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Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 1 Vulnerabilidades para transmissão de doenças de veiculação hídrica- Estudo de caso Bairro Ícidua. Vulnerabilities for waterborne disease transmission - Case study Bairro Ícidua. ====================================== Carlos Gito Wassugue Wapeso - Carlosgito1404@gmail.com UNIVERSIDADE LICUNGO- QUELIMANE RESUMO A incidência de doenças relacionadas a veiculação hídrica pela falta de saneamentos básico, tem sido um assunto muito debatido a nível mundial. Visto que, tem ocasionado a ocorrência de muitos óbitos a nível infantil e adulto e com isso tem acarretado custos elevados ao sector da Saúde. Na Zambézia especificamente na cidade Quelimane, no bairro Ícidua, que é área de estudo na qual o artigo cingiu-se, apresenta uma vulnerabilidade ambiental e social elevada condicionando assim a frequente ocorrência de doenças de veiculação hídrica. Visto que o crescimento populacional aliado ao êxodo rural é um factor que provoca mudanças na dinâmica de uma cidade, o que necessita de uma infra-estrutura para suprir as necessidades da densidade populacional vigente, visto que a demanda e a procura pelos serviços essenciais como saúde, educação, segurança, casas habitacionais também aumentam. Importa salientar que o presente artigo tem como objetivo principal analisar a vulnerabilidade ambiental e social para a transmissão de doenças de veiculação hídrica no bairro Ícidua, através da (i) identificação do nível da incidência de doenças de veiculação hídrica. O estudo feito mostrou que o bairro está sujeito a condições de saneamento extremamente precárias, e a população residente não se tem beneficiado dos recursos básicos (água potável, locais adequados para o depósito de resíduos sólidos domésticos, latrina/retrete, esgotos de escoamento de águas residuais), todavia, devido a isto, a população fica suscetível a incidência de doenças de vinculação hídrica. A população residente do bairro tem frequentemente apresentado dados graves de diarreia e malária. Contudo, a vulnerabilidade ambiental que o bairro está sujeito é acentuada pela inexistência de saneamento básico e condições sociais inadequadas. Sugere-se ao governo municipal a criar um plano de acção para o bairro Ícidua, que traga alternativas para a introdução do saneamento básico de modo a minimiar a propagação de doenças de vinculação hídrica, que normalmente tem acarretado gastos galopantes no sector publico. PALAVRA-CHAVE: Vulnerabilidade, Doenças de veiculação hídrica, Ícidua. Vulnerabilities for waterborne disease transmission - Case study Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 2 Bairro Ícidua. ABSTRACT The incidence of water-related diseases due to the lack of basic sanitation has been a hotly debated issue worldwide. Since, it has caused the occurrence of many deaths at the infant and adult level and with this it has brought high costs to the Health sector. Presents a high environmental and social vulnerability, thus conditioning the frequent occurrence of waterborne diseases. Since population growth combined with rural exodus is a factor that causes changes in the dynamics of a city, which requires an infrastructure to meet the needs of the current population density, since the demand and demand for essential services such as health, education, security, housing also increase. It is important to note that the present article has as main objective to analyze the environmental and social vulnerability for the transmission of waterborne diseases in the Ícidua neighborhood, by (i) identifying the level of incidence of waterborne diseases. The study carried out showed that the neighborhood is subject to extremely poor sanitation conditions, and the resident population has not benefited from basic resources (drinking water, adequate places for the deposit of domestic solid waste, latrine / toilet, sewage drains However, due to this, the population is susceptible to the incidence of water-related diseases. The resident population