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aula 4 A continuidade do processo alfabetizador

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ALFABETIZAÇÃO 
E 
LETRAMENTO
Maria da Glória 
Feitosa Freitas
C04_Psicogenese.indd 20 28/05/2018 15:47:30
A continuidade do 
processo alfabetizador: 
da Educação Infantil para 
o Ensino Fundamental
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer que a criança que sai da Educação Infantil é a mesma 
que ingressa no Ensino Fundamental.
  Refletir acerca da garantia dos direitos fundamentais da infância que 
devem ser preservados em um processo alfabetizador.
  Examinar a importância da continuidade do processo alfabetizador 
da Educação Infantil no Ensino Fundamental.
Introdução
Uma reflexão sobre a transição da criança que sai da Educação Infantil para 
ingressar no Ensino Fundamental é muito benéfica. E deverá ser guiada 
com o foco no processo contínuo de apropriação da alfabetização e do 
letramento realizado nas escolas. Como você deve imaginar, é difícil tratar 
de um assunto tão recuado nas memórias escolares pessoais dos adultos 
e cercado de lembranças de tempos em que as futuras vidas escolares 
dependiam dos êxitos ou fracassos em aprender a ler e escrever. Há mui-
tas incertezas e esperanças depositadas no período em que as crianças 
deixam de lado as atividades lúdicas da Educação Infantil e vão, aos seis 
anos, em busca de uma ampliação criativa e segura do mundo letrado.
Assim, é importante você compreender que há uma continuidade no 
processo alfabetizador na travessia da Educação Infantil para o Ensino 
Fundamental. Educadores do 1º ano do ensino fundamental devem 
refletir e respeitar os direitos essenciais da infância para um processo 
alfabetizador tranquilo, em prol de futuros escritores e leitores criativos.
C07_A_continuidade.indd 1 28/05/2018 10:41:19
Da Educação Infantil ao Ensino Fundamental
Se você já conviveu com crianças que chegaram aos seis anos de idade e 
assistiu aos preparativos para a sua saída da Educação Infantil e entrada no 
Ensino Fundamental, certamente percebeu que essa travessia é um importante 
momento da vida escolar infantil, mesmo que os dois níveis da educação básica 
sejam separados apenas por alas de um mesmo prédio.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI/
MEC), no art. 9º, orientam práticas pedagógicas focadas em uma proposta 
curricular da Educação Infantil com eixos norteadores nas interações e na 
brincadeira (BRASIL, 2010). A ideia é promover nos alunos o conhecimento 
de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expres-
sivas e corporais, que favorecem a movimentação ampla, a expressão da 
individualidade e o respeito pelos ritmos e desejos das crianças. Também 
deve ser priorizada a imersão delas nas diversas linguagens e variados 
gêneros e formas de expressão: verbal, gestual, musical, dramática e plás-
tica. Não podem ser esquecidas a ampla experimentação de narrativas, de 
interação e apreciação com linguagem oral e escrita e a convivência com os 
mais distintos suportes textuais orais e escritos. Esses meninos e meninas 
devem chegar à nova etapa escolar munidos desse rico conjunto de vivências 
preconizadas nas DCNEI.
Tal travessia não pode ser vista como uma ponte que é rompida após a 
chegada no outro lado. O caminho que conecta a Educação Infantil ao Ensino 
Fundamental é um trajeto a ser feito levando em conta as aprendizagens viven-
ciadas na Educação Infantil, relacionadas ao conjunto de importantes ações 
realizadas em torno da leitura e da escrita. Afinal, as crianças tiveram, de 
formas muito singulares, enormes contatos com a cultura escrita e produziram 
entendimentos sobre essa cultura nas suas interações entre si e com os adultos.
Essa chegada da criança ao Ensino Fundamental aos seis anos é hoje já 
consolidada. Barbosa e Delgado (2012) comenta que, com a democratização 
do acesso escolar da criança de seis anos ao Ensino Fundamental, correu-se o 
risco de tratar desiguais como iguais. Naquele momento e nos dias atuais, já 
está comprovado que crianças que frequentam a Educação Infantil costumam 
ter mais sucesso no Ensino Fundamental. Isso é comprovado por estudos e 
pesquisas, aponta a autora.
