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Livro Meio Ambiente Sustentabilidade e Cidadania

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Meio Ambiente, 
Sustentabilidade e 
Cidadania
???????????
Meio Ambiente, 
Sustentabilidade e 
Cidadania
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2016
Diego Marques Henriques Jung
Fernanda Carneiro Leão Gonçalves
Marcos Machado
Orlando Albani de Carvalho
Rafael Lacerda Martins
Roberta Dall Agnese da Costa
Suelen Bomfim Nobre
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil.
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-259-6
Dados técnicos do livro
Diagramação: Marcelo Ferreira
Revisão: Igor Campos Dutra
Diego Marques Henriques Jung1
Caro aluno,
Não sei o que passou pela sua cabeça ao ver o nome da discipli-
na “meio ambiente, sustentabilidade e cidadania”. Arrisco dizer que prova-
velmente o que o motivou a matricular-se nela tenha sido seus preconcei-
tos. Digo isso não no sentido negativo da palavra como, por exemplo, um 
preconceito de cunho étnico, mas no sentido dos seus conceitos pré-esta-
belecidos, que você desenvolveu ao longo de sua vida. Nesta disciplina, 
discutiremos, com base técnica, estes conceitos. Você poderá conhecê-los, 
compreendendo seu real significado, indo além do senso comum sobre 
essas questões.
Qual o conceito de meio ambiente? Quais as transformações impostas 
ao meio ambiente pelas sociedades humanas, considerando o processo 
histórico? Será que as questões ambientais apresentam implicações geo-
políticas como, por exemplo, guerras, movimentos massivos de povos por 
questões ambientais (refugiados ambientais)? Por que alguns países atuam 
com mais responsabilidade com relação aos recursos naturais, enquanto 
outros são completamente relapsos? Você será convidado a desenvolver 
seu pensamento crítico sobre esses assuntos, envolvendo-se na interpreta-
ção de situações problema, discussão de vídeos e textos, posicionando-se 
criticamente sobre eles.
Os objetivos dessa disciplina são apresentar a você o conhecimento 
acerca das transformações ambientais impostas pela sociedade ao meio 
1 Biólogo, Mestre em Biologia, Curso de Ciências Biológicas, ULBRA.
Apresentação
Apresentação v
ambiente, incluindo os desafios para o desenvolvimento sustentável e jus-
tiça socioambiental; vamos estimular discussões visando à compreensão e 
reflexão crítica sobre o papel do ser humano frente à questão ambiental. 
Por fim, desejo que você compreenda a cidadania como meio de atuar na 
defesa do patrimônio natural, cultural e socioambiental, assumindo esse 
compromisso em alguma dimensão, de acordo com a sua vocação.
Espero que você realize uma boa disciplina! Em nome da equipe de 
autores, lhe desejo um excelente trabalho.
 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza .........1
 2 Meio Ambiente e Processo Histórico de Desenvolvimento ....32
 3 Expansão Agrícola, Urbanização e seus Impactos ao Meio 
Ambiente ............................................................................55
 4 Geopolítica Ambiental ........................................................74
 5 Governança e Políticas Públicas de Conservação da 
Natureza e Biodiversidade ................................................113
 6 Recursos Naturais e Sociedade Contemporânea ................133
 7 Convenções Ambientais ....................................................171
 8 Cidadania e Meio Ambiente .............................................193
 9 Inovações e Tecnologias a Serviço do Homem e 
do Ambiente .....................................................................216
 10 O Desafio Ambiental: Construindo a Cidadania e a 
Sustentabilidade ...............................................................235
Sumário
Marcos Machado1
Capítulo 1
As Relações das 
Sociedades Humanas 
com a Natureza1
1 Biólogo, Mestre em Geociências, Curso de Ciências Biológicas, ULBRA.
2 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
Introdução
Por que nós, seres humanos, possuímos uma influência impres-
sionante sobre outras espécies e o mundo natural? Somos os 
únicos entre as espécies animais que sobrevivem e se reprodu-
zem em uma ampla variedade de ambientes mediante adap-
tações culturais (Richerson et al., 1996). Em contraste, outras 
espécies são capazes de sobreviver e se reproduzir devido a 
adaptações biológicas que resultaram de eras de evolução. 
As adaptações culturais dos seres humanos lhes favoreceram 
colonizar quase todos os tipos de ecossistemas da Terra. Além 
disso, as inovações culturais permitiram que a população hu-
mana crescesse exponencialmente durante milênios. A popula-
ção de uma espécie típica cresce até atingir a capacidade de 
carga de seu ambiente, e, então, os níveis declinam. Em ou-
tras palavras, ela aumenta até que esteja utilizando totalmente 
os recursos disponíveis. Em vista disso, mecanismos pontuais, 
tais como doenças e fome mantêm a população em núme-
ros viáveis. No entanto, nós, seres humanos temos respondi-
do aos limites ecológicos com práticas culturais e tecnologias 
que aumentam a disponibilidade de recursos. O aumento da 
produção agrícola e a organização urbana têm propiciado a 
assimilação de populações humanas cada vez maiores. Esse 
crescimento requer adaptações culturais para aumentar os 
recursos, e, consequentemente, alterar o ambiente natural e 
acelerar a taxa de evolução cultural. Atualmente, a população 
humana global ultrapassou os sete bilhões e as tecnologias 
de manipulação ambiental são suficientemente potentes para 
causar alterações na biosfera com a extinção de inúmeras es-
pécies. Se a tendência atual continuar, haverá um eventual 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 3
colapso da população humana e danos ambientais irreversí-
veis. Essa é a causa fundamental da crise ambiental moderna. 
Os diferentes tipos de sociedade são geralmente associa-
dos a determinadas condições e atitudes em relação à vida 
selvagem e natureza social. Essa forma de organizar e des-
crever as sociedades humanas é objeto da Ecologia Humana, 
que procura compreender os seres humanos a partir de sua 
interação com o mundo natural e cultural (Richerson et al., 
1996). Os seres humanos são uma espécie de mamífero social 
de grande porte que vive na biosfera e apresenta uma singu-
laridade impressionante como animal cultural. A perspectiva 
da Ecologia Humana também pode fornecer evidências sobre 
como nossa cultura global precisa mudar, em em uma pers-
pectiva de sustentabilidade. A seguir, serão apresentadas so-
ciedades divididas em cinco categorias convenientes para dis-
cussão. Entretanto, elas representam um gradiente de cultura 
e valores. Nessa abordagem, o mais importante é reconhecer 
a tendência geral na forma como as diferentes sociedades se 
relacionam com a natureza superando definições formais.
1 As sociedades de caçadores-coletores
As sociedades caçadoras-coletoras obtêm seu alimento dire-
tamente de ecossistemas naturais, pela caça e coleta de ani-
mais e plantas silvestres (Richerson et al., 1996). Isso requer 
conhecimento profundo e detalhado de espécies de plantas e 
animais no ambiente local. Um estilo de vida caçador-coletor 
pode suportar um número relativamente pequeno de pessoas. 
4 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
Assim, a densidadepopulacional das sociedades de caçado-
res-coletores tende a ser baixa. A maioria dos povos caçado-
res-coletores é migratória, viajando frequentemente em busca 
de recursos. Geralmente, cada indivíduo é responsável pela 
aquisição de alimentos, por isso há pouca divisão de traba-
lho, inclusive entre os sexos. Como resultado, a estrutura so-
cial das culturas de caçadores-coletores tende a ser bastante 
igualitária. No entanto, esse igualitarismo não se traduz neces-
sariamente em tranquilidade. Os antropólogos têm demons-
trado que a incidência de morte violenta nas sociedades de 
caçadores-coletores é, em média, muitas vezes maior do que 
nas cidades modernas mais violentas, o que é atribuído à falta 
de uma autoridade centralizada. Os homens geralmente são 
responsáveis pela caça, e as mulheres, pelo forrageamento. A 
disparidade entre os sexos geralmente não é tão grande como 
a encontrada nas sociedades agrárias. 
A dependência direta do caçador em relação aos ecossis-
temas naturais e o conhecimento profundo que isso exige é 
geralmente refletida em suas crenças e atitudes frente à natu-
reza e vida selvagem. Tais povos comumente se veem como 
inseparáveis dos ecossistemas naturais e vida selvagem de seu 
entorno (Gottlieb, 1996; Wilber 2000). Os animais são mui-
tas vezes considerados seres espirituais, para os quais rogam 
ajuda e proteção. Os rituais são comumente realizados para 
mostrar respeito, gratidão e reverência para com os animais-
-espíritos, com a esperança de promover o contínuo sucesso 
da caça. Outros rituais que buscam influenciar os aconteci-
mentos naturais, como a chuva, também são frequentes em 
culturas de caçadores-coletores. Essas crenças baseadas em 
magia, rituais e fusão dos seres humanos com o mundo natu-
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 5
ral são denominadas animismo (Richerson et al., 1996; Wil-
ber, 2000). Exemplos de tais crenças em relação à natureza 
são mostradas em diversas culturas, e nas imagens maravilho-
samente representadas de bisões, veados, salmões e outros 
animais nas cavernas de La Chapelle-aux-Saints e Lascaux da 
França elaboradas pelos ancestrais caçadores-coletores dos 
europeus modernos. Os seres humanos, na maioria de sua 
história evolutiva, viveram em sociedades tribais de caçado-
res-coletores. Esse fato, para muitos antropólogos, justifica 
porque nos sentimos mais à vontade em circunstâncias que 
imitam tais sociedades. Ambientes abertos que permitam a vi-
sualização da vida selvagem, da beleza cênica das paisagens 
são frequentemente valorizados por nossa sociedade, inclusive 
atribuindo-se maior valor monetário. (Wilson, 1984; Richerson 
e Boyd, 2000). 
