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Autolesão na adolescência

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Alunos: Elaine da Silva
Curso: Psicologia Turno: Noturno 
Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento Humano 
AUTOLESÃO NA ADOLESCÊNCIA
INTRODUÇÃO
O comportamento auto lesivo apresenta-se como um fenômeno em evidência nos últimos tempos, tendo sua maior prevalência em adolescentes. Tal comportamento pode ser considerado de risco, pois pode causar prejuízos físicos, psicológicos e sociais para o adolescente. Os contextos nos quais os adolescentes estão inseridos também precisam ser considerados, pois podem potencializar esse comportamento ou auxiliar na identificação dele.
Caracterizado por ser um comportamento distinto da tentativa de suicídio, apresenta um cunho de forte dor emocional, onde se busca alívio imediato a uma situação que lhe desperte sentimentos negativos, os quais não consegue expressar de outra forma, sendo essa a maneira que o indivíduo encontra de lidar com sua dor emocional, sentimentos ou situações desestruturantes, ocorrendo em contexto privado.
Devido ao caráter multifatorial e complexo desse comportamento, é premente a necessidade de pesquisas nacionais que busquem compreender essas práticas e ofereçam subsídios para embasar ações de prevenção e tratamento desenvolvidas por profissionais da saúde. Somente assim, será possível a identificação do comportamento auto lesivo e a tomada de medidas necessárias para que se possa alcançar esses adolescentes, antes que haja danos ainda mais significativos em seu desenvolvimento.
DESENVOLVIMENTO
Definição de autolesão
É possível encontrar na literatura da Psicologia várias denominações para o conceito de comportamentos de violência autodirigida, como a automutilação, autolesão e autoagressão. Não há consenso sobre qual é o termo mais adequado. No manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, em sua quinta edição (American Psychiatric Association [APA], 2013/2014), o comportamento de autolesão não é conceituado como um transtorno mental, mas como um sintoma de patologia, estando relacionado ao transtorno da personalidade borderline, ao transtorno obsessivo-compulsivo e ao transtorno do controle de impulsos sem outras especificações.
Formas mais comuns de autolesão e transtornos associados
Segundo Giusti (2013), as formas mais frequentes de autolesão/automutilação são cortes superficiais, arranhões, mordidas, bater parte do corpo contra a parede e lesionar ferimentos de forma a agravar a intensidade das lesões. As áreas que são mais comuns de serem lesionadas são braços, pernas, barriga e áreas frontais do corpo que são de fácil acesso. Os comportamentos de categoria mais grave estão presentes em quadros psicóticos como esquizofrenia, intoxicações, transtorno bipolar, transtorno da personalidade severo e transtorno da identidade de gênero.
Os comportamentos auto lesivos são mais frequentes na adolescência e sua frequência vem aumentando nos últimos anos. Alguns estudos (Hawton, Rodham, Evans &Weatherall, 2002; Patton et al., 1997) apontam que esse comportamento é mais frequente entre pessoas do sexo feminino.
Principais fatores que influenciam a autolesão
Giusti (2013) apresenta vários fatores que podem contribuir para o comportamento de autolesão: 
· Características pessoais: pessimismo, insegurança, baixa autoestima, instabilidade emocional e impulsividade; 
· Transtornos psiquiátricos: transtorno da personalidade borderline, ansiedade, depressão, transtornos alimentares e transtornos do uso de substâncias; 
· Problemas relacionados à infância: negligência, abusos sexuais e estresse emocional precoce; 
· Aspectos sociais: bullying, influência da mídia sobre autolesão, influência de colegas e dificuldade de relacionamento; 
· Família: dependência de álcool de membro da família, separação dos pais, violência familiar e relação familiar disfuncional.
Um estudo realizado com mulheres que apresentavam o comportamento de autolesão apontou que 62% haviam sofrido algum tipo de abuso na infância, sendo 29% abusos físicos e sexuais, 17% somente abuso sexual e 16% somente abuso físico. Esses abusos aconteceram no início da infância e foram cometidos por familiares.
Risco de letalidade (suicídio)
Para Giusti (2013), no caso de indivíduos que mantem alta frequência do comportamento de autolesão, observam-se não apenas o aumento da frequência, mas também da intensidade das lesões, bem como relatos de incapacidade em controlar o comportamento. Quando é estabelecido o comportamento de autolesão, a pessoa pode passar até a planejar a forma de se mutilar e meios de manter esse comportamento. Comportamentos de autolesão podem ocorrer sem que o indivíduo tenha uma ideação suicida, porém o suicídio pode acontecer devido à alta frequência ou à gravidade dos comportamentos de autolesão. 