À época da implantação, Barbosa questionou o seguinte: seria positiva a 
obrigatoriedade da transição aos seis anos daquelas crianças
A continuidade do processo alfabetizador: da Educação Infantil para o Ensino Fundamental2
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[...] que vivem uma cultura com baixo letramento e sem escolarização, em 
um sistema de ensino com tantos problemas como o nosso? Como esta saída 
tão simples pode ter sido vista como uma solução para um problema tão 
complexo? (BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 29).
 Isso indica que a travessia é feita pela mesma criança que saiu da Educação 
Infantil e que deveriam haver mudanças substanciais no Ensino Fundamental 
para receber meninos e meninas tão pequenos. Por outro lado, é possível 
afirmar que a qualidade das práticas pedagógicas na Educação Infantil é forte 
apoio a tal travessia.
Já que a Educação Infantil partiu para a educação interdisciplinar organi-
zada por meio de diferentes projetos nos últimos 30 anos, nada impediria que 
tais transformações acontecessem também no Ensino Fundamental. Afinal, 
o que realmente mudou nesse mesmo sentido nos anos iniciais do Ensino 
Fundamental nas escolas espalhadas pelo interior do Brasil, bem longe dos 
grandes centros urbanos? Porém, a autora comenta que 
[...] a mentalidade dominante entre professores e pais é de que o 1º ano do 
ensino fundamental deve alfabetizar. E alfabetizar, na concepção desses atores, 
é trabalhar arduamente e repetitivamente com o código alfabético: copiando, 
repetindo (BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 34).
Vencer tais monotonias eram preocupações naquele momento e o são 
ainda hoje.
Uma proposta alfabetizadora que diversifica os contextos de aprendizagem na sala 
de aula entende a alfabetização como uma continuidade, com ponto de partida antes 
da entrada na escola e potente o suficiente para inserir a criança em um processo de 
conceptualização e significação das aprendizagens.
A leitura e a escrita seguem uma progressão evolutiva no tempo, mas uma 
progressão profundamente influenciada pelo contexto em que se desenvolve: 
as crianças da mesma idade diferem a esse respeito, assim como diferem as 
de idades distintas, em variados grupos humanos. Por isso, as propostas e 
alternativas educacionais devem influir sobre o contexto de desenvolvimento. 
A ideia é variar os materiais escritos, seu uso e sua circulação, assim como 
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multiplicar as possibilidades de participação de meninos e meninas por meio 
de suas ações de escutar alguém ler, perguntar, ditar e escrever (TEBEROSKY; 
GALLART, 2007).
A realidade atual brasileira de uma criança que saiu da Educação Infantil 
para o Ensino Fundamental, impulsionada pelas legislações brasileiras desde 
a redemocratização, é uma batalha intensa e sem tréguas pela superação da 
permanência da criança pequena nas creches e escolas de Educação Infantil 
com funções tediosas e não educativas: longas esperas até o retorno dos pais 
no final da jornada diária interrompidas por momentos de alimentação, sono 
e mais espera!
Educadores devem aprender, nas suas formações iniciais e continuadas, 
a importância de levar às escolas infantis vivências alfabetizadoras como 
processos dinâmicos, o que implica duas vias de acesso, uma técnica (alfa-
betização) e outra que diz respeito ao uso social (letramento).
A alfabetizaç ã o e a identidade social surgem ao mesmo tempo, e as habilidades 
necessárias para manejar essa identidade social, através do uso da escrita, são 
mais complexas e não se reduzem a saber simplesmente um manejo de regras 
sobre as letras (TEBEROSKY; GALLART, 2007, p. 85). 
Tudo isso é válido para os anos iniciais do Ensino Fundamental.
Chegando aoEnsino Fundamental, as crianças trazem as marcas singula-
res do acesso à cultura escrita experimentada na escola, em diversas outras 
instituições de lazer e cultura que frequentam e em suas casas, na convivência 
com seus familiares. Elas terão pela frente um longo tempo para aprender, 
ou seja, saber ler, escrever e compor pequenos textos. O que se pode esperar 
é que haja um encontro favorável entre a cultura infantil em que a criança 
está inserida com os seus pares, a cultura oral e escrita da sua comunidade e 
a cultura escrita que recebe na escola.
