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1 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE CAXIAS 
DEPARTAMENTO DE LETRAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CÂNTICO DOS CÂNTICOS NUMA PESPECTIVA DISCURSIVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAXIAS-MA 
2015 
 
 
 
2 
 
LUIZ EDUARDO LIMA RIBEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O CÂNTICO DOS CÂNTICOS NUMA PESPECTIVA DISCURSIVA 
 
 
Monografia apresentada ao Departamento 
de Letras, do Centro de Estudos Superiores 
de Caxias (CESC), da Universidade 
Estadual do Maranhão (UEMA), como 
requisito para obtenção do grau de 
Licenciatura Plena em Língua Portuguesa e 
Literatura. 
 
Orientadora: Prof.ª. Dra. Deline Maria 
Fonseca Assunção 
 
 
 
 
CAXIAS-MA 
2015 
 
 
 
 
3 
 
LUIZ EDUARDO LIMA RIBEIRO 
 
 
 
 
 
O CÂNTICO DOS CÂNTICOS NUMA PESPECTIVA DISCURSIVA 
 
 
 
Monografia apresentada ao Departamento de Letras, do Centro 
de Estudos Superiores de Caxias (CESC), da Universidade 
Estadual do Maranhão (UEMA), como requisito para obtenção 
do grau de Licenciatura Plena em Língua Portuguesa e 
Literatura. 
 
 
 
 
 
 
Aprovada em: _____/_____/_____ 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 _____________________________________________________ 
(Orientadora) Profa. Dra. Deline Maria Fonseca Assunção – CESC/UEMA 
 
 
 
 
 _____________________________________________________ 
Profa. Dra. Maura Rejane Amaral Rodrigues Amorim-CESC/UEMA 
 
 
 _________________________________________________________ 
Prof. Dr. José de Ribamar Dias Carneiro- CESC/UEMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha família, principalmente, aos meus avós, Jesus Alves 
Ribeiro e Maria do Nascimento, pelo incentivo constante. E a 
minha Mãe, Edileuza Lima Ribeiro pelo grande amor. À minha 
orientadora ProfªDra. Deline Assunção, não só por ser essa 
profissional competentíssima, mas também pela pessoa 
maravilhosa e incentivadora que é. 
 
 
 
5 
 
 
AGRADECIMENTOS 
A Jeová Deus, por me conceder o dom da vida e ser um amigo fiel. 
Aos meus avós, minha Mãe e demais membros de minha família por estar 
sempre do meu lado. 
Aos meus professores e professoras Joseane Maia, Elizeu Arruda, Solange 
Morais, José de Ribamar, Socorro Carvalho, Deline Assunção, Maura Rejane, 
Fatima Pereira e Claudia Medeiros por toda a contribuição para minha formação 
como pessoa e profissional. 
Aos meus queridos amigos de curso, Franciara Galvão, Brenda Santos, Odilene 
Nascimento, Rayssah Assunção, Mayara Aguiar, Israel Cunha e Oriel Wandrass 
pelo convívio, aprendizagem, apoio e palavras de otimismo. 
Aos meu queridos amigos do coração e de tantas aventuras Luciano Nobre de 
Macêdo e Cristiane Dutra do Nascimento 
Aos meus amigos e conterrâneos da Escola Magno Bacelar em Coelho Neto-Ma, 
professora Irene(dadinha), Ricardo, Iracema Ferreira, pelo incentivo. 
Aos meus irmãos de fé das congregações de Coelho Neto e Caxias, e a todos 
que, de alguma forma, contribuíram para a realização desse trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O segredo do sucesso na vida é estar pronto para a 
oportunidade quando ela surgir. (Autor desconhecido) 
 
 
 
 
 
7 
 
RESUMO 
 
O trabalho faz uma análise dos discursos veiculados no livro bíblico Cântico dos 
Cânticos. O objetivo é caracterizar os discursos veiculados no livro bíblico Cântico 
dos Cânticos; examinar qual a cena enunciativa e o etos presentes, no livro bíblico 
Cântico dos Cânticos; e, por fim, revelar o posicionamento da mulher no contexto 
sócio-histórico no livro bíblico Cântico dos Cânticos. A perspectiva adotada tem 
como suporte teórico à Análise do Discurso da linha francesa visto que essa teoria, 
além de se concentrar na mensagem em si, leva em conta o homem na sua história, 
considerando os processos e condições de produção da linguagem por meio da 
relação entre a língua e os sujeitos que a falam e também as situações em que se 
produz o dizer, e exige que todos esses elementos interajam em um determinado 
contexto. Desse modo, apresentaremos inicialmente o esboço teórico que 
fundamenta a pesquisa. Em seguida, falaremos sobre o livro bíblico Cântico dos 
Cânticos e seu autor, o enredo e o esboço histórico. Por conseguinte os discursos 
veiculados no livro bíblico Cântico dos Cânticos. E, por fim, apresentamos as 
conclusões obtidas de acordo com os objetivos propostos. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Análise do Discurso. Cântico dos Cânticos. Discurso. Cena 
Enunciativa. Etos. Interdiscursividade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
ABSTRACT 
 
The work was an analysis the speech involved in the Bible book Song of Solomon. 
The goal is to characterize the discourses conveyed in the Bible book Song of 
Songs; examine which expository scene and the ethos present in the biblical book 
Song of Songs; and, finally, reveal the position of women in the social and historical 
situation in the Bible book Song of Solomon. The perspective adopted as theoretical 
support to the French line of discourse analysis since this theory, and focus on the 
message itself, takes into account the man in its history, considering the processes 
and language production conditions using the relationship between language and 
subjects who speak it as well as the situations that produces mean, and requires all 
these elements interact in a given context. Therefore, initially we will present the 
theoretical sketch based research. Then we'll talk about the biblical book Song of 
Songs and its author, the plot and the historical outline. Consequently speeches 
conveyed in the Bible book Song of Solomon. And finally, we present the inferences 
reached in accordance with the proposed objectives. 
 
KEYWORDS: Discourse Analysis. Song of Songs. Speech. Enunciative scene. 
Ethos. Interdiscursivity. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
SUMÁRIO 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.....................................................................................10 
1 ANÁLISE DO DISCURSO: ASPECTOS RELEVANTES E CONCEITUAIS..........13 
1.1 A gênese da Análise do Discurso.........................................................................13 
1.2 Enunciação...........................................................................................................14 
1.3 AD francesa..........................................................................................................16 
1.4 Conceito de Ideologia...........................................................................................17 
1.5 As três fases da AD .............................................................................................18 
1.6 Cena enunciativa e o etos....................................................................................21 
1.7 O dialogismo bakhtiniano.....................................................................................24 
1.8 Gênero do discurso..............................................................................................28 
2 SOBRE O LIVRO BILBICO CÂNTICO DOS CÂNTICOS E SEU AUTOR.............30 
2.1 Esboço histórico do autor e do livro.....................................................................30 
2.2 Enredo do livro bíblico Cântico dos Cânticos.......................................................33 
3 OS DISCURSOS VEICULADOS NO CÂNTICO DOS 
CÂNTICOS.................................................................................................................37 
 
3.1 DiscursoRomântico..............................................................................................38 
3.2 Discurso Histórico.................................................................................................403.3 Discurso Religioso................................................................................................43 
3.4 Discurso Patriarcal...............................................................................................44 
3.5 Discurso Antipatriarcal.........................................................................................45 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................49 
REFERÊNCIAS..........................................................................................................51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
 
O presente trabalho de conclusão de curso objetiva, de modo geral, 
analisar os discurso presente no livro bíblico Cântico dos Cânticos. Para isso, 
traçamos alguns objetivos específicos, que são: caracterizar os discursos veiculados 
livro bíblico Cântico dos Cânticos; examinar qual a cena enunciativa e o etos 
presentes, no livro bíblico Cântico dos Cânticos; e, por fim, revelar o posicionamento 
da mulher no contexto sócio-histórico no livro bíblico Cântico dos Cânticos. 
A pesquisa sobre a valorização da mulher no livro bíblico Cântico dos 
Cânticos, surgiu ao se ler o livro e observar que, mesmo vivendo em uma época em 
que a cultura e as ideologias tinham costume de inferiorizar a mulher, o autor deu 
voz a ela, destacando, desse modo, seus desejos e anseios. O autor fez uso de 
muitas metáforas para descrever sua amada e são essas expressões metafóricas 
que revelam a realidade social e histórica na qual ela vivia. 
Para elaboração desse trabalho, foi adotado um estudo de cunho 
bibliográfico e qualitativo, com o suporte teórico da Análise do Discurso da linha 
francesa (AD), visto que essa teoria, além de se concentrar na mensagem em si, 
leva em consideração as condições necessárias para que se tenha um discurso, os 
locutores e interlocutores envolvidos, e necessita que todos esses elementos 
interajam em um determinado contexto. 
Tendo como suporte teórico a AD, que leva em conta o homem na sua 
história, considerando os processos e condições de produção da linguagem por 
meio da relação entre a língua e os sujeitos que a falam e também as situações em 
que se produz o dizer, buscar-se-á mostrar que o discurso é efeito ou produção de 
sentidos entre os interlocutores, que é determinado pelo tecido histórico-social que o 
constitui e se relaciona com outros discursos. 
Após algumas pesquisas realizadas na biblioteca do CESC/UEMA, foram 
encontradas pesquisas que possuem a AD como fundamentação teórica, como por 
exemplo, a monografia do acadêmico Auriodenis Devys Gualter Coutinho (2005), do 
curso de especialização em língua portuguesa do Departamento de Letras, no qual o 
autor se propõe a analisar as condições de produção do discurso na carta-
testamento de Getúlio Vargas. Partindo do contexto histórico da AD, o autor inicia a 
11 
 
pesquisa informando sobre a sua origem, juntamente com os principais teóricos que 
contribuíram para o seu estabelecimento como uma disciplina; ele ainda destaca as 
duas tendências da teoria em questão: a americana e a europeia (de origem 
francesa), optando pela última para elaborar a fundamentação da sua pesquisa. O 
pesquisador chega à conclusão de que o trabalho foi de grande relevância para a 
compreensão dos discursos políticos presentes na carta, bem como as suas 
condições de produção da carta, como por exemplo, em 1945 Getúlio Vargas foi 
forçados pelos militares, após quinze anos de governo, a renunciar e isso lhe causou 
uma grande pressão psicológica, outro motivo foi a crise de 1954, em que os 
Estados Unidos tentavam derrubar o preço do café, além da pressão da mídia, que 
levou o então presidente ao suicídio. Assim, esses conhecimentos possibilitou o 
entendimento da construção de sentido existente no documento histórico analisado: 
a carta-testamento de Getúlio Vargas. 
Com base na mesma teoria – a Análise do Discurso francesa –, a 
acadêmica do curso de Letras do CESC-UEMA, Kerleiane de Sousa Oliveira (2008), 
em seu Trabalho de Conclusão de Curso, faz uma análise das ideologias 
propagadas nas novelas Mulheres Apaixonadas, Senhora do Destino e América, 
todas produzidas pela Rede Globo, tais como o homossexualismo, o racismo, a 
divisão de classes sociais, que causam grande incidência ideológica sobre o 
cotidiano do país. A autora faz um resumo das novelas em análise e destaca que, 
com seus discursos disseminados, a telenovela é um lugar em que são veiculadas 
ideias e valores da classe dominante, assim como estereótipos humanos, padrões 
de beleza, estilos de vida e de comportamento, instituindo-se, assim, como um 
veículo de transmissão de ideologias e tornando-se um bom campo para se 
configurar em um corpus de análise. O trabalho apresenta a conclusão de que as 
telenovelas podem ser analisadas discursivamente, que têm como ideologias 
presentes em seus discursos a democratização e o devido respeito quanto às 
diferenças de sexo, raça e condição social, e que essas transmissões fazem o 
público mudar e alterar a cultura, a maneira das pessoas verem e agirem sobre o 
mundo, a mudar, consequentemente, sua prática discursiva na sociedade. 
Entretanto, mesmo que a AD tenha tido um crescimento considerado em 
seus campos de estudos e pesquisas, ainda assim não são tão numerosos e tão 
12 
 