Dados e prevalência
O comportamento auto lesivo apresenta crescente evidência no campo científico nos últimos tempos, encontrando sua maior prevalência em adolescentes e jovens adultos (Nock, 2010 apud Rocha, 2015). Caracterizado por ser um comportamento distinto da tentativa de suicídio, apresenta um cunho de forte dor emocional, onde se busca alívio imediato a uma situação que lhe desperte sentimentos negativos, os quais não se consegue expressar de outra forma, sendo essa a maneira que o indivíduo encontra de lidar com sua dor, sentimentos ou situações desestruturantes, ocorrendo em contexto privado, devido ao forte sentimento de vergonha que causa em seus praticantes.
Adolescência, juventude, mocidade, puberdade, muitos termos podem ser utilizados para definir essa fase do ciclo vital. No Brasil, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 2008), considera-se adolescente aqueles que têm idade entre 12 e 18 anos. Porém, a adolescência não se trata apenas de uma idade cronológica, é também o período da vida que se encontra entre a meninice e a vida adulta, sendo uma fase de transição, onde a criança passa a se modificar física, mental e emocionalmente (Bee, 1997).
Pode-se citar como fatores presentes na vivência patológica da adolescência: transtornos alimentares, desvio de conduta, depressão, suicídio, e, mais recentemente, autolesão sem intenção suicida, entre outros (Bee, 1997; Papalia; Feldman, 2013; Jorge; Queirós; Saraiva, 2015).
O comportamento auto lesivo ocorre em diversas faixas etárias, sendo predominante em adolescentes do sexo feminino (Cedaro & Nascimento, 2013). Em geral, tem início entre os 13 e 14 anos e pode persistir por 10 ou 15 anos ou por ainda mais tempo (Giusti, 2013). Em relação à prevalência do comportamento auto lesivo nessa faixa etária, encontram-se 6,9% entre estudantes ingleses, 35,8% entre adolescentes japoneses do sexo masculino e encarcerados e 45% entre adolescentes americanos. (Hawton, Rodham, Evans & Weatherall, 2002) No tocante aos adolescentes canadenses de 12 a 16 anos de idade, encontra-se prevalência de 13,9% (Matsumoto et al., 2005) e entre os adolescentes americanos de 13% a 39% (Lloyd-Richardson, Perrine, Dierker & Kelley, 2007).  No Brasil, os estudos sobre prevalência do comportamento auto lesivo ainda se apresentam incipientes; entretanto, verifica-se aumento significativo na busca por esse comportamento (Giusti, 2013).
O estudo de Fliege et al. (2009) evidencia que a autolesão é característica da adolescência. As taxas de autolesão em indivíduos de 12 anos são de 2,7% entre meninas e 3,1% entre meninos, sendo que aos 15 anos, as taxas aumentam para 12,6% para meninas e 4,6% para meninos. Cerca de 19% dos pacientes com 16 anos em estudo de coorte de base populacional apresentaram histórico de auto dano na vida, sendo que 40% dos adolescentes com auto dano apresentaram depressão e transtornos de ansiedade e 35% têm problemas de uso de substâncias (Mars et al., 2014). Esse cenário corrobora com estudo realizado com adolescentes ingleses que evidencia que 13,2% alunos relatam autolesão deliberada na história da vida (Hawton et al., 2002).
Em relação aos métodos utilizados para infligir as lesões, identificou-se entre meninas de 13-18 anos a prevalênciade 11% de auto corte e 10% em outros métodos (abuso de drogas lícitas e ilícitas) (Laukkanen et al., 2009). O estudo de Hawton et al (2002) também apresenta alta prevalência para o auto corte (64,6%) e intoxicação (30,7%), sendo que 12,6% dos casos necessitaram de tratamento hospitalar. Tem sido sugerido que as meninas expressam através de um comportamento auto prejudicial a sua incapacidade de adaptação e equilíbrio psicológico; neste caso, o auto corte é utilizado como método auto terapêutico para alívio de tensão (Laukkanen et al., 2009). Estudo de base populacional investigando a frequência de automutilação deliberada entre adolescentes mostra que 18,0% das meninas e 5,3% dos meninos não tinha amigos íntimos, 24,7% das meninas e 13,7% dos meninos sentiam que ninguém gostava deles e 40,5% das meninas e 15,4% dos meninos estavam insatisfeitos com a própria vida, sendo a solidão um fator importante a ser considerado entre adolescentes (Ronka et al., 2013).
