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Climatério Introdução A transição menopáusica é uma progressão endocrinológica gradual, que leva ao fim dos períodos menstruais e à senescência ovariana. Climatério: período fisiológico que se inicia desde a primeira falha ovariana, mesmo que os períodos continuem regulares e ovulatórios, até a senilidade (65 anos). Cada mulher pode iniciar seu climatério de forma diferente e pode não ser sintomática. Perimenopausa: anos que precedem a menopausa, com distúrbios da duração do ciclo menstrual até os doze meses da ultima menstruação, pode preceder a menopausa em 2 a 8 anos. Menopausa: última menstruação devido a falência ovariana, podendo ser dita assim apenas 1 ano após seu término. A idade média de ocorrência é aos 51 anos, sendo precoce antes dos 40 e tardia após os 55. Pós-menopausa: inicia aos 12 meses após a ultima menstruação e vai até os 65 anos de idade. Senilidade: após os 65 anos. O período peri e pós-menopausa tem maior significado clínico, pela variedade de sintomas e os distúrbios associados à queda de estrogênio. Perimenopausa Alterações hormonais ❖ A duração dos ciclos menstruai está ligada à frequência e à qualidade do crescimento e desenvolvimento folicular ❖ Após a menarca, há um período de 5 a 7 anos, em que os ciclos são mais longos e vão se regularizando até atingir o padrão da idade reprodutiva, 2 a 8 anos antes da menopausa, esse fenômeno também acontece, até cessar as menstruações ❖ A maior incidência de ciclos anovulatórios é antes dos 20 e após os 40, sendo marcados por irregularidade menstrual A duração da fase folicular é o principal determinante do ciclo menstrual, estando aumentada na perimenopausa por causa de um recrutamento e amadurecimento precoce dos folículos, pelos altos níveis de FSH (> 35 UI/l). ❖ Há uma elevação do FSH e uma queda da inibina, estando o LH normal e o estradiol levemente aumentado ❖ A mulher perde folículos a vida toda, o numero máximo de folículos primordiais é alcançado com 20 semanas de gestação (7 milhões de oogônias), sendo que 70% desses sofrem apoptose até o nascimento e na puberdade tem então 300.000 ❖ Ao longo da via reprodutiva, cerca de 500 folículos serão liberados, e os outros sofrerão atresia, quando o numero de folículos alcança 25.000, há uma aceleração da perda folicular ❖ Com menos folículos e com o funcionamento inadequado dos que restam, a inibina (produto das células da granulosa) cai e o feedback negativo sobre o FSH é interrompido ❖ A menstruação cessa quando o número de folículos alcança 1.000 ❖ Apesar do nível de FSH aumentado, há uma resistência à ação desse hormônio ❖ Os níveis de estradiol so começam a cair de 6 meses a 1 ano antes da parada completa do desenvolvimento folicular (antes disso podem estar aumentados pela hiperestimulação pelo FSH) Na perimenopausa há uma maior frequência de ciclos anovulatórios, mas quando há ovulação, há produção normal de corpo lúteo e secreção de progesterona → tendo estrogênio, ovulação, formação do corpo lúteo e progesterona, o feedback do LH se mantém ❖ A dosagem de FSH, LH e estrogênio não devem ser rotineiras e os hormônios tireoideanos devem ser dosados apenas se houver sintomas Manifestações clínicas ❖ Se inicia entre 39 e 51 anos e termina com a instalação da menopausa Sintoma mais comum é a irregularidade menstrual e o sangramento anormal só pode ser considerado efeito dos hormônios depois de investigação minuciosa para excluir causas estruturais → câncer de endométrio deve ser considerado ❖ A análise histopatológica deve ser feita em pacientes na perimenopausa, a não ser que o USGTV mostre espessura endometrial < 5 mm → a principal causa de SUA é o endométrio proliferado e espessado, por efeito do estrogênio sem a progesterona junto ❖ O tratamento nesse caso é progestogênio