of the neighborhood has often presented severe data on diarrhea and malaria. However, the environmental vulnerability that the neighborhood is subject to is accentuated by the lack of basic sanitation and inadequate social conditions. It is suggested to the municipal government to create an action plan for the Ícidua neighborhood, which brings alternatives for the introduction of basic sanitation in order to minimize the spread of water-related diseases, which usually has led to rampant spending in the public sector. KEYWORDS: Vulnerability, Waterborne Diseases, Ícidua. ___________________________________________________________________ INTRODUÇÃO O crescimento acelerado das cidades tem arrastado consigo grande número de pessoas para zonas não favoráveis para habitação promovendo a construção de habitações de maneira desregrada e sem um planeamento adequado. As populações humanas pobres recéns-chegadas às áreas urbanas procuram locais de fácil acesso e baixo custo. No entanto, essa situação tem trazido sérios danos para essa população pois estas áreas acabam não sendo beneficiadas das mínimas condições de saneamento, nomeadamente: a disponibilização de água potável, depósitos de resíduos sólidos domésticos, esgotos de escoamento de águas residuais e instalações sanitárias. Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 3 O bairro em estudo é um grande exemplo dessa movimentação. Pois, nele facilmente se nota muitas construções de casa de uma forma desordenada, decorrente da aquisição de espaço ou terreno sem a devida autorização das autoridades municipais. O presente artigo de pesquisa procurou fazer uma analise da vulnerabilidade ambiental e social para a transmissão de doenças de veiculação hídrica no bairro, através da descrição das condições de saneamento e o nível de incidência de tais doenças na comunidade em estudo. MÉTODO - TÉCNICAS DE PESQUISA O presente artigo foi especificamente desenvolvido em Moçambique, na cidade Quelimane, concretamente no Bairro de Icídua que juridicamente faz parte do posto administrativo urbano número 2 e localiza-se nos arredores do litoral da cidade de Quelimane, numa distância aproximadamente de 7 quilómetros para o Centro da Cidade, com uma área estimada em 290,2 hectares e cerca 8523 habitantes. Limitada: A Norte pelo bairro Sangariveira, a sul pelo rio dos Bons sinais, a Este rio Txipaca e a Oeste temos rio Mirozone, vulgo Muarua. (CMCQ, S/D). Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 4 Figura 1 – Cartograma de Localização Características Físico Geográficas de Icidua Fonte: organizado pelo autor. Para o estudo da vulnerabilidade para transmissão de doenças de vinculação hídrica, utilizou-se o método de revisão bibliográfica que consistiu na pesquisa documental em obras bibliográficas com o intuito de obter informações e dados sobre a temática. Para tal, foram pesquisadas e consultadas várias obras, manuais, artigos científicos disponíveis na internet e trabalhos de dissertação que versam sobre a temática em estudo. Esta consulta, contribuiu significativamente para a obtenção de conhecimentos teóricos referentes as implicações ambientais e sociais das condições sanitárias. Em segundo lugar utilizou-se a pesquisa de campo, onde por meio da observação directa e participativa o pesquisador teve o contacto com a realidade do local, sendo possível fazer uma análise das condições sanitárias e ambientais, bem como registar algunsdados cruciais para a pesquisa. Nesta etapa, fez-se também o uso do inquérito, instrumento que permitiu a recolha de dados de maneira dinâmica e flexível, possibilitando colher do individuo inquirido. O Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 5 Inquérito foi composto por três secções sendo: A – Formulário de Controlo (informações sobre o agregado familiar); B - Características do Inquirido (informações socioeconómicas); C – Características do Domicílio (informações habitacionais). O perfil dos indivíduos inquiridos compreendeu pessoas da faixa etária dos 20 aos 75 anos de idade, sendo todos eles