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ELETROTERAPIA FACIAL E CORPORAL BÁSICA Patrícia Viana da Rosa História e fundamentos da eletroterapia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a história da eletroterapia. � Descrever as diferentes formas de energia utilizadas na eletrotermofototerapia. � Definir como determinados tipos de energias produzem efeitos terapêuticos. Introdução Na atuação do profissional de estética e cosmética, diferentes modalidades de tecnologias e estratégias são utilizadas. Uma dessas modalidades de tecnologia utilizada no cuidado da beleza é a eletrotermofototerapia. Segundo Agne (2017), o termo eletroterapia está associado ao uso de corrente elétrica ou, de forma mais ampliada, da energia eletromagnética com finalidade terapêutica. Essas correntes produzem efeitos fisiológicos sobre o metabolismo celular, a circulação, a musculatura, entre outros. Neste capítulo, veremos a história da eletroterapia e as diferentes formas de energia utilizadas e seus efeitos terapêuticos. História da eletroterapia A eletroterapia consiste no uso de correntes elétricas com finalidades tera- pêuticas. A utilização dessa tecnologia tem se aperfeiçoado muito nas últimas décadas com o desenvolvimento de novos recursos (AGNE, 2017; GUIRRO; GUIRRO, 2003). Contudo, desde a Antiguidade seu uso já ocorria para fins de cuidado da saúde, e pessoas como Aristóteles e Plutão já utilizavam enguias elétricas visando, por meio da corrente elétrica, produzir reações nos doentes. Os egípcios, por volta de 5.000 a.C., empregavam peixes (bagre do Nilo) capazes de emitir correntes elétricas, sendo inclusive tratados como divinda- des. Por volta de 1000 a.C., há relatos sobre a descoberta de uma pedra negra, capaz de ser atraída por ferro, a qual foi chamada de magnesian (atualmente magnetita). Romanos e gregos empregavam o uso de correntes elétricas, geradas a partir de descargas elétricas do peixe-elétrico, como terapia no tratamento de cefaleias e outras doenças. Em 300 a.C., Aristóteles identificou uma reação de entorpecimento nas mãos, produzida pelo peixe elétrico. Em 42 a.C., médicos romanos aplicavam o peixe elétrico na cabeça de pacientes para tratar dor de cabeça e outras afecções articulares. Além disso, desde a pré-história, a luz é utilizada como forma de terapia, sendo, na Grécia antiga, o banho de sol usado para tratar e curar doenças. Já no final do século XVI, na Inglaterra, foram criadas as primeiras máqui- nas de indução eletrostática, precursores de aparelhos que seriam desenvolvidos muitos anos depois, substituindo a utilização dos peixes pelos equipamentos. Em 1791, o uso da descarga elétrica como geradora de contração muscular foi estudado por Luigi Galvani, médico italiano, que empregava a técnica em rãs, gerando contração muscular. Seu estudo foi publicado no tratado De viribus electricitatis in motu muscularis (sobre a ação da eletricidade na contração muscular), o qual está exposto no museu de ciências de Bolonha na Itália. Essa modalidade de corrente contínua foi denominada em sua homenagem de corrente galvânica. Outro método desenvolvido em 1745 foi a iontoforese, técnica que utiliza a administração de medicamentos por via transcutânea com o auxílio de corrente elétrica. Os estudos de Pivati foram os precursores no descobrimento dessa técnica, e a partir de outro estudioso chamado LeDuc houve um avanço no uso desse procedimento. Em 1855, Guillaume Duchenne estudou o uso da corrente elétrica alternada, indicando ser essa modalidade superior na geração de estímulos terapêuticos à corrente contínua. Seus estudos indicaram que a corrente alternada era capaz de gerar contrações mais fortes independentemente da condição da musculatura estimulada. Também são de autoria desse pesquisador estudos relacionados aos pontos motores, locais capazes de serem estimulados eletricamente, gerando contração muscular e movimento. História e fundamentos da eletroterapia2 Guillaume Duchenne, neurologista francês, é conhecido como o “pai da eletroterapia” em razão do desenvolvimento de estudos com eletroterapia. Em 1855, anunciou a superioridade da corrente alternada (capaz de gerar contrações mais fortes) à corrente contínua (produzia um "efeito de aquecimento" que irritava a pele). Em 1900, o fisiologista francês Renée D’Arsonval identificou que correntes