completos que dispensem novas leituras, despertando expectativas de ampliar este 
espaço com novidades. 
A presente monografia encontra-se estruturada em três capítulos. No 
primeiro, apresenta-se o referencial teórico que fundamenta a pesquisa, através de 
um esboço histórico: e destacando-se alguns conceitos, tais como enunciação, 
dialogismo, interdiscursividade, intextualidade, ideologia, Formação Discursiva e 
Formação Ideológica. No segundo, falaremos sobre o livro bíblico Cântico dos 
Cânticos e seu autor, o enredo e o esboço histórico. No terceiro capitulo, os 
discursos veiculados no Cântico dos Cânticos. E, por fim, apresentamos as 
conclusões obtidas de acordo com os objetivos propostos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
1 ANÁLISE DO DISCURSO: ASPECTOS RELEVANTES E CONCEITUAIS 
 
1.1 A gênese da Análise do Discurso 
 
Na década de 50, a AD começou a dar seus primeiros passos. De acordo 
com Brandão (1991), a AD surge com os trabalhos de Harris (Discouse Analysis), 
Roman Jakobson (Essais de linguistique génerale, mais especificamente o texto 
Linguistique et poétique) e Émile Benveniste (Probémes de linguistique générale II, 
principalmente o artigo L´appareil formel de I´enonciantion). 
A obra de Harris, mesmo sendo considerada o marco inicial da AD, se 
coloca apenas como uma simples extensão da linguística, situando-se fora de 
qualquer reflexão sobre a significação e as considerações sócio-históricas de 
produção, pontos que posteriormente irão distinguir a AD. 
Émile Benveniste, numa direção contrária a de Harris, defende que o 
locutor, ao se apropriar da língua, enuncia sua posição e faz isso pelo uso de índices 
específicos, de modo que o sujeito se insere no processo de enunciação e dos 
enunciados. A partir desse momento, centrado nos princípios de Benveniste, é que a 
AD inicia o seu percurso evolutivo. 
Segundo Orlandi (2005), essas duas direções irão marcar as duas 
maneiras diferentes de se estudar a teoria do discurso: uma americana, em que se 
considera a frase e o texto como elementos similares, e outra francesa, na qual se 
leva a exterioridade como fator fundamental. Essa última é a que será usada como 
fundamentação teórica na presente pesquisa. 
Para deixar claro o que acabamos de dizer a respeito das diferenças 
entre a AD francesa e a análise do discurso americana, Maingueneau(1997) nos 
expõe o seguinte quadro: 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 AD francesa AD anglo-saxã 
 
Tipos de 
Discurso 
EscritoQuadro institucional 
Doutrinário 
Oral 
Conversão cotidiana 
comum 
 
Objetivos 
determinados 
Propósitos textuais 
Explicação-forma 
Construção do objeto 
Propósitos 
comunicacionais 
Descrição- uso 
Imanência do objeto 
 
Método 
“Estruturalista” 
Linguística e historia 
Interacionista 
Psicologia e sociologia 
Origem Linguística Antropologia 
(MAINGUENEAU, 1997, p.16) 
 
1.2 Enunciação 
 
Os trabalhos produzidos por Benveniste(1989) tiveram grande destaque e 
repercussão nos quais ele propôs a noção de subjetividade na análise linguística e 
considerou que o funcionamento da língua faz uso não só da estrutura, mas também 
do ato de enunciação, portanto ele expôs que o eu e o tu - pronomes de pessoa - 
constituem primeiro ponto em que a subjetividade é mostrada. 
Enquanto Benveniste coloca um quadro em que o eu e o tu formam uma 
estrutura fechada, Bakhtin (1988), com uma visão diferente, amplia o sentido da 
enunciação ao destacar que, nesse processo, há um emissor e uma mensagem que, 
no caso, é o discurso. Destaca também que há a presença de um interlocutor, pois 
nesses processos da enunciação sempre existe uma atitude responsiva ativa, que é 
a fase inicial e preparatória para uma resposta, uma vez que resposta, na teoria 
bakhtiniana, é como uma atitude em que determinado interlocutor se posiciona 
ideologicamente sobre determinado discurso. 
Para Bakhtin (1988), o processo de enunciação ou enunciações 
constituem uma interação verbal e que nesses processos, quando o locutor e o 
ouvinte fazem parte de um mesmo grupo social e compartilham de uma mesma 
15 
 
língua, fazem uso dos atos de fala que, são enunciações, nas quais ocorre a 
interação de dois indivíduos socialmente organizados, assim: 
 
Essa visão da linguagem como interação social, em que o Outro 
desempenha papel fundamental na constituição do significado, 
integra todo ato de enunciação individual num contexto mais amplo, 
revelando as relações intrínsecas entre o linguístico e o social. 
(BRANDÃO, 1991, p. 10, grifo da autora). 
 
 
. Para esse processo de enunciação entre dois indivíduos é dado o nome 
de diálogo, que é o produto da interação do locutor e do interlocutor, o qual sempre 
está em processo de evolução e de criação contínua em todos os campos da 
comunicação social. 
Esses grandes estudiosos contribuíram para o estudo da linguagem e 
exerceram forte influência para o desenvolvimento da AD, defendendo que os 
estudos da linguagem precisam levar a sociedade em consideração, pois os fatores 
internos e externos revelam que tipo de enunciação costuma-se usar, visto que os 
processos de comunicação são influenciados pelos fatores sócio-históricos. 
Esses fatores sócio-históricos da linguagem é que constituem o discurso, 
uma atividade social, uma instância de produção de textos; o discurso é também 
uma espaço em que o dizer é regulado e ligado a práticas sociais delimitadas 
material ou ideologicamente, o que, por sua vez, deve ser remetido às formações 
discursivas, as quais são as grandes unidades históricas que os enunciados 
formam; é dentro do texto que esses discursos vão se manifestar com toda a 
pluralidade de textos que compõem o discurso. Assim, o discurso pode ser 
considerado uma dispersão de textos (CARDOSO, 2005). 
Para entendemos mais a profundamente o conceito de discurso, vejamos 
o que diz Maingueneau (2000, p. 43): 
 
Tomando em sua acepção mais ampla, aquela que ele tem 
precisamente na análise do discurso, esse termo designa menos um 
campo de investigação delimitado do que um certo modo de 
apreensão da linguagem: este último não é considerado aqui como 
uma estrutura arbitrária, mas como atividade de sujeitos inscritos em 
contextos determinados (...). Por supor a articulação da linguagem 
sobre parâmetros de ordem não linguística, o discurso não pode ser 
o objeto de uma abordagem puramente linguística (itálicos do autor). 
16 
 
 
Assim, levando em consideração esse conceito de discurso formulado por 
Maingueneau, e os estudos organizados tanto por Benveniste quanto por Bakhtin, 
que considera o Outro, embora tenham tido variações, revelam que o ato individual 
de enunciação faz parte de um contexto amplo, no qual os fatores linguísticos estão 
intimamente associados ao social, e que, ao se fazer o estudo da linguagem, não se 
pode desvincular os processos histórico-sociais que a influenciam, conforme já foi 
dito. 
 
1.3 AD francesa 
 
Para Maingueneau (1997), a AD nasceu tendo como base a 
interdisciplinaridade, ou seja, a articulação entre a Linguística, o Marxismo e a 
Psicanálise (na leitura de Lacan) e a uma certa pratica escolar que é a da explicação 
de texto, muito comum do colégio à Universidade na França nos anos 60. 
No que se refere à Linguística, inicialmente, a AD será definida como “o 
estudo linguístico das condições de produção de um enunciado; a AD pressupõe a 
linguística e é pressupondo a linguística que ganha especificidade em relação às 
metodologias de tratamento da linguagem nas ciências humanas” (ORLANDI, 1986, 
p 110). Mas, mesmo assim, esse pressuposto teórico e metodológico não será 
suficiente para marcar a especificidade no interior dos estudos da linguagem. 
Maingueneau (1997) aponta outras dimensões, quais sejam: 
- o quadro das instituições em que o discurso é produzido e que delimita 
fortemente e enunciação; 
- os embates históricos, sociais etc. que se cristalizam nos discurso; 
- o espaço próprio que cada discurso configura para si mesmo no interior 
de um interdiscurso1. 
Do marxismo, destaca-se a teoria das ideologias particulares, as quais 
exprimem posições de classe, e a teoria da ideologia em geral, na qual nos permite 
evidenciar o mecanismo responsável pela reprodução das relações de produção. 
Da psicanálise, o pensamento lacaniano é fundamental para o início da 
fundamentação da AD. Lacan defende que o inconsciente se estrutura como uma 
 
1 Mais adiante, no item 1.5, falaremos sobre o interdiscurso. 
17 
 
linguagem, como uma cadeia de significantes, e é nesse inconsciente que se 
encontra o sujeito, o qual é determinado pela posição na qual se encontra desde sua 
aparição. Assim, o sujeito se define através da palavra do Outro, ou seja, o Outro 
ocupa uma posição de domínio com relação ao sujeito(MAINGUENEAU,1997). 
Portanto, na AD, a linguagem se torna um fenômeno que deve ser 
estudado levando em consideração não só a formação linguística, mas outros 
aspectos, conforme vimos acima. 
 