Com o tempo, as crianças aprendem aquilo que a escola sugere que seja 
aprendido. Mas é necessário que os educadores não desvalorizem o aprendizado 
que os alunos realizam em suas casas, identificando-o como errado ou sem 
valor, nem que menosprezem seus modos de falar e outras marcas da cultura 
em que estão inseridos. Jacobson (2007 apud TEBEROSKY; GALLART, 2007, 
p. 96) defende que a “[...] aula, por si só́, deve ser um espaço no qual todo tipo 
de aluno ganhe experiência com a leitura e a escrita”.
Caberá aos educadores infantis não negligenciar o conjunto de atividades 
promotoras de admirável contato com o mundo letrado realizadas nas famílias 
e comunidades dos alunos. Como você sabe, o mundo está repleto de escri-
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tas, desde folhetins com as ofertas da semana no supermercado até rótulos de 
diversos produtos. Aos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental 
cabe examinar tal conjunto como propício ao trabalho que protagonizam com 
as crianças. Esses professores terão até o 2º ano do Ensino Fundamental para 
consolidar a alfabetização e ver surgir crianças com boas capacidades de ler e 
escrever, seguindo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017).
Transitando para o Ensino Fundamental, as crianças já vivenciaram inúme-
ras atividades aproximativas da cultura escrita em que estão inseridas. Além 
disso, tiveram contato com educadores infantis, conscientes do trabalho de 
mediadores da função social da escrita. De posse desse conjunto de saberes, 
os professores do Ensino Fundamental devem acolher as boas e apropriadas 
experiências, que devem ser valorizadas nesse momento transitório. Aquilo 
que foi conquistado deve ser valorizado. Afinal, a criança vive a transição, 
mas segue seu percurso em busca de viver e entender o mundo repleto de 
letras, palavras e suas significações. A criança deve contar com adultos pa-
cientes para valorizar suas hipóteses sobre o que está escrito no que consegue 
visualizar ao seu redor.
Os direitos fundamentais da infância 
e o processo alfabetizador
Como fi cam os avanços na Educação Infantil conforme o que preconizam 
os Direitos das Crianças da ONU ((NAÇÕES UNIDAS, 1959) e o Estatuto 
da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990)? A transição para o Ensino 
Fundamental aos seis anos apresentou diretrizes conectadas com a defesa do 
direito à infância e, partindo disso, foram estabelecidas práticas educativas? 
Esse avanço conceitual já é concreto no currículo e nas práticas do Ensino 
Fundamental? Ou as atividades continuam sendo pensadas para alunos ge-
néricos e não para crianças que necessitam:
[...] consolidar aprendizagens concretas e construir um pensamento simbólico, 
estabelecer relações entre suas experiências e os conhecimentos elaborados 
ao longo da história, aprender a conviver, a dar sentido ao mundo, ter curio-
sidade com relação ao conhecimento? (BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 33).
Sob um óptica otimista, é esperado e é direito da criança brasileira que a 
Educação Infantil seja uma experiência que valorize amplamente o acesso à 
cultura escrita. Como afirma Paulo Freire (1997, p. 34): “[...] necessitamos, 
5A continuidade do processo alfabetizador: da Educação Infantil para o Ensino Fundamental
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concomitantemente, valorizar a formação técnica, científica e profissional como 
os sonhos e as utopias”. Nesse cenário dos sonhos e dos direitos infantis, as 
crianças que tiveram educadores infantis capazes de defender que o letramento 
anda em conjunto com a alfabetização já são vitoriosas.
As atividades relacionadas à leitura e à escrita colaboraram para aproximar 
as crianças da cultura escrita na Educação Infantil e na transição para o Ensino 
Fundamental? Então, a travessia para o Ensino Fundamental será mais tranquila! 
No final do 2º ano do Ensino Fundamental, o aluno deve ter se apropriado ple-
namente do sistema da escrita, sendo alfabetizado, segundo a BNCC (BRASIL, 
2017). Quanto ao letramento e ao acesso ao mundo da escrita, os alunos devem 
conseguir ler e escrever textos pequenos e simples, usando a escrita como 
instrumento tanto de inserção social cotidiana quanto de escolarização.