moradores daquele bairro e chefes das famílias. Foram inqueridos 10 agregados familiares em áreas específicas de maior vulnerabilidade ambiental e social do bairro, de modo a fazer uma relação entre as condições de saneamento e a fragilidade ambiental do local. Tratou-se de uma amostragem não probabilística e por conveniência. Segundo OCHOA (2015), esta técnica é muito comum e consiste em selecionar uma amostra da população que seja acessível. Ou seja, os indivíduos empregados nessa pesquisa são selecionados porque eles estão prontamente disponíveis, não porque eles foram selecionados por meio de um critério estatístico. Geralmente, essa conveniência representa uma maior facilidade operacional e baixo custo de amostragem. Os dados colhidos na área em estudo com base nas respostas do inquérito foram organizados e compilados numa base de dados e com suporte do programa estatístico Microsoft Excel 2016, foram editados para construção de gráficos. Tendo como base o número total da população enumerada no III Recenseamento Geral da População e Habitação de 2007 e os casos notificados das três doenças acima referidas, calculou-se a taxa de incidência das mesmas. A taxa de incidência é dada pela seguinte fórmula: Taxa de Incidência= 𝐜𝐚𝐬𝐨𝐬 𝐧𝐨𝐭𝐢𝐟𝐢𝐜𝐚𝐝𝐨𝐬 𝐩𝐨𝐩𝐮𝐥𝐚𝐜𝐚𝐨 𝐞𝐬𝐩𝐨𝐬𝐭𝐚 *1000 ASPECTOS SOBRE A VULNERABILIDADE PARA TRANSMISSÃO DE DOENÇAS DE VINCULAÇÃO HÍDRICA A pesquisa limita-se a investigar a problemática da vulnerabilidade socio-ambiental no bairro Ícidua, cidade de Quelimane, especificamente, analisa a dimensão da mesma Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 6 para a transmissão de doenças de veiculação hídrica. O estudo enquadra-se na linha de pesquisa, Ambiente e desenvolvimento sustentável. A escolha do tema foi motivada pelas análises feitas pelo autor nas visitas de campo realizadas no local enquanto estudante do curso de Licenciatura em Ensino de Geografia. Durante este período, foi possível constatar que algumas condições sanitárias não favoráveis para os moradores. Esta situação criou alguma inquietação atinente as implicações que estas condições sanitárias trazem à saúde e bem-estar da comunidade local. A relevância científica desta pesquisa residiu no facto de tentar trazer uma base sólida da relação existente entre o meio ambiente e as condições de saneamento a nível do distrito de Quelimane e em particular, do bairro Ícídua. A mesma, servirá de base para as futuras pesquisas sobre a mesma temática ou similar. Acredita-se que, este estudo vai potenciar o debate e olhar crítico em relação a esse problema e consequentemente, um conjunto de ações serão levadas a cabo com vista a minimizar os impactos e reduzir o número elevado de doenças de veiculação hídrica. O termo vulnerabilidade tem sido usado de maneiras diferentes em diversos campos da ciência. De acordo com FUSSEL (2007)1 citado por BENITEZ (2015), a vulnerabilidade se refere à capacidade de ser ferido ou grau no qual um sistema poderia experimentar dano por causa de um perigo. BENITEZ (2015), acrescenta que, a palavra perigo, dentro da definição apresentada, implica que a vulnerabilidade não existe isoladamente, só está presente quando estão se considerando os possíveis impactos de uma exposição; mas não só o perigo e a exposição fazem os sistemas vulneráveis, a sua capacidade de ser ferido determina uma outra dimensão da definição porque destaca as condições próprias e actuais. Para HOGAN (2005), existem dois aspetos importantes da vulnerabilidade: vulnerabilidade de lugar (Vulnerabilidade ambiental) e vulnerabilidade de grupos sociais (Vulnerabilidade social). A primeira Segundo CARTIER et al (2009)2 citado por AQUINO et al (2017), pode ser melhor conceituada como uma coexistência ou sobreposição espacial entre grupos populacionais pobres, discriminados e com alta Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 7 privação (vulnerabilidade social), que vivem ou circulam em áreas de risco ou de degradação ambiental (vulnerabilidade ambiental). Esse tipo de abordagem visa o esclarecimento de que certos problemas