cíclico até que se consuma a falha estrogênica, quando esse hormônio também começará a ser reposto ❖ Se tiver sintomas vasomotores ou necessidade de anticoncepção pode ser usado o AC combinado de baixa dosagem, desde que não haja contraindicações, após os 50 anos, deve-se substituir os AC combinados pela TRH, pela diferença de dosagem de estrogênio ❖ Os fogachos podem se iniciar nessa fase e continuar pós-menopausa Menopausa Alterações hormonais Apesar do ovário ter esgotado sua população folicular, o ovário ainda está ativo, porem com um perfil hormonal diferente ❖ Não há folículos ovarianos, logo não há crescimento folicular, então a produção estrogênica ovariana se torna mínima ❖ Ainda há níveis mensuráveis de estradiol e estrona, pela capacidade de conversão periférica dos androgênios produzidos → o principal estrogênio após a menopausa é a estrona, derivada da testosterona e androstenediona (convertida no tecido muscular, hepático, cerebral e adiposo) Mulheres obesas tem maior nível de estrogênio circulante, logo maior risco de hiperplasia endometrial e câncer de endométrio, ao contrário das magras (estas tem maior risco de osteoporose) ❖ O estradiol continua sendo produzido também, derivando da conversão da estrona ❖ A alteração dos níveis estrogênicos é a responsável pela morbidade nesse período ❖ Com a diminuição do numero de folículos, aumenta o estroma ovariano por reincorporação das células da teca dos folículos atrésicos ❖ O ovário na vida reprodutiva produzem 1/3 da androstenediona e ¼ da testosterona, o resto é vindo das suprarrenais ou da conversão da androstenediona ❖ Após a menopausa há redução de todas as formas de produção androgênica, caindo 25% da produção de testosterona e 50% da androstenediona ❖ Os ovários se tornam responsáveis por 20% da produção de androstenediona e 40% de testosterona, sendo os androgênios os principais produtos ovarianos Valores pós-menopausa 1. Estradiol: 10-20 pg/ml 2. Estrona: 30-70 pg/ml 3. Testosterona: 15-70 ng/ml 4. Androstenediona: 30-150 ng/ml ❖ Não há progesterona após a menopausa ❖ A progesterona na vida reprodutiva protege o endométrio dos efeitos estrogênicos por regulação de receptores e efeitos intranucleares inibitórios diretos ❖ A ausência de progesterona acaba com os sintomas pré-menstruais (correlacionados com a variação cíclica dele) A queda dos hormônios ovarianos diminui o feedback negativos sobre os hormônios hipofisarios e as gonadotrofinas se elevam (aumento de 20x de FSH e 3x de LH) ❖ O pico acontece 1 a 3 anos após a ultima menstruação e então ocorre declínio gradual Ausência de menstruação + FSH e LH elevados = falência ovariana Manifestações clínicas ❖ Idade média do término das menstruações é com 51 anos ❖ É diagnosticada retrospectivamente geralmente, mas pode ser diagnosticada por dosagem hormonal precoce (amenorreia + inibina baixa + FSH alto), sintomatologia (fogachos ou rubores) e pelo teste de supressão com um progestógeno Administra o progestógeno por 10 dias, se não houver sangramento após a suspensão da droga, indica que não houve preparação endometrial pelo estrógeno. Faz então um curso de administração de estrogênio, seguido por um de progesterona, se houver sangramento, está confirmada a falência ovariana ❖ Em usuárias de AC é necessário dosar o FSH no último dia de pausa entre as cartelas, sendo repetido e confirmado após 30 dias sem medicação ❖ A mulher pode continuar usando AC combinado se não houver contraindicações Pós-menopausa Mesmas alterações hormonais da menopausa. A clínica desse período é decorrente da deficiência estrogênica Alterações precoces ❖ Amenorreia prolongada ❖ Alterações vasomotoras (fogachos) são os sintomas mais comuns e tem como fator precipitante principal a exposição à altas temperaturas (gatilho hipotalâmico), a