As sociedades de caçadores-coletores são geralmente con-
sideradas como o melhor exemplo de coexistência com popu-
lações de animais selvagens, porque a densidade populacio-
nal humana tende a ser baixa e porque a caça-coleta envolve 
o mínimo de manipulação dos ecossistemas naturais. Diversos 
autores consideram que a capacidade das sociedades de ca-
çadores-coletores de coexistir com a vida selvagem é atribuível 
à sua representação mágica e reverente da natureza (Gottlieb, 
1996). No entanto, argumentos alternativos afirmam que ca-
çadores e coletores causam pequenos impactos sobre os ecos-
sistemas naturais, simplesmente porque não têm tecnologias 
desenvolvidas para manipular a natureza (Wilber, 1996). Sa-
be-se que os caçadores e coletores da Ásia, Austrália e Amé-
rica do Norte causaram a extinção de numerosas espécies de 
mamíferos e aves de grande porte devido à caça demasiada e 
6 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
à alteração das paisagens mediante o uso extensivo do fogo, 
o que sugere que mesmo os seres humanos constituintes de 
sociedades de caçadores-coletores podem ter influência eco-
lógica considerável (Flannery 2001; Warren 2003). 
2 As primeiras sociedades agrárias
As primeiras sociedades agrárias obtinham alimento não ape-
nas mediante o forrageamento em ecossistemas naturais, mas 
também com o plantio de espécies importantes como itens ali-
mentares e/ou criação de gado. Eles podiam complementar 
sua alimentação através da caça. Essas sociedades agrárias 
que se concentravam no plantio são chamadas sociedades 
hortícolas, enquanto que aquelas que manejavam o gado 
como a principal fonte de alimento são chamadas socieda-
des pastoris (Richerson et al., 1996). As primeiras sociedades 
agrárias podem ser distinguidas de sociedades agrárias tardias 
pela falta de arados de metal, e ausência de animais de carga 
para puxá-los. A maioria das primeiras sociedades agrárias 
tinha animais domesticados, embora as civilizações indígenas 
da América Central e do Norte e da Austrália mantinham ape-
nas cães. Exemplos de sociedades hortícolas extintas incluem 
os astecas, os americanos nativos do Vale do Ohio, e os pri-
meiros agricultores do Oriente Médio há 11000 anos. Muitas 
áreas tropicais úmidas do mundo ainda suportam sociedades 
horticulturalistas que praticam a agricultura de subsistência 
através de queimadas do solo. O solo pobre dessas regiões 
geralmente não pode suportar, em grande escala e perma-
nentemente, o estilo de agricultura baseado no uso do arado 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 7
presente em sociedades agrícolas mais avançadas. A maior 
eficiência e previsibilidade das práticas agrícolas para a obten-
ção de alimentos significa que tais sociedades geralmente têm 
densidades populacionais mais elevadas do que as sociedades 
de caçadores-coletores (Richerson et al., 1996). Vilas perenes 
e pequenas cidades geralmente surgiram nas primeiras socie-
dades agrícolas. A maior produtividade da agricultura pode 
apoiar uma estrutura social mais complexa, com maior divisão 
do trabalho, porque nem todo mundo precisa trabalhar para 
adquirir alimentos. Isso pode resultar no desenvolvimento de 
uma classe dominante, uma classe religiosa e artesãos, o que 
acelera ainda mais a evolução cultural. Essa divisão do traba-
lho significa que as primeiras sociedades agrárias muitas ve-
zes eram menos igualitárias do que as sociedades caçadoras-
-coletoras. As poucas sociedades humanas matrilineares, ou 
seja, grupos sociais cujas linhagens familiares são passadas 
pela mãe e as mulheres têm status elevado, são geralmente 
horticultoras. Um excelente exemplo atual são as sociedades 
hortícolas matrilineares da África Subsaariana, como a Ba-
menda. Nessas sociedades, os assentamentos estacionários e 
o trabalho físico relativamente fácil necessário para adquirir 
alimentos permite que as mulheres contribuam grandemente, 
aumentando seu status e poder econômico. 
Os deuses e deusas das primeiras sociedades agrárias 
começam a assumir um rosto humano ao invés de animal, 
comparados com as sociedades de caçadores-coletores. No 
entanto, os animais são comumente associados a determina-
dos deuses e deusas, e muitas vezes são símbolo do poder de 
um deus. O encontro com uma espécie particular de vida sel-
vagem pode ser interpretado como um presságio de um deus, 
8 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
mas o poder geralmente não reside no próprio animal, mas, 
sim, na sua relação com a divindade. Animais, muitas vezes, 
desempenham papel importante na mitologia das culturas, e os 
deuses podem assumir formas de animais. As religiões pagãs 
do norte da Europa são um exemplo ocidental de uma religião 
agrária ancestral. A mitologia dos deuses gregos clássicos e 
deusas também é um exemplo desses temas, embora, em si, a 
antiga sociedade grega era muito avançada tecnologicamen-
te para ser classificada como uma sociedade agrária inicial. 
Um tema religioso comum nas primeiras culturas agrárias foi 
a necessidade de fazer sacrifícios aos deuses para incorrer seu 
favor e garantir a recompensa contínua (Wilber, 2000). Nassociedades de pastoreio, os sacrifícios eram normalmente de 
animais, e o Velho Testamento, inclusive, apresenta instruções 
de como realizá-los. No entanto, em sociedades hortícolas, o 
sacrifício humano era surpreendentemente comum. Algumas 
das primeiras culturas agrárias da Europa e do Oriente Médio 
praticavam sacrifícios humanos, assim como os horticultores 
astecas e do Vale do Ohio do Novo Mundo. (Richerson 1996; 
Wilber 1996; Warren, 2003).
3 As sociedades agrárias tardias
Conforme as sociedades agrárias evoluíam, técnicas de plan-
tio e colheita se tornaram mais avançadas tecnologicamente 
e mais eficientes (Richerson et al., 1996). Animais domésticos 
tais como cavalos e vacas passaram a ser utilizados para puxar 
arados, o que aumentou o rendimento. Animais de carga tam-
bém passaram a ser usados em moinhos de grãos, de água 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 9
e de vento. Sistemas de irrigação em grande escala são mui-
tas vezes utilizados, embora as sociedades agrárias, mesmo 
em seu início, possuíssem sistemas de irrigação em pequena 
escala. Muitas vezes, as sociedades agrárias tardias eram al-
tamente dependentes de um pequeno número de grãos, tais 
como trigo, milho, ou arroz. As culturas também eram cultiva-
das para alimentar o gado, principal fonte de proteínas. Os 
ecossistemas naturais forneciam apenas pequena quantidade 
do alimento, quase todos vinham dos ecossistemas agrícolas 
manipulados. As maiores colheitas em sociedades agrárias 
avançadas podiam suportar populações humanas densas e 
grandes cidades, pois muitas pessoas não tinham que traba-
lhar para conseguir alimento (Richerson et al., 1996). Essa di-
visão do trabalho permitiu o desenvolvimento de sociedades 
complexas, com um considerável grau de especialização. A 
escrita já está presente em sociedades agrárias avançadas, o 
que permitiu o desenvolvimento de aulas artísticas, literárias 
e religiosas, o que acelerou ainda mais a taxa de inovação 
tecnológica e evolução cultural. A estrutura de tais sociedades 
é muitas vezes altamente estratificada. A monarquia e a aris-
tocracia, muitas vezes, controlavam toda a terra e, portanto, a 
oferta de alimentos. Grande parte do resto da população era 
explorado como camponeses, servos, ou outros membros da 
classe trabalhadora. Exemplos clássicos de sociedades agrá-
rias atrasadas incluem a Europa Medieval, o feudalismo chi-
nês, o sistema de castas indiano, e o Brasil escravagista. A 
maior intensidade física do trabalho e o uso de animais de 
grande porte e arados tornou as mulheres menos capazes de 
contribuir para a aquisição de alimentos, o que geralmente 
resultou em um status social inferior nas sociedades agrárias 
10 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
quase universalmente patriarcais. A necessidade de mão de 
obra agrícola exigiu famílias grandes, o que elevou significa-
tivamente as taxas de crescimento da população humana em 
geral.