de ordem socio ambiental são decorrentes do actual modelo de desenvolvimento económico, dos processos de deslocalização e desregulamentação, que intensificam as relações entre grupos vulneráveis e áreas de risco ambiental. A segunda está relacionada com as mudanças bruscas e significativas que ocorrem na vida do individuo ou no grupo que está suscetível a essas mudanças, sendo essas referentes a educação, a saúde, a cultura, ao lazer e ao trabalho. A vulnerabilidade é vista como um resultado negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos grupos ou individuo e o acesso a estrutura de oportunidades sociais, económicas, culturais que provem do Estado, do mercado e da sociedade (AQUINO et al, 2017). Segundo o mesmo autor, as causas dessa vulnerabilidade em indivíduos, família ou grupo (actores) estão relacionadas com três elementos: Recurso materiais ou simbólicos, chamados de activos: diz respeito à posse ou controle destes que permitem aos diversos actores se desenvolverem na sociedade; Estruturas de oportunidades dadas pelo mercado, Estado e sociedade: estas oportunidades se vinculam em níveis de bem-estar, o que pode ocorrer em determinado tempo e território, podendo propiciar o uso mais eficaz dos recursos; Estratégias de uso dos activos: refere-se quanto ao uso que os actores fazem de seu conjunto de activos de maneira a atender às mudanças estruturais de um dado contexto social. Nesses moldes, a situação que mais se adequa ao nosso estudo é a primeira, uma vez que se pretende realizar um estudo em torno dos grupos sociais residentes no Bairro, bem como a sua fragilidade em relação às condições climáticas, se tratando de uma zona litorânea. DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 8 De acordo com AMARAL et al., (2003) as doenças de veiculação hídrica, são doenças causadas principalmente por meio de microrganismos patogénicos que têm suas origens relacionadas aos factores espaciais do território e, são situações específicas determinadas pelos preceitos capitalistas e dicotómicos que regem a sociedade, assumindo relevância, entre outros aspectos, na determinação de desigualdades no que tange a qualidade da água para consumo e uso humano. Segundo RIBEIRO & ROOKE (2010), os parasitas em geral possuem duas fases de vida: uma dentro do hospedeiro e outra no meio ambiente. Enquanto estão no corpo do hospedeiro, eles possuem condições ideais para seu desenvolvimento, como temperatura e umidade adequadas, além de dispor de alimento em abundância. Quando estão no meio ambiente, ao contrário, estão ameaçados e morrem com facilidade. Tabela 2. Doenças Relacionadas Com a Água Grupo de doenças Formas de transmissãoPrincipais doenças Formas de prevenção Transmitidas pela via feco-oral O organismo patogénico (agente causador de doença) é ingerido. diarreias e disenterias; cólera; giardíase; amebíase; ascaridíase (lombriga)... proteger e tratar águas de abastecimento e evitar uso de fontes contaminadas... Controlada pela limpeza com a água (associadas ao abastecimento insuficiente de água) A falta de água e a higiene pessoal insuficiente criam condições favoráveis para sua disseminação infeções na pele e nos olhos, como tracoma e o tifo relacionado com piolhos, e a escabiose. fornecer água em quantidade adequada e promover a higiene pessoal e doméstica. Associadas à água (uma parte do ciclo da vida do agente infecioso ocorre em O patogénico penetra pela pele ou é ingerido. esquistossomose. evitar o contacto de pessoas com águas infectadas; Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 9 um animal aquático) Fonte: Barros et al, Saneamento, Vol.2, Belo Horizonte, (1995) Tabela 3. Doenças relacionadas com as fezes Grupo de doenças Formas de transmissão Principais doenças Formas de prevenção Feco-orais (não bacterianas) Contacto de pessoa para pessoa, quando não se tem higiene pessoal e doméstica adequada. poliomielite; hepatite tipo A; giardíase; disenteria amebiana; diarreia por vírus. implantar sistema de abastecimento de água; melhorar as moradias e as instalações