elétricas com frequências muito altas geravam calor, deixando de produzir excitabilidade sensorial e motora. Por volta de 1905, Einstein estudou o efeito fotoelétrico por meio da teoria da transmissão da luz em pacotes, denomina- dos “quanta” (fótons). Esse conceito informava que a absorção de radiação eletromagnética pelos átomos aumentaria o nível energético dos elétrons. Em 1953, Reinhold Voll desenvolve os primeiros equipamentos de eletroterapia utilizando corrente comercial. “O termo fototerapia foi usado pela primeira vez por Fritz Cremer (1958) no tratamento da icterícia com raios UV” (PETERS, 2016, documento on-line). Na década de 1960, na Rússia, o fisiologista Kotz estudou o uso da eletroes- timulação na busca do aumento de força e massa muscular, surgindo alguns anos depois, na década de 1990, aparelhos de eletroestimulação muscular com diferentes formas de estímulos elétricos. No Brasil, o advento da eletroterapia está associado à criação do Serviço de Eletricidade Médica, por volta de 1879, no Rio de Janeiro; em 1919, na cidade de São Paulo, foi inaugurado o departamento de eletricidade médica. O desenvolvimento ao longo da história da eletroterapia está associado às descobertas desses precursores, e, com o advento de novas tecnologias, os recursos têm evoluído e qualificado sua aplicação de forma mais segura e adequada. Nesse campo de estudo e atuação, ainda existem muitas possibi- lidades a serem estudadas e desenvolvidas, sendo esperado o aparecimento de novas tecnologias. Diferentes formas de energia utilizadas na eletrotermofototerapia Energia é a capacidade de um sistema trabalhar, havendo várias formas dela. A energia não é comumente criada ou destruída, mas é, muitas vezes, trans- 3História e fundamentos da eletroterapia formada de uma forma para outra, ou transferida de um local para outro (PRENTICE, 2014). Os recursos utilizados em eletrotermofototerapia são equipamentos que utilizam energia e a transformam em ondas sonoras (ultras- som), em cargas elétricas (corrente russa, corrente galvânica, microcorrentes, entre outros), em calor (mantas térmicas), em frio (compressas frias) ou em luz (laser, luz intensa pulsada). Dessa forma, podemos destacar algumas formas de energia utilizadas na eletrotermofototerapia: a energia elétrica, a energia eletromagnética, a energia térmica, a energia sonora e a energia mecânica. Energia elétrica A energia elétrica é uma forma de energia baseada na geração de diferenças de potencial elétrico entre dois pontos, permitindo gerar uma corrente elétrica entre ambos. Tal energia pode ser transformada para uso na forma de luz ou calor. A energia elétrica está associada à geração de uma corrente elétrica, ca- racterizada por um movimento ou fluxo de partículas carregadas, como os elétrons ou íons de um local para outro. Essa corrente pode ser conduzida por metais e soluções, sendo transferida para o corpo humano e provocando reações fisiológicas com resultados terapêuticos. Segundo Agne (2017), a eletroterapia pode ser classificada em baixa, média ou alta frequência, de acordo com a repetição dos impulsos elétricos utilizados em tratamentos diversos. Guirro e Guirro (2003) referem que essa classifica- ção está associada à frequência de ciclos emitidos por segundo (Hertz [Hz]). Dessa forma, a corrente de baixa frequência utilizada em seres humanos não é superior a 1000 Hz (corrente galvânica, microcorrentes, entre outros). Já a média frequência varia de 1000 Hz a 100 KHz (corrente russa e interferencial) e a alta frequência é maior de 300 KHz (ondas curtase micro-ondas). A intensidade da corrente elétrica, por sua vez, ou seja, a quantidade de carga elétrica por unidade de tempo, é um indicador que se relaciona com o número de elétrons ou íons que passam por um local num determinado tempo. Sua unidade de medida é o ampère (A), sendo frequente em equipamentos a utilização do miliampere (mA) ou o microampere (µA). Com relação à corrente elétrica, existem dois tipos básicos de corrente elétrica utilizadas com finalidades terapêuticas: a corrente contínua e a corrente alternada. A corrente contínua é polarizada, isto é, a carga se movimenta sempre na mesma direção, e, além disso, tem um fluxo constante unidirecional de eletricidade, portanto os elétrons fluem continuamente em uma única direção. Já a corrente alternada pode