As sociedades agrárias, em grande parte, dependem do 
controle e manipulação dos ecossistemas para obtenção de 
alimentos, em vez da interação com os ecossistemas naturais 
e vida selvagem. Além disso, as grandes religiões do mundo, 
incluindo o cristianismo, o budismo, o islamismo e o hinduís-
mo, todas surgiram em sociedades agrárias atrasadas. O deus 
ou divindade de religiões agrárias é muitas vezes uma enti-
dade abstrata, e não algo material, e geralmente separa os 
animais selvagens ou a natureza da sociedade humana (Wil-
ber 2000). Deuses agrários podem ter rosto humano que lhes 
estão associados, de alguma forma, mas mesmo isso pode 
ser apenas símbolo de uma força invisível. Os animais são 
apenas ocasionalmente associados os deuses, e certamente 
não são em si mesmos considerados poderosos. Na verdade, 
especialmente nas religiões agrárias ocidentais, os seres hu-
manos são considerados superiores aos animais, e é vontade 
divina, que os seres humanos utilizem plenamente o mundo 
natural para seu próprio benefício (Warren 2003). O deserto 
foi muitas vezes considerado um mau lugar. Assim, manipular 
o ambiente natural com fazendas e matar animais selvagens 
era tanto um ato moral como economicamente benéfico (Sny-
der, 1990). Houve também tentativas de religiões agrárias de 
suprimir a prática das religiões hortícolas e de caçadores-cole-
tores mais animistas e orientadas à natureza. Entretanto, ainda 
hoje, é possível identificar vestígios de antigos rituais pagãos 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 11
europeus durante feriados cristãos no Ocidente, tais como co-
elhinhos da páscoa, ovos de páscoa e árvores de Natal. 
 A escola da Ecofilosofia afirma que a correspondente falta 
de santidade na natureza e o mundo material ajudou a ali-
mentar a destruição ambiental que acompanha essa forma de 
sociedade (Wilber 1996, Gottlieb 1996). 
Os impactos das sociedades agrárias sobre a vida selva-
gem e ecossistemas naturais podem ser bastante considerá-
veis, o que não é surpreendente, dadas as altas densidades 
populacionais de tais sociedades e sua cada vez mais potente 
tecnologia para alterar a natureza. Durante a fase agrária tar-
dia de desenvolvimento da Europa ocidental, habitats naturais 
e grandes espécies de animais selvagens, como veados e ja-
valis podiam ser encontrados principalmente em áreas de caça 
protegida de aristocratas, ou em áreas muito montanhosas ou 
frias para permitir a agricultura. Os solos ricos, grossos de 
pastagens torna especialmente favorável para a agricultura, e 
quase toda a área desse tipo de ecossistema na Europa, Amé-
rica do Norte e na Ásia foi completamente modificada para 
a produção alimentar humana. As altas densidades popula-
cionais de sociedades agrárias também têm altas exigências 
de lenha e madeira, por isso não é incomum ver o desflo-
restamento para lenha (e consequente erosão acelerada de 
encostas) em tais sociedades. As colinas nuas de grande parte 
do Oriente Médio são o resultado de remoção de florestas 
há milhares de anos, seguida de erosão dos solos e pastoreio 
intensivo de cabras e outros animais. O pastoreio continua até 
hoje, mantendo as colinas em um estado perpétuo de pobreza 
biológica e baixa produtividade. 
12 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
4 As primeiras sociedades industriais
A invenção de motores a vapor e outras máquinas para re-
alizar trabalho inaugurou a era industrial (Richerson et al., 
1996). Algumas dessas tecnologias foram aplicadas na agri-
cultura, o que tornou a produção de alimentos ainda mais efi-
ciente. Isso permitiu ainda mais urbanização e especialização 
profissional, que por sua vez levou a grandes avanços nas artes 
e ciências. Muitas pessoas nas primeiras sociedades industriais 
obtinham seu sustento produzindo bens manufaturados, mui-
tas vezes em um centro urbano. É perfeitamente possível para 
uma pessoa em uma sociedade industrial viver a sua vida intei-
ra com pouco ou nenhum contato direto com os ecossistemas 
naturais ou agrícolas. As sociedades industriais também trou-
xeram o uso extensivo de capital, fator vital da economia, que 
criou mercados para muitos produtos especializados e iniciou 
uma nova classe média mercantil voltada para o comércio de 
produtos e administração de capital. As populações crescen-
tes das sociedades agrárias tardias forneceram um excesso de 
trabalhadores para países na fase inicial de industrialização, e 
esses trabalhadores, muitas vezes, sem escolha, trabalhavam 
por salários baixos em condições precárias. No entanto, os 
conceitos de democracia moderna, as liberdades civis e os di-
reitos humanos nasceram nas primeiras sociedades industriais 
ocidentais, sob a ideia iluminista de que “todos os homens 
são criados iguais.” O racionalismo científico e a descoberta 
dos princípios científicos fundamentais da física newtonianae 
da teoria darwinista da evolução também foram desenvolvi-
dos durante a era industrial inicial. A imprensa foi inventada, 
e taxas de alfabetização aumentaram significativamente. Nas 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 13
sociedades industriais, as máquinas passaram a realizar muito 
do trabalho efetuado por pessoas em sociedades agrárias. A 
influência das mulheres começa a aumentar nas sociedades 
industriais, presumivelmente porque a produtividade econômi-
ca torna-se menos ligada à força física. Diferentes segmentos 
da sociedade têm atitudes distintas em relação à natureza e 
vida selvagem nas sociedades industriais avançadas. A nova 
economia industrial baseada no mercado enxergava a vida 
selvagem e outros produtos de ecossistemas naturais como 
bens a serem vendidos no mercado aberto. O resultado foi 
a rápida pilhagem dos animais selvagens pelo mercado de 
caça, particularmente no hemisfério ocidental (Warren 2003). 
No entanto, muitos naturalistas documentaram meticulosa-
mente a diversidade de espécies da Terra, o que ajudou as 
pessoas a desenvolver uma admiração em relação ao mundo 
natural (Warren, 2003). Ao mesmo tempo, filósofos românti-
cos como John Locke, começaram a protestar contra a dureza 
do mundo industrial, e argumentaram que os seres humanos 
precisavam voltar para a natureza e para uma maneira mais 
natural de ser. A valorização científica da natureza e da vida 
selvagem combinadas com os sentimentos expressos pelos fi-
lósofos românticos e o trabalho de artistas e naturalistas, como 
John Muir, foram algumas das forças culturais que se aliaram 
para iniciar o movimento de conservação nos EUA e norte da 
Europa durante o início da era industrial. Esse movimento teve 
como objetivo proteger a vida selvagem e natureza de quem 
iria utilizá-la para ganho financeiro ou sujeitá-la para seu pró-
prio bem. Assim, em reação a isso, o Parque Nacional de Yello-
wstone e o Serviço Nacional de Parques dos EUA foram cria-
dos durante o início da era industrial da América do Norte. A 
14 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
laicidade crescente da sociedade industrial é vista pelo fato 
de que os argumentos para a conservação geralmente não 
são vistos como essencialmente religiosos. É fácil ver como a 
intensa exploração da vida selvagem refletiu a visão de que a 
natureza é separada dos seres humanos. Mesmo a valorização 
de lugares naturais por sua beleza, refletida em pinturas do sé-
culo XIX, continha a mensagem sutil de que os seres humanos 
são separados da natureza. Na verdade, o próprio conceito 
de olhar para uma bela vista em uma paisagem natural nunca 
fora antes registrado no ocidente até o século XVII, e é atribuí-
do por cientistas sociais para a crescente separação psicológi-
ca entre seres humanos e natureza (Tuan, 1982). O aumento 
da compreensão científica sobre a natureza foi até certo ponto 
fundado sobre a separação dos seres humanos da natureza, 
permitindo uma perspectiva dita objetiva. 
A influência das economias industriais a partir do século 
XVIII sobre a natureza e vida selvagem é considerável. Tec-
nologias cada vez mais poderosas permitiram a exploração 
de populações de animais selvagens que até então tinham 
sido protegidas por causa do isolamento ou a dificuldade de 
caça e pesca. É importante ter em mente, no entanto, que 
a sobre-exploração das populações de animais selvagens foi 
finalmente impulsionada pela demanda do mercado. As socie-
dades industriais caracterizavam-se por economias com base 
no fluxo de capital, e pela procura de bens por uma grande 
população com riqueza crescente. A demanda das economias 
de mercado para a vida selvagem quase sempre continua a 
crescer até que as populações de animais selvagens são leva-
das à extinção ou próximas dela. As legislações rigorosas são 
necessárias na exploração de populações naturais a fim de 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 15
evitar a perda de espécies, e na verdade muitas das primeiras 
leis ambientais aprovadas eram dirigidas ao mercado de pro-
dutos de caça. Também a degradação ambiental do início da 
sociedade industrial já é relativamente elevada, e a população 
humana crescente.