sanitárias. Feco-orais (bacterianas) Contacto de pessoa para pessoa, ingestão e contacto com alimentos contaminados e contacto com fontes de águas contaminadas pelas fezes. febre tifoide; febre paratifoide; diarreias e disenterias bacterianas, como a cólera. implantar sistema de abastecimento de água; melhorar as moradias e as instalações sanitárias; promover a educação sanitária. Helmintos associados à água contacto da pele com água contaminada. esquistossomose. construir instalações sanitárias adequadas; controlar os caramujos. Insectos vectores relacionados com as fezes Procriação de insectos em locais contaminados por fezes. Filariose (elefantíase). combater os insectos transmissores; eliminar condições que possam favorecer criadouros. Fonte: Barros et al, Saneamento, Vol.2, Belo Horizonte, (1995) Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 10 Doenças Relacionadas Com a Habitação Segundo RIBEIRO & ROOKE (2010), em moradias construídas próximas a concentrações elevadas de vectores, há o aumento de transmissão de doenças como, por exemplo, a malária. Assim, o local onde as moradias são construídas, bem como a qualidade dessas habitações, tem efeito importante na saúde da população. É importante, que nas habitações também seja promovida a higiene doméstica, pois esta é uma das estratégias preventivas na transmissão de doenças feco-orais e das controladas pela limpeza com a água. O material e o acabamento inadequados nas habitações podem favorecer a proliferação de ratos, mosquitos, carrapatos, piolhos etc., animais estes transmissores de doenças. Um exemplo é a infestação dos barbeiros, que são os vectores da doença de Chagas (PHILIPPI JR., 2004). VULNERABILIDADE E TRANSMISSÃO DE DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA A distribuição populacional das áreas urbanas geralmente não segue a distribuição das infraestruturas habitacionais e de saneamento oferecidas, aumentando as vulnerabilidades socio-ambientais da cidade, factores que potencializam a pressão urbana exercida sobre os recursos hídricos em sua capacidade e qualidade e condicionam a propagação de doenças infeciosas de veiculação hídrica. Ressalta-se que, as doenças de veiculação hídrica são causadas principalmente por meio de microrganismos patogénicos que têm suas origens relacionadas aos factores espaciais do território e são situações específicas determinados pelos preceitos capitalistas e dicotómicos que regem a sociedade, assumindo relevância, entre outros aspectos, na determinação de desigualdades no que tange a qualidade da água para consumo e uso humano (AMARAL et al., 2003). Assim, as doenças de veiculação hídrica nas dimensões de incidência e prevalência causam inúmeros transtornos à saúde humana, sendo esta percebida em seu contexto patológico, social e espacial como o conjunto de factores (materiais e imateriais) que podem interferir negativamente nas condições gerais de existência. Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 11 De acordo com D’AGUILA et al., (2000) os principais recursos hídricos em termos de sistemas de distribuição estão associados a reservatórios e redes desenvolvidas para suprir as necessidades quando não há suficiência de sistemas naturais, como por exemplo, nascentes, rios etc. Deste modo, alguns dos factores que podem comprometer a qualidade da água, e consequentemente da saúde, indicados por FREITAS et. al. (2001), associam-se a qualidade química e biológica da fonte natural e a eficácia do processo de tratamento e armazenamento. Portanto, uma vez que o Bairro Ícidua não é abrangido pelo sistema de abastecimento de água, fica suscetível a ocorrência de doença hídricas, pois a sua população recorre a fontes não seguras. Sendo assim, um município que não possui um sistema adequado de abastecimento de água por meio de recursos hídricos em suas especificidades de qualidade (tratamento) e quantidade (armazenamento) apresenta maior vulnerabilidade ao risco de doenças. AMARAL et al. (2003), destaca que captação de água em localidades sem os recursos necessários expostos