se apresentar na forma polar ou apolar. A forma História e fundamentos da eletroterapia4 apolar (despolarizada) caracteriza-se por inverter sua direção em intervalos regulares de tempo (GUIRRO; GUIRRO, 2003). Um elemento importante na utilização de uma corrente elétrica é a resistência (ohms), sua passagem em um determinado tecido, pois, quanto maior a resistência, menor será a corrente que passará. Essa resistência poderá variar de tecido para tecido ou de acordo com suas características, relacionadas por exemplo à presença de pelos, limpeza, etc. Quanto maior a quantidade de água no tecido, melhor sua capacidade de condução elétrica. Energia eletromagnética A energia eletromagnética é transmitida por radiação, por diferentes compri- mentos de ondas. Radiação é um processo pelo qual a energia se desloca de sua fonte para fora, através do espaço. A luz solar constitui um tipo visível de energia radiante produzindo calor (PRENTICE, 2014). A luz é a energia radiante que se manifesta através da luz visível, ou seja, da luz que conseguimos perceber com o sentido da visão. Trata-se de uma onda eletromagnética, e seu comprimento varia entre a radiação infravermelha e a radiação ultravioleta. Um raio de luz é a trajetória da luz em determinado espaço e sua repre- sentação indica de onde a luz é criada (fonte) e para onde ela se dirige. A energia luminosa ou fotônica é definida pelo produto de uma constante, ou seja, a energia de determinado raio luminoso, ou onda eletromagnética, é uma função exclusiva da frequência que o constitui. Baseado nisso, a fototerapia compreende recursos que se baseiam no efeito da luz sobre os tecidos bio- lógicos, que envolvem, além de agentes tradicionais com a luz ultravioleta e infravermelho, também a laserterapia, a emissão de luz por diodo (LED) e a luz intensa pulsada (ILP). O mecanismo de ação da fototerapia necessita da absorção da luz por uma molécula fotorreceptora, denominada cromóforo. Os cromóforos são geral- mente organelas celulares presentes na derme e na epiderme, como melanina, citocromo, profirinas, hemoglobina, entre outros, os quais, ao absorver a luz, 5História e fundamentos da eletroterapia têm seu metabolismo estimulado, induzindo assim reações químicas, e dando origem a uma cascata de respostas celulares. Outro mecanismo que se baseia na utilização da energia eletromagnética está associado ao uso da radiofrequência como técnica de tratamento estético. Segundo Agne (2017), esse recurso atua a partir da conversão da energia eletromagnética em efeito térmico sobre os tecidos. A radiofrequência é uma radiação no espectro eletromagnético compreen- dida entre 30 KHz e 300 MHz, a qual pode alcançar os tecidos mais profundos gerando energia e forte calor sobre as camadas mais profundas da pele, o que mantém a superfície protegida, ocasionando a contração das fibras colágenas existentes e estimulando a formação de novas fibras, tornando -as, assim, mais eficientes na sustentação da pele (CARVALHO et al., 2011). A energia eletromagnética também tem seus efeitos associados a recursos como Gerador de Alta Frequência, aparelho que trabalha com correntes alter- nadas (elevada tensão e baixa intensidade), o qual, ao ser usado na superfície da pele, provoca a formação de ozônio (O3). Seus efeitos são associados à produção de calor, com vasodilatação periférica local e aumento da oxigenação celular, e, como efeito terapêutico, destaca-se a ação bactericida e antisséptica, associado à formação do ozônio (BORGES, 2010). Energia térmica Segundo Agne (2017), está associada ao aumento ou à diminuição da tempe- ratura tecidual, sendo esses agentes quentes ou frios. Dessa forma, temos de entender que o termo calor significa quente e frio, existindo diferentes formas de emitir esse tipo de energia. A energia térmica é uma forma de energia relacionada com a movimentação de moléculas a partir de um determinado corpo. Quanto maior o movimento e a velocidade dessas partículas, maior será a temperatura e mais intensa a energia térmica liberada (KITCHEN, 2003). Existem diferentes modos de transferência de energia térmica entre os corpos, sendo que a temperatura central permanece constante e é mantido um equilíbrio entre a produção de calor interno e a perda ou ganho de calor ao nível da pele. Segundo Prentice (2014), as modalidades condutoras produzem