1.4 Conceito de Ideologia 
 
Para trabalharmos o conceito de ideologia lançamos mão da obra de 
Brandão (1991), Segundo a autora, Marx e Engels identificam ideologia como a 
separação que se faz entre as condições sociais e históricas e a produção de ideias 
em que são produzidas. Desse modo, é partindo das ideias que se chega à 
realidade. 
De acordo com Chaui, quando Marx defende que é das ideias que se 
parte para a realidade e institui a separação entre trabalho intelectual e material é 
que se cria a expressão das ideias da classe dominante, a qual servirá como 
“instrumento de dominação de classe porque a classe dominante faz com que suas 
ideias passem a ser ideias de todos” (BRANDÃO,1991, p. 21). 
Althusser afirma que, para que a classe dominante mantenha a sua 
dominação, gera mecanismo de reprodução das condições materiais, ideológicas e 
políticas de exploração. É nesse momento que o estado entra em ação com seus 
Aparelhos Repressores do Estado - ARE (governo, administração, exército, político 
etc.) e Aparelhos Ideológicos do Estado - AIE (religião, sindicato, cultura, informação 
etc.). 
Ricoeur define a ideologia apenas como justificativa dos interesses de 
uma classe, a dominante, e com a função de mediadora na integração social e de 
dominação, em que os aspectos hierárquicos da organização social é que tomarão a 
inciativa de legitimar uma ideiaou crença para justificar a dominação. 
Assim, a ideologia é de suma importância para a AD, pois é através dela, 
enquanto concepção de mundo, que se pode legitimar a forma de pensar. Essa 
18 
 
concepção de mundo pode ser incompatível com a realidade, mas que, “operando 
atrás de nós”, nos influenciam a pensar e agir sobre essa realidade sem, muitas 
vezes, trazê-la a nível de consciência. (BRANDÃO,1991) 
 
 
1.5 As três fases da AD 
 
A primeira fase da AD, mais fechada, defende a ideia de que o sujeito 
possui um discurso que se submete à chamada “máquina discursiva”, isto é, um 
dispositivo capaz de determinar, sempre numa relação com a história, as 
possibilidades discursivas do sujeito inserido em determinadas formações sociais 
(MUSSALIM; BENTES, 2001), ou seja, são regras ditadas por um determinado 
grupo social dividido em classes, segundo suas condições de produção, que 
determina, o que e onde deve ser dito determinado discurso. É nessa fase: 
 
(...) que opera a suposição de que existe um conjunto de enunciados 
que compõem um discurso idêntico a si mesmo e diferente dos 
outros, no sentido de que o enunciado que está contido num discurso 
está excluído de outro (POSSETI, 1990). 
 
A segunda fase vem para enfraquecer essa ideia de máquina estrutural, 
fechada em si mesma. O que se destaca aqui são as relações entre as formações 
discursivas e em como os fatores externos influenciam a construção do discurso em 
um meio social, ou seja, essas relações são compostas por elementos que provêm 
de fora, isto é, de outras formações discursivas, assim: 
 
Esta segunda fase privilegia, portanto, a inexistência da unidade 
interna dos discurso. A ideia básica é expressa pela palavra 
‘dispersão’. Em relação aos falantes, ou à questão da subjetividade, 
vigora a ideia de que o sujeito é uma função, e que ele pode estar 
em mais de uma (POSSETI, 1990). 
 
A terceira fase da AD, tendência atual, explica que o sujeito é marcado 
pelas heterogeneidades, “os enunciados de cada discurso têm um percurso que faz 
com que carreguem a memória de outros discurso” (POSSETI,1990), os quais 
19 
 
influencia o sujeito na formação do seu próprio discurso, seja de modo implícito ou 
de modo explícito. 
É de interesse destacar que a AD não tem como finalidades classificar o 
discurso quanto ao gênero ou desprezar o lugar de enunciação, mas perceber o que 
leva à articulação entre o enunciado e o lugar de sua enunciação. Assim, para essa 
articulação é dado o nome de Formação Discursiva (FD), a qual reflete as 
Formações Ideológicas (FI). 
Brandão (1991) diz que a FD é construída por um sistema de paráfrases, 
com o objetivo de delimitar fronteiras, as quais permitem retomadas e reformulações 
acerca dos enunciados. A importância da FD se dá pois: 
 
 
A noção de Formação Discursiva, ainda que polêmica é básica na 
Análise de Discurso, pois permite compreender o processo de 
produção de sentidos, a sua relação com a ideologia e também dá ao 
analista a possibilidade de estabelecer regularidade no 
funcionamento do discurso (ORLANDI, 2005, p. 43). 
 
 
Assim, a partir da FD, é que vamos determinar, de acordo com a posição 
ideológica dada, o que pode e deve ser dito. 
As FI, por sua vez, consistem em fazer com que cada indivíduo tenha a 
impressão de que é senhor de sua própria vontade, a qual o levará a ocupar o seu 
lugar na sociedade. 
Ainda para Orlandi (2005), o sentido é determinado pelas posições 
ideológicas, as quais influenciam o processo sócio-histórico. Portanto, discurso e 
ideologia se articulam, pois a construção do sentido se dá ideologicamente. 
Maingueneau (1997), que se situa na terceira fase da AD, ao questionar 
as noções de condições de produção e formação discursiva, defende que no interior 
de um discurso existe um grupo especifico sociologicamente caracterizado, de onde 
os discursos que serão formados influenciarão o social e a linguagem. Dessa 
maneira, Maingueneau substitui as noções de condições de produção e de formação 
discursiva pelo de prática discursiva: 
 
 
20 
 
A noção de prática discursiva integra, pois, estes dois elementos: por 
um lado, a formação discursiva, por outro, o que chamaremos 
comunidade discursiva, isto é, o grupo ou a organização de grupos 
no interior dos quais são produzidos, gerados os textos que 
dependem da formação discursiva. (MAINGUENEAU, 1997, p.156, 
negritos do autor) 
 
 
Vale destacar que o conceito de comunidade discursiva permite relacionar 
grupo ou grupos à prática discursiva local, pois o termo comunidades discursiva se 
aplicar não só aos grupos, “mas também a tudo o que estes grupos implicam no 
plano da organização material e modos de vida”. (MAINGUENEAU, 1997, p. 56). 
Considerando que um discurso só pode ser estudando em relação com 
outros discursos, Maingueneau (1997) proclama o primado do interdiscurso sobre o 
discurso, e diz que o conceito de interdiscurso deve ser estendido em conjunto com 
outros termos, quais sejam: campo discursivo, espaço discursivo e universo 
discursivos. 
O universo discursivo é definido por Maingueneau (1997, p.116) como: 
 
O conjunto de formações discursivas de todos os tipos que 
coexistem, ou melhor, interagem em uma conjuntura. Esse conjunto 
é necessariamente finito, mas irrepresentável, jamais concebível em 
sua totalidade pela AD. Quando uma tal noção é utilizada, é 
essencialmente para ai recortar os ‘campos discursivos’. 
 
O campo discursivo é concebido como: 
 
Um conjunto de formações discursivas que se encontram em relação 
de concorrência, em sentido amplo, e se delimitam, pois por um 
posição enunciativa em uma dada região. O recorte de tais campos 
deve decorrer de hipótese explicitas e não de uma partição 
espontânea do universo discursivo (p.117) 
 
 
O espaço discursivo, enfim, é aquele que: 
 
Delimita um subconjunto do campo discursivo, ligando pelo menos 
duas formações discursiva que, supõe-se, mantêm relações 
privilegiadas, cruciais para a compreensão dos discursos 
considerados. Este é, pois, definido a partir de uma decisão do 
analista, em função de seus objetivos de pesquisa (p.117). 
 
21 
 
Para Maingueneau (1997), o interdiscurso consiste em um processo de 
reconfiguração constante em que uma formação discursiva reúne elementos pré-
construidos, produzidos no seu exterior que, junto de tais elementos, provocam sua 
redefinição e redirecionamento. 
A formação discursiva, mostra-se, então, como o lugar de um trabalho do 
interdiscurso, ou seja, “ela é um domínio ‘inconsistente’, aberto e instável, e não a 
projeção, a expressão estabilizada da ‘visão de mundo’ de um grupo social” 
(MAINGUENEAU, 1997, p. 113). 
 
1.6 - Cena enunciativa e o etos 
 
Outros conceitos dos quais lançaremos mão para análise do nosso texto 
são os de cena enunciativa e etos. 
Segundo Maingueneau (2001), o texto configura uma via na qual o 
discurso dissemina uma fala encenada, que objetiva seduzir, convencer, através 
dessa cena de enunciação. Para caracterizar melhor essa cena de enunciação, 
Maingueneau aborda uma tríade Integrante do discurso: cena englobante, cena 
genérica e cenografia. 
A cena englobante corresponde ao tipo de discurso empregado (religioso, 
político, publicitário, televisivo, machista dentre outros) e essa cena depende do tipo 
de sociedade e época que permite tal criação e circulação do texto/discurso. 
A cena genérica, diz respeito ao gênero (ou subgênero) do discurso, ou 
seja, o gênero de discurso determina um lugar de enunciação e a legitimidade de 
quem o emite, configurado pelo e no próprio lugar ocupado pelo enunciador. Para 
Maingueneau, essas duas cenas formam um conjunto, denominado quadro cênico 
do texto. 
 A cenografia em um texto caracteriza-se por definir as condições de 
um enunciador, de um co-enunciador, a topografia (lugar) e a cronografia (tempo), 
os quais participam conjuntamente no desenvolvimento da enunciação. Essa 
cenografiasegundo Maingueneau (2001, p. 87): 
 
 
 
22 
 
Não é simplesmente um quadro, um cenário como se o discurso 
aparecesse inesperadamente no interior de um espaço já construído 
e independente dele: é a enunciação que, ao se desenvolver, 
esforça-se para construir progressivamente o seu próprio dispositivo 
de fala. 
 
 
Assim, a cenografia tem por objetivo convencer, instituindo a cena de 
enunciação que o legitima. Segundo Maingueneau (1997), para termos acesso a 
cenografia de uma formação discursiva faz-se necessário, também, levar em 
consideração a dêixes discursiva, pois, segundo ele, “uma formação discursiva não 
enuncia a partir de um sujeito, de uma conjuntura histórica, ou de um espaço 
objetivamente determináveis do exterior” (p.42). 
 
De acordo Costa (2001 apud Assunção, 2004, p. 43, grifos do autor) 
 
Á dêixis discursiva refere-se a representações puramente textuais 
em que o enunciador e o co-enunciador correspondem ao eu e ao tu 
determinados no texto. Mas convém esclarecer que se trata de um 
eu e de um tu fundados por lugares enunciativos e não do autor ou 
leitor empíricos. Desta forma, o enunciador e o co-enunciador 
distinguem-se do locutor e do co-locutor, sendo estes, 
respectivamente, emissor e receptor empíricos do enunciado. 
 