a várias fontes de contaminação, aumenta consideravelmente o risco a determinados danos ou surtos de doenças nestas localidades. Logo, análises que ultrapassam o campo patológico da doença podem contribuir para progressão de políticas públicas consistentes no âmbito possibilista de combate à falta de água e ao tratamento desta. Portanto, nos casos em que o município necessita desenvolver práticas voltadas ao abastecimento de água em suas conotações individuais ou coletivas, o risco que a água pode oferecer assume variações, dependendo quase que exclusivamente do conhecimento que determinados sujeitos possuem nos processos inerentes a estas ações. Sob a mesma visão, é de destacar a fragilidade que o bairro apresenta, uma vez que está assente sob um ecossistema de mangal, um ambiente frágil para a ocupação humana visto que o elevado lençol freático e a influência da maré não permitem a implantação de instalações sanitárias, agravando a vulnerabilidade dos seus moradores. Desta forma, evidencia-se o papel social destas discussões, uma vez que se trata de análises que desenvolvem olhares multilaterais voltados à melhoria das condições gerais Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 12 de existência da população, atentando-se a progressiva multidisciplinaridade presente nas dinâmicas da complexidade do real e cada vez mais nos campos teóricos da comunidade científica. Desta forma, evidencia-se o papel social destas discussões, uma vez que se trata de análises que desenvolvem olhares multilaterais voltados à melhoria das condições gerais de existência da população, atentando-se a progressiva multidisciplinaridade presente nas dinâmicas da complexidade do real e cada vez mais nos campos teóricos da comunidade científica. VULNERABILIDADES E SANEAMENTODO MEIO O saneamento espelha-se no conjunto de ações socio-económicas que têm por objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental, por meio de abastecimento de água potável, colecta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com a finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural (FNS, 2004). Assim, entende-se por sanidade ambiental o estado de saúde normal em que vive a população urbana e rural, tanto no que se refere a sua capacidade de inibir, prevenir ou impedir a ocorrência de endemias ou epidemias veiculadas pelo meio ambiente, como no tocante ao seu potencial de promover o aperfeiçoamento de condições mesológicas (que diz respeito ao clima e/ou ambiente) favoráveis ao pleno gozo de saúde e bem-estar (GUIMARÃES, CARVALHO e SILVA, 2007). Essas definições visam conceituar o saneamento. As mesmas, deixam claro que saneamento constitui um conjunto de ações sobre o meio ambiente, ações de controlo ambiental, cujo objetivo é proteger a saúde do Homem. Ou seja, o saneamento é uma condição necessária para que os residentes do bairro possam gozar de um bem-estar e uma vida saudável. BOVOLATO (2012), avança que, meio ambiente tem sido afetado com vários problemas dentre eles, os que podem afetar o meio ambiente, destacam-se a insuficiência de investimentos em saneamento básico; a intensa poluição dos recursos hídricos, em particular de mananciais de abastecimento de água das cidades; a deficiência no sistema Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 13 de drenagem, que contribui para a ocorrência de enchentes; a ocupação das planícies; as condições precárias para a destinação dos resíduos sólidos domésticos; a diminuição de áreas verdes; a poluição do ar. Segundo o mesmo autor, todas essas situações existem não somente pela ausência de planeamento, mas pela descontinuidade da atuação administrativa, quando o processo de priorização das atividades locais de interesse público é fragmentado, gerando distanciamento entre governo e cidadãos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste presente capítulo faz a apresentação, análise e interpretação dos dados. São apresentadas informações obtidas no campo, nomeadamente, as sensibilidades colhidas no campo através da observação participativa