mudanças de temperatura de forma generalizada nos tecidos superficiais com uma profun- didade de penetração máxima de 1 cm ou menos. As modalidades condutoras podem produzir um aumento na temperatura dos tecidos (termoterapia) ou uma diminuição na temperatura dos tecidos (crioterapia). História e fundamentos da eletroterapia6 As modalidades de transferência de energia térmica no âmbito dos tecidos ocorrem principalmente por condução e convecção. A variação da temperatura desse tecido dependerá da quantidade de energia convertida em calor numa determinada profundidade do tecido e da capacidade de condutividade térmica desse local. Outro elemento importante na variação dessa temperatura está associado à vascularização do local e da técnica de aplicação da modalidade térmica. A técnica de aplicação poderá ocorrer por meio de tratamento profundo, no qual a conversão da energia ocorrerá à medida que haja penetração no tecido (micro-ondas, ultrassom, entre outros). Já o tratamento superficial vai gerar, por meio de condução ou convecção, a transferência de energia pelo contato entre os corpos (bolsas quentes, entre outros). Condução: a energia térmica transferida de uma região mais quente para outra mais fria, por meio do contato direto de suas superfícies. Exemplo: o uso de compressas ou bolsas térmicas. Convecção: a energia térmica transferida por meio da circulação de líquidos e gases. Exemplo: banho de imersão. Conversão: transformação de energia mecânica em energia térmica, por meio da passagem nos tecidos do corpo. Exemplo: micro-ondas, ultrassom. Energia mecânica A energia mecânica, associada ao movimento dos corpos, é aquela produzida a partir do trabalho de um corpo, podendo ser transferida para outro. Qualquer corpo em movimento é capaz de realizar trabalho, portanto, possui energia, que nesse caso é chamada de cinética. A energia mecânica está associada ao movimento ou à posição, e pode ser energia cinética (energia de movimento) ou energia potencial (energia armazenada de posição). Os objetos possuem energia cinética se em movimento; já a energia potencial é armazenada por um objeto e tem o potencial de ser criada quando esse objeto é alongado, dobrado ou comprimido. São modalidades de energia mecânica a compressão intermitente, técnicas de tração e massagem. 7História e fundamentos da eletroterapia Energia sonora A energia sonora consiste em ondas de pressão devido à vibração mecânica das partículas. A relação entre velocidade, comprimento de onda e frequência é a mesma para energia sonora e energia eletromagnética, mas as velocidades dos dois tipos de ondas são diferentes. As ondas acústicas viajam na velocidade do som (PRENTICE, 2014). O ultrassom utiliza uma forma de energia sonora não audível, produzindo ondas mecânicas que podem ser emitidasde forma contínua, que produz efeito térmico, ou alternada, com menor elevação de temperatura. Conheça mais sobre as formas de transmissão de calor no vídeo a seguir (FÍSICA, 2015). https://goo.gl/Ks1Uzk Produção de efeitos terapêuticos por determinados tipos de energias O objetivo na utilização de modalidades terapêuticas é estimular o tecido corporal, o que só ocorrerá se a energia produzida for absorvida pelo tecido. Os efeitos terapêuticos estão associados à forma de energia resultante da utilização de determinados recursos tecnológicos, sendo que esses agentes transferem energia de uma forma ou outra para dentro ou para fora dos tecidos biológicos. Essa energia pode ser refletida, refratada, absorvida ou transmitida pelos tecidos biológicos. Um exemplo desse mecanismo é o aquecimento, comum em vários tra- tamentos que utilizam diferentes tipos de energia. As correntes elétricas, ao passarem nos tecidos, geram calor, resultado da resistência do tecido à passagem de eletricidade. Já a energia eletromagnética vai produzir aquecimento em decorrência da absorção de ondas nos tecidos. Por outro lado, o ultrassom também poderá aquecer os tecidos em que passam as ondas sonoras. História e fundamentos da eletroterapia8 Nenhuma reação ou mudança nos tecidos corporais ocorrerá, se a quantidade de energia absorvida for insuficiente para estimular os tecidos absorventes. Contudo, havendo muita energia absorvida em um determinado período de tempo, poderá ser negativa a função normal, sendo possível até levar à ocorrência de dano