5 As sociedades industriais tardias
As sociedades industriais tardias como a nossa são marca-
das pela tecnologia altamente desenvolvida e pelo uso ge-
neralizado de computadores e outras tecnologias de informa-
ção. Tecnologias avançadas são aplicadas à agricultura para 
aumentar a eficiência da produção, e incluem equipamentos 
especializados, fertilizantes químicos, pesticidas, a reprodução 
científica de culturas e organismos geneticamente modifica-
dos. A tecnologia também é usada para construir barragens 
e sistemas de irrigação complexos para aumentar a produção 
agrícola. A alteração de rios tem consequências graves para 
peixes e outros animais selvagens. Outra característica funda-
mental da nossa atual sociedade industrial é o uso abundante 
de eletricidade e outras formas de energia, bem como o alto 
consumo de recursos. Essa riqueza generalizada é conside-
rada simultaneamente uma causa e uma consequência das 
taxas de educação superior e dos governos democráticos em 
tais sociedades. No entanto, a riqueza generalizada e consu-
mismo exigem muitos recursos naturais e, posteriormente, tem 
um forte impacto negativo sobre os sistemas naturais e vida 
selvagem. O processamento de informação, a partir do desen-
volvimento de novas tecnologias não exige força física, o que 
16 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
torna as mulheres iguais aos homens em termos de sua capa-
cidade de executar o sistema econômico. Como consequên-
cia, as mulheres estão alcançando gradualmente status social 
e poder quase em pé de igualdade com os homens em socie-
dades industriais avançadas. Nas outras formas de sociedades 
humanas, o que normalmente é observado é que conforme 
a agricultura se torna mais eficiente, as populações humanas 
também aumentam. No entanto, esse padrão muda nas so-
ciedades industriais desenvolvidas, as taxas de natalidade se 
tornam menores. Na Europa Ocidental e Japão, as taxas de 
natalidade estão abaixo da taxa de substituição, o que signifi-
ca que as populações desses países começarão a diminuir de 
tamanho, a menos que aumentem a imigração. Essa redução, 
inteiramente voluntária de taxas de natalidade, é sem prece-
dentes na história humana. Infelizmente, os países com baixas 
taxas de natalidade ainda têm grandes impactos ambientais, 
como resultado das altas taxas de imigração e altas taxas per 
capita de consumo de recursos. A estabilização da população 
humana global e uma diminuição do consumo per capita de 
recursos naturais nas sociedades industriais avançadas serão, 
sem dúvida, necessárias para a sobrevivência da fauna, pre-
servação de ambientes naturais e, finalmente, o bem-estar dos 
seres humanos em todo o mundo.
A redução voluntária das taxas de natalidade pode ser 
atribuída a vários fatores (Montgomery 2004, Population Re-
ference Bureau 2004). O mais importante é o alto nível de 
educação das mulheres, que lhes proporciona mais oportuni-
dades econômicas e uma maior capacidade de fazer escolhas 
reprodutivas usando métodos confiáveis de controle de natali-
dade. Além disso, o grau de especialização das sociedades in-
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 17
dustriais desenvolvidas requer muitos anos de escolaridade, de 
modo que o trabalho de crianças, o que era valioso para a so-
ciedade agrária, não possui valor em uma sociedade industrial 
avançada. Um fator importante na redução da taxa de natali-
dade é a educação e a participação das mulheres na força de 
trabalho nas sociedades industriais desenvolvidas. A educação 
das mulheres também parece ser uma forma eficaz de redu-
ziras taxas de natalidade nos países em desenvolvimento, ou 
seja, a alfabetização básica das mulheres está correlacionada 
com reduções drásticas nas taxas de natalidade. As taxas de 
mortalidade infantil reduzidas e a maior segurança econômica 
das sociedades industriais também são razões para as taxas 
de natalidade reduzidas, porque os pais não precisam ter um 
grande número de crianças para garantir que alguns sobrevi-
vam. A sociedade moderna usa sua tecnologia e economia de 
mercado para criar um ambiente favorável à manutenção de 
populações humanas. Entretanto, as dinâmicas econômicas 
podem reduzir a qualidade de vida de parte considerável da 
população humana. Considerando que, em uma sociedade 
de caçador-coletor ou agrária uma seca pode fazer as pessoas 
temerem por sua sobrevivência, em nossa sociedade moderna, 
uma recessão é o que assusta as pessoas. Isso ocorre por-
que a perda de colheitas em uma parte do mundo pode ser 
compensada com o aumento da produção em outras partes 
do mundo. Essa disjunção entre os mundos natural e humano 
pode ser analisada a partir de três perspectivas em relação 
à natureza: primeira, a visão de que a natureza e os animais 
selvagens são principalmente um recurso a ser explorado sob 
o sistema baseado no mercado, similar às atitudes realizadas 
nas primeiras sociedades industrializadas. Em segundo lugar, 
18 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
há muitos para quem a natureza é simplesmente irrelevante, e 
assim eles dão pouca atenção a ela. A criação de ambientes 
alterados pelo homem e a abundância material em tais socie-
dades significa que é bem possível que uma pessoa possa viver 
uma vida urbana ou suburbana confortável não tendo quase 
nenhum contato com a vida selvagem, ecossistemas naturais, 
ou mesmo ecossistemas agrícolas. No entanto, o sistema so-
cial e econômico complexo do qual as pessoas dependem nas 
sociedades industriais desenvolvidas baseia-se, em última ins-
tância sobre a integridade dos ecossistemas naturais. O reco-
nhecimento desse fato nos leva a um terceiro ponto de vista em 
relação à natureza, ou seja, valorizar a vida selvagem para seu 
próprio bem e para a manutenção de seu valor econômico di-
reto e indireto. O movimento ambientalista moderno começou 
na década de 1960, e foi motivado tanto por preocupações 
com a saúde humana quanto com a preservação de áreas 
selvagens para fins estéticos e recreativos. O poder crescente 
que os seres humanos possuem de alterar o mundo natural 
tem levado à visão de que a natureza é algo que pode ser 
destruído, e não algo que pode nos destruir. Os ecossistemas 
fornecem muitos serviços essenciais para as pessoas, de modo 
que a preservação de áreas naturais garante a sobrevivência 
econômica e gera benefícios diretos para as pessoas. Além 
disso, muitos estão motivados para preservar a vida selvagem 
e os ecossistemas naturais por razões estéticas, recreativas, ou 
espirituais. Um olhar sobre a história da relação entre seres 
humanos e natureza nos dá uma perspectiva sobre por que 
isso pode ocorrer. Os seres humanos passaram a maior parte 
de sua história evolutiva como caçadores-coletores que vivem 
em ecossistemas naturais. Durante as sociedades agrárias, 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 19
também trabalhavam fora e não mantinham um controle rígi-
do do tempo e outros processos naturais. Ambientes urbanos 
e cubículos de escritório são bastante diferentes dos ambien-
tes naturais em que nossa espécie evoluiu, e essa diferença 
pode levar a um estresse considerável. Um bom número de 
pessoas nos centros urbanos viaja para áreas rurais ou silves-
tres em seu tempo de lazer. Essa preferência por ambientes 
naturais e criaturas selvagens é conhecida como “biofilia” e 
é o resultado da hipótese de nossa inclinação inerente para 
nos conectarmos aos ecossistemas naturais da mesma manei-
ra que nossos ancestrais caçadores-coletores faziam (Wilson, 
1984). As pessoas também estão encontrando cada vez mais 
significado espiritual na natureza, uma novidade que reverte a 
tendência histórica na cultura ocidental de considerar a natu-
reza como cada vez menos sagrada (Gottlieb 1996). Algumas 
pessoas acham que através da ligação com a natureza, estão 
se conectando com algo maior do que eles mesmos. Muitas 
denominações cristãs buscam agora passagens bíblicas que 
sugerem que os seres humanos devem proteger a natureza e 
os animais selvagens porque são criações de Deus, e várias 
grandes igrejas cristãs, incluindo a católica romana e luterana, 
têm declarações emitidas em relação ao imperativo ético para 
cuidar do meio ambiente e usar os recursos sabiamente. Tal-
vez as interpretações anteriores da bíblia que justificaram a 
dominação da natureza e a viram como o mal eram mais o 
produto da mentalidade agrária do que propriamente de de-
sígnios existentes no livro sagrado da cristandade. Há também 
movimentos nas sociedades industriais desenvolvidas que se 
esforçam para encontrar uma relação espiritual com a nature-
za, tentando recapturar uma visão animista como a de nossos 
20 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
ancestrais caçadores-coletores, mas não está claro se essa vi-
são de mundo animista poderia ser amplamente praticada por 
um povo cientificamente alfabetizado, urbano. É adequado di-
zer que uma visão abrangente do mundo que integre os seres 
humanos e natureza e que seja consistente com o racionalismo 
científico não foi ainda completamente desenvolvida e ampla-
mente praticada. No entanto, essa visão pode inspirar o futuro 
da humanidade, e de fato ser a chave para o desenvolvimento 
de uma sociedade sustentável global (Orr 1994). 
A capacidade tecnológica das sociedades industriais de-
senvolvidas altera os ecossistemas naturais e causa impacto 
intenso sobre as populações selvagens. A sociedade humana 
industrial é agora uma força global capaz de alterar diversos 
processos naturais. Não há lugar na superfície da Terra em 
que pesticidas e outros poluentes não possam ser encontra-
dos. A quantidade de azoto nos adubos químicos utilizados 
pelos agricultores ao redor do mundo agora é maior do que a 
quantidade total de nitrogênio naturalmente fixado por todas 
as plantas do mundo (Vitousek, 1994). Mais de 40% da pro-
dutividade primária líquida terrestre da terra é utilizada pelos 
seres humanos. No entanto, talvez o mais desconcertante de 
todos os impactos ambientais globais da sociedade industrial é 
a mudança climática global. A mudança climática global está 
sendo causada por sociedades industriais que utilizam grandes 
quantidades de energia. Basta pensar em toda a eletricida-
de e gasolina que você ou sua família usa em uma semana. 