acompanhada com o processo de inquérito. Neste ponto procurou-se fazer uma descrição das condições de saneamento do bairro apontado como uma das principais vulnerabilidades que o mesmo apresenta. Para tal, fez- se um conjunto de perguntas aos agregados familiares, ligadas aos tipos de instalações sanitárias, abastecimento de água potável e o depósito final dos resíduos produzidos. Observou-se, que cerca de 33% dos indivíduos inqueridos não possui latrina/retrete e 15% dos que possuem latrinas, são as classificadas como “não melhoradas” (FIGURA 4). Figura 2: Tipos de Instalações Sanitária nas habitações Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 14 Fonte: Própria do autor 2020. Esta situação por si só representa um risco para a saúde dos moradores do bairro. Essa inexistência de latrinas/retrete tem possibilitado a prática frequente do fecalismo ao céu aberto, o que de certo modo, altera as condições do meio ambiente e consequentemente, abre espaço para a ocorrência de várias doenças como o caso da cólera e doenças diarreicas. No que refere a disponibilidade da água para o consumo foi possível observar que uma grande parte da população, ou seja 77% usa água proveniente dos fontenários situados na cidade, 15% usa a água proveniente dos poços sem bombas, 5% usa a água canalizada fora de casa, ou seja, água proveniente dos fontenários e apenas 3% consome água proveniente dos poços/furos protegidos com bomba manual (FIGURA 3). Figura 3: Fonte de água consumida pelos agregados familiares 17% 21% 28% 34% Tipos de instalações sanitárias Latrinas melhoradas Latrina tradicional melhorada Latrina não melhorada Não tem retrete/ Latrinas Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 15 Fonte: Própria do autor 2020. Com isso fica claro perceber que a inexistência de fontes seguras de abastecimento da água faz com que os residentes de Icídua percorram longos quilómetros até outros pontos da cidade para ter acesso a água para as suas necessidades diárias. Em alguns casos, os moradores optam por outras fontes de água não aconselháveis e por transportarem em botijas pode-se perder a qualidade da água e abrir espaço para existência de impurezas na água. Assim, percebe-se que há um grande número da população vulnerável à doenças de veiculação hídrica. Em termos de tratamento e disposição final dos resíduos sólidos domésticos, observou-se que 80% da população enterra os resíduos sólidos domésticos, 10% deposita os resíduos sólidos domésticos no mangal ou em outros lugares, 5% atira ou deita os resíduos sólidos domésticos na rua e os outros 5% queima os resíduos sólidos domésticos depois de um certo período de produção e acumulação nas suas lixeiras caseiras (FIGURA 4). 5% 84% 4% 7% Fonte de agua potável Canalizada fora de casa Fontenário Poço / furo protegido com bomba manual Poço sem bomba Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 16 Figura 5: Formas de tratamento dos resíduos sólidos domésticos. Fonte: Própria do autor 2020. O facto de 78% dos agregados familiares enterrar os seus resíduos sólidos domésticos demonstra que o bairro não foi abrangido pelos serviços básicos de colecta ou recolha de resíduos sólidos domésticos. Praticamente todos os moradores têm feito covas próximo as suas casas para depositar os resíduos sólidos domésticos (FIGURA 6). Os resíduos sólidos domésticos depositados podem durar um período de 5 ou mais dias expostos, criando um cheiro nauseabundo, entre outras formas de poluição. Tendo como premissa que o saneamento básico ou saneamento do meio geralmente se restringe ao abastecimento de água, disposição de esgotos, drenagem de águas pluviais e destino adequado dos resíduos sólidos domésticos, com base nos resultados acima apresentados pode-se perceber claramente que as condições sanitárias do bairro em estudo são precárias ou inexistentes. Nota-se que há ausência de condições mínimas de saneamento do meio, como é o caso de: contentor para a deposição dos resíduos sólidos domésticos, ausência de água canalizada, instalações sanitárias, etc. Esta situação pode