O Etos, “jeito de ser” (físico e/ou psicológico), caráter do enunciador, é 
constituído a partir da cena, o que equivale a dizer que são categorias 
indissociáveis. Com base nos conceitos de Maingueneau(2001), o texto deve investir 
no que caracteriza o seu etos, a sua relação com uma vocalidade fundamental que 
se dá por meio de uma voz, de um tom que endossa o que é dito conforme a 
cenografia constituída: o enunciador não só dá a entender, mas mostra o que 
pretende ser através da forma como enuncia, isto é, o enunciador assume uma 
representação que o co-enunciador deverá construir por meio de diversos indícios 
dados pelo texto. Essa representação terá a função de fiador, a qual tomará para si 
a responsabilidade do enunciado. 
Esse fiador por sua vez, possui um caráter que corresponde a um 
conjunto de traços psicológicos (amoroso, simpático, severo, amigável...) que o co-
enunciador atribui à figura do enunciador devido à sua maneira de dizer e falar, e 
que possui também uma corporalidade, a qual remete a “uma compleição do corpo 
23 
 
do fiador, inseparável de uma maneira de se vestir e se movimentar no espaço 
social” (MAINGUENEAU, 2001, p. 139). 
O caráter e a corporalidade do fiador são inseparáveis e se baseiam em 
características valorizadas ou desvalorizadas que circulam em uma determinada 
cultura em que se produz a enunciação podendo confirmá-los ou modificá-los. 
Para Maingueneau(2001), o etos aparece como uma realidade que não 
deve ser dissociada de uma “arte de viver”, de uma “maneira global de agir”. O etos 
deixa evidente que o co-enunciador de um texto não só compreende significados, 
mas penetra em uma cenografia, o que leva o co-enunciador a participa de uma 
esfera onde pode se deparar com um enunciador que seja fiador do mundo 
representado. 
 A eficácia do discurso, conforme postula Maingueneau, depende, na 
maioria das vezes, do investimento em um etos capaz de fazer o co-enunciador 
acreditar no que está sendo dito na própria enunciação. 
Após o que foi dito, pode-se percebe que a evolução e amadurecimento 
da AD permitiu que se percebesse que a linguagem é um lugar de constantes 
mudanças, conflitos e de dissimulação, ao invés de um lugar parado, inóspito e sem 
movimento. 
Para entendermos melhor essa evolução, não poderíamos deixar de falar 
sobre o dialogismo de M. Bakhtin(1988), filósofo da linguagem que destacou o lugar 
do Outro no discurso e que influenciou alguns desenvolvimentos teóricos voltados 
para a abordagem da heterogeneidade. 
 
1.7 - O dialogismo bakhtiniano 
 
O dialogismo, para Bakhtin (1981), é o princípio que constitui a linguagem 
e a condição de sentido presente no discurso; é onde as palavras do enunciador 
estão atravessadas pelas palavras do outro, nos revelando que o sujeito em Bakhtin 
é um sujeito social, a voz produzida a partir de um lugar e de um tempo 
determinados. 
Isto resulta no que Bakhtin chama de polifonia, ou seja, são as várias 
vozes sociais que são ouvidas e, muitas vezes, vindas de longe, de outros tempos, 
24 
 
de outras culturas, que situam o discurso e o sujeito na história. Assim, esse jogo 
dialógico em que os muitos textos da cultura estão dentro do discurso recebe o 
nome de interdiscursividade. 
A interdiscursividade constitui-se num processo consciente ou 
inconsciente; um discurso se estabelece sempre em relação a outro discurso já 
existente. Portanto, “todo discurso implica a outro discurso, inscreve em si o discurso 
do outro, porque a resposta tem como modelo outro ou outros discursos.” 
(BAKHTIN, 2000) 
Outro processo é a intertextualidade, em que se pode ouvir as vozes do 
outro em um texto, a qual pode se manifesta por meio de características visíveis 
dentro do texto no qual se vê um trabalho de absorção e transformação de outros 
textos com vistas a determinados objetivos, e não uma simples adição de texto em 
outro. 
Mas nem sempre é fácil identificar a fronteira da intertextualidade e/ou da 
interdiscursividade, ou seja, não sabemos a partir de que momento temos 
características evidentes de que num determinado texto ocorre à presença de outro 
texto ou discurso. Para isso, há caminhos explícitos, é certo, mas há também 
caminhos implícitos que tornam a identificação mais demorada e difícil, 
principalmente quando o escritor disfarça a presença do outro no texto. Neste caso, 
é preciso considerar a nossa memória discursiva, o que implica em conhecimento 
prévio, conhecimento partilhado, contexto etc., para a identificação desses 
processos. 
Porém, para minimizar essa dificuldade, podemos recorrer a uma 
sistematização da tipologia das relações intertextuais (relações entre textos) e das 
relações interdiscursivas (relações entre discursos). Fazendo uso dessas tipologias, 
poderemos verificar, com maior precisão, qual (ou quais), dentre os tipos de 
relações apresentadas abaixo, pode(m) estar presente(s) no(s) texto(s), tanto no(s) 
oral(is) quanto no(s) escrito(s). 
De acordo com Piégay-Gros (1996 apud Assunção, 2004), as relações 
intertextuais diferenciam-se em dois tipos: relações de co-presença entre dois ou 
mais textos e relações de derivação de um ou de vários textos a partir de um texto-
matriz. 
25 
 
Estão em relação de co-presença a citação e a referência (ambas 
explícitas), a alusão e o plágio (ambas implícitas): 
A citação é uma das formas mais salientes da inserção de um texto em 
outro. A presença de aspas, itálicos etc. materializa essa heterogeneidade. A citação 
pode desempenhar várias funções em um texto, como, por exemplo, o ornamento e 
a autoridade. 
A referência, como a citação, remete o leitor a um outro texto, mas sem 
que as palavras deste sejam convocadas. Nesse caso, podem ser evocados 
personagens, títulos, épocas, lugares, os quais pertencem a outros textos. 
 O plágio caracteriza-se por ser um tipo de citação não marcada, em que 
um texto apresenta passagens de outro texto sem indicar que isto foi feito. O plágio 
está associado à regulação jurídica e moral. Dependendo da forma e do grau da 
presença de um texto em outro, maior será a censura e a punição para o plagiador. 
 A alusão, como o plágio, não explicita a retomada intertextual, mas, 
diferente deste e do mesmo modo que a referência, não convoca as palavras do 
outro. Assim, para que a alusão tenha efeito, é necessário que o leitor conheça e 
recupere o texto aludido por meio dos poucos indícios que o autor lhe coloca à 
disposição. Esses indícios constituem-se, geralmente, em palavras, entonações, 
estilos, formas textuais, dentre outros. 
Nas relações de derivação estão o pastiche, a paródia, e o travestimento 
burlesco. O pasticheimita o estilo de um texto, isto é, ele não age sobre um texto 
específico, mas sobre um “jeito textual” que um mesmo autor cultua. 
A paródia modifica o assunto ou o conteúdo de um texto conservando o 
seu estilo ou sua estrutura. Maingueneau (1997) entende que a paródia está 
relacionada à depreciação do texto-matriz. Por isso prefere falar de imitação – 
fenômeno em que a manifestação da heterogeneidade enunciativa é bem evidente. 
Segundo o autor, a imitação pode assumir dois valores em oposição: a captação e a 
subversão. Na primeira, um texto imita outro seguindo a mesma direção com o 
objetivo de beneficiar-se da autoridade do enunciado do outro. É o caso do pastiche, 
que imita um texto ou obra de um outro autor, e da estilização, que imita o estilo do 
autor, independente da obra. Na segunda, um texto imita outro visando desqualificá-
lo neste movimento de imitação, como é o caso da paródia. 
26 
 
O travestimento burlesco, ao contrário da paródia, aproveita o conteúdo, 
mas modifica completamente a estrutura ou o estilo do texto anterior. É interessante 
dizer ainda que o travestimento burlesco é utilizado não só para ironizar o texto 
derivante, mas para atualizar textos arcaicos e também para simplificar textos 
eruditos. 
Tendo em vista o fato de o travestimento burlesco estar demasiadamente 
direcionado ao discurso literário e que a paródia é sempre tomada com um sentido 
depreciativo, Costa (2001 apud Assunção,2004) faz uma modificação geral nas 
relações de derivação de Piégay-Gros e acrescenta, seguindo a proposta de 
Maingueneau(1997), a categoria imitação (captativa e subversiva) ao esquema das 
relações intertextuais ficando assim estruturado: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Relações 
Intertextuais 
 
 
 
Relações de co-presença 
Citação 
Referencia 
Plágio 
Alusão 
 
Relação de imitação 
Captativa- Pastiche, 
estilização 
Subversão – paródia 
 
 
 
Para as relações interdiscursivas, Costa (2001 apud Assunção, 2004) 
apresenta uma outra sistematização – formada a partir do esquema das relações 
intertextuais exposto anteriormente – em que, nas relações de co-presença, estão a 
referência e a alusão e, nas relações de imitação, estão a imitação captativa e a 
imitação subversiva. 
27 
 
A referência interdiscursiva acontece quando um texto pertencente a uma 
formação discursiva comenta, representa, descreve, em suma, refere-se de alguma 
forma a outra formação discursiva ou ao interdiscurso. 
A alusão interdiscursiva, que geralmente se dá através do etos, utiliza 
recursos como o jogo com as palavras, a implicitação e o disfarce entre outros; 
dispensa a menção de personagens, cenários e autores (referência discursiva) e, 
principalmente, a representação de trechos de textos alheios (citação intertextual). 
Na captação interdiscursiva um texto pode representar cenografias 
validadas pertencentes a outras práticas discursivas. É o caso de certos poemas de 
caráter religioso cuja cenografia se apoia em cenários referentes aos episódios 
bíblicos. 
Na subversão interdiscursiva os textos podem incorporar parodicamente 
os cenários validados, os códigos de linguagem, o etos etc. de outras formações 
discursivas para subvertê-los, legitimando-se por oposição. 
Assim esses mecanismos linguísticos nos fazem perceber que o discurso, 
está longe de ser um simples texto, constitui-se numa “atividade inscrita em uma 
dinâmica social onde há uma imbricação entre o texto e seu processo de 
produção/circulação” Costa (2001 apud Assunção, 2004, p.37). 
 
1.8 Gênero do discurso 
 
Do mesmo modo como os domínios comentados no item anterior, no 
processo de produção de textos os gêneros de discurso desempenham um papel 
fundamental, pois, conforme Bakhtin (2000), quando enunciamos algo fazemo-lo 
através de gêneros de discurso, pois todas as esferas de atividade humana estão 
ligadas pela palavra. Assim, cada esfera destas produz seus repertórios de 
discursos relativamente estáveis que são os gêneros do discurso, os quais os 
destinatários farão a sua parte em distinguir a qual gênero o texto pertence: 
 
 
 
 
 
 
28 
 
Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira 
que a organizam as formas gramaticais (sintáticas). Aprendemos a 
moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do outro, 
sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras, pressentir - lhe o 
gênero, adivinhar-lhe o volume (a extensão aproximada do todo 
discursivo), a dada estrutura composicional, prover-lhe o fim, ou seja, 
desde o início, somos sensíveis ao todo discursivo (...). Se não 
existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se 
tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo de fala, se 
tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a 
comunicação verbal seria quase impossível. (BAKHTIN 2000, p. 302) 
 
 
No processo de produção de textos, os gêneros do discurso são de 
grande importância, pois é através de gêneros de discursos que podemos fazer 
nossas enunciações e organizar as nossas falas. Assim, quando fizermos uso de um 
gênero para enunciar, estamos revelando as nossas posições ideológicas. 
O livro bíblico Cântico de Salomão é um poema do gênero lírico, que 
pode ser cantado ou recitado, com ou sem acompanhamento, para 
(D’ONOFRIO,1995) o genro lírico é entendido como expressão do sentimento do eu, 
apresenta, ao longo dos séculos, várias modalidades formais e diferentes atitudes 
ideológicas. Faz parte do gênero lírico o hino, que, do grego hymnos, que significa 
“canto”, o hino é uma das primeiras manifestações poéticas do homem, cujo 
sentimento de religiosidade o leva a exaltar suas divindades, na religião cristã, a 
função do hino é exercida pelo cântico, pelo salmo e pela lauda, vários livros da 
bíblia são composições líricas de alto valor poético, além de religioso. Lembramos 
os Salmos, do rei Davi, bem como Cântico dos cânticos, de Salomão, que será 
usado como corpus de analise dessa pesquisa. 
Até o presente momento, apresentamos alguns conceitos-chave para o 
trabalho que propomos desenvolver e que permearão toda a pesquisa aqui 
proposta. Esses conceitos serão aplicados na parte prática da pesquisa, pelo fato de 
estarem envolvidos na organização e funcionamentos dos discursos que nela serão 
analisados. 
 