obesidade, sedentarismo, fumo, exercícioextenuante e baixo nível socioeconômico são outros fatores Períodos transitórios e recorrentes de rubor no pescoço, face e tórax, sudorese e sensação de calor, acompanhados de palpitações, sensações de ansiedade e calafrios. Há um aumento do fluxo sanguíneo cutâneo, da FC e da temperatura corporal ❖ Duram de 1 a 3 min e podem se repetir até 30x no dia, sendo mais frequentes à noite e melhoram em ambientes frios ❖ Podem recorrer por até 5 anos após a menopausa ❖ Relacionado com o aumento dos pulsos de GnRH pelo hipotálamo → estímulo inapropriado dos mecanismos liberadores de calor ❖ Distúrbios do sono, diminuição da libido e alterações do humor também são sinais marcantes Alterações em longo prazo Alterações atróficas Há receptores estrogênicos alfa e beta, espalhados em vários tecidos, produzindo uma diversidade de sintomas ❖ A diminuição do estrogênio é a grande responsável pelas alterações no epitélio vaginal que persistem até o fim da vida 1. Diminuição da espessura e perda da camada superficial 2. Perda da elasticidade 3. Aumento do tecido subepitelial conectivo 4. Perda do enrugamento vaginal 5. Diminuição e estreitamento do canal vaginal, com perda da distensibilidade 6. Redução das secreções vaginais 7. Aumento do pH vaginal ❖ A diminuição do epitélio vaginal expõe camadas mais sensíveis, o que predispõe à traumas e infecções, além disso, há menor reserva de glicogênio, produzindo pouco ácido lático e aumentando o pH ❖ Sintomas vaginais → ressecamento, dispareunia, infecções vaginais ❖ As estruturas do trato urinário também tem receptores estrogênicos, por isso são afetados → disúria, urgência urinária, ITU, incontinência urinária de esforço ❖ A atrofia vaginal pode ser confirmada pelo índice de maturação, medida do pH, dosagem hormonal, citologia e USG endometrial Índice de maturação: exame citológico da superfície do terço superior da vagina, é feita a proporção das células parabasais, intermediárias e superficiais, o normal é 40- 70 intermediárias, 30-60 superficiais e nenhuma parabasal. Na atrofia tem aumento das parabasais e diminuição das superficiais. Isso pode interferir na coleta citológica, sendo indicado o tratamento estrogênico antes. Sangramento uterino anormal ❖ O SUA é queixa frequente, sendo as principais causas: estrogênios exógenos, vaginite atrófica, câncer de endométrio, pólipos e hiperplasia endometrial Neoplasias devem ser descartadas no caso de SUA (tumores ovarianos podem produzir estrogênio) ❖ O câncer de endométrio deve ser pesquisado por biopsia: curetagem por aspiração ou histerosopia (a histeroscopia é o exame de escolha para diagnóstico de lesões hiperplásicas e pode excluir qualquer afecção maligna andometrial) ❖ SUA com endométrio < 5 mm pode ser atribuído à atrofia vaginal, mas precisa de mais informações para excluir a necessidade de biopsia, incluindo a presença de fator de risco como indicador de investigação ❖ USGTV auxilia na propedêutica caso o endométrio tenha > 5 mm, na ausência de TRH ❖ Se a causa não for neoplásica, o SUA será autolimitado e pequeno, não precisando de tratamento, se for hiperplasia endometrial típica sem atipias, pode se fazer terapia com progesterona Sistema nervoso central ❖ Dificuldade de concentração, diminuição da cognição e perda de memoria recente Doença cardiovascular Principal causa de morte pós-menopausa ❖ A grande maioria das desordens é pela aterosclerose ❖ Fatores de risco: HAS, tabagismo, dislipidemia, DM, obesidade e sedentarismo ❖ O estrogênio é fator protetor 1. Diminuição do LDL e aumento do HDL 2. Efeitos antiescleróticos arteriais diretos 3. Estímulo à produção endotelial de vasodilatadores e antiagregantes 4. Ação inotrópica 5. Melhora do metabolismo periférico da glicose com diminuição dos níveis circulantes de insulina 6. Antioxidante 7. Estímulo