Exposição à violência (psicológica, física ou sexual) também está associada ao comportamento de auto dano. Intimidação frequente ou bullying entre crianças e adolescentes, bem como maus tratos por familiar, problemas de parentalidade e abuso sexual estão implicados em aumento das taxas de automutilação. (Fisher et al., 2012) Investigação sobre maus tratos na infância e automutilação mostram associação entre abuso sexual na infância e posterior automutilação na adolescência mostrando as consequências traumáticas e persistentes de abuso sexual na infância. A incidência de automutilação entre vítimas de abuso sexual é maior mesmo quando comparada com outras formas de maus-tratos infantis (Noll et al., 2003). Adolescentes de 15, 16 e 17 anos com experiência de vitimização de bullying apresentam maior associação com pensamentos e história de automutilação. (McMahona et al., 2010).  
Entre adolescentes de 15-16 anos, para ambos os sexos, observa-se maior associação de autolesão deliberada com relato de aumento de consumo de cigarros ou álcool e frequência de embriaguez (Hawton et al., 2002). Entre adolescentes de 13 a 18 anos, observa-se maior risco de auto corte e outros tipos de autolesão entre aqueles que apresentam relato consumo frequente de drogas lícitas e ilícitas (Laukkanen et al., 2009).
Adolescentes com problemas de saúde mental ou uso de substâncias, sem escolaridade, formação profissional e/ou emprego são grupo de alto risco para autolesão. No total, 19% da amostra relataram história da vida de auto danos na idade de 16 anos; dentre esses participantes, 24% não possuíam educação escolar, emprego, ou formação na idade de 19 anos, e 40% das pessoas estavam com depressão e transtornos de ansiedade, além do que mais de 35% das pessoas tinham problema de uso de substâncias na idade de 18 anos (Mars et al., 2014).
Em relação aos transtornos mentais, verificou-se que, entre as meninas, os problemas psicológicos e a autolesão podem entrar num círculo vicioso na forma de um sistema de feedback dinâmico tanto para o surgimento quanto para a estabilização de padrões patológicos. De maneira contrária, a relação problemas psicológico e autolesão entre os meninos não indica um problema igualmente sério; ou seja, embora a autolesão represente um sintoma de problemas psicológicos entre os meninos, ela pode não apresentar repercussões graves sobre desenvolvimento da saúde mental (Lundh et al., 2011). Os níveis de depressão, ansiedade, impulsividade e baixa autoestima foram associados à autolesão entre adolescentes de 15, 16 e 17 anos (McMahona et al., 2010).
Entre os fatores sociais e familiares, observou-se que as taxas de autolesão são mais elevadas entre os adolescentes que apresentaram preocupações recentes com a orientação sexual (Hawton et al., 2002; McMahona et al., 2010). Observou-se ainda associação com autolesão deliberada no ano anterior entre as adolescentes que tiveram amigos ou familiares com história de autolesão, uso de drogas, depressão, ansiedade, impulsividade e baixa autoestima (Hawton et al., 2002). Entre os adolescentes do sexo masculino, observa-se entre os fatores associados à autolesão deliberada no ano anterior a presença de amigos ou familiares com história de automutilação, uso de drogas e baixa autoestima (Hawton et al., 2002).
A autolesão está evidenciada também entre meninas de 15-16 anos que vivem com um dos pais (McMahona et al., 2010). Entre os meninos com relato de vitimização, verifica-se maior risco de autolesão quando há história anterior de autolesão, problemas com trabalhos escolares, abuso físico grave e pensamentos de autolesão. De maneira diversa, observam-se entre os meninos sem relato de bullying maiores chances de autolesão quando há história de autolesão por um amigo ou familiar, pensamentos autolesão e consumo de drogas (McMahona et al., 2010).
De acordo com Stallard, Spears, Montgomery, Phillips & Sayal (2013) em estudo realizado com 2.547 adolescentes com idade entre 12-16 anos, os pensamentos e atos autolesivos são evidentes, sendo que um em cada cinco adolescentes apresentou pensamentos e um em cada dez executou pelo menos um ato de autolesão no decorrer de um período de seis meses. Compreende que a autolesão não possui intencionalidade suicida, mas que corresponde a um fator preditor de comportamento suicida futuro. Na pesquisa de Hawton et al. (2002), entre os 13,2% adolescentes de 15-16 anos que relatam autolesão deliberada na vida, verifica-se que 45% disseram que queriam morrer. Entre adolescentes de 15-16 anos, a ideação suicida (sem autolesão deliberada) no ano passado foi relatada por 15%, sendo mais comum entre as meninas (Hawton et al., 2002). O que sugere a necessidade de maior foco em programas de identificação e prevenção de lesões autoprovocadas.