 
 
 
29 
 
2 SOBRE O LIVRO BILBICO CÂNTICO DOS CÂNTICOS E SEU AUTOR 
 
2.1 Esboço histórico do autor e do livro 
 
O nome Salomão ou Shlomô (em hebraico:שלמה), deriva da 
palavra Shalom, que significa "paz", e tem o significado de "Pacifico", filho do Rei 
Davi na linhagem de Judá; tornado o terceiro rei de Israel de 1037 a 998 AEC2. O 
registro bíblico, depois de relatar a morte do filho nascido à Davi por meio das suas 
relações ilícitas com sua esposa Bate-Seba, prossegue: 
 
E Davi começou a consolar Bate-Seba, sua esposa. Além disso, 
entrou a ela e deitou-se com ela. Com o tempo ela lhe deu à luz um 
filho, e ele veio a ser chamado pelo nome de Salomão. E o próprio 
Jeová o amava. De modo que, por meio de Natã, o profeta, mandou 
chamá-lo pelo nome de Jedidias por causa de Jeová (23 Samuel 
12:24, 25). 
 
Foi Salomão quem, segundo a Bíblia (nos livro de Reis e em Crônicas), 
ordenou a construção do templo de Jerusalém, no seu 4.º ano, também conhecido 
como o Templo de Salomão. Depois disso, mandou construir um novo palácio real 
para o sumo sacerdote, o palácio da filha de Faraó, a casa de cedro do líbano e o 
pórtico das colunas. A descrição do seu trono era exemplar único em seus dias. 
Mandou construir fortes muralhas na cidade de Jerusalém, bem como diversas 
cidades fortificadas e torres de vigia. Salomão se notabilizou pela sua grande 
sabedoria, prosperidade e riquezas abundantes, bem como um longo reinado sem 
guerras. 
Diferentemente de seu pai, Salomão não se tornou um líder guerreiro, 
pois isso não foi preciso. Soube manter a grande extensão territorial que herdara de2 A sigla AEC significa Antes da Era Comum, mais comumente usada para estudos histórico. AEC é 
uma alternativa para as siglas a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo), usadas pelos cristãos, 
visto que AEC não faz explicitamente o uso de títulos religiosos para Jesus, como Cristo ou Senhor. 
Essa sigla será usada para essa pesquisa, pois não temos como objetivo, propagar nenhuma crença 
ou religião. 
3 Segundo livro escrito pelos profetas Natã e Gade, que também escreveram o livro de Primeiro 
Samuel. O nome de Samuel, na realidade, nem sequer é mencionado no relato de Segundo Samuel, 
sendo este nome dado ao livro, pelo que parece, por ter sido originalmente um só rolo, ou volume, 
com Primeiro Samuel. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%ADblia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Jerusal%C3%A9m
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cristo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nomes_de_Deus
30 
 
seu pai. Mostrou, de acordo com a tradição judaica, ser um grande governante e um 
juiz justo e imparcial. Soube habilmente desenvolver o comércio externo e da 
indústria, as relações diplomáticas com países vizinhos, o que levou a um progresso 
considerável das cidades israelitas. 
O Cântico dos Cânticos, também chamado de Cantares, Cântico 
Superlativo em hebraico: ים ירִׁ יר ַהשִׁ em grego: ᾎσμα ᾎσμάτων, ou Cântico de , שִׁ
Salomão é um livro do Antigo Testamento. No judaísmo, é um dos cinco rolos da 
última seção do Tanakh, conhecida como Ketuvim ("Escritos"). É um dos livros 
poéticos, posterior ao Eclesiastes e antes de Isaías. Representa, em hebraico, uma 
fórmula de superlativo; significa o mais belo dos cânticos, cântico por excelência ou 
o cântico maior, que fala do inabalável amor de uma jovem sulamita (uma 
camponesa de Suném, ou Sulém) por um pastor, e da tentativa frustrada do Rei 
Salomão, de conquistar o amor dela. Trata-se apenas de um único cântico, e não de 
uma coleção de cânticos (TODA A ESCRITURA É INSPIRADA POR DEUS E 
PROVEITOSA, p.115). 
O Cântico dos Cânticos é um livro curto, com apenas oito capítulos. 
Apesar de sua brevidade, apresenta uma estrutura complexa que, por vezes, pode 
confundir o leitor. Diferentes personagens têm voz, ou falam, nesse poema lírico. Em 
muitas traduções da bíblia, esses emissores alternam sua fala de modo inesperado, 
sem indicação ao leitor, dificultando assim, sua leitura. Tem sua escrita estimada por 
volta do ano 400 AEC (TODA A ESCRITURA É INSPIRADA POR DEUS E 
PROVEITOSA, pág.115). 
Logo no início, Salomão é identificado como o escritor: 
 
O cântico superlativo, que é de Salomão: Beije-me ele com os beijos 
da sua boca, porque as tuas expressões de afeto são melhores do 
que o vinho. Teus óleos são bons em fragrância. Teu nome é como 
um óleo que se despeja. Por isso é que te amaram as próprias 
donzelas. (Cântico de Salomão 1:1-3)4 
 
 
4 Preferimos dar a referência chamando diretamente o Cântico de Salomão e não a referência da 
bíblia, onde esse Cântico está inserido. As referências são extraídas da Tradução do Novo Mundo da 
Bíblia Sagrada, edição de 2013, publicada em português pela Sociedade Torre de Vigia, onde o 
Cântico dos Cânticos é nominado como Cântico de Salomão. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hebraico
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antigo_Testamento
http://pt.wikipedia.org/wiki/Juda%C3%ADsmo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinco_rolos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tanakh
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ketuvim
http://pt.wikipedia.org/wiki/Livros_po%C3%A9ticos_e_sapienciais_do_Antigo_Testamento
http://pt.wikipedia.org/wiki/Livros_po%C3%A9ticos_e_sapienciais_do_Antigo_Testamento
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eclesiastes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Livro_de_Isa%C3%ADas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hebraico
http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%ADblia
31 
 
 Nos livro bíblicos, que narram as histórias do reis da nação de Israel, 
observa-se que o escritor era alguém bem familiarizado com a criação de Deus, 
como se dava com Salomão: 
E Deus continuou a dar a Salomão sabedoria e entendimento em 
medida muito grande, bem como largueza de coração, igual à areia 
que há à beira do mar. E a sabedoria de Salomão era mais vasta do 
que a sabedoria de todos os orientais e do que toda a sabedoria do 
Egito. E ele era mais sábio do que qualquer outro homem, [mais] do 
que Etã, o ezraíta, e Hemã, e Calcol, e Darda, filhos de Maol; e veio 
a ter fama em todas as nações ao redor. E ele podia falar três mil 
provérbios, e seus cânticos vieram a ser mil e cinco. E falava sobre 
as árvores, desde o cedro que há no Líbano até o hissopo que brota 
no muro; e falava sobre os animais e sobre as criaturas voadoras, e 
sobre as coisas moventes, e sobre os peixes. E vinham de todos os 
povos para ouvir a sabedoria de Salomão, sim, de todos os reis da 
terra que tinham ouvido [falar] da sua sabedoria. (15Reis 4:29-33). 
 
Repetidas vezes, plantas, animais, pedras preciosas e metais estão 
presentes nas imagens vívidas do livro. O escritor, como se esperaria de um rei 
como Salomão, estava bem familiarizado com a terra habitada pelos israelitas — a 
planície costeira, as baixadas, as cadeias montanhosas do Líbano, Hermom, 
Antilíbano e Carmelo, os vinhedos de En-Gedi e “as lagoas de Hésbon, junto ao 
portão de Bate-Rabim” são lugares mencionados por Salomão. (Cântico de Salomão 
7:4,5) 
O poema foi composto quando Salomão possuía 60 rainhas e 80 
concubinas (Cântico de Salomão 6:8). Isto aponta para a parte inicial do seu reinado 
de 40 anos (1037-998 AEC), visto que Salomão finalmente veio a possuir 700 
esposas e 300 concubinas. (1Reis 11:3). 
As expressões de afeto contidas em Cântico dos Cânticos talvez pareçam 
muito incomuns para o leitor ocidental, mas deve-se lembrar que o cenário para este 
cântico era um cenário oriental de cerca de 3.000 anos atrás. 
 
5 Primeiro Reis foi um livro escrito pelo profeta judeu Jeremias, o livro relata as conquistas de Davi, 
as quais haviam se estendido desde o território de Israel até os limites fixados por Deus, desde o rio 
Eufrates, no Norte, até o rio do Egito, no Sul. Também destaca o reinado de Salomão até a sua 
morte, bem com a divisão da nação de Israel em dois reinos. (TODA A ESCRITURA É INSPIRADA 
POR DEUS E PROVEITOSA, p.124) 
 
32 
 
Em nenhum de seus versículos aparece o tetragrama hebraico YHVH 
(Jeová), não faz referência à divindade ou a qualquer prática de culto religioso, não 
reflete sobre a história ou o futuro de Israel. E mais ainda, segundo alguns 
intérpretes, o livro traz uma perspectiva antipatriarcalista, nele se faria ouvir, como 
poucas vezes nas páginas bíblicas, a voz da mulher, emitindo assim sua própria 
vontade e desejo. 
No livro bíblico Cântico dos Cânticos, é Sulamita quem conduz o jogo 
amoroso, e sai-se melhor em relação ao poderoso monarca, o Rei Salomão, ao 
resistir às tentativas de sedução, buscando seu amado, porém com outros anseios, 
dona de sua história pessoal e consciente de sua subjetividade. 
 