à fibrinólise 8. Inibição do crescimento e migração das células musculares lisas endoteliais 9. Proteção das células endoteliais 10. Inibição do acúmulo de LDL oxidado em macrófagos na placa aterosclerótica 11. Diminuição de renina e ECA 12. Diminuição de P-selectina 13. Diminuição de homocisteína Osteoporose Doença esquelética sistema, caracterizada por baixa massa óssea e deterioração arquitetural do osso ❖ Osso cortical: denso e compacto, é a parte externa das estruturas ósseas e a diáfise dos ossos longos, tem função de proteção mecânica e resistência ❖ Osso trabecular: nas epífises dos ossos longos, no corpo vertebral, na porção interna da pelve e outros ossos planos, contribui no suporte mecânico e fornece minerais, possui estrutural em favo de mel, tendo maior relação superfície/volume que o osso cortical (favorece o processo de remodelação) ❖ Durante a menacme a formação e a destruição óssea estão em equilíbrio ❖ Após a menopausa a taxa de perda óssea se acentua por 5 a 8 anos, por atividade excessiva dos osteoclastos e então esse fenômeno tende a ser mais ameno e na menopausa tardia o distúrbio é mais por falha na produção óssea Fatores de risco principais 1. Idade: principal fator de risco, pela perda de massa óssea a partir dos 30 anos 2. História familiar 3. Raça: brancas tem maior risco 4. Deficiência de estrogênio: o hormônio inibe o remodelamento ósseo, quando seus níveis caem, predomina a atividade osteoclásctica e a reabsorção óssea acelera ❖ Há uma divisão dos fatores de risco em maiores (idade> 65 anos, fratura vertebral, fratura por fragilidade após os 40 anos, história familiar, uso de corticoide por > 3 meses, má absorção intestinal, hiperparatireoidismo primário, quedas frequentes, hipogonadismo, menopausa precoce, osteopenia no RX) e menores (artrite reumatoide, hipertireoidismo, uso de anticonvulsivantes, baixa ingestão de cálcio, tabagismo, alcoolismo, cafeína em excesso, baixo peso, uso crônico de heparina) ❖ É uma doença assintomática e se manifesta na maioria das vezes por fraturas na porção distal do antebraço (fratura de Colles), na coluna (mais comuns, porém sem sintomas) e no colo do fêmur (mais letais) ❖ A dor óssea é consequência das fraturas e da deformidade óssea ❖ O diagnóstico clínico é suspeitado após uma fratura atraumática ou por trauma menor, confirmado pela densitometria (quadril e vértebras) Também é preditor de fraturas futuras e auxilia no acompanhamento do tratamento. São usados scores para análise, o T-score (comparando com pessoas de 25-45 anos do mesmo sexo) e o Z- score ( comparando com a pessoa da mesma idade e sexo) Z-score: osteopenia (1 a 2,5) e osteoporose (> 2,5) T-score: osteopenia (-1 a -2,49) e osteoporose (< - 2,5) Indicação de densitometria 1. Idosas 2. Mulheres na transição menopausal, com risco de fraturas (baixo peso ou fratura anterior) 3. História de fratura após os 50 anos 4. Adultos com condição clínica associada à osteoporose ou em uso de medicamento associado à perda óssea 5. Mulheres que desejam interromper a TRH 6. Avaliação da resposta terapêutica 7. Mulheres na perimenopausa que querem iniciar a TRH Propedêutica do climatério Pela alta incidência de doenças crônicas nesse período, deve-se avaliar rotineiramente ❖ Maior atenção ao sedentarismo, controle da PA e glicemia, dislipidemias, tireoidopatias, tabagismo, obesidade, história familiar e neoplasias ❖ Prevenção do câncer de colo de útero e de mama, com colpocitologia oncótica e mamografia anual e avaliação endometrial por USG ou teste da progesterona Exames de rotina 1. Lipidograma 2. Glicemia 3. Pesquisa de sangue oculto nas fezes a partir de 50 anos 4. Colpocitologia oncótica 5. Mamografia 6. USG pélvica 7. Densitometria para maiores de 65 anos ou comfator de risco
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