia, o entendimento acerca dos institutos aqui tratados e o respaldo das 
garantias de acesso e privacidade dos agentes públicos estão bem sedimentadas 
conforme a jurisprudência e a sistemática empregada pelo ordenamento jurídico, 
podendo, a depender do caso concreto, novas orientações serem proferidas. 
 
 
32 
REFERÊNCIAS 
 
CUNHA, Rogério Sanchez; SOUZA, Renee do Ó. Lei anticorrupção 
empresarial: Lei nº 12.846/2013. 3ª ed. Salvador; JUSPODIVM, 2019. 
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo 
moderno. Companhia das Letras: SÃO PAULO, 2016 
VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 37ª ed. Rio de Janeiro: CIVILIZAÇÃO 
BRASILEIRA, 2017

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