2.2 Enredo do livro bíblico Cântico dos Cânticos 
 
A figura central do Cântico dos Cânticos é a sulamita. As outras 
personagens mencionadas no poema são seu amado pastor, sua mãe, seus irmãos, 
o Rei Salomão, as “filhas de Jerusalém” (as damas da corte de Salomão) e as “filhas 
de Sião” (mulheres residentes em Jerusalém). As pessoas podem ser distinguidas 
pelo que dizem sobre si mesmas ou o que se diz a elas. No texto hebraico, as 
formas gramaticais dão a entender o gênero (masculino ou feminino), bem como o 
número (singular ou plural), assim facilitando a identificação dos personagens. 
Para tornar mais evidente essa diferença em certas línguas, é necessário 
acrescentar palavras esclarecedoras para transmitir plenamente o sentido do 
original. A exemplo temos, no Cântico dos Cânticos capitulo um, versículo cinco, o 
hebraico rezaliteralmente: “preta eu e linda.” As palavras hebraicas para “preta” e 
“linda” acham-se no gênero feminino, como em português. Para destacar isso, 
tomamos como exemplo na Tradução do Novo Mundo da Biblia Sagrada, bíblia 
publicada em português pela Sociedade Torre de Vigia, a seguinte tradução para o 
termo “preta eu e linda”: “Sou uma moça preta, mas linda.” 
 O enredo relata o inabalável amor duma donzela Sulamita por um jovem 
pastor, apesar das tentativas do rei Salomão de consegui-la para si. Do capítulo um, 
versículo um, até o capitulo três, versículo cinco, temos o momento em que a 
donzela a sulamita se encontra no acampamento de Salomão. Ao ser vista pelo rei 
33 
 
ou por um de seus servos, a sulamita foi levada ao acampamento de Salomão. O rei 
Salomão revelou sua admiração pela jovem. Mas a sulamita não sentiu nenhuma 
atração pelo poderoso monarca, e expressou saudades de seu amado pastor. As 
“filhas de Jerusalém”, por conseguinte, recomendaram que a sulamita deixasse o 
acampamento e procurasse seu amado pastor. O Rei Salomão, porém, não estava 
disposto a deixá-la ir embora e começou a louvar-lhe a beleza, prometendo modelar 
argolinhas de ouro e botõezinhos de prata para ela. A sulamita informou, então, ao 
rei que o objeto de seu amor era outra pessoa. Ela clama o amor de seu querido 
pastor e deseja que ele a retire daquele ambiente. Nesses capítulos, também a 
sulamita explica às mulheres da corte que o motivo de sua pele escura é a 
exposição ao sol, enquanto trabalhava nos vinhedos de seus irmãos. 
Salomão continua a promete-lhe enfeites de ouro e de prata, mas ela 
insiste que continuará a amar seu querido pastor. Nesse momento, aparece seu 
pastor e louva a beleza da sulamita, comparando-a a um lírio entre ervas daninhas, 
expressando assim o seu afeto por ela. 
A jovem sulamita também assegura ao seu pastor o seu amor por ele. Ao 
falar às “filhas de Jerusalém”, a sulamita comparou seu amado pastor a uma árvore 
frutífera entre as árvores da floresta e, solenemente, pôs às “filhas de Jerusalém” 
sob juramento, pelo que era lindo e gracioso, o amor pelo seu pastor, a não 
tentarem suscitar nela um amor indesejado. Sempre, mesmo durante as horas 
noturnas, ela continuava a ansiar por seu amado pastor, e relembrou às “filhas de 
Jerusalém” que elas estavam sob juramento de não tentarem despertar nela o amor 
até que esse amor estivesse disposto a ser despertado naturalmente. 
A sulamita diz às mulheres da corte que o pastor dela é como uma 
macieira, cuja sombra ela deseja, apaixonadamente; a sulamita lembra-se de 
quando seu amado a convidou a acompanhá-lo; entretanto, os seus irmãos 
disseram-lhe que era preciso proteger os vinhedos contra as pequenas raposas. Á 
noite, ela sonha que procura seu amado e o encontra. 
 O capitulo três, do versículo seis, até o capitulo oito, versículo quatro 
relata que quando voltou a Jerusalém, Salomão levou junto a sulamita. Vendo o 
cortejo que se aproximava da cidade, várias “filhas de Sião” comentaram a 
esplêndida beleza do cortejo. Em Jerusalém, o amado pastor, tendo seguido o 
cortejo, entrou em contato com a Sulamita e louvou a sua beleza, assegurando-lhe, 
34 
 
assim, o seu amor. A sulamita expressou seu desejo de partir da cidade, e ele 
continuou a expressar seu amor por ela: 
 
Entrei no meu jardim, ó minha irmã, noiva minha. (Cântico de 
Salomão 5:1) 
 
 
 A resposta da Sulamita a este convite foi: 
 
Entre meu querido no seu jardim e coma dos seus frutos seletos. 
(Cântico de Salomão 4:16) 
 
 
 As mulheres de Jerusalém os encorajaram, dizendo: 
 
Comei, companheiros! Bebei e embriagai-vos com expressões de 
afeto! (Cântico de Salomão 5:1). 
 
 Após esse momento, a sulamita conta às mulheres da corte o pesadelo 
que teve: seu amado chegou quando ela estava na cama; ele partiu antes de ela 
poder abrir a porta; procurou-o em vão na cidade e foi maltratada pelos vigias da 
cidade. A sulamita revela às “filhas de Jerusalém” que estava desfalecida de amor; 
elas queriam saber o que havia de tão especial no seu querido. A sulamita passou 
então a descrever o seu amado em termos elogiosos. Perguntada por elas onde o 
pastor se encontrava, informou-as que ele estava pastoreando entre os jardins. Mais 
uma vez, Salomão confrontou a sulamita com expressões de louvor. Informado de 
que a sulamita não procurara a companhia dele Salomão, o rei rogou que ela 
voltasse. Isto induziu a Salomão a perguntar: 
 
Volta, volta, ó Sulamita! Volta, volta, para que te possamos 
contemplar! Que estais contemplando na Sulamita? Algo como a 
dança de dois acampamentos! (Cântico de Salomão 6:13). 
Salomão aproveitou isso como oportunidade para expressar mais 
admiração por ela. Mas a sulamita continuou imutável no seu amor e exortou 
novamente as “filhas de Jerusalém” a não despertarem nela o amor, quando este 
não estava disposto a surgir espontaneamente. 
Nesses capítulos, vê-se também que Salomão expressa seu amor à 
Sulamita, dizendo que ela é mais bela do que suas 60 rainhas e 80 concubinas. 
35 
 
Sulamita, por sua vez, se mostra insensível e dura, indicando que ela só está ali 
porque a execução dum serviço a levara perto do acampamento do rei. Salomão 
responde descrevendo vividamente a beleza dela, mas a Sulamita resiste à 
conversa hábil dele, insistindo em que ela pertencia ao seu querido pastor. 
No capítulo oito, do versículo cinco até o versículo catorze, vendo-a 
chegar, os irmãos da Sulamita perguntaram: 
 
Quem é esta mulher subindo do ermo, encostando-se no seu 
querido? (Cântico de Salomão 8:5). 
 
Os irmãos da Sulamita não se haviam dado conta de que sua irmã tinha 
tal constância no amor. Em anos anteriores, um irmão dissera a respeito dela: 
 
Temos uma pequena irmã que não tem peitos. Que faremos por 
nossa irmã no dia em que for pedida? (Cântico de Salomão 8:8). 
 
Em forma de proteção, outro irmão respondeu: 
 
Se ela for uma muralha, construiremos sobre ela um parapeito de 
prata; mas se ela for uma porta, nós a bloquearemos com uma tábua 
de cedro. (Cântico de Salomão 8:9). 
 
Com tudo isso, a Sulamita tendo provado sua lealdade, volta para casa, e 
apoiando-se no seu querido pastor, podia dizer: 
 
Sou uma muralha, e meus peitos são como torres. Neste caso me 
tornei aos seus olhos como aquela que acha paz. (Cântico de 
Salomão 8:10). 
 
Salomão permitiu que a Sulamita voltasse para casa visto que ela havia 
resistido com bom êxito às suas tentativas de sedução. Assim, a sulamita podia, 
agora, satisfazendo-se com o seu próprio vinhedo, permanecer leal no seu afeto ao 
seu amado pastor. 
 
 
 
 
36 
 
3 OS DISCURSOS VEICULADOS NO CÂNTICO DOS CÂNTICOS 
 
 
Levando em consideração tudo o que foi dito a respeito do livro bíblico 
Cântico dos Cânticos, procurar-se-á, neste capitulo identificar os diferentes 
discursos, bem como a cena enunciativa e o etos que nele se fazem presentes. 
Vimos, na fundamentação teórica, que no interior de um discurso existe 
um grupo especifico sociologicamente caracterizado, de onde os discursos que 
serão formados influenciarão o social e a linguagem. 
Na análise a que nos propomos, destacaremos: a cena englobante, que 
se refere aos discursos, que são: romântico, histórico, religioso, patriarcal e o 
antipatriarcal. E a cena genérica, que diz respeito ao gênero do discurso, que, neste 
caso é um cântico bíblico. 
Em relação à terceira cena – a cenografia – ou seja, a cena criada pelo 
texto, no livro bíblico Cântico dos Cânticos, ela se mostra pastoril campestres, 
repleta de imagens agrestes, os enunciadores demostram conhecimentos da fauna 
e da flora da região, como podemos observar no trecho abaixo: 
 
Sou apenas um açafrão da planície costeira, um lírio das baixadas. 
Como o lírio entre as plantas espinhosas, assim é minha 
companheira entre as filhas. Como a macieira entre as árvores da 
floresta, assim é meu querido entre os filhos. Desejeiapaixonadamente a sua sombra, e ali me sentei, e seu fruto tem sido 
doce para o meu paladar. (Cântico de Salomão 2:1-3) 
 
A seguir, faremos as análises dos discursos veiculados no livro bíblico 
Cântico de Salomão, bem como o etos presentes em cada discurso veiculado. 
 
