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Resenha DocumentoMonumento

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE UNIBH
JOÃO HENRIQUE DOMINGOS GOMES
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
RESENHA DO LIVRO DOCUMENTO/MONUMENTO
Belo Horizonte
2019
JOÃO HENRIQUE DOMINGOS GOMES
Resenha do Livro Documento/Monumento
Trabalho desenvolvido durante a disciplina Introdução aos Estudos Históricos como parte da avaliação referente ao 1º Semestre de 2019 em questão, apresentado ao professor Loque Arcanjo Junior.
Belo Horizonte 
2019
LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento, In, História e memória. Tradução de Irene Ferreira Bernardo Leitão, Suzana Ferreira Borges. 5. Ed. Campinas, SP: UNICAMP, 2003. P525-539.
O escritor Jacques Le Goff, nascido em 1º de janeiro de 1924 em Toulon, é historiador e especialista em Idade Média. Formado em história pela Universidade Carolina,Jacques Le Goff escreveu um livro publicado em 1988: História e Memória, a qual reúne vários ensaios escritos por ele entre os anos de 1977 e 1982, que foram originalmente publicados em diversos volumes da Enciclopédia Einaudi, contendo dentro dele um ensaio chamado Documento/Monumento.
Segundo Jacques Le Goff a história aplica-se a dois materiais: os documentos e monumentos, servindo assim, para a memória coletiva e a sua forma científica. Os monumentos são tudo aquilo que pode evocar o passado, perpetuar a recordação. Já os materiais documentais, é a escolha do historiador. Sendo a escolha do historiador o documento, ele poderá escolher com quais documentos para aquela análise dele vai ser usada como parte de sua pesquisa.
De acordo com esse pensamento positivista, muito utilizado no século XIX, Jacques Le Goff relata que o monumento tende de especializar-se em dois sentidos: sendo uma obra comemorativa de arquitetura ou de escultura como o arco de triunfo, coluna, Troféu, pórtico, entre outros, e um monumento funerário - destinado a perpetuar a recordação de uma pessoa no domínio em que a memória é particularmente valorizada, tendo como mote, a morte, uma vez que o monumento tem como característica o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou involuntária, das sociedades históricas (pois, isso é um legado á memória coletiva). O documento que, para a história positivista do fim do século XIX e do início do século XX, será o fundamento do fato histórico, ainda que resulte da escolha, de uma decisão do historiador, parece apresentar-se por si mesmo como prova histórica.
Em contrapartida, o historiador francês e positivista, Numa Denis Fustel de Coulanges, diz que a leitura dos documentos não serviria, pois, para nada se fosse feita com ideias preconcebidas. A sua única habilidade (historiador) consiste em tirar dos documentos tudo o que eles contêm e em não lhes acrescentar nada do que eles não contêm, ele ainda acrescenta que o historiador é aquele que se mantém o mais próximo.
No final do século XVII, Don Jean Mabillon monge beneditino um historiador francês publica o seu De re diplomatica, fundamento da história “científica” que vai permitir a utilização crítica do documento e de certa maneira cria-lo, trata-se apenas ainda de monumento, recomendara o estudo das velhas cartas como prova histórica.
Jacques relata que o termo “monumentos” será ainda corretamente usado no século XIX para as grandes coleções de documentos.
Apenas no século XX á um triunfo do documento, denominadarevolução documental, pois, com a escola positivista, o documento nesse momento triunfa. Pois, todo historiador recordará que é indispensável o recurso ao documento, na obra coletiva L’historieETsesméthodes declara que não há história sem documentos. Henri Lefebvre afirmava que: “Não há notícia histórica sem documento” e também precisava de documento”, pois, se dos fatos históricos não foram registrados documentos, ou gravados, ou escritos, aqueles fatos perderam-se. Apesar de que os mais antigos têm mais conhecimentos e são depositários da memória coletiva, há um grande valor no conselho dos antigos. Apesar de também, como nas sociedades modernas, haver um desprezo pela decrepitude, é necessárioà presença de documentos.
Em princípio, o documento era, sobretudo, um texto. Só que, no entanto, Fustel de Coulanges via que está definição estava muito limitada.
