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AULA 3 PSI JUR Varas de Familias

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ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NAS VARAS DE FAMÍLIA
Psicólogo Jurídico e o 
Direito de Família:
divórcio 
guarda de filhos
convivência
Psicólogo: mediador, perito, assistente técnico, terapeuta de família
Litígio e Disputa de guarda: Tecendo os Conflitos com os Mesmos Fios que Tecem 
o Amor
 Janice S. Souza Moreira (2012)
“Os fios que tecem as relações que são construídos pela humanidade complexa de cada um no encontro com o outro são, ao mesmo tempo, os elementos que produzem a potencialidade para promover tanto o equilíbrio dinâmico e a amorosidade nas relações, quanto o conflito, a disputa, a agressão.”
 O que é família?
Um pouco de história
 A família brasileira, por muito tempo considerada predominantemente rural e patriarcal, na qual prevalecia, especialmente nos séculos passados, a autoridade e a vontade do homem, enquanto provedor, marido e pai, 
tem sofrido grandes modificações.
 A partir de meados do século passado, por volta de 1970, as famílias passaram a povoar as cidades, abrindo oportunidade para o trabalho externo e, em consequência, mais liberdade e independência da mulher. 
O surgimento da pílula anticoncepcional, permitindo o controle da natalidade, e o Estatuto da Mulher Casada (Lei 4.121/1962), conferindo o direito de exercer profissão lucrativa distinta do marido, de ser colaboradora na sociedade conjugal, de administrar seus bens e de ingressar livremente em juízo, enfraqueceram a estrutura patriarcal.
Cultura do casamento x cultura 
do divórcio
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Cultura do casamento x 
cultura do divórcio
“Cultura do casamento” constituída por três crenças:
Casar é obrigatório
Casamento é para sempre
Divórcio é o último recurso
“Cultura do divórcio” (a partir dos anos 1970) constituída também por três crenças:
Casar é uma opção
Casamento é contingente
O divórcio é uma solução
A Constituição Federal de 1988 acolheu as transformações sociais e inovou o Direito de Família com três eixos modificativos de extrema relevância:
a) igualdade de homem e mulher na sociedade conjugal (art. 226, §5º): 
Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
b) igualização dos filhos, vedando-se quaisquer formas discriminatórias (art. 227, §6º):
 
Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação
 c) pluralidade de modelos de família 
 com proteção social do Estado 
 formando-se não apenas pelo 
 casamento (art. 226, §§1º, 3º e 4º):
 
 O casamento é civil e gratuita a celebração.
 
 Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida 
a união estável entre o homem e a mulher como 
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua 
conversão em casamento.
Entende-se, também, como entidade familiar a 
comunidade formada por qualquer dos pais 
e seus descendentes.
.
 
 
FAMÍLIA
Sistema inserido numa diversidade de contextos, constituído por pessoas que compartilham sentimentos e valores formando laços de interesse, solidariedade e reciprocidade, com uma história natural, específica, com funcionamento próprio, composta de vários estágios, sendo que cada um deles corresponde a tarefas específicas por parte do grupo familiar e seus membros que caracterizam seu desenvolvimento durante a vida (Carter e McGoldrick,1995).
FAMÍLIA PLURAL
RELACIONAMENTOS
NO INÍCIO...CEGUEIRA OTIMISTA
NO FINAL...CEGUEIRA PESSIMISTA
O amor esquece de começar
(Fabrício Carpinejar, 2006)
“No começo, a euforia não deixa ninguém reparar nas falhas. Pretende-se enxergar unicamente as virtudes. De modo algum os pequenos acidentes ou promessas de engano. Assume-se a biografia do par com a calmaria entusiasmada. Há uma generosidade no contrato, tudo pode ser resolvido, consertado, arrumado. É uma cegueira otimista! 
(...) No final, no instante de deixar o casamento, as pessoas ficam avarentas como a vistoria imobiliária. Nada pode ser deixado para amanhã. A ofensa é para agora. (…) Apontam os lapsos (…) as infiltrações, os rumores das paredes, as torneiras indigentes (…). Não há como discernir as mentiras das verdades, já que a raiva mistura as duas para ser mais contundente. É uma cegueira pessimista! 
Os defeitos existiam desde o princípio, não se melhora ou piora com o relacionamento; se amadurece. Conciliar a entrada da casa com a sua saída é aceitar o que as pessoas são, não o que elas deveriam ou poderiam ser.”
ATÉ QUE A VIDA NOS SEPARE...
Parafraseando Baumann (2001; 2004)...
... estamos vivendo em uma “sociedade líquida”, o que equivale a dizer que o “líquido” invade os relacionamentos afetivos e hipoteticamente incentivando a ideologia do delivery, do fast food, do descartável. Isto nos leva a perceber que a visão do casamento se torna, nos dias atuais, diametralmente oposta àquela, da sociedade patriarcal onde o casamento era para sempre, se apresentado agora, como transitório e fadado à separação mesmo antes de começar, como é representado na frase comumente ouvida: “Se não der certo a gente separa!”.
O que aproxima homens e mulheres numa escolha amorosa que leva à formação da família? E o que faz com que os casais se separem, muitas vezes de forma tão conflituosa, minando a qualidade da relação afetiva entre pais e filhos?
As famílias estabelecem formas idiossincráticas de se relacionar (padrões de interação) e através de suas regras explícitas e implícitas, seus valores, mitos, crenças dão forma às suas interações e um sentido a sua história (Minuchin, 2008).
As famílias são uma rede complexa de relações e emoções – influências transgeracionais presentes. Isso indica que compreender os aspectos psicológicos envolvidos nas relações de litígio e disputas que envolvem guarda de filhos, pensão alimentícia e visitas, implica que antes que se possa entender o relacionamento afetivo entre o casal é preciso entender primeiramente o “casar” (expectativas conscientes e inconscientes) para depois entender o “separar” (Relvas, 2004).
O que aproxima homens e mulheres numa escolha amorosa que leva à formação da família? E o que faz com que os casais se separem, muitas vezes de forma tão conflituosa, minando a qualidade da relação afetiva entre pais e filhos?
3. Tanto o movimento de pertencer quanto o de se separar (individuar) são fundamentais para o desenvolvimento da identidade e, em termos de relação familiar, são movimentos complementares indispensáveis: individuação e autonomia (vai depender dos processos intrapsíquicos de cada um).
4. Completar é diferente de complementar: completar sua incompletude através do outro.
5. As escolhas são motivadas pela subjetividade, movidas pelas crenças, mandatos familiares, lealdades e mitos que perpassam as gerações (Andolfi, 1998).
O que aproxima homens e mulheres numa escolha amorosa que leva à formação da família? E o que faz com que os casais se separem, muitas vezes de forma tão conflituosa, minando a qualidade da relação afetiva entre pais e filhos?
6. No casamento há uma qualidade fantasticamente paradoxal: se não conseguirem se separar [processo de diferenciação do EU (Bowen,1998)], não conseguirão aumentar possibilidades em seu conviver/estar junto (Whitaker, 1995).
7. Existência inerente do amor e do ódio na relação afetiva.
8. Luto a ser elaborado acerca da relação que chega ao fim (Rosa, 2003).
9. Ex-Conjugalidade X Eterna Parentalidade 
10. Concepção sistêmica, levantando possibilidades, saindo do reino das certezas (Elkaim, 1998).
CONJUGALIDADE X PARENTALIDADE
 De acordo com Evani Silva (2005), existem diferentes formas de reação e sentimentos dos indivíduos frente às perdas afetivas, considerando que:
O advento da separação conjugal é sempre algo crítico que denota uma criseno ciclo vital e o rompimento de um ideal não só afetivo, mas de uma família que fora idealizada.
 