3.1 Discurso Romântico 
 
 No livro bíblico Cântico dos Cânticos, encontramos três personagens 
apaixonadas: o Rei Salomão, que ama a sulamita; a sulamita que ama o seu pastor, 
e o pastor que por sua vez, ama a sulamita, o que desperta no Rei um desejo de 
posse, já no jovem casal um desejo de estarem juntos, o que leva a jovem sulamita 
dizer: 
 
37 
 
Puxa-me contigo; corramos. (Cântico de Salomão 1:4) 
 
Observamos que o discurso romântico está presente em todo o livro 
bíblico Cântico dos Cânticos, pois a sulamita expressa seu grande amor e anseio 
pelo seu amante, assim como Salomão que, a todo momento, aparece na história 
elogiando a jovem. O pastor por sua vez destaca sua grande afeição por sua amada, 
pois declara: 
 
Como você é bela, minha amada! (Cântico de Salomão 1:15) 
 
 O Capitulo três do livro bíblico Cântico dos Cânticos, nos apresenta um 
sonho da sulamita: 
 
Em minha cama, durante as noites, busquei aquele a quem eu amo. 
Eu busquei, mas não o encontrei. (Cântico de Salomão 3:1) 
 
Mostrando, assim, um discurso romântico, no qual verdadeiro amor não 
desaparece durante o sono, mas manifesta-se em sonhos sobre a pessoa amada. 
No sonho ou no pesadelo da sulamita, observa-se uma constante preocupação da 
jovem com o seu amado que, durante as horas do dia, ela o busca por toda parte, 
mas não pode encontrá-lo. 
O discurso romântico ainda é visto com muita intensidade no livro bíblico 
Cântico dos Cânticos, quando o pastor, ao se referir a sua amada declara que ela 
possui “olhos de pomba”. O pastor certamente se refere aos olhos puros, inocentes 
de sua amada e talvez à natureza tímida das pombas. Continuando sua descrição 
ele diz que “favos de mel” emanam dos seus lábios e “leite e mel” estão debaixo da 
sua língua; ou seja, sua amada é doce, seu beijo destila doçura, tem o gosto do leite 
e do mel, alimentos prazerosos à vida. (Cântico de Salomão 4:1,11) 
A presença de elementos da natureza, como, por exemplo: frutas, 
temperos, animais, árvores e flores são elementos que estão presentes no discurso 
romântico que ocorre no Cântico dos Cânticos: 
 
 
 
 
38 
 
 
Meu querido é deslumbrante e corado, o mais conspícuo de dez mil. 
Sua cabeça é ouro, ouro refinado. Os cachos de seu cabelo são 
cachos de tâmaras. Seu [cabelo] preto é como o corvo. Seus olhos 
são como pombas junto aos regos de água, banhando-se em leite, 
assentados dentro dos aros. Suas faces são como canteiro de 
especiarias, torres de ervas aromáticas. Seus lábios são lírios, 
gotejando mirra líquida. Suas mãos são cilindros de ouro, cheios de 
crisólito. Seu abdome é uma placa de marfim, coberta de safiras. 
Suas pernas são colunas de mármore, fundadas em pedestais de 
encaixe de ouro refinado. Seu aspecto é como o do Líbano, seleto 
como os cedros. (Cântico de Salomão 5:10-15) 
Tua pele é um paraíso de romãs, com as frutas mais seletas, plantas 
de hena junto com plantas de nardo; nardo e açafrão, cálamo e 
canela, junto com toda sorte de árvores do Líbano, mirra e aloés, 
junto com todos os perfumes mais finos. (Cântico de Salomão 
4:13,14) 
 
 
 Notamos também que o sonho e o devaneio presentes no livro, são 
elementos que culminam para a angustia e ansiedade da jovem em não ter seu 
amado pastor perto: 
 
Na minha cama, durante as noites, tenho procurado aquele a quem 
minha alma tem amado. Procurei-o, mas não o achei. Deixa-me 
levantar-me, por favor, e fazer a ronda da cidade; procure eu nas 
ruas e nas praças públicas aquele a quem a minha alma tem amado. 
Procurei-o, mas não o achei. (Cântico de Salomão 3:1,2) 
 
 
Também podemos observar, que uso dos dêiticos pessoais (eu e tu (ou 
você)), dos dêiticos temporais (hoje) e dos dêiticos demonstrativos (essa/esse/isso), 
indicam que a enunciação é presente, colocam os coenunciadores nesse lugar 
enunciativo, seduzindo-o, convidando-o a viver a realidade do texto: 
 
Conta-me, ó tu a quem a minha alma tem amado, onde pastoreias, 
onde fazes o rebanho deitar-se ao meio-dia. Por que é que eu me 
devia tornar igual a uma mulher que se cobre de luto, entre as greis 
dos teus associados? Se tu mesma não sabes, ó mais bela entre as 
mulheres, sai tu mesma nas pegadas do rebanho e apascenta tuas 
cabritinhas junto aos tabernáculos dos pastores. (Cântico de 
Salomão 1:7,8) 
 
39 
 
 
Assim o texto marca um etos de fidelidade, de um enunciador com um 
enorme sentimento amoroso, e disposto a lutar pela realização desse sentimento. 
Mas não é somente o discurso romântico que está presente no livro 
bíblico Cântico dos Cânticos, encontramos outros discurso, que destacaremos a 
seguir. 
 
 
3.2 Discurso Histórico 
 
No livro bíblico Cântico dos Cânticos, o rei para tentar conquistar a moça 
faz uso do discurso histórico para elogiar a sulamita: 
 
Eu comparo você, minha amada, a uma égua dos carros de Faraó” 
(Cântico de Salomão 1:9) 
 
 
O rei Salomão era aliado do Egito; essa aliança permitia que o rei, 
exportasse cavalos de grande porte e beleza. 
Ainda outro uso do discurso histórico se dá pela menção de lugares da 
região de Israel, como as tendas da tribo nômade de Quedar, que era um 
descendente de Ismael, filho de Abraão, patriarca da nação de Israel (Cântico de 
Salomão 1:5). 
Quando o enunciador faz menção à Senir, Hermon, Amana e ao Líbano, 
os montes mais altos das montanhas rochosas de Israel, ele que falar a respeito do 
estabelecimento do amor, firme e inabalável, e até mesmo inacessível para aqueles 
que querem atrapalhar ou acabar com esse amor: 
 
Que venhas comigo do Líbano, ó noiva, [que venhas] comigo do 
Líbano. Que desças do cume do Líbano, do cume de Senir, sim, do 
Hermom, das guaridas dos leões, das montanhas dos leopardos. 
(Cântico de Salomão 4:8) 
 
40 
 
No caso do Líbano, o enunciador também quer se referir à produtividade 
local, pois o Líbano é uma cordilheira coberta de neve, com encostas rodeadas de 
vinhedos, as montanhas mais abundantes em cedros, árvores de grande valor e 
habitadas por leões e leopardos. Quanto a En-Gendir, era um local de águas doces, 
um oásis na praia ocidental do Mar Morto, e Gileade era um lugar no Israel antigo 
propicio para apascentar rebanhos: 
 
Como cacho de hena é para mim o meu querido, entre os vinhedos 
de En-Gedi (Cântico de Salomão 1:14) 
 
Eis que és bela, ó companheira minha. Eis que és bela. Teus olhos 
são [os das] pombas, atrás do teu véu. Teu cabelo é como uma grei 
de caprídeos que desceram pulando da região montanhosa de 
Gileade. (Cântico de Salomão 4:1) 
 
Outros lugares citados por Salomão, comparando-os com a sulamita, com 
objetivo de seduzi-la, a saber: Damasco, Monte Carmelo, Hesbon, Bate-Rabim: 
 
Teu pescoço é como torre de marfim. Teus olhos são como as 
lagoas de Hésbon, junto ao portão de Bate-Rabim. Teu nariz é como 
a torre do Líbano, que olha para Damasco. Tua cabeça sobre ti é 
como o Carmelo, e as madeixas de tua cabeça são como lã tingida 
de roxo. O rei é mantido preso pelas ondulações. (Cântico de 
Salomão 7:4,5) 
 
 
Esses lugares dizem respeito à fertilidade e à produtividade. O enunciador 
refere-se à virgindade de sua amada. Sulamita ainda é comparada a Tirza, 
conhecida na época também como Cidade Agradável, era uma cidade Cananéia que 
se destacava pela beleza de seus palácios: 
 
Tu és bela, ó companheira minha, como a Tirza, linda como 
Jerusalém, formidável como companhias ajuntadas em volta de 
estandartes (Cântico de Salomão 6:4) 
 
O amor ainda é exaltada, quando a jovem, em um sonho, descreve a 
cidade de Jerusalém, onde está reclusa: 
 
Vou me levantar e percorre a cidade; nas ruas e nas praças procuro 
aquele a quem eu amo. (Cântico de Salomão 3:2)41 
 
 
No discurso histórico, quando o enunciador descreve a chegado do Rei 
Salomão e de sua comitiva, na qual o Rei trazia a jovem sulamita, usa-se um 
vocabulário bélico: 
 
Vejam! É a liteira de Salomão. Em volta dela há sessenta homens 
valentes, dentre os guerreiros valentes de Israel; todos eles armados 
com uma espada, todos treinados para a guerra, cada um com sua 
espada na cintura para protege-lo dos perigos da noite. (Cântico de 
Salomão 3:7,8) 
 
Como vemos acima, liteira é uma cadeira com cobertura, usada para 
transportar uma pessoa importante, que, nesse caso, é o Rei Salomão. 
Ainda no universo bélico e com o discurso histórico, quando o pastor 
compara o pescoço de sua amada com a torre de Davi, evidencia-se uma postura 
militar, bem ereta, forte como a torre de Davi, a qual também servia de proteção para 
a população em tempos de guerra: 
 
... como a torre a torre de Davi, construída com fileiras de pedras, na 
qual se penduram mil escudos, todos os escudos redondos dos 
guerreiros valentes (Cântico de Salomão 4:4). 
 
Em todo o momento que Salomão descreve sua amada faz referência ao 
ambiente da época na qual viveu, como se ele concretizasse o seu sentimento 
através dessas referências. O discurso histórico nos revela o etos de um enunciador 
apaixonado e nacionalista, uma vez que usa lugares belos e importantes para 
relacioná-los à amada, no caso de Salomão e do pastor, ou à seu amado, no caso 
da sulamita. 
 
3.3 Discurso Religioso 
 
Por pertencer ao conjunto de livros sagrada dos cristãos, a bíblia, o 
Cântico dos Cânticos já se mostra permeado por um discurso religioso, o qual tem 
por característica maior a defesa de uma doutrina ou crença de um grupo religioso. 
Mas diferentes dos demais livros bíblicos, o enunciador do Cântico de 
Salomão só menciona uma vez o nome de Deus, e na sua forma abreviada: 
42 
 
 
Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço; 
porque o amor é tão forte como a morte, a insistência em devoção 
exclusiva é tão inexorável como o Seol. Suas labaredas são as 
labaredas de fogo, a chama de Jah. (Cântico de Salomão 8:6) 
 
Jah é a forma abreviada do nome Jeová ou em hebraico YHVH. Mas o 
discurso religioso tem sua maior caracterização, quanto a forma de intepretação do 
livro. Os judeus consideravam o Cântico dos Cânticos como uma expressão do 
relacionamento amoroso entre Deus e o seu povo escolhido, a nação de Israel. Para 
os cristão o livro foi descrito como uma exemplificação do grande amor entre Cristo e 
a igreja, sendo o Rei Salomão considerado um tipo de Cristo, e a esposa 
representando a igreja. (TODA A ESCRITURA É INSPIRADA POR DEUS E 
PROVEITOSA, pág.117) 
 
 
3.4 Discurso Patriarcal 
 
O enunciador, no poema bíblico, emprega expressões como: 
 
Um jardim trancado é minha irmã, [minha] noiva, um jardim trancado, 
manancial selado. (Cântico de Salomão 4:12) 
 