Ter praticado cinco vezes ou mais autolesão é o preconizado pelo DSM-5 para caracterizar a autolesão não suicida. Na gravidade da autolesão, encontra-se, entre os adolescentes, presença da leve em 6,77% (morder a si mesmo na boca ou lábios e fazer vários arranhões na pele propositalmente), da moderada em 6,40% (bateu ou fez tatuagem em si mesmo, arrancou os cabelos e inseriu objetos embaixo da unha ou da pele) e da grave em 6,59% (cortar-se, cutucar um ferimento, queimar-se na pele com cigarro, fósforo ou outro objeto quente, beliscar ou cutucar áreas do corpo até sangrar e esfolar a pele propositalmente). Ressalta-se que 4,1% dos adolescentes apresentaram os três tipos de gravidade de autolesão. Quando observados os resultados das características psicossociais e da autolesão, identifica-se que adolescentes do sexo feminino apresentaram com maior frequência o comportamento de autolesão (69,39%). Também se observa que a autolesão entre os adolescentes, na sua maioria, não apresenta intenção suicida (61,22%) e não foram realizadas sob o efeito de droga (97,96%). Identifica-se ainda que a maioria dos adolescentes refere sentir dor na prática de autolesão (69,39%). Os principais motivos para o comportamento de autolesão leve referem-se a aliviar sensações de vazio ou indiferença (18,18%) e a parar sentimentos ou sensações ruins (16,36%). As motivações para o comportamento de autolesão moderada também foram aliviar sensações de vazio ou indiferença (15,63%) e parar sentimentos ou sensações ruins (15,63%). Na autolesão grave, também se identifica como principais motivos citados aliviar sensações de vazio ou indiferença (15,94%) e parar sentimentos ou sensações ruins (14,49%). Quanto à distribuição de acordo com o modelo de quatro fatores, a autolesão teve função principalmente como reforço automático negativo (aliviar ou remover estados emocionais indesejados).
Baleia azul: o misterioso jogo que escancarou o tabu do suicídio juvenil
Os jogos sempre foram importantes para o homem, seja por puro entretenimento ou com fim profissional. São citados ao longo da história como um dos principais meios para estreitar laços e estabelecer o sentimento de equipe. Podem levar tanto ao fanatismo e vício, quanto servir de simulação do que acontece na vida real e assimatingir uma função educativa.
O jogo baleia azul, de caráter virtual, rapidamente ganhou espaço nas redes sociais. Recebeu esse nome pelo suposto comportamento suicida de uma espécie de baleia que, ao se sentir fragilizada em seu meio ecológico, busca a própria morte encalhando-se em águas rasas. Embora a fundamentação para nomear o jogo seja hipotética, o mais significativo a se considerar é a sutileza que carrega o substantivo composto nomeador do desafio. A aparente inocência do nome camufla a intenção criminosa que embasa a criação do jogo (Da Silva et al., 2017; Barreto Jr et al., 2017).
Os maiores adeptos desta prática são jovens com idade entre 12 e 14 anos e alto grau de vulnerabilidade por vivenciarem transtornos de ordem afetiva, como a depressão. Além disso, o desafio é muito atrativo para essa faixa etária, pois esses adolescentes são movidos por forte desejo de autoafirmação social (Barreto Jr et al., 2017).
O jogo consiste em cinquenta desafios diários enviados por um curador, sendo que o último desafio consiste em ceifar a própria vida. Em quase todas as fases, é explícito o culto à autolesão, como é possível visualizar na orientação da terceira etapa do jogo: “corte seu braço com uma lâmina, ‘3 cortes grandes’ mas é preciso ser sobre as veias e o corte não precisa ser muito profundo, envie a foto para o curador, e seguirá para o próximo nível” (Lopes, 2018).
Infelizmente, o Baleia Azul é só mais um entre vários jogos perigosos que têm virado moda entre os adolescentes. O “desafio do sal e gelo”, no qual os jogadores são estimulados a postar fotos nas redes sociais com queimaduras produzidas na pele é mais uma invenção para induzir as pessoas à auto degradação (Lopes, 2018).
O papel da escola e a atuação do psicólogo escolar
Ante ao cenário descrito, o papel da escola se faz ainda mais importante junto à família na formação da saúde mental do jovem. Com foco em desenvolver a autoestima e crença de valor a respeito de si mesmo, o psicólogo escolar, por meio de palestras e projetos, pode orientar os alunos a adotarem uma comunicação mais assertiva para expressar seus conflitos emocionais (Sant’ana, 2019).