irreversível (PRENTICE, 2014). Conforme Agne (2017), no caso da energia elétrica aplicada sobre os tecidos, esta poderá produzir basicamente três efeitos fisiológicos, descritos a seguir, os quais são responsáveis por gerar efeitos terapêuticos. � Efeito térmico: está associado à resistência do tecido, à intensidade e ao tempo de exposição ao agente. � Efeito eletromagnético: a corrente elétrica gera um efeito eletromag- nético que interfere nas relações intermoleculares, influenciando nos fenômenos químicos e biológicos. � Efeito eletroquímico: a corrente elétrica poderá produzir o desloca- mento de íons de uma solução, produzindo reações químicas. Dessa forma, as modalidades que utilizam energia elétrica podem: causar modulação da dor por meio da estimulação de nervos sensoriais cutâneos; produzir contração muscular, dependendo do tipo de corrente e de frequência; estimular a cicatrização dos tecidos e produzir um movimento de íons, com mudança química nos tecidos (iontoforese). Um exemplo desses efeitos pode ser relacionado ao tecido nervoso, no qual a corrente elétrica com intensidade e duração adequadas para o limiar de excitabilidade do local, causará uma despolarização de membrana ou aquecimento daquele nervo. Com relação aos efeitos da radiação eletromagnética sobre os tecidos, eles dependerão do comprimento de onda, da frequência e da energia das ondas eletromagnéticas que penetram nesses tecidos. Assim sendo, modalidades com comprimentos de onda mais longo apresentaram maior penetração, atingindo os tecidos mais profundamente. Seus efeitos biológicos estão associados ao aumento de temperatura do tecido profundo, à vasodilatação e ao aumento de fluxo sanguíneo no local. 9História e fundamentos da eletroterapia Para que a radiação eletromagnética produza efeito no corpo humano, ela necessita ser absorvida, ocorrendo uma interação dessa radiação com as estruturas moleculares e celulares do corpo humano. Essa interação dependerá dos mecanismos de reflexão, refração e absorção. Os efeitos biológicos resultam apenas da absorção dessa energia e, conforme ela é absorvida, haverá menos energia disponível para os tecidos mais profundos. A quantidade de radiação absorvida é muito influenciada pela quantidade e distribuição de pigmentos, as quais variam de pessoa para pessoa e também entre diferentes partes do corpo (SERGE; FERREIRA, 2015). Com relação aos efeitos biológicos da radiofrequência, estes promovem o aumento da circulação arterial, vasodilatação, melhorando assim a oxigenação e a acidez dos tecidos, bem como o aumento da drenagem venosa, elevando a reabsorção de catabólitos e diminuindo edemas nas áreas com processos inflamatórios, e o aumento da permeabilidade da membrana celular, permitindo melhor transferência de metabólitos por meio dessa estimulação do sistema imunológico e diminuição dos radicais livres (CARVALHO et al., 2011). Segundo Borges (2010), a vasodilatação e a hiperemia surgem como consequên- cia do efeito térmico, em que a vasodilatação promove um aumento da circulação periférica local, gerando a hiperemia na pele. Assim como no efeito térmico, a hiperemia apenas ocorre com o uso de intensidade alta, por um tempo maior de aplicação, portanto esse efeito não é verificado. A oxigenação celular está ligada à vasodilatação e ao consequente aumento do fluxo sanguíneo, aumentando, dessa forma, o aporte de oxigênio por intermédio da corrente sanguínea. Com relação à energia térmica, as modalidades de termoterapia (produzem aumento de temperatura do tecido) e de crioterapia (produzem diminuição da temperatura dos tecidos) transferem essa energia de uma fonte de aquecimento ou de resfriamento para o corpo por meio de condução. A taxa de transferência de calor entre um objeto e outro é proporcional à diferença na temperatura entre eles. Se dois objetos possuírem temperaturas muito próximas, a transferência de calor será lenta, porém, havendo uma grande diferença de temperatura, a transferência de calor entre eles será mais rápida. Por exemplo, quando uma compressa fria é colocada em contato com a pele, o fluxo de calor para a compressa será rápido, causando diminuição da temperatura de pele rapidamente e numa maior profundidade (SERGE; FERREIRA, 2015). As compressas quentes e frias atuam por condução de energia térmica, sendo caracterizadas como