Assim, devemos considerar quantas pessoas fazem a mesma 
coisa em todo nosso país, além de toda a energia consumida 
por empresas e indústrias. A maior parte dessa energia atu-
almente vem da queima de combustíveis fósseis, como o gás 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 21
natural, petróleo e carvão. Quando os combustíveis fósseis 
são queimados, liberam dióxido de carbono para a atmos-
fera, que junto com o metano, produzido em grande parte 
pela agropecuária, são a maior fonte de gases de efeito-estufa 
antropogênico. Desde o início da revolução industrial, a con-
centração de dióxido de carbono na atmosfera aumentou de 
278 ppm (partes por milhão) para 373 ppm devido à atividade 
humana, e continua a aumentar em mais de 1 ppm por ano. 
Modelos do Painel Intergovernamental Para Mudanças Climá-
ticas da ONU (IPCC) preveem que a temperatura média glo-
bal aumentará entre 1,4 e 5,8°C até o final do século XXI, e é 
documentado que a temperatura média da superfície da Terra 
já aumentou 0,6°C entre 1950 e 2000. Isso pode ter grandes 
impactos sobre os seres humanos e ecossistemas. De fato, al-
gunscientistas argumentam que o termo “Mudança Global do 
Clima” é um equívoco que subestima as consequências para a 
humanidade. O mais adequado seria Desastre Global do Cli-
ma. A camada de gelo do Ártico, atualmente, é 30% menor e 
35% mais fino do que era na década de 1970, e alguns cien-
tistas preveem que irá desaparecer por completo até o final 
desse século. Isso terá consequências trágicas para espécies 
selvagens como ursos polares e focas, cujo habitat principal 
são blocos de gelo ártico. As previsões sobre elevação do nível 
do mar apontam o aumento 0,5 metros até o final do século 
XXI, o que inundaria estuários e habitats costeiros. Ele também 
poderia colocar muitas cidades grandes dos Estados Unidos 
abaixo do nível do mar, e grande parte do território de países 
de baixa altitude, como a Holanda e Bangladesh (Neuman et 
al., 2000). Bangladesh é um dos mais pobres e superpovoa-
dos países do mundo, e é um exemplo do que poderá ocor-
22 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
rer com muitas nações impactadas pela mudança climática 
global, ainda que tenham pouca contribuição para as emis-
sões de gases-estufa. No geral, a mudança climática causará 
uma maior variabilidade climática, na maioria dos lugares do 
mundo, com mais ondas de calor, incêndios florestais, secas 
e inundações. Não só isso, provavelmente ocorrerão maiores 
danos causados por tempestades, escassez de água, e as pro-
duções agrícolas, talvez, mais baixas, mas também ocasionará 
o declínio e extinção de espécies mesmo em áreas protegidas 
como parques nacionais (Malcolm e Pitelka 2001). No geral, 
a mudança climática global tem o potencial de causar profun-
das perturbações econômicas, e pode conduzir a um grande 
sofrimento humano nos países em desenvolvimento e à perda 
de biodiversidade insubstituível em todo o mundo. É importan-
te enfatizar que é consenso entre a comunidade científica in-
ternacional: 1) a atividade humana já causou alguma mudan-
ça climática, 2) a mudança climática continuará ocorrendo, e 
3) as consequências dessa mudança climática provavelmente 
serão bastante prejudiciais para os seres humanos e ecossis-
temas (Pew Foundation, 2004). Mais de 3000 cientistas da Eu-
ropa, América do Norte e Japão, especialistas em ciência do 
clima e entrevistados sobre o seu parecer científico manifesta-
ram preocupações sérias sobre a existência de consequências 
negativas decorrentes de alterações climáticas de causa hu-
mana. Infelizmente, aqueles que têm interesse em continuar a 
utilizar combustíveis fósseis, tais como a indústria do petróleo, 
apresentaram alguma controvérsia científica sobre mudança 
climática. Essas influências têm sido fortes nos EUA, e como 
resultado, houve pouco apoio a políticas que defendam ações 
mitigatórias em relação às mudanças climáticas globais. No 
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 23
entanto, na Europa, muitas ações foram tomadas para dimi-
nuir as emissões de dióxido de carbono, sem sacrificar a com-
petitividade econômica (Blair, 2003). Grã-Bretanha e Holanda 
apresentaram um aumento na taxa de crescimento econômico 
depois de terem reduzido as emissões de dióxido de carbono 
na década de 1990.
Desde o início do século XVII, 2,1% das espécies de ma-
míferos do mundo e 1,3% das espécies de aves foram extin-
tas (Primack, 2002). O potencial de extinções futuras é ainda 
maior, pois se estima que 12% das espécies de mamíferos e 
aves estão ameaçadas de extinção. Essas médias mundiais 
não retratam o quão ameaçados alguns tipos de vida selva-
gem estão. Por exemplo, atualmente, 39% das espécies de 
papagaios, 79% das espécies de cervos e 68% das espécies 
de iguana do mundo estão ameaçadas de extinção. A perda 
e a alteração de habitats é considerada a maior ameaça à 
biodiversidade mundial, seguida por invasões de espécies exó-
ticas. As taxas extincionais entre plantas e animais ameaçadas 
variam entre 100 a 10.000 vezes a taxa normal de extinção 
que é 1 espécie/1milhão de espécies/1milhão de anos e são 
equivalentes às observadas há 65 milhões de anos quando um 
grande meteoro atingiu a Terra. Esse acontecimento causou 
uma extinção em massa, que eliminou os dinossauros e inú-
meras outras espécies.
Uma coisa é clara, para melhor ou para pior, o futuro da 
relação entre os seres humanos e o meio ambiente será, em 
grande parte, determinado nas próximas décadas. Criar uma 
sociedade justa, sustentável globalmente com áreas naturais 
protegidas, ou um futuro de catástrofes climáticas, guerras en-
24 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
tre países superpovoados por recursos esgotados, e com per-
da irreversível da vida selvagem e dos ecossistemas naturais, 
dependerá, em grande parte, das ações empreendidas nessa 
e nas próximas décadas. Os próximos capítulos fornecerão co-
nhecimento científico e propiciarão reflexões para você parti-
cipar da criação de uma sociedade sustentável. Depois disso, 
cabe a você.
Recapitulando
A relação entre os seres humanos e a natureza mudou dras-
ticamente ao longo dos últimos 10000 anos. Em decorrência 
das mudanças culturais das sociedades de caçadores-coletores 
para a agrária e a sociedade industrial, cada vez mais popu-
lações humanas maiores exigem o aumento da manipulação 
do mundo natural para a produção eficiente de alimentos. O 
aumento da eficiência da produção de alimentos levou a uma 
maior complexidade social e à especialização profissional, 
que, por sua vez, acarretou ainda maiores taxas de mudan-
ça cultural e tecnológica. A necessidade cada vez maior de 
controlar a natureza para produzir alimentos, combinada com 
a crescente desconexão entre os seres humanos e o mundo 
natural na vida diária, se refletiu na visão da própria nature-
za resultando em religiões mais complexas. Durante a história 
das sociedades humanas, animais selvagens deixaram de ser 
sinônimo de poder divino, tornando-se a antítese disso. Isto 
é, uma mercadoria para a venda em uma sociedade que não 
mais reconhecia seus poderes divinos, tonando-se, por fim, 
um recurso precioso, insubstituível que deve ser protegido. Tal-
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 25
vez a tendência mais importante a ser reconhecida na história 
da relação entre seres humanos e natureza é que a alteração 
e exploração cada vez mais intensas dos ecossistemas levou a 
uma perda constante de animais selvagens, biodiversidade e 
das paisagens naturais. Muitas pessoas acreditam que a cul-
tura humana está agora em um ponto de virada histórico. O 
poder tecnológico da sociedade industrial moderna torna os 
seres humanos uma força verdadeiramente global, com incrí-
vel capacidade de manipular o mundo natural. A escala global 
do poder humano significa que nós também temos uma res-
ponsabilidade em escala global para garantir que o poder seja 
usado com sabedoria. Há muitos aspectos positivos da socie-
dade industrial desenvolvida que prenunciam uma sociedade 
sustentável, como baixas taxas de natalidade e uma valoriza-
ção crescente de natureza e vida selvagem. A sociedade indus-
trial desenvolvida também trouxe altos padrões de vida e direi-
tos pessoais. No entanto, os benefícios da sociedade industrial 
são, em parte, o resultado da rápida exploração dos recursos 
naturais, o que tem consequências negativas significativas para 
a qualidade ambiental e da vida selvagem das populações, e 
que só vai aumentar no futuro próximo conforme mais países 
se tornarem industrializados. O potencial para a exploração 
excessiva dos recursos e sistemas naturais ameaça concreta-
mente muitos dos benefícios da industrialização. Muitas áreas 
selvagens e populações de animais selvagens são suscetíveis 
de serem destruídos, e tudo sem qualquer benefício em longo 
prazo. O desafio do século XXI será descobrir como criar uma 
sociedade global sustentável,que mantém os benefícios da 
industrialização, permite o acesso a esses benefícios para mais 
pessoas ao redor do mundo e ainda preserva a qualidade do 
26 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
ambiente e da biodiversidade. Essa é uma tarefa complexa e 
difícil, e exigirá um significativo salto na evolução cultural de 
nossa sociedade.
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Cambridge, MA.
28 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
Atividades
 1) Julgue as afirmações a seguir:
I- A maioria dos povos caçadores-coletores é migrató-
ria, pois o estilo de vida caçador-coletor pode supor-
tar apenas um número relativamente pequeno de pes-
soas.