A carga histórico-familiar que cada um traz consigo de sua família de origem é fator relevante no processo de luto na separação conjugal.
 A estrutura psíquica individual reflete na maneira de lidar com perdas.
 
Os vínculos afetivos constituídos por meio da formação do par amoroso e seus derivados (os filhos) abarcam os subsistemas conjugal e parental. Então, tanto do lado do ex casal como do lado dos filhos há um luto a ser elaborado, uma perda a ser vivenciada de algum modo.
Em muitos processos litigiosos, particularmente os de divórcio, há uma eternização do litígio, que, de acordo com a Psicanálise, significa também um gozo. O litígio é uma forma de não se separar e as partes permanecem unidas pelo ódio, pelo gozo com o sofrimento. Na verdade o ódio une muito mais que o amor, mas estar unido pelo ódio, através de um processo judicial traz consequências nefastas e a destrutividade dos sujeitos. 
O divórcio dos pais para os filhos
Os filhos frente à separação dos pais: muitas vezes este fator prejudica o desenvolvimento, em razão de uma má elaboração do ex casal frente ao divórcio, contribuindo para uma confusão nos subsistemas conjugal e parental. Além disso, com relação ao término do relacionamento conjugal, o divórcio gera sofrimento nos filhos em todas as idades, mas quando a separação é apontada como a solução de um conflito, os filhos normalmente priorizam a satisfação individual em relação à manutenção do vínculo.
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Alianças desfeitas, ninhos refeitos: mudanças na família pós-divórcio
leila Maria Torraca de Brito (2009)
O divórcio não precisa ser vivenciado de forma tão negativa e os membros da família em separação podem continuar a se desenvolver com saúde se a família puder fazer a transição de modo mais criativo, redefinindo os significados de sua experiência de vida. 
Reorganização Familiar
Isso não equivale a pensar que todo o sofrimento advindo da separação não deve ser considerado, mas ele pode ser transposto, abrindo espaço para que outros aspectos da vida sejam trabalhados e melhor elaborados, principalmente por se tratar de um período em que os filhos necessitam consideravelmente de pais saudáveis.
Afinal, filhos de pais separados não se desenvolvem melhor ou pior por esta única razão. Mas certamente estarão mais saudáveis à medida em que os pais elaborarem de forma mais saudável sua separação. 
E não colocando tudo no mesmo pacote: separação, novo companheiro, novas relações, dentre outros. 
Com relação aos conflitos...
Art. 1.584. § 3º, CC - Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar, que deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o pai e com a mãe. .
 mediação familiar perícia psicológica/
 assistência técnica
 
 terapia familiar 
 Ao psicólogo cabe ficar atento a qual papel está sendo solicitado e aceitá-lo dentro dos limites que lhe couber, recusando-se quando se tratar de posições inconciliáveis, deixando claro qual é este limite. Assim, o psicólogo deve ter em mente o Art. 1º, b, do Código de Ética Profissional dos Psicólogos, que aponta como um dos deveres fundamentais do Psicólogo assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente.

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