ser explicada pela ausência ou a inoperância de planos específicos de urbanização e de ordenamento territorial. Enteira 78% Queima 11% Atira na rua 4% Deita no mangal 7% DEPOSITO FINAL DO LIXO Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 17 INCIDÊNCIA DE DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA NO BAIRRO ICÍDUA A análise da incidência de doenças de veiculação hídrica baseou-se em dados fornecidos pelos Serviços Distritais de Saúde de Quelimane para o período compreendido entre 2016 e 2017 (TABELA 1). Tabela 1: Casos de doenças diarreicas e cólera registados no bairro Ícidua nos anos 2016 e 2017. O quadro a cima danos a perceber que existe uma redução da incidência da doença, porém como foi avançado, os registos ainda são muito elevados. Considerando o total de 9084 habitantes enumerados no bairro Icídua pelo III RecenseamentoGeral da população e habitação de 2007, a taxa de incidência das doenças diarreicas em 2016 foi de 113.6‰ o que significa que no ano de 2016, em cada 1000 residentes no bairro Icídua, cerca de 116 pessoas contraíram doenças diarreicas e no ano de 2017, esta taxa registou uma redução para 98.5. Embora tenha havido uma redução, a incidência das doenças diarreicas é muito elevada o que constituí um indicador da elevada vulnerabilidade que caracteriza este bairro. No que se refere a incidência da malária para o mesmo período, observa-se que de 2016 a 2017 houve uma redução dos casos notificados. No entanto, vale ressaltar que esses dados ainda são elevados em relação ao número de habitantes. Tabela 2: Casos de malária notificados no Bairro Ícidua nos anos 2016 e 2017. ANO CASOS NOTIFICADOS 2016 3340 2017 1585 ANO CASOS DE CÓLERA CASOS DE DIARREIAS 2016 0 1032 2017 0 895 Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo procurou-se fazer uma análise das vulnerabilidades socio-ambientais, onde percebeu-se que, a rápida urbanização que caracteriza Moçambique e a cidade de Quelimane em particular, faz com que haja uma ocupação de áreas ambientalmente frágeis para o uso residencial. A título de exemplo, na cidade de Quelimane, o bairro de Icídua é um bairro ambientalmente vulnerável e desprovido de equipamentos e serviços sociais básicos. Esta situação concorre para que haja práticas nocivas ao ambiente, tais como o fecalismo a céu aberto, depósito de resíduos sólidos domésticos em locais não adequados, o que faz com que a população apresenta uma elevada vulnerabilidade para contrair doenças de veiculação hídrica tais como a diarreia. A titulo de exemplo, segundo o Jornal Notícias edição Online (2015), o bairro de Icídua, tem registado mais casos de cólera na cidade de Quelimane. Por outro lado, a área em estudo se encontra numa zona frágil ambientalmente, estando sujeita a sofrer diversas calamidades ambientais como avançam alguns autores. Num olhar mais atento ao bairro é possível notar que este é também susceptível a inundações. Importa aina salientar, que o local em estudo apresenta condições climáticas favoráveis para o desenvolvimento de mosquitos causadores da malária como foi visto a longo do trabalho. E também destacar, que a constatação feita em grande parte se deve às inadequadas condições de saneamento do bairro ou seja, a vulnerabilidade ambiental é agravada pela vulnerabilidade social (condições de saneamento) do bairro. Neste contexto valida-se a hipótese do artigo, pois foram alcançados e respondidos os objectivos. REFERÊNCIAS AMARAL, L. A.; NADER FILHO, A. ROSSI JUNIOR, O. D.; FERREIRA, F. L. A.; BARROS, L. S. S. Água de consumo humano como factor de risco a saúde em propriedades rurais. Rev. Saúde Pública. São Paulo, 2003. Carlos Gito Wassugue Wapeso Geographic 4º anon. Student finalist do cusp ____________________________________________________________ 19 AQUINO, Afonso Rodrigues de Vulnerabilidade Ambiental, São Paulo, editora Edgard Blucher, 2017. BARROS, R. T. V. et al. Saneamento, Manual de saneamento e proteção ambiental para os municípios – volume 2, Belo Horizonte, 1995. 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