II- Para os antropólogos, nos sentimos mais à vontade em 
ambientes similares aos ambientes naturais porque os 
seres humanos, na maioria de sua história evolutiva, 
viveram em sociedades tribais de caçadores-coletores.
III- A capacidade das sociedades de caçadores-coletores 
de coexistir com a vida selvagem é atribuível à sua 
representação mágica e reverente da natureza.
a) I, II e III estão corretas.
b) Apenas I está correta.
c) Apenas I e III estão corretas.
d) Apenas II está correta.
e) Apenas II e III estão corretas.
 2) Julgue as afirmações a seguir:
I- O desenvolvimento de uma classe dominante nas pri-
meiras sociedades agrárias resultou de uma maior di-
visão do trabalho e, esta, de uma maior produtividade 
da agricultura.
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 29
II- Os deuses e deusas das primeiras sociedades agrárias 
possuíam um rosto animal, tal como nas sociedades 
de caçadores-coletores.
III- Nas sociedades de pastoreio, assim como as agrárias, 
os sacrifícios eram normalmente de animais.
a) I, II e III estão corretas.
b) Apenas I está correta.
c) Apenas I e III estão corretas.
d) Apenas II está correta.
e) Apenas II e III estão corretas.
 3) Julgue as afirmações a seguir:
I- A escrita já estava presente nas sociedades agrárias 
avançadas, o que permitiu o desenvolvimento de uma 
estrutura altamente estratificada.
II- A maior intensidade física do trabalho e o uso de ani-
mais de grande porte e arados tornou as mulheres 
menos capazes de contribuir para a aquisição de ali-
mentos, o que geralmente resultou em um status social 
inferior nas sociedades agrárias quase universalmente 
patriarcais.
III- A perda da santidade da natureza e do mundo ma-
terial ajudou a alimentar a destruição ambiental nas 
sociedades agrárias tardias.
a) I, II e III estão corretas.
30 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
b) Apenas I está correta.
c) Apenas I e III estão corretas.
d) Apenas II está correta.
e) Apenas II e III estão corretas.
 4) Julgue as afirmações a seguir:
I- As populações crescentes das sociedades agrárias tar-
dias forneceram um excesso de trabalhadores para 
países na fase inicial de industrialização que trabalha-
vam por salários baixos em condições precárias.
II- A influência das mulheres diminui nas sociedades in-
dustriais, presumivelmente porque a produtividade 
econômica torna-se mais ligada à força física. 
III- A valorização científica da natureza e da vida selva-
gem combinadas com os sentimentos expressos pelos 
filósofos românticos e o trabalho de artistas e natura-
listas criaram o movimento de conservação durante o 
início da era industrial. 
a) I, II e III estão corretas.
b) Apenas I está correta.
c) Apenas I e III estão corretas.
d) Apenas II está correta.
e) Apenas II e III estão corretas.
 5) Julgue as afirmações a seguir:
Capítulo 1 As Relações das Sociedades Humanas com a Natureza 31
I- A estabilização da população humana global e uma 
diminuição do consumo per capita de recursos natu-
rais nas sociedades industriais avançadas serão, sem 
dúvida, necessárias para a sobrevivência da fauna, 
preservação de ambientes naturais e, finalmente, o 
bem-estar dos seres humanos em todo o mundo.
II- O aquecimento global de causa antrópica ainda care-
ce de evidências científicas.
III- As atuais taxas de extinção podem ser comparadas 
com extinções em massa causadas por fatores exóge-
nos como a queda do meteoro há 65 milhões de anos.
a) I, II e III estão corretas.
b) Apenas I está correta.
c) Apenas I e III estão corretas.
d) Apenas II está correta.
e) Apenas II e III estão corretas.
Rafael Lacerda Martins1
Capítulo 2
Meio Ambiente e 
Processo Histórico de 
Desenvolvimento1
1 Geógrafo, Mestre em Geografia, Curso de Geografia, ULBRA.
Capítulo 2 Meio Ambiente e Processo Histórico... 33
Introdução
A questão ambiental, hoje, mostra-se como um verdadeiro 
problema social, visto que concentra aspectos fundamentais 
no campo da política, da economia e da sociedade. Desse 
modo, constitui-se em uma esfera de relação sociedade-natu-
reza, englobando um sistema integral, envolvendo elementos 
físico-bióticos com elementos sociais. No caso de elementos 
físico-bióticos, podemos elencar os elementos do relevo, da 
fauna, da flora, da botânica, do clima etc. Já para os ele-
mentos sociais, podemos condicionar os padrões de movi-
mentos migratórios, concentrações populacionais, atividades 
agrícolas e industriais etc. Tal relação é marcada fortemente 
por ações humanas e tecnológicas de interferências e redire-
cionamentos dos nossos recursos, dos métodos de produção 
e transformação da natureza que têm levado aos acelerados 
processos degradantes responsáveis por um comprometimen-
to das condições ambientais.
1 O meio ambiente e a questão ambiental
Segundo Walter Casseti, o problema ambiental nasce da pers-
pectiva da apropriação e transformaçãoda natureza de ma-
neira espontânea, ou seja, a natureza é vista como efeito útil 
e imediato, indispensável ao acúmulo do capital. A evolução 
dos problemas ambientais é proporcional à intensificação da 
produção da natureza. Em uma primeira análise acerca da 
questão, vemos um ambiente degradado associado a uma 
34 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
escassez de recursos em uma sociedade com grande neces-
sidade de gerar recursos, e a fim de transformá-los em recur-
sos financeiros. Tal prática acaba sendo uma necessidade real 
do mundo de hoje e, consequentemente, refletindo fortemente 
nas desigualdades sociais e econômicas, resultando em uma 
maior degradação do ambiente.
Assim, o problema ambiental se materializa através das 
forças produtivas, isto é, onde se dá a relação entre a socie-
dade e a natureza, ou, mais especificamente, entre a força de 
trabalho e os meios de produção. Portanto, aqueles que inte-
gram as relações de produção são os que definem as relações 
da sociedade com a natureza, esse é o momento em que os 
problemas ambientais materializam-se. Dessa forma, o mode-
lo vigente e seguido condiciona a um comprometimento dos 
sistemas naturais e coloca em cena uma discussão do estabe-
lecimento do repensar, ou seja, uma mudança fundamental do 
relacionamento da sociedade com a natureza.
[...] a crise ambiental deriva de um modelo de desenvol-
vimento desigual para as sociedades humanas e agressor 
para os sistemas naturais, fato que reafirma a necessi-
dade de abordagem dos desafios de natureza social e 
ecológica à luz da ecopolítica. (AJARA, 1993, p. 10)
Nesse sentido, o aprimoramento tecnológico assume o ca-
ráter decisório em nossa análise, porque reúne importantes 
questões como: alteração das limitações técnico-científicas e 
instrumentais, visão em diferentes escalas, novos equipamen-
tos que foram viabilizados e transformaram-se em modelos 
incapazes de comprometer o ambiente. Mas o fator político-
Capítulo 2 Meio Ambiente e Processo Histórico... 35
-econômico também está presente, na verdade, sem ações po-
líticas e econômicas não há ordenamento e reorganização do 
espaço.
A conscientização ecológica fulmina como uma força que 
movimenta todas essas ideias: de mudanças, do repensar, da 
redefinição da prática, enfim, o contraponto desse quadro de 
degradação. Junto a essa conscientização, deve haver uma 
estruturação e reorientação da ética e do pensamento em tor-
no de fatos políticos que envolvem e permeiam a questão am-
biental, devendo assim assumir a qualidade de um compro-
misso social, promovendo um desenvolvimento em um estágio 
menos impactante, capaz de exercer e promover uma melhor 
qualidade de vida da nossa sociedade. Nesse sentido, as inter-
-relações e as articulações da problemática ambiental devem 
estar vinculadas à tentativa de criar soluções sob uma visão 
dos processos sociais, já que motivam a degradação ambien-
tal e a intensificação dos processos. Lembramos que os pro-
cessos sociais aos quais nos referimos são as ações da socie-
dade, como o desenvolvimento da agricultura, da distribuição 
de renda e terra no campo, das políticas e planejamento de 
saneamento básico.
2 O meio ambiente contextualizado no 
contemporâneo
As insuficiências nos estudos chegam ao final do século XX com 
a evidência dos problemas da humanidade e de sua relação 
com o planeta terra. A degradação da natureza, a poluição 
36 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
dos rios, os desastres naturais (enchentes, pragas, poluição 
das cidades), fez o mundo atentar sobre os desequilíbrios das 
atividades humanas em relação das dinâmicas da natureza. 
Observou-se que tudo está interligado e que o homem não 
se encontra isolado, à parte, da natureza. Qualquer atividade 
humana, de toda uma população, ou somente de um indiví-
duo, irá trazer consequências à dinâmica do ar e das águas, 
pois essa população, ou esse mero indivíduo, come, produz 
resíduo, constrói e modifica os elementos meramente naturais. 
Por outro lado, o homem também é natureza, mas durante 
muito tempo, devido sua capacidade de produzir trabalho, de 
produzir técnica, ele construiu outro espaço que não é mais 
totalmente natural, é “humanizado” ou “tecnificado” – como 
o espaço das grandes cidades, por exemplo, no qual somen-
te vemos prédios e estradas (concreto e asfalto). O homem, 
se afastando da natureza, a modificou e alterou seus ritmos. 