A legislação brasileira prevê que o Ensino Fundamental obrigatório, com 
duração de nove anos, inicia-se aos seis anos de idade. Um dos seus objetivos 
é o desenvolvimento da capacidade de aprender, o que ocorre por meio do 
pleno domínio da leitura e da escrita. O ciclo formado pelos dois primeiros 
anos do Ensino Fundamental, ofertado às crianças com seis e sete anos de 
idade, objetiva a plena conquista da leitura e da escrita. Os dois anos iniciais 
não podem ser interrompidos e foram pensados para criar maiores chances 
para as crianças no decorrer do processo de alfabetização e letramento.
Na prática educativa, nas escolas de Ensino Fundamental, é interessante 
indagar sobre a validade real do ingresso aos seis anos. Remonta à década de 
1990 a conquista da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LD-
BEN/96) e do Plano Nacional de Educação (PNE). Também vêm desse período 
alguns sinais da ampliação do Ensino Fundamental obrigatório para nove anos, 
na medida em que a LDBEN/96 já facultava a possibilidade da matricula das 
crianças de seis anos no Ensino Fundamental. Por sua vez, o PNE já sugeria 
a ampliação para nove anos da duração do Ensino Fundamental obrigatório, 
iniciando aos seis anos, a partir do avanço na universalização do atendimento de 
meninos e meninas brasileiras de sete a 14 anos. A sociedade civil organizada 
e as instituições ligadas à educação no Brasil lutaram arduamente para essa 
conquista. Aos clamores sociais somou-se a grande pressão dos organismos 
multilaterais, que possibilitam o financiamento da educação.
Barbosa e Delgado (2012, p. 20) refletiu sobre esse tema no momento da 
implantação desse esforço governamental:
Assim, de que vale ingressar mais cedo na escola? Talvez, a questão central 
seja: qual o projeto educativo que temos e queremos para a escola brasileira, 
considerando a aprendizagem e a formação cidadã em um projeto de nação de 
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longo prazo? Por que o ingresso aos 6 anos pode ser analisado como apenas uma 
estratégia “promocional” de ampliação da escolaridade, assim como o avanço 
contínuo, que muitas vezes apenas mascara uma situação de fato existente?.
A Constituição Cidadã (BRASIL, 1988) mobilizou muitas instituições com 
a defesa dos direitos da criança na redemocratização brasileira. Somada aos 
esforços que resultaram no Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 
1990), essa constituição trouxe respaldo legal para, no século XXI, surgir o 
desejo de vencer imensos desafios causados por centenas de anos de pensa-
mento retrógado com relação aos direitos fundamentais da criança brasileira. 
Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos da Criança também foi 
incorporada ao cenário educacional brasileiro. O princípio VI da Declaração 
determina que a criança terá direito a receber educaç ã o, que será gratuita e 
obrigatória (NAÇÕES UNIDAS, 1959).
Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral 
e capacitá -la a, em condições de iguais oportunidades,desenvolver as suas 
aptidões, sua capacidade de emitir juízo e seu senso de responsabilidade moral 
e social, e a tornar-se um membro útil da sociedade (NAÇÕES UNIDAS, 
1959, documento on-line).
E ainda caberá aos pais a responsabilidade em primeiro lugar.
Esse princípio considera essencial levar em conta o interesse superior da 
criança em decisões tomadas pelos responsáveis por sua educação e sua orienta-
ção, sendo que na primeira instância a decisão é tomada pelos pais. Além disso, 
os jogos e brincadeiras não poderão ser negligenciados por toda a sociedade e 
autoridades públicas. Assim, há também indicação de que diversas horas devem 
ser dedicadas ao longo e intenso tempo de alfabetizar brincando ou de brincar 
aprendendo sobre cultura letrada. Como você deve imaginar, isso não entra em 
conflito com as tarefas relacionadas à alfabetização e ao letramento.
Nesse contexto, surgiu a Lei Federal nº 11.274, de 2006. Essa lei torna 
obrigatória a matrícula das crianças de seis anos no Ensino Fundamental de 
nove anos (BRASIL, 2006) . Essa matrícula é motivada pela necessidade de 
políticas afirmativas para atingir a meta de universalizar a alfabetização para 
as crianças brasileiras e afastá-las do fracasso na aquisição da leitura e da 
escrita. É interessante que você reflita sobre a potência da experiência trazida 
por tal lei enquanto impulsionadora de vivências positivas de crianças capazes 
de escrever e ler com autonomia e competência. A ideia é que essas crianças 
sejam capazes de fazer “[...] uso ampliado e qualificado da sua língua materna 
7A continuidade do processo alfabetizador: da Educação Infantil para o Ensino Fundamental
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e, em consequência, ampliem, pela via da leitura e da escrita, da inserção na 
cultura escrita, suas capacidades de se desenvolverem como pessoas plenas 
e de direitos” (BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 63).