Essas metáforas sugerem acesso restrito, e as figuras de linguagem 
significam que a noiva era virgem, e inteiramente casta. As ternas afeições da 
Sulamita só estariam disponíveis ao futuro marido. Pode-se dizer que essa 
declaração do poeta revela a realidade social onde ele se insere, pois na época em 
que o poema foi escrito, as famílias, como sinal de sua moralidade, guardavam a 
castidade das mulheres solteiras com rigor, revelando assim um discurso patriarcal. 
O discurso patriarcal possui como principal característica o caráter 
hierárquico que é o princípio de organização social, cultural e religiosa. Esse 
princípio hierárquico de organização social do gênero masculino provoca exclusões. 
Dentro do livro bíblico Cântico dos Cânticos podemos observar que, mesmo não 
mencionando o pai da jovem Sulamita, destaca-se os irmãos da jovem como 
autoridade. Portanto, quando ela queria aceitar o convite de seu amado, de ir com 
ele ver as belezas do começo da primavera, os irmãos da Sulamita ficaram irados 
43 
 
com ela, pois nos costumes orientais, não se permite uma moça solteira sair sozinha 
com um rapaz: 
 
 
 
Quanto à figueira, atingiu a cor madura para os seus figos 
temporãos; e as videiras estão em flor, têm dado a [sua] fragrância. 
Levanta-te, vem, ó companheira minha, minha bela, e vem. Ó minha 
pomba, nos retiros do rochedo, no esconderijo do caminho 
escarpado, mostra-me a tua forma, deixa-me ouvir a tua voz, pois a 
tua voz é agradável e a tua forma é linda. (Cântico de Salomão 
2:13,14) 
 
E impondo a autoridade dos irmãos homens da família, zelosos pela 
castidade de sua irmã, os irmãos da Sulamita tentaram protegê-la da tentação, 
aproveitaram a época da colheita das uvas, para manter a jovem longe do pastor 
amado e designaram-na para guardar os vinhedos contra as depredações das 
pequenas raposas: 
 
Não olheis para mim, porque sou trigueira, pois o sol me avistou. Os 
filhos de minha própria mãe zangaram-se comigo; designaram-me 
guardiã dos vinhedos, [embora] eu não guardasse o meu vinhedo, 
aquele que era meu. (Cântico de Salomão 1:6) 
 
O discurso patriarcal revela um etos autoritário e protetor em uma 
sociedade moralizante. 
 
 
3.5 Discurso Antipatriarcal 
 
Quando lemos os poemas no livro bíblico Cântico dos Cânticos 
observamos que ele possui uma sensibilidade feminina, onde a voz da mulher abre 
e fecha o livro, onde a mulher fala diretamente e em primeira pessoa, e onde os 
poemas não são contados por um narrador: 
 
 
44 
 
Eu sou do meu querido, e seu desejo ardente é para comigo. Vem 
deveras, ó meu querido, saiamos ao campo; pousemos entre as 
plantas de hena. Levantemo-nos deveras cedo e vamos aos 
vinhedos, para que vejamos se a videira floresceu, se a flor se abriu, 
se as romãzeiras brotaram. Ali te darei as minhas expressões de 
afeto. As próprias mandrágoras deram a [sua] fragrância, e junto às 
nossas entradas há toda sorte de frutas seletas. As novas bem como 
as antigas, ó meu querido, eu entesourei para ti. (Cântico de 
Salomão 7:10-13) 
 
Observa-se também que a mulher toma a iniciativa no Cântico dos 
Cânticos, e que, nestes poemas, o amor é oferecido pela mulher ao homem, e não 
ao contrário: 
 
Meu querido é deslumbrante e corado, o mais conspícuo de dez mil. 
Sua cabeça é ouro, ouro refinado. Os cachos de seu cabelo são 
cachos de tâmaras. Seu [cabelo] preto é como o corvo. Seus olhos 
são como pombas junto aos regos de água, banhando-se em leite, 
assentados dentro dos aros. Suas faces são como canteiro de 
especiarias, torres de ervas aromáticas. Seus lábios são lírios, 
gotejando mirra líquida. Suas mãos são cilindros de ouro, cheios de 
crisólito. Seu abdome é uma placa de marfim, coberta de safiras. 
Suas pernas são colunas de mármore, fundadas em pedestais de 
encaixe de ouro refinado. Seu aspecto é como o do Líbano, seleto 
como os cedros. Seu palato é pura doçura, e tudo a respeito dele é 
inteiramente desejável. Este é meu querido e este é meu 
companheiro, ó filhas de Jerusalém. (Cântico de Salomão 5:10-16) 
 
O universo feminino no Cântico dos Cânticos não se resume a uma única 
figura feminina. A participação feminina é liderada pelas mulheres que expressam 
diretamente seu amor. Junto a estas participantes principais está a coparticipação 
de outras figuras femininas que se apresentam em duas formas: as que observam o 
amor e o celebram, que são as filhas de Jerusalém ou Sião: 
 
Eu vos pus sob juramento, ó filhas de Jerusalém, que não tenteis 
despertar nem incitar [em mim] amor, até que [este] esteja disposto. 
(Cântico de Salomão 8:4) 
 
 
 Observa-se também que a jovem a sulamita invoca o poder materno para 
dar mais força aos seus desejos e vontades: 
 
45 
 
Segurei-o e não o larguei, até que o fiz entrar na casa de minha mãe 
e no quarto interior daquela que esteve grávida de mim. (Cântico de 
Salomão 3:4) 
 
Ali a tua mãe estava em dores de parto contigo. Ali sentiu dores de 
parto aquela que te dava à luz. (Cântico de Salomão 8:5) 
 
Quem me dera que fosses comoum irmão meu, mamando aos 
peitos de minha mãe! Se te achasse lá fora, eu te beijaria. As 
pessoas nem mesmo me desprezariam. Eu te conduziria, eu te 
introduziria na casa de minha mãe, que costumava ensinar-me. 
(Cântico de Salomão 8:1,2) 
 
 
No livro bíblico Cântico dos Cânticos, a intencionalidade das mulheres 
parece ser mais a de evidenciar que elas possuem poder: 
 
Sou uma muralha, e meus peitos são como torres... (Cântico de 
Salomão 8:10) 
 
 Este é um poder próprio e suficiente para se opor aos que as impedem 
de realizar os seus desejos, e capazes de alcançar o que buscam em toda sua 
plenitude, o prazer e a paz: 
 
...Neste caso me tornei aos seus olhos como aquela que acha paz. 
(Cântico de Salomão 8:10) 
 
 Nestas apresentações, elas vão além do que hoje se chamaria 
“autoestima”, pois a mulher não só se vê a si mesma como bela e pujante, mas 
sente-se poderosa. É este poder que o Cântico dos Cânticos transpira através da 
voz das mulheres: 
 
Meu vinhedo, aquele que me pertence, está à minha disposição. 
(Cântico de Salomão 8:12) 
 
 
Observa-se também, que, procurar o amado é procurar a liberdade de 
amar, apesar das dificuldades da sociedade patriarcal, onde a mulher simplesmente 
não tinha o direito de escolher o seu marido. Agora todas ganharam a consciência 
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que lhes permitem participar da mesma luta. Um luta cheia de obstáculos e difícil 
mas que vale a pena: 
 
Aonde foi teu querido, ó mais bela entre as mulheres? Para onde se 
virou teu querido, para que o procuremos contigo? (Cântico de 
Salomão 6:1) 
 
 
Assim, o discurso feminino presente no livro bíblico Cântico dos Cânticos, 
mostra um etos materno, que pode significar, mais do que um lugar de resistência 
social e econômica, uma referência do poder feminino. 
Portanto, na análise do livro bíblico Cântico dos Cânticos, constatamos 
que todo o livro é construído por uma cenografia que enfatiza a tentativa do rei 
Salomão de seduzir a jovem Sulamita, e a recusa de Sulamita a tal cortejo do rei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A pesquisa foi organizada em três capítulos: no primeiro, apresentamos o 
referencial teórico que fundamentou a pesquisa, através de um esboço histórico, e 
destacando-se alguns conceitos, tais como enunciação, dialogismo, 
interdiscursividade, intextualidade, ideologia, Formação Discursiva, Formação 
Ideológica, cena enunciativa, etos e o gênero do discurso. No segundo, falamos 
sobre o livro bíblico Cântico dos Cânticos e seu autor, o enredo e o esboço histórico. 
No terceiro capitulo, foi feita as análises do discursos veiculados no livro bíblico 
Cântico de Salomão. 
Começamos esta pesquisa a partir de algumas questões: qual(is) o(s) 
discurso(s) presentes no livro bíblico Cântico de Salomão? Qual a cena enunciativa 
e o etos, no livro bíblico Cântico dos Cânticos? Qual(is) o posicionamento da mulher 
no contexto sócio-histórico no livro bíblico Cântico dos Cânticos? Temos agora ao 
final da pesquisa, condições de responder a essas questões. 
Os discursos encontrados no livro bíblico Cântico dos Cânticos foram: 
romântico, histórico, religioso, patriarcal e antipatriarcal, o que por sua vez 
ocasionou na legitimação, e reforço do discurso do enunciador. 
Também constatamos que todo o livro é construído por uma cenografia 
que enfatiza a tentativa do rei Salomão de seduzir a jovem sulamita, e a recusa de 
sulamita a tal cortejo do rei, a cenografia também se mostra pastoril campestres, 
repleta de imagens agrestes, os enunciadores demostram conhecimentos da fauna 
e da flora da região. 
 No Cântico dos Cânticos, o discurso romântico caracterizou o etos do 
enunciador com um enorme sentimento amoroso, e disposto a lutar pela realização 
desse sentimento, no discurso histórico observou-se o etos de um enunciador 
apaixonado e nacionalista, uma vez que usa lugares belos e importantes para 
relacioná-los à amada, no caso de Salomão e do pastor, ou à seu amado, no caso 
da sulamita. O discurso patriarcal revelou um etos autoritário e protetor em uma 
sociedade moralizante. Quanto ao discurso antipatriarcal, temos um etos materno, 
que pode significar, mais do que um lugar de resistência social e econômica, uma 
referência do poder feminino. 
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Com esse estudo comprovou-se que, a mulher, mesmo vivendo em um 
período em que o sexo feminino era tida como propriedade masculina, onde a 
cultura e as ideologias tinham costume de inferiorizar a mulher, o rei Salomão deu 
voz a sulamita, destacando, desse modo, seus desejos e anseios, e isso ocorreu 
pois ao escrever o livro, o rei Salomão fez com que a voz da mulher inicia-se e 
fecha-se o livro, dando assim a oportunidade para a mulher falar diretamente com o 
leitor em primeira pessoa, assumindo assim um perfil corajoso e determinado a lutar 
pelos seus sonhos, e defender o seu direito de amar a quem deseja. 
Observou-se que em todo livro bíblico Cântico dos Cânticos, a jovem 
sulamita não é tomada com um sujeito passivo, pelo contrário, ela assume uma 
posição de lutadora, mesmo estando longe de sua casa, em meio ao reduto do rei, e 
a todo momento sendo tentada pelas belas palavras e promessas do rico rei 
Salomão, ela não se deixa seduzir e se mantém fiel ao seu amado pastor. 
Esperamos que a presente análise seja mais um meio de contribuir para 
que professores da área de linguagem e também de outras áreas, percebam as 
ampliações positivas que o discurso pode causar. 
 
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