Muitos desses ritmos alterados desequilibram os processos na-
turais (chuvas, ventos, dinâmicas fluviais dos rios –, qualida-
de das águas – para consumo humano) e provocam danos 
à própria humanidade (racionamento de água, degradação 
dos solos na agricultura e menor produtividade, poluição do 
ar e doenças respiratórias, alteração das dinâmicas dos rios 
e enchentes, degradação da camada de ozônio e aumento 
dos raios ultravioleta, provocando câncer de pele, entre outros 
exemplos).
Atualmente, novos estudos procuram observar como as 
atividades humanas produzem alterações nas dinâmicas natu-
rais e, consequentemente, alteram também a vida das pessoas 
que habitam um determinado lugar. Esses estudos, muitos de-
les, aparecem no próprio meio urbano, das cidades, onde a 
Capítulo 2 Meio Ambiente e Processo Histórico... 37
ocupação desordenada destrói a vegetação das encostas dos 
morros e causa muitos acidentes como desabamentos e so-
terramentos. Por outro lado, as constantes enchentes também 
são consequências do aumento da ocupação do solo, tanto 
na cidade (pela moradia) quanto no campo (pela agricultura). 
Esses processos são provocados pela retirada da vegetação e 
a tendência à manutenção da incidência das chuvas, já tam-
bém em níveis e constâncias desequilibrados, produzindo uma 
maior mobilização e o acúmulo de sedimentos (partículas de 
solo, areia, por exemplo) no leito dos rios. Esse acúmulo faz 
com que os rios transbordem facilmente, ocasionando, assim, 
as enchentes que, por outro lado, danificam as habitações na 
cidade e a agricultura no campo. Vejam como tudo está in-
terligado e como a ação humana descontrolada promove um 
ciclo desastroso.
Nesse sentido, cada vez mais se procura no estudo a com-
plexa conexão entre elementos físicos e humanos do espaço, 
dando qualidade ao que seria o “espaço geográfico”, não 
somente espaço natural ou espaço humano (social), mas “es-
paço geográfico”, no qual a geografia é a qualidade dessa 
integração.
3 O processo histórico de 
desenvolvimento a partir do meio 
técnico-científico-informacional
Milton Santos, no estudo do espaço geográfico, desenvolveu 
a ideia da história humana a partir dos acontecimentos rela-
38 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
cionados à da construção e aos usos dos sistemas técnicos. A 
evolução é contada pelo conjunto de normas e técnicas pro-
dutivas que marcam o avanço do sistema capitalista no mun-
do, principalmente após a Revolução Industrial dos séculos 
XVIII e XIX. A análise constitui a passagem do meio geográfico 
natural para o meio técnico, em decorrência da forte humani-
zação, ou seja, da intensa concentração humana, dos espaços 
geográficos apresentados no mundo de hoje. Associam-se os 
valores e as práticas organizadas por um sistema de objetos 
geográficos (cidades, transportes, comunicações), subsidia-
dos pelos avanços e acontecimentos da sociedade ocidental, 
como a colonização europeia no mundo.
A história do homem sobre a Terra é a história de uma 
ruptura progressiva entre o homem e o entorno. Esse 
processo se acelera quando, praticamente ao mesmo 
tempo, o homem se descobre como indivíduo e inicia a 
mecanização do planeta, armando-se de novos instru-
mentos para tentar dominá-lo. A natureza artificializada 
marca uma grande mudança na história humana da na-
tureza. (SANTOS, 1994, p. 17)
No que tange ao meio técnico de hoje,podemos observar 
que houve uma evolução no meio técnico-científico-informa-
cional, no sentido da abrangência das concentrações de áreas 
científicas e econômicas. De certa forma, a ciência serve de 
base técnica para os avanços econômicos e para a preser-
vação do sistema. Nesse caso, os progressos dos sistemas de 
comunicação aparecem como um instrumento para o desen-
volvimento produtivo e financeiro.
Capítulo 2 Meio Ambiente e Processo Histórico... 39
Para Santos, o processo do meio técnico-científico-infor-
macional2 é destacado por alguns processos, tais como: a 
unicidade técnica, ou seja, a distribuição das técnicas indus-
triais por todo o planeta, que aconteceu com grande rapidez 
e velocidade, indicando novas formas de comercialização e 
inserção mercadológica de produtos; a globalização “incom-
pleta e perversa”, que se dá em um sentido contínuo do pro-
cesso de modernização dos territórios, forçando o início de 
estágios para o capitalismo internacional com interesses de 
investimentos especulativos e específicos em setores produtivos 
e em determinados lugares do mundo. Essa globalização se 
torna “incompleta e perversa” porque a abrangência não é 
em todo território, assumindo estágios diferenciados de níveis 
tecnológicos e produtivos e, por sua vez não atingindo toda 
a população. Esse processo evidencia também que parte da 
população mundial não está conectada à rede, deixando de 
participar e absorver as vantagens do meio técnico-científico 
informacional e gerando segregação espacial diretamente re-
lacionada ao processo de globalização.
Outro ponto que fundamenta o pensamento de Milton 
Santos é a universalização da mais-valia,3 que se tornou uma 
ferramenta de dominação do sistema global, e está sujeita à 
capacidade técnica e às relações de trabalho no âmbito do 
2 Período tecnológico onde a técnica representa um intermediário entre a natureza 
e o homem (conversão de ações científicas), além de marcar o tempo da velocida-
de em que são transmitidas as informações entre os distintos lugares, caracterizada 
pela instantaneidade. Em outras palavras, é um meio geográfico no qual o território 
inclui obrigatoriamente ciência, tecnologia e informação.
3 A mais-valia é a base do sistema capitalista. É um conceito marxista que decorre 
a partir da diferença do valor de produção (trabalho) e o valor pago ao assalariado.
40 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
sistema capitalista. A convergência dos momentos estabele-
cidos pelo acesso às comunicações no mundo foi decorrente 
da tecnologia de ponta e da grande capacidade de transmis-
são e velocidade de dados. Para exemplificar, podemos citar 
os grandes centros jornalísticos e as comunicações via satélite 
que convergem para todas as partes do planeta através das 
redes globais.
O autor ainda destaca a ampliação da área de produ-
ção e o aumento das verticalidades. Estas últimas representam 
as influências externas em torno das novas técnicas, de forma 
mais específica. Novos padrões e normas são estabelecidos 
e que modificam as configurações espaciais, como o uso das 
tecnologias de telefonia celular. Outro conceito trabalhado é o 
de “capitalismo planetário”, que consiste na forte abrangência 
sob o território, atingindo os territórios tradicionais e modifi-
cando outros através de políticas de investimentos ou da cons-
tituição de novos interesses econômicos, configurando assim 
novas relações econômicas, políticas sociais e culturais.
Apesar da mundialização que caracteriza o período em 
curso, desorganizando as formas de produção e organi-
zação social preexistentes, o que se processa é a criação 
de novas desigualdades. O novo processo civilizatório 
acaba por esbarrar nas condições econômicas, sociais, 
culturais e ecológicas de cada área, região ou país, o 
que torna cada lugar diferente de outro, apresentando 
um arranjo entre as variáveis modernas e as preexisten-
tes que não será encontrado em outra parte, muito em-
bora existam semelhanças entre várias situações. (ELIAS, 
2001, p. 215)
Capítulo 2 Meio Ambiente e Processo Histórico... 41
O processo da globalização, que inclui o meio técnico-
-científico-informacional, associado à nova divisão do traba-
lho, é refletido na configuração espacial das empresas multi-
nacionais. A dinâmica econômica rege o processo produtivo 
e, por sua vez, rege a cadeia produtiva que está distribuída 
pelas diferentes partes do globo, que estando interligados por 
combinações eficientes, asseguram a rede de produção. Para 
identificar aspectos do processo de globalização, no contexto 
do processo industrial, podemos citar a economia dominada 
pelo sistema financeiro que indica concentração de renda, ou 
seja, excedente de capitais. A globalização e os processos de 
produção flexível e multilocais, exemplificados pela redução de 
custos e pela emergência dos blocos econômicos associados 
ao liberalismo da economia, buscam investimentos técnicos 
para a produção de novos atrativos consumistas. A revolução 
das tecnologias de transporte e comunicação indica uma liga-
ção ao processo de produção flexível e multilocal, na medida 
em que as empresas mundiais procuram espaços interligados 
à rede. Para fomentar esse momento de espacialização das 
economias mundiais, podemos citar a desregulamentação das 
economias nacionais, tão necessárias para que o estabeleci-
mento dos processos multilocais ocorra em conjunto com as 
mudanças das políticas nacionais desses novos locais.