Da mesma forma, com vistas a conhecer mais o perfil do aluno, cabe à gestão escolar promover o diálogo com a família, a fim de identificar eventuais conflitos domésticos passíveis de ressignificação, além de realizar atividades extraclasse que estimulem a interação entre pais e alunos para maior aproximação entre eles.
Não se deve olvidar o aspecto multidisciplinar para máxima promoção do bem-estar dos estudantes. Sendo assim, outros setores da instituição escolar devem estar em constante articulação e preparados para identificar qualquer sinal mais evidente de mudança de comportamento entre os adolescentes. Ademais, deve-se também incentivar a recuperação e o retorno ao convívio normal nos casos em que não foi possível prevenir, fazendo do espaço escolar uma referência no que diz respeito à relação de confiança entre alunos, professores e gestores (Freitas et al., 2017).
Diagnóstico da autolesão e tratamento
Skinner (1953/2003) discute a necessidade de analisar a interação do organismo com o meio para poder explicar determinado comportamento. Assim, é possível concluir a importância da análise funcional em que, além da topografia da resposta, são investigadas as variáveis ambientais mantenedoras de tais respostas. A análise funcional deve ser uma das principais ferramentas para o psicólogo clínico identificar o que mantem os comportamentos auto lesivos do adolescente, e, assim, estabelecer estratégias de intervenção para diminuir a frequência e a magnitude de tais respostas (Farias et al., 2018).
Segundo Clayton (2018), cabe ao diagnóstico da autolesão não suicida: determinar que tipo de lesão e quantos tipos de lesão diferentes o paciente se auto infligiu; definir com que frequência e há quanto tempo as autolesões não suicidas vêm ocorrendo; estabelecer a função da autolesão não suicida para o paciente; verificar transtornos psiquiátricos coexistentes; estimar o risco de tentativa de suicídio; e avaliar a disposição do paciente a participar do tratamento.
Portanto, é necessário tanto avaliação psiquiátrica quanto psicológica para um diagnóstico preciso, bem como a realização do tratamento adequado a cada caso. Ademais, a rede de apoio, formada por amigos, escola e família, se revela fundamental para a recuperação desses adolescentes e a retomada de sua vida normal.
CONCLUSÃO
De acordo com o exposto, a autolesão pode ser classificada como um comportamento de risco, uma vez que resulta em comprometimentos físicos, psicológicos e sociais. Deve-se atentar para o número de adolescentes que praticam a autolesão, os quais apontaram uma variedade de motivos que os levam a praticar o comportamento, sendo principalmente de regulação emocional, como aliviar sensações de vazio ou indiferença e cessar sentimentos ou sensações ruins.
Nesse contexto, a apropriação de conhecimento acerca dos fatores de risco do comportamento auto lesivo é importante para possibilitar a formação e a instrução de profissionais que lidam com esse problema e, consequentemente, montar uma rede de suporte especializado que seja capaz de auxiliar no manejo de tais casos, para que se obtenha sucesso na intervenção junto a esses adolescentes.
Conforme pontuado, mesmo dentro da psicologia, há carência de pesquisas sobre métodos preventivos e tratamentos que se revelem eficazes para lidar com os casos de autolesão cada vez mais recorrentes entre adolescentes. É necessário, pois, que seja dada maior atenção ao tema, de modo a viabilizar mais investimentos em pesquisas científicas que busquem soluções para minimizar esse problema.
Outrossim, tão importante quanto o suporte profissional, é o apoio da família e a atuação da escola junto a esse adolescente. Assim, é preciso que sejam quebrados os tabus em torno do tema e viabilizado o diálogo, de modo que os adolescentes se sintam mais acolhidos e menos julgados por suas atitudes.
Por fim, cabe ressaltar que, embora a maioria dos casos de autolesão não tenha intenção suicida, há risco de letalidade quando as lesões evoluem, sendo comprovado que alguns casos de suicídio tiveram as autolesões como precedentes. Portanto, o assunto é bastante sério e deve ser tratado como tal, a fim de que sejam obtidos os melhores resultados, preservando-se, acima de tudo, o bem mais precioso que é a vida.
REFERÊNCIAS
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CLAYTON, Paula J. Autolesão não suicida (ALNS). MD, University of Minnesota School of Medicine, 2018. Disponível em: < https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/comportamento-suicida-e-autoles%C3%A3o/autoles%C3%A3o-n%C3%A3o-suicida-alns>. Acesso em: 10 de mai. de 2020.
DA FONSECA, Paulo Henrique N. et al. Autolesão sem intenção suicida entre adolescentes. Arquivos Brasileiros de Psicologia: Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/arbp/v70n3/17.pdf>. Acesso em: 02 de mai. de 2020.
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