Eliana Peres (apud BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 60) pontua que isso 
aponta para a possibilidade de construir uma nova cultura da alfabetização, 
“[...] na qual ludicidade e aprendizagem estejam articuladas como um direito 
incondicional da infância”. A autora propõe que o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA/1990), no capítulo IV, possibilita o direito à educação e à 
igualdade de condições para o acesso e a permanência escolar (PERES apud 
BARBOSA; DELGADO, 2012). Tal avanço histórico nos direitos da criança 
no Brasil determina que deve haver Ensino Fundamental obrigatório e gratuito 
e atendimento aos menores de seis anos nas creches e pré-escolas, justamente 
quando as atenções estão voltadas para o ler e o escrever que se avizinham.
Assim, nesse contexto uma esperança surgia para uma alfabetizaç ã o 
menos formal, menos restrita e formalizada, com menos fracassos e sem 
açodamentos desnecessários.
Magda Soares (2017, p. 24) defende que:
[...] nos anos iniciais do século XXI, apesar da hegemonia exercida pelo cons-
trutivismo nas duas décadas anteriores, o fracasso em alfabetização persiste, 
embora esse fracasso, agora, configure-se de forma diferente: enquanto, no 
período anterior, o fracasso, revelado por meio sobretudo de avaliações inter-
nas à escola, concentrava-se na série inicial do ensino fundamental, a então 
geralmente chamada “classe de alfabetização”, o fracasso na década inicial 
do século XXI é denunciado por avaliações externas à escola — avaliações 
estaduais, nacionais e até internacionais — e já não se concentra na série ini-
cial da escolarização, mas espraia-se ao longo de todo o ensino fundamental, 
chegando mesmo ao ensino médio, traduzido em altos índices de precário ou 
nulo domínio da língua escrita, evidenciando grandes contingentes de alunos 
não alfabetizados ou semialfabetizados depois de quatro, seis, oito anos de 
escolarização. Nesse contexto, torna-se significativo o fato de o Plano Nacional 
de Educação, aprovado pelo Congresso Nacional em 2014, ter estabelecido, 
como uma de suas 20 metas, alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o 
final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental.
Dezembro de 2017 foi marcado pela homologação da nova Base Nacional 
Comum Curricular. A BNCC é um documento de caráter normativo e definidor 
do conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais para todos os 
alunos em todas as etapas da educação básica.
Você deve se apoiar nas legislações para repudiar uma visão da apropriação 
do ler e do escrever como uma aprendizagem mecânica de uma té cnica que:
A continuidade do processo alfabetizador: da Educação Infantil para o Ensino Fundamental8
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[...] nã o tem apenas uma dimensã o perceptomotora, mas cognitiva, cultural, 
social. Ler é mais do que decifrar, decodificar e oralizar; é produzir sentidos, 
interpretar, compreender, relacionar, refletir. Escrever é mais do que traç ar 
letras, copiar sí labas e palavras soltas (BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 64).
Antes, hoje e com as novas leis e mudanças a serem implementadas, é 
possível sonhar sempre que as crianças sejam mais escutadas e que os adultos 
entendam que não devem restringir o ato de ler e escrever a momentos isolados 
de codificação e decodificação. A leitura e a escrita estão além do ensino me-
morizado, da vigilância e da punição constantes. Como você viu, não são atos 
mecânicos e repetitivos de escritas e recitações de letras e números isolados.
As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental de nove anos foram 
aprovadas em 2010. Em seu art. 49, elas estabelecem que:
O Ministério da Educação, em articulação com os Estados, os Municí-
pios e o Distrito Federal, deverá encaminhar ao Conselho Nacional de 
Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de expec-
tativas de aprendizagem dos conhecimentos escolares que devem ser 
atingidos pelos alunos em diferentes estágios do Ensino Fundamental 
(art. 9, § 3º, desta Resolução) (BRASIL, 2013, documento on-line).