Os responsáveis de fundação da revista Annales d’historie Économique et Sociale (1929), pioneiros de uma história nova, insistiram sobre a necessidade de ampliar a noção de documento. Eles relatam que a história faz com documentos escritos, porém, apenas quando eles existem. Contudo, não havendo esses documentos escritos pode-se fazer história e deve fazer.
Sobre o mesmo ponto de vista Samaran desenvolve a afirmação anteriormente citada: “Não há história sem documentos”, sendo com esta precisão deve tomar a palavra “documento” não apenas como texto, mas com um sentido mais amplo, sendo documento escrito, ilustrado, transmitido pelo som, aimagem, ou qualquer outra maneira.
Esse amplo sentido do termo documento foi apenas uma etapa para a explosão do documento, que partir dos anos 1960 e levou a uma revolução documental. Essa revolução foi ao mesmo tempo, quantitativa e qualitativa.
Eventualmente depois das duas revoluções nasce à história quantitativa, que põe novamente em causa a noção de documento e o seu tratamento.
Segundo Jacques Le Goff, a revolução documental tende também a promover uma unidade de informação: em lugar do fato que conduz ao acontecimento e uma história linear, a umamemória progressiva, ela privilegia o dado, que leva a série e a uma história descontínua. A memória coletiva valoriza-se, institui-se em patrimônio cultural.
Michel de Certeau historiador francês escreveu em 1974 “na história, tudo começa o gesto de pôr a parte, de reunir de transformar em documentos certos objetos distribuídos de outro modo”, recolhido pela memória coletiva e transformado em documento pela história tradicional, ou transformado em dado nos novos sistemas de montagem da história serial, com isso o documento deve ser submetido a uma crítica mais radical.
Da mesma forma que os fundadores dos Annales insistiram sobra à ampliação de documento eles davam início nesse momento a uma crítica em profundidade da noção de documento.
O historiador Lucien Febvre lamentava não a ausência de sentido crítico nos historiadores, que praticavam todos eles, mais ou menos. Ele lamentava a crítica dos documentos preconizada pela École des Chartes e a história positivista só século XIX, mas o fato de que se pusesse em discussão o documento enquanto tal.
Nesse momento é necessário ir mais longe, pois Paul Zumthor tinha aberto a via a novas relações entre documento e monumento. Tratando-se de um pequeno número de textos, os mais antigos em língua francesa (séculos VIII-IX), ele propôs uma distinção entre os monumentos linguísticos e os simples documentos. Paul Zumthor depois de ter realizados suas pesquisas, ele descobria o que transforma o documento em monumento – a sua utilização de poder. Portanto não existe um documento objetivo, inócuo, primário. Pois a ilusão positivista via no documento uma prova de boa-fé, desde que fosse autentico.
Por certo é necessária a análise do documento enquanto monumento que permite a memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa. Do mesmo modo o historiador francês Michel Foucault colocou claramente a questão do documento.
Certamente a historiadora Monique Clavel-Lévéque vai revelar em sua análise, que o documento é composto de elementos que “funcionam” como um‘inconsciente cultural’, que assume um papel decisivo, e intervém para orientar uma apreensão, um conhecimento. Da mesma forma a autora considerou o seu documento como um monumento cujas condições de produção histórica.
É necessário recordar o apelo a uma revisão da noção de documento, lançado pelo historiador francês Pierre Toubert e por Jacques Le Goff no 100.º Congresso Nacional das Sociedades de Cultura Francesa, realizado em Paris em 1975.
De acordo com Jacques Le Goff, o documento é uma coisa que fica,que dura, e o testemunho, o ensinamento (para evocar a etimologia) que ele traz deve ser em primeiro lugar analisados, desmitificando lhe, o seu significado aparente, documento e monumentoque resulta o esforço das sociedades históricas para impor ao futuro.
Jacques Le Goff, afirma que Documento/Monumento é construída pelos agentes sociais que, a partir de seus documentos, erigem as representações possíveis, a partir daí a afirmação de Le Goff de que o documento tornou-se monumento, pretendendo a permanência e delimitação das interpretações possíveis sobre uma época, fato, acontecimento, personagem.

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