O mundo tal como nos fazem crer: a globalização como 
fábula. (SANTOS, 2000. p. 18-20)
Este mundo globalizado, visto como fábula, erige como 
verdade um certo número de fantasias, cuja repetição, 
entretanto, acaba por se tornar uma base aparentemente 
42 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
sólida de sua interpretação. (Maria da Conceição Tava-
res, Destruição não criadora, 1999)
A máquina ideológica que sustenta as ações preponde-
rantes da atualidade é feita de peças que se alimentam 
mutuamente e põem em movimento os elementos es-
senciais à continuidade do sistema. Damos aqui alguns 
exemplos. Fala-se, por exemplo, em aldeia global para 
fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente 
informa as pessoas. A partir desse mito e do encurtamen-
to das distâncias – para aqueles que realmente podem 
viajar – também se difunde a noção de tempo e espaço 
contraídos. É como se o mundo se houvesse tornado, 
para todos, ao alcance da mão. Um mercado avassa-
lador dito global é apresentado como capaz de homo-
geneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças 
locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformida-
de no serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo 
se torna menos unido, tornando mais distante o sonho 
de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto 
isso, o culto ao consumo é estimulado.
Fala-se, igualmente com insistência, na morte do Esta-
do, mas o que estamos vendo é seu fortalecimento para 
atender aos reclamos da finança e de outros grandes in-
teresses internacionais, em detrimento dos cuidados com 
as populações, cuja vida se torna mais difícil.
Capítulo 2 Meio Ambiente e Processo Histórico... 43
4 Conceito de gestão ambiental 
e planejamento ambiental no 
desenvolvimento do pensamento ambiental
O conceito de gestão ambiental diz respeito à administração, 
pelo governo, do uso dos recursos ambientais, por meio de 
ações ou medidas econômicas, investimentos e providências 
institucional e legal, com a intenção de manter ou recuperar a 
qualidade do ambiente, assegurar a produtividade dos recur-
sos e o desenvolvimento social.
A gestão ambiental proposta, muitas vezes, acaba sendo 
uma alternativa positiva na manutenção e no planejamento 
das condições ambientais, por estar inserida em diferentes ní-
veis da sociedade e do Estado. Além disso, conta com a in-
terdisciplinaridadeda ciência, que qualifica e desenvolve uma 
opção objetiva no sentido de dimensionar ações fundamen-
tais para políticas ambientais e na implementação de políticas 
de planejamento econômico-social. A gestão ambiental tenta 
condicionar uma política adequada de desenvolvimento, pro-
movendo, assim, um equilíbrio entre relações da sociedade e 
da natureza.
Podemos definir como planejamento ambiental um pro-
cesso racional de tomada de decisões, o qual implica ne-
cessariamente em uma reflexão sobre as condições sociais, 
econômicas e ambientais que orientam qualquer ação e de-
cisões posteriores. No entanto, existem várias definições para 
a expressão planejamento ambiental. Conforme Botelho, são 
44 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
identificadas duas linhas principais do processo de planeja-
mento: a linha da demanda, na qual:
o planejamento ambiental consiste em um grupo de me-
todologias e procedimentos para avaliar as consequên-
cias ambientais de uma ação proposta e identificar pos-
síveis alternativas a esta ação; e a linha de oferta, onde 
existe um conjunto de metodologias e procedimentos que 
avalia as contraposições entre as aptidões e usos dos ter-
ritórios a serem planejados. (BOTELHO, 1999, p. 274)
O planejamento ambiental e o desenvolvimento local/re-
gional, como processo de mudança socioambiental, traduzem 
um esforço de análise multidisciplinar, bem como uma análise 
geográfica, permitindo, assim, definir prioridades e orientar a 
tomada de decisões político-ambientais.
O planejamento ambiental apresenta-se, então, como 
um instrumento que permite formular objetivos diferenciados 
e comuns para cada causa identificada. Em alguns casos de 
análises, não existirá uma ligação direta, mas existirá, sim, um 
envolvimento real das relações mais complexas entre as di-
ferentes dimensões relacionadas, como as de ordem econô-
mica, social, ambiental e política, que configuram a análise 
geográfica.
No planejamento ambiental, as decisões executadas par-
tem da prioridade do meio ambiente sobre o homem, e da 
prioridade do homem sobre as atividades econômicas. O pla-
nejamento é composto por uma série de etapas e processos, 
que mostram as fragilidades e as potencialidades do meio.
Capítulo 2 Meio Ambiente e Processo Histórico... 45
[...] o planejamento ambiental consiste na adequação de 
ações com a potencialidade, vocação local e a sua ca-
pacidade de suporte, buscando o desenvolvimento har-
mônico da região e a manutenção da qualidade do am-
biente físico, biológico e social. (SANTOS, 2004, p. 28)
O elemento norteador na aplicação de ações e de progra-
mas no planejamento ambiental são os sistemas ambientais.4 
A meta é minimizar ao máximo os impactos e transformações 
no meio. A maioria dos planejamentos ambientais utiliza-se 
dos métodos espaciais de representação com base na estru-
tura de integração dos elementos ambientais. Eles têm a ca-
pacidade de ordenar, classificar, dividir ou integrar um dado 
espacial. Por exemplo: apresentação dos mapas, gráficos e 
tabelas, descrevendo, enumerando, classificando os elemen-
tos, para uma metodologia ampla e sistemática em torno do 
planejamento.
Nessa perspectiva, a questão ambiental adota uma postu-
ra que resgata a unidade das ciências ambientais, pela razão 
que se constitui em uma proposta de discussão voltada para 
ciência, através de uma reflexão científica. Essa possibilidade 
de discussão está de acordo com um referencial teórico e me-
todológico que impossibilita, de certa maneira, a retomada da 
temática em torno de antigos paradigmas. A postura de uni-
dade tenta acabar com aquela análise reducionista presente 
nas análises do tipo homem-homem, homem-meio. A relação 
4 Conjunto de processos de interações dos elementos que compõem o meio am-
biente, incluído, além dos fatores físicos e bióticos, os de natureza socioeconômica, 
política e institucional. IBGE. Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio 
Ambiente. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.
46 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
sociedade-natureza intensifica uma visão social e verdadeira, 
recuperando toda sua riqueza e complexidade. Também se 
percebe interfaces desses aspectos sociedade-natureza, mas 
o mais importante é a observação de como essa sociedade se 
articula e se apropria da natureza. Nessa perspectiva, a dis-
cussão assume a característica da percepção inicial e final do 
meio social, associando seus processos políticos e econômicos 
com os fenômenos naturais.
A partir dessa perspectiva, é possível construir uma ciência 
capaz de desenvolver uma análise no sentido político-social 
envolvendo a questão ambiental. Nesse ponto, a ciência am-
biental aparece como elemento integrador da interdisciplina-
ridade, sendo responsável por uma análise clara e expressiva 
da realidade totalizante.
5 Sustentabilidade ambiental no 
contexto do processo histórico de 
desenvolvimento
A degradação do ambiente é uma das consequências mais 
negativas oriundas do atual modelo agrícola no espaço bra-
sileiro. Na medida em que o solo perde parte de sua fertilida-
de, provoca alterações em toda sua estrutura de produção. 
A decorrência dessas práticas agrícolas utilizadas atualmente 
acaba privilegiando a modernização do setor agrícola atra-
vés do uso intensivo de máquinas e insumos modernos. No 
conjunto dessa análise aparece a monocultura, que provoca 
um rompimento do equilíbrio natural, que havia quando os 
Capítulo 2 Meio Ambiente e Processo Histórico... 47
cultivos apresentavam uma maior variedade de vegetais. A 
pressão exercida pela ocupação em determinadas áreas, prin-
cipalmente por atividades agrícolas intensivas, aliadas a uma 
despreocupação quanto à adoção de práticas conservacionis-
tas, tem dado lugar a uma perda dificilmente recuperável do 
potencial produtivo das terras, a qual tem como causa prin-
cipal a erosão acelerada. A preocupação em resolver ques-
tões relacionadas a esse tema tem propiciado a criação de 
metodologias de trabalho voltadas à adoção de medidas que 
busquem compatibilizar os usos com as limitações particulares 
a cada território.
A concepção ampla de desenvolvimento considerado sus-
tentável obedece ao princípio de questões universais, isto é, 
necessariamente terá de englobar algumas características ane-
xas e não apenas os aspectos econômicos e ambientais. Tais 
aspectos introduziram uma visão mais integradora e totalizante 
dos problemas e levaram a um certo planejamento. Mas, na 
construção de um desenvolvimento considerado sustentável de 
fato, deve-se trabalhar em diferentes escalas, e as diferenças 
não devem ser entendidas isoladamente, mas, sim, a partir 
de análise global, ou dos problemas históricos encontrados, 
como a exclusão social, a erosão dos solos, a falta de ca-
pacidades de gestão, as baixas produtividades da terra e do 
trabalho. Então, é verificado na verdade problemas nas mais 
diferentes escalas, em diversos aspectos, conectados em um 
contexto de desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, a sus-
tentabilidade do ambiente obriga que seja aplicada uma aná-
lise que interliga elementos sociais, ambientais, institucionais, 
políticos e produtivos. Deve envolver uma visão integradora 
da realidade, abandonando a possibilidade que somente um 
48 Meio Ambiente, Sustentabilidade e Cidadania
aspecto consegue dar conta dela. O aspecto econômico deve 
ser entendido como um elemento determinante do compor-
tamento dos processos, e, por meio dessa, todas as outras 
dinâmicas são impulsionadas.
Certamente, a importância de uma etapa investigativa e 
contextualizadora significa o início para um desenvolvimento 
sustentável em relação à economia e ao desenvolvimento re-
gional, na medida em que isso serve para uma análise dos 
recursos naturais e das condições do espaço em relação aos 
processos já degradados

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