A importância da continuidade 
do processo alfabetizador
Quais cenários serão necessários para criar maior harmonia entre as práticas 
educativas da Educação Infantil e as do Ensino Fundamental? O que fazer 
quando a criança se depara com experiências incomparáveis às da Educação 
Infantil, lá no que era prometido como nova vida? Como você sabe, muitas 
experiências anteriores aos seis anos podem diferir “[...] das do ensino fun-
damental porque estas se baseiam, principalmente, no ensino, e tem como 
objetivo central a transmissão do conhecimento e como lócus privilegiado 
a sala de aula, vendo a criança como um aluno” (BARBOSA, 2008, p. 25).
É natural que, ao ingressar no Ensino Fundamental, muitas crianças sintam 
saudades dos felizes tempos da educação infantil, em que as relações dos alu-
nos entre si e com os adultos eram repletas de expressão, afetos, movimentos 
9A continuidade do processo alfabetizador: da Educação Infantil para o Ensino Fundamental
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corporais. A Educação Infantil costuma ser caracterizada por amplo espaço 
para o brincar e ser essencialmente constituída como espaço de convívio, em 
que há respeito pelas relações culturais, sociais e familiares.
No Ensino Fundamental, as crianças não cessam de fazer suas hipóteses 
sobre usos e modos de realizar a leitura e a escrita. É bom dialogar com a 
trajetória vivenciada na Educação Infantil, bem como conhecer seus efeitos 
para prosseguir e ampliar os conhecimentos sobre leitura e escrita. A transição 
será benéfica se levar em conta o que já foi consolidado nas aprendizagens 
anteriores, e isso traz a segurança emocional necessária às crianças, que sentem 
que são entendidas a partir do que já sabem e que são reconhecidas naquilo 
que já podem realizar com as letras.
Cabe ao educador infantil oferecer um conjunto vasto de materiais para 
tornar as horas na escola vivências em um ambiente desafiador. Assim, é 
importante a presença de livros infantis, revistas, cartazes, embalagens diver-
sas(e identificáveis como de consumo das famílias) e até de computadores e 
outros objetos eletrônicos usados para escrever. A partir disso, “[...] os rituais 
de leitura passam a ter um sentido especial. [A ideia é] Familiarizá -las [as 
crianças] com a necessidade de acomodarem-se confortavelmente para ouvir; 
fazerem o menor barulho possível, para que todos possam ouvir e acompanhar 
a narrativa” (CRAIDY; KAERCHER, 2001, p. 85).
As crianças, transitando da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, 
serão mais felizes e capazes de fazer uma tranquila e eficaz passagem ao 
encontrar, do lado de lá e do lado de cá, educadores que entendam a alfa-
betização e o letramento como tarefas não mecânicas e não isoladas. Isso 
possibilitará a abertura a
[...] um novo universo de possibilidades de intervir no mundo e transformá -
lo. Ler implica compartilhar espaços, construir pensamentos e aumentar as 
aprendizagens e motivações educativas, e isso não é um processo individual, 
mas coletivo (TEBEROSKY; GALLART, 2007, p. 42).
Qual será a boa prática para alfabetizar a criança que migra da Educação 
Infantil para o Ensino Fundamental? Com certeza é ir além do ler e escrever 
mecanicamente, copiando e treinando repetidas vezes as mesmas palavras, 
tarefas da alfabetização inicial das crianças que marcaram a história da 
alfabetização brasileira por séculos. “B com A é igual a ‘bá’” é maçante e 
monótono. Além disso, as aulas não devem nunca valorizar atos solitários 
e repetitivos de leitura. Elas são encontros para as crianças interagirem 
A continuidade do processo alfabetizador: da Educação Infantil para o Ensino Fundamental10
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entre sei e com os adultos (os educadores e os familiares). “O processo de 
interpretação, construção de significado e criação de sentido em relação ao 
escrito deixa de ser individual e se torna coletivo. Essa é a chave do processo, 
e essa concepção tem implicações educativas” (TEBEROSKY; GALLART 
et al., 2007, p. 43).
Na transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, bem como 
nas tarefas de apropriação da leitura e da escrita pela criança, são essenciais 
as presenças atenciosas dos professores infantis e demais adultos, juntos e 
apostando nos alunos. Será sempre útil que todos esses adultos entendam que 
as crianças começaram seus processos longos e instigantes de aprender a ler e 
escrever muito antes de pisarem nas escolas, lá no aconchego doméstico, com 
seus familiares. E seguirão sempre além das escolas. Sendo assim, é preciso 
dialogar com as famílias e seus projetos alfabetizadores e de letramento de 
seus filhos. Além disso, é necessário ouvir sempre as impressões das crianças 
sobre seus projetos de serem leitoras e escritoras.