condutoras, produzindo um aquecimento ou resfria- mento nos tecidos superficiais e com profundidade máxima de 1 cm ou menos. Outra modalidade de energia associada a efeitos terapêuticos é a energia sonora, modalidade associada principalmente ao ultrassom e às alterações História e fundamentos da eletroterapia10 resultantes nos tecidos do seu efeito. O ultrassom produz uma vibração me- cânica, por uma onda sonora produzida e transformada a partir de energia elétrica (BORGES, 2010). O ultrassom penetra bem em tecido homogêneo (p. ex., tecido adiposo), contudo as radiações eletromagnéticas são quase inteiramente absorvidas nesse meio. Dessa forma, para efeitos terapêuticos em tecidos mais profundos, o ultrassom é a modalidade mais adequada. Dependendo dos parâmetros de aplicação do ultrassom, poderemos ob- ter diferentes efeitos biofísicos. O ultrassom terapêutico pode produzir um aumento na temperatura tecidual por meio de efeitos fisiológicos térmicos. Contudo, também é capaz de produzir efeitos não térmicos que colaboram na cicatrização no nível celular (PEREIRA, 2014). A emissão do ultrassom em modalidade contínua produzirá prioritariamente efeitos térmicos, gerando aquecimento dos tecidos localizados a centímetros de profundidade, sendo influenciado pela frequência empregada. O calor aumenta a circulação local favorecendo a nutrição e a remoção de detritos metabólicos do tecido. A emissão do ultrassom em modalidade pulsada apresenta entre um impulso e outro uma interrupção, que colabora para a dispersão do calor, dessa forma seu efeito térmico é menor, ampliando seu efeito mecânico, com melhora da permeabilidade da membrana celular, estímulo à fagocitose, síntese de proteínas e regeneração do tecido. De forma geral, os efeitos terapêuticos produzidos pelas diferentes mo- dalidades de energia estão relacionados com alterações nos gradientes de temperatura dos tecidos superficial e profundo, as mudanças bioquímicas em âmbito celular, os estímulos às reações para produção de energia, os estímulos à reproduçãoe regeneração tecidual, o estímulo excitatório do sistema nervoso periférico sensorial e motor, entre outros. O vídeo disponível no link a seguir (AGNE, 2015) apresenta uma palestra sobre a eletrotermofototerapia aplicada à estética, bem como conceitos gerais e aplicações de recursos. https://goo.gl/Ehkrhz 11História e fundamentos da eletroterapia AGNE, J. E. Eletro termo foto terapia. 4. ed. Santa Maria: O Autor, 2017. AGNE, J. Palestra sobre eletroterapia na estética: Pré-Congresso Beauty Fair - Medicatriz. [S. l.]: Medicatriz, 2015. 1 vídeo (51min). Disponível em: <https://goo.gl/Ehkrhz>. Acesso em: 27 set. 2018. BORGES, F. dos S. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2010. CARVALHO, G. F. de et al. Avaliação dos efeitos da radiofrequência no tecido conjun- tivo. RBM, São Paulo, v. 68, n. Especial Dermatologia, p. 10-25, abr. 2011. Disponível em: <http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=4555>. Acesso em: 27 set. 2018. FÍSICA Condução, convecção e irradiação. Videoaula ministrada por Professor Mara- dona. [S. l.], 2015. 1 vídeo (3min11s). Disponível em: <https://goo.gl/Ks1Uzk>. Acesso em: 27 set. 2018. GUIRRO, E.; GUIRRO, R. Fisioterapia Dermato-Funcional: fundamentos, recursos, patolo- gias. 3. ed. Barueri: Manole, 2003. KITCHEN, S. Eletroterapia: prática baseada em evidências. 11. ed. Barueri: Manole, 2003. PEREIRA, M. de F. L. Eletroterapia: no tratamento estético. São Caetano do Sul: Difusão, 2014. PETERS, D. Fototerapia LED e laser na estética. Portal da Esteticista.com, [ S. l.], 29 jul. 2016. Disponível em: <https://portaldaesteticista.com/tag/endophoton/>. Acesso em: 27 set. 2018. PRENTICE, W. E. Modalidades terapêuticas para fisioterapeutas. 4. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. SERGE, L. J; FERREIRA, M. D. S. Laser terapêutico - proposta de guia de estudo. 2015. 54 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)- Faculdade São Lucas, Porto Velho, 2015. Disponível em: <http://repositorio.saolucas.edu.br:8080/xmlui/han- dle/123456789/1581>. Acesso em: 27 set. 2018. Leitura recomendada IFOULD, J.; FORSYTHE-CONROY, D.; WHITTAKER, M. Técnicas em estética. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. História e fundamentos da eletroterapia12 Conteúdo:
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