As experiências alfabetizadoras e a participação na vida escolar dos filhos, 
por parte dos familiares, repercutem no interesse das crianças por leitura 
e escrita e trazem outras práticas de leitura, além de referenciais culturais 
consideráveis dos ambientes extraescolares. Nos novos tempos de Ensino 
Fundamental, é necessário manter as boas colaborações cultivadas com as 
famílias na Educação Infantil. Também devem ser considerados os usos da 
cultura escrita das famílias, sejam eles práticas próximas ou distantes das 
escolas (leituras de jornais e revistas, livros, uso de computadores, folhetos 
informativos do comércio, calendários, narrativas familiares) (TEBEROSKY; 
GALLART et al., 2007).
Peres (2012 apud BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 64) aponta um cami-
nho para a construção de uma nova cultura escolar para a alfabetização das 
crianças de seis anos, pensando a infância para além da Educação Infantil:
Trata-se, portanto, de uma perspectiva de trabalho que insira as crianças, 
desde muito cedo, na cultura escrita, no mundo letrado. É preciso trabalhar, 
na escola, a natureza, os sentidos, as funções, os usos sociais da língua es-
crita na sociedade; desenvolver o amor pela leitura e pelos livros; trabalhar 
no sentido de mostrar que leitura é informação, conhecimento, emoção, 
diversão, entretenimento, imaginação, etc., e que escrita é registro, memória, 
comunicação, história, etc. É preciso apresentar a escrita não como um ato 
motor, mas como uma atividade cultural complexa. Mostrar que a escrita é 
um sistema de representação complexo da linguagem, um sistema simbólico, 
uma forma de expressão, um objeto cultural.
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A autora citada sugere que a alfabetização precisa ser compreendida em sua 
totalidade e em suas múltiplas dimensões, a saber, social e cultural. Aponta 
ainda que as ações educativas devem levar em conta o letramento e não perder 
de vista a especificidade da alfabetização. O letramento não deve ser visto 
como uma proposta que antecedeu ou sucedeu a aprendizagem formal da 
leitura e da escrita.
Acesse o link a seguir ou o código ao lado e conheça mais 
sobre a Base Nacional Comum Curricular homologada em 
dezembro de 2017. Leia sobre a transição da Educação 
Infantil para o Ensino Fundamental entre as páginas 51 e 53.
https://goo.gl/2dnT8j
BARBOSA, M. C. S.; DELGADO, A. C. C. A infância no ensino fundamental de 9 anos. 
Porto Alegre: Penso, 2012.
BARBOSA, M. C. S. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: 
Artmed, 2008.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 
DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 22 maio 2018.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente e dá outras providências. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 22 maio 2018.
BRASIL. Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 
87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases 
da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino 
fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. 2006. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/
l11274.htm>. Acesso em: 22 maio 2018.
A continuidade do processo alfabetizador: da Educação Infantil para o Ensino Fundamental12
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BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular: educação é a base. 
Brasília: MEC, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-
-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf>. Acesso em: 22 maio 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais da educação básica. 
Brasília: MEC, 2013. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-
-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file>. Acesso em: 22 maio 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação in-
fantil. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: <http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-
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CRAIDY, C. M.; KAERCHER, G. E. P. da S. (Org.). Educação infantil: pra que te quero? 
Porto Alegre: Artmed, 2001.
FREIRE, P. A la sombra de este á rbol. Barcelona: El Roure, 1997.
NAÇÕES UNIDAS. Declaração universal dos direitos das crianças. 1959. Disponível em: 
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_universal_direitos_crianca.
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SOARES, M. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2017.
TEBEROSKY, A.; GALLART, M. S. Contexto de alfabetizaç ã o. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Leituras recomendadas
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infantil. [201-?]. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=4858-orientacoes-curriculares-ed&Itemid=30192>. 
Acesso em: 22 maio2018.
SOARES, M. Reinvenção da alfabetização. Presença Pedagógica, v. 9, n. 52, jul./ago. 
2003. Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pro-
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Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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